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Obra icônica ganha janelas de vidros com baixo teor de ferro

Em 1937, quando a construção da Fallingwater (Casa da Cascata) terminou, Frank Lloyd Wright não só entregava uma icônica obra da arquitetura moderna: também iniciava um movimento que tomou o mundo, o da arquitetura orgânica. Esse conceito visa a integrar as construções à natureza, fazendo delas um organismo vivo, muitas vezes até imitando formas encontradas no meio ambiente – O Vidroplano já publicou uma reportagem de capa sobre o tema, na edição de setembro de 2014 (acesse-a no link bit.ly/VPset14). E nada poderia representar mais essa ideia que uma casa em cima de uma cachoeira, no meio das florestas de Mill Run, na Pensilvânia, Estados Unidos. Este ano, a residência passou por retrofit em suas janelas, ganhando novos laminados com baixo teor de ferro, mais conhecidos como extra clear.

 

Restauração contínua
O envidraçamento foi planejado por Wright como elemento fundamental para se morar numa casa assim: ele queria apagar as barreiras entre os interiores e a natureza, oferecendo uma experiência visual e também acústica, já que o suave barulho das águas em movimento entra no espaço quando as portas estão abertas. À época, instalou-se um dos primeiros extra clear existentes para grandes projetos, desenvolvido pela Vitro Architectural Glass (então chamada PPG Glass).

No entanto, pela proximidade das janelas à cachoeira e pelos produtos de menos tecnologia de antigamente, essas estruturas ficaram suscetíveis à corrosão e a outros problemas causados pela alta umidade do local. Em 1988, por exemplo, os vidros laminados receberam PVBs especiais, mas cerca de 20 anos depois começaram a delaminar, ganhando certa opacidade, o que ia de encontro à vontade de Wright em relação à interação com o exterior. “A partir daí, os sistemas passaram a ser substituídos em uma rotina regular, geralmente em conjunto com os perfis de aço, para evitar qualquer problema que possa surgir”, explica Scott Perkins, diretor de Preservação da obra.

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Especificação
Vidros: laminados de extra clear da linha Starphire Ultra-Clear
Fabricante: Vitro Architectural Glass
Processadora: Dlubak Speciality Glass

Contra os raios UV
A mais recente restauração começou em setembro do ano passado, terminando agora em 2020. Ao todo, 69 janelas e portas foram reparadas; 16 janelas tiveram as chapas de nosso material totalmente trocadas – elas variam de 0,2 x 0,2 a 0,7 x 1,9 m. O vidro escolhido, mais uma vez, veio da Vitro Architectural Glass: a fabricante doou uma carga de Starphire Ultra-Clear, material que garante transmitância de luz de até 91%. Ou seja, a transparência é quase total.

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A maior parte dos móveis da Fallingwater é original da época de sua inauguração. E pelo fato de as janelas não terem cortinas ou brises para gerar sombras, esses objetos podem se desgastar pelo contato direto com a luz do Sol. Mas isso também foi pensado: os novos laminados contam com interlayers SentryGlas, da Kuraray, os quais filtram a radiação ultravioleta, impedindo assim que madeiras e demais materiais aplicados internamente sofram desgaste.

Outros retrofits já estão marcados para os próximos anos – e a lendária casa pode contar com os vidros para se manter como imaginada por seu criador.

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Este texto foi originalmente publicado na edição 576 (dezembro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Dicas para uma boa execução de retrofits

Este mês, a seção “Retrofit” estreia nas páginas de O Vidroplano. O objetivo das reportagens publicadas aqui é apresentar obras que passaram por um trabalho de retrofit, seja em suas fachadas ou nos seus interiores. Nesta primeira reportagem, confira algumas dicas para uma boa execução desse serviço e conheça dois projetos de sucesso já realizados no Brasil.

O que é
O processo de retrofit consiste na modernização e revitalização de edificações antigas que estejam ultrapassadas ou fora de norma. Com ele, é possível aumentar a vida útil delas, utilizando materiais com qualidade mais avançada — como vidros de valor agregado, por exemplo —, para conferir benefícios que vão da estética externa ao conforto térmico e acústico no interior do ambiente.

Há quatro tipos mais comuns desse trabalho:

Recuperação: indicada para prédios de valor histórico ou quando a fachada apresenta elementos com defeito. Nesse caso, alguns ajustes simples são suficientes para manter o que foi originalmente utilizado;
Rearranjo: vai além da recuperação. Nele é preciso substituir alguns materiais por outros diferentes, alterando parcialmente o visual;
Reforma: trata-se de uma intervenção maior, com a troca de elementos originais, como vidros antigos por novos de maior valor agregado;
Renovação: muda completamente o layout da obra, elevando bastante os benefícios dela aos usuários e ao meio ambiente.

Hotel Nacional 
Cidade:
Rio de Janeiro
Ano de construção: 1972
Ano do retrofit: 2016
Empresa responsável: QMD Consultoria

ANTES-RETROFIT

 

O que mudou:
• Os vidros antigos da fachada foram trocados por laminados de peças de controle solar, proporcionando a redução do calor em 63% e transmissão luminosa de 25%;
• Embora modernizado, o edifício manteve visualmente as características originais do projeto de Oscar Niemeyer;
• Um dos bares do hotel, o Roof Top Bar, é cercado por vidros que desempenham a função de isolamento acústico;
• Nosso material também foi aplicado na academia, no spa e em guarda-corpos.

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Sem receita básica
Cada caso é um caso quando uma obra passa por retrofit. A revitalização é feita sob medida e de acordo com as características de cada empreendimento. Por isso, é essencial que um especialista avalie as condições da fachada da obra antes de elaborar esse projeto.
Apesar disso, há alguns pontos que podem ser levados em consideração:
• Uso de vidros de valor agregado: esses produtos contribuem para a modernização do edifício, especialmente aqueles que permitem eficiência energética, como os de controle solar, ou conforto acústico e os insulados;
• Atenção com as esquadrias: como os perfis se desgastam com o passar dos anos, pode aparecer infiltração de ar e água. Checá-los é essencial para garantir o bom desempenho da modernização aplicada.

Palácio Iguaçu
Cidade: Curitiba
Ano de construção: 1954
Ano do retrofit: 2010
Empresa responsável: Hedron Engenharia
O que mudou:
• A nova fachada tem a tonalidade verde — originalmente pretendida para o prédio quando foi construído — com a instalação de laminados verdes-claros de 10 mm;
• Apesar do novo tom da edificação, a reforma manteve a estética original da obra, conforme pretendido;
• O envidraçamento aplicado no retrofit teve ainda um aumento no seu desempenho, com atenuação sonora de até 35 dB e transmissão luminosa de 70%;
• Também foram utilizados vidros em guarda-corpos e pisos no interior do edifício.

 

Sua empresa tem algum trabalho de retrofit?
Envie fotos e informações de obras interessantes para o e-mail ovidroplano@abravidro.org.br – nossa equipe de reportagem irá avaliar o material.

Este texto foi originalmente publicado na edição 572 (agosto de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.