Um dos maiores diferenciais que qualquer empresa precisa ter é uma boa produtividade: é esse indicador que, se estiver em um nível satisfatório, permite manter a saúde financeira em patamares favoráveis, garantir a fidelização dos clientes e, consequentemente, fechar mais vendas. Mas o que precisa ser feito para aumentar a produtividade de uma processadora? O que costuma dificultar essa melhora acontecer – e como superar esses obstáculos?
Nesta reportagem, O Vidroplano apresenta as definições de produtividade, o cenário dela na indústria nacional e no setor vidreiro e algumas dicas para tornar seu negócio mais produtivo.
O que é produtividade?
Segundo artigo no portal do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), trata-se da relação entre o volume do que é produzido na empresa e os insumos usados, mão de obra empregada ou a quantidade de tempo que demandou para finalizar o processo. Para o nosso setor, o indicador é medido de forma simples: divide-se o volume da produção em m² ao longo de um determinado período (dia, semana, mês, ano etc.) pelo número de colaboradores da empresa.Em outras palavras, seria a capacidade de “fazer mais com menos”, mas sem deixar cair o nível de excelência que os negócios já entregam aos clientes.
É importante observar que aumento de produtividade não é a mesma coisa que aumento de produção: de acordo com artigo no site do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o aumento da produção se dá quando a empresa usa mais recursos (matéria-prima, mão de obra, capacidade de máquina, tempo etc.) e produz mais produtos; já a produtividade cresce quando a empresa usa menos recursos para produzir a mesma quantidade.
Portanto, melhorar a produtividade do seu negócio traz uma série de benefícios, tanto quantitativos como qualitativos:
- Redução de custos de produção
- Menor uso de recursos para alcançar o mesmo objetivo
- Expansão da atuação e consolidação da presença no mercado
- Geração de diferenciais competitivos
Gargalo da indústria nacional
Em entrevista para a jornalista Natuza Nery no podcast O Assunto, o economista Naercio Menezes Filho, colunista do jornal Valor Econômico e professor associado da Faculdade de Administração, Economia, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), aponta que se observa uma estagnação da produtividade no Brasil. “Ela atingiu um pico nos anos 1980 e, de lá para cá, está mais ou menos no mesmo nível. Isso é bastante preocupante: desde 1995, a produtividade está crescendo menos de 1% ao ano”, afirma, destacando que, em comparação, esse indicador nos Estados Unidos cresce cerca de 2% ao ano há um século. “A única maneira de realmente aumentar a riqueza de um país para as pessoas terem uma renda melhor é pela produtividade”, analisa Menezes Filho.
No caso da indústria nacional de transformação, Samantha Ferreira e Cunha, gerente de Política Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), observa que, depois de três trimestres consecutivos de queda, a produtividade nesse segmento cresceu 0,8% no terceiro trimestre de 2024, possivelmente refletindo um final do período de adaptação e treinamento dos novos trabalhadores contratados durante o aquecimento do mercado de trabalho. Apesar disso, ela ressalta: “Quando a gente olha a evolução no longo prazo, o Brasil acumula uma perda de produtividade superior a 20% frente a seus parceiros comerciais na comparação com o ano 2000”.

No setor vidreiro
Nosso segmento também enfrenta problemas. O Panorama Abravidro 2024 indica que, em 2023, a produtividade na indústria de transformação seguiu em baixa pelo terceiro ano seguido, atingindo a pior marca da série histórica da pesquisa. Nos últimos dez anos, esse indicador (calculado pela produção mensal em m² por funcionário) só apresentou melhora duas vezes, em 2015 e 2020.
“A produtividade da indústria de processamento de vidro plano nacional, assim como grande parte da indústria brasileira, apresenta um desempenho muito inferior ao dos países desenvolvidos. Problemas estruturais, como a excessiva carga tributária e regulatória, deficiências logísticas e o baixo nível educacional da mão de obra, entre outros obstáculos, há décadas comprometem a capacidade competitiva nacional”, avalia Alexandre Pestana, ex-presidente da Abravidro e atual membro da diretoria da entidade.
Ele também cita as características do principal mercado consumidor, a construção civil, que prioriza o produto feito sob medida, em detrimento do padronizado, contribuindo com maior custo e menor eficiência dos processos fabris.
De acordo com Pestana, o segundo elo da cadeia produtiva do vidro plano começou a se estabelecer na década de 1980, ganhando robustez a partir dos anos 2000. “Ainda assim, trata-se de uma indústria em processo de amadurecimento, que busca aprimorar tanto suas práticas gerenciais quanto produtivas, ao mesmo tempo que enfrenta o problema da informalidade excessiva e prejudicial; além disso, há pelo menos duas décadas, o setor opera com sobreoferta de capacidade, um problema que se intensificou no pós-pandemia, agravando ainda mais a baixa produtividade”, alerta o diretor da Abravidro.
A médio prazo, espera-se que os efeitos da reforma tributária tragam avanços significativos: além de reduzir a carga tributária efetiva da indústria, a reforma deve contribuir para a redução da informalidade. “Isso poderá impulsionar um processo de consolidação dos processadores de vidro, resultando em um melhor equilíbrio entre oferta e demanda e, sobretudo, no estímulo à eficiência e à produtividade como os principais fatores de competitividade, atualmente distorcidos pela informalidade”, explica Pestana.

Atualização para a produtividade
E como tornar a empresa mais produtiva? A resposta está na atualização, tanto de equipamentos como de conhecimentos. O primeiro caso pode ser resolvido com a adoção de ferramentas e sistemas mais eficientes (conheça algumas soluções disponíveis no mercado clicando aqui, e leia também a matéria da edição de fevereiro sobre equipamentos que ajudar as processadoras a reduzir despesas no dia a dia clicando aqui); já o segundo é feito por meio da qualificação da equipe – e, felizmente, há várias opções para isso.
Uma delas é o Brasil mais produtivo, programa de fomento às pequenas, médias e microempresas brasileiras dos segmentos da indústria, comércio e serviços, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). Seu objetivo é promover o aumento da produtividade, competitividade e eficiência energética, trabalhando a disseminação das melhores práticas produtivas e gerenciais e a utilização de ferramentas de transformação digital e desenvolvimento, assim como a adoção de novas tecnologias digitais. A iniciativa conta com consultorias realizadas pelo Sebrae e pelo Senai.
Outra ação nesse segmento é o Programa de apoio à competitividade das micro e pequenas indústrias (Procompi), iniciativa conjunta da CNI e Sebrae. O Procompi trabalha identificando desafios específicos das pequenas e microindústrias (MPEs) no Brasil, com projetos abordando eixos setoriais, como a otimização de processos específicos de um setor; temáticos, como a solução de problemas comuns entre indústrias de diferentes setores; e digitais, como a adoção de automação e a preparação para a Indústria 4.0.
Por fim, não se pode deixar de falar do módulo de Planejamento, Programação, Controle da Produção e Estoque (PPCPE), da Especialização Técnica Abravidro. Trata-se do único curso de PCP focado especificamente nas demandas do setor vidreiro e cujo conteúdo é constantemente atualizado para acompanhar as mudanças do mercado.
“No PPCPE são estudadas as classificações dos sistemas produtivos mais utilizados no mercado vidreiro para atendimento ao mercado de arquitetura e construção civil: o MTO [Make To Order], ou ‘produção sob encomenda’, e o ETO [Engineer To Order], ou engenharia sob encomenda’”, explica Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, responsável pelas aulas do módulo. Cláudio deixa um aviso aos processadores interessados nessa capacitação oferecida pela Abravidro: “É muito importante a participação dos gestores do sistema de atendimento ao pedido do cliente, operadores do setor de PCP e plano de corte, diretores e, especialmente, proprietários da empresa nesse módulo, para o melhor aproveitamento do conteúdo e ampliação dos resultados”.
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