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Upgrade de máquinas pode manter sua processadora atualizada

Entre os gastos de qualquer processadora, está a atualização dos seus recursos: a compra de novos maquinários, seja para aumentar a produtividade ou evitar problemas que a máquina antiga vem apresentando, pode representar um custo significativo. Em muitos casos, é possível poupar tempo – e dinheiro – reaproveitando seus equipamentos por meio de upgrades ou reformas. O Vidroplano mostra, nesta reportagem, em que momento essa solução pode virar uma possibilidade, os benefícios que ela traz e onde pode ser encontrada.

Como é feito
Segundo Moreno Magon, diretor de Vendas e Marketing da Latamglass, e Eloi Bottura, diretor-industrial e de Serviços da empresa, qualquer maquinário pode ser reformado e/ou atualizado, desde que seja de ótima qualidade, com estrutura metálica robusta e um projeto modular que possa receber esses upgrades.

Braz do Carmo Andrioli Júnior, engenheiro mecânico da Sglass, explica que o processo de reforma é personalizado de acordo com as necessidades e disponibilidade de cada cliente. Dessa forma, as etapas podem variar conforme o grau da intervenção pretendida, mas geralmente seguem o seguinte fluxo:

  1. Entendimento das necessidades do cliente e do que ele espera ao final do serviço prestado;
  2. Análise in loco do estado geral do equipamento e identificação das partes a serem substituídas ou atualizadas;
  3. Alinhamento com o cliente sobre as possibilidades de reforma, upgrade e trabalho a ser desenvolvido;
  4. Geração de um orçamento detalhado do serviço a ser realizado;
  5. Projeto e fabricação das peças e conjuntos necessários para a reforma;
  6. Execução da reforma com os testes finais;
  7. Entrega técnica do equipamento reformado.

 

Softwares e sistemas operacionais são os elementos de um maquinário que mais demandam upgrades (foto: KamranAydinov - Freepik.com)
Softwares e sistemas operacionais são os elementos de um maquinário que mais demandam upgrades (foto: KamranAydinov – Freepik.com)

 

Estendendo a vida útil
A Lisec projeta seus produtos de forma que os sistemas possam ser usados por muitos anos. Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamerica, explica: “Há máquinas Lisec de vinte anos ou mais que, mecanicamente, estão em excelentes condições”, afirma. No entanto, tanto nelas como naquelas fabricadas por outras empresas, alguns componentes podem se tornar obsoletos durante esse período – os sistemas operacionais e softwares, em particular, têm um ciclo de vida significativamente mais curto do que a parte física, podendo causar grandes inconvenientes na produção – e até mesmo a parada do equipamento.

Nesse sentido, Andrioli Júnior, da Sglass, aponta que as reformas e upgrades permitem minimizar a ocorrência de falhas na máquina e otimizar a gestão dos recursos econômicos, garantindo a máxima confiabilidade do equipamento. “Além disso, podem ajudar a aumentar a satisfação e a lealdade dos nossos clientes.”

Vale destacar também que, atualmente, o Brasil passa por um momento no qual o câmbio do dólar está alto (chegou a passar dos R$ 6 reais no início do mês), o que dificulta a compra de novos maquinários. “Com esse cenário de alta do câmbio e aumento dos custos de aquisição de novas máquinas, optar por upgrades nos equipamentos existentes pode ser uma solução viável e estratégica para aprimorar a produtividade e resolver problemas”, observa Eloi Bottura, da Latamglass. Ele lista alguns benefícios desses serviços:

  • Custo-benefício: permitem que a empresa utilize o orçamento de maneira mais eficiente em tempos de alta do dólar;
  • Aumento de eficiência: melhorias na tecnologia e na automação podem aumentar a eficiência dos equipamentos existentes, resultando em maior produtividade sem necessidade de aquisição de novos maquinários;
  • Tempo de inatividade reduzido: geralmente exigem menos tempo de inatividade em comparação com a instalação de novos equipamentos, permitindo que a operação continue funcionando enquanto as melhorias são implementadas;
  • Personalização: quando uma processadora já tem equipamentos que foram adaptados especificamente para suas necessidades, realizar upgrades pode permitir a preservação dessas customizações, ao mesmo tempo que moderniza o desempenho;
  • Sustentabilidade: melhorar as máquinas existentes contribui para reduzir o desperdício associado ao descarte de equipamentos antigos.

 

Para receber atualizações, maquinário deve contar com estrutura metálica robusta e projeto modular que aceite upgrades (foto: Sodel Vladyslav/stock.adobe.com)
Para receber atualizações, maquinário deve contar com estrutura metálica robusta e projeto modular que aceite upgrades (foto: Sodel Vladyslav/stock.adobe.com)

 

 

Quando fazer?
Nem sempre o upgrade ou reforma do maquinário são a melhor solução. “Esse trabalho demanda uma análise de tempo, disponibilidade de datas dos técnicos, produção e envio de peças para troca e a necessidade de parar a máquina – ou seja, parar a produção”, observa Sandro Eduardo Henriques, diretor da Sglass. Por isso, a empresa sempre conversa com seus clientes para definir em conjunto o caminho a ser tomado.

Apesar disso, recomenda-se sempre avaliar essa possibilidade antes de decidir pela compra de uma máquina nova. Eloi Bottura e Moreno Magon, da Latamglass, indicam alguns pontos que devem ser considerados:

  • Se a máquina apresentar sinais de desgaste, mas ainda funciona adequadamente, uma reforma pode prolongar sua vida útil a um custo menor do que a compra de uma nova;
  • Se a demanda por produtos aumentou, vale a pena avaliar se um upgrade pode ser uma solução mais econômica para aumentar a capacidade produtiva;
  • Se a equipe da empresa já estiver treinada para operar a máquina atual, o custo e o tempo necessários para treiná-la em novos equipamentos podem justificar um upgrade em vez de uma nova compra;
  • Se o espaço de produção for limitado ou se a infraestrutura precisa ser adaptada para uma nova máquina, considerar um upgrade pode ser uma solução mais prática;
  • Se uma análise financeira mostrar que o retorno sobre investimento (ROI) de um upgrade ou reforma é superior ao da compra de um novo equipamento, essa pode ser a melhor opção;
  • Embora o upgrade envolva a parada do maquinário, caso ele possa ser feito com interrupções mínimas na produção, a solução pode ser preferível em relação à compra de um equipamento novo, que pode exigir um tempo de inatividade maior.

Iniciativas no mercado
A Lisec conta com o projeto Longlife, apresentado e oferecido a seus clientes durante o pós-vendas. “No Longlife, trocamos o computador das máquinas para uma versão moderna, com o software já atualizado e com todos os dados já transferidos para ele”, explica Luiz Garcia. O diretor da Lisec Sudamerica acrescenta que, caso a reforma necessária inclua também a parte mecânica, a empresa orienta o agendamento de uma visita de seus técnicos especialistas, que fazem uma avaliação do maquinário e, na sequência, definem uma lista de peças a serem trocadas – as quais podem ser adquiridas diretamente com a Lisec.

A Latamglass oferece o LTG Upgrade, um conjunto de soluções para melhorar, modernizar, capacitar e aumentar a eficiência e a eficácia dos fornos de têmpera. “O projeto da Latamglass é todo modular, o que proporciona atualizações fáceis e rápidas quando o cliente enxerga essas oportunidades. Cada upgrade atende uma necessidade específica – por exemplo, capacitar o forno para trabalhar com uma espessura de vidro diferente ou com um vidro novo que acaba de ser introduzido no mercado, produzindo novos produtos que até então não seria possível com o equipamento original”, explica Eloi Bottura. Entre os upgrades fornecidos pela empresa, estão sistemas de convecção, inversores de frequência para os ventiladores, termocâmara para registro térmico de todas as peças produzidas e a ferramenta Glaston i-Look, para monitorar aspectos da qualidade dos vidros temperados, como ondulação e elevação de borda.

A Sglass também realiza serviços de manutenção e upgrade para suas máquinas, os quais incluem fornos de têmpera e de laminação com EVA e a Alpha Jet, máquina para recorte e furação com jato d’água. Algumas das soluções oferecidas são a troca de controlador lógico programável (CLP) e de painel elétrico, atualização de software, instalação de módulos adicionais, pré-aquecimento e pós-resfriamento e câmera térmica.

Este texto foi originalmente publicado na edição 628 (abril de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: manassanant/stock.adobe.com

Conheça os desafios para a produtividade nas processadoras

Um dos maiores diferenciais que qualquer empresa precisa ter é uma boa produtividade: é esse indicador que, se estiver em um nível satisfatório, permite manter a saúde financeira em patamares favoráveis, garantir a fidelização dos clientes e, consequentemente, fechar mais vendas. Mas o que precisa ser feito para aumentar a produtividade de uma processadora? O que costuma dificultar essa melhora acontecer – e como superar esses obstáculos?

Nesta reportagem, O Vidroplano apresenta as definições de produtividade, o cenário dela na indústria nacional e no setor vidreiro e algumas dicas para tornar seu negócio mais produtivo.

O que é produtividade?
Segundo artigo no portal do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), trata-se da relação entre o volume do que é produzido na empresa e os insumos usados, mão de obra empregada ou a quantidade de tempo que demandou para finalizar o processo. Para o nosso setor, o indicador é medido de forma simples: divide-se o volume da produção em m² ao longo de um determinado período (dia, semana, mês, ano etc.) pelo número de colaboradores da empresa.Em outras palavras, seria a capacidade de “fazer mais com menos”, mas sem deixar cair o nível de excelência que os negócios já entregam aos clientes.

É importante observar que aumento de produtividade não é a mesma coisa que aumento de produção: de acordo com artigo no site do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o aumento da produção se dá quando a empresa usa mais recursos (matéria-prima, mão de obra, capacidade de máquina, tempo etc.) e produz mais produtos; já a produtividade cresce quando a empresa usa menos recursos para produzir a mesma quantidade.

Portanto, melhorar a produtividade do seu negócio traz uma série de benefícios, tanto quantitativos como qualitativos:

  • Redução de custos de produção
  • Menor uso de recursos para alcançar o mesmo objetivo
  • Expansão da atuação e consolidação da presença no mercado
  • Geração de diferenciais competitivos

Gargalo da indústria nacional
Em entrevista para a jornalista Natuza Nery no podcast O Assunto, o economista Naercio Menezes Filho, colunista do jornal Valor Econômico e professor associado da Faculdade de Administração, Economia, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), aponta que se observa uma estagnação da produtividade no Brasil. “Ela atingiu um pico nos anos 1980 e, de lá para cá, está mais ou menos no mesmo nível. Isso é bastante preocupante: desde 1995, a produtividade está crescendo menos de 1% ao ano”, afirma, destacando que, em comparação, esse indicador nos Estados Unidos cresce cerca de 2% ao ano há um século. “A única maneira de realmente aumentar a riqueza de um país para as pessoas terem uma renda melhor é pela produtividade”, analisa Menezes Filho.

No caso da indústria nacional de transformação, Samantha Ferreira e Cunha, gerente de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), observa que, depois de três trimestres consecutivos de queda, a produtividade nesse segmento cresceu 0,8% no terceiro trimestre de 2024, possivelmente refletindo um final do período de adaptação e treinamento dos novos trabalhadores contratados durante o aquecimento do mercado de trabalho. Apesar disso, ela ressalta: “Quando a gente olha a evolução no longo prazo, o Brasil acumula uma perda de produtividade superior a 20% frente a seus parceiros comerciais na comparação com o ano 2000”.

 

Foto: vpilkauskas/stock.adobe.com
Foto: vpilkauskas/stock.adobe.com

 

No setor vidreiro
Nosso segmento também enfrenta problemas. O Panorama Abravidro 2024 indica que, em 2023, a produtividade na indústria de transformação seguiu em baixa pelo terceiro ano seguido, atingindo a pior marca da série histórica da pesquisa. Nos últimos dez anos, esse indicador (calculado pela produção mensal em m² por funcionário) só apresentou melhora duas vezes, em 2015 e 2020.

“A produtividade da indústria de processamento de vidro plano nacional, assim como grande parte da indústria brasileira, apresenta um desempenho muito inferior ao dos países desenvolvidos. Problemas estruturais, como a excessiva carga tributária e regulatória, deficiências logísticas e o baixo nível educacional da mão de obra, entre outros obstáculos, há décadas comprometem a capacidade competitiva nacional”, avalia Alexandre Pestana, ex-presidente da Abravidro e atual membro da diretoria da entidade.

Ele também cita as características do principal mercado consumidor, a construção civil, que prioriza o produto feito sob medida, em detrimento do padronizado, contribuindo com maior custo e menor eficiência dos processos fabris.

De acordo com Pestana, o segundo elo da cadeia produtiva do vidro plano começou a se estabelecer na década de 1980, ganhando robustez a partir dos anos 2000. “Ainda assim, trata-se de uma indústria em processo de amadurecimento, que busca aprimorar tanto suas práticas gerenciais quanto produtivas, ao mesmo tempo que enfrenta o problema da informalidade excessiva e prejudicial; além disso, há pelo menos duas décadas, o setor opera com sobreoferta de capacidade, um problema que se intensificou no pós-pandemia, agravando ainda mais a baixa produtividade”, alerta o diretor da Abravidro.

A médio prazo, espera-se que os efeitos da reforma tributária tragam avanços significativos: além de reduzir a carga tributária efetiva da indústria, a reforma deve contribuir para a redução da informalidade. “Isso poderá impulsionar um processo de consolidação dos processadores de vidro, resultando em um melhor equilíbrio entre oferta e demanda e, sobretudo, no estímulo à eficiência e à produtividade como os principais fatores de competitividade, atualmente distorcidos pela informalidade”, explica Pestana.

 

Foto: Johannes/stock.adobe.com
Foto: Johannes/stock.adobe.com

 

Atualização para a produtividade
E como tornar a empresa mais produtiva? A resposta está na atualização, tanto de equipamentos como de conhecimentos. O primeiro caso pode ser resolvido com a adoção de ferramentas e sistemas mais eficientes (conheça algumas soluções disponíveis no mercado clicando aqui, e leia também a matéria da edição de fevereiro sobre equipamentos que ajudar as processadoras a reduzir despesas no dia a dia clicando aqui); já o segundo é feito por meio da qualificação da equipe – e, felizmente, há várias opções para isso.

Uma delas é o Brasil mais produtivo, programa de fomento às pequenas, médias e microempresas brasileiras dos segmentos da indústria, comércio e serviços, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Seu objetivo é promover o aumento da produtividade, competitividade e eficiência energética, trabalhando a disseminação das melhores práticas produtivas e gerenciais e a utilização de ferramentas de transformação digital e desenvolvimento, assim como a adoção de novas tecnologias digitais. A iniciativa conta com consultorias realizadas pelo Sebrae e pelo Senai.

Outra ação nesse segmento é o Programa de apoio à competitividade das micro e pequenas indústrias (Procompi), iniciativa conjunta da CNI e Sebrae. O Procompi trabalha identificando desafios específicos das pequenas e microindústrias (MPEs) no Brasil, com projetos abordando eixos setoriais, como a otimização de processos específicos de um setor; temáticos, como a solução de problemas comuns entre indústrias de diferentes setores; e digitais, como a adoção de automação e a preparação para a Indústria 4.0.

Por fim, não se pode deixar de falar do módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoque (PPCPE), da Especialização Técnica Abravidro. Trata-se do único curso de PCP focado especificamente nas demandas do setor vidreiro e cujo conteúdo é constantemente atualizado para acompanhar as mudanças do mercado.

“No PPCPE são estudadas as classificações dos sistemas produtivos mais utilizados no mercado vidreiro para atendimento ao mercado de arquitetura e construção civil: o MTO [Make To Order], ou ‘produção sob encomenda’, e o ETO [Engineer To Order], ou engenharia sob encomenda’”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, responsável pelas aulas do módulo. Cláudio deixa um aviso aos processadores interessados nessa capacitação oferecida pela Abravidro: “É muito importante a participação dos gestores do sistema de atendimento ao pedido do cliente, operadores do setor de PCP e plano de corte, diretores e, especialmente, proprietários da empresa nesse módulo, para o melhor aproveitamento do conteúdo e ampliação dos resultados”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 627 (março de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Kookkii/stock.adobe.com

Conheça técnicas de gestão para otimizar sua processadora

Na edição de janeiro de O Vidroplano, apresentamos os conceitos da World Class Manufacturing (WCM), uma metodologia de referência mundial que envolve técnicas de gestão com o objetivo de alcançar altos padrões de desempenho e eficiência na produção industrial. Este mês, voltamos ao tema para mergulhar nos detalhes das ferramentas mais populares dentro do escopo da WCM – algumas já conhecidas pelas beneficiadoras e demais empresas da cadeia vidreira. Além disso, o instrutor técnico Cláudio Lúcio da Silva, responsável pelas aulas da Especialização Técnica Abravidro, revela o que as empresas precisam fazer para estarem preparadas para aplicar esses conceitos.

As principais ferramentas
Como visto na matéria do mês passado, a WCM engloba várias ferramentas de gestão. Por isso, focamos naquelas mais tradicionais, que podem trazer resultados mais rapidamente à sua produção. O conteúdo a seguir foi baseado em materiais do Sebrae, Senai e da empresa de tecnologia Totvs.

 

 

ANÁLISE SWOT
Um clássico da administração, tem o papel de incentivar o empreendedor a analisar sua empresa sob diversas perspectivas. A sigla representa os termos em inglês strengths (pontos fortes), weaknesses (pontos fracos), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças). Ao analisar cada um desses tópicos, a empresa terá um diagnóstico da situação em que se encontra, sendo possível criar um plano de ação para validar tomadas de decisão. Dessa forma, conseguirá aproveitar as possibilidades existentes no mercado e, ao mesmo tempo, correr menos riscos.

O que representa cada tópico da SWOT:

  • Pontos fortes: empreendedores tendem a ser otimistas por natureza. Por isso, valide as coisas boas da empresa com pessoas que conhecem bem você e o seu negócio. Exemplos de pontos fortes: ter a patente de um produto ou acesso a um bom canal de distribuição;
  • Pontos fracos: é importante reconhecer que sua empresa não faz bem tudo aquilo que poderia fazer ou que poderia fazer muito melhor. O foco deve estar em “oportunidades de melhoria”, incluindo o que faz o negócio perder vendas ou aumentar custos;
  • Oportunidades: oportunidades podem existir em vários lugares, mas tenha uma estratégica clara, com objetivos bem definidos. Do contrário, a empresa pode estar focando em metas irreais para seu porte ou atuação;
  • Ameaças: aponte problemas que o seu negócio pode enfrentar com a concorrência, incluindo quais atitudes os concorrentes poderiam tomar para reduzir suas vendas ou aumentar seus custos.

 

 

LEAN MANUFACTURING
Filosofia de gestão focada na entrega de máximo valor com a menor quantidade de recursos. Conceitos como minimização do desperdício e melhoria contínua estão no centro dessa ferramenta, juntamente com esforços para uma maior organização no local de trabalho, adequação dos recursos à demanda e redução do tempo do processo produtivo.

O Lean Manufacturing atua para a diminuição de diversos tipos de desperdícios, incluindo:

  • Transporte e logística: deslocamentos desnecessários, de materiais ou mesmo de colaboradores, interna ou externamente, geram gastos de tempo e recursos, afetando a eficiência dos processos. Reflita se vale a pena uma alteração no layout do estoque, chão de fábrica ou centro de distribuição. A organização desse layout, assim como a localização dos maquinários e do inventário, deve ser pensada de forma lógica, para atender as necessidades da produção;
  • Superprodução: a produção deve ser a ideal para suprir a demanda dos clientes. Inflar o estoque pode ser arriscado, especialmente em mercados nos quais os produtos possuem baixa rotatividade ou dependem da sazonalidade;
  • Tempo de espera: um processo deve se iniciar somente após o anterior ter sido concluído. Materiais, equipamentos, informações e pessoas limitadas às etapas anteriores geram atraso;
  • Estoque/inventário: matéria-prima acumulada em exagero pode levar à perda não só do insumo em si como também de dinheiro.

 

 

TOTAL PRODUCTIVE MAINTENANCE (TPM)
Também chamada de Manutenção Produtiva Total, tem como foco o crescimento da produtividade por meio da otimização da eficiência dos processos – ou seja, por meio da padronização das operações, o que evitará imprevistos no dia a dia.

Alguns pilares da TPM:

  • Manutenção autônoma: os próprios operadores monitoram as condições de seus equipamentos e dos processos à sua volta;
  • Manutenção preventiva: cada setor coloca em prática as ações necessárias para o cuidado com equipamentos, ferramentas e máquinas. Com isso, evita-se a interrupção das atividades;
  • Manutenção planejada: os responsáveis por cada processo fazem um acompanhamento do desempenho da equipe e dos equipamentos, indicando pausas no cronograma para implementar melhorias;
  • Coleta de informações: gestores de área devem levantar dados para serem analisados. A partir disso, é possível priorizar as melhorias mais urgentes. Isso permite também um melhor fluxo de dados entre as diversas seções da empresa;
  • Capacitação e treinamento: para implementar a melhora dos processos, é necessário que os colaboradores dominem as tecnologias envolvidas – daí a importância de sempre atualizar os colaboradores;
  • Segurança e saúde do trabalho: é a sustentação dos demais pilares, pois garante as melhores práticas em cada atividade.

 

 

METODOLOGIA 5S
Conjunto de práticas que auxilia na manutenção de um ambiente organizado, é baseado em cinco princípios. Os termos que definem esses princípios estão em japonês e começam com som de S – por isso o nome 5S.

  • Seiri: organização
    Tem como objetivo identificar e remover itens desnecessários do ambiente de trabalho;
  • Seiton: ordem
    Cada item necessário para a produção deve ter seu lugar designado, de fácil acesso, minimizando o tempo perdido ao procurá-lo, aumentando assim a eficiência operacional;
  • Seiso: limpeza
    Vai além da higiene do local de trabalho: faz referência a manter um ambiente que promova o bem-estar e a eficiência;
  • Seiketsu: padronização
    Refere-se à padronização dos processos e procedimentos para manter a organização, ordem e limpeza. É sobre criar padrões que toda a empresa possa entender e seguir;
  • Shitsuke: disciplina
    Chave para sustentar as práticas estabelecidas pelos outros S. Representa o compromisso com a melhoria contínua.

 

 

OCAP
A sigla vem do inglês Out of Control Action Plan (plano de ação fora de controle). Essa ferramenta serve para facilitar a identificação das anomalias crônicas de um processo, mostrando onde atuar para melhorá-lo. Pode ser aplicada por meio de um fluxograma ou descrição textual da sequência de atividades a serem realizadas após um evento crítico – ou seja, deve mostrar os passos para a solução de um problema e também para a manutenção desses resultados depois disso. Vale reforçar que esse documento é algo vivo: precisa ser atualizado ao longo do tempo na medida em que se adquire mais conhecimento e compreensão dos processos.

Com isso, as causas de interrupções desses processos poderão ser removidas o mais rápido possível, tornando as linhas de produção mais confiáveis e otimizadas. Além disso, a ferramenta estabelece também as responsabilidades pelo gerenciamento dos processos.

 

 

CICLO PDCA
É um método de gerenciamento com foco no direcionamento das ações. A sigla também vem de termos em inglês:

  • Plan (planejar): o planejamento começa pela análise dos processos. Para isso, é preciso levantar dados, entender o fluxo do processo, identificar os itens de controle e estabelecer os objetivos a serem atingidos;
  • Do (fazer): nessa fase, coloca-se em prática o resultado da análise feita anteriormente – ou seja, os novos procedimentos padrões para cada uma das atividades. Ao mesmo tempo, deve-se habilitar as pessoas envolvidas a executar tais procedimentos com eficácia;
  • Check (checar): verificar se os procedimentos foram claramente entendidos, se estão sendo corretamente executados. Esse tipo de verificação deve ser contínua, seja por simples observação ou mesmo pelo monitoramento dos índices de qualidade e produtividade via auditoria interna;
  • Act (agir): caso seja encontrada alguma anormalidade durante a checagem dos processos, chegou a hora de agir corretivamente, atacando as causas que impediram que os novos procedimentos fossem executados conforme planejado. Essas contramedidas deverão ser adotadas pela empresa como novos padrões, caso seja necessário.

 

 

KAIZEN
Essa filosofia busca a melhoria contínua dos processos por meio da ideia de que mudanças pequenas, positivas e perpétuas podem trazer benefícios significativos para as empresas – na prática, pode ser utilizado com sucesso também na esfera pessoal.

Os princípios do Kaizen envolvem:

  • Conhecer o cliente;
  • Deixar os processos fluírem, mirando sempre o desperdício zero;
  • Entender o local de produção da sua empresa, andar por ela, compreender seu layout, dificuldades e desafios;
  • Ser transparente e utilizar dados para que as ações de melhoria implantadas se transformem efetivamente em resultados tangíveis;
  • Organizar e treinar seu time.

 

 

Os benefícios vistos na prática
Melhor do que a teoria, só a prática: algumas empresas de variados elos da cadeia vidreira opinam sobre a importância da gestão com o apoio de ferramentas como as mencionadas nesta reportagem.

“Vemos a aplicação dessas ferramentas como essenciais para garantir eficiência operacional, qualidade dos produtos, cumprimento de prazos e melhoria contínua, fortalecendo sua competitividade e confiabilidade no mercado. E, ao adotar práticas de gestão, a GlassecViracon demonstra um compromisso com a excelência operacional e a melhoria contínua. Entre as principais para nossa produção, estão a TPM, para maximizar a eficiência dos equipamentos, reduzindo paradas não planejadas e garantindo que as máquinas operem com o máximo de produtividade e confiabilidade; o Kaizen, para envolver todos os colaboradores na busca por pequenas e grandes melhorias incrementais que, ao longo do tempo, resultam em ganhos significativos de eficiência e qualidade; e até o MDI (Manufacturing Daily Improvements), para monitorar diariamente os indicadores de desempenho, identificar problemas rapidamente através de análise de Pareto e implementar ações corretivas imediatas sempre com foco em PDCA.”
Renato Santana (GlassecViracon)

“Por meio de um sistema de gestão integrada adquirido por volta de 2010, conseguimos separar os setores, com a possibilidade de gerir cada um deles de forma organizada e com precisão de informações. Foi possível organizar nossos estoques (almoxarifado de entrada e produtos acabados), ganhando agilidade, agilizando inventário e até reduzindo efetivo de mão de obra. Além disso, passamos a administrar melhor nosso sistema de qualidade e gestão ISO 9001, com a melhora na gestão de custos por meio do controle de perdas em processos e retrabalhos. Enfim, conseguimos gerir melhor nosso negócio, enxergar problemas, buscar soluções com mais rapidez, resultando em melhor eficiência no geral.”
José Pedro Ruiz (Diamanfer)

“A implementação dessas ferramentas pode ser desafiadora, mas não impossível. A facilidade de implementação varia dependendo de vários fatores, incluindo a cultura, os valores da empresa, o comprometimento da liderança, o nível de treinamento dos funcionários e a complexidade dos processos existentes. As empresas com uma cultura que valoriza a melhoria contínua e a colaboração tendem a ter mais sucesso nessa tarefa: se a organização já possui uma mentalidade voltada para a inovação, a utilização será mais fluida. Um planejamento gradual com feedback contínuo, junto à formação das equipes e definição de metas claras, permite celebrar muitos resultados. A mudança cultural de uma empresa é sempre o mais complicado – porém, sempre digo que o desafio maior é se conscientizar que é preciso mudar, antes que seja tarde. Os esforços nessa direção serão sempre recompensadores.”
Moreno Magon (Latamglass e MM4Glass)

 

Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com
Foto: Виталий Сова/stock.adobe.com

 

Como estruturar a empresa
Em conjunto com as ferramentas citadas, os gestores de uma processadora precisam estruturá-la para que as mudanças a serem implementadas se tornem algo concreto. Claudio Lúcio comenta que existem três passos a serem seguidos:

1. O que fazer
É o planejamento estratégico da empresa, no qual serão definidos:

  • Missão
  • Visão
  • Valores
  • KPIs (Key Performance Indicator, ou indicador chave de performance, são valores quantitativos que medem os processos internos, como receita, lucro líquido, valor médio do produto etc.)
  • Plano de ações

2. Quanto fazer
É a análise de portfólio, que definirá tópicos da atuação comercial, como:

  • Mix de vendas
  • Budget (orçamento)
  • Forecast (revisão e ajuste do orçamento)

Nesse momento, também são estabelecidos os cinco pilares do empreendimento:

  • Inteligência assertiva na gestão da entrega de valor ao cliente (PPCPE)
  • Inteligência assertiva na gestão de RH
  • Inteligência assertiva na gestão das finanças
  • Inteligência assertiva na modelagem e gestão de todos os processos da empresa
  • Inteligência assertiva em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P&D+I)

3. Como fazer
É o cálculo para o planejamento agregado de produção, que mede pontos específicos dos processos industriais:

  • Layout
  • Lead time
  • Máquinas e equipamentos
  • Infraestrutura
  • Logísticas
  • ERP
  • Mão de obra

Este texto foi originalmente publicado na edição 626 (fevereiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Nirusmee/stock.adobe.com

Conheça ferramentas de gestão para sua processadora

O nível de competitividade do setor vidreiro impede que as beneficiadoras de nosso material trabalhem sem o suporte de sistemas, técnicas e metodologias que auxiliem na gestão da produção – quem insiste em não organizar as atividades, provavelmente já ficou para trás na corrida em busca do crescimento.

Por isso, O Vidroplano conversou com um dos maiores especialistas em transformação de vidros no Brasil, o instrutor técnico Cláudio Lúcio da Silva, responsável pelas aulas da Especialização Técnica Abravidro, para entender melhor uma metodologia de referência mundial que pode ajudar sua empresa: a World Class Manufacturing, também conhecida pela sigla WCM. Nesta reportagem – e também na próxima edição da revista, de fevereiro –, você irá conhecer todos os detalhes desse conceito.

O que é
De acordo com o artigo WCM (World Class Manufacturing): o que é e como funciona?, publicado no site da Abecom, empresa nacional de soluções para manutenção industrial, essa metodologia é “uma abordagem estruturada para melhorar a eficiência e a qualidade dos processos de fabricação, baseando-se em melhoria contínua, eliminação de desperdícios e envolvimento dos colaboradores”. Outra finalidade é a integração de todos os níveis da organização, difundindo e padronizando os resultados alcançados. Para Cláudio Lúcio, “a WCM permite que as empresas conquistem a otimização na produção, logística, qualidade, produtividade, custos, segurança e entrega de valor ao cliente”.

Origens
Na década de 1980, foram criadas práticas de gestão baseadas em companhias japonesas, como a Toyota, as quais se destacavam pela excelência operacional. Essas ideias acabaram consolidadas como metodologias por autores especializados no funcionamento da indústria, como o consultor Richard J. Schonberger. O resultado foi a sistematização de técnicas que, cada vez mais, passaram a ser implementadas em fábricas pelo mundo.

“Desde então, a WCM tem sido adotada como um conjunto de princípios e técnicas de gestão e produção que visa a alcançar altos padrões de desempenho e eficiência em um ambiente industrial”, afirma o artigo da Abecom.

Como funciona
A WCM engloba o uso de diversas ferramentas populares no mundo corporativo, algumas já conhecidas pelas beneficiadoras. A lista é extensa – abaixo, confira as principais:

  • Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats – ou, em português, pontos fortes, pontos fracos, oportunidades, ameaças): usada para analisar cenários e validar tomada de decisões;
  • Filosofia Lean Manufacturing: tem a finalidade de aumentar a eficiência e eliminar o desperdício dos processos;
  • Total Productive Maintenance (TPM): também chamada de Manutenção Produtiva Total, foca no crescimento da produtividade;
  • Metodologia 5S (Senso de Organização, Senso de Ordenação, Senso de Limpeza, Senso de Padronização, Senso de Disciplina): conjunto de práticas para manter o ambiente da empresa organizado;
  • OCAP (Out of Control Action Plan – plano de ação fora de controle): identifica as anomalias dos processos;
  • Ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act – ou, em português, planejar, executar, verificar, agir): método de gerenciamento com foco no gerenciamento e direcionamento das ações;
  • Kaizen: focado na melhoria contínua envolvendo todos os colaboradores de todos os níveis da empresa.

Detalhes que fazem a diferença
Como bem alerta Cláudio Lúcio, o mundo do trabalho com vidro é feito de detalhes. “Quando não se tem o conhecimento adequado sobre cada um deles, as perdas e problemas aumentam, tornando-se crônicas. Com isso, passa-se a acreditar que tudo é inerente ao processo ou ao produto, fazendo com que abracemos mitos e lendas.”

Com conhecimento verdadeiro e adequado, aplicado integralmente e de forma assertiva, mitos e lendas ficam para trás. “Com foco na eficiência, os resultados se estabelecem por meio da excelência. Isso significa um nível de perdas perto de 0, sendo mais adequado a sua medição não mais em porcentagem (%), mas, sim, em parte por milhão (ppm)”, frisa o instrutor técnico.

A segunda parte desta matéria, que entrará na edição de fevereiro de O Vidroplano, vai explicar em detalhes as ferramentas do WCM, incluindo depoimentos de empresas que as utilizam. Além disso, Cláudio Lúcio explicará a sequência de ações para a estruturação e adequação de uma empresa vidreira. Não perca!

 

WCM na prática
Apesar de as ferramentas da WCM não serem novidades, é possível ter dúvidas a respeito de suas aplicações práticas. Uma porta de entrada para o assunto é a Especialização Técnica Abravidro, pois todas as técnicas, métodos e filosofias do conceito são aplicados nos cinco módulos da iniciativa: Corte; Lapidação; Serigrafia; Têmpera; e Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoques (PPCPE). Além desses, a iniciativa conta com módulos para outras áreas das empresas: Acompanhamento de Processos (exclusivo para as processadoras receberam um dos cinco módulos acima); Modelagem de Processos Administrativos e Industriais; Manutenção Total Produtiva; e Acompanhamento de Layout.

“Os módulos estão focados para auxiliar as empresas na obtenção de sua estruturação e adequação das atividades com excelência, propiciando um novo caminho, um novo modo do fazer”, explica Cláudio Lúcio.

É altamente recomendável a participação de todos os níveis hierárquicos das processadoras nos treinamentos – da direção até os operadores, passando pelos mais diversos setores. “Em cada módulo são apresentadas diversas técnicas, soluções e tecnologias que possuem uma forte proporção de ineditismo a todos os agentes de atuação da cadeia vidreira, mesmo para quem já atua há décadas no setor.”

Quer revolucionar sua produção em 2025? Consulte a gerente de Atendimento da Abravidro, Rosana Silva, e relate suas necessidades: serão indicados os módulos ideais para atender suas demandas! Aproveite ainda para se inscrever na primeira turma de 2025 do PPCPE, com aulas nos dias 13 e 14 de fevereiro, em São Paulo. Entre em contato pelo e-mail rsilva@abravidro.org.br ou pelo telefone (11) 3873-9908.

Este texto foi originalmente publicado na edição 625 (janeiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto: Iryna/stock.adobe.com

Conheça mais sobre a marcação dos vidros temperados e termoendurecidos

Além do corte, lapidação, furação, lavagem e até mesmo a têmpera, existe uma etapa muito importante no beneficiamento de vidros que não pode ser esquecida: a marcação das peças que passam por processos térmicos (dando origem aos temperados e termoendurecidos). Colocar informações sobre o fabricante nas peças produzidas garante maior segurança do processo como um todo, permite a rastreabilidade do produto e oferece confiança ao consumidor final – pois ele conhece a procedência do material.

Nas próximas páginas, conheça tudo o que as normas técnicas vidreiras dizem a respeito desse tema, quais as técnicas disponíveis para a marcação e as questões estéticas inerentes à tarefa.

Requisitos
Os vidros que precisam de marcação, segundo as normas técnicas, são os temperados e os termoendurecidos. Mas, afinal, quais são os requisitos para realizar essa tarefa da forma correta?

  • Temperados: a ABNT NBR 14698 — Vidro temperado diz que a marcação consiste na identificação de forma indestrutível (indelével) do fabricante e do tipo de vidro. Além disso, pode trazer informações adicionais, em comum acordo entre fabricante e consumidor. O documento não indica um local específico para a marcação ser feita – por isso, pode ser colocada na borda da peça (junto à espessura), caso o cliente ache necessário.
  • Termoendurecidos: a ABNT NBR 16918 — Vidro termoendurecido determina que a marcação deve conter a identificação do fabricante (logomarca, nome ou ambos) e a identificação do tipo de vidro com o texto “Vidro Termoendurecido” ou a sua abreviação “VTE”. Também é permitido utilizar “HS”, abreviação do nome do produto em inglês (heat strengthened glass). Outras informações também podem ser acrescentadas, caso seja necessário. E, ao contrário da norma dos temperados, o documento orienta que a marcação deve ser aplicada próximo a um dos cantos da peça, de forma que fique visível quando instalada. No entanto, a depender de acordo entre cliente e processador, a ABNT NBR 16918 permite que seja em outro local do vidro, sendo visível ou não.

Qual a hora de marcar?
Segundo Edweiss Silva, consultor da Abravidro para certificação do vidro temperado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), é convencional que a marcação aconteça na fase de pré-forno – ou seja, no momento em que as peças são inspecionadas para serem temperadas ou termoendurecidas. “Isso se dá porque a aplicação da marcação, na maioria dos casos, é feita utilizando esmalte vitrificado, que adere à superfície das peças após passar pelo forno, evitando assim possíveis retrabalhos se feita em etapas anteriores”, explica.

 

Um exemplo de como a marcação manual por serigrafia é feita: processo é um dos mais utilizados para a tarefa (foto: Divulgação Agabê)
Um exemplo de como a marcação manual por serigrafia é feita: processo é um dos mais utilizados para a tarefa (foto: Divulgação Agabê)

 

As técnicas existentes
A forma de marcação mais usual entre as processadoras é a serigrafia, também chamada de silkscreen ou impressão com tela, que consiste em imprimir, por meio de uma tela vazada, a informação desejada no vidro. “A aplicação serigráfica deve ser realizada com a tela ‘fora de contato’ – ou seja, sem estar colada ao vidro –, de modo a impedir que haja borrão na aplicação no momento de levantá-la”, revela Silvio Luiz Arruda, gerente geral da fornecedora de esmaltes cerâmicos Triarte.

Outra técnica à qual diversos fabricantes estão aderindo nos últimos tempos é a marcação com adesivos feitos de esmalte vitrificado, os quais são aplicados no local desejado da peça antes da entrada no forno. “Esse tipo de esmalte, também usado na serigrafia, se funde ao vidro durante a passagem pelo forno, aumentando a resistência da marcação contra intempéries”, esclarece Silvio Arruda.

De acordo com Edweiss Silva, a escolha pelo método ideal é da empresa. “E vai variar dependendo da habilidade de cada colaborador. Alguns têm mais facilidade com a tela, outros com o adesivo”, comenta.

Considerações estéticas
O que fazer quando um arquiteto especifica um belo projeto com nosso material, mas, considerando que a marcação possa interferir esteticamente na construção, pede para que ela não seja feita? “Essa situação caracteriza uma ilegalidade perante a Lei nº 8.078 do Código de Defesa do Consumidor, que determina que todo fabricante deve comercializar somente produtos que atendam as normas técnicas vigentes”, afirma Edweiss Silva. “O bom é que as próprias normas se antecipam a esses casos, permitindo a marcação nas bordas da peça, de forma que, se necessário, a identificação do fabricante pode ser confirmada ao desmontar o produto.”

Outra estratégia adotada é a realização da marcação com tintas de cor clara e tonalidades suaves, para que fique bem discreta. “Recomendamos utilizar nossos esmaltes com a coloração jato de areia, para formar uma logomarca nuvem, quase imperceptível”, indica Silvio Arruda, da Triarte.

 

Foto: AvokadoStudio/stock.adobe.com
Foto: AvokadoStudio/stock.adobe.com

 

E os vidros automotivos?
Nos vidros instalados em automóveis, existem outras informações a serem colocadas na marcação. “A ABNT NBR 9491 – Vidros de segurança para veículos rodoviários — Requisitos estabelece que devem entrar o nome do fabricante e as informações para rastreabilidade”, explica Edweiss Silva. “Complementando o assunto, a Portaria Nº 034 do Inmetro estabelece requisitos de avaliação da conformidade para vidros de segurança automotivos. Nesse documento, é indicado que a marcação acrescente a logomarca do Inmetro e o método de rastreabilidade junto ao ano de fabricação.”

As técnicas de marcação para os vidros automotivos podem ser as mesmas dos destinados à construção civil, com a adição de outras, como as pastas fosqueantes. “Elas agem pelo processo subtrativo, ou seja, ‘atacam’ a superfície do vidro. Por isso, não possuem cores: a tonalidade do fosqueamento está associado à cor do vidro”, revela Tarsis Bianchini, CEO da Agabê, especializada em soluções para a decoração serigráfica. A empresa fornece uma solução desse tipo, a Glass Marker, para montadoras e também para o mercado de reposição. Como não precisa ir ao forno, pode ser aplicada em peças já montadas. “Fazemos a aplicação utilizando uma máscara de proteção. O tempo de atuação é de um a três minutos, dependendo do grau de fosqueamento desejado. Em seguida, o produto pode ser removido com um pano umedecido, esponja molhada ou até um banho de água – após isso, a máscara pode ser retirada. E pronto: o vidro está marcado”, comenta Bianchini.

Este texto foi originalmente publicado na edição 622 (outubro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Rochu_2008/stock.adobe.com

Conheça mais sobre o trabalho com vidros jumbo

Quem acompanha a arquitetura mundial já deve ter percebido a tendência do uso de vidros jumbo ou de grandes dimensões nas obras: ao que tudo indica, no que diz respeito à aplicação do nosso material em grandes projetos, tamanho é documento. Afinal, esse tipo de vidro permite mais transparência com menor interferência de ferragens e outros elementos de fixação.

O Brasil não é exceção nesse cenário. Diversas processadoras nacionais já trabalham com o beneficiamento dos jumbos. Esse trabalho envolve cuidados especiais e maquinários específicos para as dimensões do produto. Nesta reportagem você conhecerá mais sobre as peças de grandes dimensões, as vantagens que elas oferecem – tanto para as obras como para as próprias processadoras – e o modo como elas devem ser manuseadas.

Atrativos
Segundo Luiz Cláudio Ribeiro Rezende, consultor técnico da Viminas Vidros Especiais, de Serra (ES), a arquitetura contemporânea busca proporcionar espaços cada vez maiores, mais transparentes e iluminados. “Isso exigiu uma adequação do mercado vidreiro para atender os projetos. Como as dimensões dos vidros tradicionais já não atendiam essas necessidades, as chapas jumbo foram a solução”, comenta Rezende, conhecido no setor como Juca.

Ao conhecer as vantagens dos vidros jumbo, fica fácil entender o aumento da procura por esse item. Leandro Gonçalves, gerente de Projetos da Divinal Vidros (com unidades em São Paulo e Belo Horizonte), lista as principais delas:

  • Redução de desperdício: ao trabalhar com vidros maiores, é possível diminuir o número de emendas e cortes, reduzindo o desperdício de material;
  • Maior área envidraçada: as chapas jumbo permitem criar fachadas e janelas mais amplas, trazendo maior luminosidade e sensação de amplitude aos espaços;
  • Menor quantidade de interrupções visuais: como há menos emendas, o vidro proporciona uma aparência mais uniforme e contínua nas aplicações;
  • Possibilidade de projetos mais audaciosos: painéis de grandes dimensões possibilitam criar e explorar projetos arquitetônicos mais ousados e modernos.

Marcio Caraça, coordenador de Produção da GlassecViracon, de Nazaré Paulista (SP), ressalta que, além de abrir todas essas oportunidades com sua aplicação no tamanho completo, as chapas jumbo também podem ser cortadas em peças menores – e elas também são vantajosas nesse aspecto. “Quando o plano de corte da processadora é bem-feito, o vidro jumbo traz ganho de produtividade e também de otimização, permitindo um melhor aproveitamento da chapa.”

 

Crédito: brianwhittaker/stock.adobe.com
Crédito: brianwhittaker/stock.adobe.com

 

Qual o tamanho de um vidro jumbo?
A chapa jumbo tem 6 m x 3,21 m. As usinas nacionais fabricam também um padrão um pouco menor, conhecido como “minijumbo”, de 4,4 m x 3,21 m. Muitas vezes essas peças chegam a pesar mais de 250 ou 300 kg – e sua área pode ultrapassar os 13 m².

Estrutura robusta
Frente a todos esses atrativos, o trabalho com jumbo mostra-se promissor. Mas, para que isso seja possível, é necessário que sua empresa esteja devidamente preparada – a começar pelo chão de fábrica. “O processamento desse vidro requer maquinário e equipamentos em tamanho diferenciado para a manipulação das peças de grandes dimensões”, aponta Élcio Santos, gerente-comercial técnico da Brazilglass, de Guararema (SP).

Lucas André Baranoski, gerente-administrativo da Temperline, de Cascavel (PR), destaca que a processadora precisa contar com estrutura de ponte rolante, mesa de corte, pórticos para a lapidação e lavadora que suportem o tamanho, dimensão e peso das chapas. Além disso, o forno de têmpera precisa estar preparado para receber essas peças.

Cuidados no deslocamento
De acordo com Marcio Caraça, da GlassecViracon, o processo de movimentação de vidros jumbo dentro da processadora é mais lento, para evitar riscos de acidentes. “Há um cuidado especial para levar as chapas de um lugar ao outro, com o uso de pinças e ventosas com maior capacidade de peso, bem como carrinhos adaptados para atender tanto a altura como o comprimento desses produtos.”

Bruno Bordão, sócio-diretor do Grupo RV Vidros, de São Paulo, reforça a necessidade de garantir a integridade dos colaboradores: “Temos sinalizadores da ponte rolante em funcionamento, além de impedir o acesso de pessoas ao setor de carga/descarga e de corte, a não ser os profissionais de içamento treinados, conforme as Normas Regulamentadoras (NRs) de segurança”.

Gonçalves conta que a Divinal Vidros adota uma série de medidas para garantir a segurança – dos funcionários e das próprias chapas – durante a movimentação:

  • Uso de equipamentos adequados, como pontes rolantes, ventosas automáticas ou outros dispositivos especiais para manejar as chapas com segurança;
  • Treinamento dos funcionários para realizar o manuseio correto do vidro jumbo, sempre seguindo as normas de segurança e utilizando todos os equipamentos de proteção individual (EPIs) necessários;
  • Armazenamento dos vidros em local apropriado, evitando empilhamento excessivo e minimizando o risco de quebras ou avarias;
  • Realização de inspeções periódicas nas peças e equipamentos da empresa para garantir que tudo esteja em boas condições.

Como é o processamento?
Os processos não diferem dos outros tipos de peça. “Os vidros jumbo são cortados e processados juntos com os tradicionais. A diferença começa no acabamento e na movimentação até a chegada para a etapa da têmpera”, relata Baranoski, da Temperline.

Juca, da Viminas, chama a atenção para a importância de garantir a segurança dos colaboradores envolvidos nas operações. “Temos uma área reservada, para o processamento e para a manipulação dessas chapas, que conta com equipamentos específicos. Os profissionais são devidamente treinados, de modo a evitar a interação manual. Para os equipamentos e maquinários, nossa prioridade é a utilização da automação.”

 

Crédito: Andrey/stock.adobe.com
Crédito: Andrey/stock.adobe.com

 

Onde o vidro jumbo é mais utilizado?

  • Portas de correr, especialmente em ambientes com pé-direito alto;
  • Vitrines;
  • Divisórias internas;
  • Fachadas, principalmente as com sistema pele de vidro ou estrutural.

Este texto foi originalmente publicado na edição 608 (agosto de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: KONSTANTIN SHISHKIN/stock.adobe.com

Como atuam os interlayers estruturais?

Com a revisão da norma de laminados (ABNT NBR 14697) no início do ano, esse tipo de vidro ganhou ainda mais relevância nos debates do setor. Como mostram as últimas edições do Panorama Abravidro, sua produção vem crescendo nos últimos tempos, apontando que a solução está se tornando popular em nosso país. Daí vem a importância de comentar sobre uma variação do material: os vidros laminados feitos com interlayers estruturais. Ao contrário das camadas intermediárias comuns, esses insumos oferecem maior rigidez e segurança extra às aplicações, sendo utilizados em situações que necessitem de maior resistência mecânica e no pós-quebra.

Nas próximas páginas, descubra como atuam os interlayers estruturais, para quais instalações eles são indicados e quais são suas limitações.

Qual a função?
A camada intermediária tradicional faz com que, em caso de quebra, os fragmentos do laminado não se desprendam, mantendo o vão fechado enquanto se aguarda a troca da peça. No entanto, existem aplicações em que o vidro também funciona como parte da própria estrutura da obra. Nesses casos, o material precisa apresentar um desempenho superior em termos de resistência – é aí que entram os interlayers estruturais. “Devido à sua rigidez elevada, laminados estruturais são capazes de suportar cargas maiores de esforço mecânico utilizando a mesma espessura de um laminado comum – e a espessura pode até ser reduzida para atingir igual resistência na comparação com interlayers convencionais”, explica Douglas Alves, especialista técnico da Eastman para a América Latina (fabricante do produto Saflex Structural). A conta é simples: maior resistência mecânica significa mais segurança para as pessoas nos locais em que o material está instalado.

Alguns tipos de interlayer estrutural podem chegar a uma rigidez muito maior que a de um PVB comum. “Além disso, são menos vulneráveis à umidade e oferecem maior claridade nas bordas”, comenta Marcos Aceti, coordenador de Vendas Técnicas AIS da Kuraray, dona da marca Trosifol.

Onde usar
Nem todo laminado precisa de interlayer estrutural – afinal, o laminado já é um vidro de segurança. Esse tipo de camada intermediária é recomendado quando os esforços mecânicos são aplicados no próprio vidro. “Diversas soluções podem se encaixar nesse uso, como fachadas, coberturas, pisos, escadas, guarda-corpos, portas e janelas, entre outros. São projetos que exigem alto nível de segurança e resistência, tornando o interlayer estrutural essencial”, orienta Sergio Permanyer Bueno, gerente de Marketing e Comunicações da espanhola Pujol (dona da marca Evalam).

Para entender melhor, é importante diferenciar o conceito “estrutural”:

  • O fechamento com sistema estrutural (peles de vidro, sistemas encaixilhados) coloca nosso material como parte de um todo. É composto por vidros cuja espessura e resistência suportem as cargas às quais serão submetidos (como o vento);
  • Já o vidro estrutural é outra coisa: a resistência, redundância do sistema e desempenho pós-quebra dependem diretamente da composição do vidro – e, para isso, uma camada intermediária estrutural é usada.

“Conhecendo as principais características desses interlayers, suas aplicações mais necessárias são para vidros que não têm pelo menos dois lados fixos ou engastados mecanicamente”, indica Ângelo Arruda, diretor da Vidrosistemas. Um exemplo disso são guarda-corpos fixados pela base e com borda exposta: em caso de quebra, o laminado com interlayer comum se dobraria como um tapete. Para instalações com sistema spider, a versão estrutural do insumo também é indicada, pois o silicone de vedação não suporta o peso em caso de quebra de uma das lâminas de vidro.

Felipe Aceto, diretor-operacional da Avec Design, reforça que projetos de fachadas, coberturas e janelas podem necessitar desse tipo de interlayer quando expostos a climas severos, como ciclones, ou quando projetados para resistir a cargas acidentais atípicas. “Pisos, vigas e colunas envidraçadas também requerem o produto, pois ele desempenhará um papel fundamental no aumento da capacidade de carga e na resistência a impactos”, alerta.

Vale anotar esta dica: o uso do interlayer estrutural tem de ser avaliado conforme a necessidade do projeto, até porque nenhuma norma prescreve especificações para seu uso. Além disso, ele impacta nos custos da obra e, em muitos casos, o laminado convencional já consegue atender os requisitos da aplicação. Por isso, a especificação precisa ser sempre acompanhada por um consultor especialista em estruturas com nosso material.

Crédito: Divulgação Eastman
Crédito: Divulgação Eastman

 

Cuidados no processamento
Todo o processo de beneficiamento de um laminado estrutural é semelhante ao do comum – seja em autoclave ou forno.

Por outro lado, alguns cuidados especiais são necessários. “É altamente recomendado que sejam feitos testes de rotina para o controle da qualidade, incluindo, no mínimo, medidas de adesão por meio do chamado ‘teste de Pummel’ e das propriedades ópticas, como opacidade e transmissão”, aponta Marcos Aceti, da Kuraray. Os cuidados para armazenamento devem ser redobrados, de forma a controlar o nível de umidade – afinal, ela afeta diretamente a qualidade de adesão, podendo causar delaminação precoce.

Existem restrições ao uso?
Apesar da superioridade em relação aos interlayers comuns, os estruturais contam com certas especificidades que, se não forem avaliadas, farão com que seu desempenho caia consideravelmente. Esses impedimentos variam de acordo com o tipo de interlayer estrutural, disponíveis no mercado brasileiro nas versões:

  • Polivinil butiral (PVB);
  • Ionoplástico;
  • Etileno acetato de vinil (EVA) com polímero.

Consultar as fabricantes no momento da especificação ajudará a sanar dúvidas sobre o assunto.

Em relação à aplicação com borda exposta, a estabilidade dessas camadas é muito superior à do PVB comum, desde que o sistema de instalação tenha drenagem adequada e não permita que a água entre em contato de forma permanente ou por um período prolongado – isso vale para os de PVB e ionoplástico. Em piscinas de borda infinita, por exemplo, é necessária a utilização de selante ou silicone de cura neutra em toda a extensão da borda do vidro exposta.

Além da água, altas temperaturas também afetam o desempenho de todos os interlayers estruturais, independentemente da marca ou matéria-prima usada: segundo as fabricantes consultadas, quando instalados em um ambiente com temperaturas que atinjam determinados níveis, eles perdem as propriedades estruturais e passam a atuar como interlayers comuns. “É importante destacar que, mesmo em temperaturas acima de 40 °C, o laminado com nosso produto, o Saflex Structural (DG XC), continua atuando como laminado de segurança e tenderá a manter os fragmentos de vidro aderidos a si após a quebra, mesmo expostos à água ou a outras condições climáticas”, ressalta Douglas Alves, da Eastman, fazendo referência a seu produto de PVB. Os ionoplásticos, por sua vez, perdem a eficiência estrutural em uma faixa de temperatura mais alta, em 50º C, de acordo com a Kuraray. Os de EVA com polímero também alcançam 50º C, conforme indica a Pujol.

Dessa forma, em aplicações nas quais a camada estrutural está suscetível às altas temperaturas no ambiente, recomenda-se a fixação em duas ou mais bordas, para garantir a integridade do sistema.

Um planejamento cuidadoso é essencial para garantir o desempenho adequado do sistema ao especificar e instalar vidros com interlayer estrutural. Conforme explica Felipe Aceto, da Avec Design, deve ser dada muita atenção aos seguintes fatores:

  • A compatibilidade com outros tipos de camada intermediária, como as estéticas, acústicas ou de controle solar, precisa ser cuidadosamente avaliada;
  • Variações de temperatura, exposição ao Sol, umidade e vento devem ser considerados durante a instalação;
  • Recomenda-se proteger as bordas, sempre que possível, para evitar danos.

O que dizem as normas
ABNT NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações: determina em quais aplicações o laminado de segurança deve ser utilizado, sem restrição quanto ao tipo de interlayer usado em sua composição;

ABNT NBR 14697 – Vidros laminados: estabelece critérios para determinação e classificação dos vidros laminados de segurança, sejam eles com ou sem interlayer estrutural;

ABNT NBR 14718 – Esquadrias – Guarda-corpos para edificações: estabelece níveis de resistência ao impacto e de deflexão que essas estruturas devem apresentar sob determinadas condições de esforços mecânicos.

 

Crédito: xiscomonserrat/ Pujol
Crédito: xiscomonserrat/ Pujol


Soluções disponíveis no mercado

EASTMAN
Saflex Structural (DG XC)

  • Com composição de PVB, oferece flexibilidade para processadores acostumados a processar interlayers comuns e também para arquitetos e designers, uma vez que é adequado para todas as aplicações em que o PVB é usado;
  • Pode ser combinado com outros produtos da linha de arquitetura Saflex, como PVB acústico, solar e os coloridos da linha Vanceva.

 

KURARAY
SentryGlas*

  • Feito de ionoplástico, oferece desempenho estrutural até 50º C, com aplicações de borda exposta;
  • Cinco vezes mais resistente que interlayers comuns, é menos vulnerável à exposição das intempéries.
    * No momento da publicação desta reportagem, há falta do produto no mercado

 

Trosifol Extra Stiff

  • PVB estrutural indicado somente para aplicações internas;
  • Possui desempenho estrutural em ambientes com temperatura de até 30º C.

 

PUJOL
AB-AR

  • Feito de uma composição de EVA e polímero, garante boa estabilidade pós-quebra;
  • Dispensa cuidados especiais relacionados à temperatura e umidade durante o armazenamento e processamento.

Este texto foi originalmente publicado na edição 607 (julho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: jovannig/stock.adobe.com

Conheça mais sobre a laminação de espelhos

Como bem mostra o Panorama Abravidro 2023, a produção de laminados segue crescente nos últimos anos, o que revela o quanto esse vidro de valor agregado faz cada vez mais parte do dia a dia das pessoas. Por isso mesmo, é normal passar a ver outras soluções com esse tipo de material sendo utilizadas com maior frequência – e uma delas é o laminado com espelhos, item capaz de incrementar diferentes projetos. Não à toa, é solução buscada por arquitetos e designers de interiores para inovar com segurança e sofisticação.

A seguir, conheça mais detalhes sobre a utilização do produto e o que definem as normas para sua eficiente aplicação.

Material a ser explorado
Segundo as fontes consultadas por nossa reportagem, a versatilidade estética desse material explica a razão de seu uso crescer no País nos últimos tempos. Ao que tudo indica, tanto os profissionais da arquitetura como os especialistas do ramo do design de interiores têm tratado o laminado com espelho como peça importante não só para a modernização, como também para a sofisticação de ambientes cuja segurança é fator essencial para as pessoas que por ali circulam. “Receber pedidos para produzir laminados com espelhos vem se tornando cada vez mais comum, justamente por serem um recurso que vai além do mero apelo decorativo”, revela César Pereira, gerente de Produção da Divinal Vidros.

Para Vinicius Moreira Silveira, diretor-executivo e financeiro da PV Beneficiadora, essa é uma solução de segurança que não demorará para se consolidar. “Nossa empresa está recebendo várias consultas sobre espelho laminado, muitas delas vindas de profissionais do setor de esquadrias e de vidraceiros, a pedido dos próprios arquitetos”, salienta.

Reflexos no mercado
E a atenção a esse produto não surge por acaso: sua versatilidade garante a pluralidade em seu uso. Na prática, temos um item capaz de promover a integração de ambientes sem abrir mão da segurança em prol da estética. Isso porque um espelho monolítico comum quebra de forma semelhante ao float, em cacos grandes que podem gerar acidentes; no entanto, o espelho laminado se comporta exatamente igual ao laminado comum: seus estilhaços ficam presos ao interlayer, permitindo que a peça seja trocada sem perigo às pessoas ao redor.

Crédito: Divulgação Divinal Vidros
Crédito: Divulgação Divinal Vidros

 

Confira onde e como estão sendo feitas essas aplicações:

  • Construção civil: o laminado com espelho é comumente usado para criar efeitos visuais diferenciados, graças à presença de uma superfície refletiva. Ele pode ser aplicado em revestimentos de paredes, portas ou divisórias de residências e ambientes comerciais, como lojas, restaurantes e hotéis;
  • Elevadores: a norma da ABNT para elevadores (prepare-se para seu nome extenso: ABNT NBR NM 313 – Elevadores de passageiros – Requisitos de segurança para construção e instalação – Requisitos particulares para a acessibilidade das pessoas, incluindo pessoas com deficiência) exige a presença de laminados de segurança nessas estruturas. Por isso, em caso de uso de espelhos, ele deve ser instalado no formato laminado;
  • Setor moveleiro: para esse segmento, o laminado com espelho é utilizado para criar móveis com apelo estético, proporcionando reflexão e segurança aos ambientes. Pode ser aplicado em portas de armários, tampos de mesa e em outros elementos do mobiliário. O uso desse item nos móveis, assim como na construção civil, ajuda a ampliar visualmente o espaço – além de adicionar elementos de brilho e reflexão (veja mais tendências no uso de vidros em móveis em nossa reportagem de capa, clicando aqui);
  • Decoração de interiores: aqui o produto pode ser aplicado em painéis decorativos, revestimentos de colunas, molduras e até mesmo, dependendo da especificidade, em detalhes de objetos decorativos. A capacidade do espelho laminado de refletir a luz e oferecer segurança em caso de quebra é aproveitada para criar ambientes mais seguros, espaçosos e modernos.

Processo familiar
Segundo Pereira, da Divinal Vidros, o processo de laminação com espelhos é praticamente igual ao da laminação com qualquer float convencional. “Não há diferenças significativas no procedimento, pois ambos envolvem a montagem de camadas de vidro com interlayer, geralmente o polivinil butiral (PVB), seguido da aplicação de pressão e calor para unir as camadas”, explica. Em relação à pintura no verso dos espelhos, responsável por proteger a camada de prata dessas peças, também não é necessário nenhum cuidado especial – deve-se, sim, prestar atenção se não existem riscos ou defeitos de fábrica, o que pode interferir no aspecto visual.

Um espelho laminado normalmente é formado de:

  • Espelho + interlayer + float;
  • Porém, pode ser laminado com as duas faces espelhadas (espelho + interlayer + espelho). Nessa opção, é preciso se atentar ao alerta de Douglas Alves, representante técnico da Eastman: “Os interlayers são formulados de acordo com a composição química do vidro. Como a composição das tintas do verso do espelho varia dependendo da fabricante, pode ser que algumas não sejam compatíveis com o interlayer escolhido”. Por isso, testes devem ser realizados para avaliar a compatibilidade entre os materiais.

É possível ainda oferecer cores à solução, com uso de interlayers coloridos ou mesmo vidros coloridos na massa.

O que dizem as normas?
Veja algumas das normas técnicas relevantes para o tema:

  • ABNT NBR 14697 — Vidro laminado: estabelece os requisitos de processamento de vidros laminados e laminados de segurança, independentemente dos materiais usados na sua composição, como espelhos ou outro tipo de vidro. Ela é responsável por definir os critérios de qualidade, resistência a impactos, segurança e outros aspectos relevantes para o produto, tendo sido recentemente revisada (veja mais informações na seção “Por dentro das normas”, clicando aqui);

 

  • ABNT NBR 7199 — Projeto, execução e aplicação do vidro na construção civil: principal norma sobre vidros no País, determina os critérios para o uso do vidro e espelhos na construção civil, como especificações técnicas, requisitos de segurança e recomendações de instalação (folgas, calços etc.). Importante: a ABNT NBR 7199 não aborda a aplicação do espelho laminado de forma direta. O espelho laminado é uma opção para o especificador quando o vidro laminado de segurança é exigido para a aplicação e o cliente também deseja os efeitos estéticos que o espelho oferece.
Crédito: Summit One Vanderbilt
Crédito: Summit One Vanderbilt

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 606 (junho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Dariusz Jarzabek/stock.adobe.com

Máquinas de furação e recorte a jato d’água são destaque na Indústria 4.0

A indústria 4.0 já é realidade no Brasil e no mundo – e aqueles que insistem em não se adequar aos novos tempos correm sério risco de ficar pelo caminho. Os avanços prometidos e vistos no campo da inovação seguem promovendo mudanças significativas dentro e fora das organizações. Não à toa, essa renovação das tecnologias digitais é considerada por muitos como uma “quarta Revolução Industrial”. E por falar em revolução, vamos viajar no tempo para abordar a origem e o aprimoramento de um equipamento que espelha bem o significado de avanço: as máquinas de furação e recorte a jato d’água.

O pai da criança
Como acontece com todas as grandes invenções da humanidade, quase sempre existem divergências na hora de determinar a origem verdadeira na linha histórica. Foi assim com a aviação, com o automóvel – e com as máquinas de corte a jato d´água não é diferente. É consenso, porém, que quando se fala na aplicação moderna dessa tecnologia o principal nome que surge é o do engenheiro florestal Norman C. Franz. Na busca por novas maneiras de fazer cortes em madeiras, Norman teve a ideia de estudar qual seria a ação da água em alta pressão como ferramenta para tal fim.

“A tecnologia de jato d’água surgiu na década de 1970 e foi se aprimorando para o corte de metais. Logo depois, já foi introduzido o abrasivo juntamente com a água. Isso trouxe a tecnologia de novas bombas de alta pressão, melhorando a qualidade, precisão e controle do recorte e da furação”, explica Braz Andrioli Júnior, gerente técnico da Sglass. Desde então, os estudos voltados para esse tipo de recorte e furação seguiram em gradativo crescimento, o que, com os avanços na ciência dos materiais e da indústria, estimulou novas ideias para seu aperfeiçoamento.

Foto: Kadmy/stock.adobe.com
Foto: Kadmy/stock.adobe.com

 

Água mole em superfície dura
Com o advento da evolução, refinamentos fizeram com que a tecnologia voltada à furação e recorte a jato d’água se tornasse versátil e com excelente custo benefício. Além da economia na mão de obra, a precisão dos resultados é garantida devido ao aumento na eficiência. Uma das razões do sucesso no processo é explicada pelo diretor da GR Gusmão, Yveraldo Gusmão. “Basicamente, existe uma bomba intensificadora que pressuriza a água até 4000 Bar. Essa água pressurizada passa por um orifício bem pequeno, de 0,25 mm, e com isso você consegue acelerá-la até três vezes a velocidade do som, trabalhando em Mach3 (cerca de 3700 km/h)”, explica.

Como é possível notar, a velocidade se configura como forte aliada da tecnologia no funcionamento do equipamento. Porém, a divisão no protagonismo para atingir a fluidez nas operações não para por aí. “O recorte a jato de água utiliza a velocidade da água somado a um abrasivo para cortar o material desejado.”, esclarece Andrioli, da Sglass.

Como resultado, o que se alcança é um recorte perfeito e preciso, não sendo necessário, em muitas das vezes, acabamento adicional. Outro detalhe é que o processo não origina distorções no material (mecânica ou térmica).

Benefícios da boa escolha
Uma das razões pela qual a Indústria 4.0 é nascente de uma nova revolução na indústria reside no entendimento de a otimização ser um importante meio para potencializar processos e dinamizar os lucros. De acordo com Andrioli, o uso das máquinas a jato d’água:

  • Não agride o meio ambiente;
  • Elimina operações secundárias (como as de acabamento);
  • Efetua recorte com pouca ou nenhuma rebarba;
  • Não oferece estresse de ordem mecânica;
  • É extremamente rápido e versátil;
  • Permite trabalhar com material empilhado.

E a manutenção?
Por ser submetido a intensos ritmos de produção, como é fazer a manutenção desses maquinários? A variável está no tipo de problema, porém nessas horas é possível seguir por dois caminhos: o primeiro seria buscar a ajuda de empresas especializadas, como determina a direção da GR Gusmão em relação aos seus equipamentos que são da linha Dardi; o segundo seria a própria empresa investir recursos na preparação (ou contratação) de um profissional para esse fim.

Aos que optam pelo segundo caminho, Rocky Shi, diretor de vendas da Singip, orienta a adoção dos seguintes processos nos equipamentos que carregam o selo Avant Glass, representante brasileira da marca: “Existem duas partes principais na máquina: uma é o sistema de transmissão, a outra é a bomba de jato de água de alta pressão”, explica. “Todos os dias, antes de iniciar as atividades, o trabalhador deve verificar se há água suficiente no tanque e se o sistema de refrigeração da bomba de alta pressão está em boas condições, além de a cada semana ter de limpar o abrasivo no tanque”, completa.

Lembrando que, seja para manutenção preditiva, preventiva ou corretiva, além dos cuidados gerais comuns a toda operação e verificação de máquinas; o uso de EPI, de EPC, manter todos os componentes de controle e inspeção em funcionamento e identificar o local em manutenção são vitais, assim como sempre ter em mãos uma análise de risco antes de dar início aos processos.

Foto: Seventyfour/stock.adobe.com
Foto: Seventyfour/stock.adobe.com

 

Algumas soluções do mercado

Alpha Jet Dual Head (Sglass)

  • Equipamento patenteado;
  • Software dedicado totalmente desenvolvido no Brasil;
  • Assistência técnica remota;
  • Medidas especiais (conforme a necessidade do cliente);
  • Pode compor linha de produção automática ou manual;
  • Estrutura com aproximadamente 93% de alumínio e aço inox;
  • Executa furos e recortes em peças de até 2,5 x 4,4 m;
  • Executa furos simultaneamente em peças de até 1,25 m com comprimento de até 4,4 m (duplo cabeçote).

 

Water Jet (Avantglass/Singip)

  • Instalação, treinamento, garantia, assistência técnica e peças no Brasil;
  • Velocidade de processamento: 0.05~3.5 m/min (depende do material a ser cortado);
  • Potência instalada: 40 KW;
  • Pressão de entrada de água: 0.2 ~ 0.4 Mpa;
  • Taxa máxima de descarga de água: 3.7 L/min;
  • Taxa de compressão da água: 20:1.

 

Dardi DWJ 3020 BB X5 (GR Gusmão)

  • Dimensões do tanque: 3170 x 2130;
  • Área útil de corte: 3000 x 2000;
  • Eixo Z: 300 mm;
  • Precisão de posicionamento X,Y,Z: +/- 0,1mm;
  • Precisão eixo A e C: +/- 0,1°;
  • Vel. Máxima de rotação (eixo C): 360°/seg.

Este texto foi originalmente publicado na edição 602 (fevereiro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Fotolia RAW/stock.adobe.com

Interlayers podem trazer benefícios extras às obras

Um elemento dos laminados é essencial para a segurança desse tipo de produto: os interlayers. Também conhecidos como “camadas intermediárias”, eles são os responsáveis por fazerem com que a peça laminada fique íntegra mesmo após a quebra, mantendo o vão fechado e evitando risco de ferimentos.

Essa é a principal finalidade do interlayer – mas não necessariamente a única. O mercado conta com diversas soluções especiais para a laminação de vidros, agregando benefícios que vão da estética da obra ao conforto que ela proporciona em seu interior, entre outros. A seguir, conheça mais sobre esses produtos.

Resistência aprimorada

Divulgação: RIU HOTELS
Divulgação: RIU HOTELS

Passarela de vidro no Hotel Riu Plaza España, em Madrid: a estrutura, colocada a 117 m de altura, é composta de peças laminadas com o EVA estrutural AB-AR da Evalam, marca do Grupo Pujol – segundo a empresa, um teste realizado pelo Instituto de Engenharia Estrutural da Universidade Bundeswehr, em Munique, Alemanha, demonstrou que um vidro laminado com AB-AR conseguiu suportar sem problemas, mesmo depois de quebrado, um peso de 400 quilos

 

Há casos em que o vidro laminado é usado não apenas para fechar um vão, mas sim como parte da própria estrutura da obra. Para isso, ele precisa apresentar um desempenho muito superior em termos de resistência, sendo indispensável o uso dos interlayers estruturais.

“É importantíssimo utilizar o interlayer adequado para aplicações estruturais, devido
ao comportamento pós-quebra”, orienta Otávio Yukio Akinaga, gerente de Contas-chave da Kuraray para as Américas. Sergio Permanyer Bueno, gerente de Marketing e Comunicação do Grupo Pujol, representado no Brasil pela Vetro Máquinas, aponta que o uso dessa solução é indispensável em aplicações nas quais o vidro desempenha função estrutural, como pisos, escadas, quebra-ventos e guarda-corpos em locais de circulação intensa de pessoas.

Segundo Daniel Domingos, gerente de Vendas de Advanced Interlayers – Arquitetura da Eastman para a América Latina, o interlayer estrutural confere maior resistência mecânica ao laminado. “Além disso, em caso de quebra das lâminas de vidro, ele pode oferecer um desempenho de rigidez ao sistema que outros tipos de interlayer não são capazes, aumentando a segurança”, acrescenta, observando ainda que o uso dessa solução pode contribuir em alguns casos para a redução na espessura total do sistema, mantendo a resistência mecânica necessária.

Em todo caso, para o bom uso desses produtos, Daniel recomenda que um consultor sempre esteja envolvido no projeto para entender as demandas especiais e, dessa forma, fazer o melhor uso da solução, além de aumentar seu desempenho.

 

Foto: © VIDRIAL
Foto: © VIDRIAL

Guarda-corpos de laminados com SentryGlas, no Estádio Único Madre de Ciudades, em Santiago del Estero, Argentina: segundo a Kuraray, trata-se de um interlayer 5 vezes mais forte e 100 vezes mais rígido que um PVB convencional, indicado para estruturas como tetos, coberturas, pisos, colunas estruturais, escadas, pontes e piscinas com borda infinita

 

Trazendo cores ao vidro

 

Foto: Divulgação Eastman
Foto: Divulgação Eastman

Laminados com PVBs coloridos da linha Vanceva, da Eastman, em aplicação externa no The Mist Hot Spring Hotel em Xuchang, China. “Temos 16 tons diferentes nessa linha, entre transparentes e opacos, que podem ser combinados entre si em até quatro camadas. Isso permite gerar mais de 68 mil cores, algo que não se consegue com PVBs convencionais”, destaca Daniel Domingos

 

Para as áreas de arquitetura, decoração e design de interiores, o uso de laminados com interlayers coloridos traz oportunidades interessantes. “Esses produtos oferecem a possibilidade de integração de ambientes decorativos, principalmente internos – mas, caso a película utilizada seja resistente ao uso em espaços externos, a aplicação também pode ser feita ao ar livre”, comenta Sergio Bueno, do Grupo Pujol.

O mercado conta hoje com uma grande diversidade de cores disponíveis nesse segmento. Além da estética agregada por essa solução, Otávio Akinaga, da Kuraray, aponta que esses interlayers também podem proporcionar privacidade aos ambientes, no caso do uso de películas translúcidas ou opacas na laminação do vidro. Vale destacar que a Eastman organiza, a cada dois anos, a premiação World of Color Awards, que celebra o uso inovador dos PVBs coloridos Vanceva em obras com vidros laminados ao redor do mundo (confira os vencedores da edição deste ano clicando aqui).

 

Foto: Divulgação Eastman
Foto: Divulgação Eastman

Escadas de vidros laminados com EVA colorido da linha Evalam Color: segundo o Grupo Pujol, produto foi desenvolvido priorizando a durabilidade e segurança do material: “Nossa linha pode ser trabalhada em temperaturas de laminação de 120 ºC sem que isso implique perda de tom nas bordas”, comenta Sergio Permanyer Bueno

 

A tranquilidade do silêncio
Os interlayers acústicos contribuem para a atenuação da passagem de som para dentro do ambiente. “Quando consideramos a comparação entre laminados com interlayer comum e com interlayer acústico na frequência crítica, aquela em que a espessura do vidro auxilia muito pouco na diminuição do ruído, o valor de redução pode chegar a até 10 dB. Isso representa reduzir o ruído percebido em quase 50%”, relata Daniel Domingos, da Eastman.

Vale ressaltar, contudo, que o laminado é apenas um dos componentes da janela ou outro tipo de fechamento de um vão – por isso, para proporcionar a redução desejada na passagem de ruído, é necessário especificar bem todos os componentes da esquadria e ter atenção especial na instalação e, principalmente, na vedação do conjunto.

 

Foto: © One Works
Foto: © One Works

Fachada do Aeroporto Internacional Marco Polo em Veneza, Itália, com laminados com o PVB Trosifol Sound Control, da Kuraray. “Esse interlayer traz uma redução significativa de ruído em comparação com as soluções de envidraçamento padrão, além de apresentar excelentes propriedades em termos de segurança, aparência e estabilidade a longo prazo”, detalha Otávio Akinaga

 

Proteção para os pássaros
Este ano, tanto a Eastman como a Kuraray lançaram interlayers para evitar a colisão de aves contra superfícies envidraçadas, como coberturas, fachadas ou guarda-corpos. No caso da Eastman, o Saflex FlySafe 3D conta com insertos tridimensionais e reflexivos que produzem um brilho sutil capaz de evitar que pássaros atinjam o vidro – e isso sem comprometer a vista ou a beleza das fachadas, pois os insertos cobrem menos de 1% da área do laminado. “Além disso, o FlySafe 3D gera um ponto Leed quando especificado, auxiliando nos processos de certificação Green Building”, cita Daniel Domingos.

A solução da Kuraray nessa área é o BirdSecure: o produto, testado pela ONG American Bird Conservancy, conta com um padrão pontilhado que permite que as aves percebam o vidro como um obstáculo, conseguindo desviar-se do material. “Para humanos, a uma distância superior a 2 m, o padrão de pontos desaparece. Esse produto proporciona ainda um bom desempenho em termos de controle solar”, destaca Otávio Akinaga.

 

Foto: Divulgação Eastman
Foto: Divulgação Eastman

 

Virginia Beach Convention Center, em Virginia Beach, EUA: a edificação leva laminados com o PVB de controle solar Saflex SG41, da Eastman. Essa solução trabalha com a absorção de raios infravermelhos e permite a entrada de muita luz ao mesmo tempo que proporciona conforto térmico ao ambiente, podendo ser usada com o tipo de vidro que o arquiteto ou designer desejar

 

Funções diversas
Há ainda outros interlayers para as mais diversas finalidades. A Eastman, por exemplo, conta com PVBs de controle solar e com produtos de proteção contra furacões, bastante comuns nos Estados Unidos e Caribe: eles permitem que vidros de grandes dimensões sejam capazes de resistir a impactos e altas pressões a que os edifícios são submetidos durante tempestades.

A Kuraray tem em seu portfólio o Natural UV, que, ao invés de barrar os raios ultravioleta, permite a passagem de 100% deles, sendo ideal para aplicações nos setores de energia fotovoltaica e agricultura.

O Grupo Pujol, por sua vez, tem, entre outras soluções, o Evalam N-Fluent, cuja fórmula inovadora diminui a fluidez do produto e o risco de o EVA fluir pelas bordas do laminado, proporcionando tempos de limpeza mais curtos. Segundo Sergio Bueno, o N-Fluent e o Evalam Visual também oferecem grande resistência à umidade, evitando as delaminações geradas quando o vidro é instalado com as bordas descobertas e em condições climáticas extremas.

Tudo isso mostra que o papel do laminado pode ir muito além do papel de vidro de segurança: dependendo do interlayer escolhido, ele pode agregar diversas funcionalidades aos projetos arquitetônicos, como beleza, conforto e aplicações estruturais do nosso material. São inúmeras as possibilidades de mercado a serem exploradas pelas processadoras; por isso, vale a pena manter contato com o suporte comercial e técnico local das fabricantes desses produtos, ou de seus representantes no Brasil, para conhecer mais sobre cada solução, tirar dúvidas e ficar por dentro das novidades desse segmento. Boa laminação!

Este texto foi originalmente publicado na edição 597 (setembro de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Benjamin Salazar

Conheça os tipos de lapidação do vidro

Ao encomendar um vidro para uma processadora, há várias informações que precisam ser comunicadas, como as dimensões, a espessura da peça desejada e sua composição (monolítica, laminada etc.). Além desses, tem outra especificação importante: o tipo de lapidação. Afinal, essa etapa do beneficiamento pode conferir diferentes aparências às bordas e cantos.

Que tal conhecer um pouco mais sobre os tipos de lapidação do vidro? Saiba mais sobre eles a seguir.

Para que serve?
A lapidação é uma espécie de lixamento ou modelagem feita com uma ferramenta abrasiva e uso de água. Segundo Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, são dois os principais objetivos dessa operação no material: o primeiro deles é a estética do vidro, conferindo acabamento visual às bordas e cantos da peça no estilo desejado.

O segundo objetivo diz respeito à segurança do nosso material. “Além de proporcionar manuseio mais seguro, o vidro lapidado está menos sujeito a sofrer quebras espontâneas devido à eliminação de microfissuras provenientes do corte”, explica Franklin Marques, engenheiro da Brazilglass.

Cláudio Lúcio acrescenta outro benefício nesse sentido: “A lapidação da borda contribui para aumentar a resistência mecânica do vidro plano, principalmente quando a peça é temperada”.

Vale observar que, para as processadoras interessadas em ampliar seus conhecimentos sobre essa atividade, a Especialização Técnica Abravidro conta com o módulo de lapidação, ministrado pelo instrutor técnico da associação na própria empresa contratante.

Várias possibilidades
Segundo Léo Ramalho, gerente do Grupo Bend Glass, as lapidações mais conhecidas para bordas são:

 

Imagem: Divulgação/Cláudio Lúcio da Silva
Imagem: Divulgação/Cláudio Lúcio da Silva

– Reta (com filete);
– Meia-cana (abaulada);
– Bisotê (lapidação com borda chanfrada);
– Lapidação 45º;
– Lapidação OG;
– Lapidação 2G;
– Lapidação 3G

 

 

 

 

 

Cláudio Lúcio observa que, em geral, a lapidação reta e a meia-cana são as mais utilizadas no mercado. A lapidação biseauté (termo francês traduzido como “chanfrado”), conhecida popularmente como bisotê, é bastante conhecida no Brasil.

Também há diferentes tipos de lapidação para os cantos do vidro.

Franklin Marques destaca ainda a possibilidade ou não de polimento na lapidação, o que pode fazer diferença na escolha do produto: “A lapidação reta sem o polimento é aplicada em vidros para fachadas comerciais em que as bordas ficam aparentes; já aqueles com polimento são utilizados em tampos de mesa, boxes de banheiro, bancadas, guarda-corpos e vitrines comerciais”.

Imagem: Divulgação/Cláudio Lúcio da Silva
Imagem: Divulgação/Cláudio Lúcio da Silva

 

Diferenças no processo

“Cada necessidade de remoção e acabamento determina o tipo de máquina e quantidade de etapas de processamento”, explica Cláudio Lúcio. Franklin Marques exemplifica: “Para efetuar o filete, podem ser utilizadas lixas abrasivas ou rebolos; no caso da lapidação reta, usam-se rebolos do tipo copo; e, para lapidação arredondada, rebolos periféricos”.

É importante observar que a lapidação convencional não é definida pelo cliente, mas sim pelos equipamentos com os quais cada processadora trabalha: por isso, algumas empresas podem ter como padrão vidros com bordas retas (filetadas), enquanto outras podem fornecer principalmente peças com bordas abauladas (meia-cana).

Já com relação aos tipos especiais, feitos a pedido do comprador, Léo Ramalho observa que as lapidações 45º podem ser feitas no mesmo tipo de maquinário, enquanto as bisotadas são realizadas em outros. Por sua vez, Anderson Groppo Barres, diretor da A2 Vidros, aponta que as lapidações OG, 2G e 3G, que proporcionam acabamentos mais voltados ao estilo clássico, são feitas com máquinas de usinagem com comando numérico computadorizado (CNC).

Atrativos
Certos tipos de lapidação do vidro tendem a ser mais procurados de acordo com a finalidade da peça. “O acabamento abaulado, por exemplo, é muito indicado para aplicações que não exigem junção entre peças, como boxes de banheiro e portas pivotantes ou de correr”, explica Anderson Barres, da A2 Vidros. “Já os vidros com bordas retas com filetes são normalmente procurados para tampos, mas também podem ser usados em instalações com junção entre as peças e na engenharia civil.”

Apesar disso, em linhas gerais, não há uma regra definindo onde cada tipo pode ou não ser usado. Um exemplo nesse sentido contado por Ramalho, do Grupo Bend Glass, é que, embora as lapidações OG, 2G e 3G proporcionem resultados muito bonitos para tampos de mesa, a maioria das demandas que a empresa recebe para esse tipo de aplicação é de peças com lapidação reta com cantos arredondados. Já no caso de espelhos, ele menciona que há quem peça o produto com bordas retas, enquanto outros optam pelo acabamento bisotado.

Para Ramalho, no que tange à praticidade na limpeza e outros aspectos práticos, todas as formas de lapidação são igualmente atrativas. “O que mais atrai o cliente na compra desses vidros realmente são a qualidade estética e o perfeito acabamento.” Por sua vez, Marques, da Brazilglass, destaca: “Basicamente, para o cliente, são mais atrativos esteticamente os acabamentos com polimento em que as bordas do vidro ficam expostas e ele se torna um objeto decorativo. No mais, são questões técnicas de aplicação que irão definir o acabamento mais adequado”.

Dicas para o consumidor:
– Franklin Marques, da Brazilglass, orienta que é importante inspecionar as bordas lapidadas ao receber o vidro para se certificar de que não há microfissuras residuais nelas – como dito anteriormente, esse problema pode gerar futuras quebras espontâneas nas peças;

– Atenção também à espessura das bordas, dependendo do uso pretendido para o vidro lapidado: Léo Ramalho, do Grupo Bend Glass, explica que, quanto mais finas, mais frágil o vidro fica.

Este texto foi originalmente publicado na edição 594 (junho de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da imagem de abertura: Divulgação Brazilglass

Identificar as duas faces do float é essencial

Quando você olha para os dois lados de um float, eles são a mesma coisa, certo? As aparências enganam. As duas faces têm diferenças importantes — e saber identificar cada uma é fundamental para garantir o processamento correto da chapa.

A origem das diferenças
Durante o processo de fabricação, depois que a matéria-prima é fundida, a massa vítrea resultante é despejada em uma piscina de estanho líquido em uma atmosfera controlada conhecida como “banho” de estanho. “Nesse processo, o vidro flutua por diferença de densidade no estanho líquido, onde ganha forma, espessura e largura. O processo garante as propriedades ópticas desejáveis com baixíssimos níveis de distorção”, detalha Fábio Reis, gerente técnico-comercial da Guardian.

É nessa etapa que as faces do float se diferenciam. “Isso acontece porque uma das suas superfícies está diretamente em contato com o estanho fundido, enquanto a outra fica em contato apenas com o ar inerte do ambiente do forno”, complementa Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro. As duas superfícies podem ser chamadas, respectivamente, de “lado do estanho” e “lado do ar”.

A olho nu, não se nota qualquer diferença entre elas. Mas, vistas com as ferramentas certas, a história muda. Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix, explica: “Ao olhar o vidro com um microscópio, verifica-se que ele é poroso, tal como uma esponja. Na fabricação, o lado do ar ainda apresenta microporosidade, enquanto na outra face a superfície está selada, pois o estanho forma uma fina camada por cima dela”.

“Durante a etapa de resfriamento e recozimento do vidro, a face do estanho fica em contato com os rolos transportadores”, detalha Ramon Peres, supervisor de Qualidade da AGC. Isso contribui para a absorção dos resíduos do banho de estanho pela superfície da chapa.

Como saber qual é qual?
A identificação do lado do estanho ou do lado do ar é muito importante, pois diferentes trabalhos feitos na processadora podem exigir um lado específico para que se obtenha melhor desempenho, alerta Cláudio Lúcio, frisando que a escolha da face certa para cada finalidade desejada proporciona vários benefícios. Veja alguns:

– Melhor adesão;

– Melhor resistência;

– Menor frequência de problemas e defeitos resultantes no processo (como riscos e manchas);

– Melhoria nos atributos estéticos e nos requisitos técnicos do produto;

– Adequação da efetividade do vidro.

 

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Mas como se faz isso? Wender Cotrim, gerente-industrial da Vitral Vidros Planos, responde: “Existem diversos métodos artesanais para identificação do lado, como os testes do tato e da gota de água. Porém, nenhum é tão eficaz como o uso de um detector de estanho”. Constituído basicamente por uma lâmpada ultravioleta de ondas curtas, sua iluminação, ao banhar a superfície do vidro pelo lado do banho de estanho, faz com que a peça apresente aspecto esbranquiçado e ‘nublado’. Caso a face em contato direto com a luz seja a do ar, os raios ultravioleta passam por ela normalmente.

 

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Outra possibilidade é a localização da linha de Hertz: “O lado do ar é facilmente identificado observando a borda da chapa de vidro; ele é o lado da aresta que apresentar a linha de Hertz [microtrincas resultantes do rodízio de corte feito ainda na usina de base]”, explica Cláudio Lúcio.

Após essa verificação, o instrutor técnico da Abravidro recomenda a colocação de etiqueta no float a fim de permitir que os profissionais no chão de fábrica saibam qual é cada face, do início ao fim do processo.

O lado certo para cada etapa

Corte
A face ideal para essa etapa é a do ar. De acordo com Cláudio Lúcio, “ela resulta em um destaque de forma mais limpa, tanto nas arestas das peças como nas do revestimento da forração da mesa onde essa tarefa é feita, o que resulta em menor índice de chapas riscadas”.

 

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Serigrafia
Em geral, recomenda-se a aplicação dos esmaltes na face do ar. “O uso no outro lado pode levar a distorções de cores após a queima, devido às reações dos metais contidos no esmalte com o resíduo de estanho do float”, orienta Adalberto Ferrari, gerente de Vendas na área de Esmaltes para Vidro e Porcelana da Ferro. Contudo, há exceções: “No caso dos vidros traseiros automotivos, onde são aplicadas as pastas de prata com função de desembaçador, utiliza-se a face do estanho, devido à reação que essas pastas têm com o estanho, formando uma cor bronze nos filetes dos desembaçadores”.

 

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Camila Batista, engenheira de Desenvolvimento de Produto da Cebrace, faz outra observação sobre o lado do estanho: se a opção for pintá-lo, é importante levar em conta que tintas especiais devem ser usadas para este fim. “Nesse caso, também é necessária a realização prévia de testes para homologação da estética da tinta nesta superfície.”

Laminação
O lado certo para esse processo depende do tipo de interlayer usado:

– Para laminações com PVB, EVA ou resina, Cláudio Lúcio indica que o lado em contato com o interlayer seja o do ar: por sua superfície ter maior rugosidade e, consequentemente, maior área de contato e estabilidade química, ele propicia maior ancoragem química e mecânica.

– Renato Santana, coordenador de Qualidade e Lean Manufacturing da GlassecViracon, aponta que a face do estanho deve ser usada se o interlayer for estrutural, como o SentryGlas. “Isso acontece porque a reação entre o produto e o lado do estanho proporciona a adesão ideal para o laminado. No caso do SentryGlas, o uso em contato com a face do ar resulta em baixa adesão e pode levar à delaminação.”

Têmpera
De acordo com Santana, da GlassecViracon, não há nenhuma restrição em relação aos lados do vidro na têmpera. Já Cláudio Lúcio recomenda que o lado do estanho seja colocado em contato com os rolos do forno de têmpera, “pois isso resulta em tempo de aquecimento relativamente menor para a obtenção da mesma temperatura final absorvida pela massa das peças de vidro”.

Renato lembra que no caso dos vidros revestidos, “a face na qual o coating foi aplicado deve estar sempre voltada para cima, tanto na etapa de corte como na de têmpera”.

 

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Reação à umidade
– Cotrim, da Vitral, ensina que, ao manusear os vidros com ventosas a vácuo, o contato delas deve ser sempre com o lado do ar. “A área de contato das ventosas poderá deixar marcas na superfície da face do estanho, especialmente em ambientes com alta umidade.”

– Contudo, o lado do ar é mais suscetível ao surgimento de manchas esbranquiçadas (fase 1 de irisação) quando o vidro permanece molhado e empilhado secando ao ambiente. Cláudio Lúcio explica que isso se dá devido à solubilização do sódio livre (mais presente nessa face do vidro) em reação com o pH alcalino da água usada na lapidação, furação e outras máquinas, quando ela não é tratada antes do seu reaproveitamento.

 

Instalador também precisa de atenção
Embora esta reportagem seja direcionada para o processamento do vidro, as diferenças entre as duas faces também influenciam no desempenho de sua aplicação, dependendo da face utilizada. A seguir, algumas dicas:

– A superfície mais rugosa do lado do ar torna-o mais adequado para a colagem do vidro, seja com fitas dupla-face ou selantes de silicone ou poliuretano;

– Já na instalação de janelas, peles de vidro, vitrines e boxes de banheiro, recomenda-se que o lado do estanho seja aquele submetido ao contato com a água e intempéries, minimizando os efeitos de manchas causadas por maresia, chuvas, poluição ou produtos alcalinos (como sabonetes).

Este texto foi originalmente publicado na edição 580 (abril de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Conheça mais sobre o vidro termoendurecido

No fim de 2020, foi publicada pela ABNT a norma NBR 16918 — Vidro termoendurecido, elaborada para apresentar os requisitos para o processo de fabricação do produto em questão. Mas você sabe o que é um vidro termoendurecido? Conheça a seguir como ele é feito, quais são suas características e seus atrativos para o mercado vidreiro nacional.

 

Entre o float e o temperado
O termoendurecido é um vidro tratado termicamente para adquirir resistência mecânica superior à do float, podendo ser até duas vezes e meia mais forte. Com isso, ele fica abaixo do temperado, cuja resistência mecânica pode ser até cinco vezes maior que a do vidro comum.

Os termoendurecidos são produzidos em fornos de têmpera, assim como os temperados. A única diferença no processo é a curva de resfriamento no forno de tratamento térmico. Sandro Eduardo Henriques, diretor da Sglass, explica: “A preparação do equipamento para fabricar um termoendurecido se dá na regulagem dos parâmetros do resfriador do forno de têmpera. Isso é imprescindível para alcançar a qualidade desse produto, atingida basicamente pelo resultado de um processo físico”.

Renato Santana, coordenador de Qualidade e lean manufacturing da GlassecViracon, aponta as seguintes etapas para a produção do termoendurecido:

1. Corte;
2. Acabamento de bordas;
3. Lavagem do vidro;
4. Serigrafia/pintura (se requerido);
5. Tratamento térmico para o termoendurecimento;
6. Insulamento ou laminação (ou ambos).

 

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Onde pode ser usado?
Embora o processo produtivo desse tipo de vidro seja semelhante ao do temperado, o termoendurecido não é considerado um vidro de segurança. “Isso acontece porque, embora o termoendurecido tenha maior resistência térmica e mecânica do que o float, se houver impacto humano contra a peça e ela vier a quebrar, seus fragmentos são maiores e mais cortantes, similares aos do vidro comum”, explica Santana.

Por isso, de acordo com as normas, em áreas sujeitas a impacto humano, o termoendurecido só pode ser utilizado quando for parte componente de um laminado.

Alguns exemplos das diferentes situações em que o termoendurecido pode ser utilizado:

 

– Em fachadas:
* Pode ser aplicado, desde que seja acima de 1,10 m em relação ao piso;
* Quando for parte de um laminado de segurança, pode ser empregado em qualquer situação;
* Quando aplicado como spandrel (painel que encobre componentes estruturais da obra, como colunas), pode ser usado normalmente, desde que as bordas estejam encaixilhadas ou coladas para, em caso de quebra, os fragmentos ficarem retidos na estrutura.

 

– Em janelas: pode ser utilizado acima de 1,10 m em relação ao piso – as bordas do vidro devem estar encaixilhadas ou coladas para, em caso de quebra, os fragmentos ficarem retidos na estrutura.

– Em divisórias, boxes ou qualquer outra aplicação sujeita a impacto humano: o termoendurecido só pode ser aplicado se estiver compondo um laminado – nunca na forma monolítica.

 

Potencial na geração de energia
Outro mercado interessante para o uso de vidros termoendurecidos é o de energia solar: o produto pode ser empregado na fabricação de painéis fotovoltaicos. “O painel fotovoltaico compõem-se de diversas ‘camadas’, sendo que a que primeiro tem contato com os raios solares consiste em uma peça de vidro”, descreve Jefferson Martins, engenheiro de Produtos da PKO do Brasil. “Vejo o termoendurecido como um produto interessante para esse mercado devido à sua resistência mecânica, que é superior à de um vidro comum.” Segundo o engenheiro, o vidro termoendurecido também tende a ter um empeno muito menor do que o temperado, o que é uma vantagem, pois esse efeito pode ser prejudicial na montagem dos painéis.

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Ainda no segmento de aproveitamento da luz do Sol, o vidro termoendurecido também pode ser utilizado na face externa de coletores solares, usados para o aquecimento de água. A peça, além de permitir a passagem da radiação solar para dentro do sistema, o protege contra choques térmicos, chuvas de granizo e outros impactos que possam danificá-lo.

De acordo com Martins, como a norma para vidros termoendurecidos é muito recente, ainda há certa desconfiança por parte de empresas do mercado para seu uso. “Creio que, havendo o devido esclarecimento, a utilização desse produto tende a ser muito maior”, ressalta.

laminado

 

Normalizando o termoendurecido
A norma NBR 16918 — Vidro termoendurecido foi publicada no dia 12 de novembro de 2020 pela ABNT. O documento foi elaborado pela comissão de estudos do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), sediado na Abravidro.

A norma apresenta as características dos termoendurecidos, entre elas a tensão máxima admissível, tolerâncias permitidas para os aspectos dimensionais, defeitos visuais, empenamento total e local e comportamento de quebra. Os ensaios do produto também estão estabelecidos, incluindo os de fragmentação, avaliação de defeitos e medição de empenamento.

As empresas associadas à Abravidro receberam um exemplar da norma no próprio mês de novembro para completar sua biblioteca.

Este texto foi originalmente publicado na edição 578 (fevereiro de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Saiba a importância da lavagem do vidro na processadora

Após o processo de lapidação (conforme vimos em matéria especial da edição de setembro de O Vidroplano) e também a furação/recorte, vem a lavagem, a parte final do preparo do vidro antes da têmpera e laminação — ou simplesmente para o envio ao cliente se o pedido dele for float comum. Veja a seguir qual sua relevância, segundo Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro.

Como é feita?
A lavagem é realizada por meio da escovação das superfícies e bordas das peças com água limpa e aquecida. Seu objetivo é retirar qualquer resíduo, oriundo das atividades anteriores, que possa ter ficado no vidro.

Ao todo, a operação é composta por quatro etapas — pré-lavagem, lavagem, enxágue e secagem —, todas realizadas pela mesma máquina. Porém, é importante que as caixas sejam independentes.

Quais os cuidados?
– Apenas água limpa e aquecida, em temperatura média de 50º C;

– Sem água limpa e aquecida, não é possível retirar totalmente a sujeira (sal e gordura) das superfícies;

– Deve ser evitado o uso de detergentes, acidificantes ou outras soluções alcalinas, pois podem causar problemas por contaminação, dificultando processos posteriores como têmpera, laminação, serigrafia, impressão, colagem etc.

– Além das observações listadas, alguns tipos de vidro podem exigir cuidados extras. A recomendação é sempre consultar o fabricante e também as normas técnicas relacionadas ao tipo de vidro, como a NBR 16673 — Vidros revestidos para controle solar – Requisitos de processamento e manuseio.

Importância da secagem
– O vidro seca graças à incidência de jatos de ar ambiente limpo (de preferência filtrado) na peça que está aquecida pela água usada na lavagem;

– Não se recomenda jato de ar aquecido: como a água também é quente, não existirá gradiente (diferença) de temperatura e as chapas não secarão.

Este texto foi originalmente publicado na edição 562 (outubro de 2019) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Tecnologia vidreira que surpreende

Instalação de vidros da AGC na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, foi desafio técnico para a processadora Speed Temper

Vidros laminados ou com impressão digital não são novidade na arquitetura faz muito tempo. Porém, seu uso ainda surpreende: o segredo é buscar diferentes formas de beneficiamento e instalação do material. E é exatamente isso o que pode ser visto na Biblioteca Mário de Andrade, localizada no Centro de São Paulo. A paulistana Speed Temper, processadora responsável pela obra recém-instalada no local, encontrou um desafio: manter a qualidade das imagens impressas em alta resolução após a têmpera. O resultado apresenta uso de cores sobrepostas e distorção óptica, tudo com o intuito de alcançar o desejo do criador da obra.

O que é a obra?
Com 1,6 t e ocupando uma área de 150 m², a instalação é uma iniciativa da Abividro. Chamada Série biblioteca, é composta por dezesseis grandes painéis de temperados laminados incolores (5 mm+PVB+5 mm), fornecidos pela AGC e processados pela paulistana Speed Temper. Em ambas as faces dos vidros estão impressos retratos de visitantes e funcionários da biblioteca, além de um autorretrato do artista plástico Alex Flemming, criador da obra que liga a recepção à sala de leitura e pode ser vista tanto por quem está dentro como pelos que transitam fora do edifício.

Como foi feita?
A Speed Temper usou tecnologia de impressão digital da israelense Dip-Tech. As duas chapas que formam o “sanduíche” receberam a mesma imagem com cores diferentes: uma em tinta branca e outra em duas tonalidades diferentes (azul com vermelho ou verde com azul).

Na sequência, os vidros foram temperados e laminados. Durante o processo de laminação, teve-se o cuidado de deixar o lado impresso em contato com o PVB. Com isso, a tinta fica protegida contra riscos, manchas e atos de vandalismo.

Mais detalhes
O projeto buscou inspiração em outra instalação assinada por Flemming, presente na estação Sumaré do metrô paulistano — lá, as placas de vidro também ganharam serigrafias com retratos. “Sempre fui fascinado pela beleza do ser humano e, como acredito que todos nós somos iguais, considero a miscigenação uma das grandes virtudes do Brasil”, explica o artista. “São Paulo se apresenta cosmopolita, multicultural e inesgotável.”

Biblioteca Mário de Andrade
Inauguração: 1925
Valor cultural: tem o segundo maior acervo documental e bibliográfico do País, com 3,3 milhões de títulos, atrás somente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Edifício sede: localizado no centro histórico de São Paulo, foi inaugurado em 1942. É um dos marcos do estilo art déco em São Paulo
Endereço: Rua da Consolação, 94 — Consolação, São Paulo, SP
Horário de funcionamento: 24 horas

Fale com eles!
Abividro — www.abividro.org.br
AGC — www.agcbrasil.com
Biblioteca Mário de Andrade — www.bma.sp.gov.br
Dip-Tech — www.dip-tech.com
Speed Temper — www.speedtemper.com.br

Este texto foi originalmente publicado na edição 528 (dezembro de 2016) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista clicando aqui