No dia 15 de março, faleceu Tarcísio Pestana da Silva, fundador da Pestana Vidros, processadora associada à Abravidro localizada em Belo Horizonte. Tarcísio, pai de Alexandre Pestana, presidente da Abravidro de 2011 a 2017, fundou a Vidraçaria Pestana, que se tornaria processadora, na década de 1960.
A Abravidro e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) assinaram um acordo de cooperação técnica. O objetivo é promover o intercâmbio de informações entre a indústria vidreira e profissionais de arquitetura e urbanismo. A parceria foi firmada no dia 27 de fevereiro, durante a 14ª Reunião Plenária Ordinária do CAU/SP, em São Paulo, com a presença da superintendente da Abravidro, Iara Bentes, e da presidente do CAU/SP, Camila Moreno de Camargo. A iniciativa deve contribuir para a qualificação e capacitação dos profissionais e empresas de arquitetura e urbanismo do Estado de São Paulo, por meio da montagem de uma programação de treinamentos sobre a especificação de forma consciente de nosso material, seguindo as normas técnicas. Há ainda a meta de elaborar e divulgar uma agenda comum de eventos e atividades.
Também assinaram acordos com o CAU/SP a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), a Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem) e a Associação Brasileira da Construção Leve e Sustentável (ABCLS). A duração das parcerias é de 24 meses, de março deste ano até 2027. Na reunião, Iara manifestou a satisfação da Abravidro pela oportunidade de promover a aproximação entre o vidro e os profissionais da arquitetura. “Os arquitetos têm papel fundamental na disseminação das diferentes soluções que o vidro apresenta e em sua correta aplicação. O acordo vai ao encontro da missão que temos na Abravidro de incentivar a conformidade técnica na aplicação do material”, destacou a superintendente da Abravidro, frisando ainda que a entidade vidreira dispõe de bastante conteúdo técnico e informativo sobre nosso material para essa iniciativa.
A Circula Vidro, entidade responsável por gerir a logística reversa de embalagens de vidro no Brasil, informou ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) que a indústria nacional de produtos comercializados em embalagens de vidro bateu a meta de 25% de reciclagem em 2024. Das 877 mil t de vidros consumidos, 221 mil retornaram para a indústria.
MONITORAMENTO MENSAL DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DE VIDROS BRASILEIRA Desempenho – Fevereiro 2025
A percepção sobre o desempenho da indústria nacional de processamento de vidros foi de queda moderada nas vendas faturadas em m² em fevereiro de 2025 em relação a janeiro.
O indicador de desempenho da indústria de processamento de vidros registrou baixa de 9,5% no volume de vendas faturadas de vidros processados no mês, na comparação com janeiro, considerando ajustes sazonais.
Metodologia
A coleta de dados foi realizada nos primeiros dias úteis deste mês, por meio de formulário online. O estudo pode ser respondido por processadoras de todo o Brasil (87 participaram desta edição).
Este mês, a Vivix emitiu um comunicado informando que fará uma manutenção preventiva em seu forno, localizado na planta da cidade pernambucana de Goiana (foto). A intervenção, a ser realizada ao longo de quinze dias durante o mês de maio, já era prevista desde o início da operação da empresa, em 2014, e tem como objetivo assegurar o pleno funcionamento do equipamento pela próxima década. De acordo com o presidente da usina, Henrique Lisboa, a reforma foi cuidadosamente planejada por mais de um ano, de forma a garantir estoque suficiente para atender a demanda do mercado durante o período de parada.
Também em março, a Vivix anunciou Romulo Avellar como seu novo diretor-comercial e de Marketing – ele iniciou na função no começo do mês. Administrador, com pós-graduação em gestão empresarial, Avellar faz parte do Grupo Cornélio Brennand desde 2017, ocupando anteriormente a presidência da Cimento Bravo – Cimar. Ao longo da carreira, acumulou experiência em cargos de liderança em indústrias nacionais e multinacionais, com atuação destacada nas áreas comercial, de trade marketing e de operações. A posição agora ocupada por ele estava sem titular desde dezembro de 2023, com a saída de José Henrique Ribeiro da usina.
Após quase vinte anos como gerente-comercial da Glasspeças, Denise Fonseca saiu da empresa no dia 28 de fevereiro. A profissional segue na ativa no segmento: no início deste mês, ela liderou a realização do primeiro encontro Divas do Vidro, para debater a presença feminina no setor.
A certificação do vidro temperado é uma bandeira da Abravidro. E frequentemente é abordada nas reportagens de O Vidroplano. Agora, nosso setor conta também com um processo para a certificação do vidro laminado. A seguir, conheça mais sobre a história dessa nova iniciativa, o passo a passo do processo e os benefícios que a chancela trará tanto para os processadores como para seus clientes e o mercado como um todo.
Como surgiu
A certificação do laminado é um produto exclusivo do Instituto Beltrame da Qualidade, Pesquisa e Certificação (Ibelq) – e, por enquanto, ainda não há portaria do Inmetro sobre esse processo, diferentemente do que ocorre com o vidro temperado. Após a publicação da revisão da norma ABNT NBR 14.697 — Vidro laminado, em 2023, o Ibelq convidou a Abravidro para participar do desenvolvimento do procedimento para a certificação do produto. Foram realizadas várias reuniões, as quais também contaram com a participação de processadoras e de fabricantes de interlayers.
A presença do laminado na indústria de transformação cresceu, de 2020 a 2022, segundo o Panorama Abravidro, atingindo o melhor índice da série histórica no período. “A certificação será um ponto fundamental para contribuir com a ampliação do uso do laminado e dar ainda mais confiabilidade ao material”, aponta Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro.
Segundo Fabiola Rago Beltrame e Karina Rago – respectivamente, diretora-geral e diretora técnica do Ibelq –, após os ajustes necessários, o processo de certificação para laminados foi divulgado em novembro de 2024 como uma chancela própria do instituto e, em março, recebeu acreditação do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) para esse escopo. O Ibelq, Organismo Certificador de Produtos (OCP) e de Sistemas (OCS) também é acreditado para certificação de vidros temperados.
Foto: Cris Martins
Como é feita
Fabiola e Karina explicam que a certificação dos laminados segue um processo rigoroso para garantir que os produtos atendam os padrões de qualidade e segurança estabelecidos. A primeira etapa do processo é a solicitação de certificação, pelo fabricante, junto ao Ibelq, o qual analisa a documentação técnica e a definição da composição da espessura do produto a ser certificado. Diferentemente da certificação do vidro temperado, em que o fabricante escolhe a classe referente às espessuras do vidro, no laminado o fabricante escolhe a composição a ser certificada, e esta composição valida também a certificação de outras composições, de acordo com a espessura e tipo de vidro e espessura e tipo de interlayer.
O passo seguinte é a realização de uma auditoria na fábrica, para se verificar se os processos de produção, controle de qualidade e rastreabilidade estão em conformidade com a norma ABNT NBR 14.697. Ainda na auditoria, amostras do laminado são preparadas e enviadas para laboratórios qualificados, onde passam por testes de desempenho, como resistência ao impacto, adesão entre as camadas, comprovação da homologação dos interlayers e comportamento em situações de quebra para a classificação de segurança.
Após o atendimento de todos os requisitos, o Ibelq emite o certificado de conformidade, permitindo que o laminado receba o selo de qualidade. Vale destacar que a certificação não é permanente: assim como no caso do temperado, ela possui validade de 48 meses, o cliente deve passar por auditorias periódicas (anuais) e ensaios de rotina para garantir que os produtos continuem em conformidade nos seus processos produtivos.
Foto: Cris Martins
Por que certificar?
A certificação do laminado é uma forma de agregar mais segurança ao produto do ponto de vista do consumidor, aponta Clélia Bassetto. “Ela é um diferencial para a empresa que tem seu produto certificado, permitindo que forneça para grandes construtoras e participe de grandes obras nas quais a certificação é desejada.”
A certificação, dessa forma, é uma chancela e se torna uma ferramenta de comprovação, atestando que o vidro alcançou a qualidade e a segurança desejadas, por meio de testes laboratoriais e atendimento à ABNT NBR 14.697.
“A certificação do laminado por entidade acreditada pela CGCRE [Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro] passa a ser considerada no âmbito do SBAC [Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade], que traz a aceitação para os financiamentos da Caixa Econômica Federal, do BNDES e de outros bancos privados”, frisam Fabiola e Karina.
As diretoras do Ibelq ressaltam ainda que a certificação do laminado não é apenas uma garantia de qualidade e segurança, mas também um diferencial competitivo para as empresas do setor vidreiro no quesito da sustentabilidade, incentivando as práticas de produção alinhadas às exigências ambientais e ao uso responsável de recursos. Além disso, apoia a inovação, com o estímulo ao desenvolvimento de novos produtos e tecnologias, promovendo avanços no mercado vidreiro. Em outras palavras, com a certificação, todos saem ganhando.
Vale destacar que os associados da Abravidro têm valores diferenciados tanto para a contratação da certificação do vidro laminado junto ao Ibelq quanto para a consultoria da entidade, conduzida por Edweiss Silva, que já atua na certificação do vidro temperado.
No dia 12 de março, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a norma ABNT NBR 16835 — Ferragens para vidro temperado – Requisitos, classificação e métodos de ensaio. O documento passou por consulta nacional de dezembro a janeiro, recebendo contribuições de ajustes que foram avaliadas e aprovadas pelos membros participantes da comissão de estudo responsável pela sua elaboração.
Requisitos bem-definidos
Segundo Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro, a nova norma foi elaborada visando à segurança das aplicações para o temperado. Nesse sentido, o documento apresenta os requisitos de qualidade, durabilidade e resistência mecânica que as ferragens para temperados devem apresentar, bem como a sua rastreabilidade, exigindo que contenham a identificação do fabricante. “Ela apresenta também os limites máximos de peso e dimensão do vidro de acordo com o modelo da ferragem, fornecendo ao vidraceiro a referência adequada à instalação a fim de garantir mais segurança na aplicação.”
Clélia destaca que, embora a ABNT NBR 16835 não aborde todas as ferragens existentes, o documento serve de igual modo como referência para aquelas que não são apresentadas no texto. “Como a própria norma cita, as ferragens não incluídas, ou que vierem a ser desenvolvidas para a mesma aplicação, devem atender os requisitos especificados na ABNT NBR 16835, pois seu conteúdo apresenta requisitos mínimos de desempenho para qualquer ferragem para vidro”, explica.
Colocando os produtos em conformidade
Os engenheiros Robson Campos de Souza e Roney Honda Margutti – respectivamente, coordenador da Comissão de Estudo de Ferragens para Vidro (ABNT/CE-248:004.001) e gestor do Comitê Brasileiro de Esquadrias, Componentes e Ferragens em Geral (ABNT/CB-248) – informam que a elaboração da ABNT NBR 16835 contou com a colaboração de várias partes interessadas no assunto, com a presença assídua e colaborativa das principais empresas fabricantes de ferragens para vidro, dos consumidores e usuários do produto. “Destacamos ainda a participação massiva de todo o setor vidreiro nos dez anos de desenvolvimento do projeto de norma, refletindo exatamente as expectativas, demandas e anseios do setor”, comenta Souza.
Uma das contribuições mais importantes da norma é a padronização e responsabilização de todos os elos da cadeia produtiva: será possível identificar se a ferragem ideal foi especificada para uma determinada aplicação e peso de vidro; se o vidro correto foi utilizado para essa aplicação; e se os recortes nas chapas foram feitos corretamente para a referida ferragem, garantindo a segurança e o desempenho do produto e permitindo identificar onde pode ter ocorrido um eventual erro.
De acordo com Souza e Margutti, agora, com a divulgação do texto, as fabricantes de ferragens poderão buscar os organismos de avaliação da conformidade para demonstrar aos consumidores e usuários que seus produtos funcionam conforme as diretrizes do documento. “Entendemos que a publicação da ABNT NBR 16835 vai proporcionar inúmeros benefícios ao setor vidreiro nacional, estabelecendo uma nova era”, avalia Souza.
Vale destacar que, pelo sistema ABNT Coleção, a ABNT NBR 16835 já pode ser acessada gratuitamente, em formato online, pelos associados da Abravidro, assim como todas as normas técnicas do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37) e outras normas selecionadas relacionadas a nosso material.
Em fevereiro, o portal de notícias G1, do Grupo Globo, levou ao ar um publieditorial da Casa dos Espelhos (CDE-Blindex), processadora associada à Abravidro, sobre o compromisso ambiental para reciclar 100% dos resíduos vítreos gerados em sua produção. A processadora firmou parceria com a Sustentabilidade da Amazônia (Suam) para a destinação dos resíduos de forma ecologicamente correta.
Em fevereiro, a AGC e a Saint-Gobain inauguraram um forno piloto híbrido na fábrica da AGC Barevka, em Teplice, na Tchéquia. O equipamento promete diminuir em 192.500 t as emissões de carbono ao longo da próxima década. A iniciativa faz parte da parceria europeia entre as duas multinacionais para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para a fabricação de vidro plano. A instalação, parte do projeto chamado Volta, funcionará com eletricidade e uma combinação de gás e oxigênio.
Um dos chamarizes da nova tecnologia é a questão da circularidade, pois o forno vai operar com uma proporção muito maior de materiais reciclados que a dos padrões da indústria. “Esse é um grande passo em nossa jornada em direção à neutralidade de carbono e demonstra nosso compromisso com a inovação e a sustentabilidade”, declara o presidente e CEO da AGC, Yoshinori Hirai. “Nós da Saint-Gobain acreditamos fortemente na inovação por meio da colaboração. Este projeto está em linha com o compromisso da Saint-Gobain de atingir a neutralidade de carbono até 2050”, afirmou Joana Arreguy, diretora Industrial de Vidro da Saint-Gobain.
Para quem pretende visitar a Glass South America 2025, de 3 a 6 de setembro, no Distrito Anhembi, em São Paulo, uma boa sugestão é adiantar a pesquisa por hospedagem. Os arredores da nova casa da maior feira vidreira da América Latina estão muito bem servidos nesse sentido: segundo a GL Events, administradora do pavilhão de exposições, são cerca de 7.600 quartos de hotel próximos ao Distrito Anhembi – o que facilitará a estadia de quem vier de fora da capital ou de outros Estados. Uma opção prática, por exemplo, está literalmente ao lado do pavilhão: o Holiday Inn Parque Anhembi, maior hotel de convenções do Brasil, com 780 apartamentos.
Indústria em alta em 2024
O Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira teve crescimento de 3,3% em 2024, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados foram impulsionados pela construção civil, que avançou 4,3% no ano passado, e pela indústria de transformação, com alta de 3,8%, após registrar retração por dois anos seguidos (-0,5% em 2022 e -1,3%, em 2023).
Motivos para o crescimento
De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), políticas voltadas para a reindustrialização, como a Nova Indústria Brasil (NIB), e ações de financiamento promovidas por entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tiveram peso no resultado. No entanto, é preciso ter atenção com o cenário para 2025, principalmente pelo impacto negativo da política monetária adotada pelo Banco Central.
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RETROVISOR
Novos caminhos para a construção
Na capa da edição de março de 2013, O Vidroplano celebrava a publicação da revisão da “norma das normas”, a ABNT NBR 15575 — Edificações habitacionais – Desempenho. O texto do documento, o mais importante da construção civil, passou a abordar em detalhes tópicos diretamente ligados ao vidro, como desempenho acústico e térmico.
Estamos terminando o primeiro trimestre do ano e 2025 segue muito parecido com 2024: demanda estagnada e importações em alta, o que resulta em um excesso de oferta de vidros no mercado e a consequente guerra de preços que já conhecemos tão bem. De acordo com o Termômetro Abravidro, fevereiro registrou queda de 9,5% na comparação com janeiro, anulando o bom resultado do primeiro mês. Em breve saberemos como foi março, mas, pelas conversas com meus pares, o cenário não é muito otimista.
A Abravidro segue monitorando os dados e movimentos do mercado com atenção e grande preocupação, em especial aqueles relacionados aos produtos processados: os vidros temperados e laminados têm registrado aumento nos volumes importados, tendo fechado em alta em 2024 em relação a 2023. Este ano não tem sido diferente e os números seguem altos. O índice de ociosidade entre temperadores e laminadores, que já é grande, fica ainda maior com a entrada dos importados na equação.
E, por falar em dados, reforço aqui a importância de mensurarmos os resultados da cadeia de processamento, para que possamos entender o real impacto das importações no mercado interno e para embasarmos eventuais ações de defesa de interesse do setor. A Abravidro estimula a cultura de dados e contribui com ela desde 2012, quando iniciou a publicação do Panorama Abravidro, único estudo econômico do segmento. Em 2023 a família cresceu, com o lançamento do Termômetro, pesquisa que retrata a evolução mensal das vendas faturadas de processados.
Para alimentar os dois estudos e as estatísticas do segmento, a participação das empresas processadoras é fundamental. Estamos na reta final da coleta de dados para a edição 2025 do Panorama, publicação que trará um retrato do desempenho do ano passado. Não deixe de contribuir com a pesquisa e com o mercado. O prazo para respostas vai até 7 de abril. Não deixe para a última hora!
Outra ação que prevê engajamento do setor também já está no ar: o 2º Prêmio Abravidro Glass South America. Depois da bem-sucedida primeira edição, que contou com a participação de mais de cem empresas e obteve seis mil votos na etapa de votação popular, a premiação está de volta com novas categorias e prazos mais elásticos para a participação das empresas de todos os elos da cadeia. Participe!
A reciclagem de vidro pode se tornar mais simples e abrangente – isso é o que espera o projeto Everglass, iniciativa financiada pela União Europeia para o desenvolvimento de um revolucionário processo para a tarefa. Ao invés da tradicional técnica baseada em fornos para derreter vidro, a tecnologia prevê a utilização de feixes de laser.
O conceito envolve a reciclagem de pó de vidro, insumo muitas vezes considerado “sem uso” para a cadeia vidreira – as usinas de float, por exemplo, até utilizam certa quantidade de sucata para produzir novas chapas, mas no formato de cacos. Funciona da seguinte maneira: o laser derrete o pó, e o material fundido, então, pode ser modelado para se tornar um novo produto. Grosso modo, é algo parecido com o processo de impressão 3D, geralmente feito com resina, só que colocando vidro no lugar.
Segundo Juan Pou, professor de Física Aplicada na Universidade de Vigo e coordenador do Everglass, com a nova tecnologia, que ainda está em teste, vários tipos de vidro cuja reciclagem é complexa, por conta de suas características químicas ou físicas, agora podem ser trabalhados de forma sustentável e eficiente para retornarem à cadeia. “Por exemplo, o vidro farmacêutico de borossilicato, que precisa ser processado para reciclagem em uma temperatura mais alta, em grandes fornos, o que envolve tremendos custos em eletricidade. Como usamos sistemas de menor escala, podemos aumentar a temperatura rapidamente, pois o laser permite isso”, explica.
Entre os próximos passos do projeto, estão estudar se o conceito pode ser aplicado em escala maior do que a testada até aqui.
As mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço no mercado de vidros. Essa é uma tarefa necessária para a própria oxigenação das visões e experiências das empresas: elas podem trazer ideias disruptivas que farão diferença positiva para o segmento.
Pensando nisso, e também para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, O Vidroplano preparou uma reportagem especial, na qual conversou com diversas mulheres líderes em suas empresas para entender como construíram suas trajetórias dentro do segmento vidreiro, além de revelar as dificuldades ainda encaradas no dia a dia. O VidroCast, o podcast da Abravidro, também aborda o tema em programação especial com mulheres líderes em suas empresas.
Na indústria
De acordo com pesquisa do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mulheres representam um quarto da força de trabalho desse segmento no Brasil. Em cargos de gestão no setor, a participação é melhor: de 2008 a 2021, houve aumento na quantidade de mulheres líderes, passando de 24% para 31,8%, o que corresponde a quase um terço do total.
Quem é ela “Sou gerente-financeira do grupo, exerço essa função há 28 anos. O financeiro envolve toda a empresa, pois, por ele, passam todas as ações e planejamento que executamos nesses anos.” Denise Favero Ramos (Blue Glass)
A indústria brasileira ainda está abaixo da média dos demais setores da economia – nos quais as mulheres ocupam quase metade das posições de liderança (46,7%). No entanto, o crescimento da presença feminina na cadeia foi três vezes maior no mesmo período (32,5%, contra 9,8% nos demais segmentos).
Ainda não existem dados para mostrar como anda esse indicador no mercado vidreiro. Medindo no olho, parece, sim, que mais mulheres fazem parte da rotina estratégica das empresas vidreiras comparando-se com anos anteriores. “As mulheres, a todo tempo, precisam se provar. Quando você abre a boca para falar, começa a se posicionar e mostrar seu conhecimento técnico, o povo olha de uma forma diferente. Em muitos casos ainda sinto que preciso argumentar para que me respeitem. Então, essa situação continua a acontecer, mas o cenário melhorou”, analisa Audrey Dias, diretora da Aluparts.
As mulheres representam um quarto da força de trabalho na indústria brasileira (Foto: reewungjunerr/stock.adobe.com)
Obstáculos
“Embora o cenário esteja mudando e haja um avanço significativo na inclusão feminina, ainda existem barreiras culturais e, em alguns casos, preconceitos velados, o que gera desafios para as que assumem posições de liderança ou funções técnicas na produção”, explica Denizy Alves, gerente-comercial da Govidros, de Goiânia.
Na percepção de 92% dos participantes de uma pesquisa realizada em 2020 pelo Instituto Patrícia Galvão, mulheres sofrem mais situações de assédio no ambiente de trabalho que os homens. Além disso, as opiniões ou pontos de vista não eram levados em consideração por 37% das entrevistadas.
“Já tive cliente que quis ser atendido por homem, pois acha que não sabemos do assunto, me culpando porque demorou para entregar os vidros. Enfim, comércio é um desafio diário, e aprendemos a lidar com tudo e todos”, comenta Simone Carvalho, irmã de Denizy e também gerente-comercial da Govidros.
Quem é ela “Como diretora-administrativa da processadora Vipel e da extrusora de alumínio Alump, acabo participando de várias áreas: comercial, faturamento, controladoria e atendimento ao cliente também. Eu faço a compra de matéria-prima das duas empresas, sendo responsável por negociações diretas com os grandes fornecedores do nosso mercado.” Bruna da Motta (Vipel)
“Nunca sofri preconceito explícito, mas ele é, normalmente, velado, de forma sutil, em não querer tratar de certos assuntos com uma mulher”, exemplifica Bruna da Motta, diretora da Vipel, de Tubarão (SC). “Os homens mais novos vêm aceitando muito mais, mas os que estão há mais tempo no setor ainda podem ter certa resistência, e isso aparece subestimando a eficiência da mulher no dia a dia. Mas acredito que, mostrando que somos capazes, conseguimos nosso lugar.”
“Embora tenha ocorrido progresso, é fundamental continuar a luta por um ambiente de trabalho justo e igualitário para todos. Estamos comprometidos em promover a inclusão e garantir que atitudes discriminatórias não sejam toleradas. Nosso objetivo é que todos se sintam valorizados e respeitados, tanto no ambiente de trabalho como em nossas relações comerciais”, aponta Neiva Nicaretta, diretora e cofundadora da Modelo Vidros, de Garibaldi (RS).
Para Elaine Mossin, gerente-administrativa da LM Vidros, de Campo Grande, é importante a profissional mulher estar preparada para esse tipo de desafio: “Sempre busquei me qualificar para que eu fosse respeitada não por ser mulher, mas profissional. Acho que isso é importante para que tenhamos segurança de nossa própria capacidade”. No entanto, vale reforçar: a principal responsabilidade para criar condições que possam deixar o machismo de lado é dos homens.
Aos poucos, as mulheres vão assumindo posições de liderança nas empresas vidreiras, seja na gestão do empreendimento ou mesmo em atividades de chão de fábrica (Foto: JackF/stock.adobe.com)
A importância de oferecer oportunidades
Segundo a pesquisa da CNI citada anteriormente, a cada dez indústrias brasileiras, seis contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero – dessas, 61% afirmam tê-las há mais de cinco anos. Entre as iniciativas mais usadas estão política de paridade salarial (77%), proibição de discriminação em função de gênero (70%), cursos específicos para qualificação de mulheres (56%) e estímulo à ocupação de cargos de chefia (42%). O estudo revela ainda que que 57% dos entrevistados (mais de mil executivos industriais, sendo 40% do sexo feminino) dão importância alta ou muito alta a políticas de gênero.
Não só as profissionais se beneficiam com maiores chances, pois conseguirão se inserir no mercado de trabalho, mas, principalmente, as empresas. “A diversidade traz novas perspectivas, amplia a criatividade e fortalece a inovação dentro das companhias”, comenta Denizy Alves, da Govidros. “Acreditamos que o talento e a capacidade de liderança não tenham gênero – o que importa são a competência, a visão estratégica e o comprometimento.”
Quem é ela “Atuo de forma estratégica e comercial, garantindo que a empresa esteja sempre alinhada às demandas do mercado. Além de cuidar da precificação dos produtos, também acompanho de perto a fabricação para garantir a qualidade e eficiência dos processos.” Denizy Alves (Govidros)
Para Simone Carvalho, da Govidros, sempre é possível deixar comportamentos culturais antiquados para trás: “Entendo que pode não ser fácil para alguns homens serem liderados por mulheres, mas mesmo meu pai teve de se remodelar na questão do machismo, pois somos minha mãe e três filhas mulheres, todas dentro da empresa”.
Como pondera Elaine Mossin, da LM Vidros, as mulheres são tão competentes quanto os homens nas mais diversas atividades. “Sem contar que somos multitarefas, detalhistas e conseguimos equilibrar melhor razão e emoção para lidar com pessoas”, frisa. Tais características são imprescindíveis para o mercado vidreiro, que depende de visão criativa para trabalhar com produtos de valor agregado. “Mulheres impulsionam inovação e criatividade, favorecendo o desenvolvimento de novos produtos e soluções para um público mais amplo. Além disso, contribuem para uma cultura organizacional mais colaborativa e inclusiva, promovendo a retenção de talentos. A diversidade torna as decisões mais equilibradas, assertivas e éticas”, define Neiva Nicaretta, da Modelo Vidros.
A opinião é compartilhada por Bruna da Motta, da Vipel. “A inclusão feminina no setor vidreiro ajuda a oferecer novas soluções criativas aos desafios do setor. E ainda inspira meninas a seguir carreira, para se tornar também líderes.”
Não só as profissionais se beneficiam com maiores chances, pois conseguirão se inserir no mercado de trabalho, mas, principalmente, as empresas: diversidade traz novas perspectivas e maior inovação às companhias (Foto: romul014/stock.adobe.com)
Avançamos em equidade
O 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, do Ministério do Trabalho e Emprego, divulgado no ano passado, indica que as mulheres recebem 20,7% menos do que os homens nas mais de 50 mil empresas consultadas (com cem ou mais empregados).
Mas existem boas notícias: levantamento da CNI mostra que, nos últimos dez anos, houve aumento da igualdade salarial entre mulheres e homens. O indicador subiu 6,7 pontos, saindo de 72 pontos (em 2013) para 78,7 (em 2023) – quanto mais próximo de 100, maior a equidade.
Quem é ela “Meu dia a dia é dividido entre os setores comercial e administrativo/financeiro, incluindo a assistência na tomada de decisões estratégicas junto à diretoria da empresa.” Elaine Mossin (LM)
Além disso, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou nos países que compõem o G20. No Brasil, o indicador também cresceu: de 34,8%, em 1990, para 52,2%, em 2023.
Quais os caminhos para continuar transformando esse panorama, então? “Acredito que a cultura de muitas empresas precisa mudar para que as mulheres tenham mais acesso ao setor vidreiro. A automatização das linhas de produção pode ser um caminho para que comecemos a ter mulheres também no chão de fábrica”, analisa Denise Favero Ramos, gerente-financeira da Blue Glass, de São José dos Pinhais (PR).
Bruna da Motta, da Vipel, também aposta na criação de políticas internas de apoio à carreira das mulheres, mudando a cultura organizacional enraizada apenas no masculino: “É preciso educar cada vez mais a sociedade para o tratamento igualitário dos gêneros”.
Quem é ela “Como diretora e cofundadora da empresa ao lado do meu esposo, Leonir, minha rotina é multifacetada, unindo a gestão financeira à estratégia geral do negócio. Meu foco diário está na sustentabilidade financeira, supervisionando contas a pagar e a receber, fluxo de caixa, análise de crédito e gestão de investimentos.” Neiva Nicaretta (Modelo Vidros)
“O primeiro passo é desconstruir a ideia de que certas funções têm gênero”, afirma Denizy Alves, da Govidros. “Empresas e lideranças precisam promover um ambiente inclusivo, em que as mulheres se sintam bem-vindas e tenham condições de crescer profissionalmente”. Elaine Mossin, da LM Vidros, olha para outros setores da construção civil como bons exemplos a serem seguidos: “Temos mulheres trabalhando como pintoras, assentadoras de piso – que se destacam por serem mais detalhistas –, entre outras funções. As mulheres desempenham muito bem seus papéis, com profissionalismo e muita competência”.
Neiva, da Modelo Vidros, cita ações que sua processadora aplica no dia a dia, incluindo a colocação de mulheres em cargos de liderança de setores internos como comercial, RH e compras. “Como estamos comprometidos em valorizar o trabalho voluntário feminino na sociedade, criamos o programa Mulher Modelo, que reconhece e destaca mulheres que realizam esse tipo de atividade”, revela.
Foto: Thiago Borges
Eventos e ações para debater o tema
Indo além das atividades internas nas empresas, nosso setor também precisa debater o tema publicamente. Nesse sentido, estamos bem-servidos, com alguns eventos próprios para discutir a posição das profissionais no empreendedorismo vidreiro.
A Blindex realizou quatro edições do Fórum Transparência com Elas, que reúne franqueados, parceiros e clientes para trocar ideias sobre o espaço da mulher no mercado de trabalho – saiba mais a respeito da iniciativa na entrevista com Glória Cardoso, gerente-geral da Pilkington e Blindex, clicando aqui.
Quem é ela “Estou na Govidros desde meus onze anos. Já limpei a empresa, implementei o cafezinho coado na hora, fiquei no caixa – mas eu queria mesmo era vender. Depois de voltar de uma licença maternidade, fui direto para o setor de vendas. Minha clientela era boa e fiel, e para mim representavam mais do que clientes, viraram meus amigos. Finalmente fui convidada para a gerência dessa área, meu cargo atual.” Simone Carvalho (Govidros)
A companhia, inclusive, oficializou, no dia 8 de março, uma parceria com o Instituto Mulher em Construção (Imec) para patrocinar a formação da primeira turma de vidraceiras do instituto. Com os conhecimentos adquiridos, as participantes do curso poderão atuar profissionalmente na instalação de sistemas de envidraçamento, promovendo sua independência financeira e ampliando suas perspectivas de carreira. “Essa é uma ação prática que demonstra como as mulheres podem explorar novos mercados, especialmente o do vidro”, destaca Glória Cardoso.
O Imec atua há quase duas décadas capacitando mulheres para a construção civil, já tendo formado mais de 7 mil profissionais em elétrica, hidráulica, pintura e assentamento de pisos. Os cursos para formação de vidraceiras serão gratuitos e contarão com uma estrutura que combina teoria e prática – datas, local e mais informações sobre as inscrições ainda serão divulgados.
Eventos para discutir a posição das profissionais no empreendedorismo vidreiro também são relevantes, como é o caso do Encontro Paranaense de Mulheres Vidreiras, organizado pela Adivipar-PR (Foto: Duda Dalzoto)
As entidades vidreiras regionais também estão de olho no assunto. O Sindividros-RS organiza o Vidro Delas, evento exclusivo para arquitetas, designers de interiores, engenheiras, gestoras, colaboradoras e funcionárias das indústrias e vidraçarias representadas pela entidade. A Adivipar-PR, por sua vez, idealizou, em 2023, o Encontro Paranaense de Mulheres Vidreiras. Realizado no Viale Cataratas Hotel, em Foz do Iguaçu, contou com 170 participantes que conferiram uma programação de palestras voltadas tanto para o universo feminino como para o segmento vidreiro nacional. Este ano, em junho, ocorre a 2ª edição.
Um dos maiores diferenciais que qualquer empresa precisa ter é uma boa produtividade: é esse indicador que, se estiver em um nível satisfatório, permite manter a saúde financeira em patamares favoráveis, garantir a fidelização dos clientes e, consequentemente, fechar mais vendas. Mas o que precisa ser feito para aumentar a produtividade de uma processadora? O que costuma dificultar essa melhora acontecer – e como superar esses obstáculos?
Nesta reportagem, O Vidroplano apresenta as definições de produtividade, o cenário dela na indústria nacional e no setor vidreiro e algumas dicas para tornar seu negócio mais produtivo.
O que é produtividade?
Segundo artigo no portal do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), trata-se da relação entre o volume do que é produzido na empresa e os insumos usados, mão de obra empregada ou a quantidade de tempo que demandou para finalizar o processo. Para o nosso setor, o indicador é medido de forma simples: divide-se o volume da produção em m² ao longo de um determinado período (dia, semana, mês, ano etc.) pelo número de colaboradores da empresa.Em outras palavras, seria a capacidade de “fazer mais com menos”, mas sem deixar cair o nível de excelência que os negócios já entregam aos clientes.
É importante observar que aumento de produtividade não é a mesma coisa que aumento de produção: de acordo com artigo no site do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o aumento da produção se dá quando a empresa usa mais recursos (matéria-prima, mão de obra, capacidade de máquina, tempo etc.) e produz mais produtos; já a produtividade cresce quando a empresa usa menos recursos para produzir a mesma quantidade.
Portanto, melhorar a produtividade do seu negócio traz uma série de benefícios, tanto quantitativos como qualitativos:
Redução de custos de produção
Menor uso de recursos para alcançar o mesmo objetivo
Expansão da atuação e consolidação da presença no mercado
Geração de diferenciais competitivos
Gargalo da indústria nacional
Em entrevista para a jornalista Natuza Nery no podcast O Assunto, o economista Naercio Menezes Filho, colunista do jornal Valor Econômico e professor associado da Faculdade de Administração, Economia, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), aponta que se observa uma estagnação da produtividade no Brasil. “Ela atingiu um pico nos anos 1980 e, de lá para cá, está mais ou menos no mesmo nível. Isso é bastante preocupante: desde 1995, a produtividade está crescendo menos de 1% ao ano”, afirma, destacando que, em comparação, esse indicador nos Estados Unidos cresce cerca de 2% ao ano há um século. “A única maneira de realmente aumentar a riqueza de um país para as pessoas terem uma renda melhor é pela produtividade”, analisa Menezes Filho.
No caso da indústria nacional de transformação, Samantha Ferreira e Cunha, gerente de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), observa que, depois de três trimestres consecutivos de queda, a produtividade nesse segmento cresceu 0,8% no terceiro trimestre de 2024, possivelmente refletindo um final do período de adaptação e treinamento dos novos trabalhadores contratados durante o aquecimento do mercado de trabalho. Apesar disso, ela ressalta: “Quando a gente olha a evolução no longo prazo, o Brasil acumula uma perda de produtividade superior a 20% frente a seus parceiros comerciais na comparação com o ano 2000”.
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No setor vidreiro
Nosso segmento também enfrenta problemas. O Panorama Abravidro 2024 indica que, em 2023, a produtividade na indústria de transformação seguiu em baixa pelo terceiro ano seguido, atingindo a pior marca da série histórica da pesquisa. Nos últimos dez anos, esse indicador (calculado pela produção mensal em m² por funcionário) só apresentou melhora duas vezes, em 2015 e 2020.
“A produtividade da indústria de processamento de vidro plano nacional, assim como grande parte da indústria brasileira, apresenta um desempenho muito inferior ao dos países desenvolvidos. Problemas estruturais, como a excessiva carga tributária e regulatória, deficiências logísticas e o baixo nível educacional da mão de obra, entre outros obstáculos, há décadas comprometem a capacidade competitiva nacional”, avalia Alexandre Pestana, ex-presidente da Abravidro e atual membro da diretoria da entidade.
Ele também cita as características do principal mercado consumidor, a construção civil, que prioriza o produto feito sob medida, em detrimento do padronizado, contribuindo com maior custo e menor eficiência dos processos fabris.
De acordo com Pestana, o segundo elo da cadeia produtiva do vidro plano começou a se estabelecer na década de 1980, ganhando robustez a partir dos anos 2000. “Ainda assim, trata-se de uma indústria em processo de amadurecimento, que busca aprimorar tanto suas práticas gerenciais quanto produtivas, ao mesmo tempo que enfrenta o problema da informalidade excessiva e prejudicial; além disso, há pelo menos duas décadas, o setor opera com sobreoferta de capacidade, um problema que se intensificou no pós-pandemia, agravando ainda mais a baixa produtividade”, alerta o diretor da Abravidro.
A médio prazo, espera-se que os efeitos da reforma tributária tragam avanços significativos: além de reduzir a carga tributária efetiva da indústria, a reforma deve contribuir para a redução da informalidade. “Isso poderá impulsionar um processo de consolidação dos processadores de vidro, resultando em um melhor equilíbrio entre oferta e demanda e, sobretudo, no estímulo à eficiência e à produtividade como os principais fatores de competitividade, atualmente distorcidos pela informalidade”, explica Pestana.
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Atualização para a produtividade
E como tornar a empresa mais produtiva? A resposta está na atualização, tanto de equipamentos como de conhecimentos. O primeiro caso pode ser resolvido com a adoção de ferramentas e sistemas mais eficientes (conheça algumas soluções disponíveis no mercado clicando aqui, e leia também a matéria da edição de fevereiro sobre equipamentos que ajudar as processadoras a reduzir despesas no dia a dia clicando aqui); já o segundo é feito por meio da qualificação da equipe – e, felizmente, há várias opções para isso.
Uma delas é o Brasil mais produtivo, programa de fomento às pequenas, médias e microempresas brasileiras dos segmentos da indústria, comércio e serviços, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Seu objetivo é promover o aumento da produtividade, competitividade e eficiência energética, trabalhando a disseminação das melhores práticas produtivas e gerenciais e a utilização de ferramentas de transformação digital e desenvolvimento, assim como a adoção de novas tecnologias digitais. A iniciativa conta com consultorias realizadas pelo Sebrae e pelo Senai.
Outra ação nesse segmento é o Programa de apoio à competitividade das micro e pequenas indústrias (Procompi), iniciativa conjunta da CNI e Sebrae. O Procompi trabalha identificando desafios específicos das pequenas e microindústrias (MPEs) no Brasil, com projetos abordando eixos setoriais, como a otimização de processos específicos de um setor; temáticos, como a solução de problemas comuns entre indústrias de diferentes setores; e digitais, como a adoção de automação e a preparação para a Indústria 4.0.
Por fim, não se pode deixar de falar do módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoque (PPCPE), da Especialização Técnica Abravidro. Trata-se do único curso de PCP focado especificamente nas demandas do setor vidreiro e cujo conteúdo é constantemente atualizado para acompanhar as mudanças do mercado.
“No PPCPE são estudadas as classificações dos sistemas produtivos mais utilizados no mercado vidreiro para atendimento ao mercado de arquitetura e construção civil: o MTO [Make To Order], ou ‘produção sob encomenda’, e o ETO [Engineer To Order], ou engenharia sob encomenda’”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, responsável pelas aulas do módulo. Cláudio deixa um aviso aos processadores interessados nessa capacitação oferecida pela Abravidro: “É muito importante a participação dos gestores do sistema de atendimento ao pedido do cliente, operadores do setor de PCP e plano de corte, diretores e, especialmente, proprietários da empresa nesse módulo, para o melhor aproveitamento do conteúdo e ampliação dos resultados”.
Como é possível ver na reportagem sobre os desafios para a produtividade (clique aqui), tornar sua processadora mais produtiva traz uma série de benefícios para ela, desde a redução de gastos até o aumento na sua competitividade frente a outras empresas no nosso setor. Para isso, além de mudanças culturais no dia a dia da fábrica, também é importante que ela esteja equipada com ferramentas que contribuam para o aumento desse indicador nas suas atividades – felizmente, o mercado conta com várias soluções para ajudar nessa tarefa.
Por isso, para complementar a matéria anterior, mostramos algumas dessas ferramentas nas páginas a seguir. São softwares para máquinas e sistemas de gestão que lhe ajudarão em diversas etapas de suas atividades.
Foto: Elmira/stock.adobe.com
Ajuda para fazer as melhores escolhas
Antes de adquirir as soluções para sua empresa, é essencial conversar com o fornecedor: ele tem como avaliar as necessidades de sua fábrica e indicar ou customizar o produto que atenderá melhor a elas.
“Aumentar a produtividade não depende somente do equipamento, mas sim de um conjunto de fatores. Por isso, sempre fazemos primeiro um estudo técnico com o cliente a fim de garantir a melhor configuração da máquina ou sistema de automação para ele”, explica Jones Hahn, CEO da NEX Soluções Inteligentes. A equipe do GlassControl tem a mesma prática: “Visitamos frequentemente nossos clientes e procuramos entender suas necessidades. A partir disso, então, personalizamos o software para atender exatamente o que precisam, entregando soluções que não só atendam, mas superem as expectativas”, informa José Donizete, gerente de Desenvolvimento.
Priscila Kimmel, gerente Comercial da SystemGlass, aponta que a empresa não apenas fornece soluções tecnológicas, mas também busca criar parcerias estratégicas de longo prazo com seus clientes. “Oferecemos suporte completo, desde a implementação até o treinamento e o acompanhamento constantes, garantindo que nossos clientes maximizem o valor das soluções adotadas. Nosso objetivo vai além de otimizar a produtividade: queremos proporcionar uma gestão inteligente e eficiente, na qual os resultados sejam refletidos diretamente no crescimento e na sustentabilidade do negócio”, destaca.
Imagem: Divulgação SystemGlass
Produtos:GRICS e ToolGlass, softwares para gerenciamento Fornecedora: SystemGlass Como contribuem para a produtividade:
Por meio de um sistema robusto de rastreabilidade, os programas permitem monitorar com precisão a produtividade das processadoras, capturando dados detalhados como a quantidade de metros quadrados produzidos por tipo de vidro, o desempenho de cada máquina, o tempo de processamento e os custos envolvidos em cada operação;
É possível acompanhar de forma minuciosa indicadores como o custo por hora de mão de obra e de operação das máquinas, o custo real da matéria-prima utilizada, entre outros gastos diretos e indiretos, fixos ou variáveis, associados ao processo;
Ao automatizar a coleta e análise de dados, essas soluções permitem decisões mais rápidas e precisas, além de possibilitar investimentos estratégicos em automações que ampliam a capacidade produtiva;
Facilitam a otimização contínua de processos, resultando em uma significativa redução de custos, especialmente aqueles provenientes de perdas desnecessárias, e proporcionando melhorias substanciais na qualidade.
Imagem: Divulgação GlassControl
Produtos:GlassControl Industrial e GlassControl e-commerce, sistemas para gestão Fornecedor: GlassControl Como contribuem para a produtividade:
O GlassControl Industrial (imagem) abrange todas as etapas do trabalho, da origem do pedido da vidraçaria ao processamento na indústria, passando pelo planejamento da produção, otimização do corte de chapas, rastreabilidade da matéria-prima, integração com linhas de produção automáticas, mesas de corte, lapidadoras, furadeiras etc;
Conta com uma vasta biblioteca de projetos, que pode ser personalizada e expandida pelos usuários, agilizando a emissão de orçamentos e pedidos;
É integrado facilmente aos softwares do GlassControl voltados para distribuidoras e vidraçarias – com isso, os pedidos são facilmente integrados, contendo toda definição necessária para produção;
Realiza o processo produtivo de acordo com as definições do projeto, gerando planos de corte otimizados para as chapas, garantindo o melhor aproveitamento da matéria-prima e eliminando o tempo de setup;
Por sua vez, o GlassControl e-commerce permite realizar pedidos online, utilizar a biblioteca de projetos, acompanhar os pedidos, posição financeira, e efetuar pagamentos com cartões de crédito e PIX.
Imagem: Divulgação Reitech
Produtos:Reiglass ERP, ReiOtim Otimizador, GlassCAD e ReiShapes, sistemas para finalidades diversas Fornecedora: Reitech Como contribuem para a produtividade:
O Reiglass ERP (imagem) é um sistema de gestão integrado especializado no setor vidreiro, conectando toda a cadeia produtiva, desde a gestão comercial até a logística, garantindo fluidez operacional além de permitir acompanhar métricas como metros quadrados processados, relação entre horas trabalhadas e volume produzido, custos por etapa de produção, e eficiência da cadeia produtiva;
O ReiOtim Otimizador é um software de otimização de chapas e barras que reprocessa continuamente os planos de corte até o momento da produção, garantindo maior eficiência, e maximiza o aproveitamento de matéria-prima, reduzindo desperdícios, gerando economia direta nos custos de produção e proporcionando um dos melhores índices de aproveitamento disponíveis, resultando em economia real e competitividade para a indústria vidreira;
O GlassCAD é voltado para desenvolvimento de projetos de vidros temperados, laminados e duplos, garantindo precisão e integração com máquinas CNC e registrando tempo de desenvolvimento de projetos, taxa de aprovação e envio direto para produção, evitando retrabalho;
Por fim, o software ReiShapes faz a leitura e digitalização de moldes físicos, transformando-os automaticamente em arquivos para corte CNC, eliminando erros manuais, agilizando processos e reduzindo drasticamente o tempo de setup.
Imagem: Divulgação Sync Softwares
Produtos:WGglass, e-Cutter e WGCommerce, sistemas para finalidades diversas Fornecedora: Sync Softwares Como contribuem para a produtividade:
A WGglass é uma plataforma completa para gestão do setor vidreiro, proporcionando controle total dos processos industriais, desde orçamentos até a produção e logística, além de apresentar diversas informações em painéis para gerenciamento estratégico e soluções que facilitam o acompanhamento e a gestão de cada área;
O e-Cutter é um software integrado de otimização de chapas de vidro, ajustando automaticamente os planos de corte conforme a capacidade da fábrica, o que garante menor custo, melhor aproveitamento da matéria-prima, redução de desperdícios e menor tempo de produção;
O aplicativo WGCommerce é uma solução integrada para gestão de orçamentos e pedidos, com personalização completa da plataforma, permitindo faturamentos automáticos e pagamentos online.
Imagem: Divulgação NEX Soluções Inteligentes
Produtos:ERP Industrial e MES MAC, sistemas para gestão e planos de ação Fornecedora: NEX Soluções Inteligentes Como contribuem para a produtividade:
O ERP Industrial permite fazer a programação de todos os equipamentos que contemplam a linha de produção através de um toque, sem precisar programar cada equipamento separadamente. Além da programação, o ERP faz a gestão do estoque, fornece informações referente a produção, permite uma programação inteligente e integra abertamente com o sistema de gestão atual da empresa;
O MES MAC permite extrair informações da disponibilidade fabril, gerindo todos os motivos das paradas de linha, comparando o programado para a linha X o que ela está produzindo, com a possibilidade de emitir sinais ou mensagens para a liderança de produção tomar ações de imediato e entender o que de fato está acontecendo na linha de produção. Também permite medir a qualidade, mostrando o desperdício em tempo real.
Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, ao longo de março, o VidroCast recebeu e conversou com mulheres que fazem a diferença no nosso mercado. A primeira delas foi Glória Cardoso, gerente-geral da Divisão de Vidros para Arquitetura do Grupo NSG, detentor da marca Blindex. A conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, abordou diversos assuntos, incluindo a trajetória na empresa, a busca por equidade de gênero no segmento vidreiro e como surgiu o Fórum Transparência com Elas. Leia alguns destaques a seguir – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.
Você entrou como estagiária na Pilkington e desenvolveu sua carreira na empresa. Quais foram os grandes desafios e vitórias nessa jornada? Glória Cardoso – Eu sempre falo que o grande desafio é a gente se manter diariamente motivado, querendo entregar o melhor trabalho possível independentemente do nível de carreira em que a gente se encontra. As coisas, quando são consistentes e sólidas, não acontecem com grandes saltos. Comecei na Pilkington, na Blindex, há catorze anos, como estagiária de Marketing e, até chegar à função em que estou hoje, passei pelos cargos de assistente de Marketing, analista de Marketing, coordenadora, gerente de Vendas, gerente de Marketing e, finalmente, gerente-geral. Então, se entregarmos sempre o melhor resultado que temos para entregar no dia a dia, é possível construir algo realmente sustentável.
O marketing é uma área com muitas mulheres, mas quando a gente olha para o mercado do vidro, ainda é um setor muito masculino. Você entende que o segmento tem caminhado em que ritmo em relação à equidade de gênero? GC – Eu entendo que está todo mundo preocupado com isso, muito pelas questões de ESG, pelas certificações e pela imagem corporativa que se quer transmitir – mas, para trazer isso como um benefício para o ambiente de trabalho, e para que a equidade realmente aconteça, é muito nossa responsabilidade também. Antes de trabalhar a equidade de fora para dentro, eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá. Nós temos de nos colocar primeiro como equânimes do ponto de vista de competência, de possibilidades, anseios de carreira. Então, acho importante trabalhar isso em nós mesmas primeiro, para depois estimular as outras pessoas a fazer igual.
“Eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, tenha que se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá.” Glória Cardoso
Você é a primeira gerente-geral da Blindex nos mais de setenta anos de história da marca. Passado algum tempo após assumir essa posição, qual o balanço do que você viveu até agora na nova função? GC – Meu balanço é muito positivo. Em 2023, quando eu assumi, a Blindex estava passando por um momento de reconfiguração do modelo de negócio da marca. O sistema de franquia se consolidou de 2003 a 2023, mas qual era o próximo passo, como fazer esse sistema continuar sendo relevante? Foi aí que a gente percebeu que unir duas têmperas, para ganhar eficiência logística, velocidade na produção e uma padronização no atendimento, faria muito mais diferença do que montar uma fábrica em São Paulo. Então, abrimos a primeira joint-venture entre dois temperadores com a Visatta, em São Paulo, olhando para os desafios do mercado, especialmente nesse Estado que é o grande polo econômico do Brasil, para o que exatamente as vidraçarias e o consumidor final precisam.
Essa é a principal característica da nossa marca: não “sentamos em cima” do sucesso da Blindex, não nos acomodamos e continuamos trabalhando do mesmo jeito de sempre. O meu papel hoje é trabalhar para o fortalecimento, a perenidade e a sustentabilidade da marca.
A Blindex tem realizado o Fórum Transparência com Elas. O evento chegou à sua 4ª edição no ano passado, reunindo mulheres para debater a presença feminina no empreendedorismo. Como surgiu essa ideia e qual o balanço que você faz das edições passadas? GC – A ideia surgiu muito pequena: eu ainda estava no departamento de marketing e começamos a perceber que, dentro do nosso sistema Blindex de franquias, com os temperadores que levam a nossa marca para o mercado nacional, as lideranças femininas estavam aparecendo de forma muito proeminente. Hoje, a gente já tem grandes têmperas que são lideradas por mulheres. Além das têmperas, a gente tem também as vidraçarias, que são a linha de frente do mercado. E deu pra perceber que muitas vidraçarias também eram lideradas por mulheres. Só que, muitas vezes, dentro do nosso próprio setor, as pessoas nem sabem que as mulheres têm essa representatividade toda. E aí começamos a pensar em como mostrar essas histórias.
“Se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele ‘levar gato por lebre’.” Glória Cardoso
O Transparências com Elas surgiu no momento em que eu estava voltando da licença-maternidade e essa questão feminina estava à flor da pele. Como nesse momento a gente fica com incertezas, comecei a refletir muito sobre isso, sobre por que eu estava tão insegura. E as outras mulheres, que estão voltando de licença também? E quais são os outros desafios que deixam as mulheres inseguras? Então, a gente começou a coletar as histórias de profissionais, sendo proprietária da empresa ou uma funcionária, e vimos que aquilo teve uma repercussão muito grande: as mulheres começaram a trocar experiências entre si e a se apoiarem muito mais. Quando se conhece a história da outra pessoa, existem alguns pontos de similaridade com a nossa história que acabam nos confortando. Os desafios são semelhantes e as coisas que nos assustam também.
Vimos que isso ajudou muitas pessoas: começamos a receber feedbacks muito positivos, de mulheres falando que o fórum mudou seu ano e as perspectivas do que elas podem fazer dentro das suas carreiras e possibilidades. Em 2024 houve muitos eventos e o fórum não coube na agenda, mas em 2025 será retomado com certeza.
A Blindex é uma marca forte, com mais de setenta anos de mercado, e se transformou em sinônimo de vidro temperado para o consumidor final – ao invés de falar que um vidro é temperado, ele diz que é um “Blindex”. Qual a responsabilidade de gerar uma marca que carrega esse simbolismo? GC – É muito grande. É claro que é um orgulho, não é qualquer marca que consegue consolidar esse reconhecimento, mas é uma responsabilidade no sentido de que a gente precisa educar o consumidor a identificar o que é um vidro temperado da marca Blindex, para conscientizar as pessoas e para resguardar a marca. Quando as pessoas chamam um produto pelo nosso nome, se acontece algum problema, o nosso nome também acaba vinculado a esse problema: no nosso SAC, recebemos frequentemente reclamações de quebra de vidro e, quando perguntamos se o vidro está com a gravação na superfície, a pessoa responde que não tem marca nenhuma, mas diz que o vidraceiro garantiu que era Blindex – então, se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele “levar gato por lebre”.
O sucesso da 1ª edição do Prêmio Abravidro Glass South America (PAGSA) foi inegável: mais de 100 empresas vidreiras inscritas e 6 mil votos na fase de votação popular mostraram que nosso setor abraçou a iniciativa da Abravidro e NürnbergMesse Brasil (NMB). O objetivo da premiação é reconhecer as marcas que atuam no mercado – e, para a 2ª edição, cuja cerimônia de entrega será realizada em 3 de setembro, primeiro dia da Glass South America 2025, foram adicionadas novas categorias.
Demanda do setor
Ao todo, este ano, serão catorze categorias, quatro a mais que em 2024. “A Abravidro sempre está atenta às demandas de nosso segmento e algo que notamos após a 1ª edição, em conjunto com a NMB, foi a vontade do mercado de ver outros elos da cadeia sendo homenageados. Por isso, aumentar a quantidade de categorias era o passo a ser tomado, tornando o prêmio ainda mais inclusivo e representativo da excelência de nosso setor”, revela o presidente da Abravidro, Rafael Ribeiro. “A Glass South America é o ponto de encontro de toda a cadeia vidreira e nada mais justo do que contemplar ainda mais elos no prêmio. Agora é hora de as empresas se mobilizarem para concorrer. Certamente, teremos um grande momento de homenagens e confraternização na cerimônia de entrega, no dia 3 de setembro”, afirma João Paulo Picolo, CEO da NMB.
Como participar
Qualquer empresa do setor pode concorrer, basta se encaixar em alguma das categorias. É preciso atender alguns requisitos básicos definidos no regulamento – por isso, leia-o atentamente. A inscrição é gratuita, feita no hotsite oficial da premiação (www.premioabravidroglass.com.br).
Foto: Marcos Santos e Meryellen Duarte
Números da 1ª edição em 2024
105 empresas inscritas
94 obras com vidro inscritas
31 escritórios de arquitetura inscritos
6 mil votos na fase de votação popular
Categorias
Fabricante de vidro plano
Processador de vidro (premiação regional)
Fabricante de máquinas e equipamentos de pré-processamento e laminação de vidros
Fabricante de fornos de têmpera (novo)
Fabricante de rebolos e brocas (novo)
Fabricante de insumos para o processamento de vidros (exceto rebolos e brocas)
Fabricante de ferragens e acessórios para vidro
Fabricante de sistemas de guarda-corpos de vidro (novo)
Fabricante de sistemas de envidraçamento de sacadas (novo)
Fabricante de kits de boxes de vidro para banheiro (novo)
Fabricante de sistemas de portas de vidro (novo)
Desenvolvedor de softwares para o mercado vidreiro (novo)
Vidraçaria (premiação regional)
Projeto que emprega vidros
Etapas do prêmio
Anote na agenda e fique atento às datas para não perder prazos:
Cadastro das empresas
Até 16 de maio
Validação das empresas cadastradas
Até 16 de maio. A validação do inscrito será feita mediante análise do correto envio da documentação solicitada no regulamento. É realizada simultaneamente ao cadastro das empresas
Divulgação dos participantes 2 a 13 de junho. Somente participantes regularmente inscritos estarão aptos a participar
Votação popular 16 de junho a 18 de julho. Nesta fase, qualquer pessoa pode votar em sua empresa favorita em cada uma das categorias. Para isso, basta acessar o sitewww.premioabravidroglass.com.br e registrar os votos. O participante mais votado de cada categoria integrará a seleção de finalistas, avaliada pelo júri técnico, e computará um ponto adicional na votação da comissão julgadora.
Votação da comissão julgadora 28 de julho a 12 de agosto. Os finalistas serão avaliados individualmente pelos membros do júri recebendo notas de 1 a 10
Cerimônia de premiação
3 de setembro, na Glass South America 2025. O finalista de cada uma das catorze categorias com maior pontuação será considerado o vencedor e receberá o prêmio durante evento dentro da feira
Com sede na cidade de Mogi das Cruzes (SP), a 66 km da capital paulista, a PKO do Brasil é uma empresa familiar, como tantas outras empresas de nosso segmento. No entanto, a visão pragmática de seus administradores a destaca no concorrido cenário do mercado vidreiro: para a família Ang, de origem indonésia, profissionalismo é a palavra-chave quando se fala em sucessão.
Jovem liderança feminina
A PKO é liderada hoje por Myrian Ang, sua diretora-executiva e filha de Yao Ang, fundador da companhia nos anos 1990. Ela representa a segunda geração de gestores de sua família – inclusive, faz parte do comitê de empresas familiares do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). O processo para que Myrian assumisse os negócios contou com ajuda externa. “Por volta de 2010, a gente trabalhou com algumas consultorias, mas não funcionou muito bem, porque acho que a empresa não estava tão madura para isso. Mas há quatro anos, contratamos um consultor que nos auxiliou – e hoje ele é o nosso conselheiro externo.”
Esse profissional, inclusive, faz parte do conselho da processadora, órgão responsável pelas tomadas de decisão do negócio. O conselho da PKO é formado ainda por Yao e seu irmão Walter (sócio-investidor do empreendimento, ele mora fora do País e não está envolvido diretamente no dia a dia das atividades industriais). Myrian tem o papel de reportar a esse órgão o andamento da operação. “Os nossos números, o orçamento, o planejamento estratégico para os próximos cinco anos, tudo é aprovado dentro do conselho, juntamente com esse conselheiro consultivo. A gente faz essa prestação de contas porque a decisão tem de sair de lá”, revela Myrian.
Sem pressa para subir degraus
Depois de estagiar em empresas de outros segmentos, Myrian começou sua trajetória na PKO também como estagiária, de forma a entender os processos sem atropelar etapas – assim, ela estaria apta para tocar os negócios quando o momento para isso chegasse. A executiva destaca que o pensamento sempre foi “vamos começar de baixo”. Este, segundo ela, é um ponto muito crucial para a governança: “Ter papéis claros não só para a família, mas para os profissionais em volta. É um pré-requisito e todos têm ciência disso”.
Seu primeiro papel de liderança veio após anos acompanhando a rotina da empresa. Sempre ficava muito próxima aos gerentes. Em termos de aprendizado, fazia alguns relatórios para tentar entender todos os números. “Não tenho vergonha de perguntar como é que faz. A gente sempre vai avançando com os conhecimentos de todo mundo.”
Conheça a PKO
Instalada em Mogi das Cruzes (SP)
Planta com 20 mil m² de área
Mais de 300 funcionários
A processadora não revela a sua capacidade produtiva
Atende a diferentes segmentos da construção, incluindo indústrias de esquadrias, construtoras e decoração
Foco em vidros especiais, como laminados em suas diversas especificações (multilaminado, colorido, acústico etc.), privativos e plumbífero, entre outros – inclusive, a empresa acabou de investir em uma nova linha de laminados, com tecnologia da Benteler
História: de início curioso a processadora de grande porte
O nome PKO vem de palm kernel oil, termo em inglês para definir o óleo da semente de dendê. A empresa, fundada por Yao Ang, surgiu como importadora e distribuidora do produto para grandes indústrias químicas nacionais, como Colgate-Palmolive e Oxiteno. Em 1998, após a fabricante da qual a PKO comprava o insumo mudar sua estratégia de exportação, dificultando a aquisição do insumo, o vidro apareceu na vida de Ang: ele teve a ideia de importar chapas de float da Indonésia, seu país natal.
A partir de 2002, ocorre a mudança definitiva nessa trajetória: a companhia adquire os primeiros maquinários para o processamento de vidro – caminho esse trilhado desde então.
Foto: Ivan Pagliarani
“Nunca quis ser a ‘filha do dono’; queria a minha trajetória”
Myrian Ang, diretora-executiva da PKO, explica o processo de sucessão familiar da empresa
Você sempre teve certeza de que queria atuar na empresa de sua família ou tinha outras perspectivas? Myrian Ang – Eu sou formada em administração com ênfase em marketing, pela ESPM [Escola Superior de Propaganda e Marketing]. Então, sabia que gostava de administrar empresas – e, na minha cabeça, não necessariamente a PKO. Trabalhei como estagiária fazendo todos os relatórios financeiros de uma multinacional, respondendo diretamente para uma diretoria. E isso me foi dando um pouco mais de informação.
Na PKO, comecei de baixo mesmo, como estagiária do marketing, implementando sites, tentando entender o produto, a precificação. E, ao mesmo tempo, como adorava números, também fazia relatórios, tentava entender como o negócio funcionava. E assim fui galgando, acrescentando novas funções. Acho que o principal foi que eu nunca quis ser a “filha do dono”; queria a minha trajetória. Então, fiquei muito tempo até como estagiária, aprendendo mesmo. Nunca tive vergonha de perguntar “como faz isso? Por que isso acontece?”.
Eu só assumi um papel de liderança depois de uns quatro, cinco anos, na gerência administrativo-financeira. Fui absorvendo conhecimento de outras áreas, de outras lideranças e montando um time. Então, acabou sendo algo muito gradual e tranquilo.
De acordo com sua experiência, quais são os pontos críticos que merecem mais atenção no processo de sucessão e também na profissionalização da gestão? MA – O primeiro ponto são os papéis claros de cada um em relação a cargos e salários. Eu não recebo um salário de filha, recebo um salário de diretora-executiva. O meu irmão recebe um salário de diretor-comercial, e vai desempenhar o papel de comercial.
São essas situações que fazem a diferença. Pois isso passa segurança aos profissionais que estão na empresa, já que conseguem enxergar com muita clareza os papéis deles na organização.
O segundo ponto é ter transparência nos números. A gente conta com auditoria externa há mais de dez anos, até para justificar os números apresentados aos outros sócios. Essa rotina de prestação de conta é essencial, não? Por exemplo, meu tio tem três filhos: e se eles resolverem entrar na empresa, como vai funcionar? Hoje, eles moram fora do País. Se voltarem para o Brasil, como será a inserção no negócio? E como prestar conta disso para o sócio? Então, tudo isso precisa ser muito bem desenhado, para que não haja dúvida sobre a clareza de todos esses processos.
Qual o conselho que você daria para empresas familiares do setor que estejam caminhando para um momento de sucessão? MA – Eu fui muito abençoada, tive muita sorte de meu pai permitir que eu errasse, acertasse, de a gente fazer essa troca de conhecimento. É preciso saber quem será o sucessor e fazer com que a pessoa tenha respeito pelo passado, não pensar algo como “o jeito que o meu pai faz está errado, vou fazer tudo diferente”. É preciso ter muita paciência nessa jornada. Os envolvidos precisam respeitar-se e entender que a empresa vive momentos diferentes. O ideal é entender os papéis, como vai funcionar o papel do sucessor e de quem vai ser sucedido, ir fazendo isso de uma forma muito clara e sem rompimentos. Meu pai fala que ele não me deu o bastão: ele me passou o bastão e estamos caminhando juntos com esse bastão.
O setor vidreiro conta com uma atuação majoritariamente masculina, como bem sabemos. Você entende que caminhamos em que ritmo para atingir a equidade de gênero? MA – Acho que a gente tem bastante coisa para evoluir, mas encontramos muitas mulheres incríveis na gestão. De certa forma, eu tive muita sorte: tenho um irmão mais velho, um irmão mais novo, sou de uma família oriental. Tinha tudo para o meu pai passar o bastão para um dos homens, e acabou que eu assumi esse papel. Então, a questão do gênero não pesou. Quando se olha realmente o desempenho, o que precisa entregar, quais os papéis que as pessoas precisam cumprir, não precisa olhar o gênero, se é homem ou mulher. Acho que isso é o principal que precisa acontecer.
Já que estamos falando de mão de obra, esse tema tem sido um desafio para toda a indústria nacional, não só a indústria vidreira, tanto do ponto de vista da qualificação como da disponibilidade de profissionais querendo atuar nesse ramo. Existe uma questão geracional e muitas outras envolvidas. Vocês também têm encontrado dificuldades nesse assunto? MA – É um desafio geral, mesmo. O que a gente tem feito é mostrar com clareza a empresa em que o profissional está entrando. Eu estava até explicando para algumas pessoas o quanto a gente tem um time que desenvolve a carreira deles, por meio de treinamentos. Temos cada vez mais nos aprofundado em RH, eu diria, para trazer benefícios visando a mudar esse cenário, de forma que as pessoas queiram vir trabalhar com a gente. Mas o desafio continua bastante intenso.
Ano passado, a humanidade viveu um período de recorde mundial – mas não muito agradável: 2024 foi o ano mais quente registrado no planeta, com temperatura média global 1,6 ºC maior na comparação aos níveis pré-industriais. E se você acha essa notícia um tanto familiar, é porque ela é mesmo: 2023 já tinha quebrado essa marca, assim como acontecera em outros anos da última década.
E o problema não é o clima ficar apenas mais quente. Com uma temperatura média mais alta, o clima da Terra fica desregulado – e, hoje, estamos acima do limite de aumento de temperatura definido pelo Acordo de Paris, em 2015, como meta “segura” para que os efeitos das mudanças climáticas não sejam tão catastróficos. Dessa forma, condições extremas, que antes eram raras, tornam-se recorrentes. Basta lembrar que, no ano passado, o Rio Grande do Sul e parte da Espanha foram devastados por tempestades intensas; os Estados Unidos passaram por uma das piores temporadas de furacões de sua história; incêndios florestais se intensificaram por diversas regiões, atingindo fortemente também regiões urbanas; e até o deserto do Saara, na África, teve partes inundadas por conta de chuvas muito acima das médias anuais.
É por isso que a construção precisa se adaptar a essa nova realidade, para oferecer o conforto adequado a seus usuários – e o vidro tem tudo para se transformar em um elemento crucial das edificações futuras. O Vidroplano explica por que nas páginas a seguir.
Protagonismo transparente
Os projetos de arquitetura que ainda não se atentam ao conforto térmico de seus ocupantes não poderão mais deixar esse conceito de lado. Afinal, o impacto das mudanças climáticas vai além dos fenômenos extremos da natureza: altera a forma como os edifícios são pensados e construídos. “Hoje, os arquitetos têm o desafio de desenvolver estruturas que não apenas resistam ao estresse ambiental, mas também contribuam para a redução da pegada de carbono, tanto operacional como interna”, aponta Jonas Sales, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Cebrace.
O vidro pode ajudar na questão ambiental de duas formas, conforme esclarece Remy Neto, coordenador nacional de Especificação Técnica da AGC: “Na questão passiva, ele reduz o impacto energético nas construções com produtos que oferecem conforto térmico e luminoso; e na ativa, por meio de iniciativas das fabricantes, se diminui a emissão de carbono na produção de vidro”. Um exemplo disso é o projeto Volta, realizado pela AGC e Saint-Gobain Glass na Tchéquia (veja mais clicando aqui).
E não existe outro material capaz de atender todas essas necessidades. “Há vidros que chegam a 0,3 de valor U, que é a medida do coeficiente térmico – a quantidade de calor que atravessa um objeto. Ou seja, quase nada passa dependendo da chapa”, revela Edison Claro de Moraes, diretor da AtenuaSom. Portanto, devemos encarar estruturas envidraçadas, como fachadas, por exemplo, não somente como elementos estéticos, mas como capazes de exercer um papel funcional na construção do futuro.
“Com a evolução dos vidros de controle solar, é possível adaptar soluções para diferentes climas, regulando a entrada ou saída de calor, permitindo maior interação entre ambientes internos e externos”, comenta Marcelo Martins, diretor-comercial da GlassecViracon. Em outras palavras, o vidro continua sendo, e sempre será, um material moderno, totalmente alinhado às novas demandas climáticas. “Os de controle solar atuam sem comprometer a iluminação natural. Isso contribui, significativamente, para a diminuição do consumo de energia, tornando os edifícios mais adaptados às atuais exigências”, explica Betânia Danelon, gerente-comercial-técnica da Guardian.
Luiz Barbosa, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Vivix, reforça outra solução importante, mas pouco usada no Brasil: “Os insulados também contribuem para uma regulação mais eficiente da temperatura interna, proporcionando ambientes confortáveis e sustentáveis”. E o papel do vidro não se limita apenas à construção civil, como aponta Edison Moraes: “Recentemente, comprei um carro com teto solar e a temperatura dentro do carro fica desconfortável. O setor automotivo precisa produzir veículos que saiam de fábrica com vidros adequados ao nosso clima”. Fica o alerta: para-brisas, janelas e tetos solares também devem passar a oferecer conforto térmico aos usuários.
As torres Yachthouse, em Balneário Camboriú (SC), formam o edifício residencial mais alto da América Latina. O projeto exigiu soluções que combinassem alto desempenho térmico e acústico sem comprometer a estética. Para atingir o objetivo, a GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar na cor champanhe (Foto: Divulgação GlassecViracon)
Como o vidro atua
A máxima de que nosso material não trabalha sozinho sempre é válida – e, para o desempenho térmico, isso não é diferente. “Um bom projeto de abertura de vão em uma edificação deve contemplar três elementos em conjunto: especificação do vidro, proteção solar externa e proteção solar interna”, detalha o engenheiro e professor Fernando Westphal, consultor técnico da Abividro e pesquisador do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Climas frios
Em locais como regiões serranas e o Sul do Brasil, é fundamental o uso de elementos de sombreamento adequadamente desenhados, orienta Westphal. Assim, evita-se o sobreaquecimento durante o verão, ao mesmo tempo que se admite o aquecimento solar desejado no inverno. “Mesmo que seja utilizado um vidro com boa capacidade de bloquear o calor – ou seja, com baixo fator solar –, a incidência direta da insolação pode causar desconforto térmico localizado sobre as pessoas. Dependendo do uso do ambiente, em alguns momentos será necessário bloquear completamente a luz solar”, indica. Para isso, devem ser utilizados elementos de sombreamento, sejam externos (brises, varandas, beirais, toldos) ou internos (cortinas, persianas, rolôs). “Um bom projeto deve contemplar esses dispositivos não apenas para controle térmico, mas para garantir a privacidade e o conforto visual, evitando o ofuscamento e proporcionando boa distribuição de luz no ambiente interno.”
Climas quentes
Aqui, é necessário um vidro com alta reflexão energética – ou seja, alta capacidade de refletir o calor. Porém, não basta escolher uma chapa com baixo fator solar (como já explicado, a quantidade de calor que atravessa um objeto). O desempenho do vidro é variável, pois o ganho de calor do Sol depende do ângulo de incidência dos raios solares e de condições climáticas como temperatura e vento. “Tudo isso muda ao longo do dia e do ano. Por isso, o fator solar é apenas um indicador para a escolha inicial dos vidros a serem considerados para um projeto. A análise final deve ser sempre conduzida por simulação computacional anual”, afirma o professor.
A configuração do vidro é outro fator a influenciar toda essa conta. “Se o vidro de controle solar estiver laminado, há um bloqueio quase total dos raios UV, protegendo móveis e revestimentos internos contra o desbotamento. Quando o utilizamos na versão insulada, reduz ainda mais a troca térmica, oferecendo maior eficiência energética e conforto para os ocupantes”, comenta Marcelo Martins, da GlassecViracon.
Foto: Marina Gordejeva/stock.adobe.com
Hora de investir nos insulados
Mesmo sendo um produto agregado robusto, capaz de oferecer diversos benefícios simultâneos às edificações, o insulado segue como um vidro esquecido no Brasil: de acordo com a edição 2024 do Panorama Abravidro, ele representa 0,7% dos vidros processados não automotivos da cadeia de processamento nacional. “Eu sou fã do insulado. Ele permite trocas térmicas de 40%, 50%, e se paga após três ou quatro anos de utilização”, afirma Edison Moraes, da AtenuaSom. “É, sim, um custo inicial maior, mas que no fim se torna menor. Se você vai utilizar ar-condicionado ou aquecedor, você precisa de um insulado para trazer economia ao longo do tempo – especialmente em prédios modernos. O Brasil precisa aprender a utilizá-lo, até porque eu não entendo a prática de jogar um vidro contra o outro, como ‘o insulado versus o laminado’. Um complementa o outro, simples assim.”
A ideia de que o insulado só serve para climas frios, por ser muito utilizado na Europa e América do Norte, não passa de um mito, como aponta Edilene Kniess, da Rohden:
Em locais quentes, quando combinado com vidros de controle solar, o material bloqueia a entrada excessiva de calor, reduzindo a necessidade de uso do ar-condicionado e contribuindo para a eficiência energética;
Em regiões com grande variação térmica, ele atua como isolante, mantendo a temperatura interna mais estável, minimizando os picos de calor no verão e as perdas térmicas no inverno.
“O vidro interno da composição insulada tende a permanecer em temperatura mais próxima à do ar interno, evitando o desconforto das pessoas próximas ao vidro”, ensina Fernando Westphal. “Isso também permite reduzir a carga térmica máxima da edificação. Em geral, em climas brasileiros, edifícios com fachadas de insulado podem ter uma economia de, pelo menos, 20% na instalação do sistema de ar-condicionado.”
Como especificar
É preciso muito conhecimento técnico para ser capaz de especificar esses vidros. “Costumo falar que, na Internet, você encontra compêndios sobre o desempenho do vidro, mas é preciso saber o que se está fazendo. É aí onde mais se erra”, opina Edison Moraes, da AtenuaSom.
As variáveis para definir as estratégias mais eficazes em relação à proteção contra o calor, transmissão de luz e reflexão desejadas são as seguintes:
Localização geográfica da edificação
Incidência solar nas fachadas
Dimensões e proporção das áreas transparentes
Demanda energética do sistema de climatização interno
Tipo de atividade do edifício
Estética desejada
Somado a isso, a seleção de vidros deve considerar alguns aspectos técnicos. O fator solar, mencionado anteriormente, é um deles, mas não o único:
Espessura e composição: “A seleção da espessura e da combinação de vidros (monolítico, laminado, insulado) deve considerar não apenas a proteção térmica, mas também fatores como segurança, iluminação natural e isolamento acústico”, afirma Edilene Marchi Kniess, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Rohden Vidros. “Em edifícios comerciais, onde a eficiência energética é crítica, pode-se optar por insulados duplos ou até triplos para um desempenho superior”;
Câmara de ar e preenchimento com gás: Caso o insulado seja o escolhido, seu desempenho pode ser aprimorado com o uso de gases de baixa condutividade térmica, como o argônio, na câmara instalada entre as chapas de vidro. “Esse gás é menos condutivo que o ar comum e limita a transferência térmica por condução e convecção, otimizando o isolamento térmico. Quanto maior a câmara de ar – dentro de um limite técnico, geralmente entre 12 e 16 mm –, mais eficiente será o bloqueio da temperatura”, explica Edilene.
Curitiba, o empreendimento Mai Terraces está sendo avaliado para receber a certificação GBC Condomínio Platina, que reconhece empreendimentos alinhados a práticas ambientais, como a eficiência energética. A GlassecViracon forneceu insulados de laminados de controle solar prata para a obra (Foto: Marcelo Araujo/divulgação GlassecViracon)
Ar-condicionado e vidros: inimigos ou aliados?
As mudanças climáticas já são tão sentidas pelos usuários de edificações que o conforto térmico se tornou um fator primordial para suas escolhas no quesito moradia. Segundo pesquisa do QuintoAndar, startup brasileira focada no aluguel e na venda de imóveis, o sistema de ar-condicionado passou a ser o item mais buscado por interessados em comprar imóvel em São Paulo no ano passado – o equipamento ocupava a 7ª posição na pesquisa anterior, referente a 2023.
Esse dado precisa fazer nosso setor refletir: as pessoas conhecem a capacidade térmica do vidro? Por que pensam logo no ar-condicionado quando o tema é debatido? “Embora o vidro seja tratado muitas vezes como o vilão da carga térmica das edificações, na verdade, ele é o material que permite trazer luz natural e contato visual com o exterior, algo que nenhum outro material consegue. E, mesmo assim, ainda permite controlar os ganhos e perdas de calor com estratégias bem-aplicadas a cada projeto e clima”, frisa Westphal.
O ar-condicionado é mais lembrado pelo fato de que nenhum outro equipamento ou material faz o que ele consegue. “Mesmo a ventilação natural é insuficiente para garantir o conforto em 100% do tempo, pois existem horas no verão em que o ar exterior está quente e úmido ou não está ventando – ou o vento está com velocidade alta demais. Então, o ar-condicionado segue imprescindível para garantir o conforto em 100% das horas de ocupação de uma edificação”, pondera Westphal. “O que devemos fazer nesse cenário é promover projetos cada vez mais eficientes, para que o uso do ar-condicionado seja minimizado”. É nesse momento que o vidro precisa ser lembrado pelos profissionais da construção.
Durante décadas, esse segmento priorizou projetos pouco adaptados ao clima local, com uso excessivo de concreto, pouca ventilação cruzada e baixa eficiência térmica dos materiais, conta Betânia Danelon, da Guardian. “A falta de incentivos para alternativas mais sustentáveis reforçava a dependência disso. Para mudar, é essencial promover a conscientização sobre soluções passivas de conforto térmico, como fachadas ventiladas, uso de vidros especiais, isolamentos eficientes e materiais que ajudam a reduzir a troca de calor.”
Quem concorda com a ideia é Luiz Barbosa, da Vivix. Para ele, o uso do ar-condicionado como principal estratégia de conforto térmico no Brasil se deve a vários fatores:
Desconhecimento sobre o custo-benefício dos vidros especiais;
O custo inicial de tecnologias passivas de climatização é visto como alto;
Desconhecimento de tecnologias alternativas que reduzem significativamente a necessidade de climatização artificial;
Falta de regulamentação: apesar das normas que abordam o desempenho térmico (como a ABNT NBR 15.575 — Edificações habitacionais – Desempenho), por enquanto as exigências para eficiência térmica em edificações no Brasil são brandas, levando construtoras a priorizar soluções convencionais.
Em relação ao último ponto, a situação pode melhorar num futuro próximo: está em andamento, no Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/CB-002), da ABNT, um Grupo de Trabalho para desenvolver uma norma de desempenho para edificações não residenciais, visando a aplicações em edifícios comerciais e de serviços. Espera-se que, nesse trabalho, sejam traçados níveis mínimos de desempenho para os projetos arquitetônicos, evitando ao máximo a necessidade do ar-condicionado nos diferentes contextos climáticos brasileiros.
Foto: volha_r/stock.adobe.com
Mudança que passa por nosso setor
Já que existe uma parcela de profissionais da construção que ainda não conhece o que o vidro pode oferecer, é missão de nossas empresas reverter a situação. “Como indústria vidreira, temos o papel de disseminar conhecimento sobre novas tecnologias e suas aplicações, auxiliando especificadores e construtores a tomar decisões mais eficientes e inovadoras”, sugere Marcelo Martins, da GlassecViracon.
Edilene Kniess, da Rohden, lembra que a adoção de vidros especiais de alta performance auxilia projetos na obtenção de certificações ambientais reconhecidas internacionalmente, como a Leadership in Energy and Environmental Design (Leed). “Incentivos fiscais e certificações ambientais podem impulsionar o uso dos vidros eficientes, tornando a construção civil mais sustentável e econômica a longo prazo.”
Apostar na disseminação do conhecimento, portanto, mostra-se como a chave para um novo panorama. “Nosso setor desempenha um papel crucial na mudança cultural. Ao capacitar os profissionais sobre essas tecnologias e promover seu uso, podemos contribuir para uma construção mais eficiente, diminuindo a dependência do ar-condicionado e melhorando o conforto térmico de maneira ecológica”, aponta Jonas Sales, da Cebrace. “Nos dedicamos à capacitação de profissionais e empresas do setor de arquitetura e construção, oferecendo treinamentos e workshops que abordam não apenas as propriedades térmicas do vidro, mas também outros aspectos fundamentais, como transmissão de luz e reflexão. O objetivo é garantir que os clientes tomem decisões mais assertivas em seus projetos.”
Caminhos a seguir Educação do mercado: investir na divulgação técnica e em treinamentos para arquitetos e construtoras sobre os benefícios dos vidros eficientes. A Abravidro, por exemplo, conta com a plataforma de ensino a distância Educavidro, que contém cursos como “Economia de energia em edifícios novos e reformas”, “Especificação de fachadas”, “Introdução a eficiência energética” e “Certificação de edifícios – Impacto do vidro”;
Parcerias estratégicas: trabalhar com órgãos reguladores para a produção de mais normas que incluam referências à eficiência térmica;
Demonstração prática: divulgar estudos de caso e comparar edificações com e sem vidros de valor agregado, provando na prática a redução de temperatura interna e economia de energia;
Incentivos financeiros: demonstrar a economia com energia elétrica gerada e o retorno financeiro rápido, mesmo com o investimento inicial mais alto;
Elemento sustentável: promover o vidro como elemento com baixa pegada de carbono e 100% reciclável, que contribui para a redução das emissões de CO2.