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Vidros são cada vez mais relevantes em automóveis

O setor automotivo brasileiro teve um 2024 de crescimento – e promete se desenvolver ainda mais no futuro próximo. Por isso mesmo, é importante o segmento vidreiro estar atento às evoluções desse mercado. Nesta reportagem, O Vidroplano comenta um pouco a respeito do trabalho com vidro para automóveis, mostra como funcionam as parcerias com montadoras e destaca o que o futuro espera para nosso material em veículos.

Desempenho do mercado
Conforme balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o primeiro trimestre deste ano indica uma boa recuperação do desempenho do setor automotivo nacional na comparação com o início de 2024: foram produzidas 583 mil unidades, 8,3% a mais que no mesmo período do ano passado – é o melhor resultado desde 2021.

No entanto, março foi ruim – o pior desde 2022. A produção caiu 12,6% em relação a fevereiro, principalmente nas fábricas de automóveis e comerciais leves. Até tivemos uma boa notícia, com a alta de 11,3% nas vendas (em relação a fevereiro), mas 61% desse aumento vieram dos modelos importados não fabricados aqui.

Por outro lado, as exportações cresceram bastante: 40,6% no trimestre na comparação com o mesmo período de 2024. Foi o melhor primeiro trimestre desde 2018 para o indicador.

O mercado nacional
A AGC e a Cebrace (por meio da Saint-Gobain Sekurit) são as usinas que fabricam vidros automotivos no Brasil. A demanda para nosso produto se divide em dois braços distintos: o fornecimento para as montadoras de automóveis (peças instaladas em veículos durante a produção deles) e o mercado de reposição.

Dentro dessas divisões, existem diversos nichos a serem alimentados. As duas processadoras gaúchas consultadas para esta reportagem (Grupo Tecnovidro, de Farroupilha; e Vidroforte, de Caxias de Sul) atendem alguns deles. Para o segmento de encarroçadores de ônibus, por exemplo, são produzidos itens dos mais diversos, incluindo para-brisas, tetos solares, janelas laterais, portas, vidros da cabine do motorista, espelhos e divisórias. Máquinas agrícolas e equipamentos pesados (tratores, escavadeiras) também representam um mercado importante, assim como o de vans escolares.

 

Ônibus com vidros do Grupo Tecnovidro: nesse tipo de veículo, ocorre redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos (foto: Divulgação Tecnovidro)
Ônibus com vidros do Grupo Tecnovidro: nesse
tipo de veículo, ocorre redução da espessura
dos vidros para diminuir o peso dos veículos (foto: Divulgação Tecnovidro)

 

Investindo no mercado
No ano passado, a AGC anunciou a expansão da capacidade produtiva de sua divisão de vidros automotivos, localizada no complexo industrial da usina em Guaratinguetá (SP). A decisão vai ao encontro das expectativas de crescimento do mercado automotivo nacional para os próximos anos e foca na atualização tecnológica do processo produtivo, de forma a atender e acompanhar a evolução desse segmento – incluindo o uso de heads-up display (HUDs) nos vidros: esse tipo de projeção de informação sobre a superfície dos para-brisas promete tornar-se padrão da indústria mundial num futuro próximo (saiba mais no quadro no final da reportagem).

O presidente da AGC no Brasil, Isidoro Lopes, comentou no fim do ano passado, em episódio do VidroCast, o podcast da Abravidro, que a operação da linha renovada deverá começar em julho deste ano – uma segunda linha está nos planos, a depender de outras tecnologias a serem aplicadas nos vidros pelo setor automotivo nacional. “Estamos muito felizes com esse mercado no Brasil ao longo dos últimos dois, três anos”, afirmou.

O projeto conta com investimento de parceiros do mercado financeiro e contemplará requisitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG), gerando cerca de 150 novas contratações diretas e 600 indiretas na região até 2030.

Automotivo x construção: as diferenças entre os vidros
O vidro plano destinado à construção é a base do vidro automotivo. Sérgio Massera, diretor-comercial e de Gestão de Novos Programas da AGC, indica que os processos pelos quais nosso material passa incluem a adição de esmalte cerâmico e a curvatura das peças, sejam temperadas ou laminadas, antes da adição dos componentes específicos para a montagem veicular. “Além disso, o nível de exigências quanto às características ópticas é maior no mercado automotivo”, aponta Jesuino D’Avila, diretor-geral da Sekurit América do Sul.

 

Mais vidro: aumento na área envidraçada em automóveis, incluindo maior presença de modelos com teto solar, é uma das principais tendências modernas no uso de nosso material em veículos (foto: UnPinky/stock.adobe.com)
Mais vidro: aumento na área envidraçada
em automóveis, incluindo maior presença
de modelos com teto solar, é uma das
principais tendências modernas no uso de
nosso material em veículos (foto: UnPinky/stock.adobe.com)

 

Evolução do trabalho
Há mais de duas décadas fornecendo vidros para automóveis, tanto o Grupo Tecnovidro como a Vidroforte notaram mudanças ao longo dos anos na forma de atuar com nosso material nesse mercado. “Temos percebido uma evolução significativa no design dos produtos. Os vidros deixaram de ser meramente funcionais para se tornar elementos estéticos fundamentais, com geometrias cada vez mais arrojadas e complexas. Essa tendência exige processos produtivos mais tecnológicos e precisos por parte dos fabricantes”, comenta Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro.

“Em todos os segmentos, e especialmente na linha de ônibus, vemos a redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos. Marquinhas ou pequenos riscos no vidro, que antes eram tolerados, hoje não são mais aceitos”, conta José Maurício Toledo, CEO da Vidroforte. “A área envidraçada dos ônibus está cada vez maior, com mais detalhes, peças recortadas e curvaturas diferenciadas. Antigamente, o vidro era apenas um fechamento. Hoje, complementa o visual dos ônibus.”

De acordo com Toledo, a padronização das peças se dá em volumes pequenos. “Por exemplo, frotistas que compram cinquenta, cem, duzentos ônibus podem seguir um padrão. Mas outros clientes personalizam seus modelos. É difícil ter produção seriada com grandes volumes de um mesmo tipo de carro”, relata. “Quando uma encarroçadora lança um novo modelo, os clientes o personalizam, especialmente os vidros laterais. O para-brisa até costuma manter o padrão, mas os demais mudam bastante. O desafio da fábrica é operacionalizar isso com agilidade.”

 

Janela produzida pela Vidroforte: personalização dos projetos é uma constante no setor automotivo, dada a variedade de modelos de automóveis existentes (foto: Divulgação Vidroforte)
Janela produzida pela Vidroforte: personalização dos projetos é uma
constante no setor automotivo, dada a
variedade de modelos de automóveis
existentes (foto: Divulgação Vidroforte)

 

O contato com as empresas automotivas
Como se dá a relação com fabricantes de veículos? Quem define especificações? Cada modelo de automóvel ganha um vidro diferente? “As especificações dos vidros são estabelecidas em parceria com nossos clientes. Eles apresentam o escopo inicial do projeto, e nosso time técnico colabora para a adequação e validação das soluções, sempre considerando requisitos normativos de segurança e de performance”, explica Fabrício Flach, do Grupo Tecnovidro. “Mantemos relações profissionais de alto nível com nossos clientes, reguladas por contratos de fornecimento que estabelecem com clareza todas as diretrizes técnicas, comerciais e de qualidade. Esses acordos garantem a excelência no atendimento e a continuidade das parcerias.”

No mercado de reposição, os itens já vêm especificados – e a variedade é enorme, explica Toledo, da Vidroforte. “Algumas empresas utilizam vidros mais finos, curvos e recortados; outras usam peças de 5 a 6 mm, curvos ou planos. No ramo agrícola, cada cliente tem sua particularidade: chapas de 5, 6 ou 8 mm, com dupla curvatura e recortes complexos.” A processadora conta ainda com uma linha de janelas com tecnologia própria (incluindo sistema de vedação, de correr e de trava, assim como o design dos vidros).

Cada uma dessas parcerias mencionadas segue um modelo diferente. “Há empresas que recebem kits completos por ônibus, prontos para a linha de montagem. Outras trabalham com estoque ou sob demanda. Na linha agrícola, os pedidos costumam ter previsibilidade de três a seis meses, facilitando o planejamento. Já nas encarroçadoras, os pedidos podem ser para sete dias, com o veículo já vendido e em produção. Nesses casos, desenvolvemos o produto, fabricamos e entregamos diretamente para a linha de montagem dentro do prazo exigido”, afirma Toledo.

Algumas tendências modernas

  • Vidros se tornaram importantes elementos estéticos nos projetos, passando a compor o conceito e o design do veículo. Um exemplo são as linhas de ônibus com forte uso de formas curvilíneas;
  • Com a maior entrada de ônibus urbanos elétricos na malha rodoviária, exigem-se vidros cada vez mais finos, com tecnologia de controle solar, para otimizar o uso das baterias e diminuir a potência do ar-condicionado. Com isso, reduz-se a temperatura interna e melhora-se a autonomia do veículo;
  • Vidros de controle solar podem substituir a instalação de películas para conforto térmico;
  • Na linha de janelas de vans, há uma crescente exigência por menor ruído, vedação eficiente e, novamente, menor espessura.

 

Foto: Gorodenkoff/stock.adobe.com
Foto: Gorodenkoff/stock.adobe.com

 

Tecnologias de última geração
Não é só na construção civil que nosso seor precisa explorar o conceito de valor agregado – afinal, o vidro também pode oferecer diversos benefícios aos automóveis. Passar essa mensagem ao usuário é fundamental para fazer com que sua relação com nosso material seja mais próxima. “A tendência para os automóveis dos próximos anos indica que o vidro estará cada vez mais presente, contribuindo com o conforto acústico e térmico, bem como agregando novas funções que estão em desenvolvimento”, opina D’Avila, da Sekurit.

  • Conforto acústico
    Laminados com PVBs acústicos, desenvolvidos especialmente para controlar o nível de ruído no interior do veículo, podem filtrar altas e baixas frequências de som, reduzindo o barulho em até 10 dB – como é o caso do dBControl, produto da Saint-Gobain Sekurit.

 

  • Conforto térmico
    Por que investir em conforto térmico apenas nas edificações, sendo que as pessoas passam horas dentro de seus carros, especialmente em dias de trânsito parado? Em períodos de clima cada vez mais extremo, vidros de controle solar ajudarão a diminuir a transmissão direta de energia solar para dentro do carro, mesmo quando estacionado ao Sol. “O conforto térmico é muito explorado em regiões com mercado automotivo mais maduro, como América do Norte, Europa e Ásia, especialmente China e Japão”, afirma Sérgio Massera, da AGC. “Embora as montadoras estejam analisando as possibilidades e soluções alternativas, essas ainda não estão em um nível econômico viável para o mercado regional atual. Acredito ser somente uma questão de tempo para que a legislação local venha a requerer tal tecnologia aplicada nacionalmente.”

 

  • Proteção contra raios UV
    Os vidros de controle solar também oferecem proteção contra os efeitos dos raios ultravioleta, que são extremamente prejudiciais à saúde humana (causando de queimaduras a aumento do risco de câncer de pele) e aos materiais usados na construção dos automóveis (desbotando estofamentos e painéis).

 

  • HUDs e realidade aumentada
    A exibição de informações na superfície do vidro deverá ser a próxima grande revolução no uso de nosso material na indústria automotiva, quando se tornar reproduzível em larga escala. A experiência de condução ficará mais interativa e informativa: essas tecnologias utilizam combinação de sensores, câmaras e projeções para exibir dados nos para-brisas, em tempo real, sobre o veículo e o ambiente ao redor. Assim, motoristas poderão consultar tais informações sem precisar olhar para mostradores no painel ou aplicativos de rotas em celulares. Em tese, a condução deve se tornar mais segura. “Em um passado recente, as montadoras chinesas começaram a introduzir uma tecnologia de vidros panorâmicos e para-brisas com HUD, influenciando a tendência do mercado regional”, aponta Sérgio Massera. “A tecnologia ADAS (Advanced Driver Assistance System, ou Sistema Avançado de Assistência ao Motorista) já se encontrava em evolução na região, requerendo cada vez mais precisão na distorção óptica da área de medição dos sensores de presença alocados no para-brisa.”

 

  • Interação com a luminosidade
    Os vidros termocrômicos, que contam com películas especiais, alteram sua cor devido à mudança de luminosidade. Quanto mais intensa e direta a incidência da luz (ou seja, quanto mais ensolarado o dia), mais escura ela se torna – ajudando a reduzir, por exemplo, o ofuscamento, fator importante quando se está dirigindo.

Este texto foi originalmente publicado na edição 628 (abril de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: romaset/stock.adobe.com

Vidro terá papel fundamental para o conforto térmico

Ano passado, a humanidade viveu um período de recorde mundial – mas não muito agradável: 2024 foi o ano mais quente registrado no planeta, com temperatura média global 1,6 ºC maior na comparação aos níveis pré-industriais. E se você acha essa notícia um tanto familiar, é porque ela é mesmo: 2023 já tinha quebrado essa marca, assim como acontecera em outros anos da última década.

E o problema não é o clima ficar apenas mais quente. Com uma temperatura média mais alta, o clima da Terra fica desregulado – e, hoje, estamos acima do limite de aumento de temperatura definido pelo Acordo de Paris, em 2015, como meta “segura” para que os efeitos das mudanças climáticas não sejam tão catastróficos. Dessa forma, condições extremas, que antes eram raras, tornam-se recorrentes. Basta lembrar que, no ano passado, o Rio Grande do Sul e parte da Espanha foram devastados por tempestades intensas; os Estados Unidos passaram por uma das piores temporadas de furacões de sua história; incêndios florestais se intensificaram por diversas regiões, atingindo fortemente também regiões urbanas; e até o deserto do Saara, na África, teve partes inundadas por conta de chuvas muito acima das médias anuais.

É por isso que a construção precisa se adaptar a essa nova realidade, para oferecer o conforto adequado a seus usuários – e o vidro tem tudo para se transformar em um elemento crucial das edificações futuras. O Vidroplano explica por que nas páginas a seguir.

Protagonismo transparente
Os projetos de arquitetura que ainda não se atentam ao conforto térmico de seus ocupantes não poderão mais deixar esse conceito de lado. Afinal, o impacto das mudanças climáticas vai além dos fenômenos extremos da natureza: altera a forma como os edifícios são pensados e construídos. “Hoje, os arquitetos têm o desafio de desenvolver estruturas que não apenas resistam ao estresse ambiental, mas também contribuam para a redução da pegada de carbono, tanto operacional como interna”, aponta Jonas Sales, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Cebrace.

O vidro pode ajudar na questão ambiental de duas formas, conforme esclarece Remy Neto, coordenador nacional de Especificação Técnica da AGC: “Na questão passiva, ele reduz o impacto energético nas construções com produtos que oferecem conforto térmico e luminoso; e na ativa, por meio de iniciativas das fabricantes, se diminui a emissão de carbono na produção de vidro”. Um exemplo disso é o projeto Volta, realizado pela AGC e Saint-Gobain Glass na Tchéquia (veja mais clicando aqui).

E não existe outro material capaz de atender todas essas necessidades. “Há vidros que chegam a 0,3 de valor U, que é a medida do coeficiente térmico – a quantidade de calor que atravessa um objeto. Ou seja, quase nada passa dependendo da chapa”, revela Edison Claro de Moraes, diretor da AtenuaSom. Portanto, devemos encarar estruturas envidraçadas, como fachadas, por exemplo, não somente como elementos estéticos, mas como capazes de exercer um papel funcional na construção do futuro.

“Com a evolução dos vidros de controle solar, é possível adaptar soluções para diferentes climas, regulando a entrada ou saída de calor, permitindo maior interação entre ambientes internos e externos”, comenta Marcelo Martins, diretor-comercial da GlassecViracon. Em outras palavras, o vidro continua sendo, e sempre será, um material moderno, totalmente alinhado às novas demandas climáticas. “Os de controle solar atuam sem comprometer a iluminação natural. Isso contribui, significativamente, para a diminuição do consumo de energia, tornando os edifícios mais adaptados às atuais exigências”, explica Betânia Danelon, gerente-comercial-técnica da Guardian.

Luiz Barbosa, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Vivix, reforça outra solução importante, mas pouco usada no Brasil: “Os insulados também contribuem para uma regulação mais eficiente da temperatura interna, proporcionando ambientes confortáveis e sustentáveis”. E o papel do vidro não se limita apenas à construção civil, como aponta Edison Moraes: “Recentemente, comprei um carro com teto solar e a temperatura dentro do carro fica desconfortável. O setor automotivo precisa produzir veículos que saiam de fábrica com vidros adequados ao nosso clima”. Fica o alerta: para-brisas, janelas e tetos solares também devem passar a oferecer conforto térmico aos usuários.

 

As torres Yachthouse, em Balneário Camoriú (SC), formam o edifício residencial mais alto da América Latina. O projeto exigiu soluções que combinassem alto desempenho térmico e acústico sem comprometer a estética. Para atingir o objetivo, a GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar na cor champanhe (Foto: Divulgação GlassecViracon)
As torres Yachthouse, em Balneário Camboriú (SC), formam o edifício residencial mais alto da América Latina. O projeto exigiu soluções que combinassem alto desempenho térmico e acústico sem comprometer a estética. Para atingir o objetivo, a GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar na cor champanhe (Foto: Divulgação GlassecViracon)

 

Como o vidro atua
A máxima de que nosso material não trabalha sozinho sempre é válida – e, para o desempenho térmico, isso não é diferente. “Um bom projeto de abertura de vão em uma edificação deve contemplar três elementos em conjunto: especificação do vidro, proteção solar externa e proteção solar interna”, detalha o engenheiro e professor Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e pesquisador do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

  • Climas frios
    Em locais como regiões serranas e o Sul do Brasil, é fundamental o uso de elementos de sombreamento adequadamente desenhados, orienta Westphal. Assim, evita-se o sobreaquecimento durante o verão, ao mesmo tempo que se admite o aquecimento solar desejado no inverno. “Mesmo que seja utilizado um vidro com boa capacidade de bloquear o calor – ou seja, com baixo fator solar –, a incidência direta da insolação pode causar desconforto térmico localizado sobre as pessoas. Dependendo do uso do ambiente, em alguns momentos será necessário bloquear completamente a luz solar”, indica. Para isso, devem ser utilizados elementos de sombreamento, sejam externos (brises, varandas, beirais, toldos) ou internos (cortinas, persianas, rolôs). “Um bom projeto deve contemplar esses dispositivos não apenas para controle térmico, mas para garantir a privacidade e o conforto visual, evitando o ofuscamento e proporcionando boa distribuição de luz no ambiente interno.”
  • Climas quentes
    Aqui, é necessário um vidro com alta reflexão energética – ou seja, alta capacidade de refletir o calor. Porém, não basta escolher uma chapa com baixo fator solar (como já explicado, a quantidade de calor que atravessa um objeto). O desempenho do vidro é variável, pois o ganho de calor do Sol depende do ângulo de incidência dos raios solares e de condições climáticas como temperatura e vento. “Tudo isso muda ao longo do dia e do ano. Por isso, o fator solar é apenas um indicador para a escolha inicial dos vidros a serem considerados para um projeto. A análise final deve ser sempre conduzida por simulação computacional anual”, afirma o professor.

A configuração do vidro é outro fator a influenciar toda essa conta. “Se o vidro de controle solar estiver laminado, há um bloqueio quase total dos raios UV, protegendo móveis e revestimentos internos contra o desbotamento. Quando o utilizamos na versão insulada, reduz ainda mais a troca térmica, oferecendo maior eficiência energética e conforto para os ocupantes”, comenta Marcelo Martins, da GlassecViracon.

 

Foto: Marina Gordejeva/stock.adobe.com
Foto: Marina Gordejeva/stock.adobe.com

 

Hora de investir nos insulados
Mesmo sendo um produto agregado robusto, capaz de oferecer diversos benefícios simultâneos às edificações, o insulado segue como um vidro esquecido no Brasil: de acordo com a edição 2024 do Panorama Abravidro, ele representa 0,7% dos vidros processados não automotivos da cadeia de processamento nacional. “Eu sou fã do insulado. Ele permite trocas térmicas de 40%, 50%, e se paga após três ou quatro anos de utilização”, afirma Edison Moraes, da AtenuaSom. “É, sim, um custo inicial maior, mas que no fim se torna menor. Se você vai utilizar ar-condicionado ou aquecedor, você precisa de um insulado para trazer economia ao longo do tempo – especialmente em prédios modernos. O Brasil precisa aprender a utilizá-lo, até porque eu não entendo a prática de jogar um vidro contra o outro, como ‘o insulado versus o laminado’. Um complementa o outro, simples assim.”

A ideia de que o insulado só serve para climas frios, por ser muito utilizado na Europa e América do Norte, não passa de um mito, como aponta Edilene Kniess, da Rohden:

  • Em locais quentes, quando combinado com vidros de controle solar, o material bloqueia a entrada excessiva de calor, reduzindo a necessidade de uso do ar-condicionado e contribuindo para a eficiência energética;
  • Em regiões com grande variação térmica, ele atua como isolante, mantendo a temperatura interna mais estável, minimizando os picos de calor no verão e as perdas térmicas no inverno.

“O vidro interno da composição insulada tende a permanecer em temperatura mais próxima à do ar interno, evitando o desconforto das pessoas próximas ao vidro”, ensina Fernando Westphal. “Isso também permite reduzir a carga térmica máxima da edificação. Em geral, em climas brasileiros, edifícios com fachadas de insulado podem ter uma economia de, pelo menos, 20% na instalação do sistema de ar-condicionado.”

Como especificar
É preciso muito conhecimento técnico para ser capaz de especificar esses vidros. “Costumo falar que, na Internet, você encontra compêndios sobre o desempenho do vidro, mas é preciso saber o que se está fazendo. É aí onde mais se erra”, opina Edison Moraes, da AtenuaSom.

As variáveis para definir as estratégias mais eficazes em relação à proteção contra o calor, transmissão de luz e reflexão desejadas são as seguintes:

  • Localização geográfica da edificação
  • Incidência solar nas fachadas
  • Dimensões e proporção das áreas transparentes
  • Demanda energética do sistema de climatização interno
  • Tipo de atividade do edifício
  • Estética desejada

Somado a isso, a seleção de vidros deve considerar alguns aspectos técnicos. O fator solar, mencionado anteriormente, é um deles, mas não o único:

  • Espessura e composição: “A seleção da espessura e da combinação de vidros (monolítico, laminado, insulado) deve considerar não apenas a proteção térmica, mas também fatores como segurança, iluminação natural e isolamento acústico”, afirma Edilene Marchi Kniess, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Rohden Vidros. “Em edifícios comerciais, onde a eficiência energética é crítica, pode-se optar por insulados duplos ou até triplos para um desempenho superior”;
  • Câmara de ar e preenchimento com gás: Caso o insulado seja o escolhido, seu desempenho pode ser aprimorado com o uso de gases de baixa condutividade térmica, como o argônio, na câmara instalada entre as chapas de vidro. “Esse gás é menos condutivo que o ar comum e limita a transferência térmica por condução e convecção, otimizando o isolamento térmico. Quanto maior a câmara de ar – dentro de um limite técnico, geralmente entre 12 e 16 mm –, mais eficiente será o bloqueio da temperatura”, explica Edilene.

 

Curitiba, o empreendimento Mai Terraces está sendo avaliado para receber a certificação GBC Condomínio Platina, que reconhece empreendimentos alinhados a práticas ambientais, como a eficiência energética. A GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar prata para a obra (Foto: Divulgação GlassecViracon)
Curitiba, o empreendimento Mai Terraces está sendo avaliado para receber a certificação GBC Condomínio Platina, que reconhece empreendimentos alinhados a práticas ambientais, como a eficiência energética. A GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar prata para a obra (Foto: Marcelo Araujo/divulgação GlassecViracon)

 

Ar-condicionado e vidros: inimigos ou aliados?
As mudanças climáticas já são tão sentidas pelos usuários de edificações que o conforto térmico se tornou um fator primordial para suas escolhas no quesito moradia. Segundo pesquisa do QuintoAndar, startup brasileira focada no aluguel e na venda de imóveis, o sistema de ar-condicionado passou a ser o item mais buscado por interessados em comprar imóvel em São Paulo no ano passado – o equipamento ocupava a 7ª posição na pesquisa anterior, referente a 2023.

Esse dado precisa fazer nosso setor refletir: as pessoas conhecem a capacidade térmica do vidro? Por que pensam logo no ar-condicionado quando o tema é debatido? “Embora o vidro seja tratado muitas vezes como o vilão da carga térmica das edificações, na verdade, ele é o material que permite trazer luz natural e contato visual com o exterior, algo que nenhum outro material consegue. E, mesmo assim, ainda permite controlar os ganhos e perdas de calor com estratégias bem-aplicadas a cada projeto e clima”, frisa Westphal.

O ar-condicionado é mais lembrado pelo fato de que nenhum outro equipamento ou material faz o que ele consegue. “Mesmo a ventilação natural é insuficiente para garantir o conforto em 100% do tempo, pois existem horas no verão em que o ar exterior está quente e úmido ou não está ventando – ou o vento está com velocidade alta demais. Então, o ar-condicionado segue imprescindível para garantir o conforto em 100% das horas de ocupação de uma edificação”, pondera Westphal. “O que devemos fazer nesse cenário é promover projetos cada vez mais eficientes, para que o uso do ar-condicionado seja minimizado”. É nesse momento que o vidro precisa ser lembrado pelos profissionais da construção.

Durante décadas, esse segmento priorizou projetos pouco adaptados ao clima local, com uso excessivo de concreto, pouca ventilação cruzada e baixa eficiência térmica dos materiais, conta Betânia Danelon, da Guardian. “A falta de incentivos para alternativas mais sustentáveis reforçava a dependência disso. Para mudar, é essencial promover a conscientização sobre soluções passivas de conforto térmico, como fachadas ventiladas, uso de vidros especiais, isolamentos eficientes e materiais que ajudam a reduzir a troca de calor.”

Quem concorda com a ideia é Luiz Barbosa, da Vivix. Para ele, o uso do ar-condicionado como principal estratégia de conforto térmico no Brasil se deve a vários fatores:

  • Desconhecimento sobre o custo-benefício dos vidros especiais;
  • O custo inicial de tecnologias passivas de climatização é visto como alto;
  • Desconhecimento de tecnologias alternativas que reduzem significativamente a necessidade de climatização artificial;
  • Falta de regulamentação: apesar das normas que abordam o desempenho térmico (como a ABNT NBR 15.575 — Edificações habitacionais – Desempenho), por enquanto as exigências para eficiência térmica em edificações no Brasil são brandas, levando construtoras a priorizar soluções convencionais.

Em relação ao último ponto, a situação pode melhorar num futuro próximo: está em andamento, no Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), da ABNT, um Grupo de Trabalho para desenvolver uma norma de desempenho para edificações não residenciais, visando a aplicações em edifícios comerciais e de serviços. Espera-se que, nesse trabalho, sejam traçados níveis mínimos de desempenho para os projetos arquitetônicos, evitando ao máximo a necessidade do ar-condicionado nos diferentes contextos climáticos brasileiros.

 

Foto: volha_r/stock.adobe.com
Foto: volha_r/stock.adobe.com

 

 

Mudança que passa por nosso setor
Já que existe uma parcela de profissionais da construção que ainda não conhece o que o vidro pode oferecer, é missão de nossas empresas reverter a situação. “Como indústria vidreira, temos o papel de disseminar conhecimento sobre novas tecnologias e suas aplicações, auxiliando especificadores e construtores a tomar decisões mais eficientes e inovadoras”, sugere Marcelo Martins, da GlassecViracon.

Edilene Kniess, da Rohden, lembra que a adoção de vidros especiais de alta performance auxilia projetos na obtenção de certificações ambientais reconhecidas internacionalmente, como a Leadership in Energy and Environmental Design (Leed). “Incentivos fiscais e certificações ambientais podem impulsionar o uso dos vidros eficientes, tornando a construção civil mais sustentável e econômica a longo prazo.”

Apostar na disseminação do conhecimento, portanto, mostra-se como a chave para um novo panorama. “Nosso setor desempenha um papel crucial na mudança cultural. Ao capacitar os profissionais sobre essas tecnologias e promover seu uso, podemos contribuir para uma construção mais eficiente, diminuindo a dependência do ar-condicionado e melhorando o conforto térmico de maneira ecológica”, aponta Jonas Sales, da Cebrace. “Nos dedicamos à capacitação de profissionais e empresas do setor de arquitetura e construção, oferecendo treinamentos e workshops que abordam não apenas as propriedades térmicas do vidro, mas também outros aspectos fundamentais, como transmissão de luz e reflexão. O objetivo é garantir que os clientes tomem decisões mais assertivas em seus projetos.”

Caminhos a seguir
Educação do mercado: investir na divulgação técnica e em treinamentos para arquitetos e construtoras sobre os benefícios dos vidros eficientes. A Abravidro, por exemplo, conta com a plataforma de ensino a distância Educavidro, que contém cursos como “Economia de energia em edifícios novos e reformas”, “Especificação de fachadas”, “Introdução a eficiência energética” e “Certificação de edifícios – Impacto do vidro”;

Parcerias estratégicas: trabalhar com órgãos reguladores para a produção de mais normas que incluam referências à eficiência térmica;

Demonstração prática: divulgar estudos de caso e comparar edificações com e sem vidros de valor agregado, provando na prática a redução de temperatura interna e economia de energia;

Incentivos financeiros: demonstrar a economia com energia elétrica gerada e o retorno financeiro rápido, mesmo com o investimento inicial mais alto;

Elemento sustentável: promover o vidro como elemento com baixa pegada de carbono e 100% reciclável, que contribui para a redução das emissões de CO2.

Este texto foi originalmente publicado na edição 627 (março de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Divulgação GlassecViracon

Veja como é o trabalho com vidro na linha branca

Tente lembrar como eram sua geladeira, seu fogão ou sua lava-roupas antigas, de anos atrás. Agora, compare com as versões que possui atualmente desses mesmos equipamentos. Uma coisa é certa: a presença do vidro é muito mais visível e marcante hoje do que antes. Nosso material ganha um espaço cada vez maior dentro do segmento de linha branca graças às suas características físicas e técnicas.

Pensando nisso, O Vidroplano preparou esta reportagem especial sobre o trabalho nesse setor. Quais as tendências atuais no uso de nossos produtos em eletrodomésticos? Que tipos de vidro são mais utilizados? Há diferença no processamento das chapas quando se compara a outros ramos consumidores? Saiba essas e outras respostas a seguir.

Por que olhar para esse mercado
Como visto na matéria de capa de O Vidroplano de janeiro, 2024 foi um ótimo período de vendas setor eletroeletrônico, marcando um aumento de 29% de janeiro a setembro do ano passado na comparação com o mesmo período de 2023 – o crescimento geral de 2024 ainda não foi divulgado, mas deve ficar entre 15% e 20%, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Se focar apenas nos produtos de linha branca, o avanço também é significativo: alta de 19% de janeiro a setembro, com a comercialização de 11,3 milhões de unidades.

A era do vidro
Processadoras que atendem esse segmento podem falar melhor que ninguém sobre as atuais tendências na aplicação de nosso material. E a verdade é uma só: o vidro vem ganhando espaço e substituindo outros materiais, o que aumenta sua demanda. O fogão, por exemplo, é um dos itens que mais tem sido “envidraçado” – as três processadoras consultadas para esta reportagem o mencionaram como case desse movimento.

 

Foto: Sergey/stock.adobe.com
Foto: Sergey/stock.adobe.com

 

“O fogão com mesa de vidro ganhou visibilidade no mercado e tem conquistado os donos de casa pela facilidade de limpeza e aspecto moderno, além de não perder a qualidade ao passar do tempo”, comenta Hildegard Tres, proprietária da Casa do Vidro, de Bento Gonçalves (RS). A “mesa” de um fogão é a parte onde as bocas estão instaladas. Tradicionalmente essa estrutura sempre foi feita de aço inox, mas modelos com vidro estão se tornando mais populares.

“Existem ainda diversos fogões cuja parte frontal é toda em vidro”, revela Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro, de Farroupilha (RS), empresa que teve grande experiência da atuação na linha branca alguns anos atrás. “Outro bom exemplo são as prateleiras internas de geladeiras, que antes eram fabricadas em aço aramado e, hoje, a maioria delas é de vidro temperado”. “O vidro muda o aspecto visual do produto, deixando-o mais sofisticado. Também tivemos o avanço da tecnologia, com inovações como inclusão de display touch screen ou fogões por indução, entre outras”, explica Sandaro Jr, que ocupa o cargo de comprador na Diamante Vidros, de São Caetano do Sul (SP).

Diferenças no processo
Existe, sim, diferença entre os vidros da linha branca para os de outros segmentos. É possível afirmar que são mais “complexos”: muitas vezes possuem serigrafia, geometrias não retangulares, formas arredondadas, com raios e recortes diversos que exigem um beneficiamento mais refinado. Os da construção, para efeito de comparação, são, geralmente, retos, com poucos furos ou recortes.

“Outro ponto que vale ressaltar é a grande escala de produção dos vidros de linha branca. Uma vez desenvolvido um item, ele roda em grandes lotes, e isso se repete ao longo do fornecimento. Já na construção civil, como cada projeto é exclusivo e com muita personalização, os lotes são pequenos e com grande variedade de itens”, afirma Fabrício Flach, do Grupo Tecnovidro.

Existe ainda mais um fator importante para diferenciar o mercado de vidros da linha branca dos demais: a exigência quanto à qualidade visual. Uma peça não tolera praticamente nenhum defeito – até pelo fato de ser facilmente perceptível, já que ficarão próximas ao usuário durante o uso dos eletrodomésticos. “O acabamento da lapidação deve ser perfeito; a serigrafia não pode conter falhas como serrilha; as medidas exigem cotas mínimas críticas. É necessário esse cuidado durante todo o processamento, caso contrário, a peça terá de ser descartada ao chegar ao final do processo, não sendo possível recuperá-la”, comenta Hildegard Tres, da Casa do Vidro. Por isso mesmo, é comum inspecionar cada peça individualmente antes de embalá-la, de forma a garantir que algo com defeito não chegue ao cliente.

 

 

Os vidros mais usados
Existe uma certa padronização no tipo de vidro aplicado na linha branca, a não ser quando se trata de usos específicos. “O que pode ocorrer de diferença é a escolha da matéria-prima pelo cliente no projeto, como a opção pelo vidro low-e, que tem baixa emissividade e aumenta a eficácia do produto dependendo de sua aplicação, pois impede a troca de calor entre ambientes internos e externos, auxiliando a funcionalidade de temperatura dentro do aparelho e diminuindo o gasto de energia”, explica Thamires Barbara, gerente da Qualidade da Diamante Vidros.

O temperado é o padrão da maior parte dos eletrodomésticos, variando da espessura conforme seu papel:

De 3,15 mm a 4 mm de espessura:

  • Geladeiras (prateleiras internas)
  • Forno elétrico (porta)
  • Fogão (porta)
  • Lava-roupas e lava-louças (tampa ou porta)

6 mm de espessura:

  • Cooktops
  • Fogão (mesa)

A serigrafia usada, assim como as cores, padrões de desenho etc., variam de acordo com a estética buscada pela fabricante.

 

Cooktops de indução usam vidros especiais, como o vitrocerâmico (Foto: Carl/stock.adobe.com)
Cooktops de indução usam vidros especiais, como o vitrocerâmico (Foto: Carl/stock.adobe.com)

 

A visão das fabricantes da linha branca
É importante ouvir também quem está do outro lado, consumindo nosso material. De acordo com Jacques Ivo Krause, diretor de Produtos e Comércio Exterior da Mondial, a aplicação do vidro, acima de tudo, precisa levar em conta a qualidade técnica: “A resistência mecânica aos choques de temperatura, por exemplo, é um item muito importante na definição dos vidros. Em seguida, consideramos a qualidade visual e por fim, a competitividade de custo”. As espessuras são determinadas por ensaios técnicos, seguindo indicações de normas técnicas, a fim de garantir segurança dos usuários diante de possíveis variações na forma de uso.

Os benefícios que o vidro traz aos produtos da empresa são vários: “A transparência e resistência térmica para os fornos e air fryer oven são muito importantes, uma vez que entregam benefícios aos usuários. Já nos cooktops, seja a gás ou por indução, a resistência mecânica aos choques térmicos e o acabamento trazem beleza ao produto, trazendo modernidade às cozinhas”, comenta Krause.

A Mondial, segundo seu diretor, tem como política priorizar o suprimento nacional de matérias-primas. “Nossa política de relacionamento com parceiros e fornecedores é muito boa, já que acreditamos que o bom relacionamento garante crescimento mútuo e traz a certeza de entregas e melhor qualidade técnica dos insumos. Não é diferente com os nossos fornecedores de vidros”, reflete.

 

 

Qual é a norma do vidro para linha branca?
É a ABNT NBR 13.866 – Vidro temperado para aparelhos domésticos de linha branca, que estabelece requisitos e ensaios de avaliação do material destinado a esse segmento.

Ensaios
Semelhantes aos do vidro temperado (norma ABNT NBR 14.698), mas com diferenças importantes: devem ser feitos com corpos de prova com serigrafia em tamanhos e quantidades diferentes.

Requisitos

  • Tolerâncias dimensionais (espessura, dimensões lineares e tolerâncias para furos)
  • Acabamento de bordas
  • Empenamento, afastamento e abaulamento
  • Aspecto visual
  • Resistência ao choque mecânico
  • Resistência ao choque térmico
  • Ensaio de fragmentação

Este texto foi originalmente publicado na edição 626 (fevereiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Wiji/Stock.adobe.com

Fachadas inclinadas têm desafios especiais

Projetar e instalar fachadas de vidro envolve diversos processos complexos – da especificação à instalação e manutenção, passando ainda pelo processamento correto das peças, manuseio etc. Se a fachada for inclinada, então, dá-lhe mais cuidados para serem levados em conta. Afinal, esse tipo de estrutura precisa de cuidados extras durante as diferentes etapas do trabalho.

Sabendo disso, O Vidroplano conversou com projetistas e instaladores para entender quais são os desafios que essas fachadas oferecem.

Positiva ou negativa?
O mais importante conceito para se analisar as fachadas inclinadas é o tipo de inclinação delas.

  • Inclinação positiva: quando a projeção da fachada ocorre para dentro da edificação – nesse caso, a estrutura se assemelha a um escorregador;
  • Inclinação negativa: quando a projeção ocorre para o lado externo da edificação – ou seja, a estrutura se assemelha a uma marquise.

É a partir dessa diferenciação que todo o projeto da esquadria e do vidro serão pensados. Por isso, você verá bastante os dois termos ao longo da reportagem.

 

O Birmann 32 é um marco da arquitetura corporativa na região da Faria Lima, um dos principais centro financeiros de São Paulo. O prédio ganhou fachadas de insulados com peças de controle solar Neutral Plus 50, da linha SunGuard High Performance, da Guardian, processadas pela GlassecViracon. A estrutura foi desenvolvida pela Itefal, com consultoria da Crescêncio Engenharia (foto: Levi Gregorio)
O Birmann 32 é um marco da arquitetura corporativa na região da Faria Lima, um dos principais centro financeiros de São Paulo. O prédio ganhou fachadas de insulados com peças de controle solar Neutral Plus 50, da linha SunGuard High Performance, da Guardian, processadas pela GlassecViracon. A estrutura foi desenvolvida pela Itefal, com consultoria da Crescêncio Engenharia (foto: Levi Gregorio)

 

Como fica a especificação
Os cálculos necessários para o dimensionamento da espessura dos vidros em fachadas inclinadas são mais complexos e exigem mais etapas do que para a vertical. É preciso considerar, por exemplo, tanto o peso próprio do vidro como as pressões de vento. “Com inclinação positiva, o vidro cria uma carga adicional sobre os suportes inferiores, o que aumenta a necessidade de reforços nesses pontos”, comenta o engenheiro-consultor da TG Technical Group, Maurício Margaritelli. “Com inclinação negativa, além da pressão negativa causada pelo vento, a tração nos sistemas de fixação é maior, exigindo maior resistência dos pontos de ancoragem e das vedações.”

Em relação às fachadas coladas com silicone estrutural, é essencial prestar maior atenção à estrutura de suporte. O silicone resiste aos esforços de vento, mas não pode ser responsável por suportar o peso do vidro. “Para isso, é necessário prever reforços mecânicos, como ganchos ou suportes secundários, que possam aguentar as cargas verticais. A omissão desse cuidado pode comprometer a segurança da fachada”, alerta Margaritelli. “Além disso, as larguras das juntas estruturais devem ser maiores, para suportar a força constante de arrancamento”, informa o diretor da Avec Design, José Guilherme Aceto.

O clima também deve ser levado em conta. Se a fachada estiver em uma região sujeita a neve, por exemplo, o peso dela precisa ser considerado em fachadas inclinadas positivamente. Esse não é o caso do Brasil, embora o Sul do País seja uma região marcada por frequentes geadas durante as épocas frias do ano – o que traz maior carga ao vidro instalado nesse tipo de estrutura.

 

Parte das placas laminados da fachada do Faria Lima Plaza, em São Paulo, foi montada com diferentes inclinações positivas e negativas, o que representou grande desafio na hora da especificação – a Crescêncio Engenharia prestou consultaria para a montagem da estrutura (foto: Divulgação Crescêncio Engenharia)
Parte das placas laminados da fachada do Faria Lima Plaza, em São Paulo, foi montada com diferentes inclinações positivas e negativas, o que representou grande desafio na hora da especificação – a Crescêncio Engenharia prestou consultaria para a montagem da estrutura (foto: Divulgação Crescêncio Engenharia)

 

Em busca da instalação perfeita
Parece óbvio, mas vale ser ressaltado: devido à inclinação, o acesso dos operários para a instalação desse tipo de fachada é muito mais complexo – e, por isso, equipamentos devem ser usados para superar esses obstáculos e oferecer a segurança necessária à equipe que está realizando essa atividade (como balancins). “Toda a operação logística de transporte vertical até a instalação é sempre um grande desafio. Outro aspecto importante é o cuidado que se deve ter com a precisão da montagem da fachada. Nesse caso é importante considerar equipamentos de controle de dimensão a laser, e até estações topográficas, para evitar desvios que venham a comprometer a qualidade final da esquadria”, afirma Petrucci.

Para o engenheiro Henrique de Lima, diretor-presidente da Itefal, o tipo de sistema da fachada influencia as dificuldades no momento da instalação. “O sistema unitizado requer maior cuidado na hora de encaixe e acomodação dos painéis. Os painéis precisam ser posicionados na angulação da inclinação e, como estão içados, esse processo requer mais atenção e habilidade”, comenta. “Já no caso do sistema stick, o principal cuidado está no equipamento auxiliar de instalação, uma vez que as inclinações interferem no distanciamento habitual de balancins, por exemplo, obrigando em algumas situações o trabalho com cabos guia ou avanços pantográficos, a fim de conseguir o acesso necessário.”

 

Com inclinação negativa de 10 graus, o Terminal Marítimo de Passageiros de Salvador possui 4.800 m² de laminados verdes (12 mm), da Guardian, processados pela Iguatemi Vidros (foto: Xico Diniz)
Com inclinação negativa de 10 graus, o Terminal Marítimo de Passageiros de Salvador possui 4.800 m² de laminados verdes (12 mm), da Guardian, processados pela Iguatemi Vidros (foto: Xico Diniz)

 

Outros tópicos relevantes para a hora de projetar

  • Mais sobre os ventos: a pressão de vento em uma fachada inclinada é afetada pela geometria da estrutura. O vento pode gerar pressão positiva, quando empurra o vidro para dentro, e pressão negativa, chamada de sucção, quando puxa o vidro para fora. Essas variações afetam não apenas a resistência do vidro, mas também os perfis de ancoragem e os sistemas de fixação, os quais devem ser dimensionados para resistir a esses esforços combinados. Segundo Aceto, da Avec, o peso dos vidros laminados deve ser considerado como carga permanente nas fachadas de inclinação positiva quando submetidos à tensão máxima admissível de 5,7 MPa (megapascal, unidade para medir pressão), conforme indicam a ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil — Projeto, execução e aplicações e normas internacionais. Em uma instalação que sofrerá com rajadas de vento, esse valor aumenta para 23,3 MPa. “No entanto, muitas vezes, somente o peso das peças excede essa tensão, sendo um impeditivo para uso de chapas somente laminadas. Já para vidros com tratamento térmico, sejam temperados ou termoendurecidos, a tensão admissível passa a ser de 52 a até 93 MPa”;
  • Vedação: numa fachada positiva, o sistema de vedação precisa ser determinado considerando a área de contribuição de água decorrente dessa projeção. “Nesse caso a geometria das gaxetas de vedação e dos perfis de alumínio deve ser desenvolvida para proporcionar o escoamento para o lado externo”, explica Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da Crescêncio Engenharia. “Já na fachada negativa, as exigências em relação à estanqueidade da esquadria são diferentes, pois a gravidade atua sempre a favor”;
  • Deflexão do vidro: dependendo da inclinação e da espessura do vidro adotado, o peso da chapa pode ocasionar flexão no centro dela, provocando um efeito de distorção óptica indesejado.

Como manter as estruturas em ordem
É possível afirmar que o processo de manutenção das fachadas inclinadas pode ser mais desafiador que a própria instalação da estrutura. “Diversas fachadas contemplam pinos receptáculos para ancoragem de equipamentos que propiciam acesso às fachadas. Há de se destacar também que, em função de seu posicionamento, fachadas positivas sofrem maior acúmulo de chuva bem como sujidades e, dessa forma, requerem limpeza em intervalos de tempos menores”, alerta Henrique de Lima, da Itefal.

Pinos de retenção (comumente mados de washing bolts) e pinos de desvio de direção são fundamentais para garantir aos operários as condições de segurança, equilíbrio e mobilidade necessárias durante o processo de limpeza e manutenção. Em alguns empreendimentos, o uso de equipamentos mecânicos como gôndolas ajuda de forma efetiva esse tipo de trabalho.

Por isso, é crucial monitorar regularmente o estado dessas fixações e reforços mecânicos, especialmente em fachadas coladas com silicone estrutural, para garantir que os sistemas estejam funcionando conforme o projeto.

 

Em formato de pirâmide, o Hospital de Amor, em Barretos (SP), ganhou vidros laminados Sunlux (10 mm), da AGC, nas versões azul e com serigrafia. Responsável pela instalação, a Avec Design utilizou o sistema Ecoglazing, desenvolvido pela própria empresa (foto: Divulgação Avec Design)
Em formato de pirâmide, o Hospital de Amor, em Barretos (SP), ganhou vidros laminados Sunlux (10 mm), da AGC, nas versões azul e com serigrafia. Responsável pela instalação, a Avec Design utilizou o sistema Ecoglazing, desenvolvido pela própria empresa (foto: Divulgação Avec Design)

 

Eficiência energética
“A escolha correta da inclinação, combinada com vidros de controle solar, pode reduzir o consumo de energia no edifício”, explica Maurício Margaritelli. “No entanto, inclinações malprojetadas podem resultar em problemas de superaquecimento, especialmente em fachadas com inclinação positiva e grande exposição solar.”

Nas fachadas com inclinação positiva, a exposição aos raios solares é mais prolongada, já que o ângulo amplifica a exposição direta ao Sol, aumentando o ganho térmico e fazendo com que a temperatura do vidro atinja valores mais elevados.

Por isso, o dimensionamento da espessura e a escolha da peça devem considerar o acréscimo de temperatura. Para os casos de fachadas com inclinação negativa, esse tipo de preocupação é relativamente menor.

Este texto foi originalmente publicado na edição 622 (outubro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Levi Gregorio

Prepare sua empresa para a Inteligência Artificial

Faz uns bons anos que o termo Inteligência Artificial (também conhecido pela sigla IA) vem ganhando espaço nas discussões do dia a dia. De um lado, existe a esperança de que ela permita um salto jamais visto na evolução humana; por outro, há o receio de a tecnologia invadir aspectos básicos da vida de cada um de nós, mudando-os para pior. Arte, medicina, comunicação, indústria: todos os segmentos terão de lidar com esse assunto mais cedo ou mais tarde – incluindo o setor vidreiro.

Pensando nisso, O Vidroplano decidiu conversar com players da cadeia, incluindo usinas e fabricantes de maquinários e softwares, para entender de que forma a IA pode impactar os negócios vidreiros. A fabricação de vidro ficará mais simples? Serão criadas novas tecnologias para o uso de nossa indústria? Empregos no segmento podem ser extintos como resultado disso? Confira a seguir respostas para essas e outras perguntas.

Máquinas que pensam
De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Inteligência Artificial é a tentativa de reproduzir, em máquinas, o processo de pensamento humano. Para isso, são criados algoritmos que simulam o nosso raciocínio – e esses algoritmos, uma vez introduzidos em sistemas ou equipamentos, vão ajudá-los a trabalhar de modo mais independente. O resultado é a automatização de tomadas de decisões complexas, como avaliação de crises e prevenção de riscos, tornando a análise de dados mais rápida e precisa.

“Isso permite que as pessoas dediquem mais tempo ao pensamento criativo, o que vejo como uma das grandes oportunidades para o ser humano exercitar o melhor de suas qualidades”, comenta Renato Grau, CEO da consultoria de tecnologia Innovision, em artigo publicado pela Revista Indústria Brasileira. “A robótica, por sua vez, está se tornando mais autônoma e integrada às equipes humano-robôs, levantando preocupações naturais sobre a substituição de empregos. É necessário equilíbrio na integração, garantindo confiança e adaptabilidade na atribuição de poder.”

A indústria nacional aposta nesse poder transformador da IA: a Petrobras, por exemplo, desenvolveu sistemas de análise para prever falhas na exploração de petróleo e gás; já a Embraer utiliza plataformas de simulação para validar projetos de aeronaves. Mas isso pode ser visto também em pequenos negócios: sabe aquele chat automático de atendimento ao consumidor com quem você precisa falar antes de conversar com um humano? Aquilo também é IA – claro, uma forma simplificada dela. Isso mostra como o conceito está mais presente na vida de cada um de nós do que nos damos conta.

Qual o papel da IA nas empresas?
Segundo o Sebrae, a IA atua em três frentes nas empresas:

  • Redução de custos: é possível acelerar algumas etapas e diminuir a incidência de erros, minimizando as chances de prejuízos;
  • Otimização da produção: fundamental para a obtenção de maior retorno financeiro e para a criação de uma cultura organizacional sólida;
  • Prevenção de riscos: é possível identificar potenciais problemas e agir de maneira preventiva, antes que gerem complicações na produtividade e no desempenho organizacional.

E vale ter atenção especial às pequenas e microempresas na implementação dessas tecnologias: elas são mais vulneráveis em relação ao uso de IA, principalmente nos quesitos relacionados ao acesso a informações de segurança. Esse é o alerta de Fernando de Rizzo, CEO da metalúrgica Fundição Tupy, em texto publicado no documento Inteligência Artificial e a Indústria, do Grupo Mobilização Empresarial pela Inovação, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Diz ele: “A aplicação da IA requer uma robusta base operacional para seu desempenho seguro, não ocorrendo apenas isoladamente, mas em um contexto de conjunto de fatores tecnológicos e estruturais”.

Para Rizzo, o correto uso da tecnologia tem como base a inclusão digital, responsável por capacitar as pessoas no emprego dessas ferramentas; a segurança cibernética, em relação à proteção contra ameaças à privacidade e crimes cibernéticos; e a promoção de cooperação multilateral internacional, essencial para aprimorar a governança e a mitigação de riscos de crimes para além da fronteira do País. “Posto isso, pontua-se que se faz mandatório o reconhecimento e gestão dos riscos associados ao uso de IA, devendo contemplar pilares como ética, sustentabilidade, segurança, inclusão e diversidade”, escreveu.

 

As indústrias como um todo sentirão os impactos da IA: por isso mesmo, será necessário um equilíbrio na integração das novas tecnologias, garantindo a adaptação das pessoas a essa nova realidade (Foto: panuwat/stock.adobe.com)
As indústrias como um todo sentirão os impactos da IA: por isso mesmo, será necessário um equilíbrio na integração das novas tecnologias, garantindo a adaptação das pessoas a essa nova realidade (Foto: panuwat/stock.adobe.com)

 

A IA já é uma realidade no setor?
A presença da tecnologia em nosso segmento ainda é pequena, mas começa a tomar forma. “O uso de IA na fabricação de vidros está em um estágio inicial, muitas vezes limitado a provas de conceito. Grande parte das empresas está em fase de experimentação, buscando compreender como pode gerar retornos”, revela o presidente da Vivix, Henrique Lisboa. “No entanto, nos últimos dois anos, tanto no Brasil como internacionalmente, foram divulgadas aplicações práticas e casos de uso. Participamos de diversos eventos internacionais, como a Hannover Messe, na Alemanha, e Siemens Realize Live, em Las Vegas, e podemos dizer que, globalmente, o cenário é semelhante.”

Para o gerente de Marketing e Produto para América do Sul da AGC, Thiago Malvezzi, o uso da Inteligência Artificial em nosso mercado, ao menos no Brasil, ainda levará alguns anos para ser adotado em larga escala. “Desde o ano passado, a AGC promove um fórum global de novas tecnologias com foco em IA. Esse evento reúne colaboradores de diversas partes do mundo para apresentar projetos e explorar possibilidades. Embora seja amplamente reconhecido em nosso mercado vidreiro que o conhecimento é crucial, ainda precisamos dedicar mais atenção a isso”, reflete.

“A IA está começando a tecer seus padrões intrincados no tecido dessa indústria. A verdadeira transformação, porém, provavelmente se desenrolará na próxima década”, analisa Moreno Magon, CEO da MM4Glass e diretor de Vendas, além de cofundador, da Latamglass. “A convergência da IA com outras tecnologias emergentes, como Internet of Things (IoT) e robótica avançada, acelerará ainda mais essa transformação. Então, fique de olho no horizonte: o mercado de máquinas de processamento, por exemplo, está à beira de uma evolução emocionante, que remodelará a indústria de maneiras que estamos apenas começando a imaginar.”

Como será essa revolução
A IA pode ser aplicada em várias etapas, desde a automação de processos de produção até a análise de dados de mercado e previsão de demanda. De acordo com as fontes consultadas por O Vidroplano, entre os principais pontos que essa tecnologia irá melhorar estão:

  • Monitoramento da qualidade: detectará imperfeições em tempo real, prevenindo falhas e aumentando a produtividade, o que resultará em uma produção mais eficiente, com menor custo e maior qualidade final;
  • Manutenção dos equipamentos: será possível prever com mais precisão os ciclos de manutenção das máquinas, evitando paradas inesperadas e otimizando a produção;
  • Utilização aprimorada dos equipamentos: ajudará a aumentar a eficiência energética, reduzindo, como consequência, a emissão de CO2. Contribuirá também para uma rápida identificação de incidentes na linha de produção, fazendo correções imediatas;
  • Personalização da experiência do cliente: será possível oferecer soluções sob medida e antecipar necessidades com base em dados históricos de compra e comportamento.

Para Ron Crowl, gerente da empresa norte-americana Cyncly e diretor da National Glass Association (a associação das empresas vidreiras dos Estados Unidos), a IA também atuará no gerenciamento de estoque, uma atividade crítica para qualquer companhia do segmento. “Ao automatizar ordens de compra, o sistema garante que os níveis de estoque sejam mantidos de forma eficiente, sem a necessidade de intervenção manual. Essa funcionalidade pode ser projetada para analisar níveis de estoque, prever requisitos futuros com base em padrões e fazer pedidos automaticamente para repor o nível de produtos, garantindo que a cadeia de suprimentos seja ininterrupta e responsiva às flutuações de demanda”, escreveu Crowl em artigo na revista Glass Magazine.

 

Por conta do tamanho de suas operações, as usinas serão o elo que mais apostará na pesquisa por soluções com IA (Foto: Vasily Smirnov/stock.adobe.com)
Por conta do tamanho de suas operações, as usinas serão o elo que mais apostará na pesquisa por soluções com IA (Foto: Vasily Smirnov/stock.adobe.com)

 

A presença da IA hoje nas empresas
Por conta do tamanho de suas operações, as usinas são o elo que mais investe na pesquisa por soluções com Inteligência Artificial. A AGC desenvolveu uma tecnologia baseada no ChatGPT. Disponibilizada gratuitamente para todos os colaboradores, ela possibilita aos funcionários receber respostas com base nos dados internos da ferramenta – por exemplo, na área de vendas, ela permite conhecer o desenvolvimento de serviços e produtos e ajuda a alcançar os clientes com agilidade. “Além disso, a empresa incentiva o uso desse poderoso recurso nas atividades diárias, para que todos possam se familiarizar com a tecnologia e adaptar suas tarefas aos benefícios que ela proporciona”, afirma Thiago Malvezzi.

A Cebrace está estudando como aplicar a tecnologia a seus processos. “Estamos de olho nesses avanços e enxergamos a importância da adoção da IA, a qual ainda exige estudos e acompanhamento para uma implementação mais segura, robusta, e padronizada”, revela a gerente de Marketing, Inovação & Sustentabilidade, Monica Caparroz. “A partir da análise desses impactos, se tudo apontar que é possível avançar ou acelerar a inovação, com certeza ela será implementada, seja em processos de comunicação e colaboração ou em processo produtivo.”

A Guardian também está focada em entender tais conceitos – os existentes e os que surgirão num futuro breve. “Somos desafiados a abraçar mudanças de forma lucrativa, além de sermos incentivados a buscar oportunidades para adquirir conhecimento e implementar casos de uso que gerem valor à medida que os encontramos”, analisa o gerente de Marketing Arthur Lacerda. Segundo ele, a equipe da Guardian está desenvolvendo uma ferramenta de IA generativa que ajudará os clientes a navegar pelos aspectos técnicos do vidro.

A Vivix utiliza sistemas de IA tanto na área fabril como no suporte à área comercial. “Vale citar o uso no controle avançado do forno, que visa a aumentar a estabilidade do processo produtivo e melhorar a eficiência energética, e o Engenheiro Virtual da Vivix, que ajuda a reduzir a curva de aprendizado e apoia nossas equipes de produção e qualidade na tomada de decisões mais assertivas, integrando melhor os dados industriais e de negócios”, explica Henrique Lisboa. Esses projetos foram desenvolvidos em parceria com empresas como Amazon, Deloitte e UPE.

É possível dizer que o segmento de softwares para o setor vidreiro está avançado nesse quesito, pois os próprios sistemas contêm Inteligência Artificial. “Hoje contamos com a IA em diversas áreas em nossas soluções”, aponta Priscila Kimmel, gerente-comercial da SystemGlass. “Está em tudo que possa ser integrado automaticamente, criando assertividade e reduzindo mão de obra operacional para nossos clientes.” Isso inclui automações inteligentes na parte administrativa dos softwares; ecossistemas para autonomia comercial no e-commerce WebGlass; e outras automações para a integração das linhas de produção, deixando os processos das beneficiadoras sem nenhuma intervenção humana.

O que mudará no processamento de vidros?
Os diversos elos fabris do setor podem ganhar mais produtividade e eficiência com a IA. E em relação às etapas do beneficiamento, a que mais deverá passar por um processo de revolução será a têmpera. “Em essência, a IA é como um maestro, orquestrando os vários elementos do processo para criar uma sinfonia de eficiência, qualidade e inovação”, aponta Magon, da MM4Glass e Latamglass. Para ele, a IA mudará o gerenciamento desse trabalho em diversos pontos:

  • Otimização do fluxo de trabalho: “Algoritmos podem analisar dados de produção para identificar gargalos e ineficiências, de forma a agilizar as operações, alocar recursos de forma mais eficaz e minimizar os tempos de inatividade”;
  • Controle e garantia de qualidade: “Os sistemas de visão computacional orientados por IA podem inspecionar continuamente os vidros em busca de defeitos com precisão incomparável. Além disso, será possível analisar padrões de defeitos para identificar as causas básicas e implementar ações corretivas”;
  • Gestão de energia: “Ao analisar os padrões de uso de energia e identificar oportunidades de redução, a tecnologia ajuda os gerentes de produção a implementar práticas energeticamente eficientes, levando à economia de custos e a uma pegada ambiental menor”;
  • Treinamento e desenvolvimento de funcionários: “Os programas de treinamento orientados por IA podem personalizar as experiências de aprendizado dos funcionários, identificando lacunas de habilidades e fornecendo módulos de ensino direcionados”.

 

Foto: grigoryepremyan/stock.adobe.com
Foto: grigoryepremyan/stock.adobe.com

 

De olho nos perigos
Como toda a tecnologia, a Inteligência Artificial também desperta receios: profissionais humanos deixarão de ser necessários para certas tarefas? O desemprego, como consequência disso, pode aumentar? O que fazer quando, de fato, nossas empresas estiverem atuando com esses sistemas? “Com investimentos em requalificação e treinamento, podemos minimizar esses efeitos e garantir que a IA complemente e potencialize o trabalho humano, em vez de simplesmente substituí-lo”, reflete Thiago Malvezzi, da AGC. “Para que isso ocorra de forma efetiva, é crucial que tanto as empresas como os governos apoiem e incentivem essa requalificação, proporcionando os recursos necessários para que a transição seja justa e inclusiva.”

Priscila Kimmel, da SystemGlass, acredita que o impacto será mais de complementação do trabalho humano do que de substituição. “A IA pode automatizar tarefas repetitivas e aumentar a precisão, mas a expertise, a criatividade e a capacidade de resolução de problemas dos profissionais continuarão sendo essenciais.”

A ideia é compartilhada por Henrique Lisboa, da Vivix. “A IA permite que os profissionais se concentrem em atividades mais estratégicas e de alto impacto, proporcionando o desenvolvimento das nossas pessoas. Ao investir no aprimoramento das competências dos colaboradores, garantimos que a força de trabalho esteja alinhada com as novas demandas do setor, aumentando a eficiência e agregando mais valor ao negócio”, aponta.

Portanto, se você ainda não pensava no assunto, fique ligado: a era da IA chegou.

Este texto foi originalmente publicado na edição 621 (setembro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: ipopba/stock.adobe.com

Saiba como tratar a água da maneira correta

É possível afirmar que, sem água, não existe vidro processado. Apesar de não ser uma matéria-prima de nosso material, ela é fundamental em diversas etapas no beneficiamento. No entanto, não é qualquer água que pode ser utilizada; do contrário, os processos podem ser seriamente comprometidos.

Por isso mesmo, O Vidroplano traz uma análise sobre o tratamento correto desse insumo tão importante. Com o intuito de detalhar os passos a serem seguidos, conversamos com empresas que produzem e representam fabricantes de equipamentos para a tarefa.

Insumo essencial
No processamento, a água se transforma em elemento durante a:

  • Lapidação, servindo para refrigerar o processo;
  • Furação e recorte, com esse mesmo objetivo;
  • Lavagem, para retirar as impurezas presentes na superfície das peças oriundas das etapas anteriores

“A qualidade da água pode impactar diretamente a eficiência desses processos e a qualidade do produto final. A presença de minerais, impurezas e outros contaminantes pode causar defeitos no vidro e até aumentar o desperdício de materiais”, explica Jaqueline Batista, gerente-geral da Support Glass, empresa que representa no Brasil a italiana Idrotecnica, especialista em sistemas de tratamento. “Além do risco relacionado ao produto final, a má qualidade da água no sistema pode ocasionar corrosão e entupimentos dos maquinários, resultando em tempo de inatividade e custos elevados de manutenção.”

Como reforça Genilson Muniz do Nascimento, diretor da Muniz Representações, distribuidora exclusiva dos produtos da também italiana IMMMES em nosso país, a cultura de sustentabilidade ambiental e as regulamentações legais sobre o assunto exigem cada vez mais que as empresas consumidoras de água adotem sistemas adequados para garantir a reutilização de águas residuais. “Isso passa necessariamente por um sistema de filtragem que garanta, ao mesmo tempo, a extração do pó de vidro presente e o retorno de uma água de boa qualidade para as máquinas – ainda mais se forem de alta tecnologia, como os CNC, que, pela delicadeza de seus circuitos de refrigeração, exigem água extremamente limpa”, afirma.

Uma processadora que tenha um bom sistema de filtragem irá gerar redução de custos por vários outros motivos, incluindo trabalhar em circuito fechado, não utilizando água nova a todo momento, e economizar nas ferramentas diamantadas, as quais podem ter a vida útil aumentada em até 20% quando em contato com água limpa.

 

A qualidade da água impacta diretamente os processos e a qualidade do vidro: a presença de minerais, impurezas e contaminantes pode causar defeitos nos maquinários e nas peças do material (foto: Thiago Borges)
A qualidade da água impacta diretamente os processos e a qualidade do vidro: a presença de minerais, impurezas e contaminantes pode causar defeitos nos maquinários e nas peças do material (foto: Thiago Borges)

 

Qualidade líquida
Quais seriam os critérios para se medir a qualidade da água? Como aponta Uember Arantes, sócio-administrador da Metalúrgica Amaral, o pH da água é elemento-chave: “O vidro tem em sua composição o hidróxido de sódio, também chamado simplesmente de soda. Por esse motivo, os efluentes da indústria vidreira ficam alcalinos, com pH alto. Então, sempre será necessário fazer a correção desse pH, deixando a água neutralizada”.

Como os sistemas funcionam
Cada fabricante de sistemas de tratamento conta com padrões próprios de tecnologia. O processo consiste em várias etapas destinadas a garantir a pureza e a qualidade da água, e pode incluir diversos estágios, conforme indica Jaqueline Batista, da Support Glass.

  • Pré-filtração com Filtro de Carvão Ativado (FCA): tem a função de remover cloro, matéria orgânica e outros contaminantes;
  • Tratamento químico: inclusão de produtos químicos para ajustar o pH da água e prevenir corrosão e incrustações. Nesse momento, é usado um fluido refrigerante, que serve para diminuir o atrito das ferramentas de perfuração ou desbastes com o vidro;
  • Osmose reversa: tecnologia para desmineralizar a água, removendo sais e outras impurezas dissolvidas nela;
  • Desinfecção UV: esteriliza a água tratada usando luz ultravioleta, eliminando bactérias e vírus residuais;
  • Desmineralização por troca iônica: por meio de resinas de troca iônica, remove íons de cálcio e magnésio, além de impurezas não removidas pela osmose reversa.

Além disso, outros equipamentos podem fazer parte do sistema: bombas, tanques de armazenamento, filtros e descalcificadores, entre outros.

Mantendo tudo em perfeito estado
Nascimento, da Muniz Representações, explica que esses sistemas são verdadeiras joias tecnológicas, concebidos para realizar as fases de trabalho da forma mais autônoma possível. “No entanto, para manter tais equipamentos eficientes, é necessário seguir um programa de manutenções e verificações. Todas as operações são simples, ao alcance dos responsáveis pela manutenção da fábrica, e bem suportadas por serviços de controle remoto.”

O processo de manutenção inclui:

  • Monitoramento: inspeções regulares dos componentes do sistema para identificar desgastes, vazamentos ou outros problemas;
  • Substituição de filtros: troca periódica dos filtros de areia, carvão ativado e outros elementos filtrantes, conforme a necessidade e o nível de contaminação da água (de acordo com o manual dos equipamentos);
  • Limpeza de membranas: procedimentos de limpeza para as membranas de osmose reversa para remover incrustações e biofilmes, garantindo sua eficiência;
  • Controle químico: verificação e ajuste dos níveis de produtos químicos adicionados à água para manter o pH adequado, prevenindo corrosão e incrustações;
  • Calibração de equipamentos: regulagem frequente dos sensores e instrumentos de medição para garantir a precisão dos dados de operação.

 

Além de sistemas de tratamento para a água usada no beneficiamento, é importante cuidar de todo o consumo desse insumo na fábrica (foto: Thiago Borges)
Além de sistemas de tratamento para a água usada no beneficiamento, é importante cuidar de todo o consumo desse insumo na fábrica (foto: Thiago Borges)

 

Poupando o insumo (e dinheiro também)
Uma processadora não gasta água apenas durante o beneficiamento: existe a limpeza e manutenção da fábrica, sanitários e outros usos que podem, e devem, ser olhados com atenção.

1 – Identifique vazamentos
Um pequeno furo de apenas 2 mm de diâmetro num encanamento desperdiça até 3.200 litros de água em um dia. Para observar a existência de vazamentos, siga estes passos:

  • Feche bem todas as torneiras, desligue os aparelhos que usam água e não use os sanitários;
  • Anote o número que aparece no hidrômetro ou marque a posição do ponteiro do equipamento;
  • Após uma hora, verifique se o número mudou ou o ponteiro se movimentou;
  • Em caso positivo, existe vazamento na sua empresa. Nesse caso, procure uma empresa especializada para consertá-lo.

2 – Adote equipamentos econômicos
Na hora de comprar maquinários, verifique o consumo de água necessário para o funcionamento de cada um. Hoje, a maioria das fabricantes conta com soluções econômicas. Não se esqueça ainda de mudanças em pequena escala, como a instalação de torneiras automáticas – elas permitem uma redução de até 20% no consumo de água em relação à torneira convencional.

3 – Reaproveite a água sempre que possível
Embora seja imprópria para consumo, a água de reúso pode ser utilizada em diversas aplicações, como lavagem de pátios.

4 – Não se esqueça das medidas básicas
Desligue todos os dispositivos como mangueiras e torneiras quando não estão sendo usados. Já no caso de limpeza, analise se é realmente necessário usar água ou se o trabalho pode ser feito com vassoura ou balde e pano.

Este texto foi originalmente publicado na edição 619 (julho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Entenda a importância dos estoques para uma processadora

A matéria especial de fevereiro de O Vidroplano explicou como evitar desperdícios durante as diversas etapas do processamento. Mas como ficam as matérias-primas antes e depois de serem beneficiadas? É aí que entra a importância dos estoques – não apenas para a conservação de vidros e insumos, mas também para a organização de toda a processadora.

Para esta reportagem, conversamos com fornecedores de soluções para estocagem (incluindo softwares) e buscamos entender como as próprias beneficiadoras encaram o tema.

Muito além da conservação
Antes de mais nada, é necessário saber que a função de um estoque vai muito além de ser um espaço destinado aos materiais usados na produção. “Ele serve para preservar e manter matérias-primas, componentes, produtos semiacabados, produtos acabados e materiais diversos destinados a suprir as necessidades de atendimento do pedido”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro.

Todo empreendedor precisa ter em mente que, mesmo produtos parados no estoque custam dinheiro, alerta Cláudio Lúcio. “Afinal, envolvem depreciação, aluguel em certas situações, deterioração, obsolescência, manutenção de equipamentos de movimentação etc.” Por isso mesmo, tudo envolvendo a área física e a gestão do estoque deve ser pensado em detalhes.

 

Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com
Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com

 

Espaço
As características da área física vão variar de acordo com o tamanho da empresa e o layout de sua produção. No entanto, algumas recomendações valem para todas:

  • Manter o local limpo e organizado;
  • Identificar e distribuir corretamente;
  • Ter acesso restrito, com área demarcada e passagens desobstruídas.

Todos os materiais usados pela processadora em suas atividades devem ser estocados dessa maneira, não só as chapas de vidro. Isso inclui rodízios e óleos de corte, ferramentas abrasivas, telas e esmaltes, interlayers (PVBs, EVAs etc.), selantes, perfis de alumínio para insulados e cantoneiras de papelão para proteção, entre outros.

Além disso, a organização do espaço passa pela separação da situação das peças na produção:

  • Estoque de produtos em processo: itens intermediários ou semiacabados;
  • Estoque de produtos acabados: itens prontos para expedição ou disponíveis para a retirada pelo cliente;
  • Estoque de resíduos e refugo: materiais para reciclagem ou descarte (caco, pó da lapidação etc.).

De olho em todos os passos
O espaço físico é apenas parte do estoque: tão importante quanto é a gestão dele, como afirma Cláudio Lúcio: “É preciso criar políticas para isso, estabelecendo os interesses da empresa e a satisfação dos clientes. É essencial definir, de maneira formal, quais materiais estocar, as quantidades mínimas e máximas e o ponto de pedido”.

Entre os diversos métodos para gerir estoques, um dos mais conhecidos – e eficazes – é o PEPS, sigla para “primeiro a entrar, primeiro a sair”. Ou seja, os produtos que entraram primeiro no estoque serão os primeiros a sair da empresa. Dessa forma, tem-se controle sobre a rotatividade dos materiais, além de permitir com mais precisão o cálculo dos custos de produção e da margem de lucro.

Adquirir soluções inteligentes de estoque, portanto, não são meros gastos, mas investimentos que podem ajudar, inclusive, na saúde financeira da processadora. “A tecnologia atual é responsável por armazenar os pacotes ou colares, otimizando o espaço físico e melhorando o layout de entrada. Dessa forma garantem-se ainda o controle de inventário automatizado, o gerenciamento da rastreabilidade de lotes fabris, o abastecimento dos cortes automáticos com agilidade, a segurança etc.”, detalha Jones Hahn, fundador e CEO da Nex, empresa que atua no mercado de tecnologias para processos fabris de nosso setor.

 

Foto: Divulgação Nex
Foto: Divulgação Nex

 

Controle digital
Softwares ERP para processadoras contam com dispositivos para a gestão de estoques. “Esses sistemas avaliam a disponibilidade ao realizar pedidos de venda e ordens de produção, assim como a necessidade de compra de matérias-primas. Também registram o histórico de movimentações e até mesmo avaliam a tendência de consumo”, explica Carlos Santos, diretor da SF Informática, dona da solução GlassControl. O produto da empresa, na versão para indústrias, controla os insumos e componentes empregados nos vidros – como a tinta utilizada em uma peça serigrafada (revestida com esmalte cerâmico) ou o PVB em um laminado, por exemplo.

Priscila Kimmel, gerente-comercial da SystemGlass, explica como os softwares funcionam: “A cada adição de um novo produto ao sistema, ocorre a atualização automática do saldo de entrada de materiais. Esse processo assegura uma rastreabilidade eficiente, compatível com padrões e certificações de qualidade como os do Inmetro e ISO”. A cada faturamento, é acionada a baixa automática do produto, refletindo de maneira precisa e atualizada a disponibilidade dos itens. “Se houver a geração de materiais residuais, como retalhos, esses são automaticamente reintegrados ao processo, otimizando o reaproveitamento de recursos”, detalha Priscila. O módulo de estoque da fabricante está presente nos modelos GRICS e ToolGlass.

O passo a passo do controle automático de estoque de chapas de vidro
Com a ajuda de Jones Hahn, da Nex, listamos todas as etapas do processo:

  1. Recebimento da carga de vidro;
  2. Alimentação das informações do pacote no sistema e alocação do pacote na plataforma seletora;
  3. Envio da plataforma para dentro do armazém, garantindo as informações para o sistema de gestão;
  4. Otimizador ou engenharia executam a otimização conforme informação de estoque do sistema;
  5. Envio do arquivo otimizado para o sistema de estoque, que é interligado com a mesa de corte;
  6. Operadores da mesa de corte apenas abrem e carregam o arquivo recebido e o sistema leva as chapas otimizadas até o equipamento de forma automática;
  7. Após o corte, um sinal é emitido ao sistema dizendo qual chapa foi utilizada, dando baixa no estoque. Enquanto não for cortado e somente otimizado as chapas são reservadas e não poderão ser otimizadas novamente;
  8. Sempre que o estoque chegar em um nível definido pela empresa, o chamado “ponto do pedido”, o sistema emite um alerta de matéria-prima ao otimizador, que poderá ser sincronizado com os e-mails dos responsáveis da empresa.

 

Um estoque organizado dispensa o manuseio desnecessário das matérias-primas, evitando o desgaste dos produtos e também garantindo mais segurança aos operadores (Foto: Divulgação Vipel)
Um estoque organizado dispensa o manuseio desnecessário das matérias-primas, evitando o desgaste dos produtos e também garantindo mais segurança aos operadores (Foto: Divulgação Vipel)

 

O dia a dia nas processadoras
Na prática, com o nível de tecnologia envolvido nas atividades, uma beneficiadora não consegue trabalhar sem sistemas de estoque inteligente. Por isso, perguntamos a algumas processadoras como é o trabalho nesse sentido.

Segundo Crislene Soares de Oliveira, gerente de Marketing da mineira Pestana Vidros, toda a estrutura de armazenagem e movimentação da empresa está dimensionada para chapas jumbo (com tamanho de 6 x 3,2 m), as quais representam mais de 90% de seu mix, permitindo maior e melhor aproveitamento do espaço. “A movimentação e estocagem de chapas de vidro, principalmente as de grande dimensão, precisam garantir de forma irrestrita a segurança das pessoas envolvidas na tarefa”, esclarece. “Para isso temos processos muito bem-definidos, equipes treinadas, corredores de circulação amplos, SKUs (códigos para identificação de produtos) organizados e bem-dimensionados, além de automatização de várias etapas, de forma que os operadores tenham o mínimo possível de contato com o material.”

A Vipel, de Tubarão (SC), utiliza indicadores via sistema para apontamentos e previsões de demanda, seguindo ainda processos da certificação ISO 9001. “As chapas ficam armazenadas em cavaletes e paleteiras em um local organizado e limpo, com identificações para rastreabilidade do produto”, conta Jonas Vieira, coordenador de Produção da empresa. “Buscamos sempre usar o estoque mais antigo primeiro e aplicamos mensalmente uma contabilização no físico para executar o inventário e os ajustes necessários.”

Vinícius Moreira Silveira, diretor-executivo da PV Beneficiadora, do interior paulista, afirma que a empresa faz medições diárias da quantidade de insumos. “Dessa maneira, transformamos as compras desses itens em compras técnicas, não movidas por preço, mantendo o custo efetivo total adequado.” Além de ter locais específicos de armazenagem para cada tipo e espessura de vidro, a PV emprega o conceito just in time, baseado na ideia de não produzir antes da hora. “A matéria-prima só sai do estoque com direcionamento do PPCPE”, informa.

Os 5 inimigos do controle de estoque

  1. Falta de estabelecimento das políticas de estoque;
  2. Falta de local e condições adequadas, incluindo limpeza do espaço;
  3. Falta de organização e identificação dos produtos;
  4. Falta de inspeção de recebimento, controle de entrada, preservação dos itens de maneira adequada, guarda e saída;
  5. Transferência da responsabilidade: a responsabilidade da gestão dos estoques para a produção de produtos é do PPCPE e não de vendas, compras, produção ou expedição.

Este texto foi originalmente publicado na edição 616 (abril de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: vpilkauskas/stock.adobe.com

Como anda o mercado de insulados no Brasil?

Dos mais de 55 milhões de m² de vidros processados no ano passado em nosso país, apenas 0,6% (cerca de 313 mil) foi de insulado, também conhecido como vidro duplo. Mas, afinal, por que esse item se mantém na lanterna da lista de nossos produtos mais consumidos no Brasil, sendo que é uma solução extremamente versátil para a construção civil, com benefícios que aumentam o conforto das edificações?

Se você é leitor assíduo de O Vidroplano, se lembrará de que já abordamos esse tema algum tempo atrás. Como o assunto continua atual, voltamos a ele para tentar encontrar novas respostas a essa pergunta que não quer calar. A seguir, confira a percepção de processadoras em relação ao mercado de insulados, o que são mito e verdade sobre a aplicação desse material e qual a importância dos insumos para a eficiência da solução.

Andando, mas quase parado
O mercado brasileiro de insulados, segundo as fontes consultadas para esta reportagem, é atualmente mais conhecido pelo público e profissionais do vidro e da construção que no passado. “Porém, sua principal aplicação ainda é o mercado de refrigeração, que inclui refrigeradores comerciais e balcões para comércios, padarias, supermercados, açougues etc.”, comenta Ricardo Aragon, diretor técnico e comercial para a América Latina da Sagertec, fornecedora de insumos e equipamentos para a produção desse tipo de vidro.

Duas processadoras relataram para a revista o tamanho de sua produção de insulados. No caso da Rohden Vidros, em virtude da forte atuação no segmento de refrigeração comercial, insulados representam em torno de 20% de seu portfólio. A empresa, inclusive, conta com duas linhas para a fabricação do material. Já a PV Beneficiadora, que não atende esse setor, produzindo apenas para a construção civil, vê os insulados representarem apenas 1% das vendas – isso num mês “bom” de negócios.

“O Brasil, aparentemente sem uma razão plausível, é o país da América Latina com o menor nível de produção de insulado, muito abaixo da média da região”, afirma Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamerica, braço regional da fabricante de maquinários austríaca Lisec. “Acreditamos que, por meio da disseminação dos benefícios do material, essa situação deva se alterar, pois não pode ser possível que todo o resto do mundo utilize esse vidro caso não fosse adequado.”

Com a crescente busca por eficiência energética, aliada ao conforto térmico e acústico de moradias e ambientes de trabalho, o material pode, enfim, tornar-se uma escolha mais popular. “Vemos grande potencial de expansão nesse mercado para os próximos anos”, aposta o gerente de Produção da processadora Divinal, César Augusto Pereira. Para isso acontecer, no entanto, o setor vidreiro como um todo precisa desvendar alguns mitos relacionados ao produto.

Só para climas frios?
Formados por duas peças de vidro separadas por uma câmara interna com ar ou gás, os insulados têm uma importante função termoacústica. “Na Europa, esse tipo de vidro é obrigatório em algumas aplicações, além de ser recomendado em edificações comerciais como hospitais, laboratórios, restaurantes, bares e hotéis”, explica a gerente de Desenvolvimento de Produtos da Rohden, Edilene Marchi Kniess.

Os insulados funcionam como isolante térmico. “Vejamos o exemplo da refrigeração: o vidro é aplicado para isolar os produtos perecíveis da temperatura exterior mais elevada”, analisa Ricardo Aragon, da Sagertec. O conceito é o mesmo quando aplicado em prédios ou residências, mantendo a temperatura interna.

Por estarem ligados a climas frios, criou-se no Brasil a ideia de que seriam indicados somente para essas regiões. Isso é totalmente errado. “Por incrível que pareça, os países que mais o utilizam são os quentes, como as nações árabes. Dubai, por exemplo, é inteiramente feita de insulado”, revela Edison Claro de Moraes, diretor da Atenua Som, fabricante de soluções acústicas para edificações. Outra prova de que a teoria não se sustenta, conforme alerta Luiz Garcia, da Lisec, é o fato de que existe alto consumo desses vidros em locais com clima similar ao brasileiro, incluindo Austrália, México, Colômbia e países da África.

“Vizinhos como Chile, Argentina e Uruguai estão na nossa frente. Utilizam há mais tempo e em escala maior. Mas chegou a hora de crescermos também. A questão térmica é a bola da vez, pois a energia elétrica segue caríssima no Brasil, e o insulado permite um retorno de investimento maravilhoso ao longo dos anos, graças à economia de eletricidade”, analisa Moraes, da Atenua Som.

Alguns motivos para o pouco uso

  • Custo: por contar com várias matérias-primas envolvidas na fabricação (mais de uma peça de vidro, perfis, dessecantes, silicones de vedação), o insulado é mais caro que outros tipos de vidro. E até mesmo as esquadrias necessárias para recebê-los devem ser mais robustas;
  • Informação: insulados ainda são deixados de lado por especificadores (arquitetos, engenheiros, construtoras) como opção válida para seus empreendimentos muito pelo fato de os benefícios do produto não terem sido comunicados adequadamente;
  • Mercado imobiliário: a maior parte dos lançamentos da construção civil é composta por edifícios residenciais, que não se enquadram nos tipos de edificação que necessitam de desempenhos térmicos ou acústicos acima da média – a não ser em empreendimentos de luxo. Isso reforça a ideia, por parte das construtoras e incorporadoras, de que não é necessário investir muito nessas questões;
  • Forte presença do laminado: o vidro laminado já virou sinônimo de controle solar e conforto acústico. Por isso, é o preferido em especificações para edificações que precisem de um nível superior de conforto nesses quesitos.

Como reverter a situação?
Primeiro, é preciso olhar para as soluções disponíveis no setor vidreiro como partes de um todo, não como concorrentes entre si, como aponta Edison Moraes. “Existe algo muito ruim no mercado que é colocar um vidro contra o outro. É comum perguntar ‘qual o melhor, laminado ou insulado?’. Não tem nada a ver isso: um complementa o outro. Paremos de pensar assim.”

Essa mudança de pensamento ajudará a encontrar respostas que solucionam os motivos listados para o pouco uso desses vidros. Cada especificação tem uma história própria – uma instalação que funcionou em determinado prédio pode não ser a ideal para outro. Colocar isso na cabeça dos profissionais do ecossistema da construção é tarefa de nossa cadeia. “Devemos levar informação e conhecimento para o especificador e principalmente o consumidor final”, indica o diretor-executivo da PV Beneficiadora, Vinicius Moreira Silveira.

Para isso, deve-se investir em estudos que utilizem ferramentas de simulação computacional. Assim, será possível observar os ganhos reais de cada aplicação, incluindo a viabilidade de um investimento desse porte a longo prazo, o que poderá ajudar o empreendedor a escolher os insulados.

Um estudo recente do engenheiro, consultor e professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Fernando Westphal, mostra como a composição insulada ajuda no controle térmico. “Em climas brasileiros, esse tipo de conjunto pode diminuir a temperatura do vidro em até 8 °C em comparação com um monolítico ou laminado durante o verão. No inverno, o material pode garantir 14 °C a mais na superfície do envidraçamento. Isso proporciona maior sensação de conforto das pessoas próximas ao vidro”, explica Westphal.

Vale ressaltar ainda outros tópicos interessantes revelados pelo estudo:

  • A transmitância térmica do insulado (quanto de calor é conduzido de um lado a outro) é equivalente à de uma parede de alvenaria;
  • No Brasil, há economia de energia em regiões predominantemente quentes;
  • A melhoria no conforto ocorre em todos os tipos de clima;
  • Insulados assimétricos (com chapas de espessuras diferentes) com laminado em uma das faces trazem excelente desempenho acústico, equivalente a uma parede de alvenaria.

Insumos: a qualidade é essencial para o bom desempenho
A importância dos insumos usados na produção dos insulados para o desempenho térmico e acústico não pode ser subestimada. O vidro é apenas um elemento do conjunto: todos precisam estar alinhados para entregar a eficiência esperada.

“Se os selantes não forem eficazes, pode haver vazamentos de ar ou infiltrações”, explica César Pereira, da Divinal. “Em um clima com baixa temperatura, o ar gelado de fora pode infiltrar-se no interior. Isso também ocorre com o calor em climas quentes.” E a aplicação malfeita dos selantes pode acarretar outros problemas, como aponta Edilene Kniess, da Rohden. “O uso não uniforme ou o uso de uma quantidade abaixo do especificado por norma podem causar condensação interna, sendo necessária a substituição da peça.”

Os perfis espaçadores, responsáveis por manter as peças de nosso material separadas, evitam a formação do efeito chamado “ponte térmica”, no qual o calor ou frio são transferidos diretamente entre os vidros. “Isso ajuda a manter a temperatura interna estável e confortável, independentemente das condições climáticas externas”, revela Pereira, da Divinal.

O material desses perfis influencia no desempenho da solução. Os feitos de PVC têm menor transmitância térmica que os de alumínio, por exemplo. Existem também os chamados warm edge, fabricados com aço inoxidável ou plástico e capazes de manter a borda do vidro mais quente em até 65%, reduzindo o risco de condensação do ar dentro do conjunto.

De olho nos maquinários
As máquinas para a fabricação de insulado são outro elemento indispensável para se obter um produto de qualidade. “Não é só o insumo, o equipamento também faz a diferença. Eu vejo muito maquinário manual que não traz a menor garantia, depõe contra o mercado. Afinal, insulado não é só juntar dois vidros com um separador”, comenta Edison Moraes.

O coordenador de Qualidade e Lean da processadora GlassecViracon, Renato Santana, concorda: “Eu não diria que não seria possível fabricar manualmente, mas, sim, que não seria recomendado, pois o insulado precisa de um cuidado especial na hora da montagem”. Nesse sentido, uma linha automática se torna imprescindível para garantir a qualidade e vida útil do produto. “Essas máquinas têm a precisão correta nas etapas de limpeza, primeira selagem e prensagem. Uma falha em uma dessas etapas pode resultar no colapso do produto pouco tempo após a instalação.”

Exatamente por isso, as linhas automáticas estão entre as soluções atuais mais modernas. Com carregamento e descarregamento feito por robôs, ajudam a otimizar a produção. A Lisec, por exemplo, já comercializou várias desse tipo no Brasil, tanto para o mercado da construção (fachadas) como para o de refrigeração e linha branca.

Enchendo as câmaras
As câmaras dos insulados podem ser preenchidas com gases (argônio, criptônio ou xenônio), de forma a oferecer ainda mais isolamento térmico. Em casos nos quais um desempenho superior não seja necessário, preencher o conjunto com ar basta.

“O gás argônio é responsável por aumentar significativamente a propriedade térmica, pois inibe o movimento molecular, de modo que a transferência de calor é reduzida”, esclarece Edilene Kniess, da Rohden. “Também age intensificando a vida útil do vidro, pois atua na retirada de quase toda a umidade presente no ar contido na câmara. Além disso, não é tóxico e seu uso não afeta o meio ambiente.”

E as normas técnicas?
O insulado conta com uma norma técnica, a ABNT NBR 16015, que estabelece as características, requisitos e métodos de ensaio para esse tipo de vidro, utilizado na construção civil e em unidades de condicionamento térmico e/ou acústico.

Não se esqueça! As empresas associadas à Abravidro têm acesso online a todas as normas técnicas vidreiras, e a outros documentos relacionados ao nosso setor, por meio do sistema ABNT Coleção. Ainda não é associado? Então, não perca tempo: junte-se à Abravidro e aproveite esse e outros inúmeros benefícios oferecidos pela entidade.

Caso tenha alguma dúvida sobre o conteúdo das normas vidreiras, fale com a associação.

Este texto foi originalmente publicado na edição 609 (setembro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: srki66/stock.adobe.com

ERPs contribuem para gestão das processadoras

Que o mercado está cada vez mais dinâmico e competitivo, não é segredo para mais ninguém. As empresas, por sua vez — das pequenas às de grande porte —, precisam estar antenadas e trabalhar para responder rapidamente às mudanças sob o risco de se tornar obsoletas se não o fizerem. Por falar em obsoleto, conforme abordado nas matérias anteriores desta série especial, o controle feito de forma manual (papel, lápis, caneta, carimbos e pastas), embora ainda adotado, segue bastante questionável quando diante das possibilidades oferecidas e consagradas no mercado.

Agora que estamos inteirados sobre os benefícios dos softwares para mesa de corte e do e-commerce, é hora de avançarmos para o próximo nível e adentrarmos no universo do Enterprise Resource Planning (ERP), que, em tradução livre para o nosso idioma significa planejamento dos recursos da empresa. Qual a real importância desse sistema para as processadoras? Em quais etapas da produção esses softwares atuam? Quais as ferramentas mais utilizadas no mercado? As respostas para esses e outros pontos estão a seguir.

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
Março: Corte
Abril: E-commerce
MAIO: ERP

O novo petróleo
Da compra da matéria-prima ao envio do produto ao cliente, quantas informações são geradas, e por vezes perdidas, ao longo desse processo? Não à toa, os dados são tidos como elementos fundamentais da economia moderna ou, como alguns preferem chamar, o “novo petróleo”. Isso porque, em tese, quem souber fazer bom uso deles e aproveitar todo o seu potencial, tende a colher excelentes frutos.

Para colaborar ativamente com o gerenciamento dessas informações em prol do controle e da produtividade das processadoras, o ERP desponta como um importante aliado, possibilitando o acesso de maneira fácil, integrada e confiável aos dados de uma empresa. A partir do relatório obtido com o software, é possível ter diagnósticos aprofundados sobre distintos pontos – das medidas necessárias para aumento na produtividade à redução efetiva dos custos.

Crédito: A Stockphoto/stock.adobe.com
Crédito: A Stockphoto/stock.adobe.com

 

Papel demais
De acordo com Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, o ERP só foi inserido na indústria vidreira a partir da década de 1990, quando a Saint-Gobain introduziu o SAP (sigla do nome original alemão Systemanalysis Programmentwicklung que, em português, significa desenvolvimento de programas para análise de sistemas) nas unidades do Brasil e da França. Para compreender de forma mais ampla as vantagens entregues por um eficiente sistema ERP nas operações vidreiras, voltaremos no tempo a fim de compreender o panorama dos procedimentos adotados pelas processadoras antes da existência da ferramenta.

“Algumas empresas faziam um controle totalmente manual, no caderno, utilizando muito papel para administrar o pedido, a entrega e o financeiro, ou por planilhas com pouca ou quase nenhuma integração de informações”, afirma Homero Luz, consultor-comercial e de Marketing da ECG Sistemas. De acordo com ele, era comum as empresas estabelecerem uma margem maior nos custos a fim de considerar todos os possíveis equívocos que poderiam ocorrer, como esquecimento ou erros de folga, devido às informações recebidas serem feitas à mão.

Com o tempo, os documentos em papel foram deixados de lado para serem substituídos por suas versões eletrônicas. Porém, embora a praticidade de compartilhar e arquivar esses registros tivesse melhorado, a elaboração de todo o material seguia incerta e trabalhosa. “Era muito complicado padronizar, acompanhar, mensurar e tomar decisões”, afirmam Carlos Santos e José Gonçalves Júnior, respectivamente diretor e gerente de Desenvolvimento da SF Informática. “Os processos eram mais lentos e suscetíveis a erros, a confiabilidade dos dados era baixa; por isso, transformar esses dados em informação ainda era um desafio.”

Solução para todos
Grandes empresas lidam no dia a dia com operações complexas e em grandes volumes, o que, organicamente, gera uma infinidade de dados. Em se tratando delas, um software robusto para dar conta de todos os processos se faz mais do que necessário. No entanto, deixando de lado as grandes corporações, no que diz respeito ao universo das processadoras, de modo geral, é possível haver um controle saudável da avalanche de dados sem o apoio de um software ERP?

Segundo o instrutor técnico Cláudio Lúcio, é possível sim, porém com ressalvas. “Dependendo do tamanho da empresa, pode ser. Principalmente as pequenas e com faturamento também pequeno — mas, com os decorrentes riscos na operação, provenientes de possíveis descontroles na gestão das diversas etapas de entrega de valor.”

De acordo com levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), as pequenas e microempresas injetam por mês na economia brasileira R$ 35 bilhões; por ano, são R$ 420 bilhões. Por essas e outras, contar com uma boa gestão e ter processos automatizados com ajuda dos ERPs desde o início, enquanto a empresa ainda está em fase de crescimento, são de grande valia.

Crédito: Rochu_2008/stock.adobe.com
Crédito: Rochu_2008/stock.adobe.com

 

Qual a importância do ERP para a empresa?
De acordo com Alexandre Gomes Nascimento, gerente-comercial da Pegasus Corporate, da Softsystem, entre muitos pontos, os ERPs são fundamentais na otimização dos seguintes processos:

  • Eficiência operacional;
  • Visibilidade dos negócios;
  • Tomada de decisões;
  • Conformidade com regulamentações;
  • Comunicação interna e externa.

 

Atuação in loco
Para aproveitar de forma plena todos os benefícios que um bom sistema ERP entrega, é fundamental entender suas funcionalidades. Na teoria, o sistema colabora com a administração de todas as etapas da produção. Na prática, ao adotar a ferramenta, os processos são mapeados, bem como definidos os apontamentos, capacidade e turnos, entre outros. Os gestores, por exemplo, podem programar a produção e acompanhar o andamento. Os operadores, por sua vez, podem realizar os apontamentos, além de antever situações. Para ter melhor controle e gestão, um ERP precisa ser totalmente voltado ao ramo vidreiro, atendendo as particularidades desse segmento.

Para interligar tudo, o ERP se integra aos diferentes sistemas e maquinários por meio de interfaces de programação. Estas costumam ser criadas e disponibilizadas pelos fornecedores dos outros sistemas e maquinários. Para os usuários, essa interligação é praticamente imperceptível e geralmente não requer intervenção.

Como existem várias soluções de terceiros no mercado, o ERP precisa estar preparado para se comunicar com elas. “Máquinas que automatizam o processo em geral têm, cada uma delas, sua interface e seus layouts de integração”, afirma Priscila Kimmel, coordenadora-comercial da SystemGlass. De acordo com a profissional, antes de investir em um novo maquinário, a atenção aos detalhes é imprescindível. “É extremamente importante solicitar ao fabricante a possibilidade de integração com a automação de seu ERP, bem como arquivos de comunicação. Assim se garante o desenvolvimento de comunicação entre ERP e máquina de maneira precisa e eficaz.”

O que dizem as fabricantes dos maquinários?

SGlass
“Estruturamos os sistemas das máquinas para que, de forma simples, possam trocar informações com um ERP e trabalhar com os arquivos em um servidor ou nuvem do cliente. Entregamos manuais que auxiliam na integração com os sistemas, assim os softwares ERPs com pouca adequação podem gerar automaticamente os projetos que a máquina irá realizar, bem como obter informações dos trabalhos que já efetuou.”
Kleber Machado, engenheiro

Lisec
“Sabendo que existe uma grande variedade de ERPs usados pelas processadoras, a Lisec possibilita que estes se comuniquem com nossas máquinas por meio de arquivos de transferências (transferfiles), os quais seguem um padrão definido pela Lisec. Esse padrão possibilita que qualquer ERP possa gerar um arquivo que seja lido e interpretado por nossas máquinas. Por meio desses transferfiles, todas as informações necessárias para o seu correto funcionamento são enviadas, automatizando o processo, garantindo agilidade e diminuindo erros oriundos da entrada manual de informações.”
Pedro Kortstee, analista técnico de software

GlassParts
“A integração dos softwares ERP é importante para as processadoras porque ela permite a automatização de muitos processos, o que aumenta a velocidade da coleta de informações e facilita a tomada de decisões. Essa integração dá lugar ainda à análise de informações, rastreabilidade e ao maior controle das operações. Com as informações precisas fornecidas pelo sistema, é possível identificar gargalos e pontos de melhoria na cadeia de produção e logística, ajudando a reduzir desperdícios e melhorando o desempenho geral da empresa.”
Ricardo Costa, diretor-comercial

 

Soluções para o mercado

Software: Grics
Desenvolvedor: SystemGlass
Diferenciais:

  • Ferramenta exclusiva para têmperas, laminadoras, distribuidoras e beneficiadoras de vidros;
  • Acompanha todas as etapas de produção dos vidros;
  • Possui processos totalmente integrados com todos os departamentos;
  • Controla e fornece informações com alta precisão e segurança;
  • Foca na redução de custos, inclusive operacionais, e no aumento da produtividade.

 

Software: Pegasus Corporate
Desenvolvedor: SoftSystem
Diferenciais:

  • Gestão de acesso ao sistema por regras de permissão por grupo de usuários por filial;
  • Automação total em todos os processos;
  • Gestão comercial com controle de política de crédito;
  • Cadastro único de materiais por empresa;
  • Gestão de estoque com controle configurável;
  • Integrações com múltiplas máquinas de furação automática;
  • Gestão contábil e financeira plenas;
  • Integração com e-commerce e-Vidraceiro;
  • Controle de dados precisos e em tempo real.

 

Software: ECG Temper
Desenvolvedor: ECG Sistemas
Diferenciais:

  • ERP específico para têmperas, processadoras e laminadoras;
  • Acesso a vários projetos prontos;
  • Módulo administrativo que inclui gestões comerciais e financeiras;
  • Módulo de produção que permite a geração do DFX das peças de corte;
  • Módulo de controle de entrada e saída dos materiais no almoxarifado;
  • Orçamento pronto com apenas alguns cliques;
  • Promove o controle das atividades de produção de cada peça baseado na leitura de código de barras e emissão de vários relatórios.

 

Software: GlassControl Industrial
Desenvolvedor: SF Informática
Diferenciais:

  • Contempla soluções que vão da aquisição da matéria-prima à entrega;
  • Possui uma vasta base de projetos personalizáveis e expansíveis;
  • Permite o rastreamento dos processos, como lapidação, furação e têmpera;
  • Integração com outros maquinários da produção, como lapidadoras e furadeiras automáticas;
  • Mede o aproveitamento do corte e do forno de têmpera;
  • Contempla todos os recursos administrativos;
  • Transforma dados em informação por meio de relatórios e dashboards personalizáveis e acessíveis online.

 

Erramos
No texto da seção “Especial”, publicado na versão impressa da revista O Vidroplano do mês de abril, o nome correto do software da empresa SystemGlass é WebGlass.

Este texto foi originalmente publicado na edição 605 (maio de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: WrightStudio/stock.adobe.com

Entenda a importância de softwares para o e-commerce

Quem nunca ouviu o famoso ditado “o Brasil não é lugar para amadores”? Nós da revista O Vidroplano pedimos licença ao criador do provérbio para ir um pouco mais além. Com uma leve adaptação, deixando de lado o aspecto crítico da frase em relação a nosso país, é possível afirmar, sem medo de errar, que o mercado vidreiro não é mais um lugar para amadores. E para deixar o amadorismo de lado, as ferramentas digitais se tornam mais do que necessárias.

Seguindo com o especial sobre softwares vidreiros, cuja 1ª parte, veiculada em março, abordou as benesses das ferramentas voltadas para o processo de corte, neste mês a revista traz as vantagens do e-commerce para a indústria de processamento. Além de explicar sua forma de uso, abordaremos as facilidades que tais sistemas oferecem e os principais benefícios que a venda por e-commerce propicia não só às empresas como também aos seus clientes.

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
Março: Corte
ABRIL: E-COMMERCE
Maio: ERP

Cadê o pedido?

Em um tempo não muito distante,  o gerenciamento dos dados na base da caneta e do papel – ou seja, no improviso. O problema nesse modelo de controle é que, não raras as vezes, distrações, perdas ou esquecimentos tornavam tal processo fonte para uma série de contratempos, falhas essas que, se não identificadas a tempo, poderiam não só gerar prejuízos como também comprometer a imagem do negócio.

Sem sombra de dúvidas, o comércio eletrônico mudou o mundo em que vivemos de várias formas. Junto com a evolução da tecnologia, houve também mudanças nos hábitos do consumidor — e com o setor vidreiro não foi diferente. Segurança, comodidade e praticidade são elementos-chave para gerar uma experiência de compra agradável a todo tipo de cliente, dos mais simples aos mais exigentes.

“O e-commerce é uma ferramenta bastante vantajosa, pois fideliza e agiliza o processo de compra junto aos clientes pela Internet e possibilita que as empresas alcancem novos compradores no mercado”, destaca Priscila Kimmel, coordenadora-comercial da SystemGlass. Na visão dela, entre as facilidades que o e-commerce oferece estão a praticidade e a conveniência para os consumidores, os quais podem fazer compras de qualquer lugar e a qualquer hora do dia, sem a necessidade de se deslocar até um estabelecimento físico.

Embora os propósitos sejam os mesmos, a forma de utilização da ferramenta varia conforme o tipo de software contratado. É o que explica Alexandre Gomes Nascimento, gerente-comercial da Pegasus Corporate da Softsystem. “A processadora fornece um login e senha para seu cliente acessar a plataforma. Por meio dela, a empresa comercializa seus produtos, como vidro temperado, espelhos, ferragens, kits etc.” O lado bom é que os interessados podem, além de emitir e acompanhar os pedidos, realizar os pagamentos pelo próprio sistema. “O vidraceiro obtém autonomia total para consultar preços e acompanhar a produção e a entrega, resultando em maior agilidade no tempo de resposta”, explicam Carlos Santos e José Gonçalves Júnior, respectivamente diretor e gerente de Desenvolvimento da SF Informática, dona da marca Glasscontrol.

Da desconfiança ao sucesso

No início, quando as transações online ainda não eram tão populares, houve um certo ceticismo por parte do mercado em relação ao sucesso e segurança do e-commerce. Na época, havia o receio por parte das processadoras de que os clientes, por dificuldades em utilizar a ferramenta, preferissem seguir com o controle de pedidos no famoso “papel de pão”. Felizmente, o receio se revelou equivocado. “O que aconteceu foi o contrário, houve uma grande adesão ao uso do e-commerce”, afirma Alexandre Gomes. “Os incentivos comerciais, as possiblidades de pagamentos diretos e os prazos de entrega mais curtos fizeram com que os clientes abandonassem as formas antigas de enviar pedido e endereçassem tudo pelo sistema.”

Porém, até que tudo transcorresse conforme o desejado, foi necessário encontrar o equilíbrio, tanto para que a processadora tivesse a definição perfeita para produção como para que o vidraceiro realizasse as solicitações de forma fácil e rápida. Em alguns casos, foi necessária a atuação in loco das desenvolvedoras no intuito de desmitificar certos temores, caminho esse percorrido pela SystemGlass. “Realizamos alguns eventos com grupos de vidraceiros para divulgação, testamos a ferramenta na prática e houve uma ótima aceitação. Tudo que fizemos foi conscientizá-los de que, com essa nova tecnologia, eles iriam fidelizar seus clientes cada vez mais, tendo, inclusive, mais tempo para buscar novos clientes no mercado”, relembra Priscila Kimmel.

Como se dá a implementação do e-commerce nas processadoras?

De acordo com Carlos Santos e José Gonçalves Júnior, na SF Informática os processos ocorrem da seguinte forma:

  • A processadora determina quais produtos comercializará no e-commerce;
  • Elabora-se a estrutura de navegação por categorias, projetos e política de preços;
  • A partir daí, pode haver treinamentos específicos para as áreas de vendas e produção, dependendo do tipo de sistema;
  • Os pedidos no e-commerce passam a ser tratados de forma similar aos realizados no software interno da processadora;
  • O sistema acaba integrado à produção, especialmente às mesas de corte e furadeiras automáticas.
Crédito: PureSolution/stock.adobe.com
Crédito: PureSolution/stock.adobe.com

Benefícios para as processadoras

Muitos entendem que a razão para o sucesso do e-commerce no nosso mercado se deu por sua capacidade de maximizar o controle das informações e de minimizar a incidência de erros. De fato, essa é uma grande verdade. Porém, as vantagens garantidas àqueles que aderiram ao sistema vão além. “Posso dizer que o ganho de tempo é um dos grandes benefícios. Ao aliviar o setor de vendas na digitação de pedidos, por exemplo, é possível direcionar a atenção a outras atividades ou dar maior foco nas vendas em si”, afirma Alexandre, da Softsystem. “O uso do software também favorece a economia de papel e de processos, pois, com os pedidos chegando diretamente pelo e-commerce, eles já são lançados automaticamente no ERP.”

E para os clientes, quais são os benefícios?

Existem várias vantagens conferidas pelo e-commerce aos compradores, sejam eles vidraceiros, arquitetos ou outro tipo de profissional:

  • Autonomia e conveniência: é possível comprar produtos da indústria a qualquer hora do dia ou da noite;
  • Economia de tempo e dinheiro: não é necessário deslocar-se fisicamente;
  • Descontos exclusivos: vendas pelo e-commerce geralmente possuem preços mais competitivos;
  • Experiência de compra personalizada;
  • Facilidade para realizar pedidos: a utilização de sistemas com layouts simples e intuitivos facilita as compras em tempo real.

Adaptando-se às mudanças

E qual é a opinião das próprias processadoras em relação a esses sistemas? Na visão de Rodolfo Júnior, diretor da Guaporé Vidros, sem o uso de um software eficiente é muito difícil para uma empresa se manter competitiva no mercado. “A tecnologia avançou muito nos últimos anos. Se as empresas não estiverem atualizadas e prontas para adotar novas soluções tecnológicas, dificilmente estarão aptas a atender as demandas.”

Um sistema eficiente e bem implementado oferece uma série de benefícios, desde a coleta e análise de dados em tempo real até a tomada de decisões mais informadas e estratégicas. Um diferencial e tanto para empresas que buscam pelo melhor caminho em relação à experiência de se fechar negócios.

Enquanto alguns estabelecimentos buscam por soluções e-commerce consolidadas no mercado, outras optaram por elas próprias desenvolverem o seu sistema. Esse é o caso da Divinal Vidros. “Em geral, a implementação pode ser um processo complexo que exige planejamento, recursos e conhecimentos específicos. No nosso caso, tivemos muito sucesso quando iniciamos, de 2010 a 2011, época em que pouco se falava em uma ferramenta que integrasse a indústria com as vidraçarias”, relata o gerente de Projetos, Leandro Gonçalves. “Foram anos de muitos investimentos e desenvolvimento até estarmos prontos para instalarmos nosso próprio sistema e-commerce”, aponta Carol Ferreira, supervisora do Departamento Técnico da Divinal.

De modo geral, a instalação do e-commerce varia de acordo com o tamanho e complexidade de cada empresa. Em muitos casos, mesmo com os esforços para torná-lo cada vez mais intuitivo, treinamentos para um perfeito manejo são sempre muito bem-vindos. “Fomos desenvolvendo a ferramenta em conjunto; no início foi preciso fazer muitos ajustes. Felizmente, após esse período, tudo transcorreu de forma bem tranquila”, afirma Alessandra Reis, coordenadora-comercial da Viminas Vidros Especiais.

Seja qual for o caminho optado pela empresa ou o modelo de software escolhido, um ponto une todos aqueles que acompanham as mudanças do mercado e creem na eficiência da tecnologia: o sucesso. “O e-commerce proporcionou comodidade e conforto aos nossos clientes. Não tivemos alteração na estrutura comercial da equipe em função de seu emprego”, destaca José Augusto de Oliveira, gerente-comercial da processadora Vitral. “Outro ponto a destacar é que os vidraceiros que ingressaram na plataforma minimizaram a incidência de retrabalhos e erros em seus pedidos”, completa.

Soluções para o nosso mercado

Software: GlassControl E-commerce

Desenvolvedor: SF Informática

Diferenciais

  • Ferramenta e-commerce integrada à solução ERP;
  • Interface intuitiva para rápida identificação de projetos, informações e realização de pedidos;
  • Pedidos produzidos de forma similar ao sistema GlassControl Industrial;
  • Propicia a comercialização desde itens de estoque até projetos elaborados;
  • Separação de preços específicos por cliente, região, grupo;
  • Não exige do operador experiência anterior na área de beneficiamento de vidros.

Software: e-Vidraceiro

Desenvolvedor: Softsystem

Diferenciais

  • Ferramenta e-commerce integrada à solução ERP;
  • Possibilidade de os clientes realizarem otimizações, orçamentos e acompanhar pedidos;
  • Interface de fácil utilização;
  • Disponibilidade de diferentes modelos de pedido para impressão com a logomarca, telefone, e-mail, valores de venda e endereço da vidraçaria;
  • Imagens dos projetos no estilo vetor;
  • Realização de pagamentos via cartão de crédito, PIX ou boleto.

Software: WebGlass

Desenvolvedor: SystemGlass

Diferenciais

  • Ferramenta e-commerce integrada à solução ERP;
  • Permite consultas em tempo real das posições de pedidos;
  • Acesso gratuito ao WebGlass App;
  • Possibilita o controle de agendamentos, entregas e compras;
  • Integração com WhatsApp para envio de orçamentos.

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Sikov/stock.adobe.com

Conheça a logística das usinas de base

Quem trabalha com o processamento de vidros sabe como é importante para os seus negócios que a matéria-prima encomendada chegue com a qualidade intacta e dentro do prazo. Para garantir que essas necessidades sejam atendidas, as fabricantes de nosso material no Brasil contam com setores de logística responsáveis pela organização e planejamento da entrega dos produtos – e também pelo transporte propriamente dito deles, é claro.

Quer saber mais sobre como funciona esse processo nas fabricantes de vidro e os avanços que essas empresas vêm implementando em sua logística? O Vidroplano apresenta essas e outras informações a seguir.

Como é feita?
Cada fabricante conta com particularidades no seu processo de logística, mas a atividade como um todo traz semelhanças.

Francisco Conte, diretor de Operações da Vivix, afirma que a empresa olha com muita atenção a jornada de cada encomenda. Segundo ele, o pedido é acompanhado por meio de um sistema interno e várias áreas têm visibilidade dessa jornada. “Assim que o pedido é emitido, nós começamos os preparativos para atender, para que, quando o produto efetivamente chegar à nossa expedição, já estejamos prontos para faturá-lo da forma mais rápida e providenciar seu transporte até o nosso cliente no menor tempo possível”, comenta.

Na Guardian, tudo começa quando o cliente entra em contato com o setor de atendimento. Ali a necessidade e o prazo de entrega são verificados. “Após a inclusão do pedido em nosso sistema, a Guardian organiza as datas de carregamento. Na data agendada, o caminhão é apresentado e a carga é carregada para o início do transporte”, detalha o analista-sênior de Logística, Adriano Santos.

No caso da AGC, Fernando Pereira (engenheiro de Assistência Técnica) e Antônio Carlos (gerente de Logística) explicam que, após a confirmação do pedido junto ao time de Customer Service (serviço ao consumidor), é feito o agendamento na grade de carregamento com até 10 horas de antecedência, de forma que a fabricante tenha tempo hábil para montar o pedido e atender o cliente no horário programado. Após a montagem dos pedidos e a finalização do carregamento, o veículo segue para pesagem e conferência na balança e é então liberado para viagem.

Evolução constante
Santos, da Guardian, destaca que, com as transformações frequentes pelas quais o trabalho de logística passa, as empresas precisam ter cada vez mais flexibilidade e agilidade para buscar as melhores soluções. “Os tipos de embalagem, veículos e até mesmo o processo de gerenciamento da informação avançaram nos últimos anos, e nós trabalhamos continuamente para trazer isso para nosso atendimento”, aponta.

Pereira e Antônio Carlos, da AGC, observam que a modernização dos processos de logística tem tido grande efeito na redução de acidentes durante o transporte do vidro, além de permitir o monitoramento das cargas. Novas medidas de segurança foram sendo implementadas na empresa com a evolução das tecnologias, como a utilização de grampos para o travamento do cavalete no barrote do caminhão e freios para evitar o movimento da carga. Melhorias realizadas nas embalagens e nos veículos também contribuíram para manter a integridade dos produtos até o seu destino final.

A Vivix tem avaliado constantemente seu serviço de entrega, expedição e monitoramento de encomendas por meio de pesquisas realizadas mensalmente com os consumidores, com o objetivo de fazer evoluir seus processos ao longo do tempo. “As cargas são agendadas para retirada de acordo com a conveniência dos clientes e dos nossos parceiros transportadores”, ressalta Francisco Conte.

Empilhando a carga
Parte do processo de logística envolve o acondicionamento e a embalagem das chapas em uma estrutura para protegê-las de riscos e avarias durante o transporte. Mas qual seria a melhor opção nesse sentido?

A resposta varia de empresa para empresa. Por muito tempo, o colar era a embalagem mais usada. Contudo, em 2013 a AGC trouxe para o Brasil os cavaletes: a usina considera esse um importante recurso que revolucionou o modo como os blocos de vidros são preparados e carregados, diminuindo o tempo de preparação de carga em quase 50% do tempo em relação aos colares – para Fernando Pereira e Antônio Carlos, essas estruturas também oferecem menor risco de incidentes durante a preparação.

Os cavaletes de fato se popularizaram no Brasil, mas isso não significa que outros equipamentos foram abandonados. De acordo com Santos, a Guardian trabalha hoje com uma série de opções, as quais incluem tanto cavaletes padrão (formato “A”) ou para vidros jumbo (formato “L”) como colares (formato “LI”), todos no modelo retornável. “Temos ainda a opção de utilização de caixas tipo moldura, para envios sem a necessidade do retorno da embalagem”, acrescenta o analista-sênior de Logística da empresa.

No caso da Vivix, os cavaletes são a estrutura utilizada quando o transporte dos vidros é feito pelo modal rodoviário. “O objetivo, além do olhar para o cliente e sua satisfação, é permitir que a carga chegue sem avarias e com a segurança necessária para a operação”, afirma Francisco Conte. Ele destaca haver cuidado e atenção da fabricante com a logística reversa desses materiais, a fim de que possam ser reaproveitados.

Valdimir Silva, gerente-corporativo de Logística da Cebrace, relata que a empresa utiliza dois tipos de cavaletes metálicos, sendo um desmontável para o transporte convencional e outro para o transporte em inloaders. “O cavalete desmontável permite maior aproveitamento na logística reversa, quando retorna vazio dos clientes”, ele explica.

Acompanhamento em tempo real
Entre as evoluções na logística das usinas, uma das mais importantes é a possibilidade de monitoramento da situação da carga, seja pela empresa, seja pelo próprio cliente.

A AGC, por exemplo, conta com um sistema rastreador online para controlar os pedidos. A empresa também faz uso de ferramentas tecnológicas para eleger a melhor definição de rota e realizar o monitoramento da carga dentro da fábrica ou já na estrada, permitindo a entrega dentro do prazo e com total segurança.

O monitoramento das cargas também é um ponto em que a Vivix busca sempre inovar. “Hoje temos o nosso portal Vivix Facilita. Cerca de 70% dos pedidos já são feitos dentro da plataforma, permitindo aos clientes esse acompanhamento de perto da situação da encomenda”, detalha Conte. O diretor de Operações da Vivix acrescenta que essa evolução no controle, com acompanhamentos mais digitais e automatizados, permite cada vez mais visibilidade sobre a jornada do pedido, não só para o cliente, mas também para todos os colaboradores da empresa envolvidos no processo.

A Cebrace também permite acompanhar os processos digitalmente, em tempo real. “Os clientes hoje conseguem visualizar as informações sobre seu pedido por intermédio de aplicativos de e-commerce. Isso se dá, por exemplo, no rastreamento dos veículos para entrega das cargas”, afirma Valdimir.

Na Guardian, a organização da logística é compartilhada com o cliente por meio de e-mails comunicando os status de cada fase da encomenda, desde o pedido até a entrega. Esse controle também está presente durante o transporte propriamente dito. “O monitoramento é realizado por meio do controle de rastreamento nos veículos. Com ele, podemos acompanhar por georreferenciamento a localização do transporte em execução”, explica Adriano Santos.

Pela terra…
Falamos até aqui da organização das encomendas e da embalagem delas – mas como as usinas fazem para levá-las aos clientes?

No Brasil, a malha rodoviária ainda é a principal opção para o transporte de cargas. Com isso, caminhões são os veículos mais utilizados para esse trabalho. Mas há vários tipos de veículo, cada um com capacidade para transportar um determinado limite de peso ou volume – e alguns deles também têm características diferenciadas no acondicionamento das chapas. As usinas costumam contar com vários modelos de veículos, afinal, um caminhão que transporte uma carga acima da sua capacidade irá quebrar, enquanto usar um veículo grande para transportar uma encomenda pequena representa desperdício de recursos.

Os tipos mais utilizados para o transporte das chapas são:

  • Truck — caminhão pesado, com eixo duplo na carroceria, e capacidade média de carga de 12 t;
  • Carreta — composta por cavalo mecânico (com dois eixos) e semirreboque (com três eixos), com capacidade média de 24 t;
  • Carreta “vanderleia” — semelhante à carreta, mas com três eixos no cavalo mecânico e maior espaçamento entre os três eixos do semirreboque, com capacidade média de 36 t;
  • Bitrem — combinação de dois semirreboques, com sete eixos e capacidade média de 38 t;
  • Rodotrem — combinação de dois ou mais semirreboques, com nove eixos e capacidade média de 50 t (para dois semirreboques);
  • Inloader — caminhão com baixo centro de gravidade e ausência de eixos entre as rodas do semirreboque. Sua capacidade média é de 24 t, mas pode ter variações menores (mini-inloader) ou maiores (bi-inloader).

“Trabalhamos com vários tipos de caminhão, mas buscamos sempre atuar com parceiros transportadores que nos ofereçam tecnologia e controle, com veículos pneumáticos e com rastreamento”, informa Santos, da Guardian.

…ou pelo mar
No caso da Vivix, além do transporte rodoviário, a usina também oferece a opção do modal marítimo. Francisco Conte explica que as cargas transportadas pelo mar passam pelo mesmo sistema de monitoramento: após o faturamento, a transportadora contratada envia atualizações diárias de localização, as quais são consolidadas e repassadas aos clientes. “Está sendo implementado o monitoramento de cargas automático, tanto no modal marítimo como no rodoviário, e em breve essa informação estará disponível na webservice para consulta dos nossos clientes.”

A Cebrace também trabalha com essa opção, ressaltando que há destinos em que o transporte rodoviário fica inviável, como em algumas cidades e Estados da Região Norte do País, onde a cabotagem predomina. “Também utilizamos o transporte marítimo para abastecimento de nossos centros de distribuição, que estão estrategicamente localizados em pontos que permitem o melhor atendimento a nossos clientes”, explica Valdimir Silva.

Qual o limite de percurso?
Todas as usinas deram a mesma resposta para essa questão: não há distância máxima para as entregas. A AGC, por exemplo, informa que atende todo o Brasil e alguns países da América do Sul, avaliando o percurso, o tipo de veículo e a tarifa de frete para realizar o transporte de vidro da fábrica até o cliente.

Portanto, quando for fazer seu pedido de vidros, lembre-se da verdadeira viagem que ele faz para chegar com qualidade e segurança à sua processadora.

Investimento na área pelo mundo
Segundo um relatório publicado este ano no portal Research and Markets, o mercado de logística na China é hoje o maior em termos de tamanho no mundo, e provavelmente crescerá ainda mais. Para incentivar essa tendência de crescimento, o governo da China estabeleceu metas claras para o futuro, com investimentos maciços na implementação da Belt and Road Initiative (BRI), plano de governo que consiste em aprimorar a infraestrutura de rotas terrestres e marítimas ligando o país a outros continentes. O relatório cita que, em 2018, as exportações chinesas aumentaram 25%.

No caso da Europa, de acordo com a Mordor Intelligence (empresa especializada em inteligência de mercado), os investimentos em logística no continente subiram para 38,64 bilhões de euros em 2020. Isso é impulsionado pelo enorme crescimento do comércio eletrônico na Europa. No entanto, a consultoria aponta que a falta de compromisso dos governos com o desenvolvimento de portos marítimos ou redes rodoviárias, somada à reconfiguração das cadeias de abastecimento, vêm dificultando o crescimento desse mercado.

Este texto foi originalmente publicado na edição 599 (novembro de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: DZMITRY PALUBIATKA/stock.adobe.com

Vidro contribui para arquitetura sustentável

Mês passado, vimos aqui em O Vidroplano o que pode ser feito pelas indústrias vidreiras ao redor do planeta para diminuir a emissão de poluentes durante a fabricação do produto. Agora, é a vez de conhecer o passo seguinte na busca pela sustentabilidade: após sair da fábrica, como nosso material pode contribuir para edificações mais “verdes”?

A seguir, confira um estudo sobre o impacto ambiental do uso de vidros em fachadas, a importância do retrofit para construções antigas conseguirem atingir um melhor desempenho energético e como a arquitetura está se preparando para um futuro marcado por um clima mais extremo, com frentes frias e de calor fora de época.

Prontos para o futuro?
Como apontado na matéria de agosto, as mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global já são uma realidade mundial. Outro exemplo brutal disso pôde ser visto no final do mês passado no Paquistão: chuvas intensas deixaram um terço do território do país asiático inundado, afetando diretamente cerca de 33 milhões de pessoas e matando mais de mil. Existem ainda os prejuízos financeiros aos cofres públicos: somente em 2017, fenômenos como incêndios florestais, enchentes e furacões custaram mais de US$ 300 bilhões aos EUA. Para evitar que catástrofes como essas virem rotina, o aumento da temperatura média do planeta não pode ultrapassar 1,5 ºC até o fim deste século – e isso só será possível com uma grande diminuição da emissão de poluentes em todo o mundo.

Atualmente, as estações climáticas estão menos definidas. Frentes frias no verão ou calor intenso no inverno, por exemplo, eram raridade, hoje são comuns – alterando o conforto térmico nas residências e locais de trabalho. Nossa vida, portanto, é afetada pela questão mesmo quando estamos longe de desastres. Por isso mesmo, surge a pergunta: a arquitetura está preparada para os desafios presentes e também futuros?

De acordo com Emmanuelle Gouillart, diretora-científica dos laboratórios da Saint-Gobain Research em Paris (França), a construção civil mundial é responsável por incríveis 40% de todas as emissões de dióxido de carbono (CO2) do planeta – considerando a fabricação dos materiais, a construção propriamente dita e o consumo de energia elétrica pelos usuários. Isso explica a necessidade de o setor como um todo se voltar para a sustentabilidade.

“O foco atual é no desenvolvimento de ‘edificações resilientes’, as quais podem ser adaptadas em pouco tempo e com pouco custo diante de prováveis alterações climáticas e desastres. O mercado da construção civil está atento a isso”, comenta o engenheiro Fernando Simon Westphal, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “No final de 2020, o Instituto Americano de Arquitetos publicou uma declaração da indústria em prol do desenvolvimento desse tipo de construção, focando na promoção do uso de energias renováveis, com estratégias passivas de aquecimento e resfriamento”, destaca o engenheiro. “O vidro ocupa papel importante nesses requisitos, pois está diretamente relacionado à segurança, conforto ambiental e eficiência energética.”

Para Westphal, que também atua como consultor técnico da Abividro, o setor vidreiro deu um grande passo na consolidação do vidro, frente a outros segmentos, como elemento fundamental para a construção moderna com a criação da prática recomendada ABNT PR 1010 — Aplicação e manutenção de vidros na construção civil. O documento, cujo texto base foi produzido em conjunto pelas equipes da Abravidro e Abividro e contou com a colaboração de diversas entidades vinculadas ao setor da construção, traz um resumo das normas técnicas vidreiras para a aplicação segura e eficiente do produto. “A indústria da construção civil também passou a reconhecer a importância dos vidros de controle solar e insulados como atenuadores de condições extremas em todo o território nacional”, analisa.

Foto: 3000ad/stock.adobe.com
Foto: 3000ad/stock.adobe.com

 

Sustentabilidade em pauta
As últimas décadas viram a construção civil incorporar conceitos mais amigáveis ao meio ambiente:

  • Nos anos 1980, começou-se a dar mais ênfase à conservação de energia, após as crises do petróleo na década anterior;
  • Nos anos 1990, passou-se a se discutir o aquecimento global e aumentaram as preocupações com o uso de energia nas edificações. Por conta disso, diversos países desenvolveram e começaram a adotar normas de eficiência energética;
  • A partir dos anos 2000, o debate foi ampliado para questões ambientais e sociais, com o termo “desenvolvimento sustentável” sendo usado de forma rotineira. É quando começam a se expandir as certificações ambientais de edifícios, como Leed e Aqua, entre outras.

O papel do vidro
Como vimos na reportagem do mês passado, o processo de fabricação do vidro é menos agressivo ao meio ambiente do que o de outros elementos da construção, incluindo alumínio, cerâmica e concreto. Um estudo da Saint-Gobain feito em parceria com a multinacional do setor de engenharia Arup mostra o impacto dos vidros nas fachadas: o material representa de 26% a 60% do total de emissões de carbono para a confecção dessas estruturas – a variação vai depender, obviamente, da tipologia da fachada e da quantidade de vidro usada.

Hoje, esse tipo de informação influencia diretamente na escolha do que será usado em uma obra: sistemas com baixa pegada de carbono (ou seja, menos poluentes) são cada vez mais o objetivo de construtoras. É por isso que ações das usinas vidreiras para a produção de um vidro mais sustentável, incluindo o maior uso de cacos reciclados entre as matérias-primas e testes com novas fontes de energia, ajudam a colocar o material em uma posição de destaque. Afinal, outras indústrias também estão “descarbonizando” seus produtos e não podemos perder a vantagem que temos no atual cenário.

Durante a especificação dos produtos, deve-se levar em conta todo o ciclo de vida do edifício: como será a instalação desses sistemas? O material precisará ser trocado com frequência? Quais outros benefícios ele pode agregar ao projeto? Nesse sentido, o vidro também sai na frente. “As fachadas envidraçadas ganharam notoriedade não apenas por questões estéticas, mas por questões práticas, de agilidade na construção, facilidade na manutenção e durabilidade”, explica Fernando Westphal. “Tais conceitos estão intimamente ligados ao desenvolvimento sustentável. Vale lembrar que o vidro não é um agente individual, faz parte de um conjunto construtivo. Mas sua durabilidade é alta e proporciona resultados ao longo de toda a vida útil da edificação.”

Foto: Danila Shtantsov/stock.adobe.com
Foto: Danila Shtantsov/stock.adobe.com

 

Valor agregado
Aí entra a importância dos vidros mais modernos. O estudo da Saint-Gobain com a Arup indica que os vidros com revestimento (no caso, os de controle solar) são eficientes na redução da pegada de carbono em um prédio. Além de garantir um “retorno de investimento” na comparação com brises e outras formas de sombreamento, eles têm impacto positivo para a queda de emissões durante o uso do edifício, já que diminuem a necessidade de iluminação artificial, ar-condicionado e sistemas de aquecimento.

A entidade vidreira europeia Glass for Europe iniciou uma campanha para divulgar o potencial de economia energética gerado por esses produtos. Alinhada ao Acordo Verde Europeu (um conjunto de políticas para o combate ao aquecimento global em todo o continente), a associação sugere um grande plano local para retrofits, com o objetivo de trocar os vidros antigos e sem tecnologia das edificações por novas peças de valor agregado. A ideia é ousada e de larga escala, mas ajudará a União Europeia a atingir sua meta de neutralidade de carbono.

  • Se todos os prédios da Europa ganharem vidros de alta performance energética até 2030, seria possível reduzir o consumo de energia elétrica em 29%;
  • Isso representaria uma economia anual de cerca de 875 bilhões de kWh. Para efeito de comparação, o Brasil consome por volta de 467 bilhões de kWh de energia por ano (dados de 2016 da Eletrobrás);
  • Com as trocas, as emissões de CO2 durante o uso dos edifícios cairiam 37,4% em 2050;
  • Cerca de metade dessa economia poderia ser atingida apenas dobrando a taxa anual de retrofits do continente, que hoje representa 2% das obras.

E no Brasil?
Em nosso país, são poucos os registros de retrofits visando ao aumento da eficiência energética de uma edificação. Por outro lado, as novas obras envidraçadas estão ganhando versões tecnológicas de nosso material: prédios comerciais suntuosos como o São Paulo Corporate Towers, o Concordia Corporate Tower (em Nova Lima, MG) e o Vitraux (em Salvador), todos construídos nos últimos anos, contam com fachadas de vidros de controle solar.

Fernando Westphal vê a indústria vidreira mais avançada do que o próprio mercado da construção. Diz ele: “Dispomos de produtos com alto nível de eficiência, mas ainda pouco explorados pela construção civil. O setor residencial, por exemplo, faz pouco uso dessas soluções – não só em relação aos vidros, mas também a outros itens da envoltória, como revestimentos e isolantes”.

A boa notícia é que prédios residenciais parecem começar a olhar para materiais diferenciados. Com conclusão prevista para o fim deste ano, o Seventy Upper Mansion, erguido pela construtora Andrade Ribeiro em Curitiba, terá insulados com a função de garantir conforto térmico e acústico nas suítes dos apartamentos. Será um exemplo interessante para outros projetos se inspirarem e passarem a utilizar soluções robustas.

A receita para mais vidro – e, por consequência, mais obras sustentáveis – é educar arquitetos, engenheiros e demais profissionais da construção em relação aos produtos do setor vidreiro. Assim, poderemos sonhar com um futuro com menos poluição, mais verde e cheio de transparência.

Foto: Roman Babakin/stock.adobe.com
Foto: Roman Babakin/stock.adobe.com

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 597 (setembro de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: Quality Stock Arts/stock.adobe.com

Vidro pode contribuir para um planeta sustentável

Ao longo de julho, em pleno inverno, o frio passou longe de São Paulo, cidade que encarou uma onda de calor fora de época, com quase 30 ºC em alguns dias. Na Europa, o verão maltrata a população: a Inglaterra alcançou a maior temperatura já medida de sua história no mês passado (40,2 ºC), enquanto Portugal chegou a inacreditáveis 47 ºC.

As mudanças climáticas são uma realidade no planeta: basta ver os noticiários mostrando incêndios incontroláveis, furacões cada vez mais destrutivos, secas de longa duração. Um clima de extremos ameaça a humanidade. Por isso, passou da hora de levarmos a questão a sério – e o setor vidreiro pode dar uma tremenda contribuição para isso.

Este mês e em setembro, O Vidroplano apresenta um especial sobre o tema, mostrando em detalhes o papel de nosso material na questão. A sustentabilidade não é apenas preocupação das empresas, mas uma demanda da sociedade. Por isso, é importante entender o que está acontecendo com o mundo.

Planeta em descompasso
Mudança climática não é algo novo: a Terra já passou por diversas alterações ao longo dos milênios. Só que isso ocorre naturalmente, por conta de forças diversas como erupções vulcânicas, impactos de meteoritos ou variações na órbita do planeta e na radiação solar, por exemplo. O que vivemos hoje é algo resultante das ações humanas – e, o pior, ocorre em uma velocidade nunca vista, maior do que a dos fenômenos naturais.

A culpa é nossa
Estudos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) mostram que, a partir da Revolução Industrial no século 18, a emissão de poluentes passou a deixar a temperatura média do planeta cada vez maior. Após a última era glacial (milênios atrás), a temperatura terrestre subiu 5 ºC ao longo de 10 mil anos; se o ritmo do atual aquecimento global continuar o mesmo, poderemos ver um aumento de quase 5 ºC – mas em apenas 200 anos.

Uma mudança desse porte em tão pouco tempo cobra seu preço: as décadas de 1990 e de 2000 foram as mais quentes do último milênio, fato causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis e pela destruição da natureza.

As consequências
O aumento das temperaturas não mudará apenas o clima. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o aquecimento global causará impactos diversos, como:

  • Maior frequência de fenômenos meteorológicos extremos: vários eventos com potencial de perdas econômicas e humanas podem virar padrão, como ondas de calor ou de frio severas, fortes chuvas e inundações ou secas prolongadas;
  • Comprometimento da produção agrícola;
  • Extinção de espécies animais e vegetais;
  • Derretimento de geleiras: isso gera elevação do nível do mar. Até o fim deste século, de acordo com o IPCC, os oceanos podem aumentar até 59 cm, o que causará a inundação de cidades e regiões costeiras. Imagine praias inteiras deixando de existir? Áreas de metrópoles como Rio de Janeiro e Nova York ou países-ilhas submersos?

E no Brasil?
Relatórios do IPCC indicam que a temperatura média deverá aumentar no País todo, causando:

  • Redução de geadas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste;
  • Maior frequência de chuvas intensas no Sul e Sudeste, aumentando a possibilidade de enchentes em áreas urbanas;
  • Diminuição das estações chuvosas e da intensidade das chuvas no Norte e Nordeste, causando maior evaporação das águas dos reservatórios, lagos e rios. Assim, os problemas locais relacionados à seca serão ainda mais graves;
  • O colapso de ecossistemas, inclusive o da Amazônia, reduzindo e modificando vegetações, por conta da diminuição das chuvas.

Como reverter a situação?
O atual aquecimento da Terra vai levar décadas ou séculos para ser minimamente “consertado”. Porém, ainda dá tempo de evitar os piores cenários das consequências citadas anteriormente: cientistas afirmam que a temperatura não pode aumentar mais que 1,5 °C até 2100. Para isso, dependemos da vontade de governos para colocar em prática ações que reduzam as emissões de gases poluentes em nível global.

Fábricas ao redor do mundo já se antecipam a esse assunto, definindo metas “verdes” para as próximas décadas. Uma coisa é certa: a sustentabilidade é um caminho sem volta na produção industrial – e nosso setor tem capacidade para ser líder no quesito.

Amigo da ecologia
Sustentabilidade faz parte da história do segmento vidreiro – a busca por soluções que entreguem maior eficiência na fabricação fez com que a atividade poluísse menos. Exemplo disso é que o aperfeiçoamento dos processos permitiu que a cadeia francesa como um todo diminuísse 69% de suas emissões de poluentes, ao longo dos últimos 50 anos, segundo o centro de pesquisa científica francês Institut du Verre.

Além disso, o vidro é um dos únicos materiais 100% recicláveis – e seu impacto é menor que o de outros materiais. Quem mostra isso é o Centro de Arquitetura Industrializada da universidade Royal Danish Academy, da Dinamarca. A instituição preparou uma tabela chamada Pirâmide dos Materiais de Construção: ela se assemelha a uma pirâmide alimentar, mas, ao invés de mostrar os grupos de alimentos e seus nutrientes, revela o impacto ambiental dos materiais. Quanto mais no topo, mais poluidor o produto é – e nos dois principais indicadores, o vidro se posiciona muito bem:

  • GWP (potencial de aquecimento global): mede a “pegada de carbono”, ou seja, a quantidade de dióxido de carbono (o CO2, um dos gases que mais contribuem para o aquecimento global) emitida durante a fabricação. A tabela coloca o vidro insulado, produto largamente usado na Europa, em posição intermediária, sendo muito menos poluidor que o alumínio, aço galvanizado e cerâmica, localizados no topo;
  • ODP (potencial de destruição da camada de ozônio): mede os danos que uma substância pode causar à camada de ozônio. Nesse quesito, o insulado está na base da pirâmide, como um dos menos agressivos ao planeta, ao contrário de madeira compensada, concreto e tintas em geral.

“O setor vidreiro tem uma real preocupação com o papel de nossa indústria no mundo. Essa posição é ambiental e também em relação à sociedade. É chavão falar isso, mas temos uma indústria com posição moderna”, explica o superintendente da Abividro, Lucien Belmonte. Segundo ele, é preciso olhar o processo como um todo para saber onde melhorar na questão de emissões: desde a retirada de matéria-prima ao transporte nos diversos elos da cadeia, e ainda durante o ciclo de vida do produto instalado.

Futuro de transparência
Uma reportagem publicada na renomada revista científica britânica Nature, no final do ano passado, analisa o papel da indústria vidreira para a “revolução verde” nos processos fabris. Do total de CO2 gerado durante a fabricação de vidro em todo o mundo, cerca de 80% vêm do uso de gás natural para fazer os fornos funcionarem. O número impressiona, mas pode ser diminuído por meio da reciclagem do produto como parte da fabricação.

A boa notícia é que as usinas de float e oco já incorporam a prática aos seus processos: elas usam restos do material, os chamados “cacos”, para compor a mistura de matérias-primas. Ao serem derretidos nos fornos, não há emissão de CO2, diferentemente das matérias-primas puras. Além disso, os cacos aumentam a produtividade dos fornos: 1 t deles gera 1 t de vidro, enquanto 1 t de matéria-prima gera pouco mais de 800 kg de vidro. De acordo com a European Container Glass Federation (Feve), associação europeia de fabricantes de frascos e recipientes, o uso de 10% de cacos em uma fornada de vidro faz diminuir em 5% a emissão de CO2. Outro dado a favor dos cacos vem da Guardian: por derreterem a uma temperatura muito mais baixa do que a areia, eles reduzem o consumo de energia. Segundo a usina, em média, para cada 10% de cacos usados, suas demandas energéticas são reduzidas em até 3%.

Existem, inclusive, experiências bem-sucedidas de produtos sendo fabricados com cada vez mais cacos. A Saint-Gobain Glass anunciou em julho uma inovação técnica para a produção de um vidro com a menor pegada de carbono do mercado: alto teor de cacos (cerca de 70% da receita) e fornos alimentados por energias renováveis. Esse processo de fabricação emitiu cerca de 40% a menos de CO2 na comparação com outros produtos da empresa e já tem um resultado concreto, a linha de controle solar Cool-lite Xtreme, que passa a fazer parte do portfólio da empresa.

Vale lembrar que o processo de reciclagem do vidro é complexo, graças a seu peso. A coleta e o armazenamento do plástico, por exemplo, envolvem menos trabalho e recursos. Isso explica o fato de boa parte do mundo (com exceção dos europeus) não tratar nosso material da forma devida: nos Estados Unidos, em 2018, quase 7 milhões de t de vidro foram despejadas em aterros. Por isso, ainda há um longo caminho a ser percorrido nesse sentido. A reportagem da Nature indica que somente vontade política, incluindo legislações específicas e alocação de recursos por parte do poder público, pode fazer a reciclagem de vidro virar uma prática rotineira.

Novos combustíveis
Outro campo que ajudará na redução das emissões é a busca por novas fontes de energia para substituir o gás natural. No final de 2021, uma fábrica inglesa da Pilkington, pertencente ao Grupo NSG, realizou o primeiro teste mundial de fabricação de vidros arquitetônicos com fornos ligados a hidrogênio. Em março deste ano, a mesma unidade da companhia se tornou a primeira planta de float do planeta a acionar um forno usando apenas biocombustível – desenvolvido a partir de resíduos orgânicos, ele emite cerca de 80% menos CO2 do que o gás natural. O experimento durou quatro dias, com os equipamentos em produção total, fabricando pouco mais de 15 mil m² de vidros.

No entanto, não existe solução mágica: a simples troca da fonte de energia não resolverá todos os problemas de emissão. A chama gerada pelo uso de hidrogênio não é controlável (em tamanho e temperatura) como a do gás natural, o que significa maior instabilidade na produção — e impactando a produtividade. A forma de se fabricar o hidrogênio a ser consumido também precisa ser levada em conta: de nada adianta ele ser menos poluente se sua produção for danosa ao meio ambiente. Em geral, o modo de produção de vidro é o mesmo há muito tempo – por isso, a necessidade de pesquisa e desenvolvimento de soluções para aperfeiçoá-lo segue como constante no setor.

A Europa está bastante avançada nesse quesito. Em 2019, por exemplo, a Comissão Europeia publicou o European Green Deal (Acordo Verde Europeu), documento com o objetivo de criar políticas em prol do meio ambiente, incluindo o segmento da construção. Outro projeto local, dessa vez focado no segmento vidreiro, é o LIFE Eco-HeatOx, criado para o desenvolvimento de tecnologias que ajudem no pré-aquecimento dos fornos usando oxigênio puro – isso aumenta a eficiência do derretimento das matérias-primas, consumindo menos energia para tal. Testes feitos numa fábrica na Bulgária revelam que a técnica diminui as emissões de CO2 em até 23% na comparação com outros métodos de combustão.

A Glass Aliance Europe (associação europeia de indústrias vidreiras) acredita que as inovações devam surgir nos mais diversos setores industriais, com soluções para outros mercados podendo ser adaptadas às realidades de nossa cadeia. A entidade afirma ainda que as empresas poderão utilizar formas de compensação para eliminar as emissões, incluindo:

  • Captura e armazenamento de carbono (CCS)
    Consiste em separar o CO2 produzido para convertê-lo em líquido. Na sequência, ele será transportado por tubulações e armazenado nos chamados “reservatórios geológicos”, nos quais não poluirá o ambiente.
  • Captura e utilização de carbono (CCU)
    Processo de captura do CO2 para reciclagem e uso posterior. Ele pode ser transformado, por exemplo, em etanol.

A movimentação das usinas
No Brasil e no mundo, fabricantes de vidro se adequam a um futuro sustentável. A AGC anunciou este ano um compromisso de reduzir em 30% as emissões diretas e indiretas até 2030. O próximo passo dessa meta é atingir a neutralidade de carbono até 2050 – quando uma empresa não adiciona CO2 à atmosfera, seja eliminando suas emissões ou as compensando com técnicas de CCS ou CCU.

Para alcançar os objetivos, um conjunto de ações está sendo implementado, do setor de pesquisa e desenvolvimento à cadeia de suprimentos e transporte, passando pelo abastecimento e produção. O próximo passo é o lançamento de uma nova linha de vidros com pegada de carbono significativamente reduzida – esses produtos serão mostrados em primeira mão pela AGC Europa durante a feira Glasstec, em setembro, na Alemanha. Após testes bem-sucedidos, a expectativa da empresa é entregar os primeiros pedidos desses itens até o final de 2022. “Alcançar a neutralidade requer uma transformação holística de nossa produção, que vai do fornecimento e uso de matérias-primas sustentáveis, até a forma como o vidro é derretido, sem negligenciar o design e o uso de nossos produtos para otimizar os benefícios climáticos”, explica Davide Cappellino, presidente da divisão de Vidros Arquitetônicos da AGC Europa e Américas.

Em maio, foi a vez de o Grupo NSG revelar suas metas de redução: 30% nas emissões diretas/indiretas, incluindo a cadeia de suprimentos, e neutralidade até 2050. Um dos trabalhos a serem realizados será a introdução de fornos elétricos para o derretimento das matérias-primas, em conjunto com a aposta no uso de 100% de energias renováveis.

Aqui no Brasil, a Cebrace (joint-venture do Grupo NSG com a Saint-Gobain) começou a renovação gradual de sua frota de caminhões: a partir de agora, serão utilizados veículos in loader a gás. A princípio, a iniciativa terá dez carretas fazendo rotas de entrega no Estado de São Paulo. Os veículos conseguem rodar cerca de 500 km ao serem abastecidos com o volume máximo de gás, podendo receber ainda biometano. Outra iniciativa é a construção da nova sede da companhia em Jacareí (SP), obra que recebeu a certificação Leed Silver para construções sustentáveis – veja os detalhes do prédio clicando aqui. Mas a principal ação de sustentabilidade da empresa foi a recente aquisição da Massfix, a maior recicladora de vidros (planos, laminados e ocos) do Brasil.

Um dos focos da Guardian está na divulgação dos efeitos de seus vidros na natureza. A empresa desenvolveu as Declarações Ambientais de Produtos (EPDs), documentos que apresentam informações sobre o impacto ambiental do ciclo de vida dos produtos. Disponível para América do Norte, Europa, África, Oriente Médio e Índia, o documento em breve contemplará o Brasil: a renovação das EPDs para a América do Norte vai incluir no processo a fábrica da Guardian em Porto Real (RJ). A previsão é de que essa EPD seja publicada no final de 2023. A usina também investe em parcerias com clientes em programas de devolução de vidro plano, aumentando a disponibilidade do material para uso na fabricação, entre outras ações.

A Vivix também planeja adotar energias limpas conforme a possibilidade de aplicação delas avançar. O novo forno recém-anunciado pela usina, a ser construído no município de Goiana (PE) ao lado de sua atual planta, está sendo preparado para uso parcial de biogás e hidrogênio. “Acho que todas as empresas, não apenas a nossa, devem evoluir para essas fontes nos próximos anos”, avalia o presidente da empresa, Henrique Lisboa.

Este texto foi originalmente publicado na edição 596 (agosto de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: Miha Creative/stock.adobe.com

Entenda como avaliar seu forno de têmpera

Após passar pelas principais etapas do beneficiamento nos meses anteriores, a série especial de O Vidroplano sobre maquinários, iniciada em fevereiro, chega à parte final. É hora de falarmos sobre o forno de têmpera, o equipamento mais robusto e tecnológico de todo o processo.

Uma máquina desse tipo pode durar décadas se bem cuidada – mas, para isso, é preciso seguir as boas práticas de manutenção e operação, incluindo a atualização de seus componentes digitais e também físicos ao longo dos anos. Por isso, nossa reportagem conversou com fabricantes para entender em qual momento se faz necessário trocar peças ou mesmo comprar um forno novo.

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
– Fevereiro: Mesas de corte
– Março: Lapidadoras
– Abril: Lavadoras
– MAIO: FORNOS DE TÊMPERA

Vida útil longa
Mais uma vez, vale recordar o ensinamento de Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, presente na 1ª parte deste especial: as processadoras devem sempre adquirir maquinários compatíveis com seu tipo de produção – ou seja, de acordo com os mercados que atende e com os vidros que produz. Com base nisso, será possível saber que tipo de máquina pode fazer parte do parque industrial, de forma a atender as necessidades de seus clientes.

Em relação aos fornos, são equipamentos que duram muito tempo: de acordo com as fontes consultadas, passam facilmente dos 20 anos de uso. “Nossos fornos da linha Aeroflat foram lançados em 1996 e a maioria ainda está em funcionamento na Europa”, revela Giorgio Martorell, gerente de Vendas da Lisec para a América Latina. Sandro Henriques, diretor da Sglass, lembra ainda que o fato de os fornos não terem contato com água, como no caso das lapidadoras ou lavadoras, faz com que seus componentes estejam livres de oxidação. “Também não têm problemas com pó de vidro, garantindo fácil operação”, afirma.

Mas isso só se torna realidade se a empresa mantiver os devidos cuidados. “A vida útil de um forno de têmpera está diretamente relacionada à eficácia da instalação e aplicação de um plano de manutenções, bem como da gestão de boas práticas operacionais, o que tem impacto direto nos custos, na capacidade de obtenção de receita e no lucro líquido da empresa”, explica Cláudio Lúcio.

Quando trocar?
Sandro Henriques, da Sglass, aponta os perigos de se ter equipamentos com hardwares defasados e sem capacidade de rodar softwares atualizados: “Eles podem ocasionar desperdício de matéria–prima, necessitar mais atenção da mão de obra e consumir muito mais energia”.

A análise de seu maquinário e de sua produção atuais, portanto, é fundamental para se decidir por uma aquisição. A multinacional finlandesa Glaston preparou um documento chamado Guia do Comprador de Linha de Têmpera. Ali, existe um checklist para ser seguido pelas processadoras interessadas no assunto. Entre as orientações estão:

– Procurar entender o processo da têmpera. Assim, você poderá fazer as perguntas certas na hora de investir;

– Definir os requisitos de produção para compreender quais métodos de aquecimento (condução, radiação e convecção) funcionam melhor para sua atuação;

– Não se esquecer da qualidade de todo o processo de pré-processamento (corte, lapidação, lavagem etc.), pois ele tem impacto direto no processo de têmpera e precisa combinar com a capacidade e layout do forno.

 

Crédito: Aleksei/stock.adobe.com
Crédito: Aleksei/stock.adobe.com

 

Mas um forno novinho em folha resolverá todos os problemas que o velho está causando? Nem sempre. Um forno com os melhores recursos disponíveis produzirá um vidro de baixa qualidade caso seja mal-operado ou usado para um tipo de produção diferente do da empresa que o comprou. Giorgio Martorell, da Lisec, aponta alguns motivos para a compra de um maquinário desse porte:

– Necessidade de adoção de tecnologias disruptivas que revolucionam as tecnologias convencionais, como um sistema de convecção (aquecimento por rajadas de ar quente);

– Capacidade de integração com os processos anteriores, caso a empresa queira montar uma linha integrada;

– Maior flexibilidade para a mudança de receitas entre cada lote de vidros, diminuindo o tempo de preparação para atender novas demandas;

– Necessidade de temperar peças mais finas, de 2 mm de espessura ou até menos;

– Economia de mão de obra, utilizando fornos com robôs para carregamento automático, o que dispensa operadores.

Fernando Ferreira, diretor da Mainz Máquinas, tem outra dica: “Um equipamento menor às vezes produz mais que um equipamento maior. Ao comprar um forno, atente-se ao tempo de ciclo real, não ao tempo indicado na tela do computador”. Mais uma vez, a importância de se conhecer a própria produção.

A importância dos rolos
Responsáveis por transportar as peças de vidro durante o processo de têmpera, os rolos cerâmicos são um componente fundamental do forno – e não podem ser esquecidos quando se fala em manutenção e boas práticas. “Eles devem ser perfeitos em dimensão e idênticos entre si, possuindo superfície impecável para que não introduzam ondulações ou marcas no vidro”, explica Eric Saler, diretor da Glastronic, empresa que representa no Brasil a fabricante de rolos chinesa Freedom Ceramics. “Afinal, em certas regiões quentes do forno, a chapa encontra-se em estado quase pastoso.”

Enquanto o temperado fabricado corresponder às normas de segurança em relação a padrões de quebra e planicidade, os rolos não precisam ser trocados, analisa Saler. “Sua vida útil depende do uso e da operação do forno. Eles deverão ser substituídos ao empenar, possuir riscos na superfície ou quebrar.” Os dois primeiros fenômenos se manifestarão no vidro processado, anunciando a necessidade de troca.

A manutenção desses itens é simples: inclui a retirada de eventuais lascas de vidro e lavagem com esponja umedecida. “Ações invasivas, como lixamento e retificação, não são recomendadas, pois poderão alterar sua superfície e seu dimensional”, indica Saler. Essa tarefa poderá ser realizada por profissionais da própria beneficiadora acostumados ao forno. Já no caso de troca, técnicos especializados são imprescindíveis – vale, inclusive, consultar a fabricante do maquinário quando surgir essa necessidade.

De olho na reforma
Por conta de sua longa vida útil, fornos são propícios a reformas e atualizações, sejam de partes físicas ou dos programas que os comandam. “Se precisa produzir mais, existem upgrades para aumentar a produtividade, como instalar a segunda célula de aquecimento”, comenta Fernando Ferreira, da Mainz Máquinas. Em termos de qualidade do vidro temperado, também dá para melhorar um forno antigo – convertendo-o para o sistema de convecção de ar, por exemplo —, o que diminuirá a irisação, empenamento e ondulação, explica Ferreira.

Como recorda Denis Salvo, diretor-comercial da Glassmaq, outros itens que ficam obsoletos são o sistema elétrico e o PLC. “A boa notícia é que ambos podem ser reformados, fazendo o forno voltar à vida.” Alguns fabricantes de fornos possuem planos de revisão periódica, ajudando as processadoras a identificar possíveis problemas nas peças com facilidade.

Portanto, antes de comprar um forno – até pelo fato de requerer um grande investimento –, confira as possibilidades de reforma com a fabricante.

Tecnologia de ponta
O sistema de convecção é uma das principais inovações na têmpera surgida nas últimas décadas e vem sendo cada vez mais usado por processadoras pelo mundo: o vidro é aquecido por meio de rajadas de ar, o que deixa a temperatura em toda sua massa mais uniforme. A tecnologia é indicada para o processamento de chapas com revestimento, como o low-e. “Outra solução importante hoje em dia são os escâneres térmicos que verificam a qualidade da produção final, incluindo fenômenos como anisotropia e manchas do tipo haze”, analisa Joe Butler, vice-presidente de Vendas e Serviço da Glaston para as Américas.

Mas essas não são as únicas novidades que as empresas podem encontrar num forno. Confira outras tecnologias modernas:

– Sistema de colchão de ar — faz com que a superfície do vidro não tenha contato com os rolos, evitando possíveis marcas;

– Conjunto de duplo aquecimento e resfriamento;

– Sistema de correção automatizada dos parâmetros técnicos de processo;

– Alta eficiência energética, ajudando na economia de eletricidade.

O que encontrar no mercado
Conheça modelos oferecidos por alguns fabricantes de fornos com atuação no Brasil. As empresas citadas contam com soluções para diferentes tipos de produtividade. Abaixo estão apenas alguns dos equipamentos comercializados por elas.

 

Crédito: Divulgação Glassmaq
Crédito: Divulgação Glassmaq

AW-FTF (Glassmaq)
– Equipamento com sistema de convecção para o trabalho com low-e;

– Indicado para processadoras com produção de médio porte;

– Sistema de tração independente entre os módulos, permitindo a oscilação do vidro por todo o comprimento da célula de aquecimento, o que garante menor distorção óptica.

 

 

Crédito: Divulgação Glaston
Crédito: Divulgação Glaston

FC Series (Glaston)
– Sistema de convecção patenteado que reduz a anisotropia nas peças;

– Modelo básico inclui escâner infravermelho, com o opcional de instalação do iLook, sistema de medição da qualidade do vidro;

– Sistema de estabilização da temperatura dos rolos.

 

 

Crédito: Divulgação Lisec
Crédito: Divulgação Lisec

Aeroflat (Lisec)
– Sistema de colchão de ar patenteado, fazendo as peças de vidro flutuar nas zonas de aquecimento e resfriamento;

– Pode trabalhar em espessuras de 1,6 a 6 mm;

– Tempo de ciclo de trabalho igual para vidros com ou sem revestimento.

 

 

Crédito: Divulgação Mainz
Crédito: Divulgação Mainz

Fornos sob medida (Mainz)
– A empresa produz os equipamentos sob medida para processadoras de qualquer porte;

– Podem incluir sistemas diversos, como convecção de ar e controle individual de zonas;

– Fornos contemplam diversos tipos de produção, de 4.000 a 19.800 m² ao mês (para peças de 8 mm).

 

Crédito: Divulgação Sglass
Crédito: Divulgação Sglass

Standard (Sglass)
– Construído em módulos, pode ser adquirido em diversos tamanhos, encaixando-se nas necessidades exigidas da processadora;

– Sistema de convecção;

– Sistema exclusivo de nobreak evita a perda do lote em caso de queda de energia.

Crédito da imagem de abertura: Amorim Leite

Este texto foi originalmente publicado na edição 593 (maio de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Saiba a hora certa para trocar sua lavadora

O Vidroplano iniciou em fevereiro uma série de reportagens que ajudará as processadoras a saber quais os sinais de que seus maquinários precisam ser trocados. Este mês nossa redação contatou fabricantes para entender melhor o funcionamento das lavadoras, além de conversar com especialista no assunto.

Na reta final do processamento, a lavagem dos vidros tem a função de retirar qualquer impureza que esteja na superfície do material, principalmente as surgidas durante a lapidação ou furação — por isso, é uma etapa fundamental. A sujeira pode comprometer o resultado da têmpera, assim como o armazenamento e a instalação das peças. Se a lavadora não estiver em boas condições de uso, todo o beneficiamento pode ir literalmente por água abaixo.

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
– Fevereiro: Mesas de corte
– Março: Lapidadoras
– ABRIL: LAVADORAS
– Maio: Fornos de têmpera

Cuidados que valem dinheiro
Antes de tudo, é importante relembrar um ensinamento (de Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro) presente na 1ª parte deste especial: as processadoras devem sempre adquirir maquinários compatíveis com seu tipo de produção – ou seja, de acordo com os mercados que atende e com os vidros que produz.

Com isso em mente, vamos às lavadoras. Segundo as fontes consultadas, esse equipamento tem durabilidade enorme. Passam dos 10 anos de vida útil, chegando até mesmo a 20 ou mais – desde que bem manuseados, claro. Para isso, manutenção é fundamental.

Yveraldo Gusmão, diretor da GR Gusmão, representante das fabricantes Lovetro (nacional) e Triulzi (italiana), reforça que certas peças precisam ser conferidas regularmente.

– Jogo de escovas — suas cerdas não podem ficar rígidas de forma a apresentar falhas no trabalho;

– Espumas de enxague — precisam estar secas quando a máquina é desligada, para evitar que apodreçam;

– Mancais — devem ser verificados e engraxados a cada seis meses, em média, para não travar as roldanas-guias, arranhando o vidro na passagem das peças.

Crédito: Thiago Borges
Crédito: Thiago Borges

 

Motivos para a troca
Máquinas com operação, ajustes e conservação inadequados resultam em degradação precoce. Uma solução é reformar os equipamentos, colocando peças novas. “Caso o custo da reforma seja desvantajoso, ou o volume da produção seja superior ao da capacidade atual, pode-se optar pela aquisição de um maquinário novo”, aponta Cláudio Lúcio. A troca também se torna uma opção válida quando a empresa decide por maior automatização do processo ou quando o mix de vendas sofre alteração. Um exemplo desse último tópico, segundo Giorgio Martorell, gerente de Vendas da Lisec para a América Latina: “Se uma empresa passa a processar vidros low-e, ela precisará de uma lavadora com escovas mais finas, de 0,12 a 0,15 mm”.

Para Joel Martins Dias, diretor da Agmaq, o momento para a substituição é quando a lavadora não consegue mais entregar o vidro dentro das condições técnicas ideais para a sequência do beneficiamento. “Ela não pode ficar mais parada do que trabalhando”, alerta. Wagner Hubmann, diretor da Vetro Máquinas, representante da italiana SCV System no Brasil, indica outro sinal para ficar de olho: “Quando um equipamento manifesta a necessidade de manutenções frequentes e a qualidade do serviço começa a cair, é um claro indício de que sua vida útil está comprometida”.

Enrico Lancioni, gerente de Produto da Área de Lavadoras da Intermac, revela algumas situações que dão sinais de que a lavadora chegou ao limite de sua vida útil:

– Presença de corrosão nos componentes estruturais;

– Desgaste excessivo da parte mecânica;

– Motores superaquecendo devido à mecânica desgastada;

– Diminuição do desempenho da máquina;

– Diminuição da qualidade de lavagem e secagem;

– Nível de ruído excessivo durante a operação.

Crédito: Thiago Borges
Crédito: Thiago Borges

 

A escolha ideal
Além de a produtividade ser um parâmetro essencial para a aquisição de uma nova lavadora, pois influenciará diretamente no consumo de energia e água, o layout da empresa deve ser levado em conta – é ele que define se a máquina será horizontal ou vertical. Essa definição tem relação direta com o espaço ocupado pela lavadora dentro da fábrica e a capacidade de se montar linhas de processo (ou optar somente por uma operação individual).

Denis Salvo, diretor-comercial da Glassmaq, explica a diferença: “Nos casos de processo automatizado na vertical, a lavadora desse tipo pode ser colocada no final da linha de lapidação sequencial com giro automático, para peças que não necessitam de furos ou recortes. Já na linha horizontal, pode-se otimizar a lavagem do vidro com uma mesa que sai direto da linha de furação e recorte”.

Encaixar a lavadora é quase o processo de montagem de um quebra-cabeça. Giorgio Martorell, da Lisec, exemplifica: “Linhas de laminação jumbo deverão ter lavadoras horizontais com 3.300 mm de largura; já as máquinas na saída das linhas de lapidação turnover precisam de 2.500 mm de altura”.

Veja mais características a serem levadas em conta na hora da escolha:

– Capacidade de integração com os demais processos: considerar o ajuste da altura de trabalho com as outras máquinas em linha, assim como a interface de sinais elétricos para todas elas trabalharem em segurança;

– Zona de pré-lavagem: vidros procedentes das linhas de lapidação e de furação e recorte normalmente estão em contato com alta concentração de pó. Uma lavadora com zona de pré-lavagem faz o trabalho a partir de duas câmaras: uma zona própria, para a retirada de todo esse pó; e a outra, para a limpeza geral, com água mais limpa;

– Tamanho mínimo dos vidros: voltamos à questão de usar maquinários que atendem o tipo de demanda da processadora. Lavadoras convencionais, geralmente, trabalham com vidros de tamanho mínimo de 400 x 400 mm. Alguns modelos terão problemas no transporte de peças menores, interferindo até na qualidade da lavagem;

– Serviços técnicos e remotos: diz respeito às fabricantes de lavadoras. Elas precisam oferecer suporte técnico local, além da possibilidade de atendimento remoto para realizar diagnósticos em caso de problema nos equipamentos.

Água por todos os lados
Um fator preponderante em uma lavadora, e não poderia ser diferente, é a presença constante de água em diversas partes de sua estrutura. “Os componentes sujeitos a desgaste são protegidos para não serem danificados pela água”, explica Alessandro Carriero, gerente de Produto da Área de Lavadoras da Intermac. As peças em contato direto com o líquido são de aço inox 304, material que não oxida quando exposto à umidade – até mesmo os sistemas de transporte possuem revestimentos adequados.

Mas não podemos nos esquecer de que a qualidade da água também interfere no processo e na conservação do maquinário. Para começar, não pode ser qualquer tipo, mas sim a desmineralizada. “A água precisa ser trocada a cada processo, pois os resíduos da lavagem anterior podem prejudicar não só as peças a serem trabalhadas, mas o equipamento como um todo”, alerta Gusmão. O ideal é monitorar indicadores como a temperatura, pH (para saber se está muito abrasiva) e condutividade.

As tecnologias indispensáveis
“Atualmente, as lavadoras possuem sistemas que reduzem o consumo de energia e água e emitem menos ruído no meio ambiente, além de exigir menos manutenção durante sua vida útil”, explica Joel Martins Dias, da Agmaq. Wagner Hubmann, da Vetro Máquinas, aponta os sistemas de eliminação de energia estática e dispositivos que suspendem algumas funções da máquina quando ela está ociosa como exemplos dessa preocupação sustentável das fabricantes de maquinários.

Mas há ainda vários outros requisitos fundamentais no trabalho hoje em dia. Confira alguns deles:

– Ajuste automático de velocidade das escovas;

– Sistema de aquecimento da caixa de água para a etapa de lavagem, eficaz para desengordurar as chapas;

– Pelo menos duas etapas (estágios) de caixas de água, sendo separadas em lavagem e enxague. A 3ª etapa, de pré-lavagem, é outra solução disponível;

– Sistema de secagem por ventilação forçada com filtro de entrada. “Esses ventiladores têm estrutura de sustentação separada da estrutura da lavagem”, comenta Denis Salvo, da Glassmaq;

– Zonas de lavagem e secagem em uma mesma estrutura, garantindo que não haja possibilidade de drenagem e permitindo instalação mais rápida.

O que encontrar no mercado
Conheça modelos oferecidos por alguns fabricantes de lavadoras com atuação no Brasil. Todas as empresas citadas contam com soluções para diferentes tipos de produtividade (pequeno e grande portes). Abaixo estão apenas alguns dos equipamentos comercializados por elas.

 

Crédito: Divulgação Agmaq
Crédito: Divulgação Agmaq

Max (Agmaq)
– Modelo vertical. Estrutura das áreas de lavagem e secagem são de aço inox;

– Caixa de água com resistência termoelétrica de 6 mil W para água quente;

– Área de secagem com duas facas de sopro em diagonal, também de aço inox.

 

Crédito: Divulgação Glassmaq
Crédito: Divulgação Glassmaq

AWWD-H1600 (Luoyang Allwin Machinery, representada pela Glassmaq no Brasil)
– Modelo horizontal. Ideal para empresas com produção de pequeno porte;

– Sistema de transporte com roletes de borracha, próprio para ser acoplado em linha com outras máquinas;

– Tanque de aço inox para reúso da água.

 

Crédito: Divulgação GR Gusmão
Crédito: Divulgação GR Gusmão

Open Top (Lovetro, representada pela GR Gusmão)
– Modelo vertical. Indicado para empresas de pequeno e médio portes;

– Sistema de lavagem com quatro escovas (2+2), fabricadas com nylon 6.6;

– Ajuste automático da espessura dos vidros a serem lavados (de 3 a 10 mm).

 

Crédito: Divulgação GlassParts Divulgação Intermac/Enkong
Crédito: Divulgação GlassParts Divulgação Intermac/Enkong

Aqua Series (Intermac)
– Linha de lavadoras verticais. Disponíveis em três dimensões diferentes, podem ser combinadas para o trabalho em grandes peças;

– Sistema de pré-lavagem extrai cerca de 80% dos resíduos acumulados no vidro;

– Sistema de rolos e escovas posicionado na parte superior facilita a manutenção.

 

Crédito: Divulgação Lisec
Crédito: Divulgação Lisec

VHW-F33/V6 (Lisec)
– Modelo vertical. Voltado para vidros jumbos, pode ser usado em linha ou individualmente;

– Sistema de pré-lavagem, ideal para insulados;

– Ventilador de alta pressão e bocal especialmente desenvolvido secam as chapas independentemente da velocidade de transporte.

 

Crédito: Divulgação Vetro Máquinas/SCV
Crédito: Divulgação Vetro Máquinas/SCV

WMH (SCV System, representada pela Vetro Máquinas)
– Modelo horizontal, equipado com sistema de quatro ou seis escovas;

– Trabalha em vidros com espessura de 3 a 20 mm;

– Sistema de pré-lavagem opcional, com tanque extra de água.

Crédito da imagem de abertura: Thiago Borges

Este texto foi originalmente publicado na edição 592 (abril de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Saiba qual o momento ideal para trocar sua lapidadora

A importância da lapidação para uma peça de vidro só é percebida quando ela está instalada. Seja em tampos de mesa, portas de boxes ou guarda-corpos, o acabamento das bordas ajuda na percepção de valor agregado ao nosso material. Mas isso só será possível se as lapidadoras estiverem em boas condições de uso.

O Vidroplano iniciou no mês passado uma série especial que ajudará as beneficiadoras em um dilema: quais são os sinais de que seus maquinários precisam ser trocados? Nossa redação contatou fabricantes para entender melhor o funcionamento desses equipamentos, além de conversar com um especialista no assunto. Este mês o tema é lapidadora – na sequência, passaremos pelos demais processos até chegar à têmpera, em maio.

Imagem: Amorim Leite
Imagem: Amorim Leite

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
– Fevereiro: Mesas de corte
MARÇO: LAPIDADORAS
– Abril: Lavadoras
– Maio: Fornos de têmpera

Boas práticas garantem bom desempenho
Assim como apontado no mês passado, na 1ª parte do especial, vale sempre reforçar a principal orientação de Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, para as processadoras interessadas em adquirir maquinários: características como tipo, tamanho, capacidade e acessórios dos equipamentos não devem estar de acordo com o porte da empresa, mas sim com o tipo de produção dela – ou seja, quais mercados ela atende, quais vidros produz.

Imagem: Amorim Leite
Imagem: Amorim Leite

Voltando às lapidadoras, a correta definição dos parâmetros técnicos do processo de lapidação está entre as principais questões em relação à conservação dessas máquinas. “A falta de calibragem e regulagens pode levar a desgastes, assim como a falta de um sistema de manutenção prescritiva (que analisa as condições de funcionamento da máquina) e preventiva (que busca estar próximo das condições de fábrica), sendo realizada apenas a chamada manutenção corretiva (consertar algo já quebrado), geralmente feita de forma emergencial e onerosa para a empresa”, explica Cláudio, reconhecido como uma das maiores autoridades em transformação de vidro em nosso país.

Uma ação muito danosa é acelerar o trabalho das lapidadoras sem atender os pressupostos acima, como se isso pudesse resolver problemas no desempenho causados por mau uso. Cláudio alerta: “Aumentar a velocidade, sem atuar primeiro nos demais problemas, apenas faz aumentar as perdas, o retrabalho e as quebras, além, claro, da degradação dos componentes”.

Para evitar tudo isso, a processadora precisa investir tempo para a criação de procedimentos operacionais padrão – a serem seguidos durante todas as etapas do beneficiamento – e também de um sistema profissional de gestão industrial. Somente assim será possível atingir boa performance e preservar os bens ao mesmo tempo.

Comprar nova ou reformar a antiga?
A obsolescência dos componentes é um dos primeiros fatores a serem levados em conta – apesar de lapidadoras serem equipamentos robustos, como afirma Ricardo Costa, diretor-comercial da GlassParts: “Geralmente essas máquinas têm vida útil muito boa, mesmo sendo muito exigidas na produção. Mas, para isso se tornar realidade, é necessário realizar as devidas manutenções e ter os devidos cuidados”.

E mesmo se alguma peça estiver avariada, a reforma surge como opção válida. “Quando a máquina tem poucos anos de existência, o upgrade deve ser suficiente. Porém, equipamentos mais antigos podem não ser compatíveis com tecnologias recentes”, aponta Mauro Faccio, gerente-regional de Vendas da Bottero. Os componentes mecânicos de uma lapidadora duram mais tempo do que os eletrônicos. Sistemas operacionais e softwares, por exemplo, têm ciclo de vida menor e precisam ser atualizados mais vezes.

Na prática, as máquinas duram bastante tempo. “Em se tratando da obsolescência tecnológica no mercado vidreiro, ela ocorre em um período relativamente maior do que em outros setores”, explica Cláudio Lúcio. O problema, como já mostrado, está nas boas práticas de uso. “A conservação tem papel importante: como mencionado, a ausência de preservação obriga o empresário a trocar seus equipamentos em curto prazo, de três a cinco anos”. Caso sejam cuidados corretamente, podem passar bastante desse tempo.

Imagem: Thiago Borges
Imagem: Thiago Borges

Avaliando a lapidadora
Reformar a lapidadora é muito melhor do que perder pedidos e dinheiro. Ricardo Costa, da GlassParts, reforça: “Observamos por diversas vezes clientes com equipamento parado justamente por falta de peças ou devido ao custo alto de manutenção”.

Alguns tópicos devem ser analisados para se saber a real necessidade de reforma ou troca da lapidadora, incluindo a disponibilidade de peças sobressalentes e de atualizações para softwares por parte das fabricantes dos equipamentos, além de outros aspectos, como a otimização das interfaces de controle. “Caso não se possa garantir isso, as processadoras deveriam considerar a aquisição de um equipamento novo”, indica Giorgio Martorell, gerente de Vendas da Lisec para a América Latina.

Imagem: Amorim Leite
Imagem: Amorim Leite

São vários os cenários nos quais trocar peças não basta, sendo preciso adquirir um maquinário novo em folha. “A maior necessidade de compra está ligada ao aumento de produção”, comenta Mauro Faccio, da Bottero. Para Silvia Villa, do Departamento de Marketing da Schiatti Angelo, empresa representada no Brasil pela GR Gusmão, a processadora deve se questionar a respeito do modelo ideal. “Uma pergunta a ser feita é: ‘quero uma máquina com a mesma performance da atual ou uma que entregue mais produtividade?’” Tudo vai depender do tipo de produção, como já comentado anteriormente. No fim, é importante ouvir uma dica preciosa de Silvia: “É tempo de pensar em uma nova máquina quando a sua não é mais uma fonte de renda, mas sim um custo”.

Critérios para escolher um modelo
De acordo com as fontes consultadas para esta reportagem, aqui estão alguns pontos de relevância no momento de pesquisar as opções oferecidas no mercado:

– Capacidade de integração com os demais processos;

– Flexibilidade do setup entre as peças. “As novas lapidadoras podem trabalhar com vidros de espessuras e formatos diferentes, realizando setups individuais automáticos entre cada peça, sem precisar de trocas de ferramentas nem ajustes manuais”, aponta Giorgio Martorell, da Lisec;

– Necessidade de trabalhar com vidros modelados – nesse caso, uma lapidadora vertical seria uma boa escolha;

– O tamanho dos vidros a serem produzidos;

– A economia de mão de obra gerada com a máquina nova;

– Tipo de acabamento de borda – isso irá variar de acordo com o cliente, pois vidros aparentes precisam de polimento, já os encaixilhados necessitam da chamada “lapidação industrial”;

– Como é o serviço técnico e o suporte remoto oferecido pela fabricante.

Tecnologias imprescindíveis
Atualmente, encontram-se linhas enormes de lapidação, equipadas com robôs para a movimentação do vidro – o que praticamente dispensa o contato humano com nosso material durante o beneficiamento. Embora nem todas as processadoras precisem de soluções de grande porte como essa, existem tecnologias imprescindíveis para uma lapidadora moderna. Confira as principais:

– Carregamento e descarregamento automático;

– Identificação, separação e transferência para linhas dedicadas com ou sem furação/recorte (como linhas para peças de boxes de banheiros, por exemplo);

– Integração com sistemas de gestão (ERP);

– Sistema de compensação para administrar o desgaste dos rebolos;

– Ajuste automático da velocidade de trabalho de acordo com a espessura dos vidros, entre outras.

Retilínea ou bilateral?
As lapidadoras retilíneas verticais (que trabalham em um lado da peça por vez) e as bilaterais (dois lados simultaneamente) são os modelos mais comuns encontrados em processadoras brasileiras. Como escolher?

“Para a produção de vidros com formatos diferentes, e em pequenas quantidades, as linhas retilíneas verticais são as recomendadas”, opina Silvia Villa, da Schiatti Angelo. Já para a produção em série de peças com as mesmas dimensões, as bilaterais são a melhor escolha, sendo indicadas para vidros destinados ao setor moveleiro ou a grandes obras da construção civil. A produtividade é um fator essencial para os maquinários desse tipo.

Soluções do mercado
A seguir, conheça modelos oferecidos por alguns fabricantes de lapidadoras com atuação no Brasil. Todas as empresas citadas contam com soluções para diferentes tipos de produtividade (pequeno e grande porte). Abaixo estão apenas alguns dos equipamentos comercializados por elas.

 

Victralux (Bottero)
– Linha de retilíneas verticais composta por cinco modelos.

Display digital e monitor touch screen permitem regular com precisão a abertura das pinças e controlar constantemente a velocidade de lapidação;

– Guias e rolamentos das pinças protegidos por sistema de guarnições, que evita a infiltração da água de lapidação.

 

GP09/ZM9 (Enkong, distribuída pela GlassParts no Brasil)
– Retilínea vertical para nove rebolos do tipo copo;

– Trabalha vidros de 3 a 25 mm;

Design especial da seção de alimentação controla a quantidade desejada de remoção do vidro sem necessidade de ajustar cada rebolo individualmente.

 

KSD-A (Lisec)
– Linha vertical para trabalho em vidros jumbo (filete e lapidação industrial);

– Configuração flexível permite processar vidros de diferente espessura sem troca nem ajuste das ferramentas;

– Tecnologia LiTEC Slider reconhece e corrige quaisquer imperfeições na borda do vidro.

 

BFP 35 (Schiatti Angelo)
– Bilateral indicada para empresas de produção de tamanho médio a grande;

– Conta com sistema de ajuste independente dos rebolos diamantados e ajuste automático dos de polimento;

– Sistema de refrigeração a água em circuito fechado.

Este texto foi originalmente publicado na edição 591 (março de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Quando trocar sua mesa de corte?

Mesmo com as dificuldades geradas pela pandemia, o investimento em equipamentos não pode ser deixado de lado pelas processadoras brasileiras. No Panorama Abravidro 2021, 20% das empresas pretendiam fazer grandes investimentos nessa área ao longo do ano passado, o maior nível desse indicador dos últimos quatro anos. Afinal, mais cedo ou mais tarde chegará um momento em que as máquinas não funcionarão mais como antes – talvez por serem antigas e não terem as principais tecnologias disponíveis atualmente ou por não suportarem mais a demanda de produção da empresa. Então, o que fazer?

De fevereiro até maio, O Vidroplano trará uma série especial que ajudará as beneficiadoras neste dilema: como ficar atento aos sinais de que seus maquinários precisam ser trocados? Conversamos com fabricantes para entender melhor o funcionamento desses aparelhos, além de pegar dicas de um especialista no assunto. Este mês o tema é mesa de corte – na sequência passaremos pelos demais processos até chegar à têmpera.

Os temas da SÉRIE ESPECIAL
FEVEREIRO: MESAS DE CORTE
– Março: Lapidadoras
– Abril: Lavadoras
– Maio: Fornos de têmpera

Foco na eficiência
A busca por ganhos de produtividade e diminuição dos custos do processo fabril é ainda mais necessária num momento econômico de incertezas como o atual. Por isso, empresas que utilizam maquinários pesados — e as processadoras vidreiras estão entre elas — precisam estar atentas: seus equipamentos atendem as necessidades de seu planejamento? “O tipo, tamanho, capacidade e acessórios das máquinas devem ser compatibilizados não pelo tamanho da beneficiadora, mas, sim, pelo tipo de produção dela”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro reconhecido nacionalmente como uma das maiores autoridades do Brasil em transformação de vidro.

Para Cláudio, as empresas precisam levar em conta na montagem de suas plantas:

– Velocidade do sistema produtivo;

– Custos inerentes à operação;

– Nível de automação adotado;

– Resultados financeiros planejados.

E as mesas de corte?
Entrando de forma mais específica no tema deste mês de nosso especial, o diretor de Projetos da Agmaq, Joel Martins Dias, reforça a importância do corte na cadeia produtiva: “Devido à sequência do processo, esse equipamento se torna a máquina com maior prioridade dentro de qualquer empresa, independentemente do segmento em que atue”. Afinal, esse é o processo que vai ditar como será o fluxo de produção – se algo de errado acontece nesse momento, o impacto será sentido ao longo de todo o sistema. “Um corte eficiente evita gargalos que podem desacelerar o ritmo, principalmente em períodos de pico de demanda”, alerta Giovanni Quarti, gerente de Área da Forel para a América Latina. “Quando os profissionais vidreiros percebem que não podem mais alimentar adequadamente suas linhas de processamento e deveriam renovar sua tecnologia de corte, já é tarde: tinham de ter pensado nisso antes.”

Segundo o gerente de Área de Produto da Intermac, Luca Ronch, máquinas de corte que funcionam sem água, como é o caso das mesas, têm o nível de manutenção relativamente baixo. “Elas podem durar muito tempo mantendo o desempenho quase inalterado”, afirma. Como indica Giorgio Martorell, gerente de Vendas da Lisec para a América Latina, os componentes de uma mesa podem ser divididos em três grupos: mecânicos, elétricos e eletrônicos (softwares). “Em termos gerais, os componentes mecânicos podem ser usados por mais tempo do que os eletrônicos. Os sistemas operacionais e demais softwares contam com um ciclo de vida mais curto”, alerta.

Ricardo Costa, diretor comercial da GlassParts, aponta uma das consequências do uso prolongado: “Por ser um equipamento muito exigido, acaba sofrendo um desgaste natural que muitas vezes se reflete na perda de precisão, deixando as peças trabalhadas fora das tolerâncias mínimas”. Sua empresa disponibiliza carregadores automáticos para as mesas, com duas, quatro ou seis estações de carga, integrando-se a diferentes modelos de mesas.

Existem duas opções quando a empresa percebe que a mesa está obsoleta: promover uma reforma nela ou adquirir uma nova. “Se a máquina foi usada por até três anos, um upgrade deve ser suficiente. Máquinas mais antigas podem não ser compatíveis com tecnologias mais recentes e, nesse caso, a compra de uma nova tende a ser a melhor escolha”, revela Mauro Faccio, gerente-regional de Vendas da Bottero.

Atenção à reforma!
Pode parecer óbvio, porém a reforma de uma mesa de corte não é algo a ser feito por qualquer um. “Se o cliente decidir recondicionar a máquina, o importante é confiar o serviço a técnicos especializados, que assegurem que as peças utilizadas sejam originais”, recomenda Mauro Faccio, da Bottero. A maioria (se não todas) as fabricantes desses maquinários oferece serviços de manutenção nesse sentido. Portanto, consulte o fornecedor antes de deixar alguém sem a qualificação necessária mexer nos aparelhos.

Como avaliar a mesa
De acordo com as fontes consultadas por nossa reportagem, existem alguns pontos a serem levados em conta na hora de avaliar se uma mesa ainda pode ser usada:

– É possível substituir partes mecânicas?

– A fabricante oferece peças sobressalentes?

– É possível atualizar os softwares?

– É possível atualizar as interfaces de controle?

Caso seja impossível garantir isso tudo, a processadora deve considerar a aquisição de um novo equipamento. Yveraldo Gusmão, diretor da GR Gusmão, representante da Macotec em nosso país, tem uma dica valiosa: “Verifique periodicamente se houve mudanças e atualização nos softwares das mesas”. E como indica Joel Martins Dias, da Agmaq, é preciso atenção também caso o fabricante não atue no Brasil ou, em casos extremos, não exista mais – o que vai tornar o cumprimento dos tópicos acima muito mais difícil.

“Quando uma mesa de corte é operada de maneira adequada, sendo realizadas as devidas manutenções preventivas, são preservadas as condições necessárias para seu funcionamento”, aconselha Cláudio Lúcio. Vale reforçar: equipamentos desse porte devem ser utilizados de acordo com as condições indicadas por seus fabricantes. “Dessa forma, os níveis de degradação compulsória e natural são fortemente minimizados.”

Imagem: Thiago Borges
Imagem: Thiago Borges

 

Mas, afinal, quando trocar?
Esgotadas as opções de reforma, Cláudio Lúcio indica duas situações nas quais uma nova máquina é necessária:

– Caso esteja obsoleta em relação a alguma tecnologia oferecida por equipamentos mais modernos, de forma a atender alguma demanda;

– Quando o nível de produção aumenta além do limite da capacidade da mesa atual.

Rodrigo Duarte, representante comercial da espanhola Turomas no Brasil, comenta a importância de se analisar o desempenho dos maquinários nesse momento: “Pode-se fazer um relatório que contenha vários dados, como, por exemplo, a quantidade de vezes de parada para manutenção corretiva e preventiva, os custos de manutenção ao longo de pelo menos os últimos cinco anos e o impacto de perdas e atrasos em cada parada do equipamento. Com base nos números, é possível avaliar se existe ou não a necessidade de uma nova aquisição”.

Como escolher uma mesa nova
Observar os movimentos da demanda por vidros é bastante importante nesse momento. “Verificamos que a arquitetura vem aumentando os tamanhos de chapas de vidro usados em edificações. Sendo assim, é necessário ter atenção a essas tendências, incluindo a questão dos modelos de dimensão de corte, para não acontecer de comprar um equipamento e logo ficar desatualizado”, analisa Gusmão.

Na questão técnica dos maquinários, fique de olho nos seguintes tópicos, segundo Giorgio Martorell, da Lisec:

– Velocidade máxima de corte;

– Produtividade de corte por hora. Em média, uma mesa de corte de última geração corta um vidro a cada 12 segundos. Com etiquetadora automática, pode-se considerar de 14 a 16 segundos por peça;

– Tolerâncias do corte (o nível aceito pelo mercado é de 0,1 a 0,2 mm por metro linear);

– Nível de automação (desde a alimentação até o destaque) e possibilidade de integrar a mesa a outros processos do beneficiamento;

– Disponibilidade de suporte técnico e remoto.

Existem ainda algumas especificações preferíveis caso a linha seja para monolíticos ou laminados, conforme explica Luca Ronch, da Intermac. “As principais opções em relação às chapas monolíticas são certamente a remoção da camada de baixa emissividade em vidros low-e e a impressão de etiquetas. Outro dispositivo muito útil é o trocador automático de ferramentas, evitando a parada para troca de rodízio”, afirma. Quanto às linhas de laminados, a capacidade dos operadores deve ser considerada para saber se é necessária uma configuração mais ou menos automática, tendo em conta o tipo de produção da processadora. “A rotação automática de peças grandes é importante, pois as de dimensões menores podem ser gerenciadas manualmente pelo operador.”

Ainda sobre laminados, existe uma solução diferenciada para eles hoje em dia: linhas verticais. “Essa tecnologia permite aumentar drasticamente a produtividade por meio de duas pontes de corte independentes que operam simultaneamente. E também ocupa pouco espaço, pois é maior na altura do que na largura”, afirma Giovanni Quarti, da Forel. “Além disso, é uma maneira inteligente de manusear as chapas tamanho jumbo.”

Rodrigo Duarte, da Turomas, comenta mais um fator que não pode ser deixado de lado: a otimização de espaço. “A automação em sistemas de carga, posicionamento e evacuação do vidro economiza espaços que podem ser mais bem utilizados para outros fins, evitando perdas no processo”, analisa.

As principais tecnologias disponíveis
Confira o que as mesas de corte modernas podem oferecer a seus usuários:

– Carregamento automático, muitas vezes ligado a sistemas de armazém inteligente;

– Etiquetagem automática, seja na mesma ponte de corte ou numa ponte separada, para maior produtividade;

– Marcação a laser, sistema mais atual adotado no lugar das etiquetas. Minimiza o risco de elas desgrudarem das chapas ao passar pelas lavadoras;

– Sistema de lixamento de bordo para vidro com camada metalizada (low-e);

– Destaque automático;

– Sistemas de acionamento linear. Funcionam com ímãs, sem fricção mecânica, necessitando de menos manutenção do que os sistemas com cremalheiras;

– Escovas de limpeza, acionadas para tirar o excesso de pó das chapas antes do corte, facilitando a colagem das etiquetas.

Soluções do mercado
Conheça a seguir modelos oferecidos por alguns fabricantes de mesas de corte com atuação no Brasil. Todas as empresas citadas contam com soluções para diferentes tipos de produtividade (pequeno e grande porte). Abaixo estão apenas alguns dos equipamentos comercializados por elas.

 

especial-agmaq
Imagem: Divulgação

 

Standart (Agmaq)
– Equipada com sistema de pressão do cabeçote de corte e sistema de esquadrejamento mecânico e eletrônico;

– System Quick Change, sistema de troca de peças automática sem necessidade de ajustes por instrumentos;

– Pode trabalhar em vidros jumbo (6,20 x 3,20 m).

 

especia-bottero
Imagem: Divulgação

 

548LAM (Bottero)
– Voltada para laminados, possui sistema de aquecimento do PVB, para facilitar o corte e destaque das chapas, que consome menos energia elétrica;

– Rotação e posicionamento automático das peças;

– Sistema de movimentação pneumático, com distribuição de pressão ajustável para diminuir a tensão na superfície do vidro.

 

especial-forel
Imagem: Divulgação

 

Vertical Cutting Line (Forel)
– Linha de laminados voltada para empresas de grande produtividade, composta por duas pontes de corte independentes;

– Pode ser combinada com um seletor de estoque automático;

– Para a descarga das peças, pode incluir mesa basculante com elementos de aquecimento para operação manual.

 

especial-intermac
Imagem: Divulgação

 

Genius RS-A (Intermac)
– Também indicada para espaços compactos, trabalha com vidro monolítico;

– Conta com interface universal integrada OTD (Optimiser Transfering Data) que define automaticamente os parâmetros de corte;

– Pode ser combinada com uma Genius 37 LM (para laminados), formando uma pequena linha chamada Genius DUO RS-37.

 

especial-lisec
Imagem: Divulgação

 

SprintCut (Lisec)
– Oferece grande produtividade, com velocidade máxima de, aproximadamente, 310 m/min;

– Tem número reduzido de partes móveis, o que ajuda na baixa manutenção;

– O novo controle de pressão de desbaste faz a operação ser mais fácil para empresas que trabalham com vidros de diversos tipos de revestimento.

 

especial-macotec
Imagem: Divulgação

 

Master Shape 3.7 FR (Macotec)
– Possui tamanho compacto, sendo indicada para empresas com produção de tamanho menor;

– Trabalha em monolíticos com espessuras de 3 a 19 mm;

– Pode ser equipada com removedor de camada metálica para vidros low-e, etiquetadora automática e seletor automático de ferramentas.

 

especial-turomas
Imagem: Divulgação

 

LAM 304 (Turomas)
– Própria para laminados de até 10 + 10 mm de espessura;

– Com design estrutural robusto, conta com colchão de ar otimizado e regulação automática da pressão de corte;

– Tem também sistema mecânico de posicionamento e menu sequencial de operações.

 

Crédito da imagem: Flávio Jalapeño /Jalapeño Comunicação /Divinal Vidros

Este texto foi originalmente publicado na edição 590 (fevereiro de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Conheça vidros de controle solar para residências

Com a crise de abastecimento energético em curso e o verão, época de maior consumo de eletricidade, chegando em breve, a preocupação com a conta da luz aumenta. Indústrias geralmente apostam em sistemas modernos para gastar menos esse insumo, mas residências também têm soluções para a situação. Além das fontes de energia alternativas como a solar, cujos painéis são produtofeitos com nosso material –, uma opção essencial para a época atual são os vidros de controle solar, especialmente os voltados para o segmento residencial. Disponíveis no mercado há alguns anos, são uma ótima possibilidade de negócios para ser explorada pelas empresas do setor.

O Vidroplano conversou com fabricantes do produto, especialistas e arquitetos para conhecer suas aplicações na arquitetura e também o que fazer para aumentar ainda mais o alcance do material aos consumidores.

 

Casa com Vivix Performa Duo Cinza: dependendo da tipologia, esses vidros podem garantir não só o bloqueio do calor, mas também maior entrada de luz graças à transparência das chapas, superior à encontrada em alguns produtos direcionados à arquitetura comercial

 

Aceitação do público
Já se vão quase dez anos do lançamento da primeira linha de vidros de controle solar para residências – a Habitat, da Cebrace, apresentada ao segmento em 2012. De lá para cá, o conforto térmico e a eficiência energética se tornaram temas básicos em qualquer grande projeto arquitetônico. Mas e nas casas e prédios projetados para moradia, isso também ocorreu?

“Vejo que há uma boa aceitação no mercado. Finalmente, os projetistas começam a enxergar o vidro de controle solar como uma solução mais sensata em obras novas, no lugar da tradicional aplicação de películas após a construção”, aponta o engenheiro Fernando Simon Westphal, consultor técnico da Abividro e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “É importante salientar que muitos empreendimentos residenciais exigem vidros menos refletivos do que os comerciais, pois dispõem de áreas menores de janela. Em muitos casos, os vidros mais transparentes, com menos reflexão, são mais adequados, permitindo maior aproveitamento da luz natural.”

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Patrícia Spinosa, gerente da Rede Habitat da Cebrace, comenta que seus produtos estão instalados em milhões de m² de obras pelo País, comprovando a maior exigência dos consumidores apontada pelo professor Westphal. “Claro, há muito a ser explorado em termos de conhecimento e disseminação de informações sobre esse vidro com tecnologia diferenciada, mas a Cebrace trabalha nesse sentido por meio de treinamentos com especificadores, pontos de venda e comunicação digital”, explica Patrícia.

Segundo a arquiteta Cláudia Guimarães, do escritório mineiro Dávila Arquitetura, o crescente uso dos vidros de controle solar teve como principal marco a publicação, em 2013, da norma técnica ABNT NBR 15575 — Edificações habitacionais – Desempenho. “Esse vidro tornou-se uma das maneiras de garantir o atendimento dos níveis de conforto térmico e lumínico exigidos pelo documento. Em sua maioria, nossos clientes são construtoras e entre as quais existe a conscientização da necessidade da aplicação desse material”, comenta.

 

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Na mostra de decoração Campinas Decor deste ano, a designer de interiores Vani Mazoni usou SunLight, da Guardian, em seu Espaço Conexão. O material foi empregado em uma janela com incidência do Sol, de forma a oferecer conforto térmico aos visitantes que passavam pelo ambiente

 

O que muda?
Além das estratégias comerciais para alcançar o consumidor residencial, existem diferenças entre essas linhas e as de controle solar “tradicionais”? Viviane Sequetin, gerente de Marketing da Guardian, explica: “Para o desenvolvimento dos produtos, são definidos os principais atributos necessários especificamente para atender as necessidades e tendências do setor residencial, incluindo o bem-estar dos usuários, com foco no conforto e buscando a combinação ideal entre entrada de luz e bloqueio de calor”. De forma geral, ela aponta, as linhas contam com vidros neutros, os quais oferecem alta transmissão luminosa e baixa reflexão interna e externa – a combinação ideal para residências.

Portanto, a diferença está nas especificações técnicas. O processo de produção é o mesmo de outros vidros com revestimento, sendo dividido em dois tipos: online ou offline. No online, os materiais metálicos que compõem a camada de proteção solar são depositados em uma das faces da chapa na própria linha de produção do float, como explica Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix: “Pelo fato de a peça ainda estar quente, esses materiais se fundem a ela, fazendo com que a camada adquira a mesma resistência mecânica do vidro”. Já no offline, essa etapa se dá em uma linha independente, própria para isso, utilizando um equipamento à vácuo chamado coater.

“O maior desafio está no entendimento das demandas desse mercado”, afirma Patrícia Spinosa, da Cebrace. “Como vivemos em um país tropical, com alta incidência solar, para termos integração de espaços dentro de casa sem abrir mão do conforto, esse vidro é o melhor aliado.”

E o apelo pelo item não vem apenas de sua característica principal, como argumenta Westphal: “Muitos guarda-corpos são executados com vidros de controle solar laminados por questões estéticas. Com o tempo, o uso naturalmente vai se expandindo para as janelas de dormitórios e salas, à medida que se aumenta a demanda e há redução no preço dos produtos”. A tendência da aplicação de laminados para melhorar o desempenho acústico das esquadrias pode facilitar a utilização de um vidro de controle solar nessa composição. “No caso, o incremento no custo fica muito menor do que comparado a uma situação original com vidro monolítico”, exemplifica o professor.

 

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Em vãos que recebem diretamente luz natural ao longo do dia, o vidro de controle solar ajuda na preservação dos móveis e demais objetos no interior da residência, principalmente itens estofados, com maior tendência para desbotar e perder a cor original

 

Dinheiro no bolso
A economia trazida pelos vidros de controle solar se dá em várias frentes. “A primeira, e mais óbvia, por permitir a entrada de luz natural ao longo do dia, o que reduzirá a necessidade de luz artificial. A segunda, por reduzir a utilização de equipamentos para climatizar o ambiente interno, como ar-condicionado, climatizadores e ventiladores”, reforça Luiz Barbosa, da Vivix. “Diante dos aumentos sucessivos da tarifa de energia, é imprescindível que o consumidor adote medidas para garantir o consumo racional”, reforça Viviane, da Guardian. De acordo com ela, os vidros de controle solar podem reduzir em até 75% a entrada de calor em uma casa – dependendo da tipologia do produto.

Na prática, isso pode ser confirmado? Segundo Westphal, em estudo recente do qual participou, feito por simulação computacional para um apartamento de três dormitórios em São Paulo, o uso desse material conseguiria reduzir o consumo de energia em climatização em cerca de 25%. Isso demonstra a eficácia da solução além da teoria.

E os benefícios não ficam restritos à economia na conta no fim do mês. “À parte do conforto ambiental, devemos pensar também em benefícios para a saúde, uma vez que os raios UV são prejudiciais ao corpo humano — e esses produtos são capazes de barrar boa parte deles para fora das edificações”, alerta a arquiteta Cláudia Guimarães.

Portanto, da próxima vez que pensar em uma casa confortável, lembre-se de que os vidros de controle solar podem exercer papel fundamental para o aconchego do lar.

 

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Em Brasília, o residencial Via Ômega, projetado pelo escritório Dávila Arquitetura, ganhou design modernista, com marquises no térreo e painéis de azulejos nas áreas comuns. Na fachada, panos de vidros de controle solar com o objetivo de amenizar o forte calor da capital brasileira

 

As soluções disponíveis
Confira alguns dos materiais indicados para aplicação em residências:

Habitat
Pensada exclusivamente para o clima brasileiro, a linha da Cebrace foi a pioneira no País a ser desenvolvida a partir da necessidade de conforto térmico e estético para esse tipo de construção. Bloqueia quase 100% dos raios ultravioleta (UV), protegendo móveis do desbotamento precoce.

ClimaGuard SunLight
Com capacidade de bloquear duas vezes mais calor do que um vidro comum, o vidro da Guardian permite a entrada adequada de luz solar, evitando o efeito de ofuscamento no ambiente interno.

Vivix Performa
Lançada há pouco mais de três anos, também é um produto exclusivo para o clima nacional, embora não seja direcionado apenas para o segmento residencial. Barra a entrada de até 65% da radiação solar direta incidente.

Este texto foi originalmente publicado na edição 586 (outubro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Conheça mais sobre vidros serigrafados

Desde o momento em que passar mais tempo em casa por conta da pandemia virou o “novo normal”, O Vidroplano vem chamando a atenção para as possibilidades abertas para nosso material. Na busca por residências e ambientes de trabalho mais confortáveis, integrados e seguros, o vidro apresenta-se como a aposta certeira para arquitetos, designers e decoradores de interiores.

Este mês a revista conversou com fabricantes de maquinários e processadoras com o objetivo de expor a situação atual de um produto que se encaixa nesse conceito de versatilidade, oferecendo as mais diversas possibilidades de aplicação: os vidros serigrafados. Nas próximas páginas, entenda como é o trabalho com eles e conheça as tendências atuais, assim como a situação do mercado desses itens.

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Conceito
Serigrafia é o termo usado para se referir às diversas técnicas de pintura e impressão de imagens ou padrões em peças de vidro. Para trabalhos envolvendo construção civil e decoração, as mais usadas são:

Telas: a mais simples e antiga de todas. Aplica-se a tinta por meio de uma tela de tecido sintético. Pode ser manual, com um operador responsável por espalhar a tinta usando uma espécie de rodo, ou automática. Com ela, é possível criar formas e desenhos de mais de uma cor;

Digital: feita por impressoras que espalham microgotas de tinta sobre a superfície do vidro. É o processo mais tecnológico existente, pois pode imprimir imagens em alta resolução e reproduzir texturas com fidelidade, além de, dependendo do tipo de maquinário, ser totalmente automatizado;

Pintura com rolo: um sistema automático de cilindros espalha a tinta de forma contínua sobre uma das faces da chapa. Indicado para aplicações chapadas e monocromáticas;

Sistema de pistolas: um operador manuseia uma pistola, ligada a um compressor de ar, para pintar as peças. Também é indicado para aplicações chapadas e monocromáticas.

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Em crescimento?
De acordo com as fontes consultadas para esta reportagem, a demanda por vidros serigrafados vem crescendo nos últimos anos – e pode aumentar mais ainda, dadas as novas tendências surgidas com a pandemia. “Houve uma crescente e significativa procura pelo conhecimento da tecnologia e pela aplicação, tanto para os serigrafados comuns como para a impressão digital”, analisa Márcio Marcon Takara, consultor técnico comercial da processadora Brazilglass.

A demanda por esses produtos em nosso país e também no continente é atestada pelas empresas que atuam no setor. “A América do Sul é mais impactada por esses vidros do que a América do Norte, especialmente no setor de arquitetura”, comenta Yariv Ninyo, gerente de Desenvolvimento de Negócios da israelense Dip-Tech, empresa que pertence ao grupo estadunidense Ferro. “No Brasil, esse mercado é muito ativo no segmento automotivo e, em geral, nossos clientes não estão passando por um momento de desaceleração.”

No entanto, assim como em relação a outras soluções de valor agregado, o conhecimento sobre as características e benefícios dos materiais precisa chegar aos potenciais consumidores. Somente assim seu uso terá crescimento constante. “Infelizmente, o produto ainda é desconhecido por alguns arquitetos, justamente nosso público-alvo”, revela Hugo Taboas, gerente-geral da beneficiadora Saint-Germain Vidros. “Mesmo assim, o fato de termos realizado obras importantes junto a parceiros nos últimos tempos, como o VLT Carioca e o Cine Leblon, no Rio de Janeiro, nos dá uma boa perspectiva para o futuro.”

Tendências contemporâneas
Takara menciona que há maior procura, por parte de arquitetos, de vidros impressos digitalmente, inclusive para estruturas de grande porte como fachadas. “Já para a decoração interna, designers de móveis gostam de impressão e de peças pintadas a rolo, cuja aplicação deixa o ambiente muito mais charmoso e sofisticado, porém leve e agradável, conforme o desejo do cliente.”

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Artistas plásticos também se interessam pela impressão, pois podem reproduzir seus trabalhos em chapas de nosso material, garantindo que os detalhes das obras sejam bem definidos, graças à alta resolução das imagens. “Estamos desenvolvendo novos projetos em conjunto com esses profissionais. O resultado de um deles faz parte da 34ª Bienal de São Paulo”, revela. A obra à qual Takara faz referência, criada pela artista plástica Regina Silveira, é um labirinto de placas envidraçadas “furadas” por tiros, mas que, na verdade, ganharam um padrão impresso que simula vidros estilhaçados. A instalação é uma crítica à violência sufocante das metrópoles.

Para a processadora Speed Temper, o futuro está exatamente nos vidros com impressão. Mesmo assim, outras técnicas continuam fazendo sucesso. “Os serigrafados com tela também seguem em alta, principalmente as chapas na cor branca”, aponta Camilo Poltronieri Pereira da Silva, operador dos maquinários de serigrafia da empresa. A busca pela estética clean e sóbria parece estar por trás desse movimento.

Em âmbito mundial, a principal tendência não está na aplicação em si, mas no processo produtivo. Ninyo, da Dip-Tech, acredita que o setor de beneficiamento de vidro está no caminho certo para colocar a impressão digital dentro das grandes linhas de produção. Para ele, a serigrafia pode se tornar, em breve, uma parte integrada do portfólio de produtos das empresas, não mais uma solução tratada como algo separado. “Como o impacto da Covid-19 ainda é sentido na maioria das regiões, a decisão de investimento em máquinas é lenta; porém, o interesse de nossos clientes e possíveis compradores por tecnologia ainda é alto.”

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Desafios no processamento
Para os interessados em trabalhar com serigrafia, vale ficar de olho em algumas necessidades básicas para a produção. Os vidros extra clear, com baixo teor de ferro, são menos “esverdeados” do que o float comum – por isso, são uma opção para garantir máxima fidelidade às cores escolhidas pelo cliente, já que não altera a tonalidade da tinta aplicada.

De forma a garantir a qualidade final dos produtos, o ambiente da processadora precisa estar controlado em relação a:

– Temperatura;

– Pressão;

– Umidade relativa do ar; e

– Higienização.

“Como o material é sensível, a limpeza é fundamental no processo”, explica Taboas, da Saint-Germain Vidros. “Os desafios são grandes nesse sentido. O ideal é contar com uma sala limpa e uma lavadora que use água desmineralizada.” Conhecimento técnico para as aplicações também é necessário, seja para o manuseio dos equipamentos eletrônicos, como as impressoras, ou para a aplicação das técnicas manuais – no controle dos níveis de opacidade das tintas, por exemplo.

Uma grande questão durante o processo é como manter os mesmos tons das cores em peças diferentes. Segundo o instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, além de mão de obra qualificada e equipamentos adequados, deve-se fazer a serigrafia em vidros do mesmo fabricante – preferencialmente de um único lote de fabricação. É importante também aplicar a tinta do mesmo lado das chapas em todos os vidros, seja do lado “ar” ou do lado “estanho”.

Importante reforçar que, assim como para qualquer outra etapa do beneficiamento, a escolha das máquinas e impressoras deve sempre levar em conta a capacidade produtiva da empresa e o tipo de cliente que atende.

De olho no futuro
Como já comentado, a impressão em uma linha de produção única e contínua será cada vez mais comum nos próximos anos – tudo coordenado pelos conceitos da Indústria 4.0, permitindo a comunicação entre os equipamentos, assim como o controle em tempo real de diferentes parâmetros, como o consumo de tinta. Isso se tornará realidade à medida que as soluções em maquinários fiquem mais acessíveis a todos.

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As tintas também passam por mudanças: a nanotecnologia promete revolucionar a serigrafia, já que, de acordo com as fabricantes, tem melhor fixação no vidro. Mas o ponto principal para o futuro talvez seja a velocidade de trabalho. “As novas gerações de impressoras incorporam poderosos motores que garantem um processo mais rápido, sem comprometer a qualidade e confiabilidade”, comenta Ninyo, da Dip-Tech.

Qual o mercado para serigrafados?
Independentemente da técnica aplicada, esses vidros são usados nas mais diversas aplicações em diferentes setores:

Arquitetura e decoração de interiores: fachadas, divisórias, revestimentos de paredes, pisos, escadas etc.;

Moveleiro: tampos de mesa, portas de armários etc.;

Linha branca: cooktops, fornos, refrigeradores, micro-ondas etc.;

Automotivo: marcação de retículas e banda negra etc.

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Qualificação aprovada
A Especialização Técnica Abravidro tem um módulo de serigrafia focado em aprofundar a qualificação da empresa nessa área. Assim como os demais módulos do treinamento, esse é ministrado pelo instrutor técnico da Abravidro, Cláudio Lúcio da Silva, reconhecidamente um dos maiores especialistas do Brasil na área de transformação de vidros. Entre as disciplinas abordadas, estão:

– A serigrafia técnica do vidro

– O processo de serigrafia em vidro: tipos de pintura para vidro

– Elementos da serigrafia silk-screen

– A física no processo de impressão do vidro

– Parâmetros de processo

– Qualidade da serigrafia

– Rotina para resolução de problemas

Este texto foi originalmente publicado na edição 585 (setembro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Produtividade nas processadoras é importante

Como bem mostrou a edição 2021 do Panorama Abravidro, único estudo econômico do setor vidreiro nacional, o nível de produtividade das processadoras brasileiras cresceu 8,7% em 2020, alcançando o segundo melhor nível da série histórica desse índice. Mesmo com a pandemia, o segmento trabalhou de forma mais eficiente, principalmente por conta do aquecimento da construção civil no segundo semestre do ano passado. Porém, a situação desse indicador na cadeia de processamento está longe de ser a ideal. Como comentou Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, em reportagem de O Vidroplano de junho, ainda falta uma ação consciente para a melhoria da gestão do sistema produtivo de forma que esse crescimento atinja o mercado inteiro.

Por ser um tema tão relevante na indústria brasileira, ainda abalada pelos impactos da pandemia, a revista volta a falar sobre o assunto. A seguir, confira a importância de as empresas do vidro estarem atentas à questão e saiba como ferramentas digitais podem ajudar a tornar a produção mais efetiva.

Conceitos e comparações
Primeiro, vale analisar o assunto de forma mais ampla. O conceito não se limita a afirmar se uma empresa faz mais com menos recursos. Para o economista norte-americano Paul Krugman, é um indicador essencial no longo prazo para as economias, pois “a capacidade de um país elevar a qualidade de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a sua produção por trabalhador”.

Infelizmente, o Brasil não está nem perto dos líderes mundiais nesse quesito. De acordo com dados de 2019 da The Conference Board, entidade internacional de estudos econômicos, nosso nível de produtividade ocupa apenas o 78º lugar no ranking global – e o crescimento desse nível, desde a década de 1980, foi de somente 0,2% ao ano. Na média, quatro trabalhadores brasileiros produzem o mesmo valor que um trabalhador americano.

Para o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a questão passa pelo aumento da eficiência dos pequenos negócios, já que esses constituem mais de 90% das empresas nacionais. E como o mercado vidreiro é formado, em sua maioria, por companhias justamente desse porte, o assunto se torna ainda mais relevante.

Cálculo e desafios
Para o nosso setor, o indicador é medido de forma simples: divide-se o volume da produção em m² ao longo de um determinado período (dia, semana, mês, ano etc.) pelo número de colaboradores da empresa. Voltando ao Panorama, vê-se que, no ano passado, o número chegou a 174,6 m² por mês/funcionário, um aumento de quase 15 m² em relação a 2019 – o que foi na contramão do movimento geral da indústria de transformação brasileira como um todo, que apresentou queda durante a pandemia.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que esse índice recuou 0,6% na comparação de 2020 com 2019. E 2021 também não começou com boas notícias: o estudo Produtividade na indústria revela que o primeiro trimestre registrou queda de 2,5% na comparação com o último trimestre do ano passado. Além disso, as empresas tiveram mais horas trabalhadas (aumento de 1,9%) para produzir menos. Entre os fatores que contribuíram para esse mau resultado estão a elevada incerteza gerada pela economia, os estoques ainda baixos, a alta dos custos e o aumento da escassez de insumos e matérias-primas. “São dificuldades que afetam a capacidade de planejamento das empresas de estabelecer o ritmo de produção”, afirma o documento da entidade.

No Blog do desenvolvimento, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o artigo “Produtividade em questão: reflexões para a economia brasileira” comenta dois fatores que influenciam negativamente essa questão no País. O primeiro é a falta de abertura de nossa economia, fato que limita a possibilidade de obter novas técnicas e insumos de melhor qualidade do exterior. Na sequência, vem a falta da capacidade, por parte da maioria das empresas brasileiras, de realizar investimentos para permitir a implementação de novas técnicas e processos. A consequência disso é uma economia pouco dinâmica na qual as companhias mais produtivas têm dificuldade em se expandir.

Na prática
E o que muda no dia a dia da processadora vidreira quando se mede a produtividade? Para Cláudio Lúcio, o conhecimento certo sobre a produção permite a aplicação de adequadas ações de correção, resultando em:

– Forte redução dos custos;

– Capacidade de determinar a competitividade da empresa;

– Aumento da entrega de valor ao cliente;

– Capacidade de correlacionar vários indicadores gerenciais para a melhora de processos.

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“Uma empresa pode ocupar toda a sua disponibilidade de tempo e recursos humanos e materiais e, mesmo assim, ter uma eficiência ruim”, explica o instrutor técnico da Abravidro. Por isso, é importante esclarecer que produtividade é diferente de ociosidade – esta última diz respeito somente aos recursos não empregados. “Pode parecer óbvio, mas é pouco provável que uma empresa com baixa produtividade esteja bem. Por outro lado, é muito provável que uma com alta produtividade esteja em uma boa situação.”

O caminho mais adequado para que a empresa seja mais eficiente passa por entender a própria atuação. Assim, é preciso definir três situações:

O que produzir: para isso, deve-se realizar um planejamento estratégico, visando a conhecer as características dos mercados aos quais se atende. Uma ferramenta a ser usada nesse momento é o Key Performance Indicator (KPI), ou indicador-chave de performance, uma maneira de medir se um conjunto de iniciativas permitirá que a organização alcance os objetivos propostos;

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Quanto produzir: analisar e definir o portfólio de produtos adequado às demandas do mercado. Precisam ser levados em conta tópicos como mix de vendas, responsável pela proporção de cada produto vendido em relação ao faturamento total; budget, um orçamento estático relacionado às despesas da empresa; e forecast, um orçamento ajustado que acompanha as variações dos negócios;

Como produzir: envolve definições a respeito dos diferentes aspectos do processo produtivo, incluindo: layout de equipamentos; tecnologias e maquinários que estejam adequados ao tipo de produção da empresa; sistema de gestão profissional que integre todas as dimensões do negócio; tempo de atendimento ao cliente; e capacitação de toda a mão de obra – afinal, quem irá operacionalizar todos os itens citados serão pessoas — e elas precisam saber efetivamente o que estão fazendo.

Números para levar em conta
Como aponta Cláudio Lúcio, a produtividade ideal – que revela uma empresa saudável em relação à própria demanda e capacidade de produzir – varia de acordo com o tipo de cliente de cada companhia. Ao longo de sua carreira atuando em empresas vidreiras e como consultor, chegou a números que considera boas referências para o mercado.

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– O que seria uma boa produtividade?
Para empresas que atendem o mercado de engenharia e arquitetura, um bom indicador seria igual a ou acima de 310 m²/colaborador. Caso também tenham linha de fabricação de laminados, o nível deve ser igual a ou acima de 410 m², somadas as duas especialidades.

– O que seria uma má produtividade?
Para empresas que atendem o mercado de engenharia e arquitetura, o indicador igual a ou abaixo de 200 m²/colaborador pode indicar grande potencial de melhoria. Caso também tenham linha de fabricação de laminados, o nível seria igual a ou abaixo de 310 m², somadas as duas especialidades.

Como se vê, os 174,6 m²/colaborador que o Panorama Abravidro indicou como sendo o nível da indústria de transformação vidreira em 2020 mostram que, apesar de o índice estar em alta, ainda há muito a ser feito para subirmos no ranking internacional mencionado anteriormente.

O papel dos softwares
A melhor forma de medir o indicador é usando as informações geradas pelos sistemas de gestão informatizados e integrados – os chamados ERPs. “Como as processadoras lidam com muitas demandas específicas a cada pedido, de forma a atender a construção civil, indústria automotiva, linha branca ou moveleira, é praticamente impossível ter uma boa gestão sem um bom software”, comenta Carlos Santos, sócio-diretor da SF Informática, criadora do sistema Glasscontrol. “Seu uso permitirá identificar quando for alcançada a capacidade máxima em algum processo, além de oferecer a oportunidade de a gestão da empresa tomar decisões assertivas na hora certa para realizar novos investimentos”.

Como detalha Alexandre Gomes Nascimento, gerente-comercial da Softsystem, desenvolvedora do sistema Pegasus Corporate, os dados de produção são coletados nos diferentes pontos da fábrica e o custo de cada um deles é distribuído pela contabilidade. “Com o cruzamento dessas informações, é possível saber quanto do valor do material acabado é mão de obra, quanto é matéria-prima e quanto cada peça produzida absorveu de custo em cada etapa produtiva.” Assim, a processadora poderá identificar gastos excessivos e realizar melhorias nos processos, gastando cada vez menos recursos para produzir mais.

E vale a dica deixada por Cláudio Lúcio: os sistemas precisam integrar todos os setores da processadora. “Caso seja necessário utilizar um ERP paralelamente a um controle simples, por planilhas de Excel, para administrar seu negócio, a empresa não terá os benefícios de uma gestão eficaz e eficiente.”

A função dos maquinários
A eficiência produtiva está diretamente ligada às condições das máquinas usadas. Como reforça Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamérica, não se deve pensar apenas na velocidade de processamento: “Devemos tratar de um conceito mais amplo, cuidando de todas as variáveis que impactam essa questão. Por exemplo, a confiabilidade do equipamento, ou seja, sua condição para trabalhar sem apresentar problemas, evitando indesejáveis e intermináveis paradas para manutenção”, analisa. “A qualidade da peça produzida também conta, pois, quanto mais alta, menos irá gerar retrabalhos ou mesmo descartes. Em resumo, deve-se pensar sempre no tripé: velocidade, confiabilidade e qualidade.”

No artigo “Como o maquinário afeta a produtividade”, publicado no blog da Metso Outotec, empresa especializada em tecnologias sustentáveis para indústrias, é apontado que o grande vilão industrial é a baixa capacidade de entrega de resultados das máquinas. “Um equipamento muito antigo, desgastado ou que não passa pela manutenção preditiva e preventiva corretamente pode encontrar dificuldades de funcionamento. (…) O problema também pode ser fruto da tecnologia ultrapassada e inadequada aos parâmetros. Nessas situações, a substituição completa costuma ser a opção mais viável.”

Caminho para o crescimento
A melhora da produtividade vidreira é a rota ideal para o aumento da competitividade de nossas empresas, inclusive frente àquelas de outros países. O caminho é a profissionalização, com as companhias se capacitando para desenvolver uma gestão adequada e mais assertiva do sistema de entrega de valor. “Com empresas preparadas, é possível crescer exponencialmente em momentos como os em que vivemos”, opina Cláudio Lúcio. Por isso mesmo, o monitoramento desse indicador deve ser constante – isso irá ajudar as companhias a entender movimentos de mercado, sazonalidades e a própria capacidade de atender demandas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 584 (agosto de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Vidro traz vantagens para a área de decoração

Falar dos benefícios do vidro é rotina nas páginas de O Vidroplano: boa parte de nossas reportagens explora as oportunidades que o material oferece para a construção. E com os novos hábitos gerados por conta da pandemia, principalmente o fato de passarmos mais tempo em casa, demandando mais conforto e higiene desses espaços, o uso de nosso produto na decoração de interiores promete ser ainda mais forte. Assim, para ajudar processadores e vidraceiros a convencer clientes a investir ainda mais em soluções envidraçadas, conversamos com especialistas para saber: na comparação com outros materiais, como o vidro se sai?

A seguir, apresentamos as vantagens da utilização do material em relação à madeira, acrílico, porcelanato e pedras – e também como ele pode ser combinado com esses itens.

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Novos espaços para novas rotinas
Exatamente um ano atrás, na edição de julho de O Vidroplano, uma matéria especial comentou sobre as tendências da arquitetura para o momento pós-pandemia. A relação com a moradia será mais próxima: casas e apartamentos se transformarão em espaço multiuso, incluindo áreas verdes e locais voltados para o home office e até exercícios físicos. Ao mesmo tempo, escritórios deixarão de lado o confinamento em favor de espaços abertos.

“O trabalho em casa provavelmente veio para ficar, mesmo que não de forma integral, pois muitas empresas já falam em rotinas híbridas com dias da semana sendo cumpridos em casa e outros no escritório”, analisa a arquiteta Fernanda Quintas, supervisora de Marketing e Especificação Técnica da processadora PKO do Brasil. “Com isso, pedem-se ambientes mais iluminados, integrados e aconchegantes”.

Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado da divisão de Vidros para Construção Civil e Indústria da AGC, aponta como o vidro se diferencia de outros materiais para essas funções: “Suas propriedades de transparência e de fácil manutenção são fundamentais para esse cenário. Além disso, produtos com tecnologias que visam à saúde e à segurança das pessoas podem ser um diferencial”. A própria usina lançou recentemente um vidro tecnológico que permite a eliminação do vírus da Covid-19 (veja clicando aqui). E o papel do vidro para a saúde humana vai além do combate ao coronavírus. É importante para o conforto acústico, diminuindo a entrada de barulho que, em grande proporção, provoca estresse e doenças vasculares.

Para aproveitar essa oportunidade, que pode levar ao aumento do consumo de nosso material no País, é preciso que todo o mercado esteja preparado, como sugere Viviane Moscoso, gerente de Produto da Vivix. “Um dos fatores que ajudarão a fortalecer esse movimento é o amadurecimento do setor e dos profissionais que trabalham nele, com a utilização cada vez maior das normas técnicas vigentes e o investimento em treinamentos oferecidos pelas fábricas, buscando aprimoramento técnico e melhoria nos serviços oferecidos.”

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Escolha certeira
O vidro oferece dois benefícios que o destacam das demais matérias-primas – vantagens que dialogam com os tempos atuais de busca pela sustentabilidade e menor desperdício de recursos.

– Material reciclável — Não existe perda no seu processo de reciclagem. “O vidro é um material 100% reciclável. Na Vivix, nós reutilizamos cacos de vidros descartados durante o processo produtivo para a confecção de novas chapas, reduzindo assim o consumo de energia e também de matéria-prima”, explica Viviane. Além de ser um processo limpo, evita a poluição do meio ambiente;

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– Aproveitamento de espaço — O vidro consegue integrar ambientes ao mesmo tempo que os separa com segurança. Também garante maior amplitude a locais pequenos, principalmente na forma de espelho.

A designer de interiores Patrícia Kolanian Pasquini comenta a importância de os especificadores apresentarem essas e outras qualidades do produto aos potenciais consumidores. “Sempre que inicio um novo projeto, costumo me reunir com o cliente para saber de todas as suas necessidades e tentar passar para o papel o máximo do que ele deseja”, relata a profissional. “A maioria deles sempre me pede materiais que sejam práticos no dia a dia para manutenção e limpeza. E o vidro é uma escolha óbvia.”

Vale lembrar ainda que, por meio da impressão digital, o vidro pode imitar a textura de qualquer outro material – incluindo madeira, pedras, folhas etc. Mais um benefício único não encontrado em seus concorrentes. Portanto, vejamos quais as vantagens desse produto em relação aos demais.

Para que o maior uso de nosso material se confirme, é sempre importante reforçar: as informações sobre todas essas vantagens oferecidas por ele precisam chegar aos potenciais clientes. Assim, a escolha pelo vidro será um movimento natural.

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VIDRO X MADEIRA

VANTAGENS DE NOSSO MATERIAL
– Pouca manutenção — A limpeza do vidro é feita de forma simples, geralmente com água e sabão neutro. Já a madeira necessita de manutenção periódica para evitar a absorção de sujeiras e o aparecimento de manchas. Ela pode ainda ser atacada por cupins, o que obrigaria a troca de todo o material danificado, além de gastos com serviço de dedetização;

– Vida útil — Enquanto a madeira pode se deteriorar com o tempo, justamente por precisar dessa manutenção, o vidro não altera suas propriedades ao longo dos anos, sendo um produto de ótimo custo-benefício aos clientes;

– Estéticas diferenciadas — O aspecto estético do vidro pode mudar de acordo com o ambiente no qual é instalado, como afirma Viviane Sequetin, gerente de Marketing da Guardian para a América Latina: “Ele oferece transparência com ou sem reflexão, o que traz um toque especial a um móvel, por exemplo, pois a iluminação pode ser refletiva ou transmitida através dele”;

– Maior disponibilidade no mercado — Não existe madeira ilimitada à venda. “Ela sofre com a escassez, por conta das limitações de sua extração”, comenta César Cini, diretor-presidente da Cinex, empresa pioneira no uso de vidro em mobiliários no Brasil. Embora o vidro não seja fabricado infinitamente, sua produção não está submissa a legislações que restrinjam ou limitem sua produção e ao controle de organizações governamentais;

USO EM CONJUNTO
Além de substituí-la, o vidro também pode ser combinado à madeira para trazer diferentes texturas a um espaço. “Recomendo o uso de vidro incolor ou pintado sobre o tampo de madeira de uma mesa de jantar, ou de centro, para protegê-la. Isso traz brilho para o objeto, mudando totalmente o visual final da peça e deixando-a mais sofisticada”, sugere Patrícia Pasquini.

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EXEMPLOS DE APLICAÇÕES EM QUE O VIDRO PODE SUBSTITUIR A MADEIRA
– Revestimentos de superfície;

– Tampos de mesa e bancadas;

– Prateleiras;

– Portas externas e internas de armários e guarda-roupas (foto 3);

– Painéis de TV

especial-vidro-acrilicoVIDRO X ACRÍLICO

VANTAGENS DE NOSSO MATERIAL
– Custo-benefício — Algumas das fontes consultadas para esta reportagem consideram o acrílico um dos principais concorrentes do vidro na decoração de interiores. Isso porque sua transparência parece indicar que ele possui os mesmos atributos de uma peça envidraçada, mas custando mais barato. Na verdade, não é bem assim. O baixo custo do acrílico se dá apenas em chapas de espessuras finas – o que já o inviabiliza para o uso em divisórias, por exemplo. “Além disso, ele não é mais uma matéria-prima tão barata, pois é oriundo do petróleo e sofre pela alta do dólar. Em tempo de respeito ao planeta e sustentabilidade, usar um derivado de recursos fósseis é um contrassenso”, afirma César Cini, da Cinex;

– Segurança — O vidro é imbatível nesse quesito, já que aplicações de acrílico podem romper facilmente. “Os destaques, claro, são os laminados — que, quando quebram, ficam com os fragmentos presos a uma película — e os temperados, que se fragmentam em pedaços pequenos”, reforça Viviane Sequetin, da Guardian;

– Aspecto visual — “O acrílico é mais maleável e muito sensível a arranhões, os quais, se por ventura acontecerem, vão deixá-lo com aspecto fosco e sujo”, explica Viviane Sestari, diretora-comercial da processadora Marcetex. Somente o vidro consegue manter suas características ao longo do uso, como indica Ana De Lion, da AGC: “É um material que não amarela com o tempo, não envelhece e nem perde seu aspecto transparente. Também não retém sujeiras por não ser um material poroso”;

– Tecnologias — Os diferentes tipos de vidro (como os de controle solar, os com revestimento antibacteriano e antiviral etc.), assim como as diferentes especificações, garantem de isolamento térmico e acústico a maior transmissão de luz, empregando características de conforto e sustentabilidade que não são encontradas em materiais plásticos. “É possível ainda aliar o uso do vidro à privacidade, com a opção dos insulados com persianas e do vidro privativo, que conta com uma tecnologia que transforma a chapa de cor branca translúcida em incolor em segundos”, indica Fernanda Quintas, da PKO do Brasil, fabricante de uma solução como essa, o Privacy Glass.

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EXEMPLOS DE APLICAÇÕES EM QUE O VIDRO PODE SUBSTITUIR O ACRÍLICO
– Divisórias e fechamentos;

– Mostruários e vitrines;

– Prateleiras;

– Tampos de mesas de centro;

– Objetos e utensílios em menor escala.

 

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VIDRO X PORCELANATO e PEDRAS

VANTAGENS DE NOSSO MATERIAL
– Facilidade na instalação — Pedras como mármore, granito ou quartzo são mais pesadas do que o vidro, além de racharem com maior facilidade. Por isso, o processo de instalação de nosso produto é muito mais prático e rápido. “O acabamento de borda dos vidros também é superior ao do porcelanato. E, ainda por cima, para ter bordas homogêneas, atinge preços maiores”, esclarece César Cini;

– Variedade de cores — O vidro tem aspecto uniforme, o que é um grande benefício ao considerar possíveis reposições de peças. E um de seus grandes benefícios está justamente em sua variedade de cores, o que pode levar designers e arquitetos a explorar diversas estéticas de acordo com a finalidade do espaço. As peças estão disponíveis em diferentes tons, de acordo com a fabricante;

– Menor chance de manchas — “Pedras e porcelanatos mancham facilmente com solventes e em contato com líquidos”, alerta Viviane Sestari, da Marcetex, relembrando que com o vidro a chance de ocorrer esse problema é menor. Em cozinhas, onde o manuseio de alimentos e produtos de limpeza é uma constante, nosso material pode ser uma boa solução.

USO EM CONJUNTO
As características complementares do vidro podem casar muito bem com pedras em banheiros, por exemplo: espelhos e acidatos dariam um toque de elegância e sutileza em locais em que estão instaladas.

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EXEMPLOS DE APLICAÇÕES EM QUE O VIDRO PODE SUBSTITUIR O PORCELANATO E AS PEDRAS
– Revestimentos de superfície;

– Tampos de mesa e pias;

Backsplashes de pia (aquela área localizada entre a parede e os armários suspensos) e de bancadas de cozinha;

– Acabamento em banheiros e lavabos.

Este texto foi originalmente publicado na edição 583 (julho de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Saiba mais sobre como especificar insulados

A reportagem especial de O Vidroplano de maio comentou os motivos para os vidros insulados, produtos que oferecem diversos benefícios aos usuários, serem tão pouco usados no Brasil – representam apenas 0,5% de todo o material consumido por aqui, segundo o Panorama Abravidro 2021. Conforme prometido no mês passado, o material volta à pauta da revista para trazer um olhar mais técnico sobre suas propriedades. Como a especificação deve ser feita, considerando o clima do lugar em que serão instalados? Que tipos de perfil podem recebê-los? Quais os maquinários usados em sua fabricação? O manuseio e instalação dessas peças necessitam de cuidados especiais? Confira tudo isso e mais a seguir.

A relevância térmica
Como visto na edição de maio, o mito de que os insulados seriam indicados apenas para locais em que faz muito frio não se sustenta, já que eles conseguem tanto reter o calor no interior de uma edificação como impedir a entrada do calor nela – o que define sua função é exatamente a especificação.

 

O tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço Divulgação Crescêncio Consultoria
O tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço
Divulgação Crescêncio Consultoria

Um termo-chave para essa tarefa é “transmitância térmica”, um índice físico representado pela letra U. “Ele representa o quanto de calor um material conduz quando submetido a uma diferença de temperatura”, explica o engenheiro Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E o tipo de vidro usado em um edifício ajuda a determinar a intensidade do fluxo de calor que entrará no espaço. Como demonstra Giorgio Martorell, gerente de Vendas para a América do Sul da fabricante de maquinários para processamento Lisec, nosso material reage de diferentes formas:

– Um monolítico comum de 5 ou 6 mm de espessura tem U de 5,6 W/m².K. Para simplificar: ele transfere 5,6 W de calor para cada m² de área e para cada grau de diferença entre o ambiente externo e interno;

– Já em um insulado composto por duas peças separadas por câmara de ar de 12 mm, esse índice cai pela metade: 2,80 W/m².K, o que significa que o interior esquentará muito menos.

O cálculo para escolher o vidro não é simples e envolve diversas variáveis, afinal todos os elementos de um insulado (incluindo espaçadores, silicones para vedação etc.) devem oferecer desempenhos semelhantes. “É importante que o perfil da esquadria tenha transmitância térmica próxima ao do vidro utilizado”, alerta Westphal. Dessa forma, os materiais irão trabalhar em conjunto para se chegar ao objetivo definido no início do trabalho – barrar a entrada de calor ou impedi-lo de sair.

 

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A relevância acústica
Quanto maior a massa de um material, melhor seu desempenho acústico. É por isso que, por ser mais pesado, o vidro deixa passar menos som do que o plástico ou a madeira, por exemplo. Isso significa que quanto maior a espessura da chapa, maior o isolamento. Então, basta instalar peças grossas em qualquer projeto, certo? Errado.

Todo vidro vibra ao receber uma frequência específica de som, diminuindo sua capacidade como isolante. Vidros grossos são excelentes para barulhos pesados e graves (como o de um caminhão), mas, para barrar sons agudos (como uma buzina), seu desempenho cai. Os vidros finos, por outro lado, funcionam de forma inversa: bons contra agudos, ruins contra graves. A solução mais eficaz é combinar materiais para compensar essas perdas inevitáveis.

Nesse sentido, o insulado surge como excelente opção, pois a câmara entre as lâminas de vidro faz com que boa parte das ondas sonoras fique “presa” ali, perdendo poder de transmissão para dentro da edificação. “Quanto maior o distanciamento dos vidros, maior o desempenho térmico e acústico, sem precisar aumentar o peso e o custo final”, define Edison Claro de Moraes, diretor-proprietário da Atenua Som, empresa especializada em soluções envidraçadas para isolamento.

Assim como na questão térmica, os demais elementos do conjunto também são fundamentais para os resultados obtidos, principalmente a vedação das esquadrias. “Para melhorar o desempenho acústico, é recomendável incorporar um ou dois vidros laminados ao sistema insulado, a fim de atenuar as tais vibrações produzidas na superfície dos vidros ao receber ondas sonoras”, indica Martorell, da Lisec.

De olho nas esquadrias
A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado. “Nesse caso, o PVC leva vantagem. O alumínio, para ter o mesmo desempenho, precisa utilizar o thermal-break — ‘ponte térmica’ —, um isolamento térmico interno”, explica Moraes. De fato, o alumínio tem transmitância térmica em torno de 6 W/m².K – somente com o thermal-break chega ao redor de 3 W/m².K, mesmo valor do PVC.

Outra solução são os perfis chamados warm edge. “São de uma tecnologia cada vez mais utilizada na América Latina e podem ser de aço inoxidável e/ou plástico e, ao contrário dos de alumínio, ajudam a reduzir o coeficiente de transferência de calor, tornando as janelas mais eficientes”, comenta Sebastian Iachini, agente de Vendas e Suporte Técnico da fabricante de insumos para insulados Fenzi. Esses perfis mantêm a borda do vidro mais quente em até 65%, reduzindo o risco de condensação do ar dentro do conjunto.

 

A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado
A matéria-prima dos perfis tem influência direta no desempenho térmico do insulado

 

O diretor-comercial da processadora GlassecViracon, Marcelo Martins, relembra outra questão importante a ser levada em conta: “Como no Brasil a aplicação do insulado é mais comum em fachada unitizada, alertamos para o correto cálculo do ‘bite’ de silicone, o espaço para sua aplicação, de forma a garantir estabilidade e segurança dos conjuntos após instalados”.

Persianas: aliadas para o desempenho
Um dos grandes diferenciais do insulado é a possibilidade de se instalar persianas de lâminas ou de tecido (em rolo ou plissada, com dobras) dentro da câmara, de forma a se ter controle de entrada de luminosidade e também aumentar a eficiência térmica.

“A diferença na qualidade desse produto está na particularidade dos componentes utilizados e dos sistemas de movimentação, o que vai garantir sua durabilidade”, afirma Roberto Papaiz, diretor da fabricante de persianas Screenline. Matérias-primas com característica no fogging (que não permitem embaçamento) e movimentação magnética estão entre o que de mais moderno existe para essa solução.

 

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As persianas podem oferecer:

– Proteção solar de até 90% quando usadas com vidros de controle solar neutros;

– Assepsia total, pois dispensam a limpeza;

– Manutenção zero, pelo fato de serem automatizadas;

O controle da luminosidade é outro ponto favorável. “As lâminas se comportam como ‘prateleira de luz’, refletindo a luz para o teto dos ambientes e ajudando a distribuí-la de forma difusa, sem gerar ofuscamento”, explica Papaiz.

 

Linhas automáticas integradas ajudam a diminuir o tempo de fabricação dos conjuntos insulados
Linhas automáticas integradas ajudam a diminuir o tempo de fabricação dos conjuntos insulados

 

Tecnologias em maquinários
A evolução do setor vidreiro mundial se reflete especialmente na fabricação dos insulados. “As máquinas estão mais automatizadas e mais rápidas, disponíveis para tamanhos de chapas maiores, e incluem equipamentos como scanners para a verificação da qualidade final”, aponta Yveraldo Gusmão, diretor da GR Gusmão. Os espaçadores flexíveis são exemplos desse desenvolvimento. O trabalho com eles garante ciclos de produção mais rápidos, devido à eliminação dos processos de serragem e dobra do perfil.

Outro fator que diminuiu o tempo da montagem dos conjuntos insulados é a criação de linhas automáticas integradas. Alguns modelos, como a Fastlane, da Lisec, permitem o trabalho em dois conjuntos ao mesmo tempo. “Com conceitos de sistemas de controle centralizado, esses equipamentos só precisam de um operador para supervisionar o processo”, explica Giorgio Martorell. A velocidade é tamanha que as máquinas podem concluir um insulado em até 16 segundos (como se vê na linha Velocity Plus).

Manuseio e instalação
Cuidados especiais são necessários na hora de manusear e instalar insulados. Conforme reforça Petrucci, durante o transporte, as peças devem sempre estar na posição vertical ou levemente inclinada. “Nunca se deve mantê-las na horizontal por longo período, pois isso pode acarretar flexão no vidro de forma permanente, impedindo-o de voltar para o estado plano.” Uma chapa assim, quando instalada nessas condições, poderá ocasionar distorção óptica, comprometendo a qualidade do empreendimento.

Luiz Jaison Lessa, gerente-geral da processadora Rohden Vidros, também chama atenção para o manuseio: “É preciso evitar posicionar as chapas em superfícies rígidas ou com faces pontiagudas, já que podem causar riscos ou mesmo quebras”. O armazenamento também conta com segredos: deve-se manter o produto em local abrigado, seco e bem ventilado. “É fundamental protegê-lo da umidade e da poeira, sempre usando intercalários entre as peças”, indica Lessa.

Mais um cuidado a se tomar: a equalização de pressão da câmara interna, procedimento necessário quando nosso material for produzido em uma região de determinada altitude e, depois, instalado em local de outra altitude. A diferença entre as pressões atmosféricas e a pressão interna do vidro também pode levar a distorções.

Gusmão aponta mais boas práticas:

– No momento do transporte, o selante secundário (que “fecha” o conjunto insulado como um todo) precisa ter alcançado dureza suficiente para não sofrer com a movimentação do veículo. Em geral, essa dureza chega após 24 e 48 horas, dependendo do selante utilizado;

– Deve-se verificar a compatibilidade entre os selantes utilizados;

– Sempre utilizar calços de apoio para a montagem correta.

Com os ensinamentos técnicos deste mês, e mais as percepções de mercado vistas no mês passado, ficamos com a esperança de, num futuro próximo, celebrar o aumento da utilização dos insulados em nosso país.

Câmaras: preenchê-las com o quê?
As câmaras dos insulados podem ser preenchidas com gases, cuja função está associada à melhoria no valor de isolamento térmico, contribuindo para reduzir ainda mais a taxa de transferência de calor. “Em países com clima mais quente ou moderado, a maior parcela da carga térmica nas edificações ocorre por radiação e não por condução; portanto, o uso desse tipo de recurso não é muito efetivo”, explica o engenheiro Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da Crescêncio Consultoria. Assim, para a maioria dos empreendimentos nacionais, basta preencher o conjunto com ar.

Edificações em regiões mais frias podem usar três gases, conforme indica Crescêncio:

– Argônio: mais comum e acessível economicamente, pode melhorar a condução térmica do vidro em torno de 15%;

– Criptônio: oferece um nível acima de desempenho do vidro, entretanto seu custo é muito superior ao do argônio;

– Xenônio: é o mais eficiente de todos e também o mais caro. Sua utilização é recomendada para climas severos, preferencialmente em vidros triplos.

Para trabalhar com o produto com gás, o processador precisa ter os equipamentos corretos para o preenchimento da câmara, alerta Renato Santana, coordenador de Qualidade da GlassecViracon. “É importante exigir isso das beneficiadoras, pois, como os gases são invisíveis, não há como comprovar a concentração dele sem a medição correta. Mundialmente, é exigida uma concentração acima de 85%.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 582 (junho de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Como aumentar o uso de insulados no Brasil?

Na edição 2021 do Panorama Abravidro (cujos dados você encontra clicando aqui ou aqui), os insulados, também conhecidos como vidros duplos, ficaram na lanterna entre os vidros processados mais utilizados no ano passado no País: representam apenas 0,5% de todo o material consumido por aqui, uma queda de mais de 20% em relação aos números de 2019. Essa é uma informação surpreendente, pois o produto oferece enorme desempenho no conforto térmico – o que ajuda, inclusive, na economia de energia elétrica e no resultado acústico. O que explica a solução ter qualidade, mas ser pouco utilizada?

Para tentar decifrar esse enigma, O Vidroplano consultou usinas, processadoras e engenheiros. Nossas fontes ajudam a esclarecer os motivos da pouca procura por insulados pelo setor da construção civil e apontam formas de levar informação sobre eles ao público consumidor. Esta reportagem é a primeira parte de um especial a respeito dos insulados – em junho, voltaremos ao tema abordando as questões técnicas da especificação, os cuidados no manuseio e instalação e os itens e maquinários usados na fabricação do material.

 

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Para todas as temperaturas
Formados por duas peças de vidro separadas por uma câmara interna com ar ou gás, os insulados têm uma importante função termoacústica. Na Europa, são usados há décadas, principalmente para o isolamento térmico dos edifícios e casas. Talvez por isso, criou-se no Brasil o mito de que seriam indicados apenas para locais com temperaturas baixas. “Percebo que o produto é mais comentado e lembrado na Região Sul do País, mais fria, do que no restante”, comenta o engenheiro Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

 

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Porém, essa ideia não poderia ser mais errada. “O insulado também atua diminuindo o ganho de calor para dentro da edificação, especialmente em cidades em que a temperatura do ar exterior é frequentemente mais alta, como Rio de Janeiro, Salvador e Manaus”, explica o professor da UFSC. “Além disso, o material resulta em menor temperatura superficial interna do envidraçamento, o que diminui a sensação de desconforto próximo ao vidro, mesmo quando há incidência do Sol direta sobre a esquadria.”

Dependendo da região e das condições climáticas ali encontradas, o insulado pode garantir benefícios em escalas diferentes. “Sua principal característica é o controle de temperatura. Portanto, se em uma determinada localidade o objetivo é impedir a entrada de calor, ele poderá contribuir mais com a parcela de condução térmica quando comparado com um laminado, por exemplo”, analisa o engenheiro Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da Crescêncio Consultoria. “Em uma região mais fria, o objetivo pode ser o de reter o calor no interior da edificação e, com isso, economizar energia elétrica para o aquecimento do ambiente.” Ao se utilizar um vidro de controle solar em uma unidade insulada, os benefícios são ainda maiores. “Essa condição se dá pelo fato de o revestimento de proteção solar trabalhar conjuntamente com a câmara de ar”, afirma Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix.

Marcelo Martins, diretor-comercial da GlassecViracon, indica que, em termos gerais, o insulado pode diminuir de 20% a 30% a entrada de calor, sendo que a troca térmica entre ambientes é reduzida de 55% a 70%. “O mundo todo, inclusive países tropicais, tem o insulado como principal produto para revestimento em fachadas”, revela.

Motivos para o pouco uso
Voltamos para a questão que abre o texto: o que explica a solução ter qualidade, mas ser pouco utilizada? É preciso enxergar a questão sob vários aspectos. Luiz Barbosa, da Vivix, aponta aqueles mais fáceis de serem identificados:

– O custo do insulado é maior. Isso se explica pelo fato de se utilizar mais matérias-primas de valor agregado em todo seu sistema – perfis, dissecantes e silicones de vedação e estrutural;

– As esquadrias necessárias para recebê-los devem ser mais robustas, portanto mais caras que as utilizadas com vidros monolíticos ou laminados;

– A composição do insulado quando aplicado em fachadas a partir do 1º pavimento (e abaixo de 1,10 m em relação ao piso) deve conter laminados ou aramados, tanto na face externa como na interna. Isso pode fazer a especificação levar ainda mais vidro.

 

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É possível aliar transparência a um desempenho térmico compatível com a necessidade dos usuários de um edifício. Na foto, o prédio 80 Once, em Bogotá, na Colômbia, com vidros processados pela GlassecViracon

 

Então, a questão se limita ao preço? Longe disso. O funcionamento do mercado imobiliário também influencia, como esclarece Petrucci. “A maior parte dos lançamentos e das obras em construção é residencial. Nesses casos, geralmente há janelas e portas recuadas e sombreadas em largos terraços, feitas de laminados ou monolíticos e com persianas. Com isso, desempenhos térmicos acima da média não seriam necessários”, afirma. “A outra parcela dos projetos, bem menor que a primeira, é de edifícios comerciais, corporativos e alguns residenciais com fachada-cortina. Eles têm grandes áreas envidraçadas e potencial para a aplicação de vidro de controle solar insulado.”

 

Edifício Aqwa Corporate, no Rio de  Janeiro: insulados  aplicados nesse prédio comercial  foram beneficiados  pelo Grupo Galtier e  fornecidos pela AGC
Edifício Aqwa Corporate, no Rio de Janeiro: insulados aplicados nesse prédio comercial foram beneficiados pelo Grupo Galtier e fornecidos pela AGC

 

Mas por que o potencial não vira realidade? Segundo Petrucci, os interesses dos empreendedores entram em conflito com um investimento desse porte:

– Se o imóvel é destinado à venda e o custo dos equipamentos de ar-condicionado for do comprador do imóvel, é provável que não se escolha um vidro muito eficiente, como é o caso do insulado, já que isso traria benefício apenas para o comprador, que economizaria na aquisição do ar-condicionado;

– No entanto, em um imóvel preparado para locação ou construído para uso corporativo, o investimento em materiais com melhor desempenho pode ser justificado.

 

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A cultura do uso de laminados como sinônimo de controle solar e acústico também está na base da “rejeição” ao insulado. “Esse costume é tão forte que até projetos de arquitetos internacionais especificados com insulados, na tropicalização, acabam sendo revisados e adaptados para o laminado”, aponta Renato Santana, coordenador de qualidade da GlassecViracon. Para Betânia Danelon, gerente-comercial da Guardian para o segmento de Arquitetura para a América do Sul, isso se liga a um aspecto mais científico. “Entendemos que a baixa procura pelo produto ocorre devido aos poucos estudos de eficiência energética para edificações residenciais.” A partir disso tudo, podemos avistar possíveis soluções para o impasse.

Como reverter a situação
“Temos de apresentar mais estudos ao consumidor final”, sugere Fernando Westphal. “E, quando se fala em consumidor final, isso inclui arquitetos, designers e fabricantes de esquadrias.” Para o professor, como o custo pode ser um impeditivo considerável, é importante mostrar com números a viabilidade desse investimento a longo prazo, calculando a economia de energia com climatização com o passar dos anos, e sempre levantar os benefícios já citados, como conforto térmico e acústico.

O uso de ferramentas de simulação computacional, com o objetivo de obter os ganhos reais de cada aplicação, poderá ajudar o investidor a tomar uma decisão a favor dos insulados. Betânia Danelon acredita que a revisão em curso da NBR 15575 — Desempenho de Edificações Habitacionais deve aumentar a procura por simulações energéticas. “É necessário um reforço da comunicação sobre a importância dos estudos de desempenho das edificações e suas envoltórias. Todo empreendimento — comercial ou residencial — deveria passar por esse tipo de análise para garantir que o vidro irá atender as expectativas.”

Como aponta Jonas Sales, coordenador de Engenharia de Aplicação da Cebrace, difundir o conhecimento técnico sobre o produto pode ser feito em diversas frentes, no caso das usinas:

– Palestras;

– Presença de equipe técnica especializada por todo o Brasil;

– Apoio a cursos para profissionais do segmento da construção e de arquitetura;

– Apoio a ações de educação do mercado encabeçadas por associações do segmento, como a Abravidro e suas afiliadas regionais.

“É uma jornada de descobrimento do vidro como solução. Isso acontece a longo prazo e exige constância e frequência. Estamos sempre focados nesse trabalho ‘de formiguinha’ junto a pontos de venda e ao cliente final”, explica Sales. Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado da AGC, concorda: “A educação técnica e informação às universidades, consultores e até processadores vidreiros pode ser parte de uma ação colaborativa para disseminar o entendimento acerca da solução e seus benefícios. Em paralelo, as construtoras poderiam iniciar um movimento baseado em legislações que orientem usos corretos para bons desempenhos das edificações”.

Um elemento que pode funcionar como chamariz de vendas para produtos com maior valor agregado é a etiqueta de conforto térmico para esquadrias, presente na Parte 4 da NBR 10821 — Esquadrias para edificações. Sua aplicação é de caráter facultativo aos fabricantes de esquadrias, mas, mesmo assim, desempenha a importante função de classificar o nível de desempenho térmico desses itens. São avaliados o conjunto como um todo, incluindo tipo de vidro, perfil e percentual de área envidraçada da esquadria. Por isso mesmo, como a metodologia de avaliação é feita com base no conforto, os insulados se destacam, elevando o nível de classificação em qualquer clima brasileiro.

Quem sabe, ao se seguir alguns desses passos, a utilização do material possa dar um salto em um futuro próximo. Não se esqueça: em junho, leia a sequência desta reportagem aqui em O Vidroplano.

 

Pelo mundo
A situação do mercado de insulados no Brasil pode ser comparada à encontrada nos países vizinhos? “O uso do produto na América do Sul está crescendo consideravelmente, mas ainda representa uma baixa porcentagem em geral”, analisa Sebastian Iachini, agente de Vendas e de Suporte Técnico da Fenzi South America. “Por aqui, as duas nações com maior consumo de insulado por habitante são Argentina e Chile, embora seus números não possam ser comparados com o resto do mundo.” Outros países da região, como Uruguai, Paraguai, Bolívia e Peru, também passaram a se interessar por essa aplicação recentemente.

Segundo Iachini, houve um aumento de cerca de dez vezes no uso de insulados em todo o planeta nos últimos 15 anos. “Levando em consideração o crescimento que está ocorrendo e os volumes que existem na América Latina, podemos dizer que há grandes oportunidades.” O jeito é aguardar para saber se o Brasil seguirá essa tendência global.

Este texto foi originalmente publicado na edição 581 (maio de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Veja como limpar vidros em obras de grande porte

Belas construções envidraçadas existem aos montes – basta folhear qualquer edição de O Vidroplano para encontrá-las. Mas a eficiência de nosso material depende não só da especificação e instalação correta — a limpeza das peças faz a diferença para o desempenho dos vidros, principalmente daqueles com tecnologia e revestimentos especiais.

Para entender as melhores formas de se fazer essa tarefa, nossa reportagem conversou com empresas especializadas no serviço, além de fornecedoras de materiais utilizados nesse momento. Assim, temos aqui quais os produtos indicados, a importância de se levar em conta como será o processo de limpeza antes mesmo de a obra ser erguida e quais as técnicas utilizadas.

Desde o escritório
Por mais plano que possa parecer, o vidro tem uma superfície porosa. “Sabe-se que manchas são ocasionadas quando as impurezas se instalam nesses minúsculos orifícios”, explica Jacqueline Neves, responsável pelo marketing da Abrasipa. A sujeira interfere na estética e nos conceitos arquitetônicos de um edifício, impedindo a transparência de uma fachada com essa característica, e vai além. Vidros de controle solar ou com células fotovoltaicas, por exemplo, têm o desempenho prejudicado consideravelmente caso acumulem impurezas.

A limpeza precisa começar já no escritório dos arquitetos e engenheiros. “Devem ser previstos em projeto os meios de acesso para realizar a tarefa, como pontos de ancoragem para cadeirinhas e balancins, passarelas, pontes e guinchos especiais”, destaca o diretor da Avec Design, José Guilherme Aceto. Esses pontos garantem a segurança das pessoas responsáveis por esses serviços. Três documentos os regulamentam: a Norma Regulamentadora (NR) 18 — Segurança e saúde no trabalho na indústria da construção; a NR 35 — Trabalho em altura; e a NBR 16325 — Proteção contra quedas de altura. “Os acessos devem ser projetados para atender o uso de cordas ou cabos, resistindo a uma carga pontual de até 1,5 t e também a intempéries. Por isso, são fabricados normalmente com aço inoxidável”, informa Aceto.

 

especial2Outra solução encontrada, dependendo da tipologia da fachada, é a criação de aberturas na estrutura para servirem de acesso. No entanto, independentemente da escolha seguida, a presença dos pontos de ancoragem precisa se tornar prática padrão por parte de quem cria os edifícios. “Esse seria o ideal, inclusive para garantir maior vida útil aos vidros, mas, efetivamente, não ocorre a todo o momento”, lamenta Karina Chiavegatto, gerente-comercial da Supply Brasil, companhia especializada em limpeza. Nossas empresas devem, então, fazer a lição de casa: acompanhar e cobrar, quando possível, arquitetos e engenheiros para a inclusão desses elementos.

 

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Avaliando a tarefa
Qual a frequência ideal para se limpar uma obra envidraçada de grande porte? Isso vai depender de sua localização. Se tiver contato com situações específicas como as citadas abaixo, terá de ser realizada mais vezes, talvez até mensalmente, dependendo da sujeira acumulada.

– Trânsito: excesso de veículos nas ruas pode impregnar o vidro de fuligem, oriunda da fumaça emitida pelos automóveis;

– Parques e regiões costeiras: o vidro pode sofrer corrosão por conta da maresia e umidade, chegando ao ponto de ficar coberto de limo em casos extremos;

– Chuva: a água pode formar manchas caso tenha alto teor de minerais, como cálcio e magnésio.

 

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Ícone da arquitetura nacional, a Catedral Metropolitana de Brasília, criação de Oscar Niemeyer, passa regularmente pelo processo de limpeza. Os envolvidos na tarefa usam mangueiras a partir do chão, mas também cabos pra escalar a estrutura até as partes mais altas

 

A avaliação de como a tarefa ocorrerá cabe sempre ao especialista contratado. Wagner Machado Ribeiro, membro do setor comercial da Puraqleen, comenta a importância da visita presencial à obra. “É o recomendado para avaliar todos os pontos de interesse, incluindo acessos disponíveis, e estudar a melhor estratégia para a execução, chegando a uma justa elaboração do orçamento”, relata. Essa empresa, especializada em limpezas técnicas industriais, hospitalares e de projetos arquitetônicos, faz parte do braço brasileiro do grupo alemão Qleen, fabricante de equipamentos para a tarefa.

Técnicas
De acordo com as fontes consultadas para esta reportagem, o trabalho se divide em dois grupos:

1) A partir do chão: a limpeza das partes envidraçadas próximas ao solo, com até 20 m de altura (o padrão varia de acordo com a prestadora do serviço), é realizada com mangueiras, escovas e rodos equipados com hastes de longo alcance. Importante: devem ser evitadas máquinas que geram jatos d’água sob pressão, pois podem comprometer a estanqueidade das estruturas;

2) Em altura: nesses casos, a limpeza deverá ser feita utilizando-se equipamentos como balancim ou corda. O foco é garantir a segurança dos trabalhadores envolvidos, pedestres e também da obra em si. Karina, da Supply Brasil, aponta tópicos relevantes:

– É obrigatório que o profissional seja treinado com base na NR 35 e utilize EPIs durante o serviço;

– Dependendo do local, pode-se utilizar plataformas elevatórias, desde que se sinalize o local ao redor ou se evite o acesso de pedestres às redondezas;

– Dependendo do tamanho da obra, o trabalho precisa ser realizado com um mínimo de três profissionais: uma dupla de limpadores e um técnico de segurança do trabalho acompanhando todo o processo.

 

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O que usar?
Como já mencionado, é importante respeitar a integridade de nosso material durante a limpeza – assim como a das esquadrias e demais elementos presentes nas estruturas. A partir disso, seguem algumas observações a respeito do que está liberado e do que jamais pode ser usado:

– Sabão ou detergente neutros com água funcionam para boa parte do serviço;

– Água desmineralizada é uma solução moderna usada por algumas empresas. “A desmineralização, que se dá por troca iônica em um sistema próprio para isso, retira os sais minerais da água”, explica Ribeiro, da Puraqleen. Quando as partículas de H2O estão ‘descarregadas’, elas funcionam como um agente de limpeza mais eficaz, aderindo às partículas e facilitando sua remoção. Além disso, não deixam manchas nas chapas.

 

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– Para situações específicas, alguns produtos de limpeza são indicados – as empresas só precisam de atenção para saber se seu conteúdo afeta as propriedades dos vidros. Destacam-se os detergentes desengraxantes, próprios para graxas e gorduras; solventes naturais de baixa alcalinidade, com alto poder de retirada de óleo e fuligem; e desinfetantes à base de peróxido de hidrogênio, que garantem a desinfecção das peças.

– Importante frisar: materiais abrasivos, ou que venham a causar corrosão, jamais devem ser aplicados no vidro.

 

Guindastes ou outros maquinários também podem ser usados para limpar prédios envidraçados: tudo depende da facilidade de acesso à estrutura
Guindastes ou outros maquinários também podem ser usados para limpar prédios envidraçados: tudo depende da facilidade de acesso à estrutura

 

Soluções especiais
Empresas do setor vidreiro também comercializam produtos para serem utilizados na hora da limpeza de nosso material. A Abrasipa, por exemplo, conta com o ProClean, a ser aplicado em manchas, utilizando-se uma fibra de limpeza macia e uma lixadeira tipo rota orbital. Já o EnduroShield, proteção de superfície, quando aplicado forma uma espécie de película sobre a peça. Segundo a Abrasipa, o produto reduz a necessidade de limpeza em 90%, além de garantir a durabilidade do vidro por até dez anos. A Avec Design tem o Polímero Hidro Repelente, que atua de forma semelhante: ao “selar” a porosidade da superfície, impede de a ocorrência de oxidação ou a deposição de sujeiras. Ambos podem, inclusive, ser aplicados no momento da instalação das chapas.

 

Proteção extra: produtos como o EnduroShield criam uma espécie de película sobre a superfície do vidro, evitando que sujeira e água se acumule. Do lado esquerdo, a peça recebeu a aplicação; do lado direito, não
Proteção extra: produtos como o EnduroShield criam uma espécie de película sobre a superfície do vidro, evitando que sujeira e água se acumule. Do
lado esquerdo, a peça recebeu a aplicação; do lado direito, não

 

Existem ainda os vidros autolimpantes: eles recebem uma camada metálica e hidrofílica (que atrai água), responsável por quebrar as moléculas orgânicas das sujeiras. No entanto, deixaram de ser produzidos no Brasil – a Cebrace retirou a linha Bioclean de seu portfólio no fim do ano passado.

Limpar vidros em grandes obras é um trabalho seguro e não pode ser esquecido. A atividade potencializa os benefícios do material, além de deixar tudo mais bonito.

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Este texto foi originalmente publicado na edição 580 (abril de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Saiba como apresentar vidros de valor agregado ao consumidor

“Valor agregado” é uma expressão usada há um bom tempo nos negócios. Significa aquele item que vai além de sua função básica. O vidro, por exemplo, serve primeiro para fechar vãos. Porém, pode fazer muito mais que isso: oferecer segurança, conforto térmico e acústico e beleza estética, entre outros benefícios.

Para o setor sonhar com um crescimento igual ao do começo da década passada, vale voltar a atenção para esse tipo de produto. Por isso mesmo, O Vidroplano conversou com as usinas brasileiras, e também com uma arquiteta, para entender os diferenciais desses materiais e como o trabalho com eles deve ser realizado.

 

O significado
Um “vidro de valor agregado” deixa de ter a característica simples de commodity para se tornar algo diferenciado. Maria Luiza Ciorlia, a Malu, gerente de Marketing da divisão de Vidros para Construção Civil da AGC, explica esse conceito: “A maior parte desses vidros passa por algum processamento complementar após a produção”. Nesse sentido, o de controle solar recebe revestimento (coating); o espelho passa pelo processo químico de aplicação de prata, tinta protetora e outros componentes; o vidro pintado recebe a tinta em uma das superfícies etc. “Mas eles também podem ser provenientes da fabricação do float, como os extra clear, com baixo teor de ferro, os espessos e os com tonalidades diferentes”, complementa Malu. Portanto, o que vai caracterizar um produto desse tipo é o potencial que ele tem de gerar mais valor para quem o consome – e também para quem o comercializa.

Levando em conta que temperados e laminados também se encaixam nessa categoria, o foco desta reportagem está nos materiais “especiais”, aqueles com qualidades únicas que servem como interessante apelo de venda junto ao cliente. Afinal, como reforça Mônica Caparroz, gerente de Marketing da Cebrace, “para cada demanda, existe um vidro de valor agregado mais indicado, seja para ser aplicado em interiores ou em fachadas”.

 

O impacto nos negócios
Na indústria nacional como um todo, o produto básico (a commodity) tem grande participação no faturamento das empresas. Porém, os itens de valor agregado vão ganhando mais relevância à medida que os consumidores percebem os ganhos. Essa é a razão de as usinas apostarem neles. “Temos investido de forma permanente na ampliação e fortalecimento do portfólio, a exemplo dos recentes lançamentos nas linhas Vivix Performa e Vivix Decora, além de outros projetos já em andamento”, comenta Viviane Moscoso, gerente de Produto da Vivix.

Mônica, da Cebrace, reforça que essas soluções têm um custo mais alto, mas, ao mesmo tempo, contam com maior valor percebido pelo consumidor. “Como é um mercado em expansão, cada vez mais exigente com os produtos escolhidos, a tendência é que esse impacto no faturamento se transforme gradualmente em um dos carros-chefes de todas as empresas da cadeia vidreira.”

 

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Esse valor percebido faz com que vários tipos de vidro passem a concorrer diretamente com outros materiais. “Os utilizados em revestimentos, por exemplo, podem substituir as cerâmicas em muitas aplicações”, indica Malu, da AGC. “Os vidros de controle solar, por sua vez, podem contribuir com a sustentabilidade das obras, com características como a redução de uso de energia elétrica e o conforto térmico gerado a uma residência.”

 

A necessidade de conscientizar
Apesar do uso mais disseminado hoje em dia, ainda existe muito espaço para o crescimento na aplicação desses produtos. E isso passa pela conscientização não só do público, mas também de quem especifica, como arquitetos, engenheiros e designers de interiores. “Oferecendo informação de qualidade por meio de treinamentos e palestras, podemos contribuir para ampliar a demanda”, opina Renato Sivieri, diretor de Marketing da Guardian.

 

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O Circuito de Palestras Guardian reuniu profissionais em diversas cidades do País para palestras sobre tendências modernas no uso do material, incluindo dicas para vidraceiros sobre as melhores formas de agregar valor a seus negócios. Ano passado, em meio à pandemia, a empresa promoveu lives pela Internet a respeito de temas técnicos envolvendo a aplicação desses itens. “Também temos um canal de comunicação, via WhatsApp, no qual profissionais do setor podem se cadastrar para receber informações sobre vidros e espelhos”, afirma Sivieri. Somado a isso, existe ainda um serviço de consultoria técnica, prestado presencialmente e de forma remota.

A AGC fez parcerias com centros de formação profissionais para a realização de cursos, buscando maior proximidade com os especificadores. “A nossa estratégia é a comunicação com toda a cadeia de valor da indústria. Para isso, utilizamos todos os nossos canais de contato direto com o consumidor, mostrando que a utilização do vidro pode ir muito além de um boxe de banheiro ou de uma janela”, explica Malu.

Participar de ações de apoio junto a entidades vidreiras para a organização de treinamentos em diferentes Estados é uma boa solução para a questão, segundo a Cebrace. Esses eventos são organizados com regularidade, sendo noticiados no site da Abravidro e na seção “Agenda”, onde aparece a data de cada um deles (abravidro.org.br/fique-por-dentro/agenda). “Quanto mais falarmos sobre os benefícios e ensinarmos a especificação correta, melhor. Por isso, disponibilizamos uma consultoria técnica em todo o Brasil a fim de auxiliar nessa tomada de decisão”, revela Mônica Caparroz. “É importante manter projetos e parcerias com os setores de arquitetura e construção para gerarmos resultados a médio e longo prazos.”

Com a informação e oportunidades de formação cada vez mais disponíveis, esses arquitetos, engenheiros e designers se tornam a ponte entre o mercado vidreiro e os clientes finais, levando o conhecimento até eles. Mas, para que isso gere frutos reais, relembra Malu, da AGC, é muito importante que as usinas tenham esses produtos em estoque. “As fábricas precisam manter o abastecimento dos materiais, oferecendo cada vez mais produtos diferenciados e com uma qualidade que justifique e estimule a decisão de compra.”

 

Pelo olhar de quem especifica
“Eu adoro sugerir novidades para meus clientes e divulgá-las em mostras de decoração”, admite a designer de interiores Patrícia Kolanian Pasquini. Seu trabalho é a prova de que esse canal de comunicação com quem efetivamente consome vidro faz a diferença. “Normalmente, eu primeiro apresento o produto, mas sei que ele sempre vai gerar dúvidas caso seja algo diferenciado. Em seguida, mostro projetos que já fiz utilizando tal produto ou referências. Com isso, o cliente entende e o resultado final sempre o agrada.”

 

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Segundo Patrícia, várias pessoas que a contratam chegam com ideias fixas de soluções e materiais, o que pode ser atribuído à falta de conhecimento do que está disponível no mercado. “Vejo que o novo agrada, pois realmente não sabiam sequer da existência. Mas sempre perguntam do custo. Talvez esse seja o principal motivo de termos um consumo menor de itens de valor agregado no Brasil”, comenta a designer de interiores.

O “fantasma” do preço só será vencido quando os benefícios trazidos ficarem claros na mente do público. Patrícia cita um exemplo disso: “Adoro espelho bronze, sempre uso em áreas sociais. Tem um custo mais alto que o espelho cristal? Sim. Porém, vale o investimento, pois irá agregar uma estética única à obra. Hoje, alguns clientes me procuram já pedindo ‘quero aquele espelho’”. (Veja mais aplicações de valor agregado feitas por Patrícia na seção “Para sua vidraçaria”, clicando aqui)

 

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Cuidados especiais
De nada vai valer o consumidor saber de todos esses benefícios se as empresas não levarem em conta as particularidades do manuseio de vidros de valor agregado. Os de controle solar ou outros com revestimento, por exemplo, demandam cuidados especiais, principalmente em relação à superfície que recebeu o coating – da mesma forma que espelhos e acidatos. Mesmo assim, vale comentar que as características de processamento e manutenção são mínimas quando comparadas aos diferenciais comerciais entregues por esses materiais.

Sivieri, da Guardian, também tem recomendações: “Indicamos as melhores práticas independentemente do tipo de vidro, como o uso de luvas limpas, separadores entre chapas e materiais para limpeza compatíveis”.

 

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Catálogo de qualidade
É hora de conhecer alguns dos principais vidros de valor agregado disponíveis no Brasil. Veja a seguir, divididos por tipo e fornecedor.

DE CONTROLE SOLAR — Filtram a entrada de calor e de raios ultravioleta (UV) no ambiente. Aplicados em fachadas, fechamentos de saguões e entradas de prédios, envidraçamento de sacadas etc.

AGC
Sunlux Shadow — Linha produzida especialmente para climas tropicais, como o do Brasil. Com variadas opções de cores e disponível em quatro níveis de transmissão de luz;
Stopsol — Com aparência âmbar, pode ser utilizado em instalações externas e internas;
Sunergy — Low-e (com baixa emissividade) de aparência neutra.

Cebrace
Cool Lite — Família de produtos que engloba quatro linhas:
– BR: linha produzida especialmente para o clima brasileiro;
– K: low-e de aspecto neutro;
– S: garante redução de até 80% da entrada de calor e 99% dos raios UV;
– SK: low-e com baixa reflexão;
Habitat — Linha para uso residencial, bloqueia quase 100% dos raios UV, ajudando a proteger móveis, cortinas e tapetes do desbotamento precoce;
Emerald — Na cor verde, oferece grande passagem de luz e baixa reflexão.

Guardian
SunGuard — Família de produtos que engloba três linhas:
– Solar: vidros de aspecto espelhado, voltados para aplicação comercial;
– High Performance: permite maior entrada de luz no ambiente;
– SuperNeutral: peças de aparência neutra que garantem altos níveis de transmissão de luz e menor ganho de calor solar;
ClimaGuard — Linha para uso residencial, bloqueia duas vezes mais calor do que um vidro comum e protege contra os raios UV, além de ter baixos índices de reflexão.

Vivix
Vivix Performa — Bloqueia o calor até quatro vezes mais do que um incolor e evita a entrada de raios UV. Disponível em duas versões: monolítica (cores bronze, verde e cinza) e laminada (a Vivix Performa Duo, em seis cores). Podem ser utilizados ainda em móveis e interiores.

Existem também vidros de controle solar com uma aparência mais espelhada, que refletem os seus arredores com maior intensidade. São os preferidos para a aplicação na decoração e em móveis, embora alguns dos citados ao lado também sirvam para essas soluções.

Cebrace
Reflex — Peças de tonalidade dourada;
Reflecta — Com aspecto brilhante, está disponível na tonalidade incolor.

Guardian
Vidro Refletivo Guardian — Disponível nas cores prata e champanhe.

 

PINTADOS — Como o nome indica, a parte de trás das peças é pintada em diferentes cores. Usado principalmente para a decoração de ambientes, revestimento de paredes e em móveis.

 

Vidro de controle solar na cor âmbar Divulgação AGC
Vidro de controle solar na cor âmbar
Divulgação AGC

 

AGC
Lacobel — Nove opções de tonalidade, sendo que as versões branca, extrabranca e preta são produzidas no Brasil;
Lacobel T — Vidro pintado que passa pelo processo de têmpera, graças ao uso de uma tinta patenteada, desenvolvida por um fornecedor parceiro. Cinco cores disponíveis.

Cebrace
Laqueado — De aspecto envernizado e com alto brilho. Disponível nas cores branca, extrabranca e preta.

Guardian
DecoCristal — De aspecto envernizado e com alto brilho. Produzido nacionalmente nas cores preta, branca e off white.

Vivix
Vivix Decora — Disponível nas cores preta, branca e nude, garante facilidade de limpeza e durabilidade.

 

EXTRA CLEAR Peças com baixo teor de ferro, mais claras que os vidros incolores. Podem ser usadas em fachadas, fechamentos de vãos, divisórias e móveis.

AGC
Clearvision — Segundo a empresa, é o extra clear com a tonalidade mais clara encontrada no País.

Cebrace
Extra Clear — Permite reprodução natural e verdadeira das cores branca e pastel quando esmaltado, envernizado ou serigrafado. Pode ser usado monolítico ou laminado.

Guardian
UltraClear — Com excelente clareza e alta transparência, pode ser laminado, temperado e curvo.

 

EXTRAGROSSO — Como o nome indica, suas espessuras são maiores que as de vidros comuns. Usados principalmente em móveis.

AGC
Linea Azzurra — Vidro italiano com tonalidade ligeiramente azulada, está disponível com até 25 mm de espessura.

Cebrace
Extra Grosso — Com cor uniforme, é encontrado nas espessuras de 12, 15 e 19 mm.

Guardian
Vidro Grosso — Encontrado nas espessuras de 12, 15 e 19 mm.

 

ESPELHOS PARA DECORAÇÃO — Espelhos especiais, voltados para o uso estético em aplicações decorativas, revestimento de paredes e móveis.

AGC
Mirox Premium — Com dupla camada de proteção, altos níveis de reflexão e resistência, é encontrado nas cores tradicional (prata), bronze e fumê.

Cebrace
Espelho Cebrace — Oferece reflexo sem distorção, além de maior resistência à umidade, oxidação, formação de manchas e corrosão nas bordas.

Guardian
Espelho Guardian Evolution — Conta com uma camada protetora especial aplicada no verso que eleva a durabilidade em relação a manchas e oxidação, protegendo ainda contra riscos nesse lado da peça. Encontrado nas cores prata, bronze e fumê.

Vivix
Vivix Spelia — Disponível nas opções incolor, cinza e bronze, oferece maior brilho e durabilidade. A linha possui um processo de produção sustentável, com reciclagem da água e da prata aplicadas no processo.

 

ACIDATOS — Peças que ganham acabamento com ácido, tornando-as levemente opacas, mas permitindo a passagem de luz. Aplicadas na decoração de ambientes, divisórias e móveis.

AGC
Matelux — Com toque acetinado e resistente a manchas, tem aspecto fosco e translúcido;
Matelac — Linha que conta com o Matelac Silver (versão do espelho Mirox Premium, nas cores tradicional, bronze e fumê) e Matelac Branco e Preto (versões do vidro pintado Lacobel).

Guardian
SatinDeco — Proporciona privacidade com alta transmissão de luz dispersa.

Este texto foi originalmente publicado na edição 578 (fevereiro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.