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Proteção nos hospitais

A radiação é uma grande aliada da medicina contemporânea: com ela, é possível realizar uma série de exames — radioterapia, mamografia e tomografia, entre outros. Porém, a exposição excessiva a ela pode causar sérios problemas de saúde, inclusive câncer.

Como, então, usá-la sem colocar os pacientes, médicos e operadores dos equipamentos em perigo? É aí que entram materiais especiais para barrá-la, entre os quais está o vidro plumbífero. A seguir, conheça um pouco mais sobre esse produto e o seu funcionamento.

Diferença vinda de berço
Andreia Santana, especificadora técnica da processadora PKO do Brasil, de Mogi das Cruzes (SP), explica que o plumbífero distingue-se de outros tipos de vidro já em seu processo de fabricação. “Diferente do float, produzido pela flotação [na qual a mistura das matérias-primas é fundida e derramada em uma piscina de estanho líquido], ele é fabricado por meio de estiramento vertical”, diz ela. Nesse processo, a chapa é fisgada por uma longa isca, à qual adere, sendo então esticada verticalmente com o uso de roletes.

Outra mudança na fabricação do vidro plumbífero é a adição do chumbo na massa (daí sua designação: chumbo, em latim, é plumbum). “Pela sua alta densidade, ele é capaz de barrar a radiação”, explica Andreia. Dessa forma, o produto final é transparente o suficiente para garantir a integração visual, ao mesmo tempo que oferece proteção radiológica de alta qualidade para aplicações médicas, técnicas e de pesquisa, com alta eficiência de blindagem contra os raios X.

Plumbífero em biombo: material precisa ser bem-instalado no sitema blindado, para não haver pontos de fuga da radiação
Plumbífero em biombo: material precisa ser bem-instalado no sitema blindado, para não haver pontos de fuga da radiação

Trabalho correto, segurança garantida
Se a especificação ou instalação do plumbífero não forem benfeitas pela empresa de blindagem radiológica, a radiação pode passar de um ambiente para outro. Para Claudemir Lopes, sócio-proprietário do Grupo GRX São Paulo, um dos cuidados fundamentais é garantir que a peça encomendada atenda a norma ABNT NBR IEC 61331 — Dispositivos de proteção contra radiação-X para fins de diagnóstico médico e tenha a espessura correta para a barreira a ser instalada. Essa medida é determinada pelo projeto de radioproteção.

Na instalação e manutenção das peças, fique atento:

– As bordas do vidro precisam estar revestidas pelas blindagens existentes do sistema, sejam elas de chumbo ou de argamassa baritada (mais densa que a comum, especial para proteção radiológica), para que não haja pontos de fuga de radiação;
– A instalação deve ser feita com calços e folgas adequados, como qualquer outro vidro;
– Para a limpeza, use apenas água, um detergente suave e um pano macio — caso seja necessário desinfetá-lo, consulte a fornecedora para saber que produtos podem ser usados;
– Nunca exponha o vidro plumbífero a mudanças de temperatura ou umidade;
– Use apenas selante neutro e substâncias alcalinas durante a instalação;
– Atenção às etiquetas adesivas: elas podem causar descoloração se o adesivo reagir à superfície do vidro;
– Não use produtos abrasivos ou pontiagudos na superfície do material.

Disponibilidade no mercado

Corning Med-S separando ambientes: material americano é beneficiado pela PKO do Brasil no País
Corning Med-S separando ambientes: material americano é beneficiado pela PKO do Brasil no País

O vidro plumbífero ainda não é produzido no Brasil. Apesar disso, a Schott, que conta com unidades no País, tem um produto nessa área, o RD 50, fabricado no exterior. Segundo a empresa, ele pode ser disponibilizado em diferentes versões — incluindo formas curvadas, peças com furações específicas, bordas trabalhadas e serigrafia.

Outros fabricantes de países como Alemanha, China e Estados Unidos também fornecem esse material para empresas brasileiras especializadas em proteção radiológica, como o Grupo GRX São Paulo. “Normalmente, esse produto já é beneficiado antes da importação”, observa Claudemir Lopes.

Em 2017, a PKO firmou parceria com a americana Corning para oferecer seu vidro plumbífero, o Corning Med-X, para pronta entrega em território nacional. “Com isso, os custos para compra foram reduzidos de maneira significativa, além de o produto poder ser fornecido com prazos menores”, afirma Andreia Santana. Com o beneficiamento feito no País, também é possível laminar duas peças para projetos que exijam maior proteção, ou montá-las em unidades insuladas para agregar isolamento térmico e acústico às suas outras qualidades.

Onde usar?

RD 50, da Schott: produto pode ser fornecido curvo, serigrafado e com furações
RD 50, da Schott: produto pode ser fornecido curvo, serigrafado e com furações

Não faltam espaços em que o uso de vidros plumbíferos é necessário. Segundo Jacqueline Nascimento, assistente de Vendas da Schott, as áreas para suas aplicações incluem:

– Janelas de observação e de intercomunicação;
– Vidros hospitalares panorâmicos;
– Paredes de proteção móveis;
– Painéis protetores para sistemas de check-up;
– Painéis protetores nas estações de trabalho de mamografia;
– Salas de raios X ou tomografia;
– Visores para laboratórios;
– Lentes de segurança para óculos de proteção.

Seu uso não é restrito a ambientes hospitalares, veterinários ou odontológicos. Esse vidro é um componente fundamental, por exemplo, em equipamentos de detecção de raios X em aeroportos.

Plumbífero x visor multicristal
Andreia Santana reforça a importância de se escolher o vidro plumbífero para blindagem radiológica em vez dos chamados visores multicristais, feitos unindo diversas peças comuns de vidro. “Como o visor multicristal não é eficiente para blindagem de radiações ionizantes diretas — somente indiretas —, dependendo da posição e distância do equipamento, a radiação vai ultrapassar a barreira”, explica. Além disso, a técnica da PKO lembra que a NBR IEC 61331 estabelece que as placas de vidro para proteção radiológica devem ter transparência maior do que 85% e conter chumbo na proporção de, no mínimo, 22% de sua espessura, condições não atingidas por esses visores.

Fale com eles!
Corning — www.corning.com
GRX São Paulo — www.grxsp.com.br
PKO do Brasil — site.pkodobrasil.com.br
Schott — www.schott.com

Este texto foi originalmente publicado na edição 536 (agosto de 2017) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Do outro lado do espelho

Produto pode ter papel importante no tratamento do autismo

Ao longo das edições de O Vidroplano, o espelho teve destaque constante, desde os cuidados em sua instalação até as possibilidades estéticas que o produto agrega a um ambiente. Mas poucos sabem que ele também pode ser uma ferramenta importante no tratamento do autismo, transtorno do desenvolvimento neurológico com grande incidência no mundo: em média, de cada mil crianças nascidas, cinco recebem esse diagnóstico.

Em 2015, além de sua recente inclusão no tratamento do autismo, o espelho ajudou a dar visibilidade ao tema com a iniciativa SelfAzul, promovida pela Guardian em parceria com o Centro Pró-Autista (CPA).

Conhece-te a ti mesmo

Há cerca de três meses, o CPA incluiu o espelho em seu programa de tratamento dos pacientes. “Essa iniciativa, inovadora nos meios científicos que se dedicam ao tratamento dos autistas, está em fase inicial de pesquisa clínica”, explica o neuropsiquiatra Wanderley Domingues, presidente do CPA. Ele, no entanto, afirma que a ideia é bastante promissora quando associada às técnicas de tratamento do desenvolvimento neural e há embasamento teórico para isso: Jacques Lacan, célebre psicanalista francês, constatou que o material tem um papel importante na formação do ser humano durante a infância, ajudando as crianças a conhecer e se conscientizar sobre a própria imagem.

O espelho foi acrescentado no tratamento de autistas no CPA para ajudar os pacientes, orientados por profissionais, a reconhecer a si mesmos — isto é, seus corpos, suas características. Ao ter consciência sobre si, o paciente também tende a identificar o espaço que ocupa. “O autista passa a entender quem é ele e quem são os outros”, acredita Domingues.

O uso do espelho também pode ajudar o paciente a ler melhor as expressões faciais. Durante o Fórum Internacional SelfAzul (veja mais abaixo), Marie-Hélène Plumet, professora e pesquisadora da Université Paris Descartes, explicou que o autista tende a prestar mais atenção na boca do que nos olhos de seu interlocutor e a se prender a detalhes em vez de observar o rosto como um todo e seu dinamismo. Com isso, as pessoas com esse transtorno têm dificuldade em identificar as emoções de outros indivíduos, algo que pode ser melhorado com a observação em frente ao espelho.

SelfAzul

Os escritórios de comunicação Malkovich e Comunica levaram à Guardian o conhecimento do assunto. Isso motivou a empresa a lançar a SelfAzul durante a 1ª Virada da Saúde em São Paulo, em parceria com o CPA e o Instituto Saúde e Sustentabilidade. “Foi surpreendente saber que o espelho pode estar presente em uma iniciativa como a desenvolvida pelo CPA. Ser parte desse projeto é motivo de muito orgulho para a empresa”, afirma Maurício Gasperini, gerente de Produtos de Interiores da Guardian. A ação, completa o gerente, busca compartilhar conhecimentos sobre o autismo com a sociedade.

Nosso material não ficou de fora da iniciativa. Para atender uma das ações da SelfAzul, o artista plástico Eduardo Srur criou a obra Puzzle, composta por esculturas de espelhos representando grandes peças de quebra-cabeça. “O artista e o autista têm algo comum nesta vida: a busca pelo seu self, por si mesmos”, reflete Srur.

As peças, apresentando o assunto de forma lúdica, foram colocadas no vão livre do edifício da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e nas estações do metrô Paraíso e Trianon-Masp. Totens informativos foram colocados próximos a elas, com explicações sobre a ação e o autismo. As esculturas da Fiesp também foram cercadas por uma “sala de espelhos”, na qual mais informações podem ser lidas — tanto os espelhos das esculturas como os da sala foram fabricados pela Guardian e processados pela Speed Temper, colaboradora da SelfAzul.

No dia 9 de abril, o centro de convenções da federação sediou o Fórum Internacional SelfAzul. Baseado no tema A descoberta do autista e como o despertar da consciência de ‘si mesmo’ revela o ‘outro’ em nós, o evento reuniu profissionais das áreas médica, assistencial, educacional e outras para acompanhar palestras e debates sobre a evolução no tratamento do transtorno. A SelfAzul está ainda disseminando conhecimentos em seu hotsite e páginas no Facebook, Instagram e Twitter.

O que é o autismo?

As manifestações clínicas do autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), são expressas já durante a primeira infância — até os três anos de idade. Algumas delas são:

  • Déficit na atenção compartilhada, na comunicação, no desenvolvimento de conhecimentos e na linguagem;
  • Dificuldades na interação social;
  • Dificuldade na estruturação da identidade pessoal, na percepção do mundo real e na sua adaptação a ele.

Segundo Ana Maria Ros de Mello, superintendente da Associação de Amigos do Autista (AMA), o transtorno pode vir acompanhado por outras manifestações não específicas, como fobias, perturbações de sono ou da alimentação e autoagressividade.

“O diagnóstico e a intervenção precoces são elementos fundamentais na evolução desses pacientes”, explica Domingues, do CPA. Quando o autismo é identificado cedo e começa a ser tratado entre os dois e quatro anos de vida da criança, melhoras significativas na adaptação social e desenvolvimento da linguagem são observadas: o autista pode frequentar escolas e, ao crescer, trabalhar e se integrar normalmente à sociedade.

Esse tratamento envolve os níveis biológico, psicológico e social. Cada paciente tem necessidades particulares, e, por isso, é importante que seu programa de intervenção seja elaborado por uma equipe multidisciplinar. Embora entidades filantrópicas realizem esse trabalho, Domingues ressalta que nem sempre elas têm o devido apoio dos poderes governamentais — políticas públicas de saúde mental para o autismo ainda são inexistentes.

Visite os espaços da exposição ‘Puzzle’!

As esculturas estarão expostas nos locais abaixo até o dia 30 de abril.

Sede da Fiesp

Endereço: Av. Paulista, 1.313, Cerqueira César, São Paulo, SP

Onde: Vão livre na calçada, próximo à entrada

Estação do Metrô Trianon-Masp

Endereço: Av. Paulista, em frente ao número 1.485, Cerqueira César, São Paulo, SP

Onde: Próximo à bilheteria (pelas entradas na altura da Fiesp)

Estação do Metrô Paraíso

Endereço: Rua Vergueiro, 1.456, Paraíso, São Paulo, SP

Onde: Piso intermediário, próximo às escadas do piso inferior e ao elevador

Fale com eles!

AMA — www.ama.org.br

CPA — www.centroproautista.org.br

Eduardo Srur — www.eduardosrur.com.br

Guardian — www.guardianbrasil.com.br

SelfAzul — www.selfazul.com.br

Speed Temper — www.speedtemper.com.br

Université Paris Descartes — www.parisdescartes.fr