O VidroCast segue recebendo convidados especiais para falar sobre o mercado vidreiro. Em julho, Renato Poty, diretor-executivo da Guardian, esteve no estúdio do podcast, em São Paulo, e conversou com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano.
O bate-papo passou por diversos assuntos, incluindo a manutenção realizada pela empresa este ano no forno da cidade de Tatuí (SP), o desempenho negativo do setor nacional em 2023 e as perspectivas para a segunda metade de 2024. Confira parte dessa conversa a seguir – e assista à entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube ou ouça nos principais tocadores de áudio.
A Guardian realizou recentemente uma manutenção programada no forno de Tatuí. Essa manutenção ocorreu conforme o esperado?
Renato Poty – Esse investimento foi bastante importante. Fizemos um grande planejamento para essa manutenção nos últimos doze a quinze meses, por se tratar de uma parada muito grande, delicada, que exigia atenção especial com a segurança e procedimentos que precisariam ser seguidos. O forno parou por volta do final de abril e ficou assim ao longo do mês de maio. Foram praticamente trinta dias de reparo. A produção foi então retomada no final de maio, durante junho ficamos no processo de estabilização e ainda estamos fazendo alguns ajustes. Mas o saldo do reparo foi bastante positivo: não deixamos de atender nossos clientes e nem precisamos trazer vidro de fora do País.
A última edição do Panorama Abravidro mostrou queda no faturamento da cadeia de processamento e também na produção em 2023. Como a gente pode superar esses desafios e voltar aos bons índices do período da pandemia?
RP – Quando a Guardian olha para 2023, não vemos nenhuma surpresa com base no que já esperávamos. Após a elevação da demanda durante a pandemia, começou uma desaceleração no final de 2022 e começo de 2023 já de certa forma esperada, embora talvez tenha sido um pouco abrupta no primeiro momento. Em seguida, veio esse período de acomodação do mercado. Lógico que 2023 não foi um ano bom: tínhamos muito mais capacidade do que demanda. Isso exige bastante disciplina de cada um de nós, nas usinas, para entender essa demanda e não produzir em excesso, porque isso gera um desbalanço e o nosso produto acaba perdendo o valor.
Outra questão que se somou ao excesso de oferta nesse período foi um aumento considerável no volume de importações de vidro plano. De que forma isso prejudica a indústria nacional?
RP – O vidro importado funciona em ciclos, dependendo do que acontece globalmente. Quando há um desbalanço em países com produção maior que a nossa, eles buscam outros mercados para colocar esse volume excedente. Isso, obviamente, causa um dano, porque temos uma demanda hoje no Brasil que ainda não chegou aos níveis de antes da pandemia. O Brasil tem capacidade para atender as diversas aplicações dos clientes e do mercado, mas quando se traz essa variável do vidro importado, ocorre um desbalanço muito grande num nível de competitividade muito diferente do da nossa realidade. Quando você olha para países como os Estados Unidos e vários outros da Europa, eles têm proteções – não para impedir que o vidro importado entre, mas sim para que ele não entre de forma oportunista.

(Renato Poty)
Diante desse volume tão grande de importados, a Abividro protocolou um pedido de um novo antidumping para três novas origens, e também um pedido de aumento da tarifa de importação de vidros planos. A Guardian é favorável a essas medidas?
RP – Estamos abertos à competitividade. Esse é um mercado aberto, mas ele precisa funcionar dentro das regras e de forma justa. Quando você tem um movimento que acaba infringindo uma regulação, uma lei ou um modelo de operar num país, é preciso agir para proteger o nosso mercado, não para impedir a entrada do vidro importado, mas sim para que haja uma competição de forma justa.
Falando agora de oportunidades: como a gente pode desenvolver o mercado de vidro plano para alcançar em algum momento os patamares de consumo de vidro da Europa e dos Estados Unidos?
RP – O vidro plano tem um potencial muito grande. Quando a gente olha outros países, a gente vê um uso muito maior do que temos no Brasil. Quando a gente coloca os produtos de valor agregado, então, o consumo é muito maior. Mais ou menos 70% do que é vendido no nosso país é vidro comum, o mais simples. Então, eu acho que treinar e qualificar o nosso setor nos ajudam a dar mais valor para o produto, trazendo esse conhecimento para o setor, e isso vai ajudar não só a aumentar o consumo, mas a aumentar com qualidade. A partir do momento em que conseguirmos que cada elo da cadeia passe a ver o vidro de valor agregado não como um custo, mas sim como investimento, ele passará a ser mais valorizado e mais bem aplicado, com soluções mais tecnológicas, melhor desempenho e mais conforto.

(Renato Poty)
Como a Guardian vê o papel do vidro no futuro das cidades e também no futuro da indústria?
RP – O vidro tem uma série de benefícios que ele pode trazer futuro para cidades mais modernas. Ele amplia o ambiente, traz mais iluminação natural, economiza energia, traz mais conforto; enfim, tem um papel super importante. Acho que qualificar a cadeia vidreira é um trabalho cada vez mais essencial para o vidro ser mais reconhecido por tudo que ele pode oferecer – dessa forma, teremos uma evolução no mercado e veremos cada vez mais vidro aplicado nas obras e trazendo benefícios para cada elo do nosso setor.
Quais são as perspectivas da Guardian para o segundo semestre?
RP – Historicamente, o segundo semestre é melhor; a gente imagina que ele trará uma demanda maior que na primeira metade do ano. Obviamente, há preocupações em relação ao valor da nossa moeda frente ao dólar e à taxa de juros, que ainda é bastante elevada no Brasil. Mas, dentro da dinâmica do cenário, a gente imagina que o segundo semestre ainda assim será positivo, o que poderia nos levar para um ano de 2025 melhor que 2024.
Fotos: Ivan Pagliarani