Tente lembrar como eram sua geladeira, seu fogão ou sua lava-roupas antigas, de anos atrás. Agora, compare com as versões que possui atualmente desses mesmos equipamentos. Uma coisa é certa: a presença do vidro é muito mais visível e marcante hoje do que antes. Nosso material ganha um espaço cada vez maior dentro do segmento de linha branca graças às suas características físicas e técnicas.
Pensando nisso, O Vidroplano preparou esta reportagem especial sobre o trabalho nesse setor. Quais as tendências atuais no uso de nossos produtos em eletrodomésticos? Que tipos de vidro são mais utilizados? Há diferença no processamento das chapas quando se compara a outros ramos consumidores? Saiba essas e outras respostas a seguir.
Por que olhar para esse mercado
Como visto na matéria de capa de O Vidroplano de janeiro, 2024 foi um ótimo período de vendas setor eletroeletrônico, marcando um aumento de 29% de janeiro a setembro do ano passado na comparação com o mesmo período de 2023 – o crescimento geral de 2024 ainda não foi divulgado, mas deve ficar entre 15% e 20%, segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). Se focar apenas nos produtos de linha branca, o avanço também é significativo: alta de 19% de janeiro a setembro, com a comercialização de 11,3 milhões de unidades.
A era do vidro
Processadoras que atendem esse segmento podem falar melhor que ninguém sobre as atuais tendências na aplicação de nosso material. E a verdade é uma só: o vidro vem ganhando espaço e substituindo outros materiais, o que aumenta sua demanda. O fogão, por exemplo, é um dos itens que mais tem sido “envidraçado” – as três processadoras consultadas para esta reportagem o mencionaram como case desse movimento.

“O fogão com mesa de vidro ganhou visibilidade no mercado e tem conquistado os donos de casa pela facilidade de limpeza e aspecto moderno, além de não perder a qualidade ao passar do tempo”, comenta Hildegard Tres, proprietária da Casa do Vidro, de Bento Gonçalves (RS). A “mesa” de um fogão é a parte onde as bocas estão instaladas. Tradicionalmente essa estrutura sempre foi feita de aço inox, mas modelos com vidro estão se tornando mais populares.
“Existem ainda diversos fogões cuja parte frontal é toda em vidro”, revela Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro, de Farroupilha (RS), empresa que teve grande experiência da atuação na linha branca alguns anos atrás. “Outro bom exemplo são as prateleiras internas de geladeiras, que antes eram fabricadas em aço aramado e, hoje, a maioria delas é de vidro temperado”. “O vidro muda o aspecto visual do produto, deixando-o mais sofisticado. Também tivemos o avanço da tecnologia, com inovações como inclusão de display touch screen ou fogões por indução, entre outras”, explica Sandaro Jr, que ocupa o cargo de comprador na Diamante Vidros, de São Caetano do Sul (SP).
Diferenças no processo
Existe, sim, diferença entre os vidros da linha branca para os de outros segmentos. É possível afirmar que são mais “complexos”: muitas vezes possuem serigrafia, geometrias não retangulares, formas arredondadas, com raios e recortes diversos que exigem um beneficiamento mais refinado. Os da construção, para efeito de comparação, são, geralmente, retos, com poucos furos ou recortes.
“Outro ponto que vale ressaltar é a grande escala de produção dos vidros de linha branca. Uma vez desenvolvido um item, ele roda em grandes lotes, e isso se repete ao longo do fornecimento. Já na construção civil, como cada projeto é exclusivo e com muita personalização, os lotes são pequenos e com grande variedade de itens”, afirma Fabrício Flach, do Grupo Tecnovidro.
Existe ainda mais um fator importante para diferenciar o mercado de vidros da linha branca dos demais: a exigência quanto à qualidade visual. Uma peça não tolera praticamente nenhum defeito – até pelo fato de ser facilmente perceptível, já que ficarão próximas ao usuário durante o uso dos eletrodomésticos. “O acabamento da lapidação deve ser perfeito; a serigrafia não pode conter falhas como serrilha; as medidas exigem cotas mínimas críticas. É necessário esse cuidado durante todo o processamento, caso contrário, a peça terá de ser descartada ao chegar ao final do processo, não sendo possível recuperá-la”, comenta Hildegard Tres, da Casa do Vidro. Por isso mesmo, é comum inspecionar cada peça individualmente antes de embalá-la, de forma a garantir que algo com defeito não chegue ao cliente.
Os vidros mais usados
Existe uma certa padronização no tipo de vidro aplicado na linha branca, a não ser quando se trata de usos específicos. “O que pode ocorrer de diferença é a escolha da matéria-prima pelo cliente no projeto, como a opção pelo vidro low-e, que tem baixa emissividade e aumenta a eficácia do produto dependendo de sua aplicação, pois impede a troca de calor entre ambientes internos e externos, auxiliando a funcionalidade de temperatura dentro do aparelho e diminuindo o gasto de energia”, explica Thamires Barbara, gerente da Qualidade da Diamante Vidros.
O temperado é o padrão da maior parte dos eletrodomésticos, variando da espessura conforme seu papel:
De 3,15 mm a 4 mm de espessura:
- Geladeiras (prateleiras internas)
- Forno elétrico (porta)
- Fogão (porta)
- Lava-roupas e lava-louças (tampa ou porta)
6 mm de espessura:
- Cooktops
- Fogão (mesa)
A serigrafia usada, assim como as cores, padrões de desenho etc., variam de acordo com a estética buscada pela fabricante.

A visão das fabricantes da linha branca
É importante ouvir também quem está do outro lado, consumindo nosso material. De acordo com Jacques Ivo Krause, diretor de Produtos e Comércio Exterior da Mondial, a aplicação do vidro, acima de tudo, precisa levar em conta a qualidade técnica: “A resistência mecânica aos choques de temperatura, por exemplo, é um item muito importante na definição dos vidros. Em seguida, consideramos a qualidade visual e por fim, a competitividade de custo”. As espessuras são determinadas por ensaios técnicos, seguindo indicações de normas técnicas, a fim de garantir segurança dos usuários diante de possíveis variações na forma de uso.
Os benefícios que o vidro traz aos produtos da empresa são vários: “A transparência e resistência térmica para os fornos e air fryer oven são muito importantes, uma vez que entregam benefícios aos usuários. Já nos cooktops, seja a gás ou por indução, a resistência mecânica aos choques térmicos e o acabamento trazem beleza ao produto, trazendo modernidade às cozinhas”, comenta Krause.
A Mondial, segundo seu diretor, tem como política priorizar o suprimento nacional de matérias-primas. “Nossa política de relacionamento com parceiros e fornecedores é muito boa, já que acreditamos que o bom relacionamento garante crescimento mútuo e traz a certeza de entregas e melhor qualidade técnica dos insumos. Não é diferente com os nossos fornecedores de vidros”, reflete.
Qual é a norma do vidro para linha branca?
É a ABNT NBR 13.866 – Vidro temperado para aparelhos domésticos de linha branca, que estabelece requisitos e ensaios de avaliação do material destinado a esse segmento.
Ensaios
Semelhantes aos do vidro temperado (norma ABNT NBR 14.698), mas com diferenças importantes: devem ser feitos com corpos de prova com serigrafia em tamanhos e quantidades diferentes.
Requisitos
- Tolerâncias dimensionais (espessura, dimensões lineares e tolerâncias para furos)
- Acabamento de bordas
- Empenamento, afastamento e abaulamento
- Aspecto visual
- Resistência ao choque mecânico
- Resistência ao choque térmico
- Ensaio de fragmentação
Foto de abertura: Wiji/Stock.adobe.com