É possível afirmar que, sem água, não existe vidro processado. Apesar de não ser uma matéria-prima de nosso material, ela é fundamental em diversas etapas no beneficiamento. No entanto, não é qualquer água que pode ser utilizada; do contrário, os processos podem ser seriamente comprometidos.
Por isso mesmo, O Vidroplano traz uma análise sobre o tratamento correto desse insumo tão importante. Com o intuito de detalhar os passos a serem seguidos, conversamos com empresas que produzem e representam fabricantes de equipamentos para a tarefa.
Insumo essencial
No processamento, a água se transforma em elemento durante a:
Lapidação, servindo para refrigerar o processo;
Furação e recorte, com esse mesmo objetivo;
Lavagem, para retirar as impurezas presentes na superfície das peças oriundas das etapas anteriores
“A qualidade da água pode impactar diretamente a eficiência desses processos e a qualidade do produto final. A presença de minerais, impurezas e outros contaminantes pode causar defeitos no vidro e até aumentar o desperdício de materiais”, explica Jaqueline Batista, gerente-geral da Support Glass, empresa que representa no Brasil a italiana Idrotecnica, especialista em sistemas de tratamento. “Além do risco relacionado ao produto final, a má qualidade da água no sistema pode ocasionar corrosão e entupimentos dos maquinários, resultando em tempo de inatividade e custos elevados de manutenção.”
Como reforça Genilson Muniz do Nascimento, diretor da Muniz Representações, distribuidora exclusiva dos produtos da também italiana IMMMES em nosso país, a cultura de sustentabilidade ambiental e as regulamentações legais sobre o assunto exigem cada vez mais que as empresas consumidoras de água adotem sistemas adequados para garantir a reutilização de águas residuais. “Isso passa necessariamente por um sistema de filtragem que garanta, ao mesmo tempo, a extração do pó de vidro presente e o retorno de uma água de boa qualidade para as máquinas – ainda mais se forem de alta tecnologia, como os CNC, que, pela delicadeza de seus circuitos de refrigeração, exigem água extremamente limpa”, afirma.
Uma processadora que tenha um bom sistema de filtragem irá gerar redução de custos por vários outros motivos, incluindo trabalhar em circuito fechado, não utilizando água nova a todo momento, e economizar nas ferramentas diamantadas, as quais podem ter a vida útil aumentada em até 20% quando em contato com água limpa.
A qualidade da água impacta diretamente os processos e a qualidade do vidro: a presença de minerais, impurezas e contaminantes pode causar defeitos nos maquinários e nas peças do material (foto: Thiago Borges)
Qualidade líquida
Quais seriam os critérios para se medir a qualidade da água? Como aponta Uember Arantes, sócio-administrador da Metalúrgica Amaral, o pH da água é elemento-chave: “O vidro tem em sua composição o hidróxido de sódio, também chamado simplesmente de soda. Por esse motivo, os efluentes da indústria vidreira ficam alcalinos, com pH alto. Então, sempre será necessário fazer a correção desse pH, deixando a água neutralizada”.
Como os sistemas funcionam
Cada fabricante de sistemas de tratamento conta com padrões próprios de tecnologia. O processo consiste em várias etapas destinadas a garantir a pureza e a qualidade da água, e pode incluir diversos estágios, conforme indica Jaqueline Batista, da Support Glass.
Pré-filtração com Filtro de Carvão Ativado (FCA): tem a função de remover cloro, matéria orgânica e outros contaminantes;
Tratamento químico: inclusão de produtos químicos para ajustar o pH da água e prevenir corrosão e incrustações. Nesse momento, é usado um fluido refrigerante, que serve para diminuir o atrito das ferramentas de perfuração ou desbastes com o vidro;
Osmose reversa: tecnologia para desmineralizar a água, removendo sais e outras impurezas dissolvidas nela;
Desinfecção UV: esteriliza a água tratada usando luz ultravioleta, eliminando bactérias e vírus residuais;
Desmineralização por troca iônica: por meio de resinas de troca iônica, remove íons de cálcio e magnésio, além de impurezas não removidas pela osmose reversa.
Além disso, outros equipamentos podem fazer parte do sistema: bombas, tanques de armazenamento, filtros e descalcificadores, entre outros.
Mantendo tudo em perfeito estado
Nascimento, da Muniz Representações, explica que esses sistemas são verdadeiras joias tecnológicas, concebidos para realizar as fases de trabalho da forma mais autônoma possível. “No entanto, para manter tais equipamentos eficientes, é necessário seguir um programa de manutenções e verificações. Todas as operações são simples, ao alcance dos responsáveis pela manutenção da fábrica, e bem suportadas por serviços de controle remoto.”
O processo de manutenção inclui:
Monitoramento: inspeções regulares dos componentes do sistema para identificar desgastes, vazamentos ou outros problemas;
Substituição de filtros: troca periódica dos filtros de areia, carvão ativado e outros elementos filtrantes, conforme a necessidade e o nível de contaminação da água (de acordo com o manual dos equipamentos);
Limpeza de membranas: procedimentos de limpeza para as membranas de osmose reversa para remover incrustações e biofilmes, garantindo sua eficiência;
Controle químico: verificação e ajuste dos níveis de produtos químicos adicionados à água para manter o pH adequado, prevenindo corrosão e incrustações;
Calibração de equipamentos: regulagem frequente dos sensores e instrumentos de medição para garantir a precisão dos dados de operação.
Além de sistemas de tratamento para a água usada no beneficiamento, é importante cuidar de todo o consumo desse insumo na fábrica (foto: Thiago Borges)
Poupando o insumo (e dinheiro também)
Uma processadora não gasta água apenas durante o beneficiamento: existe a limpeza e manutenção da fábrica, sanitários e outros usos que podem, e devem, ser olhados com atenção.
1 – Identifique vazamentos
Um pequeno furo de apenas 2 mm de diâmetro num encanamento desperdiça até 3.200 litros de água em um dia. Para observar a existência de vazamentos, siga estes passos:
Feche bem todas as torneiras, desligue os aparelhos que usam água e não use os sanitários;
Anote o número que aparece no hidrômetro ou marque a posição do ponteiro do equipamento;
Após uma hora, verifique se o número mudou ou o ponteiro se movimentou;
Em caso positivo, existe vazamento na sua empresa. Nesse caso, procure uma empresa especializada para consertá-lo.
2 – Adote equipamentos econômicos
Na hora de comprar maquinários, verifique o consumo de água necessário para o funcionamento de cada um. Hoje, a maioria das fabricantes conta com soluções econômicas. Não se esqueça ainda de mudanças em pequena escala, como a instalação de torneiras automáticas – elas permitem uma redução de até 20% no consumo de água em relação à torneira convencional.
3 – Reaproveite a água sempre que possível
Embora seja imprópria para consumo, a água de reúso pode ser utilizada em diversas aplicações, como lavagem de pátios.
4 – Não se esqueça das medidas básicas
Desligue todos os dispositivos como mangueiras e torneiras quando não estão sendo usados. Já no caso de limpeza, analise se é realmente necessário usar água ou se o trabalho pode ser feito com vassoura ou balde e pano.
Apesar de não ser músico, quando sentei para escrever este texto, várias canções passaram pela minha cabeça, de imediato. Fiquei até em dúvida sobre qual utilizar.
Depois de nove meses sem reajuste nos preços do float pelas usinas nacionais (o que pode demonstrar que lá em setembro de 2023 os preços no mercado doméstico estavam, supostamente, muito altos), veio o resultado: fomos surpreendidos por um aumento de dois dígitos.
Penso que o momento foi inoportuno, pois a demanda na construção não reagiu e temos ainda a queda do consumo na Região Sul, provocada pelo evento climático de maio. Como apontam o Panorama Abravidro e o Termômetro Abravidro, 2023 foi um ano de redução de consumo – e 2024 não mostra nada diferente.
Então, quando recebemos as cartas de aumento das usinas, sempre me vem aquele questionamento: é bom ou é ruim? Aí me lembro de diversos argumentos, a favor ou contra, mas no final chego à conclusão de que, na prática, são as mazelas do setor que nos trazem dificuldades.
Percebo que todos os insumos que o processador utiliza, mais mão de, obra, alimentação, transporte e benefícios do pessoal, energia elétrica, óleo diesel etc., têm seus preços reajustados periodicamente. O processador, no entanto, só consegue realizar reajustes quando ocorre aumento do valor da matéria-prima.
Percebo, também, que, no momento do reajuste, quando o processador tem estoque, ele mantém os mesmos preços para tentar vender mais (ou vender igual por mais tempo), ao invés de reajustar de imediato, obtendo melhor margem sobre o valor do estoque, o que significa dinheiro parado sem receber juros.
Percebo que o cliente do processador, há anos, já identificou essa fragilidade, e muitas vezes “blefa” entre seus fornecedores, afirmando que o concorrente não subiu, ou que está praticando valor menor. O processador acaba, muitas vezes, abrindo mão do resultado para não perder o cliente e o volume de produção. Percebo que o processador troca de fornecedor de matéria-prima ou até efetua importações somente para reduzir o preço de venda e manter volumes de produção, nunca para obter melhor margem.
Percebo ainda que o processador compra matéria-prima com pagamento à vista e, depois, processa, vende e entrega para pagamento em até cinco vezes, além de entregar suas mercadorias com frota própria, mesmo em grandes distâncias, arcando com os custos do frete. Percebo que, apesar das baixas margens de venda, surgiu entre o processador e o cliente mais um elo na cadeia: o do atacadista de vidros temperados.
A Abravidro está aqui para defender os interesses de seus associados e sempre vai lutar pelo desenvolvimento do nosso setor. Mas o que percebo, “caros coleguinhas” (expressão corrente em nosso segmento), é que sempre estamos descontentes com os outros, mas aceitamos e convivemos com as mazelas do nosso elo na cadeia — estas, aliás, são muitas.
Até quando vamos sobreviver? Quem vai sobreviver? Realmente, não sei. O fato é que até agora não paramos de nadar, e são grandes os riscos de morrermos na beira da praia. Voltando a falar de música, ainda não sei se vou de Banda Brasil ou de É o Tchan.
A Abravidro criou, em 2012, o Panorama Abravidro. O documento é publicado anualmente e traz dados atualizados do mercado brasileiro, incluindo informações sobre as indústrias de base e de transformação, assim como os números da produção de vidro no País, faturamento, balança comercial internacional, entre outras. Para se chegar aos dados divulgados no documento, a Abravidro convida empresas a participarem de uma pesquisa. Os resultados são consolidados pela GPM Consultoria Econômica, contratada para apurar as informações do setor e relacioná-las com a Pesquisa Industrial Anual do IBGE, números oficiais de importação e exportação do governo, além de declarações da indústria de base à revista O Vidroplano.
Como já virou tradição em O Vidroplano, janeiro é tempo de analisar o ano que passou e medir as expectativas para o que começa. Para definir 2023, talvez o termo correto seja “morno”. A esperança de vários setores consumidores de vidro é de que 2024 possa colher algum aquecimento, resultado no corte de juros e investimentos em programas de habitação anunciados pelo governo federal – o que significa maior demanda para nossos produtos.
Nas próximas páginas, confira alguns indicadores econômicos relevantes para a cadeia vidreira e a opinião de nossas empresas sobre as expectativas para os próximos doze meses.
Economia e indústria
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), assim que os indicadores relativos a 2023 fecharem, a economia nacional mostrará um ano melhor do que o esperado. A entidade revisou para cima o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), projetando aumento de 3,3%. Essa foi a segunda reavaliação positiva do ano.
Apesar disso, a alta não atingirá todos os segmentos produtivos. A indústria de transformação, por exemplo, deve marcar queda de 0,5%. Essa retração ocorre pela diminuição da demanda e da produção, sendo mais forte em setores mais sensíveis ao crédito.
Para 2024, a CNI prevê expansão do PIB em 1,7%. “O crescimento sustentado da economia está diretamente ligado ao aumento do investimento. E a agenda da economia verde, da sustentabilidade, da pesquisa e inovação e da transformação digital indicam o caminho para que o Brasil atraia indústrias e desenvolva infraestrutura para fazer a transição para uma economia de baixo carbono”, afirma Ricardo Alban, presidente da confederação. “O País está muito bem posicionado para ser protagonista dessa neoindustrialização, o que pode ser alcançado pela definição de uma política industrial bem estruturada e com foco em superar os desafios de nossa sociedade.”
O otimismo do setor industrial é revelado pelo Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) deste mês: avanço de 2,2 pontos, alcançando 53,2 pontos. É o segundo mês consecutivo de avanço da confiança do segmento.
Construção
Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a indústria da construção deve marcar queda de 0,5% em 2023 – esse desempenho ficaria abaixo das expectativas projetadas em janeiro passado, que apontavam crescimento de 2,5%. “Quando a economia de um país apresenta taxas de juros elevadas, é inevitável que isso tenha um custo, manifestando-se na desaceleração de diversos setores produtivos. A conta dos juros altos na economia chegou para a construção civil”, analisou Ieda Vasconcelos, economista da entidade, na encontro com a imprensa para a apresentação dos dados, realizado no dia 8.
Para 2024, a CBIC prevê crescimento de 1,3% para o setor. Os fatores que podem contribuir para isso incluem a continuidade do processo da queda de juros e o avanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), além do novo ciclo do programa Minha Casa, Minha Vida. Uma prova de que as coisas devem melhorar é o nível de atividade da construção no terceiro trimestre, que atingiu 14,04%, número acima do período pré-pandemia – mas ainda 20% inferior ao pico do segmento, em 2014.
Automotivo
Para a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 2023 teve aumento relevante no mercado interno, estabilidade na produção e queda nas exportações. O ano deverá fechar com 2,29 milhões de emplacamentos, o que representa alta de 8,8% sobre 2022. A produção mostrou recuo de 0,5%, muito em função da queda nas exportações e do aumento relevante das importações.
Para 2024, a estimativa é que essa cadeia siga crescendo. A Anfavea projeta vendas de 2,450 milhões de autoveículos (aumento de 7%) e produção de 2,470 milhões de unidades (aumento de 4,7%). “Precisamos de todo o esforço conjunto das empresas e da sociedade para aumentar nossa produtividade, mas acredito que só em 2026 recuperaremos os níveis registrados antes da pandemia”, comenta Márcio de Lima Leite, presidente da entidade.
Foto: Sodel Vladyslav/stock.adobe.com
Como isso influencia o setor vidreiro?
Não basta só saber o desempenho das principais cadeias consumidoras de vidro: é preciso analisar o que esses números podem representar para nosso segmento.
De acordo com a economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a divulgação do PIB do terceiro trimestre trouxe uma boa surpresa – afinal, várias projeções apontavam queda, mas o resultado foi de ligeiro crescimento, suficiente para um respiro das atividades econômicas. No entanto, houve uma surpresa negativa: queda de 3,8% no PIB da construção, praticamente enterrando as possibilidades de um ano positivo nesse setor em 2023.
“A gente precisa olhar esse número com atenção. Quando se fala em PIB da construção, são duas partes com dinâmicas diferentes: a produção formalizada (construtoras, incorporadas) e a autoconstrução, somada com os pequenos empreiteiros, o chamado mercado ‘formiguinha’”, explica Ana Maria Castelo. “Para a parte ‘formal’, não foi um ano de crescimento robusto, mas houve crescimento, apesar dos desafios. Para um setor que depende de financiamentos, as taxas de juros elevadas ajudaram na redução das vendas do mercado imobiliário. É possível dizer que foi um ano de resiliência.” Investimentos públicos em infraestrutura, principalmente no âmbito municipal em um ano pré-eleitoral, contribuíram para isso.
Qual foi, então, o problema refletido pelo PIB da construção? “O problema veio do lado ‘formiguinha’, pois o consumo das famílias foi direcionado prioritariamente para serviços”, conta Ana. “O setor de materiais de construção sofreu em 2023. O preço até registrou deflação, mas, na comparação com antes da pandemia, segue alto. Houve uma antecipação da demanda por pequenas reformas em 2020 e 2021 – e agora estamos vivendo uma espécie de ressaca passada essa onda.”
Com a queda da taxa de juros, forma-se uma perspectiva para a diminuição dos preços dos materiais e uma melhora no quadro de endividamento das famílias, o que pode contribuir para uma pequena melhora da construção em 2024. “Pelo quadro desafiador encontrado, não dá pra esperar nenhum resultado excepcional, mas estamos com projeção de crescimento de 2,9% para o PIB da construção, novamente puxado pelo setor formal, mas com o consumo ‘formiga’ também crescendo; 1,5% para o varejo de materiais; e 2% para a indústria de materiais”, revela Ana.
A economista deixa ainda mais uma mensagem ao setor vidreiro: “Vale olhar para um segmento imobiliário que tem tido mais dificuldade para avançar, o comercial. O home office gerou um impacto grande nesse mercado. Não vejo uma perspectiva de recuperação para este ano: talvez para 2025 tenhamos um crescimento nos investimentos”.
Expectativas em banho-maria
Conversamos com Sérgio Goldbaum, economista da GPM Consultoria Econômica, empresa responsável pelo Panorama Abravidro e pelo Termômetro, para entender o que nos espera em 2024.
Estudando os dados do Termômetro Abravidro em 2023, o que podemos entender sobre o setor vidreiro ao longo do ano passado?
O estudo indica que 2023 foi um ano morno para o setor. A atividade econômica vinha caindo após dois ou três anos de relativo aquecimento e parece ter se estabilizado a partir de abril.
Essa relativa estabilidade está em consonância com os indicadores de atividade econômica disponíveis. Por exemplo, o índice da produção industrial mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a fabricação de vidros e produtos de vidro também mostrou relativa estabilidade. Mas observa-se esse mesmo movimento nos indicadores de produção física de automóveis, móveis, eletrodomésticos e, especialmente, no de vendas de material de construção – setores consumidores de vidros processados.
Além disso, observamos ao longo do ano variações mensais compatíveis com os efeitos sazonais: quedas relevantes em fevereiro, abril e dezembro devido a feriados e aumentos em março, maio e novembro. A partir de 2024, começaremos a aplicar a metodologia de dessazonalização nos dados mensais do Termômetro, o que gradualmente permitirá ter uma ideia da atividade econômica já descontados tais efeitos sazonais.
O que as empresas vidreiras podem aguardar para o novo ano?
A princípio, o panorama geral para 2024 sugere desaquecimento ou manutenção da relativa estabilidade. O Índice de Confiança da Construção da Sondagem da Construção do FGV Ibre em dezembro se manteve estável, variando apenas -0,2 ponto percentual em relação a novembro, cujo resultado também havia sido de estabilidade. Entre os fatores limitativos à melhoria dos negócios foram citados a competição no próprio setor, demanda insuficiente, acesso ao crédito bancário e o custo da mão de obra e de matérias-primas.
A Sondagem da Indústria da Construção, outro indicador da CNI, relativo a novembro, aponta trajetória de queda gradual do setor desde março. O número de empregados cai de maneira gradual desde julho. E esse mesmo estudo cravou em neutralidade as expectativas referentes ao nível de atividade, aos novos empreendimentos e serviços, às compras de matéria-prima e ao número de empregados.
Destacamos que a queda da taxa de juros no Brasil tem sido gradual, e que seus efeitos são defasados no tempo. Sendo assim, a expectativa é de manutenção de um ano pouco aquecido, com viés de baixa.
A visão vidreira
Agora é hora de saber a opinião das companhias de nosso setor. Nesta página, confira o que disseram empresas de diversos elos da cadeia (incluindo fabricantes de ferramentas, fabricantes de maquinários e distribuidoras de equipamentos); nas próximas, veja os comentários das usinas de base.
Diamanfer
“2023 foi um ano de muito trabalho, muita atenção à gestão, à procura de soluções para os custos. O setor perdeu velocidade, os negócios diminuíram, mas o resultado acabou sendo satisfatório, pois cobriu todas as contas e investimentos. Continuamos com a empresa muito saudável e esperamos para 2024, no mínimo, a mesma situação. É difícil ter perspectivas, já que muita coisa depende de decisões de governo, do rumo da economia. Mas nós sempre fomos otimistas, estamos nos preparando para uma retomada. Vamos com responsabilidade, tomando decisões corretas, para não nos precipitarmos. Eu percebo algum movimento, alguns setores um pouco melhores. É torcer para que isso aumente.” José Pedro Ruiz, diretor-comercial
Glassparts
“No setor de equipamentos, 2023 foi relativamente bom, apesar das incertezas geradas pela política. Tivemos vendas moderadas no início do ano e mais acentuadas a partir do segundo semestre, as quais ficaram aquecidas até o final de dezembro. No balanço geral, esse foi um período muito favorável, que equilibrou o ano, superando até 2022. Para 2024, estamos otimistas, pois notamos que o mercado já se acomodou e digeriu as mudanças políticas. Outra razão para isso é que 2024 contará com as principais feiras de nosso segmento, o que gerará muitas oportunidades de negócios.” Ricardo Costa, diretor
GR Gusmão
“De forma geral, 2023 foi um ano difícil para o nosso país. Realmente não foram tomadas as devidas providências pelos governantes, e o mercado ficou muito restrito. Aqueles que atingiram suas metas conseguiram isso no limite – como nós. Então, esperamos que atitudes possam tirar o freio de mão do comércio e da indústria. Para 2024, as expectativas são grandes, principalmente as relativas à queda nos juros, facilitando financiamentos, para que a construção aqueça e a indústria vidreira possa retomar seus trabalhos. Desejo um ano de muito otimismo para todos os colegas do ramo vidreiro.” Yveraldo Gusmão, diretor
Sglass
“Surpreendentemente, tivemos bons resultados em 2023, apesar do cenário político e econômico. Em relação a 2022, ocorreu uma queda de faturamento na casa dos 10%, mas mesmo assim consideramos esse resultado satisfatório. Para 2024, esperamos que haja uma retomada, visto que teremos a feira Glass South America, para alavancar os negócios, inclusive no exterior, em locais como Américas do Sul e Central e até mesmo do Norte e Europa.” Sandro Eduardo Henriques, diretor
AGC Isidoro Lopes, Elton Lemos e Mauro Gallo, executivos
Saldo dos negócios em 2023 “Foi um período de demanda conservadora, com muita dificuldade para alavancar volumes e bastante disputa de preços. Diante desse cenário, fechamos 2023 com volume de vendas menor que em 2022. O primeiro semestre foi marcado por empresários e sociedade observando as medidas do novo governo e a economia passando por um processo de ‘esfriamento’ para combater a inflação.”
Dificuldades encontradas em 2023 “O maior desafio foi a gestão comercial na busca pelo melhor equilíbrio entre volume, mix e preço – sempre com o objetivo de manter níveis salutares de negociação junto aos clientes. Ano passado tivemos a elevação dos custos do gás natural e combustível: o diesel aumentou em torno de 23% na média nacional, o que dificultou bastante manter esse equilíbrio. O Brasil vem passando por um processo de ajuste fiscal pelas receitas, com aumento de impostos em setores da economia, o que faz reduzir a demanda, especialmente de bens duráveis.”
Como encarar o aumento no volume de vidros importados
“Isso é algo histórico e até natural no mercado, principalmente quando temos uma combinação de performance econômica asiática com baixo consumo, aumentando a oferta para fora da região + custo de frete baixo e câmbio estável.”
Expectativas para 2024
“Entendemos que o mercado estará conservador, com pequeno crescimento, principalmente no início do ano. Vislumbramos um segundo semestre mais aquecido e estamos nos preparando para isso. A expectativa é de um crescimento moderado em 2024 em relação a 2023.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“A construção deverá continuar crescendo, mesmo que em uma velocidade menor que a de 2021, sendo um dos motores propulsores da economia. Devemos ter aumento na confiança da indústria e dos consumidores, pelo melhor entendimento da política fiscal e macroeconômica, vendo uma retomada de lançamentos de projetos na construção e infraestrutura. No automotivo, assim como foi em 2023, temos excelentes expectativas de crescimento, tanto da produção como do mercado de reposição. Os segmentos moveleiro e de linha branca possuem fatores para também acreditarmos no crescimento, porém ainda a depender bastante das políticas sociais.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Foco na competitividade com comportamento ético, parcerias sólidas e reforço das boas práticas de governança ESG.”
Recado para o setor
“Como sempre, devemos buscar eliminar desperdícios nos processos, focando na qualidade e valorização do nosso produto e na correta aplicação das normas. A maioria dos setores passa por ciclos e ajustes, e com o setor vidreiro não é diferente.”
CEBRACE Lucas Malfetano e Manuel Corrêa, executivos
Saldo dos negócios em 2023
“Reconhecemos que foi um ano difícil, comercialmente falando. Mas podemos ver com otimismo o saldo de 2023. Consideramos bem-sucedidos o reparo da linha de produção de Barra Velha (SC) e o projeto inovador de integrar a produção de texturizados à linha float, agora fabricando produtos em maior dimensão e de forma mais sustentável.
2023 marca a história da Cebrace em relação à inovação e à aceleração dos projetos de sustentabilidade. Foram muitas ações que se iniciaram e avançaram no ano passado rumo ao cumprimento das nossas metas: obtivemos a Declaração Ambiental de Produto (EDP), sendo a primeira indústria do Brasil a conquistar essa documentação que apresenta a análise de ciclo de vida de nosso produto; fomos, ainda, a primeira indústria de vidro plano das Américas a usar biometano como fonte de energia para os fornos de produção. Também iniciamos a renovação gradual da nossa frota, a partir da utilização de veículos inloader a gás, acelerando a nossa redução de CO₂.
Além disso, a Rede Habitat completou onze anos, consolidando-se como uma rede de soluções com vidros de proteção solar para residências cada vez mais avançada em todo o território nacional. E não podemos nos esquecer de que o GlassTruck circulou por todo o Brasil, levando um showroom móvel ao local de obras. Em relação a produtos, vimos a evolução do Cebrace ThermoVision na participação de projetos na indústria de refrigeração e linha branca. Portanto, a Cebrace manteve seus investimentos e projetos independentemente das oscilações
de mercado.”
Dificuldades encontradas em 2023
“O mercado esteve estagnado, ainda sentindo os juros altos e as incertezas do cenário macroeconômico dos anos anteriores. Houve um aumento significativo de vidros importados e também de uma concorrência desleal. Mantivemos o nosso esforço no combate aos descaminhos fiscais e na busca pela simplificação tributária. Mesmo com essas dificuldades, apoiamos a atuação da Abravidro com o Grupo de Trabalho Tributário (GTT) e Grupo de Trabalho Concorrencial (GTC) para encontrar soluções para essas questões.”
Como encarar o aumento no volume de vidros importados
“Vários setores da economia – como aço, alumínio – estão sofrendo o impacto das importações, assim como da concorrência desleal. O governo precisa revisitar a questão tributária das importações em relação à da produção e do emprego nacional.”
Expectativas para 2024
“Esperamos crescimento. Após dois anos difíceis para o setor, acreditamos que a queda da taxa de juros vai impulsionar um pouco mais o mercado.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Esperamos um crescimento de forma geral, com pouca diferença entre os setores.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“As empresas vidreiras que mantiverem os esforços em capacitação dos profissionais e na qualidade dos serviços prestados, enxergando o espaço que os vidros de valor agregado têm para crescer, estarão alinhadas com o crescimento do mercado.”
Como está a produção de texturizados em Barra Velha e qual a expectativa para esse mercado
“A produção começou em outubro, então ainda estamos em progresso. No momento, elaboramos novidades para acompanhar as tendências em design nesse segmento e em breve vamos compartilhar com o mercado.”
Recado para o setor
“É sabida a importância de sermos cooperativos, de nos unirmos em prol do crescimento do mercado. Por isso, reforçamos nosso compromisso com a plataforma Educavidro e convidamos todos do setor a colaborar com as associações, seja participando de forma ativa dos programas de capacitação ou dos Grupos de Trabalho que buscam combater a sonegação fiscal, por exemplo. O trabalho das associações se mostra extremamente relevante também junto ao consumidor final, para inspirar novos usos dos vidros e espelhos, como é o caso da incrível experiência imersiva Mar de Espelhos, realizada pelo Instituto do Vidro com vidros Cebrace no AquaRio, no Rio de Janeiro. Em 2024, quando a Cebrace celebra cinquenta anos, esse recado é ainda mais especial. É hora de acelerar os projetos que vão tirar do papel o nosso futuro, e isso só é possível quando caminhamos lado a lado.”
GUARDIAN Renato Poty, diretor-executivo na América do Sul
Saldo dos negócios em 2023
“Observamos que o ano foi desafiador para todo o mercado da construção, com os indicadores econômicos apontando uma retração em relação a 2022. Dentro desse contexto, o desempenho da Guardian não foi diferente. Buscamos equalizar as fábricas para atender essa demanda menor. Também foi importante aumentar os esforços na estratégia de oferecer ao mercado produtos de maior valor agregado, como vidros de controle solar, pintados, laminados e espelhos, e apoiar nossos clientes a buscar diferenciação e resultados superiores.”
Dificuldades encontradas em 2023
“A principal dificuldade foi balancear a oferta a essa demanda menor, bem aquém dos últimos anos. O cenário de retração foi um fenômeno global, impactando o mercado brasileiro com uma maior entrada de vidro importado. Nesse contexto, itens importantes que compõem o custo de produção tiveram inflação significativa, exigindo uma gestão interna mais eficiente para nos mantermos competitivos considerando a oferta disponível e custo de produção. Vamos continuar trabalhando em produtos inovadores e de maior valor agregado para levar soluções mais adequadas e diferenciadas. Dessa forma, respondemos aos desafios criados pela entrada mais expressiva dos importados. Também seguiremos enfatizando a qualidade, transparência e segurança de nossa operação. O plano para 2024 inclui ainda melhorar o atendimento, ganhar ainda mais agilidade e flexibilidade para atender
nossos clientes.”
Como encarar o aumento no volume de vidros importados
“A entrada de volumes elevados de vidro importado ocorre devido à retração da demanda global, que levou outros países produtores a buscar escoar mais fortemente seu produto para outros mercados, como o Brasil, especialmente. Desde 2020, nosso país vinha com uma balança comercial mais favorável ao nosso setor, com as exportações superando as importações. Em 2023, o cenário se inverteu. Mas é importante que o setor vidreiro busque outros mercados. Somos um país com um nível de produto diferenciado, de alto valor agregado e com tecnologia, e que se beneficia de uma matriz energética mais limpa. Para a Guardian, a ampliação das exportações é uma oportunidade em 2024.”
Expectativas para 2024
“O ano começa com uma perspectiva positiva, seguindo a tendência que observamos no final de 2023. Ainda que de forma moderada, temos visto um aquecimento do mercado e prevemos um 2024 melhor, tanto por conta dos indicadores macroeconômicos como pela sinalização das reformas propostas pelo governo. São fatores que trazem mais confiança e contribuem para a retomada dos investimentos. Já sob o aspecto interno da empresa, a Guardian inicia 2024 com um fortalecimento dos negócios com os clientes, estoques equilibrados e investimentos em soluções inovadoras. No cenário externo, temos um contraponto, que é o risco de alta nas taxas de juros das economias desenvolvidas e uma escalada em conflitos, o que pode afetar a oferta e o preço das commodities.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Todos os mercados deverão ter uma dinâmica parecida, de acompanhar o crescimento da economia, impactados positivamente pela maior oferta de crédito e queda dos juros. Todos esses setores são de bens duráveis ou de capital, e que, na economia brasileira, dependem muito do acesso ao crédito para crescerem significativamente.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“A importação deve continuar firme em 2024. Outra questão é a estrutura de custos de produção do vidro, diante da tendência de aumento no valor de insumos importantes no processo produtivo. É importante lembrar que, em 2024, ainda teremos esses insumos com valores muito superiores ao de anos anteriores, como barrilha, energia e serviços ainda impactados pelo desbalanço gerado desde a pandemia. Também estarão no centro da nossa atenção buscar melhorias em inovações para a produção. Caminhamos para a digitalização, a fim de melhorar processos, inclusive instalando uma plataforma online para pedidos.”
Recado para o setor
“O vidro ainda tem muito espaço de crescimento e amadurecimento na indústria, quando comparamos com outros mercados globais. O consumo per capita no Brasil gira em torno de 8 kg por ano, enquanto na Europa é de 18 kg. A Guardian continuará focando em iniciativas para o desenvolvimento do setor, assim como na busca por competitividade de custos, eficiência energética, inovação e soluções de conforto aos consumidores de vidro plano.”
VIVIX Henrique Lisboa, presidente
Saldo dos negócios em 2023
“Tivemos um primeiro semestre de forte retração, com clientes relatando muitas dificuldades para girar estoques. Já no segundo semestre, o mercado começou a apresentar um melhor desempenho. Entretanto, os aspectos de aumento de custos e redução dos preços de vendas fizeram de 2023 um ano desafiador para o nosso setor.”
Dificuldades encontradas em 2023
“A retração sem dúvida foi a maior dificuldade ao longo de 2023. A evolução do mercado trará soluções para parte das dificuldades, mas as empresas como um todo precisarão continuar evoluindo na gestão. Também deverá estar em foco o desenvolvimento dos colaboradores e da cadeia, assim como a promoção de novas iniciativas que contribuam para o aumento do consumo de vidros planos no País.”
Como encarar o aumento no volume de vidros importados
“As importações fazem parte do ciclo e da vida dos nossos negócios. Porém, deveriam ser observados e seguidos os preços praticados no país produtor exportador. Caso contrário, são prejudiciais para todo o mercado.”
Expectativas para 2024
“Esperamos um crescimento moderado do segmento de vidros planos e um cenário econômico um pouco mais favorável do que em 2023. Acreditamos que será o início de uma retomada de evolução do setor e trabalharemos juntos com nossos clientes para potencializarmos as oportunidades que estão por vir.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Temos acompanhado os indicadores da construção civil para este ano, indicando uma leve melhora decorrente, principalmente, de um cenário econômico mais favorável aos financiamentos. Entendemos que os setores moveleiro e de linha branca também serão beneficiados pelo mesmo motivo. Para o setor automotivo, que apresentou crescimento nas vendas em 2023, porém com estabilidade na produção devido aos altos estoques e redução das exportações, esperam-se números positivos, apontando para uma importante retomada na produção.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Entendemos que as empresas vidreiras deverão ficar atentas para a evolução na sua gestão e capacidade de adaptação aos novos cenários.”
Início da construção da 2ª planta
“A decisão pela expansão da Vivix já foi tomada e divulgada. Em função da evolução da demanda do mercado vidreiro, a empresa adiou o início da construção da nossa 2ª planta. Investimos fortemente em todos os projetos para a construção dessa linha, os quais estão concluídos, assim como estão liberadas todas as licenças exigidas por lei para o início das obras. Estamos aguardando, com muita responsabilidade, o momento certo para as iniciarmos.”
Recado para o setor
“A Vivix continuará procurando estar próxima dos clientes, evoluindo no mercado conjuntamente e nos mais diversos cenários. Este é um ano importante para a Vivix, quando a empresa completa dez anos de atividades. Acreditamos que a colaboração amplia oportunidades e é esse caminho que continuaremos seguindo neste e nos próximos anos.”
A Blindex, em comunicado oficial, anunciou a suspensão das atividades da Casa Blindex, em São José dos Campos (SP). O programa, um projeto piloto de franquias comerciais idealizado pela empresa, seguia em operação há quatro anos com o intuito de demonstrar na prática a aplicação de seus produtos. Segundo a fabricante, o projeto passará por novos ajustes e a paralisação é por tempo indeterminado.
A Guardian lançou uma linha de vidros de controle solar para fachadas, a SunGuard Solar Plus, composta pelo produto G31. O novo vidro de alta performance, de aplicação laminada, tem titânio em sua composição e oferece fator solar de 33%, além de baixo índice de reflexão, resultando em um produto de estética neutra, livre de efeito espelho e do aspecto amarelado. Segundo a fabricante, a linha contribui para o conforto interno ao longo de todo o ano e para a eficiência energética de empreendimentos verticais.
A Casa Mansur, empresa de São Paulo especializada em envidraçamentos de sacadas, oficializou, em outubro, a sua nova parceria com a empresa chilena Ducasse, fabricante de ferragens especializada em soluções de alto padrão para divisórias e portas de vidro. Com a nova aliança, já em vigor, a Casa Mansur pretende criar novos pontos de revenda em todo o Brasil, além de reforçar a estratégia de alcançar com seus produtos os consumidores finais do Estado de São Paulo.
A Kuraray lançou uma calculadora estrutural chamada Strength Lab IA. A ferramenta utiliza inteligência artificial e redes neurais para, por exemplo, efetuar cálculos de vários sistemas de envidraçamento, substituindo por completo as tarefas clássicas de análise estrutural. A tecnologia para a criação desse produto surgiu a partir de outra calculadora da empresa, a Sound Lab AI, voltada para se chegar a valores de isolamento acústicos em instalações com vidro.
A Blindex fez alterações no quadro de parceiros que integram seu sistema de franquias em relação às empresas responsáveis pelo fornecimento de seus vidros nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. A Guaporé Vidros passa a fazer a produção e distribuição dos produtos da marca no Mato Grosso do Sul. Em Goiás e no Distrito Federal, a Planalto Vidros assume as operações. A outra novidade está no interior paulista, onde os clientes serão atendidos pelas empresas Cristal Sete e Pestana Vidros. Já na capital paulista e Região Metropolitana de São Paulo, os trabalhos serão desenvolvidos pela CP Vidros – uma joint venture criada por essas duas empresas.
A VPM anunciou o fim da sua parceria com a Blindex. A razão para o término do acordo foi devido a uma mudança de estratégia da processadora goiana, buscando ampliar a área de atuação para maior ganho de competitividade. Com a decisão, a VPM atenderá clientes por todo o território nacional e os produtos de vidro temperado da empresa passam a levar um selo próprio.
A Cinex inaugurou dois projetos para demonstrar as soluções com vidro oferecidas pela empresa gaúcha. Trata-se da Casa Cinex e da Casa Cin Concept, construídas em meio ao verde do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves (RS). O lançamento dos projetos – assinados pela arquiteta Monica Rizzi e inspirados na arquitetura vernacular, um estilo que privilegia o uso de materiais e técnicas construtivas que valorizam a preservação do ambiente – coincide com os 25 anos da empresa, cujas raízes estão no Brasil e na Itália. Com investimentos na ordem de R$ 10 milhões, as casas contam com diversas áreas envidraçadas, incluindo até mesmo objetos como bicicleta ergométrica e mesa de pingue-pongue, ambas de vidro translúcido.
Pode reparar: em qualquer mostra de decoração e design, ou mesmo na residência de algum conhecido e no escritório de trabalho, os móveis que mais chamam a atenção em um ambiente são feitos de vidro. As razões para isso são variadas – e revelá-las é o objetivo desta reportagem especial de O Vidroplano. Seja pela versatilidade estética, pela imponência visual ou então pela durabilidade, o vidro sempre está na moda quando se falam em móveis.
Por isso, trazemos um panorama sobre esse segmento, importante cliente de nossa cadeia. Nas páginas a seguir, o leitor saberá como anda o mercado moveleiro em relação aos negócios, conhecerá as tendências atuais no uso de vidros e saberá a opinião de uma fabricante de móveis sobre os benefícios que o material traz.
Os números, sempre eles
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de móveis fechou 2022 com queda de 16,2% em relação a 2021. Apesar de ser uma baixa considerável, 2021 teve demanda mais aquecida do que o costume por conta da pandemia: a maior permanência das pessoas em casa as levou a fazer investimentos em reformas e trocas de mobiliários.
Este ano começou instável. Estudo da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel) mostra que a produção de móveis e colchões em fevereiro caiu 3,6% em relação a janeiro. Porém, o acumulado do ano é positivo, com alta de 4,1%. As vendas no varejo também marcam recuo em 2023 (-10,6% sobre o ano passado).
Os motivos para uma demanda baixa são os mesmos que assolam a construção civil e o setor vidreiro: alta taxa de juros e inflação, entre outros, impactando a renda das famílias e os investimentos. Mesmo assim, há esperança de crescimento no segundo semestre graças à movimentação do governo para aquecer o consumo (como você pode ver clicando aqui).
A visão das empresas vidreiras
A processadora paulista Marcetex trabalha com o segmento moveleiro e confirma o encolhimento dos negócios. “Esse mercado diminuiu tanto quanto os outros setores da construção. Diria que uma média de 40% em relação aos outros anos”, explica o gerente-industrial Sidnei Alves.
Apesar das dificuldades, há muito espaço para trabalhar o vidro dentro desse cenário. “Desde 2017, vemos um crescimento expressivo de peças e de designers querendo usar o material, entregando lindos trabalhos”, afirma Matheus Primo, diretor-criativo e proprietário da Glass11, marca especializada em móveis envidraçados. “Descolar a peça de vidro da injusta fama de ‘frágil’ é uma tarefa que seguirá por anos. Por isso, temos mais responsabilidade em demonstrar que esses itens podem ser feitos com vidros de valor agregado, como os de segurança, refletindo na qualidade recebida e percebida pelo cliente.” Já que todos estão de olho na retomada econômica, essa responsabilidade se torna ainda maior.
Mas, afinal, por que vidro?
A principal tendência arquitetônica surgida com a pandemia foi a de transformar casas e apartamentos em espaços multiuso, com áreas verdes e locais voltados para o home office. Já os escritórios passaram a deixar de lado o confinamento em favor de espaços abertos. E o vidro se tornou ainda mais relevante na relação das pessoas com suas moradias e ambientes de trabalho. Na comparação com outras matérias-primas como madeira e acrílico, ele oferece:
Menor necessidade de manutenção (com limpeza fácil e rápida);
Maior vida útil (sem se preocupar com deterioração);
Segurança;
Aspecto visual duradouro (mais resistente a riscos e arranhões, sem amarelar com o tempo).
Crédito: Cris Martins
Mas ninguém melhor para explicar por que apostar em nosso material do que uma fabricante de móveis conhecida por seus produtos envidraçados. “A empresa valoriza o acabamento de alto padrão e a atenção aos detalhes, e os vidros utilizados em nossos produtos desempenham um papel fundamental nesse sentido”, comenta Luísa Moysés, gerente de Produtos da Breton. “O extra clear e os laqueados, por exemplo, contribuem para a criação de móveis sofisticados, modernos e visualmente atraentes, oferecendo aos clientes uma experiência de excelência em design de interiores.”
E como se dá a escolha do tipo de vidro para um determinado mobiliário? Segundo a marca, o processo envolve uma análise minuciosa das características do design, das necessidades funcionais e das preferências estéticas do produto. Em alguns casos, a intenção é enfatizar a base do móvel, criando uma sensação de leveza e transparência. Nesse caso, a Breton opta pelo uso do extra clear por ter baixo teor de ferro em sua composição, resultando em uma transparência mais cristalina e livre de tonalidades indesejadas.
Já para tampos de mesas de jantar, o vidro é pintado na mesma cor do móvel, de forma a garantir uma estética superior. “A busca está sempre em encontrar a combinação ideal entre todos os elementos de um móvel, a fim de oferecer produtos com visual atrativo aos clientes”, destaca Luísa.
Em busca do acabamento perfeito
Para serem escolhidos por marcas desse porte, os vidros precisam ser produzidos com alto grau de precisão. Aí entram os grandes desafios para as processadoras vidreiras. “Geralmente, os móveis possuem uma tolerância mínima de medida, fazendo com que cada peça seja quase única em relação à fabricação”, explica Sidnei Alves, da Marcetex. “Um cliente que utiliza o vidro num móvel de alto padrão é mais minucioso nos detalhes do que aquele que vai instalar o material na parte externa de um prédio.”
Matheus Primo, da Glass11, reforça a importância de uma lapidação perfeita: “Ela deve ser feita com precisão, para que a cola UV tenha a aderência necessária. Um vidro mal-lapidado não entrega um móvel envidraçado”.
Pela necessidade de perfeição estética, o manuseio das peças se torna um momento crítico da produção. O ideal é transportá-los com embalagens especiais, principalmente para proteger bordas e cantos: qualquer dano, por menor que seja, pode significar retrabalho. É importante, inclusive, educar o usuário final de móveis com vidro. “Entregamos um manual de manuseio e limpeza, indicando as melhores práticas para manter a colagem e as bordas em perfeito estado, mas nada disso resolve se não houver uma conscientização do cliente sobre os cuidados necessários”, salienta Primo.
As tendências atuais
De acordo com a Breton, o foco hoje em dia está em explorar o vidro como protagonista. Como os designers estão utilizando-o de diversas formas, com variações de espessuras, texturas e acabamentos, criando peças únicas e sofisticadas, Luísa Moysés indica alguns padrões em voga:
Minimalismo: uma abordagem comum está na utilização seguindo conceitos minimalistas, com formas simples. Assim, dá-se total destaque à transparência, criando um visual clean e contemporâneo, adequado para diferentes estilos de decoração;
Cores: vidros coloridos, como o bronze, estão em alta, pois adicionam um toque de personalidade e trazem uma paleta de tons diferenciada aos espaços. Cores vibrantes também criam pontos de destaque no ambiente;
Texturas: os diferentes padrões e relevos de vidros texturizados agregam um elemento tátil aos móveis, sendo aplicados em painéis, portas, tampos e outras superfícies;
Combinação com outros materiais: misturar vidro com madeira, metal ou mármore proporciona contrastes visualmente impactantes.
Outra tendência vista nos últimos tempos, principalmente em mostras como a Casa Cor, são os tampos de mesa com vidros trabalhados artisticamente. De técnicas como fusing a pinturas manuais, não há limites para a criatividade quando se utiliza um material versátil como o nosso.
Crédito: Cris Martins
Existe alguma norma para vidros usados em móveis?
Sim: a ABNT NBR 14488 — Tampos de vidro para móveis — Requisitos e métodos de ensaio especifica as exigências necessárias para garantir a segurança da aplicação do material em mesas, aparadores e similares. A área quadrada do tampo, o tipo de vidro (comum, temperado ou laminado), a altura em relação ao piso e a forma como é apoiado (completamente ou não) são informações requeridas por essa norma para determinar a espessura do tampo de vidro a ser aplicado.
Existe também a ABNT NBR 14564 — Vidros para sistemas de prateleiras – Requisitos e métodos de ensaio, que especifica os requisitos de desempenho e os ensaios necessários para garantir a segurança da aplicação do material na composição de prateleiras. Importante citar ainda a ABNT NBR 14033 — Móveis para cozinha, que padroniza as dimensões dos móveis para cozinha e estabelece os requisitos de segurança e os métodos de ensaio para determinar a estabilidade, resistência e durabilidade desses produtos.
No dia 25 de maio, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) organizou em sua sede, na capital paulista, o Dia da Indústria. Com o lema “Indústria forte, País forte”, o evento promoveu a imersão em temas de interesse para o setor produtivo, com a presença de autoridades e palestrantes nacionais e internacionais. Iara Bentes, superintendente da Abravidro, representou a entidade no encontro.
Entre os pontos discutidos, Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, destacou algumas das principais movimentações do banco, como a destinação de um fundo inicial de R$ 2 bilhões para ajudar a indústria nacional a exportar sua produção, além de citar ações para desonerar o setor na reforma tributária a ser aprovada.
Por falar em reforma tributária, o tema fez parte da programação: o secretário-extraordinário da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda, Bernard Appy, e os deputados federais Reginaldo Lopes e Vitor Lippi, ambos membros do Grupo de Trabalho (GT) sobre o Sistema Tributário Nacional, discutiram suas visões e diretrizes a respeito do assunto, considerado fundamental para a retomada do crescimento desse setor no País.
O encerramento se deu com a presença e discursos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin; e do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Cada vez mais, os podcasts vêm ganhando o gosto do setor vidreiro. Após o pioneirismo da Abravidro com o lançamento do VidroCast em março de 2020, a empresa GR Gusmão, com o PodTransformar, e o consultor Daniel Estrela, com o Vidro na Obra, também lançaram programas do tipo em seus respectivos canais no YouTube. O objetivo é debater sobre negócios, tecnologia e curiosidades do nosso setor com a presença de convidados em conversas descontraídas e ao vivo.
Para comemorar seus 25 anos de história, a PKO Vidros revelou ao mercado sua nova identidade visual. A mudança apresentada pela empresa de Mogi das Cruzes (SP) inclui alteração em seu nome (antes era conhecida como PKO do Brasil) e logomarca, visando a refletir os atuais valores e propósitos da companhia que vem investindo em soluções nos campos da inovação, conscientização, responsabilidade social e atendimento personalizado.
Em 1º de junho, a Blindex realizou no São Paulo Airport Marriott Hotel, em Guarulhos (SP), o 4º Fórum Transparência com Elas, evento que tem como objetivo debater a presença feminina no empreendedorismo. Este ano, ele reuniu diversas clientes da empresa e convidados. A partir do tema “Tempo a nosso favor”, as apresentações discutiram a relação da mulher com o envelhecimento e como isso impacta a carreira delas.
A programação contou com a presença da empresária e terapeuta Valéria Sanseverino; da polonesa Jolanta Lessig, gerente de Marketing e Comunicação da Pilkington Europa; e de Ana Júlia Kachan, advogada especializada em direito previdenciário. Para fechar o evento, a apresentadora Ana Hickmann relembrou, em um bate-papo com Glória Cardoso, gerente-geral da Blindex, os diferentes momentos de sua vida profissional, passando de jovem modelo para empresária e estrela da TV. Houve espaço ainda para duas apresentações do grupo de sapateado Jovens de Coração, conjunto formado por mulheres a partir dos cinquenta anos.
Desaceleração industrial no mundo…
A edição da Carta Iedi publicada no final de abril pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) alerta que, segundo os dados recentemente divulgados pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), a desaceleração da indústria de transformação no final do ano passado foi vista em quase todo o mundo. Na comparação com o período anterior, já descontados os efeitos sazonais, o resultado foi de -0,3% no quarto trimestre de 2022, anulando metade do crescimento visto no terceiro trimestre.
…e no Brasil
Segundo a publicação, nosso país pisou ainda mais forte o freio, registrando, no quarto trimestre do ano passado, um patamar de declínio industrial de 0,8% na comparação com o trimestre anterior – uma queda quase três vezes mais intensa do que a do total mundial. Na comparação com o quarto trimestre de 2021, a indústria de transformação nacional cresceu apenas 0,8%, enquanto a global subiu 1,5%.
Causas e desafios
Além da guerra na Ucrânia, contribuíram para esse cenário a alta da inflação e a piora das condições de crédito, devido à alta das taxas de juros em muitos países. A indústria global ainda enfrenta desafios diversos, como preços crescentes de energia, elevação das taxas de juros globais e perturbações persistentes na cadeia de suprimentos de matérias-primas e bens intermediários, enfraquecendo a confiança e elevando a incerteza.
No sentido contrário
A indústria mundial de tecnologia foi exceção, pois, de acordo com os dados divulgados pela Unido, ela continuou evoluindo positivamente e acima do agregado do setor. Em comparação com o quarto trimestre de 2021, essa parcela da indústria de transformação (considerando o segmento de média-alta e alta intensidade tecnológica) cresceu 3,6%, ou seja, mais do que o dobro do total global (1,5%). A recuperação do setor automotivo e a expansão consistente de equipamentos elétricos contribuíram para esse desempenho.
FIQUE POR DENTRO
Vidro biodegradável
Em um estudo publicado em março na revista Science Advances, uma equipe de cientistas do Instituto de Engenharia de Processos da Academia Chinesa de Ciências descreve como eles projetaram o que chamam de vidro biodegradável, feito de aminoácidos ou peptídeos. A ideia é que esse material tenha um impacto menor no meio ambiente do que o vidro convencional – que, embora possa ser reciclado sem perdas no processo, não se decompõe no meio ambiente e pode permanecer em aterros sanitários por milhares de anos. Os pesquisadores testaram a exposição de pequenas contas desse vidro biodegradável a enzimas: aquelas feitas de aminoácidos se decompuseram depois de apenas dois dias, já as de peptídeos foram decompostas em cerca de cinco meses. Yan Xuehai, professor envolvido no estudo, disse em comunicado à imprensa que “o vidro biomolecular está atualmente em estágio de laboratório e longe da comercialização em larga escala”.
Crédito: Alexander Volokha/stock.adobe.com
RETROVISOR
Crescimento nacional
Em 1986, a Cebrace anunciou sua decisão de construir a 2ª fábrica de float no Brasil, de modo a acompanhar a expectativa da crescente demanda pelo nosso material no País. A notícia foi publicada nas páginas da edição de maio daquele ano de O Vidroplano, apontando que a iniciativa da empresa contribuía para a constituição de um parque industrial nacional moderno e competitivo – a segunda unidade foi inaugurada em 1989 em Caçapava (SP). Hoje, a Cebrace conta com cinco plantas.
A edição 2023 do Panorama Abravidro já está disponível. Como de costume, o principal estudo econômico sobre a produção vidreira nacional pode ser lido encartado na edição impressa de O Vidroplano ou em seu formato online e está também disponível em inglês e espanhol.
Os números presentes no levantamento deste ano indicam uma dura realidade para o nosso setor. Confira abaixo a análise a respeito dos principais indicadores do estudo e o que eles apontam.
A importância do levantamento
No Panorama Abravidro, as empresas da cadeia de vidros planos podem encontrar os números essenciais do setor e usá-los para definir suas ações ao longo do ano – e até mesmo comparar os resultados individuais da sua processadora com o desempenho do mercado como um todo. A publicação também proporciona uma visão de quais são os principais problemas do mercado brasileiro e quais as medidas necessárias para resolvê-los. “Em ambientes de economia vacilante e consumo em queda, poder contar com monitoramentos como o Panorama e Termômetro Abravidro é fator decisivo para que as empresas possam se adaptar e acompanhar a dinâmica do mercado”, avalia José Domingos Seixas, presidente da Abravidro que deixa seu posto este mês.
Sobre o Panorama Abravidro 2023
Dados referentes ao exercício de 2022;
Perfil da amostra: 46 empresas, as quais representam 24% do mercado brasileiro de vidro processado não automotivo;
Período da coleta de dados: janeiro a abril de 2023.
Faturamento de vidros processados (R$ milhões/ano)
No total, houve uma queda de 10,4% no faturamento das processadoras de 2021 para 2022;
O laminado teve a menor queda observada no faturamento (2%), enquanto a maior foi a dos espelhos (13,8%).
Produção de vidros processados (m²)
Assim como no ano passado, o laminado se manteve como o grande destaque, com um crescimento de 4,7%, ultrapassando a marca de 8 milhões de m²;
A produção de temperado teve uma queda de 7,5%; apesar disso, ele permanece como o vidro processado mais produzido, com mais de 32 milhões de m²;
Espelhos caíram 8,2%, o maior índice observado entre os diferentes produtos.
Participação por produto em 2022 (m²)
O laminado cresceu pelo terceiro ano seguido e apresentou seu melhor índice de participação da série histórica, com 14,4%;
O temperado permanece na liderança isolada; apesar disso, sua participação teve um pequeno recuo, caindo de 59% em 2021 para 57,9% em 2022;
O insulado teve um pequeno crescimento em relação ao ano passado: 0,6%.
Preço médio do vidro processado (base 100 = 2012) *
Tanto o temperado como o laminado tiveram uma perda de valor em relação a 2021, acompanhando a queda de faturamento e de produção;
Esse resultado é outro sintoma da desaceleração do mercado vidreiro nacional.
* Os valores de referência de 2012 a 2021 foram atualizados monetariamente
Mão de obra empregada na indústria de transformação
Houve uma queda de 1,3% no número de empregados no setor em 2022, após cinco anos em alta;
Apesar disso, o nível de mão de obra empregada é o segundo mais alto desde 2014.
Produtividade na indústria de transformação (m²/funcionário/mês)
A produtividade é calculada por meio da divisão da produção total em m² pelo número de funcionários;
2022 teve 153,9 m² processados por funcionário ao mês;
Observou-se uma queda de 4,5% de produtividade na comparação com 2021, resultando no pior número em dez anos.
Eles participam do Panorama Abravidro. E você?
“Participamos sempre dos levantamentos para a elaboração do Panorama Abravidro porque cremos no associativismo e no compartilhamento de informações e conteúdos. Quanto mais empresas enviarem informações para esse estudo, mais fidedignos serão os resultados.” Antônio Carlos da Cunha, sócio-diretor da Bend Glass (Contagem, MG)
“A PKO entende que essa participação contribui para o objetivo maior, que é a obtenção de dados mais precisos do setor, bem como a possibilidade de acompanhar sua evolução e oportunidades. Consideramos que a adesão das processadoras a esse levantamento deve ganhar uma escala sempre maior; são indicadores importantes que podem auxiliar na definição de estratégias mais direcionadas e, especialmente, nortear com mais segurança na tomada de decisões.” Alexandre Toledo, gerente-comercial da PKO do Brasil (Mogi das Cruzes, SP)
“A Viminas é uma empresa com, aproximadamente, quarenta anos de mercado, atuando com transparência e profissionalismo. Desta forma, fazemos questão de participar do Panorama Abravidro, o que temos feito desde a primeira edição; temos a convicção de que, quanto maior for o número de empresas participantes, mais precisas serão as informações relevantes que teremos, além de estarmos contribuindo de maneira gigantesca para toda cadeia vidreira, seja para nossos fornecedores, clientes e para nós processadores, nas nossas tomadas de decisões.” Maurício Silva Ribeiro, diretor da Viminas Vidros Especiais (Serra, ES)
Comparação entre estudos
Este ano, além do Panorama, o setor conta também com o Termômetro Abravidro, publicado mensalmente. Sergio Goldbaum, economista da GPM Consultoria Econômica, empresa responsável por apurar e consolidar os dados de ambos os estudos, comenta que a equipe estava ansiosa para ver de que maneira os números do Panorama e do Termômetro conversariam entre si. “A atividade econômica caiu em ambas as pesquisas, mas a queda do Termômetro foi mais acentuada. Estamos ainda estudando a discrepância, mas cada um deles tem características próprias e amostras diferentes”, avalia.
Com relação à queda nos números de diferentes indicadores do Panorama Abravidro 2023, Goldbaum considera que eles provavelmente indicam o final de um ciclo. “Em particular, a alta da taxa de juros já dura mais de dois anos. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informam que a atividade de todos os setores consumidores de vidros processados – construção civil, automóveis, eletrodomésticos e móveis – estiveram estáveis ou desaquecendo ao longo de 2022”, informa o economista da GPM, acrescentando que a atividade econômica em todos esses setores continua estável ou desaquecendo, o que indica a possibilidade de que essa tendência de queda se mantenha em 2023.
Ao contrário de outros indicadores, a balança comercial teve seu melhor desempenho em cinco anos – mas Goldbaum explica que a razão para isso não é exatamente boa: “O superávit da balança comercial é consistente com o desaquecimento do setor. A demanda reduzida do produto diminuiu as importações e o excedente da produção doméstica procurou mercados externos, ampliando as exportações”.
Em comunicado oficial, a LM Vidros anunciou, no fim de abril, um novo plano de expansão para a sua marca. Com isso, desde 1º de maio, a empresa passou a atender todo o território nacional com a oferta de vidros temperados. Após a decisão, a LM deixa de integrar o quadro de franqueados da Blindex, empresa com a qual manteve parceria no atendimento ao Estado do Mato Grosso do Sul.
A Abravidro criou, em 2012, o Panorama Abravidro. O documento é publicado anualmente e traz dados atualizados do mercado brasileiro, incluindo informações sobre as indústrias de base e de transformação, assim como os números da produção de vidro no País, faturamento, balança comercial internacional, entre outras. Para se chegar aos dados divulgados no documento, a Abravidro convida empresas a participarem de uma pesquisa. Os resultados são consolidados pela GPM Consultoria Econômica, contratada para apurar as informações do setor e relacioná-las com a Pesquisa Industrial Anual do IBGE, números oficiais de importação e exportação do governo, além de declarações da indústria de base à revista O Vidroplano.
A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) realizou, no dia 11 de abril, o Summit Abrainc 2023 – 100 Dias de Governo. O encontro, na Casa Giardini, em São Paulo, reuniu empresários do setor de incorporação imobiliária e da construção, autoridades políticas, executivos do setor financeiro e líderes de entidades da cadeia produtiva, além de formadores de opinião e jornalistas.
A proposta dos organizadores é o seminário ser um importante elo de debate entre o novo governo do Brasil e nomes relevantes da construção. Este ano, a edição trouxe à tona pautas que propuseram a discussão de assuntos como investimentos públicos e privados no setor, políticas de financiamento, retomada dos programas de habitação e o compromisso com a agenda ambiental, social e de governança, entre outras temáticas.
Debate aberto
Para a abertura da solenidade, estiveram presentes diversas personalidades. Os discursos giraram em torno de quais as melhores estratégias para o crescimento do Brasil. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, por exemplo, defendeu a reforma tributária. Já o ministro das Cidades, Jader Filho, destacou a importância do relançamento do Minha Casa, Minha Vida e, em especial, o retorno da Faixa 1 do programa (que contempla famílias com renda mensal de até R$ 2.640) para o combate ao déficit habitacional.
Troca de informações
Durante o painel “Diálogo com o Poder Público para a Habitação”, foram analisados meios para que agentes econômicos, políticos e sociais fortaleçam as relações desse setor a fim de promover mudanças que permitam a entrada de mais investimentos, garantindo assim novas habitações. Participaram desse debate o secretário Nacional da Habitação, Hailton Madureira de Almeida, e o prefeito de Araraquara, Edson Antônio da Silva, para quem é necessária uma política habitacional independente e plural. “A política habitacional tem de ser uma política de Estado, inclusive, com gestão tripartite. As cidades brasileiras são diversas e suas necessidades também. Portanto, é importante pensar em um modelo que respeite a especificidade de cada município”, comentou.
Na sequência, a jornalista Carol Nogueira, mediadora dos painéis, conduziu a conversa sobre “Financiamento e Crédito para a Habitação”, que incluiu Luiz França, presidente da Abrainc, e Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e palestrante do 11º Simpovidro, entre outros. Foram debatidas as linhas de crédito e funding para o setor e os caminhos trilhados pelo mercado para a busca de alternativas em momentos de juros altos. Apesar das atuais preocupações, Gustavo Loyola se mostrou otimista, pois enxerga no horizonte sinais para uma queda da taxa Selic, inclusive com dados favoráveis vindos do exterior: “Temos uma conjuntura internacional desinflacionária e isso já influencia os preços das commodities”.
Meio ambiente em destaque
Para encerrar, foi a vez de Eduardo Fischer, CEO da MRV, e Ubirajara Freitas, CEO da Tegra, além de Luiz França, assumirem a mesa-redonda para tratar sobre “O Compromisso do Setor com a Agenda Social, Ambiental e de Governança”. Eles também partilharam suas visões sobre os meios para minimizar o impacto ambiental. Em relação à importância da mudança de cultura nas organizações, o destaque vai para a fala de França, que aproveitou o momento para ser categórico ao dar um alerta às organizações que seguem desatentas às premissas do ESG: “Só não está alinhado com o ESG quem está fora desse mundo”.
Vale destacar que foi dada ao público a oportunidade de enviar questionamentos aos debatedores, os quais, por sua vez, aproveitaram o momento para compartilhar experiências sobre os mais diferentes assuntos envolvendo a construção e o setor imobiliário.
A processadora Divinal anunciou a expansão de seu negócio de vidros temperados: a empresa deixa de ser franqueada Blindex e, com isso, seus temperados passam a sair de suas fábricas com a marca Tempered. Assim, a Divinal volta a atuar no mercado nacional, sem restrição de região.
A GlassParts é a nova distribuidora da tradicional marca japonesa Toyo no Brasil. A centenária multinacional se tornou conhecida pelo mundo graças à durabilidade de seus cortadores manuais para vidros e rodízio de cortes. A nova parceria, já em vigor, contempla a comercialização dos produtos da Toyo em todas as regiões do País.
O vidro como o conhecemos está inserido na história da humanidade desde longa data: sua possível origem (uma mera fogueira na areia da praia) estaria muito mais relacionada ao acaso do que a uma invenção. Porém, diferentemente dos tempos simples nos quais viveram nossos antepassados, o mundo contemporâneo tem pela frente grandes batalhas a serem vencidas – o aquecimento global talvez sendo a mais importante delas. Embora isso seja uma responsabilidade de todos, nossa cadeia deve ter protagonismo nesse processo. Não por acaso, o papel do vidro e do setor vidreiro na busca pela sustentabilidade foi tema especial das edições de agosto e setembro de 2022 aqui em O Vidroplano. O tema também foi destaque na programação do Simpovidro, que contou com palestra sobre o ESG, com o objetivo de desmitificar o assunto e aproximar a cadeia de processamento dessas discussões.
Para seguir no assunto, este mês apresentamos a importância do descarte correto do vidro e explicamos como a reciclagem se tornou atividade essencial para o nosso segmento – do início do processo, na fabricação do float, passando pelo papel das processadoras, até chegar ao que o Brasil faz em relação a esse promissor mercado.
Visão do todo
O vidro é um dos materiais produzidos pela humanidade com maior potencial para reciclagem. Sendo composto essencialmente por elementos da natureza, trata-se de um item com margem para ser reaproveitado sem gerar perdas. Dado o volume de material produzido ano após ano, também é alto o número de resíduos gerado por toda a cadeia. Nesse sentido, o trabalho das processadoras surge como destaque, já que serão as responsáveis por fazer com que o vidro passe por diversas transformações até se tornar temperado, laminado, insulado etc, o que resulta em sobras de vidro que podem ser enviadas para reciclagem.
“A cada 1 kg de vidro reciclado, pode ser produzido 1 kg de vidro novo, o que gera a redução de emissões de CO2, de extração de matéria-prima virgem e também economia de energia”, afirma Juliana Schunck, diretora-geral da Massfix. Usinas utilizam cacos para a fabricação de vidro float e parte das embalagens de vidro produzidas no Brasil advém de processos recicláveis – mesmo assim, segundo avalia Juliana, o sistema precisa seguir em evolução se quisermos garantir às próximas gerações um futuro verdadeiramente limpo e verde. “As questões de sustentabilidade são uma necessidade, e cuidar para que nossos resíduos sejam reaproveitados é essencial para o futuro do planeta”, destaca. “Acredito que cada vez mais as exigências ambientais estarão presentes nos negócios e que não haverá futuro sem o total reaproveitamento dos resíduos”. A cada 6 t de vidro reciclado, estima-se que se deixa de emitir, em média, 1 t de CO2.
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Como é a reciclagem?
O passo a passo no desenvolvimento das ações tende a variar conforme cada processadora. Porém, de modo geral, os procedimentos ocorrem da seguinte forma:
As empresas que fazem a reciclagem recebem e/ou fazem a coleta do vidro — este precisa estar devidamente acondicionado;
Faz-se a triagem do material (manual ou mecanicamente);
Identificam-se o tipo e a cor do vidro a ser reciclado;
São retirados os contaminantes (qualquer material que não seja o vidro propriamente dito);
Inicia-se o processo de trituração e peneiramento;
Classifica-se o material;
O vidro volta ao ciclo da economia.
Mercado nacional
Quando bem executado, o trabalho tende a gerar excelentes frutos não só na esfera sustentável, mas também no campo financeiro. Porém, para que todo o processo flua conforme previsto, é preciso haver um sistema de coleta organizado, conscientização e políticas de incentivo, como já ocorre nos países desenvolvidos.
No Brasil, existem políticas em prol do fomento à logística reversa, o que inclui a reciclagem do vidro, como o decreto para recriação do programa Pró-catador, revogação do Recicla+ (Lei 14.260/21), que autoriza a constituição de fundos de investimentos destinados a projetos de reciclagem, e o Decreto nº 11.043/2022, que estabelece diretrizes e metas para o setor num intervalo de vinte anos. Porém, tais medidas são tidas como insuficientes por aqueles que atuam no segmento, uma vez que a carga de impostos sobre o setor segue elevada.
Apesar de as perspectivas a longo prazo caminharem rumo a um mercado cada vez mais maduro, na visão de Silvério Silva, gestor da FS Saldanha Reciclagem, a falta de incentivos do governo tende a seguir como principal empecilho. “Infelizmente, o governo brasileiro não trabalha para estimular, pois, enquanto a roda da economia precisa girar, ele [o governo] parece que atua para atrapalhar”, comenta. “Entendo que são vários os fatores que precisam ser resolvidos até se criar uma estabilidade econômica para atrair investimentos.”
Já de acordo com Michel Jeber, sócio e diretor-administrativo da 5RS Reciclagem, para que se possam atingir níveis maiores de reciclagem do vidro, além de campanhas frequentes de conscientização, visando ao engajamento da população, outros fomentos precisam estar atrelados. “Creio que estímulos aos consórcios de municípios e aparelhamento das prefeituras, com remuneração por volume reciclado, poderiam trazer ganhos reais aos municípios e incentivar a coleta de destinação correta dos resíduos”, afirma. “Não menos importante, reduzir a carga de impostos para o setor estimularia mais empresas e cooperativas a se dedicar a esse trabalho tão importante e necessário.”
Comparação com o mundo
Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), até junho de 2022, apenas 4% dos materiais sólidos que poderiam ser reciclados no País são submetidos a esse processo – índice muito abaixo do de países de mesma faixa de renda e grau de desenvolvimento econômico, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, conforme dados da International Solid Waste Association (ISWA).
Ainda de acordo com o levantamento da entidade, nos anos de 2021 e 2022, período da pandemia, os materiais recicláveis secos representaram 33,6% do total de 82,5 milhões de t anuais de resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos. Desse volume, o vidro era somente 2,7% — número bastante baixo para o nosso país. Para se ter uma ideia, na Alemanha, por exemplo, o índice de reciclagem atinge a marca de 67%, o que no comparativo em tempo representa um atraso de 20 anos do Brasil frente aos países desenvolvidos.
Como a reciclagem é feita nas usinas?
Segundo a Abividro, o índice nacional de reciclagem do vidro no ano de 2018 foi de 25,8%. A boa notícia é que tanto no Brasil como no exterior, as usinas de float e oco já incorporaram a prática da reciclagem aos seus processos. Diferentemente das matérias-primas puras, os “cacos” quando derretidos nos fornos não geram CO2.
Um exemplo internacional de experiência bem-sucedida com uso dos cacos é o da Saint-Gobain. Em julho, a empresa anunciou uma inovação técnica para a sua produção, cuja combinação entre alto teor de cacos (cerca de 70% da receita) e fornos alimentados com energias renováveis proporcionou a produção de um vidro com a menor pegada de carbono do mercado, o Oraé.
No Brasil, as empresas seguem na busca de tornar cada vez mais limpa nossa cadeia produtiva. Veja a seguir o que algumas das principais indústrias vidreiras estão fazendo em relação ao assunto.
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AGC
“Na AGC, possuímos um sistema de gestão que trabalha para a otimização dos processos buscando a redução de resíduos. Aqueles que são gerados entram na meta de “Zero Aterro” e podem seguir dois caminhos: primeiro, buscamos soluções internas para o reaproveitamento; a segunda opção é encaminhá-los para parceiros ambientais que possuem tecnologia para reaproveitamento desses resíduos. Para os resíduos de vidro, a AGC recicla todo o material possível dentro de seu processo produtivo, o que contribui com a diminuição da energia consumida na produção. Quanto aos materiais considerados impuros para o reaproveitamento interno, nós os encaminhamos a um parceiro para fazer a segregação e utilização desse material.” João Paulo Veiga, coordenador de SGI
Cebrace
“Na nossa empresa, a reciclagem de vidro está presente no reaproveitamento de cacos dentro do forno de fusão, sendo um dos materiais adicionados ao processo produtivo. Para ampliar o trabalho de reciclagem junto ao setor vidreiro, a Cebrace uniu-se à Massfix, empresa que atua na reciclagem de vidros planos, laminados e vidros de embalagens em todo o Brasil. Se, após a análise, for verificado que os cacos não podem ser reutilizados, eles são enviados para um fornecedor homologado para reprocessamento e utilização de outros mercados, otimizando o resultado e minimizando desperdícios ou descartes inadequados.” Mônica Caparroz, gerente de Marketing
Guardian
“Na Guardian, reutilizamos as sobras geradas pelo nosso próprio processo produtivo, além de possuir uma rede de clientes que participa de forma contínua do nosso programa de logística reversa. Incentivamos o retorno dos cacos no mesmo caminhão que carrega o vidro em nossas unidades e, em situações específicas, estabelecemos uma rota de coleta de cacos em locais de concentração. Quando recebemos o material, é feita a revisão e avaliação para garantir que não existam contaminantes (sujeira, rebolos etc.) ou misturas entre cores de vidro. A partir daí, o material é utilizado em nossa linha de produção para a fabricação de chapas de vidros planos, as quais darão origem a espelhos e vidros de alto desempenho para a arquitetura comercial, residencial e de interiores.” Viviane Sequetin, gerente de Marketing na América do Sul
OBS: nossa reportagem entrou em contato com a Vivix, porém a usina não conseguiu atender ao prazo para envio das respostas
Em janeiro, como de costume, O Vidroplano trouxe uma reportagem a respeito das expectativas das empresas vidreiras em relação ao novo ano. O desempenho de nosso setor está diretamente ligado ao de outros segmentos – e um dos mais importantes é o das esquadrias.
Quais são as perspectivas do setor de esquadrias para 2023? Conversamos com algumas das principais associações para saber como foram os movimentos desse mercado em 2022 e o que se espera para os próximos meses.
Perspectivas de crescimento
As principais entidades do segmento nacional de esquadrias mostram-se otimistas em relação a este ano. “Vimos que em 2022, segundo dados oficiais, tivemos muitos lançamentos de imóveis de médio/alto padrão e do programa Casa Verde e Amarela (que voltará a se chamar Minha Casa, Minha Vida) num patamar elevado. Isso indica que, para os próximos três anos, o País vai precisar de muitas esquadrias de alumínio”, afirmou Filipe Gattera, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), em entrevista para o site da entidade em janeiro. Para O Vidroplano, Gattera explicou que a projeção da associação é que, no cenário mais pessimista, haverá um crescimento de 1,5% em relação a 2022; no mais otimista, o crescimento estimado é de 4,9%. Isso virá acompanhado por um aumento na demanda de vidros aplicados nesses sistemas, com previsões variando de 1,8% (equivalente a 12.970 m² de nosso material) a 5,5% (13.830 m²).
Assim como na área de alumínio, o setor de esquadrias de PVC também se mostra confiante. “Consideramos que nosso mercado deve continuar na linha de crescimento, como vem acontecendo nos últimos anos”, avalia Eduardo Rosa, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Sistemas, Perfis e Componentes para Esquadrias de PVC (Aspec PVC).
Robson Campos de Sousa e Ismael Person, respectivamente gerente técnico e consultor-comercial da Associação Brasileira das Indústrias de Portas e Janelas Padronizadas (Abraesp), contam que a entidade tem a expectativa de que este será um ano positivo para o setor, com perspectivas de crescimento entre 7% a 10% com base em 2022. “Já se percebe um otimismo entre empresários do ramo, além de investimentos sendo projetados para o decorrer deste período”, observa Robson.
Edson Fernandes, presidente da Associação Brasileira de Indústrias de Esquadrias (Abie), conta que a entidade fez uma pesquisa recente com seus associados, parceiros e membros, e a maioria se mostrou otimista para 2023, ainda que com alguma moderação e cautela. “A Abie reforça esse otimismo e espera que haja aumento no volume de vendas no varejo e melhora nas políticas de recursos e taxas de juros para financiamentos imobiliários”, ressalta o dirigente.
Perspectivas na construção civil
Espelhando a cadeia vidreira, a de esquadrias também tem seu desempenho fortemente influenciado pela construção. De acordo com o estudo Produtividade e Oportunidades para a Cadeia da Construção Civil, elaborado pela Deloitte e divulgado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) este mês, os três setores que compõem a cadeia de construção (infraestrutura, infraestrutura de base e construção civil e incorporação imobiliária) devem somar investimentos da ordem de R$ 2,7 trilhões em projetos no Brasil até 2030 – o levantamento prevê que, desse montante, R$ 312,8 bilhões devem vir diretamente das obras de construção e incorporação imobiliária.
Segundo Edson Fernandes, a Abie sugere que as indústrias de esquadrias se mantenham alertas sobre as ações políticas e econômicas em 2023, para assim poderem planejar melhor seus próximos passos e tomar decisões com mais cuidado. De fato, fatores nacionais – e internacionais, também – podem ter um peso considerável nesse segmento.
Com relação a 2022, Robson Campos de Sousa e Ismael Person, da Abraesp, observam que o ano teve início com um forte reflexo negativo para o setor, efeito causado pela pandemia da Covid-19 em 2020 e 2021 – como nesse período houve um aumento sem precedentes das vendas para a construção civil e as indústrias não estavam preparadas para essa demanda, ocorreram faltas de vários produtos e insumos para atender o mercado. “Apesar de todos os fatores negativos, 2022 ficou acima das projeções iniciais, mas, infelizmente, não é possível constatar qual o número de unidades fabricadas. Isso porque o método comumente utilizado – a medição da fabricação pelo consumo de matéria-prima comprada – mostrou-se impreciso em razão da elevada perda de matéria-prima no processo produtivo”, explica Robson.
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Programas populares de moradia
Ações de incentivo das diferentes esferas de governo podem contribuir para o crescimento desse mercado – e do de vidro também. “No passado, é inegável que o programa Minha Casa, Minha Vida teve impacto. Porém, nos últimos anos, tanto ele como sua versão rebatizada da gestão anterior tiveram pouco efeito”, observa Edson Fernandes, da Abie. “Contudo, foi recentemente veiculado que o programa será retomado no segundo semestre deste ano. Iniciativas como essa puxam toda a cadeia produtiva e aquecem o mercado da construção civil, gerando empregos que promovem ganhos sociais significativos para o Brasil”. De fato, o governo federal anunciou em fevereiro que pretende retomar ainda este ano as obras de 37.500 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida que estavam paralisadas – segundo a Agência Brasil, somente no último dia 14 foram entregues 2.700 habitações em nove municípios de seis Estados, de forma simultânea.
De acordo com Eduardo Rosa, da Aspec PVC, os programas de moradia popular implementados pelo governo federal sempre contribuem para a utilização das esquadrias de PVC. “Isso se deve principalmente ao fato de que devem ser usados somente produtos qualificados e homologados no Programa Setorial da Qualidade (PSQ), implementado pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBPQ-H), vinculado à Secretaria Nacional da Habitação”, afirma. Rosa destaca que a entidade, como mantenedora do PSQ de esquadrias de PVC, possui em seu quadro de associados empresas com produtos homologados e qualificados, tornando esses produtos aptos a serem utilizados nos programas de moradia popular, além de propiciar uma melhor ecoeficiência das moradias e bem-estar aos usuários.
Gattera destaca que a Caixa Econômica Federal, principal agente das políticas públicas, continuará financiando a construção com taxas sustentáveis, ainda abaixo de dois dígitos. Em entrevista para o portal da Afeal, ele também comentou que o novo governo vem falando bastante sobre investir em construção e infraestrutura, com a retomada de obras e a ampliação de programas para o setor da construção. “Isso tudo reforça o otimismo da nossa associação”, afirma.
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Valor agregado em vidros e esquadrias
Será que as perspectivas de crescimento para 2023 virão acompanhadas por mais adoção de sistemas e vidros diferenciados, apresentando melhor qualidade e desempenho? Ou as opções mais baratas e simples continuarão sendo usadas nas obras?
“Não temos esse dado apurado isoladamente”, responde Gattera. “Quando olhamos para os números publicados pela Abrainc, vemos que o alto padrão teve um crescimento maior em 2022 do que o das demais faixas. Apesar disso, esse mercado ainda é pequeno para nós comparado ao que acontece lá fora. A esquadria para padrão econômico ainda é o maior volume de caixilharia no Brasil.”
Então os produtos de valor agregado continuarão em segundo plano? Talvez não. “O consumidor está cada vez mais exigente e informado. Vale destacar que o segmento de esquadrias de alumínio e empresas associadas à Afeal dispõem de soluções que garantem o desempenho de estanquidade, isolamento termoacústico, sombreamento e automação, entre outros atributos”, ressalta Gattera. De fato, dados da associação referentes a 2021 apontam que, embora vidros comuns correspondam a 57,6% das peças usadas nas esquadrias de alumínio em geral, o vidro laminado foi a solução escolhida para 83% dos sistemas voltados especificamente para fachadas.
Assim como no segmento de alumínio, as esquadrias de PVC também contam com opções de alto desempenho. “O crescimento da procura por esquadrias de alto desempenho em estanquidade, segurança e desempenho térmico e acústico faz com que a utilização de vidros especiais e diferenciados seja maior, pois o uso dessas peças com maior valor agregado é fundamental para se obter um melhor desempenho das esquadrias”, avalia Eduardo Rosa. “Na fabricação das esquadrias de PVC, existe sempre a especificação correta do vidro levando em consideração a aplicação do sistema. Devem ser verificados quais são os tipos de vidro de segurança e seus diferenciais de desempenho, para atender as necessidades do usuário final, sempre respeitando as exigências da norma ABNT NBR 7199.”
Segundo Robson Campos de Sousa e Ismael Person, a Abraesp acredita que haverá crescimento na comercialização de esquadrias para os empreendimentos de alto padrão, visando a atender os requisitos de conforto térmico e à eficiência energética das edificações, ambos lastreados pelos trabalhos de normalização que ocorrem no âmbito do Comitê Brasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-002), dos quais a associação participa ativamente. Eles acrescentam que os vidros laminados são um elemento de fechamento utilizado em larga escala nas fachadas-cortinas e creem que o aumento de seu consumo será estimulado após a publicação da futura Parte 8 da ABNT NBR 10821 — Esquadrias externas para edificações, que está em desenvolvimento.
Edson Fernandes, da Abie, considera também que, nos últimos dez anos, o mercado de esquadrias mudou bastante, e essas mudanças causaram a reorganização do setor que fortaleceu as empresas qualificadas – o que, segundo ele, pode ser aferido e é explicado pelo advento das NBRs mais recentes, que passaram a exigir mais segurança e melhor desempenho acústico e térmico das esquadrias como um todo e também dos vidros utilizados nelas. “Com isso, o mercado naturalmente tornou-se mais exigente, e as indústrias estão se reorganizando cada vez mais para cumprir com os requisitos de performance e qualidade, que agregam mais valor aos produtos. Na visão da Abie, a continuidade desse processo de padronização e reorganização ao redor da qualidade é irreversível e seguirá contribuindo para o crescimento da demanda por esquadrias de valor agregado e com vidros diferenciados.”