Meio século de existência: essa marca foi alcançada pela Cebrace em 2024. A efeméride foi um dos assuntos discutidos pelos diretores-executivos da empresa, Lucas Malfetano e Manuel Corrêa, ao participarem do VidroCast, o podcast da Abravidro, gravado durante a Glass South America 2024.
Durante a conversa conduzida por Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Malfetano e Corrêa falaram sobre a evolução do mercado vidreiro nos últimos cinquenta anos e as contribuições da Cebrace para o setor. A entrevista completa está no canal da Abravidro no YouTube (na versão em vídeo) e também nos tocadores de podcast (em áudio). A seguir, confira os destaques do bate-papo.
Qual o sentimento de chegar aos cinquenta anos, com a Cebrace completando meio século de existência no Brasil?
Lucas Malfetano – A primeira palavra que vem para nós é felicidade. São poucas as empresas que conseguem se manter na liderança do mercado durante esse tempo. Aliás, aproveito para deixar aqui o nosso sincero agradecimento a todos os nossos clientes, e também a todos os nossos colaboradores ao longo desses anos.
Manuel Corrêa – Esse aniversário nos possibilitou revisitar a nossa história, nossos marcos históricos e, principalmente, celebrar com as pessoas. Também é sempre um momento de agradecimento para o time, porque ninguém faz nada sozinho, há sempre uma união de esforços.
Como vocês enxergam a evolução do segmento vidreiro ao longo desses cinquenta anos?
LM – Eu acho que o segmento no Brasil teve um desenvolvimento fantástico quando comparado ao de outros países. A evolução do vidro temperado, dos vidros de segurança no Brasil – não vou falar que é um caso único em todo o mundo, mas dos países que eu conheço, certamente é o mais avançado. Então, acho que produzir float no Brasil possibilitou ter uma matéria-prima de qualidade, acompanhando e dando confiança para os nossos clientes fazerem sua parte – e eles têm tido um papel extraordinário para desenvolver esse mercado.
Qual vocês acham que é a principal contribuição da Cebrace para o mercado brasileiro de vidros planos?
LM – A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro. Depois disso, tivemos outras inovações no caminho: espelhos, laminados, vidros de controle solar. Houve também inovações na logística, iniciativas comerciais, como o programa Habitat, e ações nos últimos tempos em relação à sustentabilidade, como as melhorias nos nossos processos para o caminho da descarbonização das nossas operações.
MC – A sustentabilidade é um tema apaixonante. A Cebrace tem hoje uma parceria com a Massfix, que é a maior recicladora de vidros do Brasil. O vidro é um material 100% reciclável, infinitas vezes. Então, nós estamos trabalhando junto com a cadeia para aumentar o índice de reciclagem dele, que permite reduzir o consumo de energia nos fornos e a emissão de CO2. Entendemos que o vidro, como produto, também contribui para a sustentabilidade, como as peças de controle solar, que trazem uma redução efetiva do consumo de energia. Para uma construção, isso representa a economia de muitos milhares de reais e evita a emissão de muitas toneladas de CO2 ao longo da vida útil do edifício.

(Lucas Malfetano)
Esse aniversário foi marcado também pela vitória na 1ª edição do Prêmio Abravidro Glass South America: a Cebrace foi eleita a melhor fabricante de vidro plano do Brasil. Como vocês receberam essa notícia?
MC – A gente agradece bastante aos clientes que votaram e à banca que avaliou e fez o julgamento. É uma honra e também um desafio para nós. Estamos orgulhosos, mas, ao mesmo tempo, temos muita humildade para entender que o mercado evolui, que as coisas mudam, e é parte do nosso espírito estar sempre nos desafiando e procurando as melhorias que nós possamos fazer em qualquer parte da operação.
LM – Essa vitória é uma alegria para nós. Eu gostaria de parabenizar a Abravidro pela iniciativa, acho que será um marco para todas as empresas continuarem avançando. E foi muito boa a ideia de colocar as obras na premiação. No fundo, tudo que a gente faz é para a construção, onde o vidro será instalado e terá um papel fundamental.
No ano de 2023, vimos um incremento importante no volume de importações do float incolor, apesar do antidumping que já se encontra vigente, e temos visto que em 2024 essa média continua alta. Como vocês estão vendo esse movimento e o que podem falar a respeito?
LM – A presença da importação em si não é um problema; nosso mercado é bastante competitivo, temos quatro fabricantes no País, com muita capacidade para fabricar vidros com máxima qualidade em nível mundial. Nossa preocupação é porque a gente observa que está havendo uma concorrência desleal.
MC – O Brasil talvez seja o único país do mundo que protege mais o produto importado do que o produto nacional. Dando um exemplo: São Paulo é o maior mercado do Brasil, nós vendemos as nossas linhas em São Paulo, e se paga um ICMS de 18%; enquanto isso, o produto importado entra por Estados periféricos a São Paulo e, quando são transferidos para cá, pagam um ICMS de 4%. Ou seja, há uma diferença tributária incompreensível para quem opera no País. A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia, e isso infelizmente a gente ainda não vê. O Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida.

(Manuel Correa)
A Abividro protocolou no primeiro trimestre deste ano um pedido de antidumping; estamos no prazo de avaliação pelo governo federal se vai abrir a investigação ou não. Vocês podem comentar as expectativas para esse processo?
MC – É um trabalho essencialmente técnico: o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no seu Departamento de Defesa Comercial, vai analisar, vai fazer as pesquisas, olhar os países de origem, qual o preço praticado no mercado interno, e deve concluir, como a gente já prevê, que trata-se de um dumping evidente. Espero que o governo conduza o estudo com bastante disciplina e profundidade, mas a gente tem uma boa expectativa porque realmente está configurado que essas exportações são feitas com preços muito abaixo dos de seus mercados nacionais.
Estamos aqui na Glass South America, a principal feira do nosso segmento. Qual o balanço do evento para vocês?
LM – É muito positivo. Dá para ver um número extremamente expressivo de pessoas. A gente já viu na pandemia a falta que a Glass South America fazia, e eu acho que a gente precisa valorizar as ocasiões como essa feira, como um espaço para informar e permitir que as pessoas conheçam novos produtos e tecnologias, e também para socializar: somos seres humanos, precisamos do contato uns com os outros, e eu acho que a Glass é um exemplo disso.
MC – Estamos muito contentes com a feira; participamos sempre e vemos muito valor nela. É um espaço em que a gente se atualiza sobre o que está acontecendo do ponto de vista da tecnologia, lançamento de produtos. E como o Lucas falou, também é um momento de interação intensa com os nossos clientes e parceiros, e aqui a gente acaba sentindo o pulso do mercado e renovando nossas energias para seguir em frente e entender que estamos em um ecossistema que precisa sempre se realimentar para a gente aprender e caminhar juntos.
Fotos: Marcos Santos e Meryellen Duarte