O Vidroplano traz guia completo sobre temperados

Boxes de banheiro, portas, fechamento de sacadas, vitrines: alguns dos itens com vidro mais populares em nosso país contam com um elemento em comum – o temperado. Popular em todas as regiões brasileiras, esse tipo de vidro oferece diversas possibilidades para quem trabalha no setor, do processador ao vidraceiro. Pensando nisso, O Vidroplano preparou um guia completo sobre o produto. Aproveite!

O que é
O temperado é um vidro que recebe tratamento térmico, passando por um processo de aquecimento e rápido resfriamento. Essa mudança brusca de temperatura aumenta a tensão interna do material, fazendo-o ganhar mais resistência mecânica e a choques térmicos. Na comparação com o vidro float comum, o temperado pode ser até cinco vezes mais resistente. Por isso, assim como o laminado, é considerado um vidro de segurança. Em caso de quebra, fragmenta-se em pequenos pedaços sem lascas cortantes (ao contrário do que se vê em um vidro comum), diminuindo o risco de ferimentos.

Histórico
A primeira tentativa de patente de um processo para deixar o vidro mais resistente data de 1874, pelo francês Francois Royer de la Bastie: envolvia banhar vidro semiderretido com óleo ou graxa aquecida. Em 1877, o alemão Friedrich Siemens desenvolveu uma ideia diferente, pressionando o vidro em moldes frios. Mas é com o processo do químico austríaco Rudolph A. Seiden que o temperado como o conhecemos começa a nascer. A partir dos anos 1930, inicia-se a produção em massa desse material nos Estados Unidos, França e Japão, sendo popularizado pelo mundo na década de 1970.

Produção
A fabricação desse tipo de vidro ocorre no forno de têmpera (horizontal ou vertical). Depois de temperado, ele não pode ser beneficiado, ou seja, cortado, lapidado ou furado, porque irá provocar a sua quebra. Por isso, qualquer processo de transformação tem de ser feito antes da têmpera.

Aplicações

  • Boxes de banheiro;
  • Envidraçamento de sacadas;
  • Portas, divisórias, vitrines e muros;
  • Fachadas verticais e janelas deslizantes (permitido no pavimento térreo; nos demais pavimentos, pode ser aplicado desde que esteja acima da cota de 1,10 m em relação ao piso);
  • Janelas projetantes (quando estiverem acima do 1º pavimento, precisam ser totalmente encaixilhadas e com a projeção máxima de 250 mm da face da fachada ou da aba de proteção).

 

Foto: noprati/stock.adobe.com
Foto: noprati/stock.adobe.com

 

Mercado
De longe, o temperado é o vidro processado mais consumido no Brasil. Como bem mostra o Panorama Abravidro 2024 – cujos dados completos você encontra na matéria da página 34 –, no ano passado, o temperado representou 59,3% da produção de vidros transformados em nosso país. Existe alguma resposta para isso?

Para Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, as características históricas e vicissitudes do mercado vidreiro nacional levam a esse cenário. Para ele, o nível de acesso e o entendimento da tecnologia de têmpera são maiores que nos de outros tipos de vidro, fazendo com que esse produto esteja no topo da lista para atender as necessidades do mercado de construção civil/arquitetura. No entanto, segundo Cláudio, outros vidros de valor agregado, principalmente o laminado, deveriam ser mais usados, já que podem oferecer vários benefícios.

Na visão de Raphael Gallegos, diretor de Produção da Reflex Tempervidros, as processadoras enfrentam atualmente desafios significativos para equilibrar qualidade, prazo e variedade de vidros a serem temperados. “A qualidade das chapas fornecidas pelas usinas tem diminuído ao longo dos anos, exigindo inspeções mais rigorosas em várias etapas do processo para evitar que cheguem ao cliente problemas como manchas, fissuras internas e outras imperfeições que possam comprometer a qualidade final do produto”, afirma.

Apostar no maior uso de vidros de valor agregado pode ajudar a processadora a se diferenciar da concorrência, elevando o nível de qualidade de sua produção, explica o gerente-geral da Sulglass, Gillie Follador: “Esses materiais auxiliam na diversificação da gama de produtos oferecida e servem como vantagem competitiva, permitindo-nos alcançar um nicho específico de clientes”.

Por isso mesmo, é fundamental orientar arquitetos e consumidores finais sobre as possibilidades em termos de execução, proporcionando uma compreensão clara dos produtos mais adequados para cada ambiente, alerta Gallegos. “Dessa forma, será evitado o uso inadequado de produtos que, embora tecnicamente corretos, não oferecem benefícios reais.”

A importância dos fornos
O forno de têmpera é o equipamento mais robusto e tecnológico encontrado no processamento desse tipo de vidro. A vida útil de uma máquina como essa pode passar de duas décadas caso seja bem-cuidada. No entanto, a questão está diretamente relacionada à eficácia da instalação e também da aplicação de um plano de manutenção. Vale frisar ainda que a gestão de boas práticas operacionais, incluindo a atualização de componentes digitais e físicos, tem impacto direto nos custos, na capacidade de obtenção de receita e no lucro líquido da empresa.

Nos últimos tempos, o sistema de convecção foi uma das principais inovações para aumentar a qualidade do processo, sendo usado por processadoras pelo mundo todo. Com ele, o vidro é aquecido por meio de rajadas de ar, o que deixa a temperatura em toda sua massa mais uniforme – essa tecnologia, inclusive, é indicada para o processamento de chapas com revestimento, como o low-e.

Os fornos mais modernos atualmente contam ainda com outras tecnologias, como:

  • Sistema de colchão de ar, fazendo com que a superfície do vidro não tenha contato com os rolos;
  • Conjunto de duplo aquecimento e resfriamento;
  • Sistema de correção automatizada dos parâmetros técnicos de processo;
  • Alta eficiência energética, o que garante maior economia de eletricidade.

Instalações autoportantes
Uma das principais características técnicas do temperado é a possibilidade de se suportar de forma independente, dispensando o auxílio de outras estruturas. Isso permite que o material seja instalado de forma autoportante – em divisórias, por exemplo –, devido à sua resistência mecânica superior.

Mas, atenção: a especificação deve ter cuidados redobrados em relação ao dimensionamento das peças, posicionamento de furos e recortes e à própria instalação da estrutura. Além disso, deve-se levar em conta o ambiente, o tipo característico do público que vai acessar o espaço e ainda a frequência de trânsito das pessoas.

 

Foto: noprati/stock.adobe.com
Foto: noprati/stock.adobe.com

 

Mão de obra especializada
Para administrar toda essa potência tecnológica, a qualificação da mão de obra é essencial para uma processadora. “Sem treinamento e conhecimento técnico adequados, o resultado são lacunas no processo, gerando diversas dificuldades, como maiores custos e riscos para a reputação da empresa”, explica Cláudio Lúcio. “Tem-se ainda um comprometimento da imagem da indústria vidreira como um todo frente a administradoras, investidores, construtoras e cliente final. A cada erro provocado pela falta de qualificação, haverá mais ocorrências de problemas relacionados à especificação, beneficiamento e aplicação, gerando impeditivos para o aumento de consumo per capita de nosso produto.”

Pensando na questão, a Abravidro criou, em 2011, a Especialização Técnica Abravidro. O programa conta com um módulo sobre têmpera e aborda temas como a física envolvida nesse processo, a condução do forno, a qualidade e a relação entre o número de fragmentos x tensão. O módulo inclui ainda ensinamentos sobre como avaliar a condição do equipamento, a rotina para resolução de problemas e muito mais.

Certificação
Outra forma de garantir a segurança da fabricação é obter a certificação voluntária para vidros temperados, concedida por Organismos de Certificação de Produto (OCP) que são acreditados pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro.

Para ser aprovada, a empresa precisa passar por três avaliações:

  • Processo de fabricação: deve estar adequado para produzir itens de qualidade, seguindo os requisitos da portaria do Inmetro que regulamenta a certificação;
  • Sistema de gestão da qualidade: é obrigado a atender determinados requisitos da norma mundial ISO 9001;
  • Ensaios: os vidros precisam ser aprovados nos ensaios estabelecidos pela norma técnica ABNT NBR 14698 — Vidro temperado.

Todo o processo é mais simples do que parece – e a Abravidro oferece uma consultoria para auxiliar as processadoras interessadas na chancela. “Os empresários ficam surpreendidos logo na visita inicial, pois conseguimos verificar o quanto a empresa já está adequada para atender boa parte dos requisitos necessários”, explica Edweiss Silva, consultor da entidade para Certificação Inmetro. Após a elaboração de um cronograma de atividades, é possível determinar quando a empresa estará pronta para receber a visita do auditor (um representante do OCP) – o prazo costuma ser de dois a quatro meses.

Entre as vantagens para a empresa certificada estão:

  • Implementação de melhorias no processo produtivo, resultando em maior controle dos procedimentos e menor desperdício e retrabalho;
  • Permissão para colocar o selo com as logomarcas do Inmetro e do OCP nos produtos certificados;
  • Proteção jurídica contra reclamações, já que a certificação é um atestado de que a empresa atende os requisitos normativos e regulamentações legais;
  • Possibilidade de atender mercados que exigem padrão de segurança atestado, como o de grandes construtoras.

Para saber mais detalhes sobre a consultoria, entre em contato com Edweiss Silva pelo e-mail esilva@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908. É associado Abravidro? Então, aproveite valores e condições exclusivas para a contratação.

Normas
A ABNT NBR 14698 — Vidro temperado, norma técnica focada no produto, está passando por um processo de revisão e atualização. O trabalho, coordenado pelo Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), com sede na Abravidro, inclui mudanças na estrutura da norma, com o objetivo de organizar melhor as informações, além da atualização de pontos como os requisitos de tolerâncias dimensional, de esquadro e de empenamento, e o aprofundamento de temas como distorção óptica, furos e recortes. Está sendo discutida também a inclusão de um texto adicional sobre a esmaltação do vidro (aplicação de esmalte sobre sua superfície) durante a têmpera, uma vez que o consumo de temperados esmaltados vem aumentando ano após ano no Brasil. É possível participar das reuniões remotas online: basta confirmar presença enviando e-mail para cb37@abnt.org.br.

Temperado é a mesma coisa que termoendurecido?
Não, são produtos diferentes. Ambos são produzidos no forno de têmpera, mas a diferença está na curva de resfriamento durante o tratamento térmico. E, vale reforçar, temperado é um vidro de segurança; já o termoendurecido, não. Mesmo tendo resistência mecânica superior à do float (dependendo da espessura, pode ser até duas vezes e meia mais forte), ele se fragmenta em pedaços um pouco maiores quando partido. É normalmente utilizado na composição de laminados ou insulados.

Este texto foi originalmente publicado na edição 617 (maio de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Amorim Leite

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *