Conheça mais sobre vidros extragrossos

Uma orientação recorrente na seção “Para sua vidraçaria” é a busca de temas que levem sua empresa a se diversificar em relação à concorrência, deixando de se limitar aos produtos e serviços básicos e oferecendo soluções diferenciadas com valor agregado. Há vários vidros que fogem do padrão convencional em algum aspecto – por exemplo, na espessura.

Nas páginas a seguir, O Vidroplano apresenta um pouco sobre os vidros chamados extragrossos, com especialistas do nosso setor indicando o que torna esses produtos atrativos, as aplicações mais indicadas e as dicas para atender as particularidades no trabalho com eles.

Quando um vidro é considerado extragrosso?
Segundo Leandro Gonçalves, gerente de Projetos da Divinal Vidros, normalmente essa classificação é dada para peças com espessura a partir de 12 mm de espessura, seguidas por opções de 15, 19 e 25 mm: “Esta última é utilizada para aplicações muito específicas e não é um produto facilmente encontrado no mercado, sendo, geralmente, importada; poucas empresas mantêm estoques dessa espessura”, explica.

Fábio Reis, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Guardian, observa que essa classificação pode variar dependendo da fabricante do vidro e das normas regionais. Sua orientação: “Se tiver necessidade de especificações detalhadas para um projeto específico, é sempre recomendável consultar o fornecedor ou as normas técnicas”.

 

Mesa de jantar Pi: peça, elaborada pela designer Jacqueline Terpins, é inteiramente feita de vidros float 15 mm, tanto no tampo como nas pernas (foto: Cris Martins)
Mesa de jantar Pi: peça, elaborada pela designer Jacqueline Terpins, é
inteiramente feita de vidros float 15 mm, tanto no tampo como nas pernas (foto: Cris Martins)

 

Da estética à resistência
Vidros extragrossos costumam ser amplamente usados na área de decoração, aplicados como tampos de mesas, prateleiras ou em mobiliários. A marca de design de móveis de vidro Glass11, por exemplo, conta com peças feitas com vidros extragrossos, feitos por eles mesmos. “Começamos a produzir vidros de grande espessura com o pedido do nosso parceiro Arthur Casas: ele queria o impacto de um vidro de 80 mm. Tentei e tentei por anos, até que decidi desenvolver um forno exclusivo para isso. Hoje, produzimos vidros de até 80 mm de espessura e chamamos essa nossa linha de ‘vidros rocky’”, conta Matheus Primo, proprietário da Glass11. “O apelo estético é o mais desejado, os vidros são especialmente únicos – cada um tem a sua quantidade de bolhas e conformação, as quais variam de acordo com a matéria-prima, temperatura e dimensão. Os moldes também são preparados manualmente, o que traz mais personalidade para a peça.”

Mariana Ribeiro, consultora técnica da Cebrace, aponta que vidros extragrossos também podem ser aplicados em funções estruturais: “Isso é possível porque uma maior quantidade de massa no vidro garante uma melhor distribuição de cargas na peça de vidro, reduzindo a possibilidade de falhas no sistema; além disso, o vidro espesso é menos suscetível a deformações, que podem acontecer em vidros mais finos expostos a cargas permanentes”, ela informa.

E em que casos deve-se evitar peças com espessuras acima do padrão? Gonçalves responde: “Não há necessariamente uma aplicação em que os extragrossos sejam totalmente desaconselhados, mas é importante considerar as limitações técnicas de cada projeto”. Vê-se, então, que o importante é adaptar a solução ao projeto específico e às necessidades do cliente.

 

Mesa de pebolim com laterais de vidros curvos extra clear com 15 mm de espessura, fabricada pela Teckell e apresentada no Estúdio Bossa, de Marlon Gama, na Casa Cor SP 2017 (foto: Cris Martins)
Mesa de pebolim com laterais de vidros curvos extra clear com 15 mm de espessura, fabricada pela Teckell e apresentada no Estúdio Bossa, de Marlon Gama, na Casa Cor SP 2017 (foto: Cris Martins)

 

Apresentando a solução para o cliente
Um desafio recorrente na venda de vidros de valor agregado é convencer o comprador de que vale a pena adquirir um produto que trará benefícios para sua obra, em vez de levar as peças mais básicas do portfólio da vidraçaria. Quando falamos de vidros extragrossos, quais argumentos poderiam ser usados para apresentá-los e torná-los atrativos aos olhos do cliente?

Fábio Reis, da Guardian, sugere que, para incentivar o uso de vidros mais espessos, é importante ressaltar suas vantagens, como a segurança, já que são mais resistentes a impactos e arrombamentos, sendo ideais para locais que exigem proteção reforçada. Ele acrescenta que essas peças também proporcionam mais elegância e segurança em aplicações como tampos de mesas de alto padrão.

Por sua vez, Gonçalves, da Divinal Vidros, recomenda que o vidraceiro busque primeiro entender as necessidades do cliente, para então propor soluções que tragam segurança e satisfação. Por exemplo, como já apontado, vidros mais espessos agregam charme, conforto e sofisticação aplicados como tampos de mesa – mas essa especificação precisa ser feita com cuidado. “É importante avaliar fatores como a capacidade da base da mesa de suportar o peso do vidro, a fim de garantir que o produto será usado de maneira segura e adequada.”

 

Mesa Flow G11, elaborada pela Glass11 e usada no projeto de interiores do Studio Arthur Casas; produto tem bases de vidro ‘rocky’ 20 mm e tampo de vidro ‘rocky’ 50 mm, ambos na cor âmbar (foto: Divulgação Glass11)
Mesa Flow G11, elaborada pela Glass11 e usada no projeto de interiores do Studio Arthur Casas; produto tem bases de vidro ‘rocky’ 20 mm e tampo de vidro ‘rocky’ 50 mm, ambos na cor âmbar (foto: Divulgação Glass11)

 

Trabalhando com vidros extragrossos
Em geral, o trabalho com peças mais espessas que o padrão não traz muitas diferenças em relação aos cuidados com os quais os vidraceiros já estão acostumados – a maior dificuldade em seu manuseio diz respeito ao peso das peças: “Chapas de vidro extragrosso são muito mais pesadas que de vidros finos, fazendo com que muitas vezes seja necessária a utilização de máquinas para auxiliar movimentações”, indica Mariana Ribeiro, da Cebrace.

“A principal recomendação é sempre buscar fornecedores que atendam os requisitos normativos e de qualidade: quando se trata de vidros extragrossos, especialmente temperados e laminados, é essencial verificar as garantias oferecidas pelo fornecedor, certificando-se de que ele cumpre as normas técnicas vigentes”, orienta Leandro Gonçalves. Além disso, ele indica ser importante solicitar certificados de qualidade para cada tipo de produto, garantindo que o vidro utilizado esteja dentro dos padrões exigidos.

Primo, da Glass11, observa que vidros mais espessos têm particularidades para sua colagem ou encaixe com outras peças, mas comenta que sua equipe já encontrou diferentes soluções para essa atividade. Um exemplo dessa experiência é a Mesa Flow, com base de vidro rocky 20 mm e tampo de rocky 50 mm, na cor âmbar, peça desenvolvida e usada no projeto de interiores do Studio Arthur Casas. “Conseguimos expandir a ideia dos vidros especiais no mercado brasileiro com a criação desse produto, e continuaremos criando novas formas de usar o vidro; estamos disponíveis para as novas surpresas que o vidro nos trará”, comenta.

 

Escada de vidro no estande da Divinal Vidros na Fesqua 2024: degraus, feitos de vidros laminados, têm espessura total de 21 mm (foto: Divulgação Divinal Vidros)
Escada de vidro no estande da Divinal Vidros na Fesqua 2024: degraus, feitos de vidros laminados, têm espessura total de 21 mm (foto: Divulgação Divinal Vidros)

 

A Divinal Vidros já participou de diversos projetos com peças extragrossas, tanto monolíticas – caso do uso de uma de 19 mm com furações para adega, onde as garrafas de vinho eram encaixadas diretamente no vidro – como laminadas. “Nesse contexto, podemos entender o conceito de vidro extragrosso não apenas pelas espessuras individuais dos vidros, mas também pela combinação de diferentes peças laminadas, onde a espessura final do produto é o somatório das chapas de vidro e do interlayer estrutural: por exemplo, um vidro laminado temperado de 16 mm, formado por dois vidros de 8 mm com interlayer”, detalha Gonçalves.

Durante a Fesqua 2024, a processadora paulista montou em seu estande guarda-corpos com vidro laminado de 16 mm, bem como uma escada com degraus laminados, atingindo uma espessura final de 21 mm. No topo da escada, havia ainda uma passarela de vidro produzida com duas lâminas de 10 mm, totalizando 20 mm de espessura, garantindo resistência estrutural. Para Gonçalves, esses exemplos ilustram que o conceito de vidro extragrosso também se aplica à combinação de espessuras laminadas, em que o resultado final proporciona segurança, resistência e uma estética refinada em diversas aplicações arquitetônicas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 622 (outubro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: PaulShlykov/stock.adobe.com

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