No começo de maio, a Abravidro recebeu a visita da alta liderança da AGC, incluindo Davide Cappellino, presidente da divisão de arquitetura da usina na Europa e Américas, o qual, de 2011 a 2016, foi CEO da operação nacional. Parte da visita envolveu a participação de Cappellino e do presidente da AGC Brasil, Isidoro Lopes, no VidroCast, onde falaram sobre tópicos como sustentabilidade, comércio internacional e inovação de produtos. A seguir, confira alguns destaques da conversa – a entrevista completa pode ser conferida no canal da Abravidro no YouTube.
Davide, você tem uma longa trajetória no setor vidreiro. Aqui no Brasil, você se relaciona com o nosso segmento há praticamente quinze anos, até porque a divisão brasileira responde para você. Que diferenças você enxerga no mercado nacional hoje em comparação com 2011, quando você chegou aqui?
Davide Cappellino – Acompanhei a evolução incrível desse mercado, que começou a focar no volume para acompanhar a demanda crescente de vidro dos clientes brasileiros. Agora, ele está se tornando cada vez mais um mercado de valor, com novos produtos e soluções chegando. Então, é muito evidente essa transformação do papel do vidro aqui no Brasil, e nós da AGC queremos continuar acompanhando e contribuindo para essa evolução.
A sustentabilidade é um tema que tem impactado fortemente os negócios no mundo para todas as cadeias, incluindo o segmento de vidros planos, e percebemos que isso tem dominado as agendas do primeiro elo da nossa cadeia, as usinas de base. Como a AGC tem trabalhado globalmente nesse sentido e quais resultados já foram conquistados até agora?
DC – A sustentabilidade é uma tendência global que não vai mudar. Há dois impactos muito importantes falando do vidro: por um lado, a contribuição dele para a sustentabilidade é fantástica. Estamos vendo uma atenção muito grande dada ao desempenho do vidro na Europa, na América do Norte, no Japão, com incentivos muito fortes para o uso de itens de valor agregado, como os insulados e os de controle solar, trazendo uma contribuição enorme para a eficiência energética dos prédios. Essa tendência também vai chegar ao Brasil; o desperdício energético nas edificações não é mais aceitável.
Por outro lado, o vidro é fabricado e processado com o uso de energia. Então, o desafio é trabalhar para produzi-lo de um jeito mais eficiente em termos de consumo energético. A AGC tem investido mais de 50% do seu orçamento de pesquisa no desenvolvimento de processos e produtos mais sustentáveis: há poucos meses, por exemplo, inauguramos na Europa a primeira linha híbrida para a produção de vidro, em parceria com a Saint-Gobain.

Davide Cappellino
E no Brasil, como estamos nessa corrida para atingir as metas de sustentabilidade?
Isidoro Lopes – A tecnologia da AGC no nosso país já veio pensada para acompanhar essa corrida para a redução do CO2. Temos projetos nesse sentido. Obviamente, como a regulamentação ainda não está amadurecida por aqui, é feita uma análise de viabilidade financeira para avaliar o que já é viável fazer e o que devemos aguardar, mas esse processo é totalmente alinhado às metas globais da AGC.
O comércio internacional está diante de muitas incertezas, principalmente depois do aumento de tarifas anunciado pelo atual presidente dos Estados Unidos, o que gerou uma guerra tributária global. Como a AGC observa esse fenômeno e os impactos que ele pode ter nos mercados globais?
DC – Estamos acompanhando de perto, as coisas ainda estão constantemente mudando. Nós não podemos imaginar o mundo sem comércio internacional. Mas um comércio internacional que cria valor para os consumidores tem de ser focado em produtos e soluções que criam e adicionam valor para os vários mercados – não pode gerar falta de controle sobre a cadeia ou falta de visão sobre os investimentos necessários. Então, acredito que esse fluxo precisa ser controlado. Agora, tem o fluxo do vidro global, que vai se adaptar. Estamos olhando com atenção as medidas dos Estados Unidos para saber se o fluxo de produtos da China para lá será desviado para outros mercados.
Quais são os principais desafios para que a gente, do ponto de vista do mercado de vidro, se torne mais competitivo e não seja tão ameaçado pelos produtos da China e de outras origens?
IL – Tem algumas condições: por exemplo, o gás natural continua sendo um grande desafio em comparação a outras regiões do mundo. Temos alguma vantagem em termos de geração de eletricidade; por outro lado, nossa logística ainda é muito cara: o vidro caminha muito, tem muita ineficiência; hoje o Sudeste brasileiro produz cerca de 90% do vidro, e esse produto tem que percorrer milhares de quilômetros. Então, temos que buscar mais eficiência nessas operações logísticas e tentar tornar cada elo nacional o mais competitivo possível; precisamos manter o nosso foco na redução de custos não só nas usinas, mas em toda a cadeia.

Isidoro Lopes
Isidoro, em seu discurso na edição do ano passado do Simpovidro, você falou sobre o foco da AGC em oferecer vidros de maior valor agregado ao mercado. Em setembro do ano passado foi lançado o vidro de controle solar Sunlux Champagne. Há previsão para novos lançamentos este ano?
IL – Sim, temos dois produtos para ser lançados, o Sunlux 65 e o Sunlux 55. São vidros de controle solar específicos para grandes obras, um deles com o índice de reflexão necessário para evitar a colisão de pássaros. A inovação é contínua: estamos sempre analisando as necessidades do mercado. Temos uma operação extremamente flexível para a produção de vidros de valor agregado com o nosso coater e um time trabalhando constantemente em inovação.
Que recado vocês deixam para o nosso mercado?
DC – Contem sempre com a AGC: temos uma prioridade muito grande para o mercado brasileiro. É necessário trabalhar muito agora para acompanhar a evolução da demanda no Brasil, trazendo novos produtos e soluções para a construção civil.
IL – Estamos trabalhando junto com toda a cadeia e apoiando as iniciativas para a melhor aplicação do produto, dentro das normas, e mostrar para o mercado que o investimento em vidros de valor agregado vale a pena.
Fotos: Ivan Pagliarani