A Cebrace comunicou que Rafael Matoshima (foto, à esquerda), que atuava no marketing da empresa como coordenador do Mercado de Decoração e Interiores, assumiu a posição de gerente-regional das regiões Sudeste (exceto São Paulo) e Centro-Oeste. O posto era ocupado por Odair Colombo, que se despediu da companhia por motivos pessoais. Com isso, Luciana Teixeira (foto, à direita), atual coordenadora de Trade Marketing, passa a assumir a coordenação do Mercado de Decoração e Interiores (antigo cargo de Matoshima).
No dia 25 de maio, comemora-se o Dia da Indústria. Historicamente protagonista da economia brasileira, esse setor perdeu fôlego ao longo das últimas décadas. Parques fabris diminuíram, capacidade de investimento despencou, número de trabalhadores caiu – e isso em um momento em que indústrias estrangeiras se fortaleceram, como a chinesa, tornando-se mais produtivas.
Já que o segmento vidreiro está inserido nesse contexto, O Vidroplano traz um resumo da desindustrialização vivida pelo País, mostrando de que forma isso pode ser combatido. Confira detalhes de programas para o desenvolvimento industrial disponíveis atualmente – soluções que podem fazer nossa indústria retomar a glória de outros tempos.
O maior inimigo da indústria
Reverter a desindustrialização (que é exatamente esse processo de perda de competitividade do segmento) é crucial para o Brasil crescer de forma sustentável. De acordo com a CNI, a cada R$ 1 produzido na indústria, são gerados R$ 2,44 na economia como um todo – como comparação, na agricultura é gerado R$ 1,74 e nos setores de comércio e serviços, R$ 1,52. Fica claro, então, que o segmento tem capacidade para alavancar os demais setores produtivos.
“Precisamos nos unir e defender uma estratégia de política industrial de longo prazo, perene, para o Brasil. Nós, da indústria, devemos seguir o exemplo do agro e trabalhar, unidos, para que a nova política de desenvolvimento industrial tenha as mesmas condições e alcance o êxito do Plano Safra”, comentou o presidente da CNI, Ricardo Alban, em evento no fim do ano passado, fazendo referência ao programa do governo federal para impulsionar a agricultura nacional. E já que investimento é fundamental, programas envolvendo parcerias entre Estado e iniciativa privada, com o objetivo de fortalecer a cadeia, foram criados nos últimos tempos, oferecendo empréstimos a condições especiais.
Um passeio pela história recente da indústria nacional
Nas últimas quatro décadas, a participação da indústria de transformação brasileira no PIB também caiu bastante: 33% => 15%
Participação da indústria no PIB (em %)
Fontes: Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Ocupação na indústria de transformação (em % do total de empregos)
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego
Participação da indústria de transformação no PIB (em %)
Até a Argentina, país com uma economia bem menor que a nossa, conta com uma indústria proporcionalmente mais importante do que a brasileira.
Fonte: KoreaStat, Deutsche Bundesbank, Birô Nacional de Estatísticas da China, Instituto Nacional de Estadística e Censos
Causas para a situação
Juros altos
Incertezas macroeconômicas
Infraestrutura deficiente
Sistema tributário complexo e oneroso
Falta de integração entre empresas e governo
Pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento: indicador representa somente 1,2% do PIB brasileiro, contra 2% nos países da OCDE
Exportação de produtos industrializados com alta tecnologia
Brasil: 9%
México: 19%
Média da OCDE*: 16%
* A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reúne algumas das economias mais avançadas do mundo
“No caso do Brasil, o que se nota é um avanço do setor do agronegócio, principalmente exportador, e do setor de serviços, principalmente de serviços financeiros, em detrimento do setor industrial. Nações ricas da Europa e os Estados Unidos também se moveram em direção aos serviços, mas sem abrir mão de avançar nas indústrias de alto valor agregado, que são puxadoras do restante da economia.” João Carlos Ferraz, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em entrevista à Folha de S.Paulo
Instrumentos para as empresas
Atualmente, a principal política de desenvolvimento da indústria vem do governo federal. Lançado no início de 2024, o programa de financiamento Nova Indústria Brasil (NIB) completou um ano de existência tendo viabilizado investimentos de R$ 3,4 trilhões em áreas estratégicas, incluindo produtividade, transformação digital das empresas e modernização do parque industrial brasileiro.
Com o objetivo de impulsionar a indústria nacional até 2033, o NIB usa, para estimular setores da economia, instrumentos tradicionais de políticas públicas, como subsídios, empréstimos com juros reduzidos e ampliação de investimentos federais, e também incentivos tributários e fundos especiais. A maior parte dos recursos virá de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Do total investido até o momento, R$ 1,2 trilhão vieram do governo federal e R$ 2,2 trilhões do setor privado (desse último valor, R$ 1,06 trilhão foram destinados à construção civil).
Entre as missões do programa estão:
Digitalizar 90% das indústrias brasileiras;
Triplicar a participação da produção nacional no segmento de novas tecnologias;
Cortar em 30% a emissão de gás carbônico por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria;
Aumentar o uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano.
E a efetividade da ação parece ter-se confirmado, como apontou o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços: “A indústria geral apresentou um crescimento de 3,1% em 2024. Apenas a de transformação cresceu 3,7%, o dobro do da média mundial. A indústria tem sido essencial para a criação de emprego e renda para o nosso país”. Os dados foram mencionados durante coletiva de imprensa em fevereiro, na qual se fez um balanço do primeiro ano do NIB.
Foco na produção
De acordo com o BNDES, empresas de todos os portes podem acessar os recursos disponíveis por meio de linhas de financiamento reembolsáveis ou não reembolsáveis e instrumentos do mercado de capitais. A mais importante divisão do NIB é o Plano Mais Produção, que conta com quatro eixos de atuação:
Indústria Mais Produtiva
Expansão da capacidade e modernização do parque industrial
Financiamentos com juros reduzidos para digitalização e financiamentos não reembolsáveis para até 90 mil pequenas e microempresas
Indústria Mais Inovadora e Digital
Juros reduzidos para apoio à inovação e digitalização via BNDES e Finep
Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT)
Indústria Mais Exportadora
Criação do BNDES Exim Bank, versão do BNDES voltada para apoio à exportação
Indústria Mais Verde
Criação do Novo Fundo Clima: projetos de descarbonização da indústria com juros a partir de 6,15% ao ano
Conheça outros programas de financiamento relevantes
Brasil Mais Produtivo
Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), tem como foco o fomento às pequenas, médias e microempresas dos segmentos da indústria, comércio e serviços. Foi integrado ao NIB no que diz respeito à incorporação de tecnologias digitais, especialmente as desenvolvidas e produzidas no País, para aumento da produtividade, redução dos custos operacionais e impulsionamento do faturamento.
Programa de Depreciação Acelerada
Segundo pesquisa da CNI de 2023, o maquinário do parque industrial brasileiro tem, em média, catorze anos de uso, sendo que 38% das máquinas estão próximas ou já ultrapassaram a idade prevista pelo fabricante como ciclo de vida ideal. Para tentar solucionar a questão, o MDIC, em parceria com o Ministério da Fazenda, criou o Programa de Depreciação Acelerada visando a impulsionar a compra de novas máquinas e equipamentos. Após adquirir um bem de capital, a empresa poderá antecipar nos dois anos seguintes o abatimento de impostos nas declarações do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – antes do programa, eram quinze anos para o abatimento. Isso ajudará o fluxo de caixa da empresa enquanto ela se recupera dos investimentos feitos para a aquisição.
BNDES Finame
Voltado para produção e aquisição de máquinas, equipamentos e bens de informática e automação, de fabricação nacional e credenciados pelo BNDES. São cinco linhas de financiamento disponíveis a empresas sediadas no País; fundações, associações e cooperativas; e ainda entidades e órgãos públicos.
Finep Inovacred
Tem o objetivo de apoiar empresas no desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços – ou no aprimoramento dos já existentes, visando a ampliar a competitividade dos negócios no âmbito regional ou nacional.
Como conseguir financiamento
Não existem restrições quanto ao tipo e ao porte da indústria que pode se candidatar ao financiamento do NIB. Basta estar alinhada às missões da ação e atender as condições da linha de crédito da instituição financeira que realizar o financiamento.
A seguir, confira respostas para algumas dúvidas que podem surgir sobre o tema:
Onde conseguir o financiamento?
Diversas instituições financeiras são parceiras do NIB, oferecendo os produtos ligados ao programa, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste. Confira se seu banco faz parte da ação.
Quais os valores financiados?
Dependem da forma de contratação da operação, da linha de financiamento escolhida e das regras do agente financeiro. Exemplo: em operações contratadas via agentes financeiros credenciados no BNDES, não há valor mínimo – e o valor máximo é de R$ 20 milhões para o subprograma Difusão Tecnológica, por exemplo. Já em operações centralizadas, contratadas diretamente via Finep, como a linha Finep Mais Inovação, o valor mínimo é de R$ 15 milhões para empresas com receita operacional bruta acima de R$ 90 milhões.
Quanto tempo leva para aprovar financiamentos e liberar recursos?
De novo, depende da linha de financiamento do agente financeiro, podendo levar de 15 a 75 dias para a análise e contratação, com liberação em até 2 semanas após a assinatura do contrato. Quando as empresas estão com a documentação em ordem, esse prazo pode diminuir consideravelmente.
É preciso prestar contas dos investimentos?
Para a aquisição de máquinas, não – basta a nota fiscal do bem em posteriores declarações. No entanto, para alguns projetos de inovação, a prestação de contas precisa seguir um cronograma, incluindo metas, atividades e indicadores do projeto.
A Abravidro criou, em 2012, o Panorama Abravidro. O documento é publicado anualmente e traz dados atualizados do mercado brasileiro, incluindo informações sobre as indústrias de base e de transformação, assim como os números da produção de vidro no País, faturamento, balança comercial internacional, entre outras. Para se chegar aos dados divulgados no documento, a Abravidro convida empresas a participarem de uma pesquisa. Os resultados são consolidados pela GPM Consultoria Econômica, contratada para apurar as informações do setor e relacioná-las com a Pesquisa Industrial Anual do IBGE, números oficiais de importação e exportação do governo, além de declarações da indústria de base à revista O Vidroplano.
Não é de hoje que, em conversas entre profissionais vidreiros, revela-se a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada e interessada para nossas empresas. E esse cenário é muito mais abrangente do que aparenta: a indústria nacional como um todo, além de outros setores, como o de varejo e o de serviços, também sofre com a questão. Mas por quê?
Achar uma resposta pode ser uma tarefa complexa, já que o assunto envolve diversos tópicos distintos – da mudança de percepção da geração Z, formada por nascidos a partir da segunda metade dos anos 1990, sobre como encarar o trabalho à queda da atratividade do regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), passando ainda pelo crescimento da noção de empreendedorismo individual, entre outros aspectos.
Números do mercado
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), 58,7% das empresas do País relatam dificuldades para conseguir novos funcionários ou reter trabalhadores antigos – e, entre as que enfrentam tal adversidade, quase 80% apontam a contratação como o maior desafio quando se fala em gestão de mão de obra. O estudo, realizado em outubro, consultou 3.707 companhias de variados setores (indústria, comércio, serviços e construção civil).
Para o economista Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens empresariais do FGV Ibre, é justamente a construção civil a cadeia mais afetada pela questão: a oferta de mão de obra não cresce na mesma proporção que a demanda, especialmente após projetos do governo federal para o fomento da atividade, como a expansão do programa Minha Casa, Minha Vida. Mais de 20% das empresas desse segmento estão atrasando entregas e 18% chegam ao ponto de rejeitar novos contratos – para comparação, a média percentual de todos os setores juntos é de 8,4%.
“O crescimento potencial do Brasil poderia ser maior se tivéssemos mão de obra qualificada que conseguisse atender toda essa demanda. Enquanto não temos, isso reforça nossos problemas estruturais”, comenta Tobler em uma reportagem do jornal O Globo, publicada em novembro, após a divulgação do estudo. “Apesar do aumento da escolaridade, muitas vezes essa qualificação não é direcionada para as demandas do mercado, o que compromete os ganhos de produtividade.”
No ano passado, a falta ou o alto custo de trabalhadores qualificados foram a preocupação que mais cresceu entre os industriais no terceiro trimestre, segundo a pesquisa Sondagem Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em relação à medição anterior, o crescimento foi de quase cinco pontos percentuais, passando de 18,6% para 23%, fazendo o problema pular do 6º para o 3º lugar na lista de preocupações. “Isso tem a ver com questões ligadas ao mercado de trabalho aquecido e ao próprio aumento da produção. É uma questão que preocupa, pois pressiona custos das empresas. Consequentemente, pode prejudicar a avaliação da situação financeira e a recuperação da indústria a médio prazo”, aponta o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo.
O mais curioso é a situação ocorrer em meio ao menor nível de desemprego do País desde 2012 (6,2%).
Como indicou reportagem da Veja publicada em fevereiro, o número de pessoas ocupadas cresceu 9% entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024;
No mesmo período, o contingente de desocupados caiu 43%;
E o número de pessoas em idade para trabalhar subiu 4,6%;
Isso tudo indica um grande contingente de pessoas disponíveis para trabalho. No entanto, somente 63% dessas pessoas estavam inseridas no mercado no fim do ano passado.
Parte disso pode ser explicada por transformações naturais ocorridas nos negócios ao longo dos anos, incluindo o surgimento de diferentes formas de consumo e o avanço da tecnologia. O setor varejista, por conta do aumento significativo do comércio online, viu diminuir a demanda por vendedores em lojas físicas e aumentar a procura por profissionais voltados para as áreas de tecnologia e logística. Mas questões geracionais e mudanças na forma de encarar o trabalho também contribuem para a questão.
Um novo tipo de trabalhador
Conceitos como trabalho remoto ou híbrido e flexibilidade de horários se tornaram parte da vida de diversos trabalhadores por conta da pandemia. E isso fez com que tais atributos passassem a ser mais valorizados por quem procura emprego.
Estudo do economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), revela que 37,9% dos desligamentos em janeiro de 2025 foram a pedido do trabalhador – a taxa vem subindo desde 2020.
“Entram na conta qualidade de vida e tempo de deslocamento. E ainda, como ficou muito mais fácil abrir empresa, há crescimento de microempreendedores individuais (MEIs). Empregos que exigem presença física, como indústria e construção civil, perdem. Tem a questão do e-commerce e da digitalização. Com a taxa de desemprego baixa, com esses níveis de demissão em patamares elevados, as empresas terão de se adequar às novas relações de trabalho, repensar bastante como manter esses funcionários”, comenta Imaizumi em matéria de O Globo.
Nessa mesma reportagem, o professor do Departamento de Sociologia e do Núcleo de Estudos de Trabalho e Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tiago Magaldi, afirma que uma das grandes mudanças no mercado de trabalho é a derrocada da CLT: “Não em sua perspectiva objetiva, de proteção ao trabalhador, mas na expectativa de inclusão, de futuro. Ele ganha mais em troca de aceitar não ter vínculo trabalhista, fazem uma leitura pragmática da situação”.
Isso pode ajudar a explicar a alta taxa de rotatividade: mais de um terço dos trabalhadores com carteira assinada mudaram de emprego nos últimos 12 meses, segundo o estudo da LCA. Em fevereiro, por volta de 40% dos profissionais com até 29 anos haviam trocado de ocupação ao longo do último ano. O conceito da “uberização” do trabalho, no qual a pessoa pode ser a “chefe” de si mesma, trabalhando para plataformas como Uber e iFood, também entra nessa conta complexa.
Um levantamento produzido pelo Instituto Ideia mostra que 30% dos jovens sonham ter o próprio negócio. Ter carteira assinada, portanto, é algo considerado “ultrapassado” para as gerações mais novas. E isso tudo acaba se provando na prática. “Vemos cada vez mais pessoas procurando por um emprego, mas poucas realmente dispostas a trabalhar, especialmente quando a função exige esforço, dedicação ou envolvimento mais intenso. Existe uma percepção de que qualquer trabalho que demande mais energia já não vale a pena, o que cria um desalinhamento entre as oportunidades oferecidas e a disposição real de parte dos candidatos”, relata a diretora de Suprimentos da processadora Cyberglass, Gláucia Guerrero. “Além disso, a alta rotatividade e a mudança no perfil dos profissionais, que agora valorizam mais propósito e flexibilidade, tornam a retenção um desafio. Tudo isso reforça a necessidade de processos seletivos cada vez mais estratégicos e assertivos”, comenta o CEO da empresa, José Domingos Seixas.
Os principais motivos para pedidos de demissão em janeiro de 2025
Novas vagas em vista
Salários baixos
Saúde mental
Problemas éticos nas empresas
Falta de flexibilidade na carga horária
Fonte: LCA 4intelligence, com base em dados do Caged
Fonte: Professor Dado Schneider, especialista em colaboração intergeracional, em entrevista à Pequenas Empresas, Grandes Negócios (foto: lithiumphoto/stock.adobe.com)
O que fazer sendo empresário?
Seis em cada dez empregadores pelo mundo já demitiram profissionais da Geração Z recém-formados. As motivações para as demissões incluem falta de motivação ou iniciativa (50%), habilidade de comunicação precária (39%) e falta de profissionalismo (46%). Os dados são da plataforma internacional de educação Intelligent.com.
Mas a demissão de quem representa parte do presente e o futuro da mão de obra não pode ser normalizada. A pesquisa do FGV Ibre citada anteriormente revela ações tomadas pelos empresários para reverter a escassez de mão de obra: 44% investem na capacitação interna, desenvolvendo meios para qualificar o funcionário uma vez que ele está dentro da organização – considerando apenas a indústria, mais da metade das empresas vem adotando essa prática. Aumentar benefícios é a escolha de 32% dos entrevistados.
No setor vidreiro, a PKO é um exemplo da aposta em treinamentos. “O que a gente tenta é mostrar com clareza a empresa na qual a pessoa está entrando. Então, cada vez mais temos nos aprofundado em recursos humanos, para que mudemos um pouco esse cenário e as pessoas queiram vir trabalhar conosco”, explica Myrian Ang, diretora-executiva da companhia.
Pensando nisso, a processadora criou o programa Universidade PKO, que possui trilhas de conhecimento para desenvolver habilidades dos funcionários – em áreas como as de liderança, atendimento e excelência técnica, entre outras. “A gente acredita nesse projeto como um dos pilares para a retenção. Mas não basta só qualificar: é preciso ter um programa claro de cargos e salários, estimular o autodesenvolvimento para que as pessoas olhem para a carreira que querem seguir dentro da empresa”, comenta Myrian. “São diversas ações que fazem com que quem está aqui permaneça – aliadas ainda a uma cultura colaborativa, que busca criar um ambiente bom, de troca.”
Mas a qualificação ajuda a resolver apenas um ponto do assunto. Como agir diante da diferença de valores e visões de mercado entre diferentes gerações? “É essencial reconhecer as habilidades e experiências únicas que cada grupo traz para a mesa”, orienta a especialista em gestão de pessoas Manu Pelleteiro em depoimento para a CNN Brasil. Para quebrar barreiras e contornar estereótipos, ela sugere “mentorias reversas”, com jovens ensinando habilidades tecnológicas enquanto os mais velhos compartilham vivências práticas. “O estigma de que as pessoas mais velhas são inflexíveis pode dificultar a comunicação e a colaboração intergeracional. No entanto, é importante não generalizar, pois muitos profissionais mais velhos também podem ser adaptáveis e abertos a novas ideias, além de a experiência ser um fator que pode colaborar muito ao enfrentar novos desafios”, explica.
E além do papel do contratante, as pessoas contratadas também precisam tentar se adaptar às realidades do mercado de trabalho. “A nova geração muitas vezes não foi preparada para lidar com responsabilidade e resiliência. Sem uma mudança de cultura dentro das famílias, incentivando disciplina, dedicação e compromisso desde cedo, vai ser muito difícil mudar esse cenário só com ações das empresas”, afirma o diretor de Operações da Cyberglass, Rodrigo Guerrero.
Relações mais saudáveis
Em relação aos jovens da geração Z, especialistas em recursos humanos indicam ações que gestores de pessoas podem tomar para estreitar os laços na empresa (afinal, relações profissionais devem ser vias de mão dupla):
Evitar conflitos: não incentive um clima de “nós” (quem já está na empresa) contra “eles” (os novatos). É possível ensinar aprendendo. Novas gerações podem ter ideias disruptivas sobre o futuro de um negócio, por exemplo;
Estar aberto para novas possibilidades: jovens valorizam ambientes com os quais têm a oportunidade de contribuir de forma menos fria e mais pessoal;
Olhar para si mesmo: se a empresa tem muitos problemas com funcionários jovens, um movimento interessante, ao invés de somente culpá-los, é analisar a cultura de trabalho da fábrica. Talvez as cobranças e oportunidades oferecidas não sejam as ideias para se criar um ambiente saudável – e ajustes precisarão ser feitos.
Foto: goodluz/stock.adobe.com
Assistencialismo social x falta de mão de obra: qual a relação?
Com a ampliação do programa Bolsa Família durante a pandemia, surge a dúvida em parte dos setores econômicos se o assistencialismo social não contribuiria para a falta de mão de obra – pois os contemplados poderiam ter receio de perder o benefício no caso de conseguirem empregos, evitando se candidatar a vagas disponíveis.
Na verdade, dados mostram uma situação inversa. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), no ano passado, 75,5% das vagas no mercado de trabalho foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família.
Já existe, inclusive, um dispositivo para evitar essa situação: o governo federal criou em 2023 a Regra de Proteção, garantindo que parte do benefício continue sendo recebida por um período de até dois anos após a conquista de um emprego. Com isso, a pessoa terá maior segurança enquanto se estabilizar financeiramente.
Estudo de Gabriel Mariante, pesquisador de doutorado na London School of Economics (LSE), mostra que mulheres beneficiárias do Bolsa Família têm uma probabilidade 7,4% maior de se inserir no mercado formal de trabalho do que mulheres não beneficiárias.
O setor automotivo brasileiro teve um 2024 de crescimento – e promete se desenvolver ainda mais no futuro próximo. Por isso mesmo, é importante o segmento vidreiro estar atento às evoluções desse mercado. Nesta reportagem, O Vidroplano comenta um pouco a respeito do trabalho com vidro para automóveis, mostra como funcionam as parcerias com montadoras e destaca o que o futuro espera para nosso material em veículos.
Desempenho do mercado
Conforme balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o primeiro trimestre deste ano indica uma boa recuperação do desempenho do setor automotivo nacional na comparação com o início de 2024: foram produzidas 583 mil unidades, 8,3% a mais que no mesmo período do ano passado – é o melhor resultado desde 2021.
No entanto, março foi ruim – o pior desde 2022. A produção caiu 12,6% em relação a fevereiro, principalmente nas fábricas de automóveis e comerciais leves. Até tivemos uma boa notícia, com a alta de 11,3% nas vendas (em relação a fevereiro), mas 61% desse aumento vieram dos modelos importados não fabricados aqui.
Por outro lado, as exportações cresceram bastante: 40,6% no trimestre na comparação com o mesmo período de 2024. Foi o melhor primeiro trimestre desde 2018 para o indicador.
O mercado nacional
A AGC e a Cebrace (por meio da Saint-Gobain Sekurit) são as usinas que fabricam vidros automotivos no Brasil. A demanda para nosso produto se divide em dois braços distintos: o fornecimento para as montadoras de automóveis (peças instaladas em veículos durante a produção deles) e o mercado de reposição.
Dentro dessas divisões, existem diversos nichos a serem alimentados. As duas processadoras gaúchas consultadas para esta reportagem (Grupo Tecnovidro, de Farroupilha; e Vidroforte, de Caxias de Sul) atendem alguns deles. Para o segmento de encarroçadores de ônibus, por exemplo, são produzidos itens dos mais diversos, incluindo para-brisas, tetos solares, janelas laterais, portas, vidros da cabine do motorista, espelhos e divisórias. Máquinas agrícolas e equipamentos pesados (tratores, escavadeiras) também representam um mercado importante, assim como o de vans escolares.
Ônibus com vidros do Grupo Tecnovidro: nesse tipo de veículo, ocorre redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos (foto: Divulgação Tecnovidro)
Investindo no mercado
No ano passado, a AGC anunciou a expansão da capacidade produtiva de sua divisão de vidros automotivos, localizada no complexo industrial da usina em Guaratinguetá (SP). A decisão vai ao encontro das expectativas de crescimento do mercado automotivo nacional para os próximos anos e foca na atualização tecnológica do processo produtivo, de forma a atender e acompanhar a evolução desse segmento – incluindo o uso de heads-up display (HUDs) nos vidros: esse tipo de projeção de informação sobre a superfície dos para-brisas promete tornar-se padrão da indústria mundial num futuro próximo (saiba mais no quadro no final da reportagem).
O presidente da AGC no Brasil, Isidoro Lopes, comentou no fim do ano passado, em episódio do VidroCast, o podcast da Abravidro, que a operação da linha renovada deverá começar em julho deste ano – uma segunda linha está nos planos, a depender de outras tecnologias a serem aplicadas nos vidros pelo setor automotivo nacional. “Estamos muito felizes com esse mercado no Brasil ao longo dos últimos dois, três anos”, afirmou.
O projeto conta com investimento de parceiros do mercado financeiro e contemplará requisitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG), gerando cerca de 150 novas contratações diretas e 600 indiretas na região até 2030.
Automotivo x construção: as diferenças entre os vidros
O vidro plano destinado à construção é a base do vidro automotivo. Sérgio Massera, diretor-comercial e de Gestão de Novos Programas da AGC, indica que os processos pelos quais nosso material passa incluem a adição de esmalte cerâmico e a curvatura das peças, sejam temperadas ou laminadas, antes da adição dos componentes específicos para a montagem veicular. “Além disso, o nível de exigências quanto às características ópticas é maior no mercado automotivo”, aponta Jesuino D’Avila, diretor-geral da Sekurit América do Sul.
Mais vidro: aumento na área envidraçada em automóveis, incluindo maior presença de modelos com teto solar, é uma das principais tendências modernas no uso de nosso material em veículos (foto: UnPinky/stock.adobe.com)
Evolução do trabalho
Há mais de duas décadas fornecendo vidros para automóveis, tanto o Grupo Tecnovidro como a Vidroforte notaram mudanças ao longo dos anos na forma de atuar com nosso material nesse mercado. “Temos percebido uma evolução significativa no design dos produtos. Os vidros deixaram de ser meramente funcionais para se tornar elementos estéticos fundamentais, com geometrias cada vez mais arrojadas e complexas. Essa tendência exige processos produtivos mais tecnológicos e precisos por parte dos fabricantes”, comenta Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro.
“Em todos os segmentos, e especialmente na linha de ônibus, vemos a redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos. Marquinhas ou pequenos riscos no vidro, que antes eram tolerados, hoje não são mais aceitos”, conta José Maurício Toledo, CEO da Vidroforte. “A área envidraçada dos ônibus está cada vez maior, com mais detalhes, peças recortadas e curvaturas diferenciadas. Antigamente, o vidro era apenas um fechamento. Hoje, complementa o visual dos ônibus.”
De acordo com Toledo, a padronização das peças se dá em volumes pequenos. “Por exemplo, frotistas que compram cinquenta, cem, duzentos ônibus podem seguir um padrão. Mas outros clientes personalizam seus modelos. É difícil ter produção seriada com grandes volumes de um mesmo tipo de carro”, relata. “Quando uma encarroçadora lança um novo modelo, os clientes o personalizam, especialmente os vidros laterais. O para-brisa até costuma manter o padrão, mas os demais mudam bastante. O desafio da fábrica é operacionalizar isso com agilidade.”
Janela produzida pela Vidroforte: personalização dos projetos é uma constante no setor automotivo, dada a variedade de modelos de automóveis existentes (foto: Divulgação Vidroforte)
O contato com as empresas automotivas
Como se dá a relação com fabricantes de veículos? Quem define especificações? Cada modelo de automóvel ganha um vidro diferente? “As especificações dos vidros são estabelecidas em parceria com nossos clientes. Eles apresentam o escopo inicial do projeto, e nosso time técnico colabora para a adequação e validação das soluções, sempre considerando requisitos normativos de segurança e de performance”, explica Fabrício Flach, do Grupo Tecnovidro. “Mantemos relações profissionais de alto nível com nossos clientes, reguladas por contratos de fornecimento que estabelecem com clareza todas as diretrizes técnicas, comerciais e de qualidade. Esses acordos garantem a excelência no atendimento e a continuidade das parcerias.”
No mercado de reposição, os itens já vêm especificados – e a variedade é enorme, explica Toledo, da Vidroforte. “Algumas empresas utilizam vidros mais finos, curvos e recortados; outras usam peças de 5 a 6 mm, curvos ou planos. No ramo agrícola, cada cliente tem sua particularidade: chapas de 5, 6 ou 8 mm, com dupla curvatura e recortes complexos.” A processadora conta ainda com uma linha de janelas com tecnologia própria (incluindo sistema de vedação, de correr e de trava, assim como o design dos vidros).
Cada uma dessas parcerias mencionadas segue um modelo diferente. “Há empresas que recebem kits completos por ônibus, prontos para a linha de montagem. Outras trabalham com estoque ou sob demanda. Na linha agrícola, os pedidos costumam ter previsibilidade de três a seis meses, facilitando o planejamento. Já nas encarroçadoras, os pedidos podem ser para sete dias, com o veículo já vendido e em produção. Nesses casos, desenvolvemos o produto, fabricamos e entregamos diretamente para a linha de montagem dentro do prazo exigido”, afirma Toledo.
Algumas tendências modernas
Vidros se tornaram importantes elementos estéticos nos projetos, passando a compor o conceito e o design do veículo. Um exemplo são as linhas de ônibus com forte uso de formas curvilíneas;
Com a maior entrada de ônibus urbanos elétricos na malha rodoviária, exigem-se vidros cada vez mais finos, com tecnologia de controle solar, para otimizar o uso das baterias e diminuir a potência do ar-condicionado. Com isso, reduz-se a temperatura interna e melhora-se a autonomia do veículo;
Vidros de controle solar podem substituir a instalação de películas para conforto térmico;
Na linha de janelas de vans, há uma crescente exigência por menor ruído, vedação eficiente e, novamente, menor espessura.
Foto: Gorodenkoff/stock.adobe.com
Tecnologias de última geração
Não é só na construção civil que nosso seor precisa explorar o conceito de valor agregado – afinal, o vidro também pode oferecer diversos benefícios aos automóveis. Passar essa mensagem ao usuário é fundamental para fazer com que sua relação com nosso material seja mais próxima. “A tendência para os automóveis dos próximos anos indica que o vidro estará cada vez mais presente, contribuindo com o conforto acústico e térmico, bem como agregando novas funções que estão em desenvolvimento”, opina D’Avila, da Sekurit.
Conforto acústico
Laminados com PVBs acústicos, desenvolvidos especialmente para controlar o nível de ruído no interior do veículo, podem filtrar altas e baixas frequências de som, reduzindo o barulho em até 10 dB – como é o caso do dBControl, produto da Saint-Gobain Sekurit.
Conforto térmico
Por que investir em conforto térmico apenas nas edificações, sendo que as pessoas passam horas dentro de seus carros, especialmente em dias de trânsito parado? Em períodos de clima cada vez mais extremo, vidros de controle solar ajudarão a diminuir a transmissão direta de energia solar para dentro do carro, mesmo quando estacionado ao Sol. “O conforto térmico é muito explorado em regiões com mercado automotivo mais maduro, como América do Norte, Europa e Ásia, especialmente China e Japão”, afirma Sérgio Massera, da AGC. “Embora as montadoras estejam analisando as possibilidades e soluções alternativas, essas ainda não estão em um nível econômico viável para o mercado regional atual. Acredito ser somente uma questão de tempo para que a legislação local venha a requerer tal tecnologia aplicada nacionalmente.”
Proteção contra raios UV
Os vidros de controle solar também oferecem proteção contra os efeitos dos raios ultravioleta, que são extremamente prejudiciais à saúde humana (causando de queimaduras a aumento do risco de câncer de pele) e aos materiais usados na construção dos automóveis (desbotando estofamentos e painéis).
HUDs e realidade aumentada
A exibição de informações na superfície do vidro deverá ser a próxima grande revolução no uso de nosso material na indústria automotiva, quando se tornar reproduzível em larga escala. A experiência de condução ficará mais interativa e informativa: essas tecnologias utilizam combinação de sensores, câmaras e projeções para exibir dados nos para-brisas, em tempo real, sobre o veículo e o ambiente ao redor. Assim, motoristas poderão consultar tais informações sem precisar olhar para mostradores no painel ou aplicativos de rotas em celulares. Em tese, a condução deve se tornar mais segura. “Em um passado recente, as montadoras chinesas começaram a introduzir uma tecnologia de vidros panorâmicos e para-brisas com HUD, influenciando a tendência do mercado regional”, aponta Sérgio Massera. “A tecnologia ADAS (Advanced Driver Assistance System, ou Sistema Avançado de Assistência ao Motorista) já se encontrava em evolução na região, requerendo cada vez mais precisão na distorção óptica da área de medição dos sensores de presença alocados no para-brisa.”
Interação com a luminosidade
Os vidros termocrômicos, que contam com películas especiais, alteram sua cor devido à mudança de luminosidade. Quanto mais intensa e direta a incidência da luz (ou seja, quanto mais ensolarado o dia), mais escura ela se torna – ajudando a reduzir, por exemplo, o ofuscamento, fator importante quando se está dirigindo.
Há cerca de um ano, o setor vidreiro nacional foi impactado pelas imagens da unidade fabril da processadora Lajeadense, na cidade de Lajeado, totalmente destruída, tomada pelas águas das enchentes históricas que ocorreram no Rio Grande do Sul em abril e maio do ano passado. Apesar das dificuldades, a empresa apostou na resiliência e conseguiu se reerguer – hoje, a obra para sua nova sede, em outra região da cidade, está a todo vapor, com previsão para as primeiras máquinas operarem até o meio do ano.
Rotina de perdas
Na tragédia do ano passado, o Rio Taquari, que passa pela cidade de Lajeado, subiu dos seus habituais 13 m para impressionantes 32 m – em dois dias, choveu a quantidade prevista para seis meses na região. Em imagens aéreas, era possível ver apenas o telhado da Lajeadense cercado pela água revolta e enlameada que descia desgovernada o Vale do Taquari.
Mas essa enchente não foi a primeira enfrentada pela empresa de mais de 65 anos de história. “Eu me lembro desde a minha infância de ter enchente. Era algo comum na nossa cidade, na nossa região”, conta Roberta Lopes Arenhart, sócia-administrativa e filha de Renato Arenhart, dirigente do negócio. No entanto, tais fenômenos se tornaram mais violentos nos últimos anos. Em 2020, após chuvas torrenciais, cerca de 20 cm de água entraram na empresa, estragando móveis e cabos de máquinas – mas isso não foi nada perto do que viria a acontecer a partir de 2023.
Da destruição ao recomeço: sede da empresa praticamente submersa no ano passado e nova fábrica que em breve começará a operar
Em setembro daquele ano, o Taquari subiu 29 m. Com isso, o 1º andar inteiro da empresa foi destruído. “Como a gente tinha uma noção de onde a água podia chegar, na noite anterior nós fomos com o pessoal para a empresa para levantar algumas coisas, botar equipamentos em cima das mesas – o que sempre fazíamos quando chovia bastante. Lembro que até mandei mensagem no grupo dos colaboradores dizendo para todos irem com uma roupa mais simples no dia seguinte para ajudar na limpeza, caso sujasse algo”, recorda Roberta. “Só que aí, quando voltamos de manhã, não tinha mais nada.” Naqueles dias, seu pai, Renato, estava na Itália visitando a Vitrum, tradicional feira de nosso setor. O irmão de Roberta, Regis, e um primo, Tomás, tentaram salvar mais coisas, mas a enchente subiu tão rapidamente que tiveram de abortar a missão e se refugiar no 2º andar da empresa – lugar no qual ficaram por dois dias, até a água baixar.
Dois meses depois, em novembro, ainda se recuperando do baque, a Lajeadense teve de encarar outra cheia. “Essa não foi tão ruim na questão do volume de água, mas a gente estava há pouco tempo trabalhando na recuperação de maquinário, com equipamentos operando de novo, as coisas fluindo. E estragou tudo de novo. Tudo que a gente tinha investido financeiramente para recuperar foi pro lixo”, comenta a sócia-administrativa.
Família Arenhart: Regis, Renato e Roberta, responsáveis por comandar o negócio da processadora
Negócio destruído
Estima-se que o prejuízo da enchente de 2024 gire em torno dos R$ 70 milhões. “É até difícil de precisar um número, porque foram tantas enchentes, e ainda tem a questão de não só o que a gente perdeu, mas o que deixou de faturar nesses meses”, explica Roberta. Só de matéria-prima, foram mais de 200 t de vidro inutilizadas. E o impacto poderia ser ainda maior: após a enchente de novembro, a empresa alugou um espaço na cidade vizinha Estrela, instalando ali parte da produção e o PCP – em Lajeado, ficaram três máquinas e todo o administrativo-comercial.
“A gente fez a manutenção dos maquinários estragados nas enchentes anteriores e eles voltaram a operar. O que foi bem-danificado foi o vidro temperado, pois ficamos sem o forno. Mas fomos até outras empresas ali da região da Serra para temperar. Esses parceiros nos ajudaram muito, abriram as portas para nós”, recorda Roberta.
Em outubro do ano passado, primeira viga da nova fábrica foi erguida, representando o renascimento da empresa após as enchentes
Reconstrução
Em outubro, começou a reconstrução da empresa, agora não mais junto ao Taquari. “Hoje nós estamos com mais da metade do piso colocada na nova sede. Nos próximos dois meses, a gente vai estar com máquina ali. Depois, ainda tem a finalização do refeitório, a parte administrativa, comercial, escritórios. Mas a partir de junho ou julho já estaremos com a operação funcionando”, afirma Roberta. Para levantar os investimentos necessários, a Lajeadense recorreu a bancos parceiros de longa data. “Tivemos de fazer vários financiamentos para comprar o terreno, investir no prédio. Não temos uma conta fechada de tudo, e ainda vamos precisar de mais recursos para finalizar, mas está dando certo.”
A fábrica em construção será uma evolução da antiga: de 7 mil, passará a ter 12 mil m² em linha – o que significa maior otimização e eficiência, tanto no layout como nos processos, sem cantos mortos. Segundo a diretoria da processadora, o projeto foi pensado para o bem-estar do colaborador, com telhas térmicas para suportar o verão quente do Rio Grande do Sul, espaço para crianças e até quadra de esportes. “É um sentimento curioso, pois, se a gente não tivesse passado pelo que passou, não teria a oportunidade de recomeçar a empresa. Provavelmente, teríamos continuado ali sempre no mesmo lugar, fazendo puxadinhos para ampliar. E, agora, temos a chance de fazer uma empresa do zero, planejada para mais sessenta anos.
Conheça a Lajeadense
Fundada em 1958, como vidraçaria
Em 2002, passa a atuar como processadora
Conta com 100 funcionários atualmente
Nova sede terá 12 mil m² de área
Produção tem foco em vidros para projetos especiais – um dos carros-chefes são os insulados, comercializados com a marca Duoglass
Foto: Pedro Amorim
“Foi a equipe que fez a gente não desistir da Lajeadense”
Roberta Lopes Arenhart comenta a importância de criar uma rede de apoio aos colaboradores afetados na vida pessoal pela tragédia de 2024
Em que momento vocês tiveram a dimensão da gravidade do que estava acontecendo no ano passado? Roberta Lopes Arenhart – Foi um dia muito louco, parecia fim de mundo. Era o centro da cidade trancado, cada um correndo para um lado. A gente ficou em um lugar mais alto, em que conseguia acompanhar como estava a empresa. No meio da tarde, um amigo nosso de Lajeado, que tem jet ski, nos deu ajuda e levou meu irmão para pegar alguns documentos que ele achava importantes, do comercial, do administrativo. Fizeram duas viagens de jet ski e foi o que deu, por conta da correnteza. A gente salvou o que deu até certo momento; chega uma hora que não tem como botar nossa vida em risco.
O que chamou a atenção do setor foi a resiliência de vocês. Passado o momento mais crítico, a gente viu o engajamento de vocês para a recuperação do espaço físico, a ajuda aos colaboradores afetados. Como isso se deu? RLA – Tudo na vida é experiência, né? Como a gente tinha sofrido com enchentes antes, isso fez com que tivesse mais força para lidar com a situação, mesmo com uma proporção muito maior. Quando baixou a água, vimos que a situação era catastrófica. E o que mais estava nos assustando era em relação aos colaboradores. A gente não tinha mais contato com todo mundo, pois ficamos sem sinal de celular em Lajeado.
Como a tragédia tomou essa proporção de nível nacional, empresas vidreiras de todo o Brasil começaram a nos chamar pelo Instagram e WhatsApp para ajudar de alguma forma. A gente falava para mandar mantimentos, roupas, cobertores, mas todo mundo queria enviar dinheiro. Então, pensamos em focar nos colaboradores que perderam a casa, perderam tudo. Por isso, abri um PIX, fizemos vídeo divulgando nas redes sociais e conseguimos arrecadar um valor muito legal, que foi dividido entre os funcionários. E como foi inacreditável a quantidade de valor doado, dividimos também entre os pais, sogros e irmãos de cada funcionário. No total, a gente conseguiu ajudar 35 famílias afetadas.
Você comentou sobre rede social, e a Lajeadense realmente tem um trabalho muito forte de comunicação pela Internet. Qual é a importância de ter esse contato mais próximo com o mercado? RLA – Nós iniciamos esse trabalho mais forte a partir de 2021. Depois das enchentes, ganhamos bastantes seguidores e visibilidade nas redes sociais. E é muito legal ver o respaldo dos clientes e dos fornecedores acompanhando o que fazemos. A gente sabe que o nosso cliente final não está ali todo dia no Instagram, mas eu entendo muito essa questão de plantar para colher no futuro. Lá na frente, nosso cliente vai ser quem está hoje acompanhando as redes sociais. Por isso eu incentivo muito a questão da mão de obra, divulgar os projetos, o produto final.
Vocês estão otimistas com o ano de 2025 para o mercado vidreiro? RLA – Eu tenho um pouco de dúvidas. Até agora não foi um ano tão positivo assim, mas acho que tem bastante coisa para acontecer, e talvez a gente consiga sair com algo positivo.
E como você imagina o futuro da Lajeadense, após a reconstrução pela qual estão passando? RLA – Desde que eu entrei na empresa, sempre me imaginava indo para o mesmo local de trabalho, com as mesmas pessoas, tendo uma rotina padrão. E depois de tudo que aconteceu, a gente vê que a vida nos dá vários sustos, mas no final as coisas dão certo. Tenho certeza que a Lajeadense ainda tem muito a prosperar, principalmente com a equipe que a gente tem – pois é isso que faz a diferença no nosso dia a dia. Foi a equipe que não fez a gente desistir da Lajeadense. Olhar todo mundo ali engajado, querendo fazer acontecer, é isso que faz a diferença na nossa vida. Tenho certeza que vai dar certo.
Qual seria o seu conselho para empresas que estão passando por dificuldades? RLA – Acho que o segredo foi ser uma empresa familiar com todo mundo um ao lado do outro. Às vezes era bem difícil, porque todo mundo ficava mal junto. Mas eu acho que isso faz a diferença, especialmente com uma equipe muito diferenciada como a nossa. A gente tem uma cultura muito forte, pois, além da nossa família lá dentro, nós temos uma relação de família com todo mundo. Então, talvez o segredo para conseguir passar por qualquer dificuldade seja ter uma equipe engajada que acredita no teu negócio e em quem tu confias.
Após quase vinte anos como gerente-comercial da Glasspeças, Denise Fonseca saiu da empresa no dia 28 de fevereiro. A profissional segue na ativa no segmento: no início deste mês, ela liderou a realização do primeiro encontro Divas do Vidro, para debater a presença feminina no setor.
Em fevereiro, o portal de notícias G1, do Grupo Globo, levou ao ar um publieditorial da Casa dos Espelhos (CDE-Blindex), processadora associada à Abravidro, sobre o compromisso ambiental para reciclar 100% dos resíduos vítreos gerados em sua produção. A processadora firmou parceria com a Sustentabilidade da Amazônia (Suam) para a destinação dos resíduos de forma ecologicamente correta.
As mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no mercado de vidros. Essa é uma tarefa necessária para a própria oxigenação das visões e experiências das empresas: elas podem trazer ideias disruptivas que farão diferença positiva para o segmento.
Pensando nisso, e também para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, O Vidroplano preparou uma reportagem especial, na qual conversou com diversas mulheres líderes em suas empresas para entender como construíram suas trajetórias dentro do segmento vidreiro, além de revelar as dificuldades ainda encaradas no dia a dia. O VidroCast, o podcast da Abravidro, também aborda o tema em programação especial com mulheres líderes em suas empresas.
Na indústria
De acordo com pesquisa do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mulheres representam um quarto da força de trabalho desse segmento no Brasil. Em cargos de gestão no setor, a participação é melhor: de 2008 a 2021, houve aumento na quantidade de mulheres líderes, passando de 24% para 31,8%, o que corresponde a quase um terço do total.
Quem é ela “Sou gerente-financeira do grupo, exerço essa função há 28 anos. O financeiro envolve toda a empresa, pois, por ele, passam todas as ações e planejamento que executamos nesses anos.” Denise Favero Ramos (Blue Glass)
A indústria brasileira ainda está abaixo da média dos demais setores da economia – nos quais as mulheres ocupam quase metade das posições de liderança (46,7%). No entanto, o crescimento da presença feminina na cadeia foi três vezes maior no mesmo período (32,5%, contra 9,8% nos demais segmentos).
Ainda não existem dados para mostrar como anda esse indicador no mercado vidreiro. Medindo no olho, parece, sim, que mais mulheres fazem parte da rotina estratégica das empresas vidreiras comparando-se com anos anteriores. “As mulheres, a todo tempo, precisam se provar. Quando você abre a boca para falar, começa a se posicionar e mostrar seu conhecimento técnico, o povo olha de uma forma diferente. Em muitos casos ainda sinto que preciso argumentar para que me respeitem. Então, essa situação continua a acontecer, mas o cenário melhorou”, analisa Audrey Dias, diretora da Aluparts.
As mulheres representam um quarto da força de trabalho na indústria brasileira (Foto: reewungjunerr/stock.adobe.com)
Obstáculos
“Embora o cenário esteja mudando e haja um avanço significativo na inclusão feminina, ainda existem barreiras culturais e, em alguns casos, preconceitos velados, o que gera desafios para as que assumem posições de liderança ou funções técnicas na produção”, explica Denizy Alves, gerente-comercial da Govidros, de Goiânia.
Na percepção de 92% dos participantes de uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Patrícia Galvão, mulheres sofrem mais situações de assédio no ambiente de trabalho que os homens. Além disso, as opiniões ou pontos de vista não eram levados em consideração por 37% das entrevistadas.
“Já tive cliente que quis ser atendido por homem, pois acha que não sabemos do assunto, me culpando porque demorou para entregar os vidros. Enfim, comércio é um desafio diário, e aprendemos a lidar com tudo e todos”, comenta Simone Carvalho, irmã de Denizy e também gerente-comercial da Govidros.
Quem é ela “Como diretora-administrativa da processadora Vipel e da extrusora de alumínio Alump, acabo participando de várias áreas: comercial, faturamento, controladoria e atendimento ao cliente também. Eu faço a compra de matéria-prima das duas empresas, sendo responsável por negociações diretas com os grandes fornecedores do nosso mercado.” Bruna da Motta (Vipel)
“Nunca sofri preconceito explícito, mas ele é, normalmente, velado, de forma sutil, em não querer tratar de certos assuntos com uma mulher”, exemplifica Bruna da Motta, diretora da Vipel, de Tubarão (SC). “Os homens mais novos vêm aceitando muito mais, mas os que estão há mais tempo no setor ainda podem ter certa resistência, e isso aparece subestimando a eficiência da mulher no dia a dia. Mas acredito que, mostrando que somos capazes, conseguimos nosso lugar.”
“Embora tenha ocorrido progresso, é fundamental continuar a luta por um ambiente de trabalho justo e igualitário para todos. Estamos comprometidos em promover a inclusão e garantir que atitudes discriminatórias não sejam toleradas. Nosso objetivo é que todos se sintam valorizados e respeitados, tanto no ambiente de trabalho como em nossas relações comerciais”, aponta Neiva Nicaretta, diretora e cofundadora da Modelo Vidros, de Garibaldi (RS).
Para Elaine Mossin, gerente-administrativa da LM Vidros, de Campo Grande, é importante a profissional mulher estar preparada para esse tipo de desafio: “Sempre busquei me qualificar para que eu fosse respeitada não por ser mulher, mas profissional. Acho que isso é importante para que tenhamos segurança de nossa própria capacidade”. No entanto, vale reforçar: a principal responsabilidade para criar condições que possam deixar o machismo de lado é dos homens.
Aos poucos, as mulheres vão assumindo posições de liderança nas empresas vidreiras, seja na gestão do empreendimento ou mesmo em atividades de chão de fábrica (Foto: JackF/stock.adobe.com)
A importância de oferecer oportunidades
Segundo a pesquisa da CNI citada anteriormente, a cada dez indústrias brasileiras, seis contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero – dessas, 61% afirmam tê-las há mais de cinco anos. Entre as iniciativas mais usadas estão política de paridade salarial (77%), proibição de discriminação em função de gênero (70%), cursos específicos para qualificação de mulheres (56%) e estímulo à ocupação de cargos de chefia (42%). O estudo revela ainda que que 57% dos entrevistados (mais de mil executivos industriais, sendo 40% do sexo feminino) dão importância alta ou muito alta a políticas de gênero.
Não só as profissionais se beneficiam com maiores chances, pois conseguirão se inserir no mercado de trabalho, mas, principalmente, as empresas. “A diversidade traz novas perspectivas, amplia a criatividade e fortalece a inovação dentro das companhias”, comenta Denizy Alves, da Govidros. “Acreditamos que o talento e a capacidade de liderança não tenham gênero – o que importa são a competência, a visão estratégica e o comprometimento.”
Quem é ela “Atuo de forma estratégica e comercial, garantindo que a empresa esteja sempre alinhada às demandas do mercado. Além de cuidar da precificação dos produtos, também acompanho de perto a fabricação para garantir a qualidade e eficiência dos processos.” Denizy Alves (Govidros)
Para Simone Carvalho, da Govidros, sempre é possível deixar comportamentos culturais antiquados para trás: “Entendo que pode não ser fácil para alguns homens serem liderados por mulheres, mas mesmo meu pai teve de se remodelar na questão do machismo, pois somos minha mãe e três filhas mulheres, todas dentro da empresa”.
Como pondera Elaine Mossin, da LM Vidros, as mulheres são tão competentes quanto os homens nas mais diversas atividades. “Sem contar que somos multitarefas, detalhistas e conseguimos equilibrar melhor razão e emoção para lidar com pessoas”, frisa. Tais características são imprescindíveis para o mercado vidreiro, que depende de visão criativa para trabalhar com produtos de valor agregado. “Mulheres impulsionam inovação e criatividade, favorecendo o desenvolvimento de novos produtos e soluções para um público mais amplo. Além disso, contribuem para uma cultura organizacional mais colaborativa e inclusiva, promovendo a retenção de talentos. A diversidade torna as decisões mais equilibradas, assertivas e éticas”, define Neiva Nicaretta, da Modelo Vidros.
A opinião é compartilhada por Bruna da Motta, da Vipel. “A inclusão feminina no setor vidreiro ajuda a oferecer novas soluções criativas aos desafios do setor. E ainda inspira meninas a seguir carreira, para se tornar também líderes.”
Não só as profissionais se beneficiam com maiores chances, pois conseguirão se inserir no mercado de trabalho, mas, principalmente, as empresas: diversidade traz novas perspectivas e maior inovação às companhias (Foto: romul014/stock.adobe.com)
Avançamos em equidade
O 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgado no ano passado, indica que as mulheres recebem 20,7% menos do que os homens nas mais de 50 mil empresas consultadas (com cem ou mais empregados).
Mas existem boas notícias: levantamento da CNI mostra que, nos últimos dez anos, houve aumento da igualdade salarial entre mulheres e homens. O indicador subiu 6,7 pontos, saindo de 72 pontos (em 2013) para 78,7 (em 2023) – quanto mais próximo de 100, maior a equidade.
Quem é ela “Meu dia a dia é dividido entre os setores comercial e administrativo/financeiro, incluindo a assistência na tomada de decisões estratégicas junto à diretoria da empresa.” Elaine Mossin (LM)
Além disso, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou nos países que compõem o G20. No Brasil, o indicador também cresceu: de 34,8%, em 1990, para 52,2%, em 2023.
Quais os caminhos para continuar transformando esse panorama, então? “Acredito que a cultura de muitas empresas precisa mudar para que as mulheres tenham mais acesso ao setor vidreiro. A automatização das linhas de produção pode ser um caminho para que comecemos a ter mulheres também no chão de fábrica”, analisa Denise Favero Ramos, gerente-financeira da Blue Glass, de São José dos Pinhais (PR).
Bruna da Motta, da Vipel, também aposta na criação de políticas internas de apoio à carreira das mulheres, mudando a cultura organizacional enraizada apenas no masculino: “É preciso educar cada vez mais a sociedade para o tratamento igualitário dos gêneros”.
Quem é ela “Como diretora e cofundadora da empresa ao lado do meu esposo, Leonir, minha rotina é multifacetada, unindo a gestão financeira à estratégia geral do negócio. Meu foco diário está na sustentabilidade financeira, supervisionando contas a pagar e a receber, fluxo de caixa, análise de crédito e gestão de investimentos.” Neiva Nicaretta (Modelo Vidros)
“O primeiro passo é desconstruir a ideia de que certas funções têm gênero”, afirma Denizy Alves, da Govidros. “Empresas e lideranças precisam promover um ambiente inclusivo, em que as mulheres se sintam bem-vindas e tenham condições de crescer profissionalmente”. Elaine Mossin, da LM Vidros, olha para outros setores da construção civil como bons exemplos a serem seguidos: “Temos mulheres trabalhando como pintoras, assentadoras de piso – que se destacam por serem mais detalhistas –, entre outras funções. As mulheres desempenham muito bem seus papéis, com profissionalismo e muita competência”.
Neiva, da Modelo Vidros, cita ações que sua processadora aplica no dia a dia, incluindo a colocação de mulheres em cargos de liderança de setores internos como comercial, RH e compras. “Como estamos comprometidos em valorizar o trabalho voluntário feminino na sociedade, criamos o programa Mulher Modelo, que reconhece e destaca mulheres que realizam esse tipo de atividade”, revela.
Foto: Thiago Borges
Eventos e ações para debater o tema
Indo além das atividades internas nas empresas, nosso setor também precisa debater o tema publicamente. Nesse sentido, estamos bem-servidos, com alguns eventos próprios para discutir a posição das profissionais no empreendedorismo vidreiro.
A Blindex realizou quatro edições do Fórum Transparência com Elas, que reúne franqueados, parceiros e clientes para trocar ideias sobre o espaço da mulher no mercado de trabalho – saiba mais a respeito da iniciativa na entrevista com Glória Cardoso, gerente-geral da Pilkington e Blindex, clicando aqui.
Quem é ela “Estou na Govidros desde meus onze anos. Já limpei a empresa, implementei o cafezinho coado na hora, fiquei no caixa – mas eu queria mesmo era vender. Depois de voltar de uma licença maternidade, fui direto para o setor de vendas. Minha clientela era boa e fiel, e para mim representavam mais do que clientes, viraram meus amigos. Finalmente fui convidada para a gerência dessa área, meu cargo atual.” Simone Carvalho (Govidros)
A companhia, inclusive, oficializou, no dia 8 de março, uma parceria com o Instituto Mulher em Construção (Imec) para patrocinar a formação da primeira turma de vidraceiras do instituto. Com os conhecimentos adquiridos, as participantes do curso poderão atuar profissionalmente na instalação de sistemas de envidraçamento, promovendo sua independência financeira e ampliando suas perspectivas de carreira. “Essa é uma ação prática que demonstra como as mulheres podem explorar novos mercados, especialmente o do vidro”, destaca Glória Cardoso.
O Imec atua há quase duas décadas capacitando mulheres para a construção civil, já tendo formado mais de 7 mil profissionais em elétrica, hidráulica, pintura e assentamento de pisos. Os cursos para formação de vidraceiras serão gratuitos e contarão com uma estrutura que combina teoria e prática – datas, local e mais informações sobre as inscrições ainda serão divulgados.
Eventos para discutir a posição das profissionais no empreendedorismo vidreiro também são relevantes, como é o caso do Encontro Paranaense de Mulheres Vidreiras, organizado pela Adivipar-PR (Foto: Duda Dalzoto)
As entidades vidreiras regionais também estão de olho no assunto. O Sindividros-RS organiza o Vidro Delas, evento exclusivo para arquitetas, designers de interiores, engenheiras, gestoras, colaboradoras e funcionárias das indústrias e vidraçarias representadas pela entidade. A Adivipar-PR, por sua vez, idealizou, em 2023, o Encontro Paranaense de Mulheres Vidreiras. Realizado no Viale Cataratas Hotel, em Foz do Iguaçu, contou com 170 participantes que conferiram uma programação de palestras voltadas tanto para o universo feminino como para o segmento vidreiro nacional. Este ano, em junho, ocorre a 2ª edição.
Como é possível ver na reportagem sobre os desafios para a produtividade (clique aqui), tornar sua processadora mais produtiva traz uma série de benefícios para ela, desde a redução de gastos até o aumento na sua competitividade frente a outras empresas no nosso setor. Para isso, além de mudanças culturais no dia a dia da fábrica, também é importante que ela esteja equipada com ferramentas que contribuam para o aumento desse indicador nas suas atividades – felizmente, o mercado conta com várias soluções para ajudar nessa tarefa.
Por isso, para complementar a matéria anterior, mostramos algumas dessas ferramentas nas páginas a seguir. São softwares para máquinas e sistemas de gestão que lhe ajudarão em diversas etapas de suas atividades.
Foto: Elmira/stock.adobe.com
Ajuda para fazer as melhores escolhas
Antes de adquirir as soluções para sua empresa, é essencial conversar com o fornecedor: ele tem como avaliar as necessidades de sua fábrica e indicar ou customizar o produto que atenderá melhor a elas.
“Aumentar a produtividade não depende somente do equipamento, mas sim de um conjunto de fatores. Por isso, sempre fazemos primeiro um estudo técnico com o cliente a fim de garantir a melhor configuração da máquina ou sistema de automação para ele”, explica Jones Hahn, CEO da NEX Soluções Inteligentes. A equipe do GlassControl tem a mesma prática: “Visitamos frequentemente nossos clientes e procuramos entender suas necessidades. A partir disso, então, personalizamos o software para atender exatamente o que precisam, entregando soluções que não só atendam, mas superem as expectativas”, informa José Donizete, gerente de Desenvolvimento.
Priscila Kimmel, gerente Comercial da SystemGlass, aponta que a empresa não apenas fornece soluções tecnológicas, mas também busca criar parcerias estratégicas de longo prazo com seus clientes. “Oferecemos suporte completo, desde a implementação até o treinamento e o acompanhamento constantes, garantindo que nossos clientes maximizem o valor das soluções adotadas. Nosso objetivo vai além de otimizar a produtividade: queremos proporcionar uma gestão inteligente e eficiente, na qual os resultados sejam refletidos diretamente no crescimento e na sustentabilidade do negócio”, destaca.
Imagem: Divulgação SystemGlass
Produtos:GRICS e ToolGlass, softwares para gerenciamento Fornecedora: SystemGlass Como contribuem para a produtividade:
Por meio de um sistema robusto de rastreabilidade, os programas permitem monitorar com precisão a produtividade das processadoras, capturando dados detalhados como a quantidade de metros quadrados produzidos por tipo de vidro, o desempenho de cada máquina, o tempo de processamento e os custos envolvidos em cada operação;
É possível acompanhar de forma minuciosa indicadores como o custo por hora de mão de obra e de operação das máquinas, o custo real da matéria-prima utilizada, entre outros gastos diretos e indiretos, fixos ou variáveis, associados ao processo;
Ao automatizar a coleta e análise de dados, essas soluções permitem decisões mais rápidas e precisas, além de possibilitar investimentos estratégicos em automações que ampliam a capacidade produtiva;
Facilitam a otimização contínua de processos, resultando em uma significativa redução de custos, especialmente aqueles provenientes de perdas desnecessárias, e proporcionando melhorias substanciais na qualidade.
Imagem: Divulgação GlassControl
Produtos:GlassControl Industrial e GlassControl e-commerce, sistemas para gestão Fornecedor: GlassControl Como contribuem para a produtividade:
O GlassControl Industrial (imagem) abrange todas as etapas do trabalho, da origem do pedido da vidraçaria ao processamento na indústria, passando pelo planejamento da produção, otimização do corte de chapas, rastreabilidade da matéria-prima, integração com linhas de produção automáticas, mesas de corte, lapidadoras, furadeiras etc;
Conta com uma vasta biblioteca de projetos, que pode ser personalizada e expandida pelos usuários, agilizando a emissão de orçamentos e pedidos;
É integrado facilmente aos softwares do GlassControl voltados para distribuidoras e vidraçarias – com isso, os pedidos são facilmente integrados, contendo toda definição necessária para produção;
Realiza o processo produtivo de acordo com as definições do projeto, gerando planos de corte otimizados para as chapas, garantindo o melhor aproveitamento da matéria-prima e eliminando o tempo de setup;
Por sua vez, o GlassControl e-commerce permite realizar pedidos online, utilizar a biblioteca de projetos, acompanhar os pedidos, posição financeira, e efetuar pagamentos com cartões de crédito e PIX.
Imagem: Divulgação Reitech
Produtos:Reiglass ERP, ReiOtim Otimizador, GlassCAD e ReiShapes, sistemas para finalidades diversas Fornecedora: Reitech Como contribuem para a produtividade:
O Reiglass ERP (imagem) é um sistema de gestão integrado especializado no setor vidreiro, conectando toda a cadeia produtiva, desde a gestão comercial até a logística, garantindo fluidez operacional além de permitir acompanhar métricas como metros quadrados processados, relação entre horas trabalhadas e volume produzido, custos por etapa de produção, e eficiência da cadeia produtiva;
O ReiOtim Otimizador é um software de otimização de chapas e barras que reprocessa continuamente os planos de corte até o momento da produção, garantindo maior eficiência, e maximiza o aproveitamento de matéria-prima, reduzindo desperdícios, gerando economia direta nos custos de produção e proporcionando um dos melhores índices de aproveitamento disponíveis, resultando em economia real e competitividade para a indústria vidreira;
O GlassCAD é voltado para desenvolvimento de projetos de vidros temperados, laminados e duplos, garantindo precisão e integração com máquinas CNC e registrando tempo de desenvolvimento de projetos, taxa de aprovação e envio direto para produção, evitando retrabalho;
Por fim, o software ReiShapes faz a leitura e digitalização de moldes físicos, transformando-os automaticamente em arquivos para corte CNC, eliminando erros manuais, agilizando processos e reduzindo drasticamente o tempo de setup.
Imagem: Divulgação Sync Softwares
Produtos:WGglass, e-Cutter e WGCommerce, sistemas para finalidades diversas Fornecedora: Sync Softwares Como contribuem para a produtividade:
A WGglass é uma plataforma completa para gestão do setor vidreiro, proporcionando controle total dos processos industriais, desde orçamentos até a produção e logística, além de apresentar diversas informações em painéis para gerenciamento estratégico e soluções que facilitam o acompanhamento e a gestão de cada área;
O e-Cutter é um software integrado de otimização de chapas de vidro, ajustando automaticamente os planos de corte conforme a capacidade da fábrica, o que garante menor custo, melhor aproveitamento da matéria-prima, redução de desperdícios e menor tempo de produção;
O aplicativo WGCommerce é uma solução integrada para gestão de orçamentos e pedidos, com personalização completa da plataforma, permitindo faturamentos automáticos e pagamentos online.
Imagem: Divulgação NEX Soluções Inteligentes
Produtos:ERP Industrial e MES MAC, sistemas para gestão e planos de ação Fornecedora: NEX Soluções Inteligentes Como contribuem para a produtividade:
O ERP Industrial permite fazer a programação de todos os equipamentos que contemplam a linha de produção através de um toque, sem precisar programar cada equipamento separadamente. Além da programação, o ERP faz a gestão do estoque, fornece informações referente a produção, permite uma programação inteligente e integra abertamente com o sistema de gestão atual da empresa;
O MES MAC permite extrair informações da disponibilidade fabril, gerindo todos os motivos das paradas de linha, comparando o programado para a linha X o que ela está produzindo, com a possibilidade de emitir sinais ou mensagens para a liderança de produção tomar ações de imediato e entender o que de fato está acontecendo na linha de produção. Também permite medir a qualidade, mostrando o desperdício em tempo real.
Com sede na cidade de Mogi das Cruzes (SP), a 66 km da capital paulista, a PKO do Brasil é uma empresa familiar, como tantas outras empresas de nosso segmento. No entanto, a visão pragmática de seus administradores a destaca no concorrido cenário do mercado vidreiro: para a família Ang, de origem indonésia, profissionalismo é a palavra-chave quando se fala em sucessão.
Jovem liderança feminina
A PKO é liderada hoje por Myrian Ang, sua diretora-executiva e filha de Yao Ang, fundador da companhia nos anos 1990. Ela representa a segunda geração de gestores de sua família – inclusive, faz parte do comitê de empresas familiares do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). O processo para que Myrian assumisse os negócios contou com ajuda externa. “Por volta de 2010, a gente trabalhou com algumas consultorias, mas não funcionou muito bem, porque acho que a empresa não estava tão madura para isso. Mas há quatro anos, contratamos um consultor que nos auxiliou – e hoje ele é o nosso conselheiro externo.”
Esse profissional, inclusive, faz parte do conselho da processadora, órgão responsável pelas tomadas de decisão do negócio. O conselho da PKO é formado ainda por Yao e seu irmão Walter (sócio-investidor do empreendimento, ele mora fora do País e não está envolvido diretamente no dia a dia das atividades industriais). Myrian tem o papel de reportar a esse órgão o andamento da operação. “Os nossos números, o orçamento, o planejamento estratégico para os próximos cinco anos, tudo é aprovado dentro do conselho, juntamente com esse conselheiro consultivo. A gente faz essa prestação de contas porque a decisão tem de sair de lá”, revela Myrian.
Sem pressa para subir degraus
Depois de estagiar em empresas de outros segmentos, Myrian começou sua trajetória na PKO também como estagiária, de forma a entender os processos sem atropelar etapas – assim, ela estaria apta para tocar os negócios quando o momento para isso chegasse. A executiva destaca que o pensamento sempre foi “vamos começar de baixo”. Este, segundo ela, é um ponto muito crucial para a governança: “Ter papéis claros não só para a família, mas para os profissionais em volta. É um pré-requisito e todos têm ciência disso”.
Seu primeiro papel de liderança veio após anos acompanhando a rotina da empresa. Sempre ficava muito próxima aos gerentes. Em termos de aprendizado, fazia alguns relatórios para tentar entender todos os números. “Não tenho vergonha de perguntar como é que faz. A gente sempre vai avançando com os conhecimentos de todo mundo.”
Conheça a PKO
Instalada em Mogi das Cruzes (SP)
Planta com 20 mil m² de área
Mais de 300 funcionários
A processadora não revela a sua capacidade produtiva
Atende a diferentes segmentos da construção, incluindo indústrias de esquadrias, construtoras e decoração
Foco em vidros especiais, como laminados em suas diversas especificações (multilaminado, colorido, acústico etc.), privativos e plumbífero, entre outros – inclusive, a empresa acabou de investir em uma nova linha de laminados, com tecnologia da Benteler
História: de início curioso a processadora de grande porte
O nome PKO vem de palm kernel oil, termo em inglês para definir o óleo da semente de dendê. A empresa, fundada por Yao Ang, surgiu como importadora e distribuidora do produto para grandes indústrias químicas nacionais, como Colgate-Palmolive e Oxiteno. Em 1998, após a fabricante da qual a PKO comprava o insumo mudar sua estratégia de exportação, dificultando a aquisição do insumo, o vidro apareceu na vida de Ang: ele teve a ideia de importar chapas de float da Indonésia, seu país natal.
A partir de 2002, ocorre a mudança definitiva nessa trajetória: a companhia adquire os primeiros maquinários para o processamento de vidro – caminho esse trilhado desde então.
Foto: Ivan Pagliarani
“Nunca quis ser a ‘filha do dono’; queria a minha trajetória”
Myrian Ang, diretora-executiva da PKO, explica o processo de sucessão familiar da empresa
Você sempre teve certeza de que queria atuar na empresa de sua família ou tinha outras perspectivas? Myrian Ang – Eu sou formada em administração com ênfase em marketing, pela ESPM [Escola Superior de Propaganda e Marketing]. Então, sabia que gostava de administrar empresas – e, na minha cabeça, não necessariamente a PKO. Trabalhei como estagiária fazendo todos os relatórios financeiros de uma multinacional, respondendo diretamente para uma diretoria. E isso me foi dando um pouco mais de informação.
Na PKO, comecei de baixo mesmo, como estagiária do marketing, implementando sites, tentando entender o produto, a precificação. E, ao mesmo tempo, como adorava números, também fazia relatórios, tentava entender como o negócio funcionava. E assim fui galgando, acrescentando novas funções. Acho que o principal foi que eu nunca quis ser a “filha do dono”; queria a minha trajetória. Então, fiquei muito tempo até como estagiária, aprendendo mesmo. Nunca tive vergonha de perguntar “como faz isso? Por que isso acontece?”.
Eu só assumi um papel de liderança depois de uns quatro, cinco anos, na gerência administrativo-financeira. Fui absorvendo conhecimento de outras áreas, de outras lideranças e montando um time. Então, acabou sendo algo muito gradual e tranquilo.
De acordo com sua experiência, quais são os pontos críticos que merecem mais atenção no processo de sucessão e também na profissionalização da gestão? MA – O primeiro ponto são os papéis claros de cada um em relação a cargos e salários. Eu não recebo um salário de filha, recebo um salário de diretora-executiva. O meu irmão recebe um salário de diretor-comercial, e vai desempenhar o papel de comercial.
São essas situações que fazem a diferença. Pois isso passa segurança aos profissionais que estão na empresa, já que conseguem enxergar com muita clareza os papéis deles na organização.
O segundo ponto é ter transparência nos números. A gente conta com auditoria externa há mais de dez anos, até para justificar os números apresentados aos outros sócios. Essa rotina de prestação de conta é essencial, não? Por exemplo, meu tio tem três filhos: e se eles resolverem entrar na empresa, como vai funcionar? Hoje, eles moram fora do País. Se voltarem para o Brasil, como será a inserção no negócio? E como prestar conta disso para o sócio? Então, tudo isso precisa ser muito bem desenhado, para que não haja dúvida sobre a clareza de todos esses processos.
Qual o conselho que você daria para empresas familiares do setor que estejam caminhando para um momento de sucessão? MA – Eu fui muito abençoada, tive muita sorte de meu pai permitir que eu errasse, acertasse, de a gente fazer essa troca de conhecimento. É preciso saber quem será o sucessor e fazer com que a pessoa tenha respeito pelo passado, não pensar algo como “o jeito que o meu pai faz está errado, vou fazer tudo diferente”. É preciso ter muita paciência nessa jornada. Os envolvidos precisam respeitar-se e entender que a empresa vive momentos diferentes. O ideal é entender os papéis, como vai funcionar o papel do sucessor e de quem vai ser sucedido, ir fazendo isso de uma forma muito clara e sem rompimentos. Meu pai fala que ele não me deu o bastão: ele me passou o bastão e estamos caminhando juntos com esse bastão.
O setor vidreiro conta com uma atuação majoritariamente masculina, como bem sabemos. Você entende que caminhamos em que ritmo para atingir a equidade de gênero? MA – Acho que a gente tem bastante coisa para evoluir, mas encontramos muitas mulheres incríveis na gestão. De certa forma, eu tive muita sorte: tenho um irmão mais velho, um irmão mais novo, sou de uma família oriental. Tinha tudo para o meu pai passar o bastão para um dos homens, e acabou que eu assumi esse papel. Então, a questão do gênero não pesou. Quando se olha realmente o desempenho, o que precisa entregar, quais os papéis que as pessoas precisam cumprir, não precisa olhar o gênero, se é homem ou mulher. Acho que isso é o principal que precisa acontecer.
Já que estamos falando de mão de obra, esse tema tem sido um desafio para toda a indústria nacional, não só a indústria vidreira, tanto do ponto de vista da qualificação como da disponibilidade de profissionais querendo atuar nesse ramo. Existe uma questão geracional e muitas outras envolvidas. Vocês também têm encontrado dificuldades nesse assunto? MA – É um desafio geral, mesmo. O que a gente tem feito é mostrar com clareza a empresa em que o profissional está entrando. Eu estava até explicando para algumas pessoas o quanto a gente tem um time que desenvolve a carreira deles, por meio de treinamentos. Temos cada vez mais nos aprofundado em RH, eu diria, para trazer benefícios visando a mudar esse cenário, de forma que as pessoas queiram vir trabalhar com a gente. Mas o desafio continua bastante intenso.
A Mappi International, empresa fabricante de equipamentos para a têmpera e laminação de vidro, teve 51% de seu capital social adquirido pela Voilàp Glass, uma holding formada pelas multinacionais Voilàp e Mamisa. As ações da Mappi não vendidas permanecem com a presidente e CEO da empresa, Nancy Mammaro, que divide a gerência da companhia com Ermanno Petitti. De acordo com a Voilàp, o objetivo da aquisição é consolidar sua presença no setor de máquinas de processamento de vidro, complementando sua participação acionária existente na Keraglass. “Essa operação representa um passo estratégico fundamental para o nosso crescimento e reforça o compromisso de fornecer soluções inovadoras e de alta qualidade. Agora podemos contar com duas marcas de ponta, como Keraglass e Mappi, que compartilham a mesma visão e valores do grupo”, comenta Valter Caiumi, CEO da Voilàp.
Empreender é uma tarefa complicada: no Brasil, uma a cada quatro empresas que geram emprego não sobrevive até completar seu primeiro aniversário. Quando esse espaço de tempo é aumentado de um para cinco anos, a taxa de sobrevivência segue baixa – apenas 37% das companhias criadas em 2017 no país seguiam em operação em 2022. Esses dados alarmantes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam o quanto a perenidade dos negócios se torna um desafio a ser superado todos os dias em nosso país.
Por isso mesmo, não é sempre que uma empresa, especialmente do setor vidreiro, chega a cem anos. A Cyberglass, processadora localizada em São Paulo, alcançou esse feito neste fevereiro de 2025, completando um século de trabalho com vidro. Essa história tão rara merece ser contada, e agora você confere um pouco sobre ela.
Crescimento através dos tempos
Natural de Santos, Domingos Seixas (avô de José Domingos Seixas, o atual CEO da empresa) fundou, em 1925, um pequeno negócio familiar chamado Seixas & Cia, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo. O empreendimento no tradicional bairro paulistano, reduto de italianos, tinha por objetivo comercializar vidro em uma época em que a produção era limitada. Utilizado principalmente em janelas e na decoração, o vidro era considerado um luxo – mas a demanda por ele aumentava conforme a construção civil se desenvolvia, impulsionada pelo crescimento urbano.
Com um setor vidreiro mais consolidado nas décadas seguintes, a empresa sempre buscou novos posicionamentos dentro da cadeia: se tornou Fábrica de Espelhos Seixas & Cia (na época não existiam usinas, como hoje, para fabricar o produto); depois, virou Indústria e Comércio de Vidros e Espelhos São José; e, mais tarde, mudou de nome mais uma vez, para Verdi. Finalmente, em 2002, ocorre um rebranding total. A companhia se transforma na Cyberglass, passando a atuar como processadora, agora no vizinho bairro da Mooca, também muito italiano e que já foi importante polo industrial da cidade.
Algumas das logomarcas da Cyberglass ao longo de seus 100 anos (a atual é esta de baixo)
Longevidade
Para o CEO (e neto do fundador) José Domingos Seixas, é uma honra estar à frente da beneficiadora neste momento histórico. “Eu, como terceira geração da família a gerir o negócio, me orgulho de dizer que somos uma empresa saudável. Passamos por grandes desafios, mas sobrevivemos a todos. E fico mais feliz ainda sabendo que a quarta geração está pronta para assumir a Cyberglass a qualquer momento”, revela, fazendo referência aos sobrinhos Gláucia Guerrero, que é diretora de Suprimentos, e Rodrigo Guerrero, diretor de Operações.
“Estou na empresa há 27 anos e, quando olhamos para trás, vemos uma grande mudança. A Cyberglass, de uma pequena vidraçaria, se tornou uma grande indústria, sendo uma das referências hoje no mercado nacional”, comenta Rodrigo. “Eu não estou há tanto tempo, cerca de treze, quatorze anos aqui, mas também acompanhei essa evolução: a chegada dos computadores, das grandes máquinas, e nós conseguindo investir nessa tecnologia e manter a perenidade dos negócios”, analisa Gláucia.
A comemoração do aniversário foi dividida em dois momentos: uma festa para os colaboradores, e outra, para fornecedores, parceiros e clientes.
Conheça a Cyberglass
Fundada em 1925
140 colaboradores
Foco na produção de vidros para a construção civil, especialmente os segmentos de fachadas e atendimento a prédios residenciais, comerciais e empresas de envidraçamento de sacadas
Capacidade para produzir 110 mil metros de laminados e 60 mil metros de temperados mensais
“O segredo é não fazer do negócio uma herança”
José Domingos Seixas e seus sobrinhos Gláucia e Rodrigo foram entrevistados pelo VidroCast, o podcast da Abravidro, e comentam a importância do legado da família nos negócios da Cyberglass
Como alcançar essa meta tão expressiva de cem anos em um mercado com concorrência tão acirrada como é o segmento vidreiro? José Domingos Seixas: O segredo é não fazer do negócio uma herança. Porque com a herança existem interesses não muito claros entre as pessoas. Uma empresa familiar tem de ser gerida por capacitação, tem de ser direcionada. Eu acho que isso é o que levou a Cyberglass a sobreviver até hoje.
Gláucia Guerrero: Nós respeitamos muito a hierarquia. Cada um sabe exatamente onde é o seu lugar. O Domingos é o chefe, o dono da Cyberglass, e nós somos funcionários dele. Quando a gente fala de empresa familiar, várias pessoas perguntam como é viver, trabalhar no dia a dia sem brigar. Eu falo que cada um respeita o seu espaço. Ninguém passa por cima, ninguém quer ter mais poder. Existe a diferença de opinião, a divergência, mas a gente respeita o outro.
JDS: A família é a mantenedora desse pilar, desse equilíbrio. Isso, muitas vezes, é discutido em família, os problemas são colocados em família. Ninguém sofre sozinho, vamos dizer assim. A gente sofre em família e a gente se diverte em família.
Quais são os principais desafios do mercado? Rodrigo Guerrero: A importação de vidros é uma coisa que afeta diretamente a gente, principalmente quando tem reajuste da usina, pois alguns importadores continuam com preços antigos, então quem importa tem uma competitividade maior. A informalidade, todo mundo sabe, é desleal. E também o que vem do governo, atrapalha não ter uma previsão mais clara, com os empresários tendo dificuldade em realizar investimentos, alta taxa de juros, incerteza do mercado, a construção civil prevendo uma redução para os próximos anos… Acho que esse é o momento que estamos vivendo hoje, e que não é muito diferente do que vivemos no passado.
Em 2019, vocês passaram por um momento terrível: uma enchente que atingiu as instalações da Cyberglass. Como foi aquele período? RG: Esse é um dos pontos que mais marcou a empresa.
GG: E que mais machuca até hoje.
RG: É difícil pensar nisso sem se emocionar, porque, por mais que outras empresas tenham passado por isso, quando acontece com você, é dolorido. Mas a gente teve muita ajuda, vinda até de pessoas e empresas das quais a gente não esperava ou mesmo de quem a gente nem conhecia. Foi um prejuízo gigantesco, produção paralisada por meses. Todos os equipamentos eram eletrônicos, automatizados, com painéis na parte de baixo das máquinas, então tudo ficou submerso. E ainda teve a dificuldade para repor os componentes de maquinários com vários anos de uso.
JDS: Além de você não ter dinheiro, você tem de gastar. Naquele momento você não tinha de onde tirar. Todo meu estoque estava submerso. Todas as máquinas ficaram submersas. A gente perdeu todos os documentos trabalhistas, para você ter uma ideia… Mas a gente tinha certeza de que a empresa ia continuar. Então, a gente fez de tudo pra manter, pelo menos, os nossos clientes atendidos.
Qual a importância da resiliência de vocês pra construir essa história, inclusive nesses momentos de dificuldade? GG: Tem que haver resiliência. Senão, você afunda e não volta. Você vai afundar em algum momento, mas você vai voltar, levantar, respirar.
Quais outros momentos da história da Cyberglass ajudaram a definir a empresa? JDS: Qualquer episódio para a gente é relevante. A simples compra de um carro novo era super importante. A gente trabalhou com muito sacrifício e conquistamos as coisas assim. Então, festejava cada momento, cada pequena coisa. Eu acho que a gente é movido à satisfação. Todos os momentos dão muito prazer para a gente. É a conquista de um cliente, de um espaço novo, de um amigo no setor.
Para chegar aos cem anos de mercado, ter as pessoas certas na empresa deve ter sido fundamental. Qual a importância dos funcionários nessa trajetória? RG: Total. Temos vários cases de vários funcionários crescendo e ajudando a empresa chegar onde chegou. Já tivemos ajudante geral da expedição, o carregador de vidro, que se tornou um dos melhores vendedores; tivemos ajudante que virou gerente e hoje tem vidraçaria própria. É disso que a gente precisa. Eu participei do setor de RH por alguns anos e, quando contratava alguém, falava “não trabalhe pra mim, trabalhe para você, porque você é uma empresa”. Tem muita gente que escuta e acaba crescendo junto.
Vocês chegaram a tentar outras áreas profissionais ou sempre quiseram seguir carreira no vidro? RG: Comecei bem cedo e não porque eu quis [risos]. Foi bem no período de férias da escola, meus amigos na piscina e eu indo almoçar rápido em casa pra voltar pra empresa. Mas a gente pega amor, né? Desde pequeno eu frequentava a empresa, e sempre a vi como um futuro.
GG: Eu me formei em Direito, não tinha pretensão alguma de ir pra empresa. Mas após o término do meu casamento, precisei seguir minha vida, pensei “e agora, pra onde eu vou?”. E aí eles me abriram as portas e cá estou até hoje.
JDS: Eu comecei muito cedo. A gente morava em cima da fábrica, era um sobrado. E eu, aos 10 anos, trabalhava na produção de espelhos. Depois eu fiz cursinho pra vestibular, ia prestar pra Medicina, mas meu pai ficou muito doente. E aí mudei para ciências contábeis. Trabalhei um ano fora, em escritório de contabilidade, e depois retornei.
Domingos, depois de ser presidente da Abravidro por seis anos, e agora como vice-presidente do Sinbevidros-SP, qual é a sua visão sobre a importância do associativismo? JDS: É algo que não tem parâmetro, sabe? É importante e ponto. É ali onde você discute, vê as dificuldades de todo mundo, procura entender o mercado, traz opiniões. Hoje eu percebo o quanto a gente perdeu no período em que a empresa não participava desse movimento do associativismo. Mas você só tem a ganhar. Não é uma despesa, é um investimento.
Nos últimos anos, a Cyberglass tem investido mais em marketing. Essa estratégia é parte da construção dos próximos cem anos da empresa? RG: Eu acredito que sim. Quem não é visto não é lembrado. Quando a gente olha o histórico da empresa, por muitos e muitos anos ela foi uma vidraçaria muito pequena, então agora que a gente passou a ter um nome mais forte, a ser reconhecido no mercado, é preciso aparecer, participar de feiras etc. Hoje a gente tem o maior forno de têmpera do mercado, nós produzimos um dos maiores multilaminados de temperados do Brasil, atendemos a construção civil de ponta a ponta, desde a decoração até peças estruturais – e a gente tem de ser visto, tem de investir em marketing, para que as pessoas tenham conhecimento daquilo que a gente faz.
Antes de terminar nosso bate-papo, teriam um recado para deixar para o setor? JDS: Para quem está junto com a gente no mercado vidreiro, concorrente ou não, quero falar que tudo é possível. A Cyberglass é a prova disso. A gente tem mais um caminho enorme a percorrer, sempre estendendo a mão, né? Porque se estamos aqui hoje é porque também estenderam a mão para nós.
RG: Gostaria de deixar um agradecimento aos funcionários. Eu acho que a gente é muito abençoado por tudo que conquistou. Eu lembro que quando era mais novo peguei um caderno e eu fiz uma lista de equipamentos que eu queria pra empresa. Uma lista de desejos. Há algum tempo atrás eu achei esse caderninho e me emocionei, porque, tudo o que estava naquela lista, nós conquistamos.
GG: Ninguém consegue nada sozinho. A gente precisa dos nossos colaboradores, dos clientes, dos fornecedores, e eles precisam da gente também. E tem de ter o apoio da família, sem sombra de dúvida, porque sem a família a gente não vai pra frente.
Será possível dar adeus aos gases que vão no interior das câmaras dos vidros insulados, substituindo-os por um material com melhor desempenho térmico? Se depender da empresa estadunidense AeroShield Materials, isso pode se tornar realidade em breve. A companhia anunciou, no começo do ano, que desenvolve sistemas insulados usando aerogel no lugar de gás.
O aerogel é um material sintético derivado de um gel, que tem seu componente líquido substituído por gás. Isso o deixa sólido e poroso – grosso modo, algo semelhante a uma esponja, mas com característica isolante e dessecante muito forte, sendo capaz de absorver grande quantidade de líquidos.
Segundo Aaron Baskerville-Bridges, cofundador e vice-presidente de Operações da AeroShield, o aerogel é duas a três vezes mais isolante do que os gases inertes padrão usados para melhorar o desempenho do insulado. “Com a tecnologia, janelas de vidro duplo podem ser 40% mais finas e leves do que as feitas com insulados triplos. A solução pode se traduzir em economias de milhares de dólares nas contas anuais de aquecimento e resfriamento de uma residência”, comenta.
Fiquemos atentos para ver se tal revolução realmente acontecerá.
Único indicador vidreiro a medir as vendas faturadas mensais de vidros processados (em m²), o Termômetro Abravidro teve um 2024 importante: além de ganhar novas formas de medição e de apresentação do conteúdo, o estudo firmou-se como elemento presente no dia a dia das processadoras, com média de mais de noventa empresas respondentes por mês. E, apesar de todas essas novidades, os números medidos pelo indicador foram apenas medianos – o desempenho do setor no ano “andou de lado” na comparação com 2023.
Com a queda de 14% vista em dezembro (veja mais sobre os dados do mês clicando aqui), a variação acumulada do ano fechou no negativo, em -4,6%. “O resultado de dezembro foi ruim, como já era esperado, por conta do recesso de fim de ano e o consequente número menor de dias trabalhados. Mas, infelizmente, essa queda ‘zerou’ o ganho que tivemos ao longo de 2024. Olhando a evolução dos dois últimos anos, o resultado ficou praticamente estável”, analisa Rafael Ribeiro, presidente da Abravidro. Apesar disso, a variação acumulada dos últimos doze meses vem tendo resultados melhores, ainda que negativos – o que significa que o setor “parou de piorar”.
Presença do setor
“A resposta ao Termômetro tem sido muito boa, o que mostra que nosso setor se preocupa com seus números”, comenta Ribeiro. É importante, porém, uma maior participação das empresas também no Panorama Abravidro, o estudo anual da associação que tem um escopo mais abrangente (confira detalhes sobre a pesquisa para a edição 2025 clicando aqui). “Com mais processadoras participando do Panorama, a radiografia do mercado será ainda mais precisa. Dessa forma, teremos um mapa bem definido para ajudar no planejamento estratégico de nossos negócios”, afirma o dirigente da Abravidro.
O que mudou
O Termômetro ganhou uma metodologia de dessazonalização, a qual consiste na utilização de um modelo sobre a série de produção mensal de produtos minerais não metálicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – que abrange as atividades industriais do setor de vidros processados. Assim, foi feito o ajuste de dias úteis, considerando o calendário utilizado pelo mercado financeiro, somado à inclusão de meia-jornadas aos sábados e em feriados extraordinários (como dias de jogos de Copa do Mundo, por exemplo). Além disso, a base de dados do estudo (chamada de base 100) foi ajustada de dezembro de 2021 para abril de 2022, momento no qual o Termômetro passou a considerar a participação de uma base expandida de respondentes – antes, no período piloto, apenas empresas ligadas à diretoria da Abravidro podiam participar.
“O indicador está amadurecido. Em 2022, as variações eram muito elásticas; porém, agora não mais. Para ajustar isso, tivemos a ajuda das próprias empresas do setor, as quais sugeriram incluir a análise dos dias úteis”, comenta Sergio Goldbaum, economista da GPM Consultoria, empresa responsável pelo estudo (e também pelo Panorama Abravidro). “Este é um tópico relevante: se um mês tem cerca de 22 dias úteis, um feriado prolongado representa quase 10% do total de dias trabalhados, o que altera significativamente o resultado do indicador.”
Imagine celebrar um aniversário importante de sua empresa com uma sede novinha em folha? Foi isso que aconteceu com a Modelo Vidros em 2024: a beneficiadora gaúcha completou três décadas de atividades e inaugurou, em dezembro, sua planta renovada na região da Serra Gaúcha, após quatro anos de obras e investimento de R$ 80 milhões.
Tecnologia de ponta
A nova sede da Modelo Vidros conta com área total construída de 35 mil m² – espaço três vezes maior que o antigo. Com isso, a empresa triplica sua capacidade produtiva de processamento de nosso material, chegando a 1.500 t por mês. O financiamento da unidade teve apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão público voltado ao fomento à inovação nas indústrias.
Foto: Verso/Divulgação
A sustentabilidade é um dos focos do projeto. A fábrica ganhou um sistema de reaproveitamento de água que garante 0% de desperdício desse insumo utilizado em diversas áreas, como lapidação e lavagem. “Investimos em processos e soluções que minimizem nosso impacto ambiental. Nossa fábrica foi projetada para ser mais eficiente com o uso de energias renováveis, sistemas de reuso de água e materiais que respeitam os padrões atualizados de sustentabilidade”, afirma Neiva Nicaretta, fundadora e diretora da empresa.
“A ideia é que a nova fábrica da Modelo Vidros seja um ponto de referência. Aqui temos máquinas altamente tecnológicas, equipamentos de última geração e processos reconhecidos no mundo todo operados por profissionais de altíssima capacidade”, explica o diretor Leonir Nicaretta, também fundador da companhia.
Cerimônia
A inauguração oficial da planta ocorreu no dia 6 de dezembro, com a presença de autoridades, parceiros e imprensa, incluindo o prefeito de Garibaldi, Sérgio Chesini, e o presidente da Abravidro, Rafael Ribeiro, que discursou durante a cerimônia: “O Rio Grande do Sul tem um dos melhores parques industriais do mundo e essa nova sede é um exemplo disso. Estamos vendo hoje uma das fábricas mais modernas do País”.
Conheça mais sobre a Modelo Vidros
Fundada em 1994
Tem equipe com mais de 200 colaboradores
Foco na produção de vidros para a construção civil, mas também fornecendo para a indústria de móveis de alto padrão (outra empresa do grupo produz ainda tampas de vidro para panelas)
Atende mais de mil clientes ativos, entre construtoras, indústrias de esquadrias e vidraçarias, do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina
Com o aumento da capacidade produtiva, a ideia é ampliar o mercado, chegando a outras regiões do Brasil
Foto: Vagão Filmes/Divulgação
“Estamos prontos para enfrentar os desafios do setor” O Vidroplanoconversou com Leonir Nicaretta, diretor e fundador da Modelo Vidros, sobre o futuro da empresa após o investimento na nova sede
A Modelo Vidros completou trinta anos de trabalho atuando em um segmento marcado pela competitividade. Qual o segredo para a longevidade da empresa dentro do setor vidreiro? Leonir Nicaretta – Sempre investimos em inovação e tecnologia, garantindo que nossos produtos se mantenham atualizados com as tendências do setor. Além da diversificação que o mercado sempre exigiu, buscamos trabalhar com práticas sustentáveis e com grandes parceiros para manter a reputação da marca.
Houve um alto investimento na construção da nova sede e também na divulgação dessa conquista. É um recado para o mercado de que os objetivos da Modelo Vidros são grandes? LN – A nova fábrica não é apenas um recado ao mercado, mas, sim, um forte indicativo de que estamos prontos para enfrentar os desafios do setor. Com a modernização das nossas instalações, estamos implementando automação e mantendo um alto padrão de qualidade, características que se tornam essenciais no mercado atual. Além disso, a nova sede nos permite operar com a agilidade que os clientes buscam, garantindo que possamos atender suas necessidades de forma rápida e eficiente. Essa combinação de inovação, qualidade e rapidez posiciona a Modelo Vidros como uma empresa preparada para um mercado competitivo.
Além de aumentar a capacidade produtiva, o que a nova fábrica agrega em termos de portfólio de produtos? LN – Com a chegada de novos equipamentos, como a linha de laminados, hoje conseguimos processar vidros com desbaste de borda (como os low-e) e principalmente vidros insulados de grandes dimensões. Além da linha de laminado com autoclave, todo o nosso estoque é automatizado e integrado ao ERP – desde o corte até o processo final do produto. Estamos implementando ainda junto ao nosso ERP o endereçamento das peças de todo o processo fabril. Com isso, vamos ganhar agilidade e qualidade.
O setor vidreiro tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, especialmente com relação à demanda por vidros. Por que, mesmo com essas notícias não tão boas, vocês seguem investindo no segmento? LN – Porque acreditamos no potencial de crescimento a longo prazo. O mercado de vidros está em constante evolução, com novas aplicações e tecnologias emergindo constantemente. E nosso compromisso com o cliente é atender suas necessidades, mantendo o foco na diversificação e nos diferentes nichos, mesmo em tempos desafiadores. A adaptação e a visão futurista são essenciais para garantir nossa posição no mercado e contribuir para o desenvolvimento do setor como um todo.
Leonir apresenta a nova sede da Modelo Vidros aos convidados presentes na inauguração da planta (Foto: Vagão Filmes/Divulgação)
No vídeo sobre a sede postado nas redes sociais da empresa, há depoimentos de diversos profissionais com muito tempo de casa. Ao mesmo tempo, nota-se que a mão de obra qualificada é um gargalo na indústria brasileira como um todo – e também em nossa cadeia. Como vocês têm feito para enfrentar essa situação? LN – Para enfrentar o desafio da escassez de mão de obra qualificada, temos investido fortemente em programas de capacitação e treinamento contínuo para nossos colaboradores. Reconhecemos que o conhecimento e a experiência de nossa equipe são fundamentais para garantir a qualidade e a inovação nos produtos. Criamos um ambiente de trabalho que valoriza o desenvolvimento pessoal e profissional, promovendo a troca de experiências entre colaboradores mais experientes e os novos integrantes da equipe. Essa sinergia é essencial para continuar a oferecer soluções de alta qualidade aos clientes. Acreditamos que investir em capital humano é um passo crucial para o sucesso sustentável da empresa e do segmento. E temos de aproveitar o que está disponível para agregar conhecimento à área em que atuamos. Um exemplo disso está no incentivo ao uso da plataforma Educavidro, que é completa e educativa, além de ser a única disponível no segmento. [Nota da redação: a Modelo Vidros foi uma das dez empresas cujos funcionários mais utilizaram o Educavidro no primeiro ano da plataforma.]
Qual o recado da Modelo para o mercado? LN – É um recado de otimismo e compromisso. Em tempos de desafios, reforçamos nossa determinação em continuar inovando e oferecendo produtos de qualidade que atendam as demandas do setor. Acreditamos no potencial do mercado vidreiro e estamos empenhados em contribuir para um futuro mais sustentável e eficiente. Estamos aqui para apoiar nossos parceiros e clientes, ouvindo suas necessidades e oferecendo soluções personalizadas que agreguem valor. Juntos, podemos superar obstáculos e construir um segmento mais forte e resiliente.
Após um 2024 complexo, de altos e baixos no setor vidreiro, 2025 começa com boas esperanças – se elas se concretizarão, só saberemos daqui a um tempo. Como já virou tradição em todo mês de janeiro, O Vidroplano analisou indicadores econômicos, incluindo os dos mercados consumidores de vidro, e conversou com players de diversos elos da cadeia vidreira para saber o que esperar de 2025. A seguir, confira uma longa análise a respeito das perspectivas para os nossos negócios.
Panorama geral da indústria
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria de transformação em 2024 é de crescimento de 3,5%, valor que representaria a maior alta do indicador em três anos. O PIB nacional como um todo, para a entidade, também deve marcar alta de 3,5%.
O estudo Indicadores Industriais, produzido pela CNI, referente a novembro, que é a edição mais recente da pesquisa, mostra que o faturamento real da indústria nacional subiu 0,1% no mês, apresentando estabilidade sobre outubro, que tinha marcado alta de 3,1%, revertendo a queda de 2,1% registrada no mês anterior (setembro). Na comparação com novembro de 2023, esse indicador cresceu 9,1%. As horas trabalhadas na produção tiveram estabilidade, com variação de -0,1% frente a outubro, assim como a utilização da capacidade instalada, que está em 79,6% (0,7 ponto superior à de novembro de 2023).
Por outro lado, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) revela pessimismo: em queda pelo quarto mês seguido (com 4,2 pontos de recuo desde setembro), o indicador caiu de 50,1 pontos para 49,1 este mês. Com isso, ficou abaixo da linha divisória que delimita um estado de confiança pela primeira vez desde maio de 2023. “O pessimismo faz com que os empresários tendam a adiar decisões com relação a investimentos, aumento de produção e contratações, na expectativa de um cenário mais favorável”, comenta o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Os dois componentes do Icei caíram em janeiro. O Índice de Condições Atuais obteve baixa de 2,3 pontos, o que significa que a avaliação dos empresários sobre as condições atuais da economia e das próprias empresas se tornaram mais negativas em relação aos seis meses anteriores. O Índice de Expectativas, por sua vez, teve diminuição de 0,4 ponto.
Construção civil
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) estima que o setor da construção civil deve consolidar 2024 com crescimento de 4,1% em suas atividades. Para 2025, a expectativa é de crescimento, mas menor em relação ao ano passado: a projeção inicial é de expansão de 2,3%.
De acordo com os dados apresentados pela CBIC em dezembro, a construção de edifícios registrou crescimento de 8% em 2024, enquanto as obras de infraestrutura apresentaram queda de quase 39%. A construção civil também gerou 920 mil empregos de janeiro de 2020 a outubro de 2024, desempenhando um papel fundamental na recuperação da economia pós-pandemia – de 2021 a 2024, foram mais de 200 mil postos de trabalho anuais.
Quem também cresceu foi o mercado imobiliário: de janeiro a setembro, as vendas de apartamentos novos aumentaram 20%, com 292.557 unidades comercializadas; já os lançamentos de projetos subiram 17,3%.
Setor automotivo
O segmento de automóveis teve um ótimo 2024. Segundo levantamento da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção total no ano foi de 2,550 milhões de autoveículos – alta de 9,7% na comparação com 2023, fazendo com que o Brasil assumisse o posto de 8º maior produtor de veículos no mundo.
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O volume de emplacamentos também cresceu (14,1%), em quantidade bem superior à média global de 2%. É o maior aumento no ritmo de vendas internas desde 2007. A soma de vendas de novos e usados chegou ao maior resultado na história do País, com 14,2 milhões de veículos leves vendidos. “Claramente, há uma demanda reprimida por transporte individual que vem sendo atendida de forma crescente, graças às melhores condições de crédito”, explica o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite. “Se essas condições melhorarem e se houver uma política de renovação de frota, mais pessoas poderão optar por veículos 0 km.” E, de acordo com reportagem da Folha de S.Paulo de 6 de janeiro, a capacidade de produção da indústria automotiva nacional deverá aumentar a partir deste ano, graças ao início das operações fabris das montadoras chinesas BYD e GWM. As empresas terão, somadas, potencial para fabricar 500 mil unidades por ano.
Linha branca
Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) indicam que, de janeiro a setembro, as vendas dessa indústria como um todo para o varejo apresentaram salto de 29% em comparação com o mesmo período de 2023. Por isso mesmo, a entidade prevê o melhor resultado para o setor eletroeletrônico dos últimos dez anos: o crescimento em 2024 deve ficar entre 15% e 20%.
Olhando apenas para os produtos do segmento de linha branca (geladeiras, fogões e máquinas de lavar, entre outros), houve avanço de 19% de janeiro a setembro, com a comercialização de 11,3 milhões de unidades. “O setor vem registrando uma retomada importante em relação às perdas verificadas nos últimos anos, em especial em 2022, um dos piores da história para a indústria nacional eletroeletrônica. Chegar a mais de 80 milhões de unidades antes mesmo da nossa principal sazonalidade, que acontece no quarto trimestre, com as datas de Black Friday e Natal, mostra que o consumo está mais aquecido”, destaca o presidente-executivo da Eletros, Jorge Nascimento.
De olho na construção civil
Para saber mais detalhes a respeito das expectativas do segmento que mais consome vidro no Brasil, a construção, O Vidroplano conversou com Ieda Vasconcelos, economista da CBIC.
O desempenho da construção em 2024 foi abaixo ou acima do esperado? Ieda Vasconcelos: O setor fechou com resultado positivo e acima do projetado inicialmente. A estimativa de crescimento de 4,1% foi melhor que o observado em 2023, quando apresentou relativa estabilidade (-0,3%). O incremento de atividades do setor está refletido diretamente nos resultados do seu mercado de trabalho. Conforme os dados do Ministério do Trabalho, a construção, em todo o País, gerou de janeiro a novembro (últimos dados divulgados) 200.613 novos empregos com carteira assinada. Assim, o seu número de trabalhadores formais passou a ser de 2,948 milhões, o que correspondeu a um incremento de 7,3% em relação ao registrado no final de 2023.
Além disso, outros fatores ajudam a explicar o desempenho positivo: o melhor dinamismo da economia nacional, que cresceu acima do que era aguardado no início do ano; a volta das atividades do mercado de padrão econômico, com a retomada do Minha Casa, Minha Vida e o ano eleitoral são alguns deles. Também é preciso considerar o desempenho do mercado de trabalho no País, com taxa de desemprego alcançando o menor patamar histórico.
Quais foram as principais dificuldades enfrentadas por esse segmento em 2024? Essas condições podem melhorar em 2025? IV: O aumento da taxa de juros foi um dos desafios e merece destaque. Os juros elevados prejudicam o segmento produtivo da economia, pois direcionam um maior volume de investimento para o mercado financeiro. Além disso, com juros maiores, a Caderneta de Poupança, uma das principais fontes de financiamento imobiliário no País, perde recursos para outras aplicações financeiras que proporcionam rendimentos mais atrativos. Conforme dados divulgados pelo Banco Central, a sua captação líquida (depósitos menos as retiradas) foi negativa em R$ 21,718 bilhões. Há quatro anos consecutivos a Poupança vem perdendo recursos. Outra fonte de preocupação é o aumento de custos do setor. Em 2024, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), calculado e divulgado pela Fundação Getúlio Vargas, aumentou 6,54%; o custo com a mão de obra cresceu 8,56%; e o custo com materiais e equipamentos, 5,34%. Já o IPCA/IBGE registrou elevação de 4,83%. Portanto, altas superiores à inflação oficial. Os custos da construção, que já estão em patamar elevado em função dos fortes aumentos registrados no período da pandemia, voltaram a preocupar o setor. Também é necessário destacar a falta ou o alto custo do trabalhador qualificado. Inclusive esse é um desafio para vários segmentos da economia.
Para 2025, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) já sinalizou mais aumentos na taxa de juros Selic. Portanto, os juros altos continuarão preocupando. A alta do dólar deve pressionar o preço de commodities, influenciando os preços de alguns insumos. Nesse sentido, o aumento de custos também preocupa o setor este ano. Em relação à mão de obra, a construção tem trabalhado para amenizar o problema, inclusive fazendo parcerias com o Sesi/Senai para aumentar a capacitação da mão de obra.
O que esperar da construção ao longo de 2025? IV: Deverá continuar crescendo em 2025. O processo produtivo do setor é longo. Assim, obras iniciadas nos últimos dois anos continuarão gerando emprego e renda para a economia nacional.Ainda é preciso ressaltar que os lançamentos imobiliários registraram alta expressiva em 2024, o que também sinaliza mais atividade em 2025. O mercado imobiliário deverá continuar registrando resultados positivos, mas é importante destacar a preocupação com o crédito para a média renda. A taxa de juros em patamar elevado pode inibir pequenas obras, reformas, infraestrutura e o mercado imobiliário de média e alta renda. Já o segmento de infraestrutura poderá ser impulsionado por investimentos privados contratados. Isso tudo significa que o setor continuará registrando expansão. A expectativa da CBIC é de crescimento de 2,3%. Mas esse número poderia ser maior caso a taxa de juros estivesse em patamar razoável.
De modo geral as empresas vidreiras estão otimistas em relação ao aumento do uso do material nos próximos anos. Elas devem manter o otimismo ou seria melhor ter cautela nas previsões? IV: Falando do segmento imobiliário: o Brasil possui um déficit habitacional de mais de 6 milhões de moradias, e esse número sozinho indica a importância das atividades da construção e também de todas as indústrias e fornecedores de sua cadeia produtiva. Além do déficit existente, também é preciso considerar as novas famílias que se formam anualmente e o crescimento da população. Por isso, é necessário, é urgente, que o setor solidifique o seu processo de crescimento e continue apresentando expansão. A demanda existe e, por isso, as expectativas são de incremento de atividades.
Foto: Rmcarvalhobsb/stock.adobe.com
À espera da reforma tributária
Um assunto que o setor aguarda ansiosamente este ano é a regulamentação da reforma tributária. A mais importante mudança é a reorganização dos impostos sobre o consumo:
PIS, Cofins e IPI se transformarão na Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), representando a parcela arrecadada pela União;
ICMS, de competência estadual, e ISS, de competência municipal, se tornarão o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS).
“A parte positiva do assunto é a simplificação e o fato de termos uma legislação única para todos os tributos, além de trazer segurança jurídica”, explica Halim José Abud Neto, advogado e assessor-jurídico da Abravidro. “O novo sistema é mais racional. Porém, tem muito questionamento sobre as alíquotas relativas aos Estados e municípios. Por isso, a simplificação prometida ainda será testada.”
Uma das discussões mais relevantes para nossas empresas diz respeito às alíquotas que incidirão sobre a indústria. “Existe uma trava no projeto aprovado, da qual está pendente a sanção presidencial, de que a alíquota não pode passar de 26,5%”, alerta Halim. “Todos devem ter consciência de que a aplicação disso se inicia em 2026, mas a transição será um processo de longo prazo. Nosso setor tem a tarefa de acompanhar isso – e a Abravidro estará atenta às movimentações sobre o assunto.”
Balança comercial: o impacto dos importados
De acordo com o Comex Stat, portal do governo federal para acesso gratuito às estatísticas de comércio exterior do Brasil, em 2024 tivemos a maior marca de importação de vidro desde 2014. Foram 268 mil toneladas que entraram em nosso país – número ainda maior que o de 2023, quando já tinha sido visto um aumento de mais de três vezes na importação do material em relação a 2022.
Principais volumes:
Float: 140.764 t
Temperado: 19.394 t
Laminado: 27.158 t
Além do aumento da importação do float, o maior consumo de vidro processado estrangeiro é algo cada vez mais recorrente – atingindo diretamente a cadeia de processamento nacional. A importação de laminados, por exemplo, teve alta de 34% no ano passado na comparação com 2023 (é o número mais alto da última década).
A opinião das empresas vidreiras
Confira o que as companhias de nosso setor pensam sobre o desempenho de 2024 e o que esperar para 2025. O Vidroplano conversou com fabricantes de maquinários, ferragens e insumos – também falamos com as usinas de base, cuja opinião você lê a partir das próximas páginas.
BLINDEX/PILKINGTON
“2024 foi marcado por grandes conquistas e expansões significativas, tanto no portfólio de produtos como em novas parcerias e estratégias. Apresentamos lançamentos de soluções em envidraçamento, como os boxes Blindex Slim, o relançamento do Box Blindex Classic e o sistema de fechamento de fachadas Blindex Vista, além de destacar a versatilidade do vidro no segmento pet durante a feira Pet SA. Reforçando a importância de parcerias estratégicas para nossa marca, fortalecemos nossa rede de franquias e licenciados, promovendo maior engajamento entre os parceiros e ampliando nossa presença no mercado nacional. Para 2025, nossas expectativas são bastante positivas. Continuaremos investindo no fortalecimento da marca no mercado arquitetônico. Também estamos comprometidos em fortalecer ainda mais as parcerias estratégicas que são a base do nosso negócio. Além disso, reafirmamos nosso esforço constante para manter a Blindex como sinônimo de qualidade e inovação, enquanto expandimos nosso impacto em diferentes mercados e exploramos novas possibilidades para atender as demandas de um público cada vez mais exigente e diversificado.” Glória Cardoso
EASTMAN
“O ano de 2024 foi bastante intenso e dinâmico, com projetos interessantes não só aqui no Brasil, mas também em outros países da América Latina. Para 2025, seguimos otimistas, mas com cautela, visto que a situação macroeconômica do País inspira atenção. De nossa parte, seguiremos investindo no tema da sustentabilidade, buscando cada vez mais ampliar a circularidade dos nossos produtos e, em paralelo, apoiar nossos clientes para poder seguir fazendo o mercado do vidro laminado crescer este ano.” Daniel Domingos
LISEC
“2024 foi outro ano muito bom, assim como o de 2023. Na região da América Latina, na qual estamos inseridos, podemos comentar que, além dos projetos fechados, tivemos um aumento significativo de solicitações de novas ofertas de máquinas, softwares e mesmo plantas completas para o processamento de vidro plano. Um fato a ser considerado no ano passado foi o número de visitantes realmente significativo da América Latina, e em especial do Brasil, que recebemos em nosso estande na feira Glasstec. Sem dúvida, a expectativa para 2025 é positiva por conta do número grande de clientes nos procurando, solicitando novas ofertas, e também pelo fator automação das plantas de processamento – o qual julgamos como um caminho sem volta, que irá crescer ano a ano, com empresas procurando aumentar a produtividade e capacidade produtiva e ter garantia assegurada na produção, sem variação de lotes fabricados em diferentes momentos.” Luiz Garcia
MANUSA
“Em 2024, a Manusa apresentou um bom resultado, dando continuidade ao processo de desenvolvimento da marca no Brasil. A empresa expandiu seu portfólio, incluindo lançamentos como a porta de segurança com certificado RC2 e os novos módulos com tecnologia IoT (Internet of Things), produtos que aumentam a segurança e facilitam a gestão dos acessos, por meio de celular e de forma virtual. Também conquistamos o Certificado de Declaração Ambiental de Produto (DAP) para as nossas linhas de portas automáticas Visio+, uma certificação internacional que reconhece e avalia a transparência dos processos e produtos em relação ao impacto ambiental. O ano foi promissor tanto para a empresa quanto para o segmento de portas, que continua a se expandir. A previsão para os negócios em 2025 é de crescimento sustentado. O mercado de portas automáticas continuará em alta, impulsionado pela crescente demanda por soluções mais eficientes e sustentáveis, especialmente nas áreas de comércio e infraestrutura. E, embora as perspectivas sejam positivas, devemos estar atentos aos desafios impostos pela inflação e pela volatilidade cambial, que exigirão flexibilidade e adaptação constante para garantir o sucesso a longo prazo.” Flávio Margaritelli
AGC Isidoro Lopes Junior, presidente e diretor geral de Vidros Arquitetônicos para a América do Sul
Saldo dos negócios em 2024
“O saldo dos negócios feitos em 2024 foi um pouco acima de 2023, com um crescimento esperado em torno de 3%. Esse saldo foi superior à expectativa inicial da empresa para o ano: esperávamos um cenário mais nebuloso e cinzento, mas o desempenho acabou sendo melhor que o planejado.”
Dificuldades encontradas em 2024
“As principais dificuldades em 2024 incluíram um começo de ano difícil, com os três primeiros meses piores que 2023. Além disso, houve desafios macroeconômicos, como inflação e questões políticas, que impactaram o mercado. Algumas dessas dificuldades poderão ser solucionadas em 2025, especialmente se houver um alinhamento político e fiscal que motive investidores e melhore a macroeconomia. No entanto, desafios estruturais do País, como custos de energia e logística, ainda precisam ser abordados.”
Expectativas para 2025
“A expectativa para o mercado de vidro em 2025 é de crescimento. A empresa está otimista e espera um pequeno crescimento, com um cenário mais alinhado politicamente e fiscalmente, o que pode motivar investidores estrangeiros.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Para o setor automotivo, a expectativa é positiva, com recuperação e crescimento. O setor moveleiro também mostra sinais de recuperação, com alguns clientes já com capacidade totalmente tomada. A construção civil tem projeções de crescimento revisadas para cima, enquanto a linha branca ainda enfrenta desafios maiores.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Os pontos de atenção incluem a necessidade de investir em tecnologia e treinamento, manter um compromisso com a qualidade e atendimento, e estar atento às mudanças no mercado e às oportunidades de parcerias. Além disso, é importante acompanhar as questões de sustentabilidade e eficiência operacional.”
Recado para o setor
“O recado para o setor é de otimismo e compromisso. A AGC está comprometida em crescer e desenvolver o mercado junto de seus clientes, investindo em tecnologia, inovação e parcerias duradouras. É importante persistir na busca pela aplicação correta do vidro e manter a união e o respeito entre todos os elos da cadeia vidreira.”
CEBRACE Lucas Malfetano e Wiltson Varnier, diretores-executivos
Saldo dos negócios em 2024
“2024 apresentou dois períodos bem distintos: o primeiro semestre mais desafiador, seguido por uma retomada no segundo semestre. Por outro lado, registramos um volume de importações ainda maior que em 2023, o que nos traz grande preocupação. Esse movimento de importações impactou negativamente o desempenho dos nossos negócios, e esperamos reverter a situação em 2025. O que ficou confirmado em nossas expectativas foi o crescimento dos mercados no Brasil. Por outro lado, o crescimento não se refletiu em nossas vendas na mesma magnitude, devido ao expressivo aumento das importações, que impactaram não somente o float, mas praticamente todos os produtos processados.”
Dificuldades encontradas em 2024
“No primeiro semestre, houve uma demanda de mercado reprimida, acompanhada por um forte crescimento das importações. Além disso, os descaminhos fiscais na cadeia do vidro continuaram a desafiar nosso setor. Em 2024, o principal problema foi o patamar das importações, o que gerou grande preocupação. As tensões geopolíticas, as relações entre as grandes potências e um nível de atividade mais fraco, especialmente na China, desencadearam uma guerra comercial que afeta as cadeias produtivas globais e incentiva a concorrência desleal. Nesse sentido, compreendemos que é essencial ao Brasil garantir que todos os atores do mercado participem em condições de igualdade. Ao final de 2024, houve a publicação da Resolução Gecex nº 675, que alterou a alíquota do imposto de importação do vidro incolor para 25%, e que deverá trazer algum alívio em relação às importações desse produto, ajudando a reestabelecer o equilíbrio comercial em nosso mercado, fortemente impactado nos últimos dois anos. No entanto, é importante ressaltar que é uma medida temporária. Portanto, precisamos continuar trabalhando em medidas que assegurem condições equânimes de competitividade e que garantam maior previsibilidade e sustentabilidade ao setor. Por isso, destacamos o processo de investigação antidumping para importações de float incolor, das origens Malásia, Turquia e Paquistão, iniciado em julho de 2024 e ainda em andamento. Estamos atentos também à situação dos produtos processados, como laminados e temperados, que apresentaram crescimentos importantes nos volumes de importação em 2024. O Brasil recebeu investimentos significativos nos últimos 12 anos, que praticamente dobraram a capacidade de produção. Assegurar um ambiente de negócios justo, sem distorções competitivas, é fator chave para assegurar novos investimentos nos próximos anos.”
Expectativas para 2025
“Mantemos nosso otimismo em relação ao crescimento para 2025, embora estejamos atentos aos impactos do aumento das taxas de juros na demanda, que deverão se intensificar a partir do segundo semestre deste ano. As recentes elevações indicam a necessidade de cautela, apesar de todos os segmentos em que o vidro atua apresentarem indicadores que sinalizam um cenário mais positivo. Essa perspectiva otimista é sustentada por uma recuperação mais consistente da construção civil, impulsionada por novos projetos habitacionais. Continuamos a acreditar no mercado brasileiro e no desenvolvimento do mercado de construção sustentável, o que nos leva a manter os investimentos nas operações, na produção de vidros de valor agregado e na descarbonização.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Todos os setores de consumo do vidro apresentam perspectivas de crescimento em 2025. Na construção civil, os fundamentos permanecem sólidos: altos índices de novos lançamentos, baixos níveis de estoque, aumento na renda da população e redução do desemprego são fatores que devem sustentar o segmento, mesmo diante das altas taxas de juros.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Acreditamos que o mercado de vidros no Brasil tem oportunidades para um aumento significativo na penetração de soluções inovadoras que ofereçam diferenciação, como mais eficiência energética, segurança, maior conforto térmico e acústico. Portanto, a capacitação do setor continuará sendo crucial, aproveitando iniciativas como o Educavidro para disseminar conhecimento e aumentar a competitividade e sofisticação do segmento. Além disso, é indispensável a união do setor para que possamos avançar nos desafios e garantir uma concorrência justa, enfrentando em conjunto as práticas desleais de mercado.”
Recado para o setor
“Reiteramos nosso compromisso com o setor. A Cebrace possui plena capacidade para atender o mercado com seus cinco fornos – e isso se aplica tanto ao float como às linhas de produtos processados, como espelhos, laminados, vidros de controle solar e texturizados. Ainda sobre o aumento das taxas de importação do float incolor no final de 2024, entendemos que essa é uma medida provisória e pontual. Nosso esforço está direcionado a atuar em conjunto com todo o setor na busca por uma concorrência mais justa. Aproveitamos para agradecer a todos pela parceria e reforçar, como mencionado no 16º Simpovidro, que contamos com cada um de vocês para nos desafiar constantemente a sermos a melhor Cebrace possível.”
GUARDIAN Rafael Rodrigues, diretor-comercial e de Marketing da Guardian na América do Sul
Saldo dos negócios em 2024
“O ano foi marcado por momentos de altos e baixos, mas deixou no final um saldo positivo, com recuperação, em relação a 2023. Tivemos um primeiro semestre com mais desafios, por conta do desequilíbrio da relação de oferta e demanda, causado principalmente pelo excesso de produto importado, e um segundo semestre mais positivo, apoiado também pelo aumento da demanda típica dessa época. Foi muito importante avançarmos com ações estratégicas para apoiar nossos clientes com novos produtos, como o FumêMax, o SunGuard Solar Plus G31 e o SuperClear. Também avançamos com nossas plataformas digitais, em especial o portal de e-commerce, que permitiu dar maior agilidade, segurança e consistência na entrada de pedidos. Também publicamos importantes documentos para o mercado: as Declarações Ambientais de Produto (EPDs) e as Declarações de Saúde de Produto (HPDs) para o portfólio de produtos feitos no Brasil. Esses documentos reforçam o compromisso da empresa em medir e reduzir o impacto ambiental dos produtos e serviços. Por isso tudo, o saldo dos negócios em 2024 ficou dentro das expectativas da empresa.”
Dificuldades encontradas em 2024
“A principal dificuldade foi balancear a oferta a essa demanda menor, bem aquém dos últimos anos. O cenário de retração foi um fenômeno global, impactando o mercado brasileiro com uma maior entrada de vidro importado. Nesse contexto, itens importantes que compõem o custo de produção tiveram inflação significativa, exigindo uma gestão interna mais eficiente para nos mantermos competitivos considerando a oferta disponível e custo de produção. Vamos continuar trabalhando em produtos inovadores e de maior valor agregado para levar soluções mais adequadas e diferenciadas. Dessa forma, respondemos aos desafios criados pela entrada mais expressiva dos importados. Também seguiremos enfatizando a qualidade, transparência e segurança de nossa operação. O plano para 2024 inclui ainda melhorar o atendimento, ganhar ainda mais agilidade e flexibilidade para atender nossos clientes.”
Expectativas para 2025
“Esperamos um crescimento moderado para o mercado de vidros. O aumento da demanda no final de 2024 nos trouxe um pouco mais de otimismo. Porém, mantemos a cautela devido a fatores macroeconômicos que podem limitar esse avanço. A crescente pressão inflacionária e a previsão de manutenção de taxas de juros em níveis elevados representam desafios significativos. A construção civil, por exemplo, depende fortemente do crédito para sustentar o consumo e o ciclo econômico do setor. Em certa medida, espera-se um reequilíbrio da relação entre oferta e demanda em nossa indústria, o que deverá trazer mais estabilidade e previsibilidade. Os ajustes na alíquota de importação, aliados à possibilidade de aplicação de sanções às práticas não concorrenciais de alguns países, devem reduzir os riscos nesse sentido, especialmente quando comparamos ao cenário de 2024.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“A construção deve apresentar um cenário positivo em 2025. Os lançamentos imobiliários devem se manter em expansão, impulsionados por programas de crédito habitacional, como o Minha Casa, Minha Vida, e pelo crescimento das vendas de imóveis em volumes acima dos lançamentos. Esse movimento pode estimular o consumo de vidro no setor, especialmente devido à relevância de projetos residenciais e comerciais que demandam soluções inovadoras e de alta qualidade, nos quais os vidros são elementos fundamentais. No entanto, fatores econômicos com perspectivas desfavoráveis continuam sendo desafios para todos esses setores (construção, automotivo, moveleiro e linha branca). A manutenção de altas taxas de juros, que dificultam o acesso ao crédito, especialmente para a classe média, podem limitar o avanço esperado, considerando a alta dependência de financiamentos para viabilizar o consumo e novos investimentos.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Nosso mercado tem muito potencial para continuar crescendo. Continuamos com um nível de consumo do vidro per capita muito abaixo de regiões mais desenvolvidas e isso deve ser visto como oportunidade. O ponto chave, no entanto, é que esse crescimento siga de forma sustentável e que permita trazer cada vez mais inovação, tecnologia e benefícios para os usuários finais do vidro. A tendência é que haja cada vez mais competidores e a diferenciação, seja por produtos ou pela qualidade do nível de serviços, será determinante para o sucesso das empresas a longo prazo. Paralelamente, o aprimoramento da eficiência operacional e da qualidade dos produtos será essencial para garantir competitividade e fortalecer a confiança dos clientes.”
Recado para o setor
“Nosso recado é de otimismo e confiança no potencial do Brasil e da América do Sul. Essa é uma região resiliente, cheia de oportunidades e que continuará crescendo à medida que avançar nas transformações necessárias para fortalecer a indústria.
A Guardian segue firme em seu compromisso com foco em parcerias de longo prazo que tragam benefícios mútuos e que contribuam para o desenvolvimento do mercado.”
VIVIX Henrique Lisboa, presidente
Saldo dos negócios em 2024
“Tivemos um ano marcado pelo elevado volume de vidros importados no mercado interno, prejudicando toda a cadeia vidreira. Apesar disso, foi um ano de moderado crescimento do volume de vendas – porém, com preços abaixo do esperado. Tivemos ainda uma evolução nas vendas de um mix de produto com maior valor agregado – e temos percebido isso como tendência positiva para o perfil desse produto em nosso país.”
Dificuldades encontradas em 2024
“As principais dificuldades foram causadas pelo impacto das importações, algo negativo para a cadeia como um todo.”
Expectativas para 2025
“Nossa visão é otimista. Contratamos em 2024 três diferentes consultorias, as maiores de projeção setorial de mercado no Brasil, e todas apresentaram resultados muito similares, indicando um crescimento médio do mercado na ordem de 4% ao ano para os próximos cinco anos. Acreditamos em uma aceleração do consumo de produtos de maior valor agregado – e já percebemos esse movimento, com a valorização no mercado interno de vidros que oferecem benefícios para o consumidor, a exemplo dos vidros de proteção solar.”
O que esperar dos mercados consumidores de vidro
“Temos acompanhado os indicadores dos setores da construção civil e automotivo, e o cenário se mostra positivo. No caso da construção, há uma expectativa de crescimento da ordem de 4%, e o setor automotivo, que apresentou uma importante evolução no seu desempenho em 2024, tem boas perspectivas para 2025, com projeções que superam os 5% de alta. Já o setor moveleiro seguirá crescendo um pouco acima da construção. Acreditamos em um ano em que haverá uma menor entrada de produtos importados, o que corrigirá as distorções ocorridas no ano passado. Além disso, como destacado anteriormente, acreditamos na evolução das vendas em 2025 e que este será um bom ano para toda a cadeia.”
Pontos de atenção para as empresas vidreiras
“Em especial, a cadeia vidreira está bem consciente e atenta às projeções de produtos de valor agregado e cada vez mais compreendendo a importância de uma melhor gestão dos seus custos e processos, buscando assim uma melhor eficiência interna. Como consequência, certamente isso trará o retorno esperado para o empresário vidreiro.”
Recado para o setor
“O mercado de vidro plano é feito de ciclos e temos de adaptar as nossas empresas para esses períodos. Acreditamos que 2025 será um ótimo ano para todos.”
Enfim, 2025 começou! Após o período em que a maioria das empresas está em férias coletivas, já estamos experimentando os primeiros movimentos do mercado.
E como no nosso segmento não tem brincadeira, inauguramos o ano com reajuste médio de 11% na matéria-prima. Os aumentos no gás e a instabilidade da moeda (dólar) ao final de 2024 indicavam essa possibilidade. O mercado já estava “esperando” por esse movimento – e a redução nas importações de matéria-prima prevista para 2025 deve trazer um pouco mais de equilíbrio no valor de nosso insumo base.
Resta-nos agora tentar projetar o que vai ser este ano… Tarefa difícil! Os indicadores e projeções da economia e da construção civil não são animadores: espera-se um ano de PIB um pouco menor em relação à 2024, com semelhante desaceleração no crescimento da construção civil.
Mas o empresário brasileiro e, principalmente, o vidreiro, é otimista, e temos observado alguns investimentos de porte nas indústrias. Demonstramos um exemplo disso na revista deste mês.
Assim, como sempre, ficamos na expectativa de como será o comportamento da concorrência em um mercado com um consumo que não conseguimos projetar com segurança. Se olharmos para o passado, um mercado de alto consumo sempre se reflete em melhor rentabilidade nos preços de venda – o contrário é sempre um desastre, em razão da alta capacidade de processamento instalada.
Mesmo assim, deixo aqui a minha mensagem de otimismo. Nosso segmento conta com inúmeras oportunidades, e o empresário que conseguir atingir o equilíbrio entre volume e rentabilidade alcançará o sucesso.
Em reunião realizada no dia 11 de novembro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) optou por elevar de 9% para 25% a tarifa do Imposto de importação do vidro float incolor para o território brasileiro – o produto está classificado com a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) 7005.29.00. A decisão foi validada pela Resolução Gecex nº 675, publicada no Diário Oficial da União no dia 6 deste mês. A medida entrou em vigor no dia 10. Importante: ela valerá somente no Brasil, para produtos de qualquer origem, inclusive de países membros do Mercosul, e terá validade de doze meses.
Importação sem controle
A decisão atende um pleito da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) e está amparada no mecanismo de Desequilíbrios Comerciais Conjunturais (DCC), criado pelo Mercosul para barrar os impactos às indústrias dos países membros do bloco por conta de flutuações transitórias no comércio de produtos, causadas, por exemplo, pelo aumento repentino nas importações ou queda anormal de preços dos produtos importados.
O volume de float incolor importado pelo Brasil disparou em 2023, chegando a 123 mil t, maior nível desde o início do direito antidumping, em 2014. Este ano, o acumulado até outubro beirava as 122 mil t. O DCC permite que os países membros elevem as alíquotas de importação acima da Tarifa Externa Comum (TEC) de forma temporária, a fim de proteger seus mercados e economias. O governo brasileiro aderiu ao mecanismo alegando o incentivo à produção local e à criação de empregos.
Foto: Aleksei/stock.adobe.com
Outros setores produtivos também recorreram à Camex por meio do DCC e tiveram seus pleitos atendidos. Houve, recentemente, aumento da alíquota da importação de pneus de veículos de passeio e manufaturas de ferro e aço e também de diversos produtos químicos.
E importante lembrar: em julho, o Departamento de Defesa Comercial (Decom), da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), aprovou o início de investigação para averiguar a existência de dumping nas exportações de vidros float incolores (NCM 7005.29.00), com espessuras de 1,8 mm a 20 mm, oriundas de Malásia, Paquistão e Turquia. O processo vai conferir ainda a existência de possível dano à indústria nacional decorrente dessa prática.
Float colorido
A Camex ainda avalia outra solicitação da Abividro referente aos vidros float coloridos. O tema foi analisado em reunião no dia 10 deste mês, e seguirá em deliberação no próximo encontro do órgão, a ser realizado nos primeiros meses de 2025. A Abravidro, por meio da Nasser Advogados, escritório que presta consultoria sobre defesa comercial para a entidade, acompanha o caso para manter seus associados e o mercado informados.
Eastman investe em fábrica na Bélgica
A Eastman anunciou investimentos para atualizar e expandir sua unidade de fabricação de interlayers de PVB em Ghent, na Bélgica. Segundo a empresa, a iniciativa visa a fortalecer a capacidade de fornecimento do produto, devido à crescente demanda global por esse material. “Estamos comprometidos com o fortalecimento de nossa capacidade de serviço regional na Europa, investindo em ativos para atender as necessidades dos laminadores de vidro por produtos inovadores, de alto desempenho e alta qualidade”, declara Sabine Ketsman, presidente da divisão de Negócios de Películas da Eastman. A expansão deve ser concluída até 2026.
Foto: Reprodução
RETROVISOR
Estreia da Glass
Na edição de dezembro de 1996, a revista O Vidroplano trazia a cobertura da 1ª Glass South America. A feira, que logo se tornaria a principal do setor vidreiro na América Latina, foi realizada naquele ano no Expo Center Norte, na capital paulista. Mais de cem empresas expositoras fizeram parte desse momento histórico para o vidro nacional.
De olho na IA
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) publicou a pesquisa Utilização de IA na Indústria. O objetivo da iniciativa foi levantar e descobrir como as empresas estão integrando o uso de Inteligência Artificial (IA) às suas operações, bem como os principais benefícios e desafios nesse segmento.
O que é IA?
De acordo com os dados levantados, 65% das empresas ainda têm um conhecimento limitado sobre IA, mas 78,8% delas demonstram grande interesse em aprender mais sobre o tema – o que demonstra que as companhias estão cientes da importância do tema para um futuro breve.
Boas expectativas
O estudo também aponta que 67,7% dos entrevistados acreditam que a IA terá um impacto significativo em seus negócios; atualmente, pouco mais de 20% já testaram ou utilizaram IA, enquanto 60,1% planejam adotá-la nos próximos meses, principalmente nas áreas de vendas, tecnologia da informação (TI) e compras.
O estudo
A pesquisa foi conduzida entre 17 de junho e 5 de julho de 2024 com 304 empresas paulistas de diferentes setores.
Foto: VRVIRUS/stock.adobe.com
FIQUE POR DENTRO
Como funcionará programa do governo para digitalização das empresas
A modalidade Transformação Digital do programa Brasil Mais Produtivo tem como plano digitalizar 25% das empresas brasileiras até 2026 e 50% até 2033, utilizando tecnologias como Big Data e IA. A ideia do governo federal é impactar 93 mil empresas que serão atendidas presencialmente por consultores do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além de outras duzentas mil que terão acesso aos serviços oferecidos pelos parceiros na Plataforma de Produtividade. A iniciativa inclui o diagnóstico de problemas, projetos personalizados para aumentar a eficiência e acesso a crédito facilitado por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de outras instituições parceiras.
Foto: reprodução
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Cinco décadas de credibilidade
Em outubro de 2007, a revista O Vidroplano completava cinquenta anos de existência. A principal publicação do setor vidreiro brasileiro nasceu de um informativo editado pelo Sincavidro-RJ, tendo passado às mãos da Abravidro pouco tempo depois da fundação da associação.
No começo de outubro, o VidroCast – podcast da Abravidro – recebeu Isidoro Lopes, presidente da AGC no Brasil, e Marcelo Botrel, anunciado em agosto como novo gerente-executivo Comercial e de Marketing da divisão de Vidros Arquitetônicos para a América do Sul. Os dois executivos conversaram com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano: o bate-papo abordou do retorno de Botrel ao setor vidreiro e os objetivos da empresa no Brasil, até um balanço dos resultados em 2024 e as perspectivas para o Simpovidro. A seguir, confira alguns destaques da entrevista.
Botrel, antes de tudo, bem-vindo de volta! Você já atuou no setor em outra usina de base e deixou o mercado em 2014. O que você tem observado de diferente nesse primeiro mês de atividades, após dez anos? Marcelo Botrel – Ainda é muito cedo para falar, mas para mim foi muito bom, pois estou revendo muitos amigos de longa data, com várias empresas que evoluíram muito. Isso é ótimo porque significa que elas se organizaram e cresceram.
Na nota em que a AGC anunciou a vinda do Botrel, vocês informaram que dois dos principais objetivos da empresa são contribuir para o fortalecimento da marca e colaborar com o planejamento estratégico da AGC aqui na região. Como esperam obter sucesso nesse desafio? Isidoro Lopes – Obviamente, ao trazer um executivo do nível do Marcelo, com a experiência que ele tem, nós queremos não só vender vidro: queremos parcerias duradouras com os nossos clientes, buscar modelos de negócios e parceiros para outras atividades e ajudar os clientes no desenvolvimento dos seus negócios, para que seja uma relação de ganhos para todos os parceiros que estão com a AGC.
Vocês dois conhecem bastante o nosso setor e a cadeia de processamento. Estreitar o relacionamento com esse público é um desafio para a AGC? MB – Sim, é um desafio. Se você me uma pequena observação que eu faço desses últimos tempos em que fiquei fora do setor, essa relação era mais cultivada no passado. Então, acho que é uma oportunidade; o relacionamento com a cadeia de processamento sempre é um componente importante nessa indústria. Não significa que esse distanciamento tenha acontecido por parte de todas as indústrias: vejo que na AGC, por exemplo, há um cuidado muito grande na relação com esses clientes, tanto na confecção de produtos como na atenção com o atendimento.
“Na área de vidros arquitetônicos do nosso país, ainda há muitas oportunidades de crescimento dentro da construção civil” (Isidoro Lopes)
Isidoro, numa conversa recente, você comentou um movimento que foi feito pela AGC na Europa, o “from volume to value” (do volume para o valor). O Brasil tem condições de fazer esse movimento também, considerando as adversidades que o nosso mercado vem enfrentando com a entrada de grandes volumes de vidro importado no País? IL – Acho que toda a cadeia do vidro no Brasil busca isso. Obviamente, o Brasil ainda busca volume; todos ainda têm uma necessidade de volume para manter o negócio competitivo. Mas você pode observar que produtos de valor agregado estão sendo lançados a todo momento, como vidros refletivos, laminados de temperados, serigrafados… É uma tendência natural do segmento buscar mais valor agregado. Na área de vidros arquitetônicos do nosso país, ainda dá para trabalhar muito em termos de volume; há muitas oportunidades de crescimento dentro da construção civil, e a gente também pode agregar valor a esse volume – dá para fazer os dois: “volume and value”.
Vocês lançaram recentemente o vidro de controle solar Sunlux Champanhe. Como o mercado recebeu essa novidade? MB – O mercado recebeu muito bem: já temos vários clientes interessados e recebemos vários pedidos. Esse é um produto com foco tanto para a construção civil como para a indústria moveleira; é muito versátil, muito bonito e tem um bom nível de controle térmico – só traz vantagens.
Já estamos fechando o terceiro trimestre e entrando na reta final do ano. Qual o balanço que a AGC faz da performance do setor em 2024? IL – De forma resumida, devemos fechar este ano um pouco acima de 2023 – algo em torno de 3%. Nós esperávamos um cenário um pouco pior, mais nebuloso; estamos vendo uma inflação mais controlada, o PIB já chegando perto dos 3%, o índice de confiança da construção civil vem subindo… estamos mais otimistas. E, para 2025, esperamos mais um pequeno crescimento.
“Vejo que, na AGC, há um cuidado muito grande na relação com os clientes, tanto na confecção de produtos como na atenção com o atendimento” (Marcelo Botrel)
Quais são as grandes diferenças em termos de demanda por produto no Brasil, na comparação com outros países? IL – O mix de vidro incolor na Europa, por exemplo, é muito baixo, acho que menor que 5%; há um grande uso lá de vidros insulados e refletivos, entre outros – ou seja, esses produtos que, no Brasil, são chamados de especiais, para eles já são uma demanda normal.
Quais vocês acham que seriam os caminhos para a gente conseguir desenvolver o mercado brasileiro nos níveis da Europa e dos Estados Unidos? MB – Acho que esse desenvolvimento passa pelo investimento em tecnologia – mas, para investir mais do que já está sendo feito, é preciso tornar sua empresa rentável. Todo mundo tem que estar ganhando: o cliente também, o processador também; se a indústria caminhar nesse sentido, pode-se buscar mais tecnologia, mais equipamentos, mais profissionais. As parcerias com as associações são fundamentais para transmitir o conhecimento para esse desenvolvimento. E é preciso que o País dê as condições para que a população tenha mais acesso à informação e a recursos financeiros, para que ela possa então buscar e consumir produtos de qualidade mais alta.
Por último, quais são as suas expectativas para o Simpovidro? MB – Eu estou ansioso para reencontrar muita gente; a AGC estará em peso lá com a nossa equipe comercial. É um encontro que promove a integração. Quando você conecta o fabricante, o cliente final e até o vidraceiro, isso é muito bom para a cadeia do vidro: todos devem estar na mesma página, e o Simpovidro é um ambiente propício para isso.
IL – A AGC enxerga o Simpovidro como uma união do segmento; é uma ocasião extremamente importante para manter essa ligação entre os vários elos da nossa cadeia e para discutir temas importantes para o setor vidreiro como um todo, com o adicional de ser um ambiente mais descontraído, com todos se conhecendo também como pessoas, não só como profissionais.
Cuidar da gestão e das finanças de uma empresa não é uma tarefa simples: é preciso acompanhar atentamente tanto os indicadores internos como o cenário externo para a tomada de decisões – e todo esse cuidado se torna ainda mais importante em um mercado tão concorrido como o vidreiro. Para ajudar os gestores do nosso setor nesse trabalho, o VidroCast recebeu dois convidados especiais: Flávio Málaga, mestre e PhD em finanças, confirmado como um dos palestrantes do 16º Simpovidro (veja mais clicando aqui); e Victor Villas Casaca, presidente do Sinbevidros-SP e vice-presidente da Abravidro.
Málaga e Casaca conversaram com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, abordando tópicos como fluxo de caixa, o perigo de entrar em “guerra de preços” e as particularidades de empresas de gestão familiar. A seguir, confira alguns destaques do episódio – e assista à entrevista completa no YouTube.
Antes de entrar na parte complexa da nossa conversa, gostaria de começar com uma provocação: qual o objetivo de uma empresa? Flávio Málaga – Essa é uma pergunta cuja resposta varia de acordo com quem responde. De forma geral, independentemente do perfil da empresa, o objetivo deveria ser sempre o mesmo: os gestores-executivos entenderem o que se passa financeiramente, se é algo sustentável e, a partir daí, tomar decisões sobre o que fazer com ela, se mexe ou não na política de preços, avaliando a produtividade e a eficiência e tomando decisões com base nesses dados para manter o negócio sustentável.
Victor Casaca – Olhando para o nosso mercado, quando um investidor aporta capital, ele quer remunerar esse capital da forma mais eficiente possível – e, se estiver assumindo algum risco, ele vai querer um retorno acima do que o mercado daria para ele. Acho que o vidro, uns quarenta anos atrás, passou por uma “época de ouro”, com poucos players e margens mais atrativas, em que o controle não era tão necessário. Como todo mercado, o setor cresceu, as margens foram ficando mais apertadas e, por isso, o desenvolvimento do controle do negócio se faz essencial.
“Quando você tem a família se sustentando pelo negócio, com pessoas não preparadas para a função, isso tende a levar a conflitos societários” (Flávio Málaga)
Qual a importância do fluxo de caixa em uma empresa, em especial no caso do perfil geral das empresas vidreiras, em que o investidor é o próprio dono? FM – Como o fluxo de caixa é uma dinâmica consolidada de três atividades, é importante saber pegar essa métrica e abri-la nestas três vertentes: operacional, de investimento e de financiamento – lembrando que o fluxo de caixa da operação é o grande lastro da empresa, então é muito importante conhecer não só o fluxo consolidado, mas também as métricas separadas.
VC – As pessoas muitas vezes não entendem a variação de caixa, ou seja, por que o lucro não vira caixa, e esse é um problema muito sério em diversas empresas: “Por que o meu caixa diminuiu se o meu lucro aumentou?”. Os gestores acham que o simples aumento de vendas vai gerar caixa de alguma forma, e não é bem por aí.
Então, qual a relação entre lucratividade e política de preço? FM – A política de preço é direcionadora das receitas e da capacidade de agregar valor ao custo que você tem para fornecer um produto ou serviço. Nem todos os clientes são iguais: alguns toleram precificações maiores – alguns serviços permitem diferenciar um cliente do outro. O importante é poder calibrar a estratégia de precificação de acordo com o perfil do seu cliente, mas você também precisa conhecer seus custos. O grande problema é quando a empresa trabalha com capacidades ociosas, e isso leva a uma briga de preços no mercado: gera o vício do cliente e compromete a sustentabilidade do negócio.
VC – Essa política comercial tem reflexos péssimos para o setor como um todo. Algo que seria pontual acaba se tornando recorrente e a gente entra numa espiral negativa sem fim. E acredito que muito dessa espiral aconteça por falta de conhecimento financeiro, por querer acompanhar o concorrente até o último gole, sem entender que aquilo já virou um prejuízo. É o ego, a emoção, falando acima da razão.
O preço não deveria ser um diferencial no mercado vidreiro, considerando que as condições para as empresas são muito parecidas, mas na prática é ele que define quem ganha a venda. Como a gente faz para reverter esse cenário? FM – Não há uma resposta simples; em todo caso, você tem que olhar para dentro: onde trabalhar o seu ciclo operacional e financeiro, saber lidar com estratégias de preços pontuais para clientes específicos e extrair o máximo da eficiência da sua gestão. E, nessas horas, se tomar suas decisões às cegas, sem algo que dê algum embasamento, a chance do seu negócio ter um colapso é grande.
“Os gestores acham que o simples aumento de vendas vai gerar caixa de alguma forma, e não é bem por aí” (Victor Casaca)
A Abravidro tem uma contribuição importante nesse sentido de criar uma cultura de dados para o nosso setor no Brasil com os nossos dois levantamentos, o Panorama Abravidro e o Termômetro Abravidro, ambas fornecendo informações a se somar para a tomada de decisão do gestor. Mas vemos que nem todas as empresas contribuem para essas pesquisas ou consomem esses dados. VC – Sim, e isso é uma pena, porque são materiais muito ricos. O próprio Termômetro nos dá uma visão de curtíssimo prazo do que está acontecendo e permite ao gestor da empresa compará-la aos seus pares para identificar se ela está sendo eficiente ou não. A base para qualquer planejamento é entender o cenário em que seu negócio está inserido.
Quais são as principais diferenças entre as empresas com gestão familiar e as com gestão executiva? FM – Eu prefiro não rotular que a gestão executiva seja melhor que a familiar. Conheço muitas famílias que conseguiram tornar suas empresas uma potência. Minha recomendação para as empresas familiares é que elas tenham uma gestão cada vez mais profissionalizada, mesmo que seja feita pela própria família. Se você tem familiares que são absolutamente competentes, por que não? A questão é quando você tem a família se sustentando pelo negócio sem entender o que a operação pode gerar, com pessoas que recebem mais do que o mercado pagaria e que não estão preparadas para a função. Isso tende a levar a conflitos societários entre pais, filhos e irmãos que não se falam, e a empresa vira uma gestão pessoal de conflitos. É preciso ter em mente que o que importa é a sustentabilidade do negócio, porque é ele que sustenta a família. O segredo não é binário – entre uma gestão totalmente profissionalizada e outra totalmente familiar, há vários cenários intermediários.
Em maio, a Vivix completou dez anos de existência. Entre as ações da usina para celebrar essa ocasião, registrou-se seu retorno como expositora da Glass South America 2024. Na Glass, Henrique Lisboa, presidente da Vivix, passou pelo estúdio do VidroCast, o podcast da Abravidro, para um bate-papo com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano. Entre os assuntos, Henrique avaliou como o surgimento da Vivix impactou o setor vidreiro nacional, comentou o aumento das importações de vidros planos no Brasil e falou sobre os passos que a empresa pretende tomar para a próxima década. Leia os melhores momentos da entrevista a seguir – e confira o conteúdo na íntegra no canal da Abravidro no YouTube (na versão em vídeo) ou ouça nos tocadores de podcast (em áudio).
Quais as principais conquistas da Vivix nessa primeira década de vida? Henrique Lisboa – A Vivix marca esse período sendo a primeira empresa nacional dentro do mercado brasileiro de vidros planos – todas as outras fabricantes instaladas aqui são multinacionais. Acredito que isso faz com que a gente compreenda melhor a cultura do País e a forma como o empreendedor nacional atua e pensa. Então, temos a possibilidade de atuar de uma forma mais, digamos, brasileira.
Em 2014, o mercado brasileiro de vidro plano era diferente, não só porque não tinha a Vivix, mas porque a configuração era outra. O que mudou nesses dez anos e qual a contribuição da Vivix para essa mudança? HL – Acho que a entrada da Vivix foi muito boa para o mercado, não só pelo fato de que a gente começou a ofertar uma produção que não existia e que era necessária – durante quase três anos seguidos antes da nossa entrada, a produção de vidro plano não atendia a demanda no Brasil –, mas também porque isso permitiu que os clientes tivessem mais opções de escolha para efetuar suas compras.
Há cerca de dois anos, na edição de 2022 da Glass South America, a Vivix anunciou a construção do segundo forno. A construção desse forno vem sendo adiada desde então. O que você pode comentar sobre isso? HL – Veja, quando anunciamos essa obra, ainda era necessário fazer os projetos, buscar as tecnologias, tirar as licenças, e essas etapas levam entre um ano a um ano e meio. Mas, de fato, a Vivix acabou adiando o início dessa construção porque nesse período a demanda por vidro plano caiu, o mercado ficou mais difícil e nós consideramos que não seria responsável iniciar essa construção nesse momento. Hoje, já estamos com tudo pronto para iniciar a obra, mas estamos aguardando o tempo adequado para isso. Ela terá início assim que sentirmos que o mercado está tendo uma retomada sólida da demanda.
“A obra do segundo forno terá início assim que sentirmos que o mercado está tendo uma retomada sólida da demanda” (Henrique Lisboa)
Uma mudança bastante importante que houve no mercado desde o anúncio do segundo forno foi o grande aumento no volume de importações de vidro plano, especialmente no ano de 2023. Como você vê esse movimento e qual o impacto disso para o mercado doméstico? HL – Antes de a Vivix entrar no mercado, em 2014, as importações aconteceram continuamente por uns dois ou três anos. De lá para cá, nós tivemos mais dois ciclos de aumento na importação: um por volta do final de 2018 e início de 2019, e esse de agora. Considero que esses ciclos são finitos, não contínuos; esse aumento foi muito prejudicial, sim, mas não creio que ele continuará por muito tempo, quando as fabricantes brasileiras têm capacidade de produção interna suficiente para atender o nosso mercado. Em algum momento, as importações vão cair, porque essas circunstâncias que eu comentei vão cessar e o mercado vai retomar o seu curso normal.
Ainda assim, há medidas por parte da Abividro no sentido de tentar coibir ou minimizar o impacto dessas importações: há um pedido recente de antidumping para três origens, e também um de aumento de alíquota de importação para esses vidros planos. Você acredita que essas medidas serão aprovadas e que elas irão ajudar a segurar um pouco esse impacto das importações? HL – Eu acredito que elas serão aprovadas, sim, e acho que elas são até certo ponto normais. Se você observar outros países do mundo, elas existem lá; por aqui, isso deve minimizar esse impacto da importação, mesmo considerando essa questão da sazonalidade.
Isso é também uma questão relacionada à competitividade. Como podemos tornar o Brasil um país mais competitivo para a indústria? HL – Bem, aí tem um grande trabalho a ser feito. Temos a questão tributária, que é muito importante e que impacta nos custos de todas as empresas. Há também a questão da geração de energia, do fornecimento de gás natural, que é muito relevante para todo o setor vidreiro. O custo desse insumo no Brasil é um dos mais caros do mundo, o que tira a competitividade do nosso negócio frente às empresas internacionais.
“O nosso desafio será a busca por um crescimento sólido, responsável, que faça a demanda do mercado crescer junto conosco” (Henrique Lisboa)
A Vivix recentemente fez um grande investimento em energias renováveis. Você pode falar um pouco a respeito? HL – A Vivix, juntamente com a Atiaia – outra empresa do Grupo Cornélio Brennand, que trabalha na área de geração de energia, tendo hidrelétricas e trabalhando também com geração de energia solar –, decidiu construir uma usina de geração solar próxima à nossa planta. Esse investimento foi perto de R$ 200 milhões, mas hoje atende 100% da nossa demanda de energia elétrica, o que é importante não só do ponto de vista de custo, mas também de ESG.
No pacote de comemoração de dez anos da Vivix, tivemos a volta da empresa como expositora na Glass South America 2024. O que você está achando dessa nova edição da feira? HL – Nós estamos felizes de estar aqui; nunca pensamos em ficar definitivamente fora da Glass, e acho que esse foi o momento certo para voltarmos, celebrando um marco importante. Fizemos um estande diferente dos anteriores, mais voltado para a arquitetura, parecendo um ambiente de Casa Cor, para tentar mostrar algo diferente e chamar especialmente a atenção dos arquitetos, e estamos tendo uma excelente receptividade dessa ideia.
Quais são os grandes desafios para os próximos dez anos da Vivix? HL – O objetivo da Vivix é continuar crescendo; não falar somente em duas plantas, mas talvez ter mais unidades ao longo desta próxima década, e se consolidar cada vez mais aqui como um player importante no mercado, que tenha uma marca diferente, um pensamento de cultura e de empreendedorismo brasileiros, de estar próxima do cliente, cada vez mais tentando entendê-lo. O nosso desafio, enfim, será a busca por um crescimento sólido, responsável, contribuindo com a cadeia, sem que ele cause perturbações excessivas na cadeia, mas sim que faça a demanda do mercado crescer junto conosco.
Meio século de existência: essa marca foi alcançada pela Cebrace em 2024. A efeméride foi um dos assuntos discutidos pelos diretores-executivos da empresa, Lucas Malfetano e Manuel Corrêa, ao participarem do VidroCast, o podcast da Abravidro, gravado durante a Glass South America 2024.
Durante a conversa conduzida por Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Malfetano e Corrêa falaram sobre a evolução do mercado vidreiro nos últimos cinquenta anos e as contribuições da Cebrace para o setor. A entrevista completa está no canal da Abravidro no YouTube (na versão em vídeo) e também nos tocadores de podcast (em áudio). A seguir, confira os destaques do bate-papo.
Qual o sentimento de chegar aos cinquenta anos, com a Cebrace completando meio século de existência no Brasil? Lucas Malfetano – A primeira palavra que vem para nós é felicidade. São poucas as empresas que conseguem se manter na liderança do mercado durante esse tempo. Aliás, aproveito para deixar aqui o nosso sincero agradecimento a todos os nossos clientes, e também a todos os nossos colaboradores ao longo desses anos. Manuel Corrêa – Esse aniversário nos possibilitou revisitar a nossa história, nossos marcos históricos e, principalmente, celebrar com as pessoas. Também é sempre um momento de agradecimento para o time, porque ninguém faz nada sozinho, há sempre uma união de esforços.
Como vocês enxergam a evolução do segmento vidreiro ao longo desses cinquenta anos? LM – Eu acho que o segmento no Brasil teve um desenvolvimento fantástico quando comparado ao de outros países. A evolução do vidro temperado, dos vidros de segurança no Brasil – não vou falar que é um caso único em todo o mundo, mas dos países que eu conheço, certamente é o mais avançado. Então, acho que produzir float no Brasil possibilitou ter uma matéria-prima de qualidade, acompanhando e dando confiança para os nossos clientes fazerem sua parte – e eles têm tido um papel extraordinário para desenvolver esse mercado.
Qual vocês acham que é a principal contribuição da Cebrace para o mercado brasileiro de vidros planos? LM – A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro. Depois disso, tivemos outras inovações no caminho: espelhos, laminados, vidros de controle solar. Houve também inovações na logística, iniciativas comerciais, como o programa Habitat, e ações nos últimos tempos em relação à sustentabilidade, como as melhorias nos nossos processos para o caminho da descarbonização das nossas operações. MC – A sustentabilidade é um tema apaixonante. A Cebrace tem hoje uma parceria com a Massfix, que é a maior recicladora de vidros do Brasil. O vidro é um material 100% reciclável, infinitas vezes. Então, nós estamos trabalhando junto com a cadeia para aumentar o índice de reciclagem dele, que permite reduzir o consumo de energia nos fornos e a emissão de CO2. Entendemos que o vidro, como produto, também contribui para a sustentabilidade, como as peças de controle solar, que trazem uma redução efetiva do consumo de energia. Para uma construção, isso representa a economia de muitos milhares de reais e evita a emissão de muitas toneladas de CO2 ao longo da vida útil do edifício.
“A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro” (Lucas Malfetano)
Esse aniversário foi marcado também pela vitória na 1ª edição do Prêmio Abravidro Glass South America: a Cebrace foi eleita a melhor fabricante de vidro plano do Brasil. Como vocês receberam essa notícia? MC – A gente agradece bastante aos clientes que votaram e à banca que avaliou e fez o julgamento. É uma honra e também um desafio para nós. Estamos orgulhosos, mas, ao mesmo tempo, temos muita humildade para entender que o mercado evolui, que as coisas mudam, e é parte do nosso espírito estar sempre nos desafiando e procurando as melhorias que nós possamos fazer em qualquer parte da operação. LM – Essa vitória é uma alegria para nós. Eu gostaria de parabenizar a Abravidro pela iniciativa, acho que será um marco para todas as empresas continuarem avançando. E foi muito boa a ideia de colocar as obras na premiação. No fundo, tudo que a gente faz é para a construção, onde o vidro será instalado e terá um papel fundamental.
No ano de 2023, vimos um incremento importante no volume de importações do float incolor, apesar do antidumping que já se encontra vigente, e temos visto que em 2024 essa média continua alta. Como vocês estão vendo esse movimento e o que podem falar a respeito? LM – A presença da importação em si não é um problema; nosso mercado é bastante competitivo, temos quatro fabricantes no País, com muita capacidade para fabricar vidros com máxima qualidade em nível mundial. Nossa preocupação é porque a gente observa que está havendo uma concorrência desleal. MC – O Brasil talvez seja o único país do mundo que protege mais o produto importado do que o produto nacional. Dando um exemplo: São Paulo é o maior mercado do Brasil, nós vendemos as nossas linhas em São Paulo, e se paga um ICMS de 18%; enquanto isso, o produto importado entra por Estados periféricos a São Paulo e, quando são transferidos para cá, pagam um ICMS de 4%. Ou seja, há uma diferença tributária incompreensível para quem opera no País. A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia, e isso infelizmente a gente ainda não vê. O Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida.
“A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia; o Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida” (Manuel Correa)
A Abividro protocolou no primeiro trimestre deste ano um pedido de antidumping; estamos no prazo de avaliação pelo governo federal se vai abrir a investigação ou não. Vocês podem comentar as expectativas para esse processo? MC – É um trabalho essencialmente técnico: o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no seu Departamento de Defesa Comercial, vai analisar, vai fazer as pesquisas, olhar os países de origem, qual o preço praticado no mercado interno, e deve concluir, como a gente já prevê, que trata-se de um dumping evidente. Espero que o governo conduza o estudo com bastante disciplina e profundidade, mas a gente tem uma boa expectativa porque realmente está configurado que essas exportações são feitas com preços muito abaixo dos de seus mercados nacionais.
Estamos aqui na Glass South America, a principal feira do nosso segmento. Qual o balanço do evento para vocês? LM – É muito positivo. Dá para ver um número extremamente expressivo de pessoas. A gente já viu na pandemia a falta que a Glass South America fazia, e eu acho que a gente precisa valorizar as ocasiões como essa feira, como um espaço para informar e permitir que as pessoas conheçam novos produtos e tecnologias, e também para socializar: somos seres humanos, precisamos do contato uns com os outros, e eu acho que a Glass é um exemplo disso. MC – Estamos muito contentes com a feira; participamos sempre e vemos muito valor nela. É um espaço em que a gente se atualiza sobre o que está acontecendo do ponto de vista da tecnologia, lançamento de produtos. E como o Lucas falou, também é um momento de interação intensa com os nossos clientes e parceiros, e aqui a gente acaba sentindo o pulso do mercado e renovando nossas energias para seguir em frente e entender que estamos em um ecossistema que precisa sempre se realimentar para a gente aprender e caminhar juntos.