Conheça mais sobre a marcação dos vidros temperados e termoendurecidos

Além do corte, lapidação, furação, lavagem e até mesmo a têmpera, existe uma etapa muito importante no beneficiamento de vidros que não pode ser esquecida: a marcação das peças que passam por processos térmicos (dando origem aos temperados e termoendurecidos). Colocar informações sobre o fabricante nas peças produzidas garante maior segurança do processo como um todo, permite a rastreabilidade do produto e oferece confiança ao consumidor final – pois ele conhece a procedência do material.

Nas próximas páginas, conheça tudo o que as normas técnicas vidreiras dizem a respeito desse tema, quais as técnicas disponíveis para a marcação e as questões estéticas inerentes à tarefa.

Requisitos
Os vidros que precisam de marcação, segundo as normas técnicas, são os temperados e os termoendurecidos. Mas, afinal, quais são os requisitos para realizar essa tarefa da forma correta?

  • Temperados: a ABNT NBR 14698 — Vidro temperado diz que a marcação consiste na identificação de forma indestrutível (indelével) do fabricante e do tipo de vidro. Além disso, pode trazer informações adicionais, em comum acordo entre fabricante e consumidor. O documento não indica um local específico para a marcação ser feita – por isso, pode ser colocada na borda da peça (junto à espessura), caso o cliente ache necessário.
  • Termoendurecidos: a ABNT NBR 16918 — Vidro termoendurecido determina que a marcação deve conter a identificação do fabricante (logomarca, nome ou ambos) e a identificação do tipo de vidro com o texto “Vidro Termoendurecido” ou a sua abreviação “VTE”. Também é permitido utilizar “HS”, abreviação do nome do produto em inglês (heat strengthened glass). Outras informações também podem ser acrescentadas, caso seja necessário. E, ao contrário da norma dos temperados, o documento orienta que a marcação deve ser aplicada próximo a um dos cantos da peça, de forma que fique visível quando instalada. No entanto, a depender de acordo entre cliente e processador, a ABNT NBR 16918 permite que seja em outro local do vidro, sendo visível ou não.

Qual a hora de marcar?
Segundo Edweiss Silva, consultor da Abravidro para certificação do vidro temperado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), é convencional que a marcação aconteça na fase de pré-forno – ou seja, no momento em que as peças são inspecionadas para serem temperadas ou termoendurecidas. “Isso se dá porque a aplicação da marcação, na maioria dos casos, é feita utilizando esmalte vitrificado, que adere à superfície das peças após passar pelo forno, evitando assim possíveis retrabalhos se feita em etapas anteriores”, explica.

 

Um exemplo de como a marcação manual por serigrafia é feita: processo é um dos mais utilizados para a tarefa (foto: Divulgação Agabê)
Um exemplo de como a marcação manual por serigrafia é feita: processo é um dos mais utilizados para a tarefa (foto: Divulgação Agabê)

 

As técnicas existentes
A forma de marcação mais usual entre as processadoras é a serigrafia, também chamada de silkscreen ou impressão com tela, que consiste em imprimir, por meio de uma tela vazada, a informação desejada no vidro. “A aplicação serigráfica deve ser realizada com a tela ‘fora de contato’ – ou seja, sem estar colada ao vidro –, de modo a impedir que haja borrão na aplicação no momento de levantá-la”, revela Silvio Luiz Arruda, gerente geral da fornecedora de esmaltes cerâmicos Triarte.

Outra técnica à qual diversos fabricantes estão aderindo nos últimos tempos é a marcação com adesivos feitos de esmalte vitrificado, os quais são aplicados no local desejado da peça antes da entrada no forno. “Esse tipo de esmalte, também usado na serigrafia, se funde ao vidro durante a passagem pelo forno, aumentando a resistência da marcação contra intempéries”, esclarece Silvio Arruda.

De acordo com Edweiss Silva, a escolha pelo método ideal é da empresa. “E vai variar dependendo da habilidade de cada colaborador. Alguns têm mais facilidade com a tela, outros com o adesivo”, comenta.

Considerações estéticas
O que fazer quando um arquiteto especifica um belo projeto com nosso material, mas, considerando que a marcação possa interferir esteticamente na construção, pede para que ela não seja feita? “Essa situação caracteriza uma ilegalidade perante a Lei nº 8.078 do Código de Defesa do Consumidor, que determina que todo fabricante deve comercializar somente produtos que atendam as normas técnicas vigentes”, afirma Edweiss Silva. “O bom é que as próprias normas se antecipam a esses casos, permitindo a marcação nas bordas da peça, de forma que, se necessário, a identificação do fabricante pode ser confirmada ao desmontar o produto.”

Outra estratégia adotada é a realização da marcação com tintas de cor clara e tonalidades suaves, para que fique bem discreta. “Recomendamos utilizar nossos esmaltes com a coloração jato de areia, para formar uma logomarca nuvem, quase imperceptível”, indica Silvio Arruda, da Triarte.

 

Foto: AvokadoStudio/stock.adobe.com
Foto: AvokadoStudio/stock.adobe.com

 

E os vidros automotivos?
Nos vidros instalados em automóveis, existem outras informações a serem colocadas na marcação. “A ABNT NBR 9491 – Vidros de segurança para veículos rodoviários — Requisitos estabelece que devem entrar o nome do fabricante e as informações para rastreabilidade”, explica Edweiss Silva. “Complementando o assunto, a Portaria Nº 034 do Inmetro estabelece requisitos de avaliação da conformidade para vidros de segurança automotivos. Nesse documento, é indicado que a marcação acrescente a logomarca do Inmetro e o método de rastreabilidade junto ao ano de fabricação.”

As técnicas de marcação para os vidros automotivos podem ser as mesmas dos destinados à construção civil, com a adição de outras, como as pastas fosqueantes. “Elas agem pelo processo subtrativo, ou seja, ‘atacam’ a superfície do vidro. Por isso, não possuem cores: a tonalidade do fosqueamento está associado à cor do vidro”, revela Tarsis Bianchini, CEO da Agabê, especializada em soluções para a decoração serigráfica. A empresa fornece uma solução desse tipo, a Glass Marker, para montadoras e também para o mercado de reposição. Como não precisa ir ao forno, pode ser aplicada em peças já montadas. “Fazemos a aplicação utilizando uma máscara de proteção. O tempo de atuação é de um a três minutos, dependendo do grau de fosqueamento desejado. Em seguida, o produto pode ser removido com um pano umedecido, esponja molhada ou até um banho de água – após isso, a máscara pode ser retirada. E pronto: o vidro está marcado”, comenta Bianchini.

Este texto foi originalmente publicado na edição 622 (outubro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Rochu_2008/stock.adobe.com

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