A votação para eleger os vencedores do Guardian Top Projects 2025 começou: a iniciativa, em sua 3ª edição, tem como objetivo premiar processadores e distribuidores de vidros e espelhos, construtoras, consultores, fabricantes de esquadrias, arquitetos, designers, vidraceiros e fabricantes de móveis responsáveis por projetos de destaque na América do Sul que utilizam produtos e soluções da marca. Entre os mais de duzentos projetos inscritos, três foram selecionados pelo júri técnico em cada uma das seis categorias. Agora, eles concorrem em votação popular, aberta até 16 de maio no site da premiação. “Mais do que reconhecer projetos, o Top Projects reforça nosso compromisso com o desenvolvimento da arquitetura e do design na América do Sul, incentivando o uso criativo e eficiente do vidro”, afirma Betânia Danelon, gerente de Desenvolvimento de Mercado de Arquitetura da Guardian.
O VidroCast recebeu a arquiteta Audrey Dias, diretora e sócia-proprietária da Aluparts, empresa especializada na recuperação e manutenção de sistemas de esquadrias – ela também é professora de pós-graduação de Patologia das Construções (Esquadrias e Vidros) e tem MBA em gestão de negócios. Na conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Audrey falou sobre sua formação e experiência profissional, importância da manutenção preventiva de fachadas e qualificação de mão de obra. Leia a seguir alguns destaques do bate-papo – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.
Você tem o trabalho com esquadrias e vidros no seu DNA: seu pai, o engenheiro Nelson Firmino, foi uma grande referência para esse segmento e dá nome, inclusive, a um prêmio organizado pela Afeal. Quando foi que você percebeu que queria seguir na mesma área? Audrey Dias – Basicamente, eu nasci na indústria de esquadrias, não tive muita oportunidade de escolha: lembro que, quando fiz quinze anos, no dia seguinte meu pai avisou que a próxima segunda-feira seria meu primeiro dia de trabalho na empresa. Foi assim que começou minha jornada. Eu estudava de manhã, ia à tarde para o escritório, e ele foi meu grande mentor, passou a vida inteira falando sobre esquadrias e vidros. Lembro-me de que ele abria os desenhos dos projetos e mostrava neles o que era um perfil, uma roldana, como a gente representa a esquadria na fachada.
Quando me dei conta, eu estava buscando uma faculdade de arquitetura, o que deu muito certo. O engraçado é que meu pai teve oito filhos, e só eu fui para a parte técnica na área de esquadrias para poder de fato aprender com ele, dando continuidade às atividades da Aluparts.
Quais foram os principais desafios e as principais vitórias em sua jornada no mundo das esquadrias? AD – Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor o cara que mais entendia sobre esquadrias, um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil – uma verdadeira “enciclopédia” ao meu lado. Isso me abriu muitas portas, trouxe muita bagagem e conhecimento, sendo muito positivo para minha carreira, o que eu sigo até hoje com muito amor por essa área. O desafio, pelo menos para mim, foi que eu comecei a trabalhar muito cedo numa empresa familiar, e com isso eu não tive a oportunidade de trabalhar para outras empresas ou ter um patrão de fato, um chefe que não fosse meu pai. As relações pessoais e familiares sempre estiveram envolvidas no meu dia a dia.
“Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil.” Audrey Dias
Como você acha que sua formação influenciou na sua trajetória profissional e carreira? AD – Eu sempre fui muito estudiosa, sempre me cobrei muito para estudar. Lembro que, quando comecei a faculdade de arquitetura, o curso não abordava nada sobre esquadrias – inclusive, esse é um ponto que precisa ser olhado com mais atenção, porque tanto no curso de engenharia como no de arquitetura, não se fala sobre caixilhos, esquadrias, vidros, nada disso.
Na época, tentei uma iniciação científica, falei para o reitor que eu queria fazer um trabalho sobre as esquadrias de alumínio na arquitetura. Fiquei um tempo aguardando o resultado e, quando saiu, apareceu como “tema irrelevante”. Isso me gerou revolta: como esse tema seria irrelevante se não existe edificação sem caixilho, sem esquadria? As esquadrias são os “olhos” de qualquer edificação. A partir disso, decidi que iria realmente estudar o tema e, ao me formar, busquei um MBA nessa parte de gestão de negócios, para incorporar isso aos negócios da família. E deu certo.
Depois, voltei minha carreira para essa parte dos cuidados com as fachadas, porque existem excelentes empresas que pensam em como conceber fachadas, mas quem cuida delas? E eu venho desde então estudando, nessa parte da engenharia diagnóstica, as “doenças” das edificações, para poder levar esse conhecimento e a importância dele para o mercado.
E como funciona esse trabalho de manutenção ou recuperação das fachadas? Em que momento do ciclo de vida de uma fachada vocês costumam ser chamados? AD – O grande problema é que as fachadas já estão nascendo doentes. Então a manutenção pode ocorrer tanto em um prédio em operação, cuja fachada tem quarenta ou cinquenta anos, como também em um prédio recém-inaugurado, com uma estrutura de seis meses de vida. A gente iniciou recentemente um trabalho em um edifício enorme em Brasília, um prédio recente, e estamos atuando de forma corretiva em problemas de origem endógena, ou seja, que são relacionados à fase de construção, fabricação e instalação.
“A falta de mão de obra qualificada está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros.” Audrey Dias
Dos casos em que vocês têm atuado ao longo da trajetória da Aluparts, quais são os erros mais comuns cometidos tanto na hora de projetar como na de instalar uma fachada? AD – Quando a gente fala de manifestação patológica, o que mais chama atenção basicamente são os erros relacionados à estanqueidade: execução incorreta de vedações, ausência de vedação, especificação errada de componentes de vedação como escovas e gaxetas… O simples fato de você utilizar uma escova com dimensão diferente da necessária pode causar a reprovação da sua esquadria em um teste de desempenho, por exemplo; imagine, então, isso em operação numa fachada. Um fator importante é a questão da infiltração, porque ela incomoda: se está chovendo, a água entra pela sala molhando a marcenaria, molhando o tapete.
Mas hoje a gente tem encontrado também muitos problemas de subdimensionamento de perfis, falhas estruturais, subdimensionamento de componentes. Recentemente, algumas janelas de um grande edifício em São Paulo saíram voando e, quando a gente foi ver, os braços de articulação delas não tinham o tamanho e a resistência necessários, não eram os braços que tinham sido especificados para o projeto.
A Abravidro tem o Educavidro e o De Olho no Boxe. A Afeal tem a Academia Afeal, na qual você é instrutora. Isso tudo envolve esforço para levar informação para a mão de obra – e isso tem também um papel de formação. Como você enxerga esta questão: tem sido fácil ou difícil encontrar mão de obra qualificada para prestação de serviços? AD – Acho que hoje esse está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros. A construção civil está sofrendo com a falta de mão de obra qualificada, justamente por falta de preparo. Precisamos realmente que as empresas capacitem seus funcionários, tanto os fabricantes de vidros como os de perfis, e que também os grandes players do nosso mercado colaborem com a formação desses profissionais, não tentem buscar gente pronta no mercado. As empresas têm de focar na qualificação, montar uma escolinha no chão de fábrica.
Ano passado, a humanidade viveu um período de recorde mundial – mas não muito agradável: 2024 foi o ano mais quente registrado no planeta, com temperatura média global 1,6 ºC maior na comparação aos níveis pré-industriais. E se você acha essa notícia um tanto familiar, é porque ela é mesmo: 2023 já tinha quebrado essa marca, assim como acontecera em outros anos da última década.
E o problema não é o clima ficar apenas mais quente. Com uma temperatura média mais alta, o clima da Terra fica desregulado – e, hoje, estamos acima do limite de aumento de temperatura definido pelo Acordo de Paris, em 2015, como meta “segura” para que os efeitos das mudanças climáticas não sejam tão catastróficos. Dessa forma, condições extremas, que antes eram raras, tornam-se recorrentes. Basta lembrar que, no ano passado, o Rio Grande do Sul e parte da Espanha foram devastados por tempestades intensas; os Estados Unidos passaram por uma das piores temporadas de furacões de sua história; incêndios florestais se intensificaram por diversas regiões, atingindo fortemente também regiões urbanas; e até o deserto do Saara, na África, teve partes inundadas por conta de chuvas muito acima das médias anuais.
É por isso que a construção precisa se adaptar a essa nova realidade, para oferecer o conforto adequado a seus usuários – e o vidro tem tudo para se transformar em um elemento crucial das edificações futuras. O Vidroplano explica por que nas páginas a seguir.
Protagonismo transparente
Os projetos de arquitetura que ainda não se atentam ao conforto térmico de seus ocupantes não poderão mais deixar esse conceito de lado. Afinal, o impacto das mudanças climáticas vai além dos fenômenos extremos da natureza: altera a forma como os edifícios são pensados e construídos. “Hoje, os arquitetos têm o desafio de desenvolver estruturas que não apenas resistam ao estresse ambiental, mas também contribuam para a redução da pegada de carbono, tanto operacional como interna”, aponta Jonas Sales, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Cebrace.
O vidro pode ajudar na questão ambiental de duas formas, conforme esclarece Remy Neto, coordenador nacional de Especificação Técnica da AGC: “Na questão passiva, ele reduz o impacto energético nas construções com produtos que oferecem conforto térmico e luminoso; e na ativa, por meio de iniciativas das fabricantes, se diminui a emissão de carbono na produção de vidro”. Um exemplo disso é o projeto Volta, realizado pela AGC e Saint-Gobain Glass na Tchéquia (veja mais clicando aqui).
E não existe outro material capaz de atender todas essas necessidades. “Há vidros que chegam a 0,3 de valor U, que é a medida do coeficiente térmico – a quantidade de calor que atravessa um objeto. Ou seja, quase nada passa dependendo da chapa”, revela Edison Claro de Moraes, diretor da AtenuaSom. Portanto, devemos encarar estruturas envidraçadas, como fachadas, por exemplo, não somente como elementos estéticos, mas como capazes de exercer um papel funcional na construção do futuro.
“Com a evolução dos vidros de controle solar, é possível adaptar soluções para diferentes climas, regulando a entrada ou saída de calor, permitindo maior interação entre ambientes internos e externos”, comenta Marcelo Martins, diretor-comercial da GlassecViracon. Em outras palavras, o vidro continua sendo, e sempre será, um material moderno, totalmente alinhado às novas demandas climáticas. “Os de controle solar atuam sem comprometer a iluminação natural. Isso contribui, significativamente, para a diminuição do consumo de energia, tornando os edifícios mais adaptados às atuais exigências”, explica Betânia Danelon, gerente-comercial-técnica da Guardian.
Luiz Barbosa, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Vivix, reforça outra solução importante, mas pouco usada no Brasil: “Os insulados também contribuem para uma regulação mais eficiente da temperatura interna, proporcionando ambientes confortáveis e sustentáveis”. E o papel do vidro não se limita apenas à construção civil, como aponta Edison Moraes: “Recentemente, comprei um carro com teto solar e a temperatura dentro do carro fica desconfortável. O setor automotivo precisa produzir veículos que saiam de fábrica com vidros adequados ao nosso clima”. Fica o alerta: para-brisas, janelas e tetos solares também devem passar a oferecer conforto térmico aos usuários.
As torres Yachthouse, em Balneário Camboriú (SC), formam o edifício residencial mais alto da América Latina. O projeto exigiu soluções que combinassem alto desempenho térmico e acústico sem comprometer a estética. Para atingir o objetivo, a GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar na cor champanhe (Foto: Divulgação GlassecViracon)
Como o vidro atua
A máxima de que nosso material não trabalha sozinho sempre é válida – e, para o desempenho térmico, isso não é diferente. “Um bom projeto de abertura de vão em uma edificação deve contemplar três elementos em conjunto: especificação do vidro, proteção solar externa e proteção solar interna”, detalha o engenheiro e professor Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e pesquisador do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Climas frios
Em locais como regiões serranas e o Sul do Brasil, é fundamental o uso de elementos de sombreamento adequadamente desenhados, orienta Westphal. Assim, evita-se o sobreaquecimento durante o verão, ao mesmo tempo que se admite o aquecimento solar desejado no inverno. “Mesmo que seja utilizado um vidro com boa capacidade de bloquear o calor – ou seja, com baixo fator solar –, a incidência direta da insolação pode causar desconforto térmico localizado sobre as pessoas. Dependendo do uso do ambiente, em alguns momentos será necessário bloquear completamente a luz solar”, indica. Para isso, devem ser utilizados elementos de sombreamento, sejam externos (brises, varandas, beirais, toldos) ou internos (cortinas, persianas, rolôs). “Um bom projeto deve contemplar esses dispositivos não apenas para controle térmico, mas para garantir a privacidade e o conforto visual, evitando o ofuscamento e proporcionando boa distribuição de luz no ambiente interno.”
Climas quentes
Aqui, é necessário um vidro com alta reflexão energética – ou seja, alta capacidade de refletir o calor. Porém, não basta escolher uma chapa com baixo fator solar (como já explicado, a quantidade de calor que atravessa um objeto). O desempenho do vidro é variável, pois o ganho de calor do Sol depende do ângulo de incidência dos raios solares e de condições climáticas como temperatura e vento. “Tudo isso muda ao longo do dia e do ano. Por isso, o fator solar é apenas um indicador para a escolha inicial dos vidros a serem considerados para um projeto. A análise final deve ser sempre conduzida por simulação computacional anual”, afirma o professor.
A configuração do vidro é outro fator a influenciar toda essa conta. “Se o vidro de controle solar estiver laminado, há um bloqueio quase total dos raios UV, protegendo móveis e revestimentos internos contra o desbotamento. Quando o utilizamos na versão insulada, reduz ainda mais a troca térmica, oferecendo maior eficiência energética e conforto para os ocupantes”, comenta Marcelo Martins, da GlassecViracon.
Foto: Marina Gordejeva/stock.adobe.com
Hora de investir nos insulados
Mesmo sendo um produto agregado robusto, capaz de oferecer diversos benefícios simultâneos às edificações, o insulado segue como um vidro esquecido no Brasil: de acordo com a edição 2024 do Panorama Abravidro, ele representa 0,7% dos vidros processados não automotivos da cadeia de processamento nacional. “Eu sou fã do insulado. Ele permite trocas térmicas de 40%, 50%, e se paga após três ou quatro anos de utilização”, afirma Edison Moraes, da AtenuaSom. “É, sim, um custo inicial maior, mas que no fim se torna menor. Se você vai utilizar ar-condicionado ou aquecedor, você precisa de um insulado para trazer economia ao longo do tempo – especialmente em prédios modernos. O Brasil precisa aprender a utilizá-lo, até porque eu não entendo a prática de jogar um vidro contra o outro, como ‘o insulado versus o laminado’. Um complementa o outro, simples assim.”
A ideia de que o insulado só serve para climas frios, por ser muito utilizado na Europa e América do Norte, não passa de um mito, como aponta Edilene Kniess, da Rohden:
Em locais quentes, quando combinado com vidros de controle solar, o material bloqueia a entrada excessiva de calor, reduzindo a necessidade de uso do ar-condicionado e contribuindo para a eficiência energética;
Em regiões com grande variação térmica, ele atua como isolante, mantendo a temperatura interna mais estável, minimizando os picos de calor no verão e as perdas térmicas no inverno.
“O vidro interno da composição insulada tende a permanecer em temperatura mais próxima à do ar interno, evitando o desconforto das pessoas próximas ao vidro”, ensina Fernando Westphal. “Isso também permite reduzir a carga térmica máxima da edificação. Em geral, em climas brasileiros, edifícios com fachadas de insulado podem ter uma economia de, pelo menos, 20% na instalação do sistema de ar-condicionado.”
Como especificar
É preciso muito conhecimento técnico para ser capaz de especificar esses vidros. “Costumo falar que, na Internet, você encontra compêndios sobre o desempenho do vidro, mas é preciso saber o que se está fazendo. É aí onde mais se erra”, opina Edison Moraes, da AtenuaSom.
As variáveis para definir as estratégias mais eficazes em relação à proteção contra o calor, transmissão de luz e reflexão desejadas são as seguintes:
Localização geográfica da edificação
Incidência solar nas fachadas
Dimensões e proporção das áreas transparentes
Demanda energética do sistema de climatização interno
Tipo de atividade do edifício
Estética desejada
Somado a isso, a seleção de vidros deve considerar alguns aspectos técnicos. O fator solar, mencionado anteriormente, é um deles, mas não o único:
Espessura e composição: “A seleção da espessura e da combinação de vidros (monolítico, laminado, insulado) deve considerar não apenas a proteção térmica, mas também fatores como segurança, iluminação natural e isolamento acústico”, afirma Edilene Marchi Kniess, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Rohden Vidros. “Em edifícios comerciais, onde a eficiência energética é crítica, pode-se optar por insulados duplos ou até triplos para um desempenho superior”;
Câmara de ar e preenchimento com gás: Caso o insulado seja o escolhido, seu desempenho pode ser aprimorado com o uso de gases de baixa condutividade térmica, como o argônio, na câmara instalada entre as chapas de vidro. “Esse gás é menos condutivo que o ar comum e limita a transferência térmica por condução e convecção, otimizando o isolamento térmico. Quanto maior a câmara de ar – dentro de um limite técnico, geralmente entre 12 e 16 mm –, mais eficiente será o bloqueio da temperatura”, explica Edilene.
Curitiba, o empreendimento Mai Terraces está sendo avaliado para receber a certificação GBC Condomínio Platina, que reconhece empreendimentos alinhados a práticas ambientais, como a eficiência energética. A GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar prata para a obra (Foto: Marcelo Araujo/divulgação GlassecViracon)
Ar-condicionado e vidros: inimigos ou aliados?
As mudanças climáticas já são tão sentidas pelos usuários de edificações que o conforto térmico se tornou um fator primordial para suas escolhas no quesito moradia. Segundo pesquisa do QuintoAndar, startup brasileira focada no aluguel e na venda de imóveis, o sistema de ar-condicionado passou a ser o item mais buscado por interessados em comprar imóvel em São Paulo no ano passado – o equipamento ocupava a 7ª posição na pesquisa anterior, referente a 2023.
Esse dado precisa fazer nosso setor refletir: as pessoas conhecem a capacidade térmica do vidro? Por que pensam logo no ar-condicionado quando o tema é debatido? “Embora o vidro seja tratado muitas vezes como o vilão da carga térmica das edificações, na verdade, ele é o material que permite trazer luz natural e contato visual com o exterior, algo que nenhum outro material consegue. E, mesmo assim, ainda permite controlar os ganhos e perdas de calor com estratégias bem-aplicadas a cada projeto e clima”, frisa Westphal.
O ar-condicionado é mais lembrado pelo fato de que nenhum outro equipamento ou material faz o que ele consegue. “Mesmo a ventilação natural é insuficiente para garantir o conforto em 100% do tempo, pois existem horas no verão em que o ar exterior está quente e úmido ou não está ventando – ou o vento está com velocidade alta demais. Então, o ar-condicionado segue imprescindível para garantir o conforto em 100% das horas de ocupação de uma edificação”, pondera Westphal. “O que devemos fazer nesse cenário é promover projetos cada vez mais eficientes, para que o uso do ar-condicionado seja minimizado”. É nesse momento que o vidro precisa ser lembrado pelos profissionais da construção.
Durante décadas, esse segmento priorizou projetos pouco adaptados ao clima local, com uso excessivo de concreto, pouca ventilação cruzada e baixa eficiência térmica dos materiais, conta Betânia Danelon, da Guardian. “A falta de incentivos para alternativas mais sustentáveis reforçava a dependência disso. Para mudar, é essencial promover a conscientização sobre soluções passivas de conforto térmico, como fachadas ventiladas, uso de vidros especiais, isolamentos eficientes e materiais que ajudam a reduzir a troca de calor.”
Quem concorda com a ideia é Luiz Barbosa, da Vivix. Para ele, o uso do ar-condicionado como principal estratégia de conforto térmico no Brasil se deve a vários fatores:
Desconhecimento sobre o custo-benefício dos vidros especiais;
O custo inicial de tecnologias passivas de climatização é visto como alto;
Desconhecimento de tecnologias alternativas que reduzem significativamente a necessidade de climatização artificial;
Falta de regulamentação: apesar das normas que abordam o desempenho térmico (como a ABNT NBR 15.575 — Edificações habitacionais – Desempenho), por enquanto as exigências para eficiência térmica em edificações no Brasil são brandas, levando construtoras a priorizar soluções convencionais.
Em relação ao último ponto, a situação pode melhorar num futuro próximo: está em andamento, no Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), da ABNT, um Grupo de Trabalho para desenvolver uma norma de desempenho para edificações não residenciais, visando a aplicações em edifícios comerciais e de serviços. Espera-se que, nesse trabalho, sejam traçados níveis mínimos de desempenho para os projetos arquitetônicos, evitando ao máximo a necessidade do ar-condicionado nos diferentes contextos climáticos brasileiros.
Foto: volha_r/stock.adobe.com
Mudança que passa por nosso setor
Já que existe uma parcela de profissionais da construção que ainda não conhece o que o vidro pode oferecer, é missão de nossas empresas reverter a situação. “Como indústria vidreira, temos o papel de disseminar conhecimento sobre novas tecnologias e suas aplicações, auxiliando especificadores e construtores a tomar decisões mais eficientes e inovadoras”, sugere Marcelo Martins, da GlassecViracon.
Edilene Kniess, da Rohden, lembra que a adoção de vidros especiais de alta performance auxilia projetos na obtenção de certificações ambientais reconhecidas internacionalmente, como a Leadership in Energy and Environmental Design (Leed). “Incentivos fiscais e certificações ambientais podem impulsionar o uso dos vidros eficientes, tornando a construção civil mais sustentável e econômica a longo prazo.”
Apostar na disseminação do conhecimento, portanto, mostra-se como a chave para um novo panorama. “Nosso setor desempenha um papel crucial na mudança cultural. Ao capacitar os profissionais sobre essas tecnologias e promover seu uso, podemos contribuir para uma construção mais eficiente, diminuindo a dependência do ar-condicionado e melhorando o conforto térmico de maneira ecológica”, aponta Jonas Sales, da Cebrace. “Nos dedicamos à capacitação de profissionais e empresas do setor de arquitetura e construção, oferecendo treinamentos e workshops que abordam não apenas as propriedades térmicas do vidro, mas também outros aspectos fundamentais, como transmissão de luz e reflexão. O objetivo é garantir que os clientes tomem decisões mais assertivas em seus projetos.”
Caminhos a seguir Educação do mercado: investir na divulgação técnica e em treinamentos para arquitetos e construtoras sobre os benefícios dos vidros eficientes. A Abravidro, por exemplo, conta com a plataforma de ensino a distância Educavidro, que contém cursos como “Economia de energia em edifícios novos e reformas”, “Especificação de fachadas”, “Introdução a eficiência energética” e “Certificação de edifícios – Impacto do vidro”;
Parcerias estratégicas: trabalhar com órgãos reguladores para a produção de mais normas que incluam referências à eficiência térmica;
Demonstração prática: divulgar estudos de caso e comparar edificações com e sem vidros de valor agregado, provando na prática a redução de temperatura interna e economia de energia;
Incentivos financeiros: demonstrar a economia com energia elétrica gerada e o retorno financeiro rápido, mesmo com o investimento inicial mais alto;
Elemento sustentável: promover o vidro como elemento com baixa pegada de carbono e 100% reciclável, que contribui para a redução das emissões de CO2.
As inscrições para a 3ª edição do Guardian Top Projects estão na reta final: devem ser feitas até o dia 28 de fevereiro. Podem ser inscritos projetos elaborados a partir de 2022 e que levam vidros especiais da fabricante. O objetivo é reconhecer o talento e conectar os profissionais e parceiros do segmento.
A revitalização urbana de grandes cidades é um desafio para o Brasil: não são raros os chamados centros históricos de importantes metrópoles nacionais com prédios desgastados, gerando sérios problemas urbanísticos.
Fora do País, há exemplos positivos. Nova York e Barcelona, por exemplo, reformaram bairros para deixá-los mais Studiovivos. No entanto, não basta criar parques, incentivar pequenos comércios ou facilitar a locomoção: é preciso colocar pessoas para morar nesses lugares.
Em Aveiro, Portugal, uma nova zona da cidade ganhou o Puro Tower, prédio residencial com formas que se assemelham a um programa de habitação coletiva, apostando no conforto dos moradores com o uso de vidros insulados de alto desempenho.
Diálogo com a cidade
Desenvolvido pelo arquiteto português Mário Alves, o projeto (com 6.250 m² de área) tem como base dar continuidade às linhas predominantes de um edifício vizinho, também feito por ele anos atrás. O conceito principal foi o de tirar proveito das características do lugar, tais como as vistas e a exposição solar.
“Por se tratar de um edifício de esquina, que assume uma volumetria vertical, o desenho horizontal das lâminas projeta-se para além das arestas dessa volumetria”, explica Alves. “Isso cria dinâmica, ritmo e movimento ao mesmo tempo que projeta o espaço interior para o exterior, permitindo assim ao utilizador a possibilidade de se debruçar sobre a cidade”. De fato, o projeto ganha tridimensionalidade com as formas assimétricas das sacadas: seu design é muito mais próximo do de uma obra de arte (uma escultura, por exemplo) do que de um prédio residencial tradicional.
Total controle
Se os traços do prédio são modernos, os vidros instalados nos apartamentos não poderiam ficar atrás no quesito tecnologia. Os caixilhos de alumínio da empresa Grupo Sosoares receberam uma especificação robusta de insulados de laminados, pensada para oferecer um alto grau de conforto termoacústico: temperado de SunGuard HS 70/35 8 mm (da Guardian) + espaçador preenchido com gás argônio + laminado (com interlayer acústico) com espessura de incríveis 44,2 mm. Em certas áreas, há ainda uma placa mais “simples”, trocando o laminado grosso que faz parte do insulado por uma chapa de float temperado 8 mm.
Ficha técnica
Projeto: Puro Tower
Local: Aveiro (Portugal)
Arquitetura: Mário Alves Arquiteto
Conclusão da obra: 2021
Fabricante dos vidros: Guardian
Instalação dos vidros: Alumivale
Caixilhos: Grupo Sosoares
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, mais conhecido como Masp, é um marco da capital paulistana: o prédio em que está instalado, em plena Avenida Paulista, tem um icônico design da arquiteta Lina Bo Bardi, marcado pelo uso de vidros na fachada – e até mesmo os cavaletes para os quadros expostos usam nosso material. Agora, o museu ganhou um novo edifício, localizado ao lado do original. Mais uma vez, o vidro foi escolhido, dessa vez junto de uma estrutura de brises.
Harmonia entre as obras
Com projeto arquitetônico da Metro Arquitetos Associados, dos sócios Martin Corullon e Gustavo Cedroni, o prédio recém-finalizado conta com catorze andares e 7.821 m² de área – somado à recente concessão do vão livre do museu, a instituição dobrou sua área de atuação, chegando a 21.863 m².
Agora, o Masp aumenta em mais de 60% seus espaços expositivos: são cinco novas galerias para exposições, duas áreas multiuso, salas de aula, laboratório de conservação, área de acolhimento, restaurante e café, incluindo ainda depósitos e docas para carga e descarga de obras de arte. Outro destaque será um túnel de 40 m de comprimento, com conclusão prevista para o segundo semestre, responsável por interligar as áreas de acolhimento dos dois edifícios, facilitando a circulação dos visitantes.
De acordo com os arquitetos, o novo projeto (nomeado Pietro Maria Bardi, em homenagem ao primeiro diretor artístico do museu) deveria evitar grandes composições na fachada, de forma a estabelecer uma relação harmoniosa com o edifício histórico (agora chamado Lina Bo Bardi para honrar sua arquiteta). “Apostamos em um visual limpo, uma fachada homogênea, para não criar ruídos nessa relação. Ao mesmo tempo, o design monolítico, inspirado nas tipologias dos museus verticais, como os de Nova York, se destaca no entorno, conferindo-lhe um caráter próprio”, comenta Corullon.
Vidro e brise: estrutura metálica aplicada sobre a fachada envidraçada atua para evitar a ação dos raios solares nas obras de arte que serão expostas dentro do prédio
Sobriedade
Isso explica a estética marcada por uma estrutura de brises, feita de chapas metálicas perfuradas e plissadas. Essa foi a solução encontrada para controlar a incidência de luz natural, evitando possíveis danos causados pela radiação às obras e materiais expostos internamente.
Mesmo assim, a transparência está lá, logo atrás dos brises, até para reforçar a conexão entre as duas construções que formam o museu. Segundo a Metro, enquanto a fachada envidraçada do edifício original cria uma continuidade visual entre o interior do museu e a Avenida Paulista, o novo projeto propõe um jogo de luz e sombra, permitindo que o visitante observe a cidade por meio de aberturas que se revelam apenas a quem está dentro do prédio durante o dia. À noite, a equação se inverte: as mesmas janelas revelam fragmentos da parte interna dos andares para o lado externo da construção.
Os vidros aplicados na fachada são laminados incolores 14 mm (6 + 8), enquanto os do térreo são multilaminados 24 mm (8 + 8 + 8), processados pela Cyberglass. A estrutura teve consultoria da QMD Consultoria, com a Prismatech produzindo as esquadrias.
Novo prédio é financiado por meio de doações A construção do novo edifício começou em 2019 – e a obra foi totalmente financiada por doações de pessoas físicas, sem uso de leis de incentivo. “Foram doados R$ 250 milhões para a construção. O sucesso da captação também é resultado de um modelo de gestão criado no Masp há dez anos, que trouxe para a instituição sustentabilidade financeira, transparência e profissionalismo”, explica Alfredo Egydio Setubal, presidente do conselho deliberativo do museu.
Teve início a exposição Pavilhões de Vidro, realizada pelo Ministério da Cultura, Abividro, Cidadania Corporativa e Escola da Cidade. A mostra, aberta até março na sede da Escola da Cidade, em São Paulo, conta com curadoria da arquiteta mexicana Sol Camacho, responsável pelo livro Pavilhões de Vidro: uma Tipologia de Vanguarda, lançado no dia 12 de dezembro.
Como visto na reportagem especial da edição de outubro de O Vidroplano, as fachadas inclinadas feitas de vidro oferecem desafios extras aos arquitetos e especificadores envolvidos em projetos que contenham essa estrutura. O tipo de inclinação, os cálculos para o dimensionamento da espessura das chapas e a instalação são detalhes que precisam ser encarados com atenção para se chegar a uma obra perfeita – como é o caso do edifício Skyglass, inaugurado em Seattle, nos Estados Unidos, no início do ano.
Para o alto e avante
Com design da arquiteta Julia Nagele, do escritório Hewitt, o Skyglass foi erguido na região de South Lake Union, um dos bairros centrais que mais crescem na cidade norte-americana. A obra de uso misto conta com 33 andares, e suas formas operam em duas escalas, segundo o pessoal da Hewitt: a parte de baixo do edifício, que se assemelha a um prédio de concreto residencial com janelas de tamanho tradicional, está ligado a um contexto de paisagem urbana em escala humana; acima disso está a enorme torre de vidro, cheia de movimento, que se estende em direção ao Sol e às nuvens.
Foto: Tim Rice Architectural Photography
Alto desempenho
Os vidros aplicados na fachada da torre oferecem alto desempenho energético à construção. São insulados com uma especificação complexa, de modo a atingir o conforto térmico necessário: termoendurecido low-e 6 mm + câmara espaçadora de 12 mm, preenchida com gás argônio + temperado incolor 10 mm.
A parte de baixo do edifício também ganhou vidros robustos: float low-e 6 mm + câmara espaçadora de 16 mm, preenchida com gás argônio + float incolor 6 mm.
A importância de testar as soluções
Modelos virtuais de projetos arquitetônicos são ótimas formas de garantir que o resultado final da obra seja o planejado por arquitetos e engenheiros durante as fases iniciais do projeto. No entanto, em alguns casos, apenas testar em softwares não basta.
Testes e mais testes: para garantir a fidelidade visual e de desempenho, foi construído um mockup da fachada em escala real, que passou por uma série de testes, como resistência ao vento, estanqueidade, pressão interna/externa e até sustentação em caso de abalos sísmicos (Foto: Divulgação Hewitt)
Para garantir a fidelidade visual e de desempenho do Skyglass, foi construído um mockup da fachada em escala real, antes de a construção ser iniciada. Essa estrutura, do tamanho de dois andares e meio, passou por uma série de testes a respeito de requisitos essenciais ao projeto, como resistência ao vento, estanqueidade, pressão interna/externa e até sustentação em caso de abalos sísmicos. Os testes nessa amostra gigante foram realizados numa instalação em Fresno, na Califórnia.
Ficha técnica Projeto: Skyglass Local: Seattle (EUA) Arquitetura: Hewitt Conclusão da obra: março de 2024 Processadoras dos vidros: Beijing Wuhua Tianbao Glass e Cardinal Glass
Projetar e instalar fachadas de vidro envolve diversos processos complexos – da especificação à instalação e manutenção, passando ainda pelo processamento correto das peças, manuseio etc. Se a fachada for inclinada, então, dá-lhe mais cuidados para serem levados em conta. Afinal, esse tipo de estrutura precisa de cuidados extras durante as diferentes etapas do trabalho.
Sabendo disso, O Vidroplano conversou com projetistas e instaladores para entender quais são os desafios que essas fachadas oferecem.
Positiva ou negativa?
O mais importante conceito para se analisar as fachadas inclinadas é o tipo de inclinação delas.
Inclinação positiva: quando a projeção da fachada ocorre para dentro da edificação – nesse caso, a estrutura se assemelha a um escorregador;
Inclinação negativa: quando a projeção ocorre para o lado externo da edificação – ou seja, a estrutura se assemelha a uma marquise.
É a partir dessa diferenciação que todo o projeto da esquadria e do vidro serão pensados. Por isso, você verá bastante os dois termos ao longo da reportagem.
O Birmann 32 é um marco da arquitetura corporativa na região da Faria Lima, um dos principais centro financeiros de São Paulo. O prédio ganhou fachadas de insulados com peças de controle solar Neutral Plus 50, da linha SunGuard High Performance, da Guardian, processadas pela GlassecViracon. A estrutura foi desenvolvida pela Itefal, com consultoria da Crescêncio Engenharia (foto: Levi Gregorio)
Como fica a especificação
Os cálculos necessários para o dimensionamento da espessura dos vidros em fachadas inclinadas são mais complexos e exigem mais etapas do que para a vertical. É preciso considerar, por exemplo, tanto o peso próprio do vidro como as pressões de vento. “Com inclinação positiva, o vidro cria uma carga adicional sobre os suportes inferiores, o que aumenta a necessidade de reforços nesses pontos”, comenta o engenheiro-consultor da TG Technical Group, Maurício Margaritelli. “Com inclinação negativa, além da pressão negativa causada pelo vento, a tração nos sistemas de fixação é maior, exigindo maior resistência dos pontos de ancoragem e das vedações.”
Em relação às fachadas coladas com silicone estrutural, é essencial prestar maior atenção à estrutura de suporte. O silicone resiste aos esforços de vento, mas não pode ser responsável por suportar o peso do vidro. “Para isso, é necessário prever reforços mecânicos, como ganchos ou suportes secundários, que possam aguentar as cargas verticais. A omissão desse cuidado pode comprometer a segurança da fachada”, alerta Margaritelli. “Além disso, as larguras das juntas estruturais devem ser maiores, para suportar a força constante de arrancamento”, informa o diretor da Avec Design, José Guilherme Aceto.
O clima também deve ser levado em conta. Se a fachada estiver em uma região sujeita a neve, por exemplo, o peso dela precisa ser considerado em fachadas inclinadas positivamente. Esse não é o caso do Brasil, embora o Sul do País seja uma região marcada por frequentes geadas durante as épocas frias do ano – o que traz maior carga ao vidro instalado nesse tipo de estrutura.
Parte das placas laminados da fachada do Faria Lima Plaza, em São Paulo, foi montada com diferentes inclinações positivas e negativas, o que representou grande desafio na hora da especificação – a Crescêncio Engenharia prestou consultaria para a montagem da estrutura (foto: Divulgação Crescêncio Engenharia)
Em busca da instalação perfeita
Parece óbvio, mas vale ser ressaltado: devido à inclinação, o acesso dos operários para a instalação desse tipo de fachada é muito mais complexo – e, por isso, equipamentos devem ser usados para superar esses obstáculos e oferecer a segurança necessária à equipe que está realizando essa atividade (como balancins). “Toda a operação logística de transporte vertical até a instalação é sempre um grande desafio. Outro aspecto importante é o cuidado que se deve ter com a precisão da montagem da fachada. Nesse caso é importante considerar equipamentos de controle de dimensão a laser, e até estações topográficas, para evitar desvios que venham a comprometer a qualidade final da esquadria”, afirma Petrucci.
Para o engenheiro Henrique de Lima, diretor-presidente da Itefal, o tipo de sistema da fachada influencia as dificuldades no momento da instalação. “O sistema unitizado requer maior cuidado na hora de encaixe e acomodação dos painéis. Os painéis precisam ser posicionados na angulação da inclinação e, como estão içados, esse processo requer mais atenção e habilidade”, comenta. “Já no caso do sistema stick, o principal cuidado está no equipamento auxiliar de instalação, uma vez que as inclinações interferem no distanciamento habitual de balancins, por exemplo, obrigando em algumas situações o trabalho com cabos guia ou avanços pantográficos, a fim de conseguir o acesso necessário.”
Com inclinação negativa de 10 graus, o Terminal Marítimo de Passageiros de Salvador possui 4.800 m² de laminados verdes (12 mm), da Guardian, processados pela Iguatemi Vidros (foto: Xico Diniz)
Outros tópicos relevantes para a hora de projetar
Mais sobre os ventos: a pressão de vento em uma fachada inclinada é afetada pela geometria da estrutura. O vento pode gerar pressão positiva, quando empurra o vidro para dentro, e pressão negativa, chamada de sucção, quando puxa o vidro para fora. Essas variações afetam não apenas a resistência do vidro, mas também os perfis de ancoragem e os sistemas de fixação, os quais devem ser dimensionados para resistir a esses esforços combinados. Segundo Aceto, da Avec, o peso dos vidros laminados deve ser considerado como carga permanente nas fachadas de inclinação positiva quando submetidos à tensão máxima admissível de 5,7 MPa (megapascal, unidade para medir pressão), conforme indicam a ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil — Projeto, execução e aplicações e normas internacionais. Em uma instalação que sofrerá com rajadas de vento, esse valor aumenta para 23,3 MPa. “No entanto, muitas vezes, somente o peso das peças excede essa tensão, sendo um impeditivo para uso de chapas somente laminadas. Já para vidros com tratamento térmico, sejam temperados ou termoendurecidos, a tensão admissível passa a ser de 52 a até 93 MPa”;
Vedação: numa fachada positiva, o sistema de vedação precisa ser determinado considerando a área de contribuição de água decorrente dessa projeção. “Nesse caso a geometria das gaxetas de vedação e dos perfis de alumínio deve ser desenvolvida para proporcionar o escoamento para o lado externo”, explica Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da Crescêncio Engenharia. “Já na fachada negativa, as exigências em relação à estanqueidade da esquadria são diferentes, pois a gravidade atua sempre a favor”;
Deflexão do vidro: dependendo da inclinação e da espessura do vidro adotado, o peso da chapa pode ocasionar flexão no centro dela, provocando um efeito de distorção óptica indesejado.
Como manter as estruturas em ordem
É possível afirmar que o processo de manutenção das fachadas inclinadas pode ser mais desafiador que a própria instalação da estrutura. “Diversas fachadas contemplam pinos receptáculos para ancoragem de equipamentos que propiciam acesso às fachadas. Há de se destacar também que, em função de seu posicionamento, fachadas positivas sofrem maior acúmulo de chuva bem como sujidades e, dessa forma, requerem limpeza em intervalos de tempos menores”, alerta Henrique de Lima, da Itefal.
Pinos de retenção (comumente mados de washing bolts) e pinos de desvio de direção são fundamentais para garantir aos operários as condições de segurança, equilíbrio e mobilidade necessárias durante o processo de limpeza e manutenção. Em alguns empreendimentos, o uso de equipamentos mecânicos como gôndolas ajuda de forma efetiva esse tipo de trabalho.
Por isso, é crucial monitorar regularmente o estado dessas fixações e reforços mecânicos, especialmente em fachadas coladas com silicone estrutural, para garantir que os sistemas estejam funcionando conforme o projeto.
Em formato de pirâmide, o Hospital de Amor, em Barretos (SP), ganhou vidros laminados Sunlux (10 mm), da AGC, nas versões azul e com serigrafia. Responsável pela instalação, a Avec Design utilizou o sistema Ecoglazing, desenvolvido pela própria empresa (foto: Divulgação Avec Design)
Eficiência energética
“A escolha correta da inclinação, combinada com vidros de controle solar, pode reduzir o consumo de energia no edifício”, explica Maurício Margaritelli. “No entanto, inclinações malprojetadas podem resultar em problemas de superaquecimento, especialmente em fachadas com inclinação positiva e grande exposição solar.”
Nas fachadas com inclinação positiva, a exposição aos raios solares é mais prolongada, já que o ângulo amplifica a exposição direta ao Sol, aumentando o ganho térmico e fazendo com que a temperatura do vidro atinja valores mais elevados.
Por isso, o dimensionamento da espessura e a escolha da peça devem considerar o acréscimo de temperatura. Para os casos de fachadas com inclinação negativa, esse tipo de preocupação é relativamente menor.
Foi-se a época em que grandes pontos turísticos tinham o vidro como mero coadjuvante: de uns anos para cá, em vários locais do mundo, diversas obras voltadas para o turismo têm nosso material como principal elemento arquitetônico e construtivo. No Brasil, a tendência se consolidou com a construção de mirantes em lugares como São Paulo, Canela (RS) e Balneário Camboriú (SC), que levam milhares de visitantes a suas instalações para terem novas, e belas, visões dessas cidades e da natureza que as cerca.
Para celebrar o apelo estético e visual que o vidro passou a despertar para essas construções, O Vidroplano lista alguns dos projetos mais incríveis do tipo – afinal, eles têm um papel muito importante: reforçar a imagem do vidro como um material seguro, confiável e resistente para o consumidor final. Boa viagem!
Um complexo de mais de R$ 30 milhões, localizado em uma bela região natural do Vale da Ferradura, a 360 m de altura sobre o rio Caí, em meio a florestas de araucárias, pássaros e animais silvestres: esse é o Skyglass Canela, inaugurado no final de 2020. O espaço é composto por três atrações:
Skyglass: uma plataforma de observação com 68 m de extensão, sendo 35 m sobre o Vale da Ferradura, recorde mundial para construções em cima de cânions;
Abusado: monotrilho instalado abaixo da plataforma, formado por dez cadeiras suspensas. Ele funciona como uma montanha-russa, mas a uma velocidade baixa, para permitir que as pessoas apreciem a vista;
Memorial do Ferro de Passar: museu com cerca de trezentas peças referentes a esse utensílio milenar.
Os pisos da plataforma contam com multilaminados 43 mm, compostos por peças temperadas extra clear, com interlayer estrutural SentryGlas (da Kuraray). Os guarda-corpos também são envidraçados: 42 peças de extra clear temperado e laminado (10 + 10 mm), com SentryGlas.
(Saiba mais sobre a obra emO Vidroplanonº 578, de fevereiro de 2021)
Foto: Fernando/stock.adobe.com
THE LEDGE Local: Chicago, EUA Processadora: Prelco
Um dos precursores entre os mirantes totalmente envidraçados, o The Ledge, instalado no alto do edifício Willis Tower, em Chicago, foi erguido no já longínquo 2009. Parte da atração Skydeck, espaço que conta a história da cidade americana, a estrutura conta com dois cubos de vidro a quase 400 m de altura, oferecendo visão perfeita de toda a região do lago Michigan graças ao uso de peças extra clear laminadas com SentryGlas. Os visitantes podem ficar tranquilos em relação à segurança do espaço: os cubos foram projetados para suportar 5 t de peso.
Foto: Cris Martins
SAMPA SKY Local: São Paulo Fabricante dos vidros: Guardian Processadora: GlassecViracon
Aberto ao público em 2021, o Sampa Sky já se tornou um símbolo paulistano: ganhou até novos decks no fim do ano passado, tamanha a demanda para visitar o espaço. A atração está no 42º andar do Mirante do Vale, prédio que foi o mais alto do País durante décadas. Com 1.400 m² de área, o Sampa Sky tem um café em suas dependências – e pode receber eventos corporativos e sociais.
Multilaminados temperados foram instalados ali – e a especificação é robusta: quatro peças com 10 mm cada (sendo a externa de ClimaGuard SunLight e as internas de float incolor), unidas por PVBs estruturais DG41, da Eastman. O uso de vidros de controle solar ajuda a reduzir a necessidade de iluminação artificial, assim como o uso de ar-condicionado.
(Saiba mais sobre a obra emO Vidroplanonº 584, de agosto de 2021)
Foto: Summit One Vanderbilt
SUMMIT ONE VANDERBILT Local: Nova York, EUA Fabricante dos vidros: AGC Processadora: Glass Flooring Systems
Outro espaço com múltiplas atrações, o Summit One Vanderbilt, pode-se dizer, é uma celebração do vidro. A obra, localizada no edifício One Vanderbilt, em Manhattan, tem várias instalações:
Levitation: mirante com dois decks envidraçados que “saltam” da fachada. Estão a mais de 300 m de altura, bem em cima da Avenida Madison, e são de multilaminados com o vidro antirreflexo Clearsight;
Ascent: o maior elevador externo do mundo totalmente feito com nosso material. O acesso a ele se dá por um terraço, de onde é possível enxergar até 128 km de distância. Também feito com multilaminados com o vidro antirreflexo Clearsight;
Air: criada pelo renomado artista Kenzo Digital, a área oferece diversas experiências sensoriais com o vidro. São dois andares revestidos de laminados espelhados (chapa incolor + interlayer SentryGlas + chapa de espelho), instalados no chão, teto e colunas. Andar por ali é como flutuar em uma sala infinita: tem-se a impressão de que existem vários andares acima e abaixo de onde está, mas, na verdade, são os reflexos confundindo a sua sensação espacial. Quase 1.000 m² de vidros foram usados somente nessa parte do Summit.
(Saiba mais sobre a obra emO Vidroplanonº 587, de novembro de 2021)
Foto: Divulgação Linde Vidros
SUMMIT BC Local: Balneário Camboriú (SC) Fabricante dos vidros: AGC Processadora: Linde Vidros
Conhecido como “Dubai brasileira”, por conta de suas praias, vida noturna e empreendimentos residenciais de alto luxo, o Balneário Camboriú também entrou na onda dos mirantes. O Summit BC, concluído em maio deste ano no alto do Edifício Imperatriz, conta com dois cubos suspensos a 128 m do chão. Para permitir vista panorâmica deslumbrante da bela orla da cidade, foram utilizados vidros extra clear, usados em temperados multilaminados com SentryGlas.
E se esse tipo de estrutura já é um grande feito de engenharia, o Summit BC se destaca ainda mais, pois estão 2,5 m para fora do edifício. Os administradores do espaço entraram com um pedido para o Guinness World Records reconhecer a obra como a maior nesse quesito – para efeito de comparação, o The Ledge, em Chicago, tem 1,31 m para fora, enquanto o Sampa Sky, quase 2 m.
(Saiba mais sobre a obra emO Vidroplanonº 621, de setembro de 2024)
Foto: Related-Oxford
EDGE Local: Nova York, EUA
No 100º andar de um dos arranha-céus que fazem parte do complexo Hudson Yards, o Edge oferece uma inacreditável visão de 360 graus da ilha de Manhattan. Pesando quase 350 t, a obra representou um desafio arquitetônico, já que se estende 24 m para fora do prédio. Ela é formada por quinze seções diferentes, ancoradas aos lados Leste e Sul do edifício. Com formato triangular, um dos destaques do espaço é uma parte de seu chão, feita de multilaminados, com 20 m² de área. Ali, o visitante sente que está “flutuando” no alto da Big Apple. Os guarda-corpos da área também são totalmente envidraçados: são 79 painéis de laminados, com 2,74 m de altura cada. Os vidros foram fabricados na Alemanha e processados na Itália.
(Saiba mais sobre a obra emO Vidroplanonº 567, de março de 2020)
Foto: Divulgação Secretaria Municipal de Turismo do Guarujá
MIRANTE DAS GALHETAS Local: Guarujá (SP)
Se estiver passeando pela região da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, não deixe de visitar o Mirante das Galhetas. Localizado no Morro da Caixa D’Água, a atração conta com uma estrutura totalmente composta de multilaminados, suspensa a 45 m do nível do mar. Dali, é possível ter um belo panorama da praia do Tombo – e o local também é adequado para a prática de voo de parapente. O acesso ao Mirante das Galhetas é gratuito.
Foto: Konce Agência-Associação Amigos de Cristo de Encantado
Acredite: o monumento mais alto do Brasil representando Jesus Cristo não é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, mas sim o Cristo Protetor, na cidade de Encantado. Enquanto o famoso ponto turístico carioca mede 38 m de altura, a atração gaúcha tem 43,5 m. Construída com recursos oriundos de doações, a obra foi iniciada em julho de 2019, no morro das Antenas. Seu grande diferencial para outros monumentos do tipo espalhados pelo Brasil é o coração envidraçado instalado no peito da estátua: um elevador leva os visitantes até o espaço, possibilitando uma vista privilegiada da cidade e do vale do Taquari. Para que isso fosse possível, foram aplicados temperados laminados incolores (10 +10 mm) na fachada da instalação.
O Brasil tem uma nova tradição no quesito atrações turísticas: os mirantes envidraçados. Desde o fim de 2020, com a inauguração do Skyglass Canela (no Rio Grande do Sul), esse nicho da construção ganha cada vez mais espaço, encantando milhares de visitantes – vale incluir na lista o Sampa Sky, em São Paulo, e o Mirante das Galhetas, no Guarujá (SP), todos mostrados nas páginas de O Vidroplano. E agora, mais um exemplo incrível desse tipo de obra, que atua para reforçar o quão seguro é o vidro, está aberto ao público: o Summit BC, localizado no Balneário Camboriú (SC).
Cheia de encantos
Famosa pelas praias e vida noturna vibrante, Camboriú não ganhou o apelido de “Dubai brasileira” à toa: recebe inúmeros empreendimentos residenciais de alto luxo. E é no alto do Edifício Imperatriz, um dos icônicos espigões da cidade, que está instalado o Summit BC.
A atração conta com dois cubos suspensos a 128 m do chão, no 29º andar, oferecendo vista panorâmica deslumbrante da bela orla da cidade. Como não poderia ser diferente nesse tipo de estrutura, todas as suas paredes e piso são de vidro: a sensação é de flutuar sobre a paisagem urbana e a imensidão do oceano. Um dos cubos está voltado para o Norte, enquanto o outro tem visão para o Sul – assim, é possível apreciar diversos pontos turísticos da região, como o Molhe da Barra Sul e a Ilha das Cabras.
Experiências
Administrado pela empresa First e com projeto do engenheiro Ary Manuel Onofre, da ConstruÁgil, o espaço foi pensado para oferecer uma experiência completa ao visitante. O acesso ao mirante já é diferenciado, feito por um elevador panorâmico que oferece uma prévia da incrível vista a ser encontrada. Lá no alto, um grande lounge com o Prawer Café e um restaurante coordenado pelo chef paranaense Fabiano Gulanoski, que detém o título de embaixador do sushi no Brasil, permitem relaxar e aproveitar uma bebida ou refeição.
E, então, chega-se à atração principal. Os cubos envidraçados estão entre os mais incríveis do mundo, já que contam com 2,5 m para fora do edifício. Há, inclusive, um pedido para o Guinness World Records reconhecer a obra como a maior nesse quesito – para efeito de comparação, o Sky Deck, em Chicago, tem 1,31 m para fora, enquanto o Sampa Sky tem quase 2 m. As estruturas são feitas de temperados multilaminados (três chapas de vidro extra clear, cada uma de 10 mm de espessura, com interlayers estruturais SentryGlas, da Kuraray), fornecidos pela AGC e processados pela Linde Vidros e suportam um peso de 500 kg por m².
“O Summit BC foi projetado com os mais altos padrões de segurança e utiliza tecnologia de ponta para garantir a tranquilidade dos visitantes”, explica Daniel Vanderlinde, diretor da processadora. “Os cubos são capazes de suportar grandes cargas e impactos, proporcionando uma experiência segura e emocionante”. A escolha por chapas extra clear, muito mais transparentes que outros tipos de vidro, possibilitou uma visão perfeita da cidade.
Você é um fã do vidro? Então, coloque o Balneário Camboriú na lista de suas próximas viagens.
Ficha técnica Projeto: Summit BC Local: Balneário Camboriú (SC) Conclusão da obra: maio de 2024 Fabricante dos vidros: AGC Processadora dos vidros: Linde Vidros
Como visitar o Summit BC Localização: Avenida Atlântica, 2.554 (cobertura do Edifício Imperatriz), Centro, Balneário Camboriú (SC) Horário de funcionamento: segunda a sexta-feira, das 11 às 20 horas; sábados e domingos, das 9 às 20 horas Ingressos: podem ser adquiridos na bilheteria local ou pelo sitesummitbc.com.br
A categoria mais concorrida no 1º Prêmio Abravidro Glass South America foi “Projetos e Obras que Empregam Vidros”: eram 94 projetos arquitetônicos de primeira linha indicados por empresas vidreiras, todos brigando por apenas um troféu. E o vencedor não poderia ser uma construção mais inspiradora no uso de nosso material: conhecida como Rua da Saúde, a cobertura envidraçada que protege a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre une design arrojado a uma moderna tecnologia estrutural para criar uma obra-prima do vidro.
Inspirações de renome mundial
A obra cobre uma área de 4.400 m² da Santa Casa, oferecendo proteção para pacientes, médicos e visitantes do local. Criada a partir dos conceitos da arquitetura orgânica (que busca reproduzir formas e movimentos encontrados na natureza), a construção foi pensada pelos arquitetos Gustavo e Marcelo Seferin, da Seferin Arquitetura. A inspiração veio de duas renomadas obras internacionais: a pirâmide localizada na entrada do Museu do Louvre e a cobertura ondulada da Fiera Milano, espaço de exposições em Milão, na Itália, onde ocorre a tradicional feira vidreira Vitrum.
A cobertura ganhou uma estrutura do tipo gridshell, que utiliza nós estruturais para interligar os painéis. Essa foi a solução encontrada para suportar 1.750 peças triangulares de vidro laminado (6+6 mm), feitos de Cool Lite ST 136 (da Cebrace), encaixadas em um formato ondulado. “Nosso grande desafio foi viabilizar essa estrutura considerando o mínimo de apoios para a redução de interferências com a infraestrutura hospitalar”, explica Miriam Sayeg, diretora da sbp Latam, braço local da consultoria alemã de engenharia schlaich bergermann partner. A empresa, responsável pela concepção estrutural da Rua da Saúde, elaborou ainda o projeto da entrada principal do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, que também conta com formas orgânicas.
Desafios
As estruturas gridshell permitem maior liberdade de curvatura, assim como cobrir grandes áreas sem a necessidade de apoios intermediários. “Estudou-se a melhor modulação estrutural, de forma a garantir a curvatura volumétrica desejada”, revela Miriam. “Quando corretamente definidas, as gridshells otimizam a performance estrutural de seus elementos e, na Rua da Saúde, garantiram seções muito esbeltas, cheias de leveza.”
Responsável pela instalação e fixação dos vidros, a Avec Design utilizou um sistema próprio para o encapsulamento das peças. “Trabalhamos totalmente em 3D, digitalizando as medidas dos quase 2 mil triângulos de vidro. Nosso sistema Ecoglazing, que utiliza o VES (vidro encapsulado em silicone) é capaz de cumprir geometrias complexas, com qualidade e durabilidade”, comenta José Guilherme Aceto, diretor da empresa.
Para a Cyberglass, processadora de São Paulo que forneceu os vidros para a obra, esse projeto foi um dos mais desafiadores já enfrentados pela empresa. “Passamos por uma extensa fase preparatória antes de podermos iniciar a produção”, explica Rodrigo Seixas Guerrero, seu diretor de Operações. “Recebemos os desenhos de cada um dos triângulos, com suas respectivas medidas, e podemos afirmar com segurança que não há uma única peça de tamanho repetido”. Segundo Guerrero, foram semanas posicionando cada ângulo, realizando cortes e marcações necessárias para destacar os vidros. “As entregas também foram desafiadoras, pois acomodar triângulos com ângulos diferentes é uma tarefa bastante arriscada.”
Conferindo as fotos desta reportagem, chega-se a uma conclusão bastante óbvia: todo o trabalho para a cobertura envidraçada ficar pronta foi complexo, detalhista, único – mas valeu cada gota de suor.
220 anos de história na saúde
Mais antigo hospital do Rio Grande do Sul, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre é formada por nove hospitais: duas unidades consideradas “gerais” (uma para atendimento de adultos e outra pediátrica) e cinco voltadas para especialidades (cardiologia, neurocirurgia, pneumologia, oncologia e transplantes). O Hospital Dom João Becker, da cidade de Gravataí, também faz parte do complexo.
Além de disponibilizar à população serviços de consultas ambulatoriais e de diagnóstico e tratamento, procedimentos cirúrgicos e internações, entre outros atendimentos, o espaço desenvolve intensa atividade de ensino e pesquisa, sendo, desde 1961, o hospital-escola da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Ficha técnica Projeto: Rua da Saúde Local: Porto Alegre Conclusão da obra: outubro de 2023 Arquitetura e engenharia: Seferin Arquitetura e sbp schlaich bergermann partner Fabricante dos vidros: Cebrace Processadora dos vidros: Cyberglass Instalação dos vidros: Avec Design
Acabou a ansiedade: no fim do dia 12, durante o primeiro dia da Glass, foram divulgados os vencedores do 1º Prêmio Abravidro Glass South America, a iniciativa criada por Abravidro e NürnbergMesse Brasil (NMB) para reconhecer as marcas que atuam nos diversos elos da cadeia vidreira. A cerimônia de entrega aconteceu na Arena de Conteúdo, reunindo diversos profissionais do setor.
Antes do anúncio dos vencedores, houve espaço para breves discursos. O presidente da Abravidro, Rafael Ribeiro, agradeceu fato de o setor ter abraçado a iniciativa: “É uma satisfação imensa. A gente se sentiu muito reconhecido pelo movimento que a premiação encontrou. A iniciativa foi criada justamente para valorizar toda essa cadeia”. O CEO da NMB, João Paulo Picolo, também falou: “Este é um ano muito especial, afinal a NMB celebra quinze anos de história e a Glass chega à 15ª edição. A estreia da E-squadria Show e este prêmio vieram para celebrar esse momento”. Após a cerimônia, um coquetel reuniu as empresas para celebrarem suas conquistas.
Números do prêmio
10 categorias
105 empresas inscritas
94 obras com vidro inscritas
31 escritórios de arquitetura inscritos
6 mil votos na fase de votação popular
VENCEDORES DO 1º PRÊMIO ABRAVIDRO GLASS SOUTH AMERICA
Fabricantes de Vidros Planos
Cebrace
Processadores de Vidro – Região Sul
Vipel
Processadores de Vidro – Região Centro-Oeste
LM Vidros
Processadores de Vidro – Região Sudeste
GlassecViracon
Processadores de Vidro – Região Nordeste
Casas Bandeirantes
Processadores de Vidro – Região Norte
Portal Vidros
Fabricantes de Ferragens e Acessórios para Vidro
AL Indústria
Fabricantes de Máquinas e Equipamentos para Processamento de Vidro
Lisec
Fabricantes de Sistemas para Envidraçamentos
Roll Door
Fabricantes de Insumos para o Processamento de Vidro
Eastman
Fabricantes de Selantes, Gaxetas e Adesivos (Materiais para Fixação e Vedação)
Dow Brasil
Vidraçarias – Região Sul
Steinglass
Vidraçarias – Região Nordeste
Sujvidros
Vidraçarias – Região Sudeste
Decorvid
Vidraçarias – Região Centro-Oeste
Blindex Store Goiânia
Projetos e Obras que Empregam Vidros
Rua da Saúde, em Porto Alegre (RS)
Execução do projeto: Avec Design
Fornecimento de vidros processados: Cyberglass
Arquitetos Especificadores de Obras com Vidro
Zanettini Arquitetura
Prêmio recebido por Flávio Vanderlei, da Cebrace, usina responsável pela indicação do escritório
O Mar de Espelhos está entre as obras indicadas na categoria Arquitetura Cultural no Prêmio Obra do Ano, organizado pelo portal ArchDaily para celebrar o melhor da arquitetura nos países de língua portuguesa. Os vencedores serão anunciados no dia 4 de abril. “Quando a ideia nos foi trazida pelo Instituto do Vidro, chancelamos o projeto e fizemos todo o acompanhamento durante o processo da obra para que as normas técnicas fossem obedecidas”, comenta Antonio Skardanas, presidente do Sincavidro-RJ. “A paisagem do Rio tornou-se nossa maior inspiração: o fim de tarde refletido sobre as marés, o reluzir das águas que escorrem nas encostas, os picos que recortam a bruma nas manhãs de inverno, o reflexo dos edifícios. Cada espaço da instalação traz uma leitura do mundo e das pessoas que aqui estão, propondo uma experiência de revelação ao descortinar diferentes emoções”, explica o arquiteto Celso Rayol, sócio-proprietário da Cité Arquitetura, responsável pela obra.
Nova York é um berço para ideias inovadoras no uso de vidro na construção. Loja da Apple na Quinta Avenida, mirante Summit One Vanderbilt, monumento The Vessel: são várias as obras que exploram o uso de nosso material de maneira ousada, quase futurista – não à toa, todas as citadas já apareceram nas páginas de O Vidroplano. Dando sequência à tradição da cidade em empreendimentos envidraçados marcantes, há menos de dois anos foi erguido o The West Residence Club, prédio residencial com design inspirado em blocos e fachadas com vidro.
Revitalização
O projeto, desenvolvido pelo escritório de arquitetura Concrete, é mais um passo na renovação do bairro de Hell’s Kitchen (“Cozinha do Inferno”), em Manhattan. Conhecida por seu caráter industrial, a região sofreu com a violência e o abandono ao longo dos anos 1980 e 1990. Porém, a partir da metade da primeira década de 2000, teve início um movimento para revitalizar o local – que hoje conta com vizinhança vibrante e dinâmica, cheia de pequenos prédios residenciais, restaurantes e lojas.
Foto: Raimund Koch for The West and Concrete
Vida compartilhada
Com 222 apartamentos, o The West reforça ainda mais esse novo caráter hospitaleiro de Hell’s Kitchen. O prédio se divide em duas partes, ambas marcadas por espaços comuns que criam um aspecto de comunidade para quem vive ali. A primeira delas é a base do edifício, que oferece uma experiência tipo loft, com grandes janelas e uma robusta fachada de tijolos, fazendo referência ao clássico estilo dos edifícios da cidade.
Acima, encontram-se apartamentos que mais parecem caixas empilhadas. Com fechamentos de vidro do chão ao teto, foram projetados para aproveitar ao máximo a vista do rio Hudson e do skyline de Manhattan. A disposição desses apartamentos cria orientações únicas para cada um deles, reforçando a ideia principal do projeto: estar conectado com seu arredor.
Foto: Ewout Huibers for Concrete
Comodidades
A nova realidade de trabalhar em casa é outro ponto levado em conta pelos arquitetos. Nos jardins, a obra tem uma estufa envidraçada repleta de estantes de livros, lareira e uma grande mesa de trabalho, além de salas para reunião repletas de material e equipamentos de escritório.
Existe ainda academia de pé-direito duplo, brinquedoteca para crianças e até quartos internos, em estilo hotel, que podem ser reservados para visitantes. O deck da cobertura acomoda um pequeno parque, com piscina, churrasqueira, pista de corrida para cães e uma cozinha comunitária com espaço para refeições. Um belo jeito de se viver na metrópole mais globalizada do mundo.
Foto: Ewout Huibers for Concrete
Ficha técnica Projeto: The West Residence Club Local: Nova York (EUA) Conclusão da obra: 2022 Arquitetura: Concrete
São Paulo ganhou mais um espigão que tem tudo para se tornar ícone local das fachadas envidraçadas. Localizado na tradicional Rua da Consolação, o Passeio Paulista ganhou vidros de controle solar. A tecnologia vidreira já se provou fundamental para a melhora do bem-estar dos usuários de edificações como essa – e, obviamente, um projeto do escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos não deixaria de aplicar peças de nosso material cheias de tecnologia e valor agregado.
Vida e negócios
De uso misto, o prédio tem como autores a equipe de arquitetos composta por Roberto Aflalo Filho, Luiz Felipe Aflalo Herman, José Luiz Lemos e Grazzieli Gomes Rocha. Inclusive, a obra recém-inaugurada (ficou pronta em novembro) já foi reconhecida no segmento da construção: o GRI Awards a premiou na categoria Projeto Corporativo. A honraria é concedida pelo GRI Club, organização que conecta executivos sêniores dos mercados imobiliário e de infraestrutura.
Segundo Aflalo/Gasperini, o projeto, com mais de 70 mil m² construídos, foca nas chamadas diretrizes “Triple A” para edificações, as quais promovem qualidade de vida, sustentabilidade e bem-estar. As soluções adotadas têm o objetivo de potencializar a vida urbana. Por isso, o Passeio Paulista é separado em seções. A parte corporativa se divide em uma torre de 21 andares, com 3 pavimentos em cada um deles. Um átrio central permitiu a criação de uma praça verde no piso térreo, pelo qual circulam moradores e usuários do comércio local – essa ideia, bem próxima do conceito de fachada ativa, proporciona maior segurança a quem anda por ali, pois sempre terá gente indo e vindo, além de maior incidência de luz. O topo desse volume também foi aproveitado como espaço de convivência, contendo um jardim com vistas para a cidade.
Temperatura na medida
Um dos elementos-chave para o visual imponente do prédio, e que contribui de maneira essencial para sua eficiência energética, é a fachada de 26 mil m², composta de peças de SunGuard AG43, da Guardian, processadas pela GlassecViracon. As pérgolas e caixilhos metálicos nos quais as peças estão instaladas marcam a identidade do projeto, trazendo linhas horizontais fluidas à estrutura.
A Crescêncio Engenharia atuou como consultora para a caixilharia de alumínio do projeto. “O maior desafio dessa obra foram os vidros de grande dimensão e toda a logística envolvida na instalação dos módulos de fachada unitizada”, conta o engenheiro Crescêncio Petrucci, sócio-fundador da empresa. “Foram utilizados laminados e insulados nas faces mais expostas à insolação, com a dificuldade extra de garantir a homogeneidade de cor das peças.”
Ficha técnica Projeto: Passeio Paulista Local: São Paulo Conclusão da obra: novembro de 2023 Arquitetura: Aflalo/Gasperini Arquitetos
Um prédio que utiliza nosso material de forma ousada e ainda homenageia um traço relevante da cultura brasileira – esse é o armazém da Carmo Coffees, localizado em Três Corações (MG). No alto da fachada do edifício, uma estrutura curva no formato de grão de café chama a atenção imediata de quem passa pela rodovia BR-381. Esse feito arquitetônico teve reconhecimento internacional: vitórias em dois dos maiores prêmios do setor no mundo, o ArchDaily Building of the Year (categoria Arquitetura Industrial) e o Architizer A+Awards (categoria Fábricas & Armazéns).
Cuidado com a matéria-prima
Segundo a fabricante da bebida, o armazém é uma etapa essencialmente importante na cadeia de cafés especiais. Por isso, a necessidade de construir um espaço amplo e moderno: ao todo, o local tem capacidade de processamento de 40 mil sacas por mês, com espaço para guardar até 170 mil sacas de 60 kg cada. Além disso, conta ainda com usina fotovoltaica própria, gerando cerca de 38 mil kw/h mensais.
E já que internamente a tecnologia deveria ser de primeira qualidade, por que não fazer algo diferenciado também na parte exterior? O tradicional escritório Gustavo Penna Arquiteto e Associados foi o encarregado de criar um design que se ligasse ao negócio. “Vamos elogiar o café. Eu não iria imaginar um prédio pra elogiar o prédio. Então, fazer do grão o grande protagonista é a ideia que norteia esse trabalho”, comentou Gustavo Penna em reportagem do Jornal da Band.
Cuidado radical: limpeza da parte externa do “grão” é feita por profissionais em rapel
Elegia ao grão
Em cima do edifício horizontalizado fica a referência principal do projeto: uma esfera côncava e translúcida, quase uma claraboia, da cor do café torrado. Durante o dia entra por ali a luz do Sol – à noite, a construção é iluminada de dentro para fora. Segundo o escritório, o formato do prédio, com essa estrutura encaixada no topo, representa algo em movimento, sendo transportado para todos os cantos.
A responsabilidade de montar esse “grão de café” ficou com a Vidraçaria Bom Pastor, de Varginha (MG). De acordo com João André de Brito, fundador da empresa, cada peça de vidro teve de ser modelada em um tamanho próprio para que se encaixasse num formato de domo geodésico. “Foi um desafio enorme. A maior dificuldade foi achar o ângulo ideal para estruturar as ferragens”, explica. A vidraçaria teve de, literalmente, montar uma serralheria no local para diminuir possíveis problemas logísticos.
A especificação utilizada foi de laminados feitos com o vidro de controle solar Habitat, da Cebrace, na configuração bronze 4 mm + PVB incolor + incolor 4 mm. As peças acabaram instaladas em um sistema de pele de vidro em ângulo da Blindex.
Conheça a Carmo Coffees
Fundada em 2007, a empresa produz cafés especiais, tendo se tornado exportadora do produto para clientes ao redor do mundo. Atualmente, a fabricante conta com escritórios em quatro cidades mineiras: Carmo de Minas, Pedralva, Lambari e em Três Corações, com o recém-inaugurado armazém.
Ficha técnica
Projeto: armazém da Carmo Coffees Local: Três Corações (MG) Arquitetura: Gustavo Penna Arquiteto e Associados Especificação dos vidros: laminados de controle solar Habitat, da Cebrace, na configuração bronze 4 mm + PVB incolor + incolor 4 mm Processadora: Pestana Vidros Especificação e instalação: Vidraçaria Bom Pastor
Foi-se o tempo em que as pessoas tinham medo de andar sobre pisos envidraçados. A solução está cada vez mais presente em obras de grande escala, sejam elas mirantes, centros comerciais ou instalações artísticas, comprovando a segurança e a resistência do material.
E já que essa estrutura se tornou mais popular, O Vidroplano traz informações preciosas para sua especificação. Como calcular a espessura das chapas? Qual a importância dos apoios das peças? Quais os cuidados na hora da instalação? Confira tudo isso nesta reportagem especial.
Qual vidro usar?
A ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações classifica os pisos de vidro como instalações especiais e define que o único vidro que pode ser utilizado nesse tipo de aplicação é o laminado de segurança.
Somente laminados de segurança podem ser instalados em pisos, sendo compostos por peças de vidros comuns ou temperados. Dessa forma, em caso de quebra, os fragmentos ficarão presos nos interlayers, evitando possíveis acidentes.
Cálculo, o momento da verdade
O cálculo estrutural desempenha um papel fundamental na especificação de um piso de vidro: é a etapa responsável por determinar com precisão os esforços e cargas que a estrutura deve suportar. “Portanto, é o alicerce sobre o qual se constrói a confiança na integridade e no desempenho do piso ao longo do tempo”, define Leandro Gonçalves, gerente de Projetos da processadora Divinal Vidros.
Como lembra o consultor técnico da Viminas, Luiz Cláudio Rezende (conhecido no setor como Juca), essa tarefa não assegura apenas a durabilidade da instalação. “Nos projetos arquitetônicos, seja de residência, local de trabalho ou espaços comuns, como edifícios, shoppings e aeroportos, o mais importante é garantir a segurança dos usuários”, reforça.
Quem faz o cálculo
Os profissionais que transmitem maior confiança para a realização da tarefa são os engenheiros. Porém, profissionais de nosso setor também podem contar com o suporte das usinas de vidro. A Cebrace, por exemplo, conta com uma ferramenta online para cálculos estruturais de pisos e outros tipos de instalação, como visor de piscina, boxe de banheiro, tampo de mesa, prateleiras, espelhos e revestimentos.
O que levar em conta
Para realizar o cálculo estrutural de um piso de vidro, é necessário considerar diferentes informações. Escolher como será o projeto é o momento mais importante, pois dele dependem a composição das camadas do laminado e a forma de sustentação. Por isso, atenção aos seguintes tópicos:
Dimensões das chapas;
Cargas estáticas e distribuídas que atuarão sobre o piso;
Tipo de ambiente em que a estrutura será instalada.
Atenção às cargas: a possibilidade de aglomeração de pessoas e a colocação de móveis em cima de pisos devem ser levadas em consideração na hora do cálculo estrutural. Crédito: Wizdata/stock.adobe.com
De olho nas cargas
Para determinar a espessura das chapas, é preciso levar em consideração não apenas o vidro, mas todo o sistema, incluindo apoios e calços, e também o tipo de interlayer.
Devem ser previstas todas as cargas que incidirão sobre o piso, como a possibilidade de aglomeração de pessoas e a colocação de móveis pesados, o que vai gerar um peso muito além do imaginado por um longo período;
Além de aplicativos e softwares especializados para os cálculos, existem programas de engenharia que utilizam um sistema de cálculo chamado Método dos Elementos Finitos, ideal para projetos mais complexos ou que exijam precisão nos resultados;
Outro parâmetro relevante é a deflexão: o balanço e a curvatura causados por um projeto incompleto podem gerar problemas à estrutura e desconforto aos usuários.
Tipos de instalação
Dividem-se pela forma com que o vidro é “encaixado” nos vãos:
Apoiado pelas bordas, com a ajuda de bases metálicas e calços de borracha. Dessa maneira, o material não encosta em superfícies duras propensas a provocar quebra. Os apoios não podem ser de materiais higroscópicos (que absorvem umidade) ou que apodreçam;
Engastado (preso por apenas um lado por encaixe ou furos);
Parafusado ou com fixações pontuais, em dois ou mais lados da peça.
O Mirante das Galhetas, no Guarujá (SP), tem piso de laminado temperado 30 mm, especificado pela Avec Design. Crédito: Divulgação Avec Design
A importância dos apoios
“O suporte do piso desempenha um papel fundamental na integridade da solução”, explica Leandro Gonçalves, da Divinal. “Além de sustentar o peso do vidro, ele precisa ser projetado para resistir às cargas aplicadas e incorporar folgas de dilatação, de forma a evitar quaisquer danos ao vidro.” Por isso, torna-se um elemento que assegura o funcionamento seguro e duradouro da construção.
Os tipos de apoio mais comuns são de materiais como aço inoxidável, alumínio, ferro pintado e até mesmo madeira, dependendo da aplicação. “É fundamental garantir que os materiais de diferentes densidades que entram em contato com o vidro sejam intercalados com borrachas – ou outros materiais que minimizem o atrito”, alerta Gonçalves.
Jose Guilherme Aceto, diretor da Avec Design, empresa projetista de obras envidraçadas de grande porte, indica suportes de borracha: “Utilizamos exclusivamente silicone HTV, devido à sua durabilidade inigualável. É importante lembrar que o apoio deve ter a largura mínima de uma vez e meia a espessura dos vidros”.
Nas alturas: mirante Sampa Sky, em São Paulo, tem multilaminados para suportar o peso dos visitantes com segurança. Crédito: Cris Martins
Instalando com perfeição
Não basta especificar corretamente: o processo de instalação dos pisos precisa de muita atenção. Como de praxe, seguir as normas é obrigação. “Deve-se garantir que os calços de apoio atendam a ABNT NBR 7199 e possuam a dureza correta para não causar a quebra das peças”, comenta Renato Santana, coordenador de Qualidade e lean da processadora GlassecViracon. “Outro ponto é nunca instalar peças que tenham algum tipo de dano nas bordas, pois, mesmo que isso pareça superficial, pode levar à quebra futura.”
A compatibilidade dos selantes com os interlayers dos laminados é mais um tópico que não pode ser deixado de lado, com o intuito de evitar reações químicas que possam danificar as camadas intermediárias – o que levará à delaminação da peça. E durante o manuseio das chapas, é preciso extremo cuidado com impactos nas bordas: isso pode causar microtrincas.
Manutenção e cuidados pós-instalação
Como afirma Aceto, da Avec, deve-se sempre analisar o fluxo de pessoas que andará sobre um piso envidraçado também pelo lado estético. Isso rapidamente gera maior abrasão e riscos na superfície das chapas. “Assim, para proteger esses sofisticados e caros multilaminados, pode-se usar uma peça de temperado de “sacrifício”, com 6 mm de espessura, que pode ser substituída com baixo custo”, recomenda.
Outra avaliação importante: no caso de pisos sujeitos a serem molhados, a recomendação é aplicar serigrafia ou fitas antiderrapantes para evitar que se tornem escorregadios.
O deserto é reconhecido por ser um local envolto em mistério. Seu calor ardente é capaz de desorientar aqueles mal preparados para enfrentá-lo – e até mesmo criar ilusões visuais, confundindo ainda mais a mente das pessoas. Pois no Vale Ashar, região desértica em meio a montanhas de arenito na Arábia Saudita, uma construção ergue-se como miragem: o Maraya Concert Hall. A sala de concertos, um verdadeiro desafio arquitetônico e industrial com nosso material, brinca com os arredores, graças às fachadas espelhadas que a camuflam em meio à areia.
Reflexos
Com design do escritório italiano Gioforma Architects Designers and Artists, o Maraya Concert Hall foi inaugurado em 2019, entrando para o Guiness World Records, o livro dos recordes, como “maior edifício espelhado já construído”. A obra ganhou ainda o prêmio Architizer A+ Awards, em 2020, na categoria Arquitetura e Vidro – tendo sido responsável também por aumentar o interesse de turistas pelo Sítio Arqueológico Al-Hijr, localizado perto dali e certificado como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Além de sala de concertos, o espaço abriga um centro de eventos artísticos e culturais, com estrutura moderna para quinhentos espectadores. Desde sua concepção inicial pela agência do governo saudita Royal Commission for Al Ula, tinha-se em mente o uso de espelhos (inclusive, a palavra árabe maraya significa, justamente, espelho): uma tentativa preliminar de solução espelhada fracassou, pois o exterior contava com folhas gigantes de metal, refletindo uma versão distorcida da região.
Abriu-se, assim, um concurso público para escolher o melhor conceito estético. Segundo o então gerente de Mega Projetos e Parcerias Estratégicas da Guardian, Nabil El Ahmar, as propostas eram variações de vidro prateado altamente refletivo. “O designer queria um espelho de verdade em meio a areia e montanhas, e um edifício mais visível seria uma intrusão ao meio ambiente”. A partir daí, a Guardian assumiu o projeto com a tarefa de desenvolver um material capaz de resistir a condições climáticas extremas.
Prontos para o calor
A luz solar intensa poderia causar oxidação, distorção e descoloração das placas de espelhos convencionais. Por isso, foi criado um novo produto, o UltraMirror, que oferece maior durabilidade devido à presença de um revestimento protetor especial. Ao todo, 9.740 m² desse item foram instalados em todas as fachadas da construção.
A logística para o processamento do material também se tornou um desafio. Espelhos são normalmente produzidos em folhas padrão de float, enviadas a beneficiadores para o corte. Por conta das temperaturas extremas às quais as fachadas estariam expostas, o vidro precisava ser temperado antes de receber o revestimento especial – ou seja, não poderia ser cortado após essa etapa. A solução para o impasse: a Guardian mandava o float bruto para o processador, que cortava no tamanho necessário e despachava de volta para a usina aplicar a camada protetora.
Apesar de todo o trabalho extra, é impossível afirmar que não valeu a pena. Desaparecendo na paisagem para reaparecer depois, conforme o olhar do observador, o Maraya Concert Hall já está entre as clássicas obras feitas com nosso material.
Ficha técnica
Projeto: Maraya Concert Hall Local: Vale Ashar, na Arábia Saudita Data da conclusão da obra: 2019 Arquitetura: Gioforma Architects Designers and Artists
Ao norte de São Francisco, na Califórnia (EUA), estão as regiões de Napa Valley e Sonoma, renomadas mundialmente pela produção de vinho. Os vinhedos dali se localizam em meio a uma belíssima natureza, formada por vales e campos floridos – não à toa, o local recebe turistas de todo o planeta. E uma das principais vinícolas locais, a Donum Estate, especializada nas bebidas do tipo pinot noir, tornou-se ainda mais atrativa a visitantes: ano passado, ganhou o Vertical Panorama Pavilion, espaço para degustação com uma incrível cobertura de laminados coloridos.
Sentidos à flor da pele
Criado pelo escritório alemão de arquitetura Studio Other Spaces (fundado pelo artista Olafur Eliasson e pelo arquiteto Sebastian Behmann), o pavilhão está localizado num ponto da Donum Estate que oferece visão panorâmica dos arredores, incluindo a Baía de San Pablo e a The Donum Collection, coleção de arte formada por cerca de cinquenta esculturas.
A obra foi inspirada nos calendários circulares da antiguidade. Utilizados em diversas culturas ao redor do mundo ao longo dos tempos, esses calendários eram geralmente feitos de pedra, marcando a mudança das estações e representando até mesmo a conexão humana com a natureza. Os maias, por exemplo, utilizavam esse tipo de tabela para fazer previsões do futuro.
“O pavilhão combina perfeitamente nossas paixões por vinho, natureza e arte, design e arquitetura”, explicam Mei e Allan Warburg, proprietários da vinícola. “Caminhamos com Olafur por esse espaço pela primeira vez em 2019. O Sol reluziu em um espectro de cores, tomamos um gole do nosso pinot noir e, naquele momento, nasceu o Vertical Panorama Pavilion.” Essa questão do efêmero – tempo, luzes, clima – faz parte do conceito usado pelos arquitetos na estrutura. “Os elementos específicos do projeto são abstrações de componentes que circundam a obra: solo, vegetação, vento, atmosfera, chuva”, explicam Eliasson e Behmann.
Caleidoscópio
A cobertura do pavilhão – em formato de cone e com uma abertura na parte central mais alta – conta com 832 painéis de laminados, feitos com a película Vanceva, da Eastman. São 24 cores usadas, com variações de tons translúcidos e transparentes, fazendo referência à paleta encontrada na natureza do Vale de Sonoma.
Conforme os raios de Sol incidem na estrutura, essas tonalidades são refletidas pelo chão, móveis e pessoas presentes no local: um toque artístico nessa obra que já nasce marcante aos amantes do vidro.
Visitando o Donum Estate
Existem diversos tipos de tours na vinícola, custando a partir de US$ 100 por pessoa e com duração de uma a três horas. Incluem degustação de vinhos e comidas, passeios pela coleção de esculturas do local e pelas parreiras. Endereço: 24500 Ramal Road, Sonoma, Califórnia, EUA Site:www.thedonumestate.com
Ficha técnica Obra: Vertical Panorama Pavilion Local: Sonoma, Califórnia (EUA) Escritório de Arquitetura: Studio Other Spaces Inauguração: agosto de 2022
Já foi o tempo quando edifícios, comerciais ou residenciais, eram pensados para serem somente mais um colosso de concreto e aço em meio a outros tantos espalhados pela cidade. Felizmente, existem projetos disruptivos, que primam pela eficiência, capazes de provar que no Brasil também despontam ideias que contribuem para o bem-estar dos usuários e para a sustentabilidade – aqui mesmo em O Vidroplano você sempre confere obras desse tipo. Prédios com fachadas de vidro cujo propósito vai além do apelo estético (embora a beleza deles realmente salte aos olhos) já se transformaram em padrão de uma construção ligada às necessidades modernas das pessoas e da sociedade. A seguir, conheça os detalhes de um edifício exatamente assim: o Mai Terraces, projeto que dialoga com a natureza e otimiza recursos para tentar um feito inédito entre as construções do tipo no País.
Em busca da certificação pioneira
Localizado em Campina do Siqueira, uma das regiões mais nobres de Curitiba, o recém-inaugurado edifício foi concebido com o que há de mais contemporâneo em arquitetura. Planejado para ser um componente sustentável em meio ao ecossistema já abrangente da região – já que está ao lado do Parque Barigui, uma das maiores áreas verdes da capital paranaense –, o empreendimento erguido pela Construtora Laguna passou por um estudo abrangente de eficiência, por meio do qual buscou-se otimizar os recursos naturais dispostos para o projeto.
Com o sucesso desse conceito, está entre os objetivos do Mai Terraces a conquista da certificação GBC Condomínio Platinum, do Green Building Council, algo inédito para esse modelo de construção no Brasil. E é claro que o vidro é tido como um elemento-chave para se alcançar esse feito.
Atento às oportunidades
O prédio está situado em uma região com fortes variações de temperatura. Por isso, os construtores viram uma excelente oportunidade para garantir ao empreendimento eficiência energética ao longo de todo o ano. Para o sucesso da empreitada, porém, seria necessário atingir um equilíbrio entre o bloqueio do calor no verão e o aumento da temperatura no inverno para o aquecimento interno.
Dessa forma, um dos grandes destaques do edifício é sua fachada com cerca de 8 mil m² de vidros de controle solar de alto desempenho, fornecidos pela Guardian, contribuindo ativamente para o conforto térmico e luminoso da edificação. “Estudos mostram que o consumo energético pode ser ainda maior no inverno do que no verão, em locais mais frios”, afirma Heloísa Meister, analista técnica comercial da Guardian. Para compor a fachada das duas torres de 24 pavimentos cada, optou-se por aplicar em ambas as estruturas o SunGuard Silver 32, cuja composição oferece performance de 33% de transmissão luminosa, 16% de reflexão interna, 23% de reflexão externa e 60% de bloqueio de calor.
Graças à tecnologia do setor vidreiro nacional, cada vez mais será possível ver prédios como o Mai Terraces não como uma aspiração da arquitetura brasileira, mas como uma realidade.
Ficha técnica Obra: Mai Terraces Local: Curitiba Escritório de arquitetura: Baggio Schiavon Arquitetura Fornecedora dos vidros: Guardian Processadora: GlassecViracom Fabricante de esquadria: Alubauen Consultor de fachadas: QMD Consultoria
Com a revisão da norma de laminados (ABNT NBR 14697) no início do ano, esse tipo de vidro ganhou ainda mais relevância nos debates do setor. Como mostram as últimas edições do Panorama Abravidro, sua produção vem crescendo nos últimos tempos, apontando que a solução está se tornando popular em nosso país. Daí vem a importância de comentar sobre uma variação do material: os vidros laminados feitos com interlayers estruturais. Ao contrário das camadas intermediárias comuns, esses insumos oferecem maior rigidez e segurança extra às aplicações, sendo utilizados em situações que necessitem de maior resistência mecânica e no pós-quebra.
Nas próximas páginas, descubra como atuam os interlayers estruturais, para quais instalações eles são indicados e quais são suas limitações.
Qual a função?
A camada intermediária tradicional faz com que, em caso de quebra, os fragmentos do laminado não se desprendam, mantendo o vão fechado enquanto se aguarda a troca da peça. No entanto, existem aplicações em que o vidro também funciona como parte da própria estrutura da obra. Nesses casos, o material precisa apresentar um desempenho superior em termos de resistência – é aí que entram os interlayers estruturais. “Devido à sua rigidez elevada, laminados estruturais são capazes de suportar cargas maiores de esforço mecânico utilizando a mesma espessura de um laminado comum – e a espessura pode até ser reduzida para atingir igual resistência na comparação com interlayers convencionais”, explica Douglas Alves, especialista técnico da Eastman para a América Latina (fabricante do produto Saflex Structural). A conta é simples: maior resistência mecânica significa mais segurança para as pessoas nos locais em que o material está instalado.
Alguns tipos de interlayer estrutural podem chegar a uma rigidez muito maior que a de um PVB comum. “Além disso, são menos vulneráveis à umidade e oferecem maior claridade nas bordas”, comenta Marcos Aceti, coordenador de Vendas Técnicas AIS da Kuraray, dona da marca Trosifol.
Onde usar Nem todo laminado precisa de interlayer estrutural – afinal, o laminado já é um vidro de segurança. Esse tipo de camada intermediária é recomendado quando os esforços mecânicos são aplicados no próprio vidro. “Diversas soluções podem se encaixar nesse uso, como fachadas, coberturas, pisos, escadas, guarda-corpos, portas e janelas, entre outros. São projetos que exigem alto nível de segurança e resistência, tornando o interlayer estrutural essencial”, orienta Sergio Permanyer Bueno, gerente de Marketing e Comunicações da espanhola Pujol (dona da marca Evalam).
Para entender melhor, é importante diferenciar o conceito “estrutural”:
O fechamento com sistema estrutural (peles de vidro, sistemas encaixilhados) coloca nosso material como parte de um todo. É composto por vidros cuja espessura e resistência suportem as cargas às quais serão submetidos (como o vento);
Já o vidro estrutural é outra coisa: a resistência, redundância do sistema e desempenho pós-quebra dependem diretamente da composição do vidro – e, para isso, uma camada intermediária estrutural é usada.
“Conhecendo as principais características desses interlayers, suas aplicações mais necessárias são para vidros que não têm pelo menos dois lados fixos ou engastados mecanicamente”, indica Ângelo Arruda, diretor da Vidrosistemas. Um exemplo disso são guarda-corpos fixados pela base e com borda exposta: em caso de quebra, o laminado com interlayer comum se dobraria como um tapete. Para instalações com sistema spider, a versão estrutural do insumo também é indicada, pois o silicone de vedação não suporta o peso em caso de quebra de uma das lâminas de vidro.
Felipe Aceto, diretor-operacional da Avec Design, reforça que projetos de fachadas, coberturas e janelas podem necessitar desse tipo de interlayer quando expostos a climas severos, como ciclones, ou quando projetados para resistir a cargas acidentais atípicas. “Pisos, vigas e colunas envidraçadas também requerem o produto, pois ele desempenhará um papel fundamental no aumento da capacidade de carga e na resistência a impactos”, alerta.
Vale anotar esta dica: o uso do interlayer estrutural tem de ser avaliado conforme a necessidade do projeto, até porque nenhuma norma prescreve especificações para seu uso. Além disso, ele impacta nos custos da obra e, em muitos casos, o laminado convencional já consegue atender os requisitos da aplicação. Por isso, a especificação precisa ser sempre acompanhada por um consultor especialista em estruturas com nosso material.
Crédito: Divulgação Eastman
Cuidados no processamento
Todo o processo de beneficiamento de um laminado estrutural é semelhante ao do comum – seja em autoclave ou forno.
Por outro lado, alguns cuidados especiais são necessários. “É altamente recomendado que sejam feitos testes de rotina para o controle da qualidade, incluindo, no mínimo, medidas de adesão por meio do chamado ‘teste de Pummel’ e das propriedades ópticas, como opacidade e transmissão”, aponta Marcos Aceti, da Kuraray. Os cuidados para armazenamento devem ser redobrados, de forma a controlar o nível de umidade – afinal, ela afeta diretamente a qualidade de adesão, podendo causar delaminação precoce.
Existem restrições ao uso?
Apesar da superioridade em relação aos interlayers comuns, os estruturais contam com certas especificidades que, se não forem avaliadas, farão com que seu desempenho caia consideravelmente. Esses impedimentos variam de acordo com o tipo de interlayer estrutural, disponíveis no mercado brasileiro nas versões:
Polivinil butiral (PVB);
Ionoplástico;
Etileno acetato de vinil (EVA) com polímero.
Consultar as fabricantes no momento da especificação ajudará a sanar dúvidas sobre o assunto.
Em relação à aplicação com borda exposta, a estabilidade dessas camadas é muito superior à do PVB comum, desde que o sistema de instalação tenha drenagem adequada e não permita que a água entre em contato de forma permanente ou por um período prolongado – isso vale para os de PVB e ionoplástico. Em piscinas de borda infinita, por exemplo, é necessária a utilização de selante ou silicone de cura neutra em toda a extensão da borda do vidro exposta.
Além da água, altas temperaturas também afetam o desempenho de todos os interlayers estruturais, independentemente da marca ou matéria-prima usada: segundo as fabricantes consultadas, quando instalados em um ambiente com temperaturas que atinjam determinados níveis, eles perdem as propriedades estruturais e passam a atuar como interlayers comuns. “É importante destacar que, mesmo em temperaturas acima de 40 °C, o laminado com nosso produto, o Saflex Structural (DG XC), continua atuando como laminado de segurança e tenderá a manter os fragmentos de vidro aderidos a si após a quebra, mesmo expostos à água ou a outras condições climáticas”, ressalta Douglas Alves, da Eastman, fazendo referência a seu produto de PVB. Os ionoplásticos, por sua vez, perdem a eficiência estrutural em uma faixa de temperatura mais alta, em 50º C, de acordo com a Kuraray. Os de EVA com polímero também alcançam 50º C, conforme indica a Pujol.
Dessa forma, em aplicações nas quais a camada estrutural está suscetível às altas temperaturas no ambiente, recomenda-se a fixação em duas ou mais bordas, para garantir a integridade do sistema.
Um planejamento cuidadoso é essencial para garantir o desempenho adequado do sistema ao especificar e instalar vidros com interlayer estrutural. Conforme explica Felipe Aceto, da Avec Design, deve ser dada muita atenção aos seguintes fatores:
A compatibilidade com outros tipos de camada intermediária, como as estéticas, acústicas ou de controle solar, precisa ser cuidadosamente avaliada;
Variações de temperatura, exposição ao Sol, umidade e vento devem ser considerados durante a instalação;
Recomenda-se proteger as bordas, sempre que possível, para evitar danos.
O que dizem as normas ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações: determina em quais aplicações o laminado de segurança deve ser utilizado, sem restrição quanto ao tipo de interlayer usado em sua composição;
ABNT NBR 14697 – Vidros laminados: estabelece critérios para determinação e classificação dos vidros laminados de segurança, sejam eles com ou sem interlayer estrutural;
ABNT NBR 14718 – Esquadrias – Guarda-corpos para edificações: estabelece níveis de resistência ao impacto e de deflexão que essas estruturas devem apresentar sob determinadas condições de esforços mecânicos.
Crédito: xiscomonserrat/ Pujol
Soluções disponíveis no mercado
EASTMAN Saflex Structural (DG XC)
Com composição de PVB, oferece flexibilidade para processadores acostumados a processar interlayers comuns e também para arquitetos e designers, uma vez que é adequado para todas as aplicações em que o PVB é usado;
Pode ser combinado com outros produtos da linha de arquitetura Saflex, como PVB acústico, solar e os coloridos da linha Vanceva.
KURARAY SentryGlas*
Feito de ionoplástico, oferece desempenho estrutural até 50º C, com aplicações de borda exposta;
Cinco vezes mais resistente que interlayers comuns, é menos vulnerável à exposição das intempéries. * No momento da publicação desta reportagem, há falta do produto no mercado
Trosifol Extra Stiff
PVB estrutural indicado somente para aplicações internas;
Possui desempenho estrutural em ambientes com temperatura de até 30º C.
PUJOL AB-AR
Feito de uma composição de EVA e polímero, garante boa estabilidade pós-quebra;
Dispensa cuidados especiais relacionados à temperatura e umidade durante o armazenamento e processamento.
Cristo Redentor, Pão de Açúcar, praia de Copacabana, Parque Lage… A lista de atrações turísticas imperdíveis no Rio de Janeiro é enorme – e acaba de ganhar mais uma integrante obrigatória. A instalação Mar de Espelhos foi inaugurada em 15 de junho, como parte permanente do AquaRio, principal aquário da cidade. Fruto da parceria entre o Instituto do Vidro (projeto do Sincavidro-RJ para difundir as possibilidades de nosso material), Cebrace e Grupo Cataratas, o espaço é uma exposição interativa que usa os reflexos de espelhos, imagens e sons para envolver os visitantes num universo de sensações inspiradas na natureza.
Ficha técnica Obra:Mar de Espelhos Local: Rio de Janeiro Realização: AquaRio e Instituto do Vidro Arquitetura: Cité Arquitetura Conclusão da obra: junho de 2023 Patrocinadora e fornecedores dos vidros e espelhos: Cebrace Processadores: Saint Germain e Vidros Belém
Cheia de encantos mil
Segundo Antônio Skardanas, presidente do Sincavidro-RJ, a ideia para a obra surgiu na esteira do Ano Internacional do Vidro, em 2022, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) para celebrar o papel do material na vida humana. A princípio, ele e José Ricardo d’Araujo Martins, diretor do sindicato, cogitaram vários pontos turísticos para abrigar uma atração envidraçada – na relação estava até mesmo o icônico Pão de Açúcar. Após conversa com o Grupo Cataratas, concessionária de turismo sustentável e gestora de diversos parques pelo País, chegou-se à conclusão de que o AquaRio seria a casa perfeita para o conceito.
A região portuária da capital fluminense passou por grande revitalização para os Jogos Olímpicos de 2016, com a construção de áreas como o Porto Maravilha, o Museu do Amanhã e o próprio AquaRio, considerado o maior aquário marinho da América do Sul. O Mar de Espelhos chega para reforçar o papel da região como novo cartão de boas-vindas carioca. “O retorno midiático do projeto foi enorme”, comenta Skardanas. “Saiu em todas as mídias possíveis, foi capa do jornal O Globo, e sempre com um viés positivo, falando bem do vidro. Esse era o nosso objetivo.”
Como não poderia deixar de ser, a inspiração para o espaço veio da paisagem natural do Rio de Janeiro e da Baía de Guanabara. “O fim de tarde refletido sobre as marés, o reluzir das águas que escorrem nas encostas, os picos que recortam a bruma nas manhãs de inverno, o reflexo dos edifícios. Esses são pequenos detalhes que traduzem o mundo à nossa volta e inspiram o local em sua poesia”, descrevem Celso Rayol e Fernando Costa, sócios-fundadores do Cité Arquitetura, escritório responsável pelo projeto.
Caminhos de brilho
Confira os detalhes de cada cenário criado para a exposição:
Escarpas
Baseado nos relevos e nas linhas que cortam o horizonte. Vidros instalados: espelho 5 mm, réguas de float incolor 10 mm (fixados com cola UV).
Clareira
Representa um espaço aberto para a cidade. Vidros instalados: temperados 8 mm com impressão digital e guarda-corpos de laminados temperados 8 mm, fixados com perfis de alumínio.
Crédito: Dani Leite
Iara
O nome faz referência à figura do folclore brasileiro que habita os rios da Amazônia. O espelho infinito traduz o movimento e os reflexos das águas. Vidros instalados: espelho 5 mm e vidro de controle solar Reflecta temperado 8 mm.
Crédito: Mateus Keiper
Meandros
Inspirado na sinuosidade dos rios e dos caminhos que constituem a vida. Vidros instalados: espelho laminado, temperados 8 mm com impressão digital e guarda-corpos de laminados temperados 8 mm, fixados com perfis de alumínio.
Crédito: Dani Leite
Bruma
O cenário desafia os visitantes a desvendar os mistérios do futuro ocultos pela neblina. Vidros instalados: temperados 8 mm com impressão digital.
Crédito: Dani Leite
Ressaca
Espaço para imersão formado por vídeos mostrando ambientes aquáticos, fazendo alusão à vida no fundo do mar. Vidros instalados: espelho 5 mm e piso de laminado temperado 20 mm.
Crédito: 2BARCOS FILMES
Marola
Baseado na calmaria das águas depois de uma tempestade. Vidros instalados: espelho 5 mm, espelhos bisotados 5 mm e piso de laminados 14 mm feitos de peças de vidro de controle solar Reflecta temperadas.
Crédito: Ari Kaye
Múltiplas reflexões
A instalação é composta por nove ambientes diferentes, cada um pensado para traduzir elementos da natureza, do folclore ou do vocabulário brasileiro em sentimentos como calma, desordem, paz e surpresa. “Em uma ordem de impacto e contrastes, cada espaço busca uma experiência de revelação ao descortinar diferentes emoções”, explicam os líderes do Cité Arquitetura. “A ideia é simular um mergulho no nascedouro de um rio até sua foz, e ao fim o público se encontrará com seu outro. Como dizem, ‘ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois as águas não são as mesmas, nem o indivíduo.’”
Esse conceito só poderia ser atingido em plenitude graças à utilização de nossos materiais. Foram aplicados ali mais de 1.300 m² de Espelhos Cebrace, processados pela Saint Germain e Vidros Belém, num total de 768 peças distribuídas em uma área de 650 m². “Propomos que nossa narrativa seja contada por meio dos reflexos, abordando o vidro e os espelhos como um veículo de interpretação do visitante, que se vê e é visto no mundo”, revelam Rayol e Costa. “Usamos também recursos de luz, imagem e som que reverberam ainda mais a história que buscamos contar.”
Como visitar? Endereço: Praça Muhammad Ali, Gamboa (segundo andar do AquaRio, em frente aos Armazéns 7 e 8 do Porto do Rio) Horário: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h30; nos finais de semana e feriados, das 9h às 18h30 Ingressos: R$ 60 (ingresso avulso) ou R$ 150 (combo com visitação ao aquário) Informações: (21) 3900-6670 ou contato@mardeespelhos.com.br
Pensar em prédio comercial hoje em dia é imaginar um espigão em meio à cidade, metros e metros de altura chamando a atenção de qualquer pessoa que passe ao redor. Mas há exceções que trazem frescor a esse tipo de construção – e uma delas é o Rebouças 3535, localizado na capital paulista. Sua fachada envidraçada moderna e colorida é evidenciada pelo formato horizontal do edifício.
Ficha técnica Obra: Rebouças 3535 Local: São Paulo Arquitetura: Aflalo/Gasperini Arquitetos Conclusão da obra: novembro de 2021 Fornecedores dos vidros: Cebrace e Guardian Processador: Brazilglass Esquadrias da fachada: Arqmate Consultoria Esquadrias de alumínio: J. Marques
Amplitude
Segundo o renomado escritório de arquitetura Aflalo/Gasperini, responsável pelo Rebouças 3535, a horizontalidade do projeto surgiu de uma necessidade imposta pelo Plano Diretor da cidade de São Paulo, vigente à época da construção, que estipulava um limite de até 10 m de altura para novas obras. Por isso, o foco escolhido foi a amplitude e os grandes vãos livres gerados pela marquise central.
Localizado no bairro de Pinheiros, o edifício tem 3.447 m² de área construída, dividida em três pavimentos. A ausência de muros e gradis na parte frontal, permitindo o alargamento da calçada e a instalação de canteiros com jardins permeáveis, amplia a sensação de se estar em um local aberto e em constante contato com o exterior.
Envolto por tecnologia
Além do conceito diferenciado para seu uso, o Rebouças 3535 se destaca principalmente pela fachada de vidros de controle solar, com laminados 6 + 8 mm, processados pela Brazilglass em duas especificações: uma com Cool Lite KNT 155, da Cebrace, e outra com SunGuard AG 43, da Guardian. A estrutura foi pensada para garantir o conforto térmico e a vasta entrada de iluminação natural nos ambientes internos. Painéis serigrafados na cor branca também ajudam nessa tarefa, reduzindo a incidência solar e a carga térmica.
Por falar em bem-estar dos ocupantes, todos os pavimentos possuem terraços para pausas ao longo do expediente corporativo. A ampla laje de cobertura é cercada pelas copas das árvores (podendo ser utilizada para eventos ao ar livre) e o fundo do terreno também conta com área verde.
Essa obra é mais um exemplo da versatilidade do vidro: se quiser modernidade e tecnologia, pode confiar em nosso material.
Certamente, caro leitor, você deve ter na memória algum momento em que, despretensiosamente, viu-se diante de arquiteturas cujo contraste entre imponência e delicadeza é um vislumbre ao olhar. Aqueles que circulam pelo tradicional bairro da Água Verde, em Curitiba, mais especificamente pela Rua Goiás, sabem muito bem quão fascinante é ter tal sensação, já que esse é o endereço do Eco Medical Center, edifício que representa a evolução no conceito de arquitetura hospitalar no Brasil.
Ficha técnica Obra: Eco Medical Center Local: Curitiba-PR Construtora: Grupo BF Arquitetura: Bioenge Projetos Vidros: GlassecViracon
Um olhar para o futuro
Vivemos tempos nos quais a sustentabilidade é premissa entre as mais importantes discussões, e com total razão. O bem-estar de todos os seres vivos depende do pleno equilíbrio entre homem e natureza. Assim sendo, nada mais coerente do que um local que representa a saúde, vida e renovação esteja em absoluto alinhamento com tal preceito.
Finalizado em maio de 2022, o edifício desenvolvido pelo Grupo BF possui 20 mil m² de área construída. São treze pavimentos divididos em clínicas e consultórios, contando ainda com 350 vagas de estacionamento. O Eco Medical Center tem ainda um mall com quinze operações diferentes, como restaurante, cafeteria e conveniências. O projeto segue as normas da Anvisa para atender, segundo projeção, até 7 mil pacientes por dia.
Com estrutura inovadora e diferenciada, o Eco Medical Center é inspirado no modelo norte-americano de grande sucesso Medical Office Building (MOB) – cujo conceito reside na ideia de erguer estruturas que abarcam consultórios, clínicas e laboratórios, mas que se assemelham fisicamente a um edifício comercial, humanizando ambientes e otimizando as jornadas de médicos e pacientes. “Inauguramos há seis meses o nosso primeiro projeto com esse conceito, 100% voltado para a saúde e o bem-estar, que oferece áreas de descompressão, praças e integração”, explica o CEO do Eco Medical Center, Patrick Gil.
O complexo, localizado no bairro Água Verde, recebeu investimentos de R$ 120 milhões e conta com 35 diferentes especialidades. Atualmente, cerca de duzentos médicos, além de profissionais de apoio da área de saúde, atendem no local.
Conforto, segurança e inovação
Mais do que um mero adereço estético, o vidro representa para o projeto do Eco Medical Center a harmonia de um ambiente térmico confortável, bem protegido e eficientemente iluminado a pacientes e profissionais. A ideia para a construção é fruto de uma iniciativa que conta com a chancela de dois conglomerados, o Hospital IPO e o Grupo D. Borcath.
A responsável pelo fornecimento de todo o nosso material é a GlassecViracon: foram empregados vidros laminados, de forma a reduzir o risco de lesões corporais em caso de quebra acidental. Ao todo, utilizaram-se cerca de 4.700 m² de laminados de controle solar prata, escolhidos com cautela, a fim de atender os requisitos necessários para um projeto hospitalar desse porte. “O vidro usado tem um baixo índice de reflexão interna, de 9%, fator solar de 0,33% e reflexão externa de apenas 31%, o que agradou à arquitetura e aos proprietários da obra”, explica Luciane Arceno, representante-comercial da GlassecViracon, em depoimento no site da empresa vidreira.
Diferença nos detalhes
À primeira vista, existe um detalhe tão belo como curioso na estrutura do Eco Medical Center e que condiz muito com a essência da construção, que é ter raízes fortes e crescimento sustentável a fim de gerar bons frutos à sociedade. A arquitetura do projeto foi inspirada em uma árvore, remetendo à solidez e combinando com a mentalidade do grupo.
Para representá-la no layout da fachada (é a parte branca da estrutura), foram utilizados painéis de ACM, material feito da junção de chapas de alumínio com uma chapa de polietileno. Foi a partir dessa ideia que, inclusive, também surgiu o conceito do que hoje é o símbolo do Eco Medical Center.