A Circular Secex nº 27/2025, publicada em 24 de abril, dá início ao processo de revisão anticircunvenção para averiguar a existência de práticas comerciais elisivas nas importações de para-brisas da Malásia (NCMs 7007.21.00, 7007.29.00 e 8708.29.99). Tais importações teriam como objetivo frustrar a eficácia do direito antidumping aplicado sobre vidros automotivos da China. A revisão foi iniciada a pedido da Abividro. A partir de uma análise inicial, o Departamento de Defesa Comercial (Decom) entendeu haver indícios dessa tentativa, tendo em vista que:
Houve aumento relevante do volume importado de para-brisas originários da Malásia, com início após a aplicação do antidumping, o que se intensificou após sua renovação;
Há evidências de que os preços dos para-brisas malaios são inferiores aos praticados nas importações chinesas;
As exportações de para-brisas são relevantes em relação às vendas totais do produto na Malásia;
Há evidências de que mais de 60% das partes, peças ou componentes utilizados na fabricação do produto malaio vieram da China.
Próximos passos e histórico
As partes interessadas (exportadores da Malásia, importadores que adquiriram produto desse país e qualquer outra que justifique interesse no tema) poderão participar do processo, a fim de comprovar se houve ou não a circunvenção. De acordo com o cronograma publicado na circular, o parecer final deve ser publicado até outubro deste ano.
Esta é a segunda revisão anticircunvenção aberta para apurar práticas elisivas nas importações de para-brisas. Em março de 2024, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) estendeu o direito antidumping originalmente aplicado às importações brasileiras de para-brisas automotivos originárias da China, às importações brasileiras de vidros recurvados, biselados, gravados, brocados, esmaltados ou trabalhados de outro modo para posterior utilização na fabricação de vidros laminados automotivos. O PVB estava incluso nos produtos investigados, mas ficou de fora da lista final.
Começo de ano em alta
Segundo a pesquisa Indicadores Industriais, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) neste mês de abril, em fevereiro, o faturamento real da indústria de transformação registrou avanço frente a janeiro: 1,6%. Com o resultado, a receita bruta das empresas do setor, já descontada a inflação, acumula alta de 5,5% em 2025 frente a dezembro de 2024.
Mais trabalho
A pesquisa da CNI também mostra que as horas trabalhadas no segmento avançaram 2% no segundo mês do ano, enquanto o emprego registrou crescimento de 0,4%. Por outro lado, houve queda de 0,6% na massa salarial e de 1% no rendimento médio real do trabalhador da indústria nesse mesmo período.
Surpresa com os dados
Os resultados surpreendem, dado o cenário previsto para o ano. “A alta do faturamento e das horas trabalhadas está acima do esperado. Em 2025, há previsão de menor demanda e desaceleração”, afirma o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo. A estimativa da confederação é que a indústria registre crescimento de 2,1% em 2025, frente aos 3,1% de incremento observados em 2024.
Pessimismo entre empresários
O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei), outro indicador medido pela CNI, diminuiu 1,2 ponto entre março e abril, passando de 49,2 para 48 pontos. É o pior patamar desde julho de 2020, período em que o mundo enfrentava a pandemia da Covid-19. Em 2025, os industriais brasileiros ainda não deram demonstração de confiança, mostrando preocupação com a desaceleração da atividade econômica, desvalorização do real, alta dos juros e instabilidade do comércio internacional.
FIQUE POR DENTRO
Por mais vidro na escola
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) destacou em seu site o investimento do setor vidreiro na aproximação com universidades para a valorização do nosso material, reforçando para os futuros especificadores os benefícios do uso do vidro na construção civil. No texto, a Fiergs aponta que entidades como a Abravidro e a Abividro lideram iniciativas que promovem a capacitação de profissionais e a troca de conhecimento com a academia. Entre essas ações, são citados os encontros promovidos pelo Sindividros-RS nos meses de março e abril com estudantes de Arquitetura e Urbanismo do Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha (Cesuca) e da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em que a coordenadora técnica da Abravidro, Vera Andrade, palestrou. “Essa troca de experiências contribui para a atualização constante e fortalece a profissão, elevando a qualidade dos serviços prestados e estimulando a inovação”, observa Vera.
Foto: reprodução
RETROVISOR
Associativismo na América do Sul
Em abril de 1998, era fundada a Associação de Câmaras do Vidro do Mercosul (Acavime) em assembleia realizada em Buenos Aires, capital da Argentina. Leo Carlos Moran, então presidente da Abravidro, foi eleito por unanimidade como o primeiro presidente da entidade, cujo objetivo era promover a aplicação do vidro e o desenvolvimento de normas técnicas para o material em todo o território do Mercosul.
No dia 23 de abril, faleceu Pedro Vanderlinde, fundador da processadora Linde Vidros, de Rio Negro (PR). O velório foi realizado no mesmo dia, na capela mortuária de Rio Negro, com o sepultamento agendado para o dia seguinte (24), no cemitério de Mafra (SC). Em comunicado publicado nas redes sociais da empresa, foi destacado o legado construído por Vanderlinde com muito trabalho, coragem e coração.
O espetáculo Reflexos, apresentado pela primeira vez em novembro do ano passado pelo Coletivo Movement, foi reprisado no dia 29 de março no Teatro Municipal Marina Karam Primak, em Guarapuava (PR). O evento contou com o patrocínio da processadora paranaense Mary Art, que, em parceria com a Cebrace, forneceu espelhos usados em elementos cênicos para a peça, com o objetivo de explorar a complexidade dos reflexos em múltiplas dimensões, criando uma experiência multidimensional. Segundo Lucas Bremm Oliveira, diretor da Mary Art, a aplicação dos espelhos faz com que o espetáculo convide o público para um mergulho interior, incentivando a reflexão sobre identidade e autoconhecimento.
A votação para eleger os vencedores do Guardian Top Projects 2025 começou: a iniciativa, em sua 3ª edição, tem como objetivo premiar processadores e distribuidores de vidros e espelhos, construtoras, consultores, fabricantes de esquadrias, arquitetos, designers, vidraceiros e fabricantes de móveis responsáveis por projetos de destaque na América do Sul que utilizam produtos e soluções da marca. Entre os mais de duzentos projetos inscritos, três foram selecionados pelo júri técnico em cada uma das seis categorias. Agora, eles concorrem em votação popular, aberta até 16 de maio no site da premiação. “Mais do que reconhecer projetos, o Top Projects reforça nosso compromisso com o desenvolvimento da arquitetura e do design na América do Sul, incentivando o uso criativo e eficiente do vidro”, afirma Betânia Danelon, gerente de Desenvolvimento de Mercado de Arquitetura da Guardian.
No final de março, a Cebrace anunciou a ampliação de seu portfólio com o lançamento do Cebrace Cool Lite KST 143, desenvolvido especialmente para aplicações em fachadas comerciais. O vidro tem um aspecto refletivo prata e, segundo a fabricante, proporciona um visual moderno e sofisticado aos projetos arquitetônicos. De acordo com a Cebrace, além da estética diferenciada, o KST 143 se destaca pelo excelente equilíbrio entre a entrada de luz e o controle solar, garantindo ambientes mais confortáveis e eficientes, apresentando 38% de transmissão luminosa e fator solar de 0,35. O novo produto está disponível para o mercado vidreiro na versão monolítica, podendo ser laminado, temperado ou insulado.
No dia 27 de março, Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro, ministrou uma palestra na sede do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) em Pouso Alegre. A apresentação foi direcionada para o uso correto do vidro em guarda-corpos e foi presenciada por arquitetos, membros do Corpo de Bombeiros e representantes do Crea-MG e do setor da construção civil da região. A iniciativa teve como objetivo divulgar a ABNT NBR 14718 — Guarda-corpos para edificação. Na palestra, Clélia alertou que, em todo o Brasil, ainda há muitos casos de utilização de temperados monolíticos em guarda-corpos, colocando os usuários desses sistemas em perigo. Por isso, frisou que a norma ABNT NBR 14718 informa claramente que o vidro correto para esse tipo de aplicação é o laminado.
A processadora Tecnovidro, sediada em Farroupilha (RS) e associada da Abravidro, contribuiu com R$ 200 mil para o Programa de Incentivo ao Acesso Asfáltico (PIAA), do Governo do Estado do Rio Grande do Sul. A iniciativa prevê o engajamento de empresas locais por meio do abatimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Em março, para firmar a participação no programa, o diretor-presidente da Tecnovidro, Marco De Bastiani, esteve na cerimônia realizada no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho, em Porto Alegre. “Trata-se de projetos e obras que irão gerar impactos positivos para a economia e a sociedade. Além de buscar a excelência no mercado do vidro e gerar emprego e renda, estamos comprometidos em contribuir com ações como essa”, afirma De Bastiani.
Este ano, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) publicou a norma ABNT NBR 16835:2025 — Ferragens para vidro temperado – Requisitos, classificação e métodos de ensaio, documento que estabelece os requisitos para fabricação, dimensionamento, segurança, funcionamento e acabamento superficial das ferragens para vidro temperado. A edição passada de O Vidroplano abordou o processo de publicação da ABNT NBR 16835 e a importância dela para o nosso setor. Agora, é hora de conhecer um pouco mais sobre o conteúdo e as determinações presentes nessa norma.
Escopo
As ferragens tratadas pela ABNT NBR 16835 são aquelas utilizadas para a fixação de vidros temperados monolíticos, de 8 ou 10 mm, móveis ou fixos, utilizados para o fechamento ou separação de áreas e ambientes internos ou externos. Fazem parte desse grupo de ferragens:
Dobradiças
Fechaduras e contrafechaduras
Trincos e contratrincos
Pivôs
Suportes
Puxadores
Roldanas
Vale observar que a norma já prevê que as ferragens que não estejam citadas em seu texto, ou novas ferragens que vierem a ser desenvolvidas para a mesma aplicação, também devem estar de acordo com a norma, pois ela trata dos requisitos mínimos de desempenho que qualquer ferragem para vidro temperado deve atender.
Por outro lado, a ABNT NBR 16835não se aplica às ferragens para:
Envidraçamento de sacadas;
Fachadas tipo cortina;
Guarda‑corpos ou sistemas diferenciados;
Ferragens fabricadas para utilizações especiais e aplicações específicas – como, por exemplo, blindagens e sistemas de proteção ao fogo
Composição
De acordo com a norma, os materiais empregados na fabricação das ferragens para vidro devem ser resistentes à corrosão e às solicitações dos esforços mecânicos a que os componentes estão sujeitos durante sua instalação, utilização e manutenção. Além disso, também não podem facilitar o desenvolvimento de atividade biológica.
Na fabricação dos componentes das ferragens para vidro, os materiais metálicos e não metálicos devem atender tanto as normas correspondentes para cada tipo de material como os requisitos dessa nova norma.
Identificação do fabricante
O nome ou a marca de identificação do fabricante das ferragens para vidro devem estar marcados no produto de forma permanente e legível. A norma recomenda que seja possível identificar o fabricante após a instalação da ferragem.
Apresentação e acabamento
As peças devem possibilitar a montagem entre elas, resultando em um conjunto esteticamente harmonioso;
As peças aparentes do conjunto ferragem para vidro não podem apresentar defeitos visuais perceptíveis, como, por exemplo, rebarbas, riscos e batidas, desde que não sejam inerentes ao processo de fabricação ou ao tipo de acabamento, e que não causem danos ao usuário
Responsabilidades
O fabricante deve se responsabilizar por disponibilizar, fabricar e fornecer todos os componentes necessários para a instalação e o funcionamento adequado das ferragens para vidro.
Códigos e classificações
A ABNT NBR 16835 apresenta tabelas que indicam os códigos das ferragens para vidro temperado, assim como sua descrição e sua aplicação. Também são apresentadas figuras (meramente ilustrativas) das ferragens para vidro temperado.
Exemplo da apresentação de códigos e classificações das ferragens
Recortes – Dimensões e geometrias
Para possibilitar a instalação no vidro temperado, cada ferragem exige que sejam feitos recortes e/ou furos na peça de vidro antes de ela passar pelo tratamento térmico. Esses recortes e furos são padronizados em função do tipo e do código de cada uma das ferragens para vidro temperado. A ABNT NBR 16835 apresenta uma tabela informando quais as medidas referentes a esses recortes – como exemplo, veja o recorte da fechadura 1520 apresentado no documento:
Recorte para ferragens 1520, 1504 e 1531 (dimensões em milímetros; nota: desenho fora de escala)
Informações técnicas
De acordo com a norma, o fabricante das ferragens para vidro temperado deve disponibilizar, em mídias físicas ou digitais, de forma clara e visível:
O nome ou a marca de identificação do fabricante;
O código do produto;
As especificações técnicas, como, por exemplo, dimensões, carga máxima suportada e recortes;
Instruções de instalação e manutenção;
Orientações para utilização e conservação do produto;
Os materiais utilizados na fabricação dos componentes;
As regras ou os prazos de garantias, conforme a norma ABNT NBR 17170 — Edificações – Garantias – Prazos recomendados e diretrizes
Acesso gratuito à norma de ferragens
Os associados da Abravidro já podem acessar, gratuitamente, a ABNT NBR 16835 pelo ABNT Coleção: basta entrar no sistema, preencher os campos “empresa”, “usuário” e “senha” (caso já tenha usado o ABNT Coleção antes), e clicar em “Entrar”. Depois, dentro do sistema, é só procurar pela ABNT NBR 16835.
O cadastro dos usuários é feito pela própria Abravidro junto à ABNT. Caso o associado nunca tenha acessado o ABNT Coleção, ele deve entrar em contato com a entidade pelo telefone (11) 3873-9908 para solicitar o cadastro. Assim que for feito, a Abravidro enviará na sequência o login e a senha para sua empresa.
A 23ª Expo Revestir, maior feira de revestimentos e acabamentos da América Latina, e a 3ª Haus Decor Show, feira simultânea voltada para os setores de tintas e vernizes, iluminação, refrigeração e automação residencial, foram realizadas de 10 a 14 de março no São Paulo Expo, na capital paulista. Este ano, os eventos inauguraram uma nova era, com dias e horários ampliados, buscando maximizar as oportunidades de negócios e conexões em resposta à crescente demanda por participação do público especializado.
A Expo Revestir teve mais de trezentas marcas expositoras ao longo de seis pavilhões, preenchendo uma área total de 65 mil m²; já a Haus Decor ocupou outros dois pavilhões, com mais de oitenta marcas – juntas, as feiras receberam cerca de 82 mil visitantes.
A equipe da Abravidro esteve no evento para cumprir agendas institucionais e visitar os estandes das empresas associadas e parceiras. Este ano, as duas mostras tiveram diversas novidades interessantes envolvendo o vidro. Confira nas próximas páginas os destaques para o nosso setor.
EXPO REVESTIR
A Bazze PVC exibiu em seu estande algumas de suas esquadrias para janelas e portas de correr – entre elas, chamou atenção uma com pintura reproduzindo aspecto amadeirado (foto), com vidro insulado, aliando estética e conforto térmico e acústico no mesmo produto. Também vale destacar a porta de correr de vidro na entrada do espaço, com cerca de 4 m de altura.
A Casa D’Vino desenvolve projetos de adegas climatizadas sob medida: as estruturas são de MDF e vidro insulado (foto), com condensador e evaporador, com atenção tanto aos detalhes estéticos como à funcionalidade interna, a fim de assegurar que a adega seja bela e também prática.
Foto: Divulgação Cebrace
O estande do Grupo Saint-Gobain contou com um espaço para a Cebrace, onde foi mostrada a linha Habitat de vidros de controle solar para residências. Além de destacar os benefícios do produto, que pode reduzir a entrada de calor nos ambientes em até 70%, a empresa também demonstrou a possibilidade de agregar ainda mais valor e vantagens a ele, com uma composição laminada acústica.
Embora a Biancogres não seja uma empresa do nosso segmento (ela trabalha com porcelanatos e revestimentos), seu estande, que ocupava um “quarteirão inteiro” na mostra, tinha várias colunas feitas com laminados de vidro ReflectGuardian Champagne (foto), da Guardian: as peças foram fornecidas e aplicadas pela Cyberglass, como uma parceria entre as duas empresas – e uma forma também de a processadora mostrar a designers e arquitetos a tecnologia e estética que nosso material pode agregar aos projetos.
O destaque da Elettromec para o nosso segmento foi a linha Vetro de eletrodomésticos com face de vidro pintado na cor preta: os produtos, de fornos a um refrigerador do tipo de embutir e revestir (foto), trazem um aspecto sofisticado à cozinha e podem ser embutidos – como podia ser visto no estande da empresa – para tornar o ambiente ainda mais clean e espaçoso.
O principal lançamento da Esaf na Expo Revestir foi o sistema de correr 45 Euro Minimal (foto): com design minimalista e montante central reduzido, ele apresenta um número reduzido de perfis, possibilidade de uso de vidros insulados e trilho inferior com instalação embutida. A empresa também exibiu suas linhas de esquadrias voltadas para construtoras, como a Idealle e a Moscatto, desenvolvidas para atender as necessidades específicas de diferentes regiões de vento do Brasil.
O estande da Garantia Solar BIPV mostrou diferentes formas de integrar soluções de energia solar à arquitetura. Algumas possibilidades apresentadas foram um guarda-corpos fotovoltaico, um pergolado com módulos semitransparentes e uma fachada unitizada (foto) – essa última mostrou que, em uma pele de vidro, os módulos podem ser colocados para cobrir os espaços não ocupados por janelas ou sacadas, gerando energia e ainda contribuindo para a estética da obra.
A Pado apresentou a fechadura digital FDV-201 (foto), para aplicação por sobreposição em vidro. Além de agregar todos os benefícios de sua antecessora, a FDV-200 – como a dispensa de recorte ou furação no vidro, possibilidade de uso tanto em sistemas pivotantes como de correr e o cadastramento de centenas de digitais e senhas de acesso –, o novo upgrade pode ainda ser acionado de forma remota por aplicativo.
Foto: Divulgação/Tramontina
A novidade da Tramontina foi o Guru ThermoGuide (foto), cooktop de embutir com controle de temperatura e duas áreas guiadas, painel touch intuitivo para ajustes, integração com aplicativo para acompanhar cada detalhe da receita e um design moderno e minimalista, com acabamento preto fosco, com maior resistência a riscos. Os visitantes puderam, inclusive, vê-lo em funcionamento, com expositores cozinhando dentro do estande.
O estande da Weiku foi montado como um cenário residencial, a fim de demonstrar aos visitantes as possibilidades de aplicação de seus produtos, como a linha Corstone de revestimentos (feitos com a aplicação de uma variedade de filmes e polímeros em vidros laminados) e a luminária Octa 40 (foto), feita com peças dessa mesma linha. Também chamou atenção uma janela oscilobatente que parecia flutuar no ar – na verdade, estava aplicada em uma estrutura de vidro.
HAUS DECOR SHOW
A Atenua Som dividiu o estande com suas parceiras Uniflex e Somfy. Juntas, as três empresas apresentaram soluções para o conforto acústico, com destaque para uma câmara com resultado extremamente elevado (foto) – dentro dela, não era possível perceber todo o barulho do lado de fora –, montada para demonstrar o potencial do isolamento acústico, além de esquadrias aliando estética e atenuação de ruídos.
Este ano, a Blindex foi responsável por patrocinar e montar o Lounge dos Influenciadores dentro da Haus Decor Show. A empresa aproveitou para levar ao espaço móveis feitos com Blindex Impress (vidro temperado com impressão digital de alta qualidade), como mesa, estante e banco (foto), além de outras estruturas com diferentes tipos de vidro.
A Ideia Glass levou vários produtos de seu portfólio, incluindo: o Perfil Retro (foto), que pode ser colado no vidro com fita dupla-face para agregar estilo e sofisticação aos ambientes; o kit Nobre, que conta com amortecedor para a abertura e fechamento; e o boxe Flex, com abertura de 90 graus do vão – este último foi montado no estande com vidros refletivos, dando uma estética diferenciada ao sistema.
A principal novidade da Infinite foi a linha Infinite .S45 TB (foto): a solução para folhas de correr tem design minimalista, trilhos embutidos e perfis com sistema de corte térmico (thermal break), possibilitando ainda o uso de duas cores diferentes no mesmo caixilho, uma voltada para dentro do ambiente e a outra voltada para o lado de fora. A empresa também apresentou uma tipologia com portas de canto de correr.
O estande da Roll Door teve vários lançamentos da empresa. Entre eles, a Porta Camarão (foto) apresenta vedação superior a produtos semelhantes no mercado, dispensa a necessidade de trilhos inferiores e requer pouca manutenção. Outro destaque foi a versão automatizada do sistema Robust, para grandes vãos – ele pode ser usado com folhas de vidro de até 6 m de altura.
Foto: Henry Lopes
Em sua estreia na Haus Decor Show, a Vivix contou com um estande especial (foto) projetado pelo arquiteto pernambucano Jaime Portugal, embaixador da marca, para destacar a versatilidade dos vidros e espelhos da usina, oferecendo uma experiência imersiva aos visitantes. No centro do espaço, um balcão pensado para ser usado como bar e café foi revestido com o vidro pintado Vivix Decora Nude. O estande contou ainda com dois lounges revestidos com o Vivix Decora Preto e uma cabine de espelhos composta por peças de Vivix Spelia Cinza e Vivix Spelia Incolor.
MONITORAMENTO MENSAL DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DE VIDROS BRASILEIRA Desempenho – Março 2025
A percepção sobre o desempenho da indústria nacional de processamento de vidros foi de queda importante nas vendas faturadas em m² em março de 2025 em relação a fevereiro.
O indicador de desempenho da indústria de processamento de vidros registrou baixa de 14,5% no volume de vendas faturadas de vidros processados no mês, na comparação com fevereiro, considerando ajustes sazonais.
Metodologia
A coleta de dados foi realizada nos primeiros dias úteis deste mês, por meio de formulário online. O estudo pode ser respondido por processadoras de todo o Brasil (79 participaram desta edição).
O VidroCast recebeu a arquiteta Audrey Dias, diretora e sócia-proprietária da Aluparts, empresa especializada na recuperação e manutenção de sistemas de esquadrias – ela também é professora de pós-graduação de Patologia das Construções (Esquadrias e Vidros) e tem MBA em gestão de negócios. Na conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Audrey falou sobre sua formação e experiência profissional, importância da manutenção preventiva de fachadas e qualificação de mão de obra. Leia a seguir alguns destaques do bate-papo – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.
Você tem o trabalho com esquadrias e vidros no seu DNA: seu pai, o engenheiro Nelson Firmino, foi uma grande referência para esse segmento e dá nome, inclusive, a um prêmio organizado pela Afeal. Quando foi que você percebeu que queria seguir na mesma área? Audrey Dias – Basicamente, eu nasci na indústria de esquadrias, não tive muita oportunidade de escolha: lembro que, quando fiz quinze anos, no dia seguinte meu pai avisou que a próxima segunda-feira seria meu primeiro dia de trabalho na empresa. Foi assim que começou minha jornada. Eu estudava de manhã, ia à tarde para o escritório, e ele foi meu grande mentor, passou a vida inteira falando sobre esquadrias e vidros. Lembro-me de que ele abria os desenhos dos projetos e mostrava neles o que era um perfil, uma roldana, como a gente representa a esquadria na fachada.
Quando me dei conta, eu estava buscando uma faculdade de arquitetura, o que deu muito certo. O engraçado é que meu pai teve oito filhos, e só eu fui para a parte técnica na área de esquadrias para poder de fato aprender com ele, dando continuidade às atividades da Aluparts.
Quais foram os principais desafios e as principais vitórias em sua jornada no mundo das esquadrias? AD – Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor o cara que mais entendia sobre esquadrias, um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil – uma verdadeira “enciclopédia” ao meu lado. Isso me abriu muitas portas, trouxe muita bagagem e conhecimento, sendo muito positivo para minha carreira, o que eu sigo até hoje com muito amor por essa área. O desafio, pelo menos para mim, foi que eu comecei a trabalhar muito cedo numa empresa familiar, e com isso eu não tive a oportunidade de trabalhar para outras empresas ou ter um patrão de fato, um chefe que não fosse meu pai. As relações pessoais e familiares sempre estiveram envolvidas no meu dia a dia.
“Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil.” Audrey Dias
Como você acha que sua formação influenciou na sua trajetória profissional e carreira? AD – Eu sempre fui muito estudiosa, sempre me cobrei muito para estudar. Lembro que, quando comecei a faculdade de arquitetura, o curso não abordava nada sobre esquadrias – inclusive, esse é um ponto que precisa ser olhado com mais atenção, porque tanto no curso de engenharia como no de arquitetura, não se fala sobre caixilhos, esquadrias, vidros, nada disso.
Na época, tentei uma iniciação científica, falei para o reitor que eu queria fazer um trabalho sobre as esquadrias de alumínio na arquitetura. Fiquei um tempo aguardando o resultado e, quando saiu, apareceu como “tema irrelevante”. Isso me gerou revolta: como esse tema seria irrelevante se não existe edificação sem caixilho, sem esquadria? As esquadrias são os “olhos” de qualquer edificação. A partir disso, decidi que iria realmente estudar o tema e, ao me formar, busquei um MBA nessa parte de gestão de negócios, para incorporar isso aos negócios da família. E deu certo.
Depois, voltei minha carreira para essa parte dos cuidados com as fachadas, porque existem excelentes empresas que pensam em como conceber fachadas, mas quem cuida delas? E eu venho desde então estudando, nessa parte da engenharia diagnóstica, as “doenças” das edificações, para poder levar esse conhecimento e a importância dele para o mercado.
E como funciona esse trabalho de manutenção ou recuperação das fachadas? Em que momento do ciclo de vida de uma fachada vocês costumam ser chamados? AD – O grande problema é que as fachadas já estão nascendo doentes. Então a manutenção pode ocorrer tanto em um prédio em operação, cuja fachada tem quarenta ou cinquenta anos, como também em um prédio recém-inaugurado, com uma estrutura de seis meses de vida. A gente iniciou recentemente um trabalho em um edifício enorme em Brasília, um prédio recente, e estamos atuando de forma corretiva em problemas de origem endógena, ou seja, que são relacionados à fase de construção, fabricação e instalação.
“A falta de mão de obra qualificada está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros.” Audrey Dias
Dos casos em que vocês têm atuado ao longo da trajetória da Aluparts, quais são os erros mais comuns cometidos tanto na hora de projetar como na de instalar uma fachada? AD – Quando a gente fala de manifestação patológica, o que mais chama atenção basicamente são os erros relacionados à estanqueidade: execução incorreta de vedações, ausência de vedação, especificação errada de componentes de vedação como escovas e gaxetas… O simples fato de você utilizar uma escova com dimensão diferente da necessária pode causar a reprovação da sua esquadria em um teste de desempenho, por exemplo; imagine, então, isso em operação numa fachada. Um fator importante é a questão da infiltração, porque ela incomoda: se está chovendo, a água entra pela sala molhando a marcenaria, molhando o tapete.
Mas hoje a gente tem encontrado também muitos problemas de subdimensionamento de perfis, falhas estruturais, subdimensionamento de componentes. Recentemente, algumas janelas de um grande edifício em São Paulo saíram voando e, quando a gente foi ver, os braços de articulação delas não tinham o tamanho e a resistência necessários, não eram os braços que tinham sido especificados para o projeto.
A Abravidro tem o Educavidro e o De Olho no Boxe. A Afeal tem a Academia Afeal, na qual você é instrutora. Isso tudo envolve esforço para levar informação para a mão de obra – e isso tem também um papel de formação. Como você enxerga esta questão: tem sido fácil ou difícil encontrar mão de obra qualificada para prestação de serviços? AD – Acho que hoje esse está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros. A construção civil está sofrendo com a falta de mão de obra qualificada, justamente por falta de preparo. Precisamos realmente que as empresas capacitem seus funcionários, tanto os fabricantes de vidros como os de perfis, e que também os grandes players do nosso mercado colaborem com a formação desses profissionais, não tentem buscar gente pronta no mercado. As empresas têm de focar na qualificação, montar uma escolinha no chão de fábrica.
A Abravidro e o Sinbevidros formaram, de 9 a 11 de abril, a primeira turma do “Curso de Gestão Financeira Estratégica para Empresários Vidreiros”. As aulas foram ministradas na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista, com o objetivo de qualificar os gestores do nosso setor na administração das finanças de suas empresas, abordando desde a formação de preço e definição da margem de lucro até o planejamento de investimentos e projetos de longo prazo.
O treinamento, não restrito a profissionais de São Paulo, contou com alunos de várias regiões do Brasil. As vinte vagas disponibilizadas para o curso foram preenchidas rapidamente – o que reforça a carência dos processadores por conhecimentos e ferramentas para uma gestão financeira mais eficiente em suas empresas.
Conteúdo pensado para o setor
As aulas do curso foram ministradas por Flávio Málaga, Ph.D. e mestre em finanças e palestrante do 16º Simpovidro; e Cristiane Kussaba, mestre em controladoria e contabilidade – ambos também são professores de instituições de destaque, como o Insper. Segundo Málaga, ter uma área financeira robusta não é suficiente para o sucesso empresarial, mas é uma condição necessária para alcançar esse objetivo. “Desenvolvemos o conteúdo dos quatro módulos com base nessa expectativa, com ferramentas essenciais para o gestor pilotar sua empresa, além de promover discussões e apresentar casos práticos”, explica.
Para Cristiane, mais que apenas ensinar, o treinamento também buscou provocar algumas reflexões nos participantes, mostrando, por exemplo, que, antes de reduzir os preços praticados para se equiparar à concorrência, é preciso olhar para a estrutura de custos dentro da companhia. “Só é possível gerenciar aquilo que conseguimos mensurar. Melhorar a forma de custeio e o controle dos gastos é uma das ferramentas para nortear um crescimento que seja sustentável financeiramente”, orienta.
Próxima turma já tem inscrições abertas
Iara Bentes, superintendente da Abravidro, explica que a iniciativa veio para suprir o que as entidades identificaram como uma grande carência no setor. “A gente sabe que o ambiente de negócios é hostil, temos um mercado bastante pulverizado que vem enfrentando momentos difíceis do ponto de vista de oferta e demanda. O conteúdo ministrado ajuda a ampliar a visão e a variedade de ferramentas que os empresários têm para fazer a gestão mais eficiente de suas empresas, com melhores resultados”, comenta, observando que o feedback recebido dos participantes foi excelente.
A importância do curso é reforçada por Victor Villas Casaca, presidente do Sinbevidros: “Em um mercado cada vez mais competitivo, negligenciar o impacto financeiro das decisões diárias pode comprometer a saúde da empresa e impactar todo o segmento; cada escolha influencia diretamente a lucratividade, a rentabilidade e o fluxo de caixa. Por isso, saber dizer ‘não’ a propostas aparentemente atraentes, mas desalinhadas com os objetivos financeiros, é um exercício de maturidade empresarial que o treinamento vem auxiliar”.
A Abravidro e o Sinbevidros já estão planejando uma nova turma para o segundo semestre deste ano. Os interessados podem colocar seus nomes na lista de espera acessando o sitewww.financavidreira.com.br.
No Rio Grande do Sul
O Sindividros-RS levou Vera Andrade, coordenadora técnica da Abravidro, para realizar duas palestras para alunos de arquitetura, engenharia e design sobre o tema Aplicações do Vidro na Construção Civil. No dia 31 de março, a apresentação foi realizada no Centro Universitário do Complexo de Ensino Superior de Cachoeirinha (Cesuca); no dia seguinte, foi ministrada no campus Porto Alegre da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos, foto).
Nos dois dias, Vera abordou tópicos como as características e benefícios dos vidros de segurança e de controle solar, as principais aplicações do vidro na construção civil conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as inovações tecnológicas do vidro e sua evolução ao longo do tempo, e as contribuições do vidro para a sustentabilidade. O objetivo foi contribuir para que os estudantes possam aprofundar conhecimentos e se atualizar sobre as melhores práticas do setor.
A coordenadora técnica da Abravidro também apresentou aos alunos o Educavidro, explicando que, além de a plataforma de ensino a distância lançada pela Abravidro e Abividro ter muitas informações importantes para o trabalho deles, o certificado emitido para os cursos concluídos conta como horas complementares da graduação.
Foto: Reprodução/divulgação Sincomavi
Em São Paulo
O Sincomavi transmitiu dois webinários no mês de março. O primeiro (foto), no dia 12, com o tema A essência da liderança, foi ministrado por Ana Penarotti. Pedagoga, consultora e palestrante, Ana apresentou estratégias para o sucesso pessoal, tais como ferramentas de autoconhecimento, formas de avaliação das competências das lideranças, criação de um plano de desenvolvimento individual e o destaque para a importância das conexões humanas. No dia 13, o segundo webinário versou sobre Como enfrentar a escassez de mão de obra qualificada no MatCon. O palestrante, Marcello Miranda, abordou tópicos como o panorama do mercado de trabalho do setor, passou dicas de uso de programas de treinamentos dos colaboradores e listou políticas de incentivo como meritocracia e crescimento profissional.
Mais uma processadora brasileira se interessou por expandir seus negócios e demonstrar a segurança de seus produtos: a ABC Temper, de São Bernardo do Campo, município da Região Metropolitana de São Paulo, conquistou a certificação Inmetro para vidros temperados das espessuras de 6, 8 e 10 mm. O processo se deu por meio do Instituto Beltrame da Qualidade, Pesquisa e Certificação (Ibelq).
O Vidroplano conversou com Rafael Mateus, sócio-diretor da empresa, para entender a importância da chancela para os negócios. A seguir, ele comenta o assunto em detalhes.
Funcionários da ABC Temper: acima, equipe de administração da empresa; no topo da reportagem, a equipe do setor de produção
Motivos para a certificação
“Com a certificação, acreditamos na geração de maior confiança na marca e nos nossos produtos, além da possibilidade de atender novos mercados. Mais credibilidade à ABC Temper perante os nossos clientes e consumidores é algo muito relevante no mercado, principalmente pelo compromisso de manter os processos industriais de acordo com as normas técnicas vigentes.”
Como foi o processo
“Devido à empresa já ter os processos muito bem-definidos, realizar as mudanças indicadas para a certificação foi muito rápido, durou cerca de 120 dias – com início em outubro do ano passado e término em janeiro deste ano. Por isso mesmo, não tivemos dificuldades para as adequações, pois já estávamos adequados para atender as normas. Após a fabricação das amostras, os ensaios ficaram agendados para quinze dias depois, sendo realizados no Instituto Falcão Bauer.”
Aprendizado
“O principal fator foi nossa equipe ter entendido a importância da rastreabilidade dos produtos. Somos gratos a todos os colaboradores, pois sempre foram prestativos, demonstrando interesse em aprender. Quero citar também a Abravidro, que, com o consultor Edweiss Silva, foi fundamental em toda a implementação. O alto conhecimento do Ed e a facilidade para se comunicar com todos da equipe possibilitaram o fácil acesso e aprendizado no decorrer do processo.
Investimento x retorno
“Nesse curto período recebemos inúmeros elogios de nossos clientes, o que, por si só, já é um fator muito importante. O investimento inicial é alto, porém necessário: acreditamos fortemente que ele se pague em um curto período de tempo.”
Conheça a ABC Temper
Fundada em 2010, a empresa atua como processadora de vidro há quinze anos. No início de suas atividades, prestava serviços de mão de obra de têmpera, atendendo vidraceiros. Atualmente, tem como clientes distribuidoras de vidro, vidraçarias e serralherias, tendo se consolidado ao longo do tempo como uma referência em vidros temperados na região do ABC paulista.
Não é de hoje que, em conversas entre profissionais vidreiros, revela-se a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada e interessada para nossas empresas. E esse cenário é muito mais abrangente do que aparenta: a indústria nacional como um todo, além de outros setores, como o de varejo e o de serviços, também sofre com a questão. Mas por quê?
Achar uma resposta pode ser uma tarefa complexa, já que o assunto envolve diversos tópicos distintos – da mudança de percepção da geração Z, formada por nascidos a partir da segunda metade dos anos 1990, sobre como encarar o trabalho à queda da atratividade do regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), passando ainda pelo crescimento da noção de empreendedorismo individual, entre outros aspectos.
Números do mercado
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), 58,7% das empresas do País relatam dificuldades para conseguir novos funcionários ou reter trabalhadores antigos – e, entre as que enfrentam tal adversidade, quase 80% apontam a contratação como o maior desafio quando se fala em gestão de mão de obra. O estudo, realizado em outubro, consultou 3.707 companhias de variados setores (indústria, comércio, serviços e construção civil).
Para o economista Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens empresariais do FGV Ibre, é justamente a construção civil a cadeia mais afetada pela questão: a oferta de mão de obra não cresce na mesma proporção que a demanda, especialmente após projetos do governo federal para o fomento da atividade, como a expansão do programa Minha Casa, Minha Vida. Mais de 20% das empresas desse segmento estão atrasando entregas e 18% chegam ao ponto de rejeitar novos contratos – para comparação, a média percentual de todos os setores juntos é de 8,4%.
“O crescimento potencial do Brasil poderia ser maior se tivéssemos mão de obra qualificada que conseguisse atender toda essa demanda. Enquanto não temos, isso reforça nossos problemas estruturais”, comenta Tobler em uma reportagem do jornal O Globo, publicada em novembro, após a divulgação do estudo. “Apesar do aumento da escolaridade, muitas vezes essa qualificação não é direcionada para as demandas do mercado, o que compromete os ganhos de produtividade.”
No ano passado, a falta ou o alto custo de trabalhadores qualificados foram a preocupação que mais cresceu entre os industriais no terceiro trimestre, segundo a pesquisa Sondagem Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em relação à medição anterior, o crescimento foi de quase cinco pontos percentuais, passando de 18,6% para 23%, fazendo o problema pular do 6º para o 3º lugar na lista de preocupações. “Isso tem a ver com questões ligadas ao mercado de trabalho aquecido e ao próprio aumento da produção. É uma questão que preocupa, pois pressiona custos das empresas. Consequentemente, pode prejudicar a avaliação da situação financeira e a recuperação da indústria a médio prazo”, aponta o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo.
O mais curioso é a situação ocorrer em meio ao menor nível de desemprego do País desde 2012 (6,2%).
Como indicou reportagem da Veja publicada em fevereiro, o número de pessoas ocupadas cresceu 9% entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024;
No mesmo período, o contingente de desocupados caiu 43%;
E o número de pessoas em idade para trabalhar subiu 4,6%;
Isso tudo indica um grande contingente de pessoas disponíveis para trabalho. No entanto, somente 63% dessas pessoas estavam inseridas no mercado no fim do ano passado.
Parte disso pode ser explicada por transformações naturais ocorridas nos negócios ao longo dos anos, incluindo o surgimento de diferentes formas de consumo e o avanço da tecnologia. O setor varejista, por conta do aumento significativo do comércio online, viu diminuir a demanda por vendedores em lojas físicas e aumentar a procura por profissionais voltados para as áreas de tecnologia e logística. Mas questões geracionais e mudanças na forma de encarar o trabalho também contribuem para a questão.
Um novo tipo de trabalhador
Conceitos como trabalho remoto ou híbrido e flexibilidade de horários se tornaram parte da vida de diversos trabalhadores por conta da pandemia. E isso fez com que tais atributos passassem a ser mais valorizados por quem procura emprego.
Estudo do economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), revela que 37,9% dos desligamentos em janeiro de 2025 foram a pedido do trabalhador – a taxa vem subindo desde 2020.
“Entram na conta qualidade de vida e tempo de deslocamento. E ainda, como ficou muito mais fácil abrir empresa, há crescimento de microempreendedores individuais (MEIs). Empregos que exigem presença física, como indústria e construção civil, perdem. Tem a questão do e-commerce e da digitalização. Com a taxa de desemprego baixa, com esses níveis de demissão em patamares elevados, as empresas terão de se adequar às novas relações de trabalho, repensar bastante como manter esses funcionários”, comenta Imaizumi em matéria de O Globo.
Nessa mesma reportagem, o professor do Departamento de Sociologia e do Núcleo de Estudos de Trabalho e Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tiago Magaldi, afirma que uma das grandes mudanças no mercado de trabalho é a derrocada da CLT: “Não em sua perspectiva objetiva, de proteção ao trabalhador, mas na expectativa de inclusão, de futuro. Ele ganha mais em troca de aceitar não ter vínculo trabalhista, fazem uma leitura pragmática da situação”.
Isso pode ajudar a explicar a alta taxa de rotatividade: mais de um terço dos trabalhadores com carteira assinada mudaram de emprego nos últimos 12 meses, segundo o estudo da LCA. Em fevereiro, por volta de 40% dos profissionais com até 29 anos haviam trocado de ocupação ao longo do último ano. O conceito da “uberização” do trabalho, no qual a pessoa pode ser a “chefe” de si mesma, trabalhando para plataformas como Uber e iFood, também entra nessa conta complexa.
Um levantamento produzido pelo Instituto Ideia mostra que 30% dos jovens sonham ter o próprio negócio. Ter carteira assinada, portanto, é algo considerado “ultrapassado” para as gerações mais novas. E isso tudo acaba se provando na prática. “Vemos cada vez mais pessoas procurando por um emprego, mas poucas realmente dispostas a trabalhar, especialmente quando a função exige esforço, dedicação ou envolvimento mais intenso. Existe uma percepção de que qualquer trabalho que demande mais energia já não vale a pena, o que cria um desalinhamento entre as oportunidades oferecidas e a disposição real de parte dos candidatos”, relata a diretora de Suprimentos da processadora Cyberglass, Gláucia Guerrero. “Além disso, a alta rotatividade e a mudança no perfil dos profissionais, que agora valorizam mais propósito e flexibilidade, tornam a retenção um desafio. Tudo isso reforça a necessidade de processos seletivos cada vez mais estratégicos e assertivos”, comenta o CEO da empresa, José Domingos Seixas.
Os principais motivos para pedidos de demissão em janeiro de 2025
Novas vagas em vista
Salários baixos
Saúde mental
Problemas éticos nas empresas
Falta de flexibilidade na carga horária
Fonte: LCA 4intelligence, com base em dados do Caged
Fonte: Professor Dado Schneider, especialista em colaboração intergeracional, em entrevista à Pequenas Empresas, Grandes Negócios (foto: lithiumphoto/stock.adobe.com)
O que fazer sendo empresário?
Seis em cada dez empregadores pelo mundo já demitiram profissionais da Geração Z recém-formados. As motivações para as demissões incluem falta de motivação ou iniciativa (50%), habilidade de comunicação precária (39%) e falta de profissionalismo (46%). Os dados são da plataforma internacional de educação Intelligent.com.
Mas a demissão de quem representa parte do presente e o futuro da mão de obra não pode ser normalizada. A pesquisa do FGV Ibre citada anteriormente revela ações tomadas pelos empresários para reverter a escassez de mão de obra: 44% investem na capacitação interna, desenvolvendo meios para qualificar o funcionário uma vez que ele está dentro da organização – considerando apenas a indústria, mais da metade das empresas vem adotando essa prática. Aumentar benefícios é a escolha de 32% dos entrevistados.
No setor vidreiro, a PKO é um exemplo da aposta em treinamentos. “O que a gente tenta é mostrar com clareza a empresa na qual a pessoa está entrando. Então, cada vez mais temos nos aprofundado em recursos humanos, para que mudemos um pouco esse cenário e as pessoas queiram vir trabalhar conosco”, explica Myrian Ang, diretora-executiva da companhia.
Pensando nisso, a processadora criou o programa Universidade PKO, que possui trilhas de conhecimento para desenvolver habilidades dos funcionários – em áreas como as de liderança, atendimento e excelência técnica, entre outras. “A gente acredita nesse projeto como um dos pilares para a retenção. Mas não basta só qualificar: é preciso ter um programa claro de cargos e salários, estimular o autodesenvolvimento para que as pessoas olhem para a carreira que querem seguir dentro da empresa”, comenta Myrian. “São diversas ações que fazem com que quem está aqui permaneça – aliadas ainda a uma cultura colaborativa, que busca criar um ambiente bom, de troca.”
Mas a qualificação ajuda a resolver apenas um ponto do assunto. Como agir diante da diferença de valores e visões de mercado entre diferentes gerações? “É essencial reconhecer as habilidades e experiências únicas que cada grupo traz para a mesa”, orienta a especialista em gestão de pessoas Manu Pelleteiro em depoimento para a CNN Brasil. Para quebrar barreiras e contornar estereótipos, ela sugere “mentorias reversas”, com jovens ensinando habilidades tecnológicas enquanto os mais velhos compartilham vivências práticas. “O estigma de que as pessoas mais velhas são inflexíveis pode dificultar a comunicação e a colaboração intergeracional. No entanto, é importante não generalizar, pois muitos profissionais mais velhos também podem ser adaptáveis e abertos a novas ideias, além de a experiência ser um fator que pode colaborar muito ao enfrentar novos desafios”, explica.
E além do papel do contratante, as pessoas contratadas também precisam tentar se adaptar às realidades do mercado de trabalho. “A nova geração muitas vezes não foi preparada para lidar com responsabilidade e resiliência. Sem uma mudança de cultura dentro das famílias, incentivando disciplina, dedicação e compromisso desde cedo, vai ser muito difícil mudar esse cenário só com ações das empresas”, afirma o diretor de Operações da Cyberglass, Rodrigo Guerrero.
Relações mais saudáveis
Em relação aos jovens da geração Z, especialistas em recursos humanos indicam ações que gestores de pessoas podem tomar para estreitar os laços na empresa (afinal, relações profissionais devem ser vias de mão dupla):
Evitar conflitos: não incentive um clima de “nós” (quem já está na empresa) contra “eles” (os novatos). É possível ensinar aprendendo. Novas gerações podem ter ideias disruptivas sobre o futuro de um negócio, por exemplo;
Estar aberto para novas possibilidades: jovens valorizam ambientes com os quais têm a oportunidade de contribuir de forma menos fria e mais pessoal;
Olhar para si mesmo: se a empresa tem muitos problemas com funcionários jovens, um movimento interessante, ao invés de somente culpá-los, é analisar a cultura de trabalho da fábrica. Talvez as cobranças e oportunidades oferecidas não sejam as ideias para se criar um ambiente saudável – e ajustes precisarão ser feitos.
Foto: goodluz/stock.adobe.com
Assistencialismo social x falta de mão de obra: qual a relação?
Com a ampliação do programa Bolsa Família durante a pandemia, surge a dúvida em parte dos setores econômicos se o assistencialismo social não contribuiria para a falta de mão de obra – pois os contemplados poderiam ter receio de perder o benefício no caso de conseguirem empregos, evitando se candidatar a vagas disponíveis.
Na verdade, dados mostram uma situação inversa. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), no ano passado, 75,5% das vagas no mercado de trabalho foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família.
Já existe, inclusive, um dispositivo para evitar essa situação: o governo federal criou em 2023 a Regra de Proteção, garantindo que parte do benefício continue sendo recebida por um período de até dois anos após a conquista de um emprego. Com isso, a pessoa terá maior segurança enquanto se estabilizar financeiramente.
Estudo de Gabriel Mariante, pesquisador de doutorado na London School of Economics (LSE), mostra que mulheres beneficiárias do Bolsa Família têm uma probabilidade 7,4% maior de se inserir no mercado formal de trabalho do que mulheres não beneficiárias.
O setor automotivo brasileiro teve um 2024 de crescimento – e promete se desenvolver ainda mais no futuro próximo. Por isso mesmo, é importante o segmento vidreiro estar atento às evoluções desse mercado. Nesta reportagem, O Vidroplano comenta um pouco a respeito do trabalho com vidro para automóveis, mostra como funcionam as parcerias com montadoras e destaca o que o futuro espera para nosso material em veículos.
Desempenho do mercado
Conforme balanço divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o primeiro trimestre deste ano indica uma boa recuperação do desempenho do setor automotivo nacional na comparação com o início de 2024: foram produzidas 583 mil unidades, 8,3% a mais que no mesmo período do ano passado – é o melhor resultado desde 2021.
No entanto, março foi ruim – o pior desde 2022. A produção caiu 12,6% em relação a fevereiro, principalmente nas fábricas de automóveis e comerciais leves. Até tivemos uma boa notícia, com a alta de 11,3% nas vendas (em relação a fevereiro), mas 61% desse aumento vieram dos modelos importados não fabricados aqui.
Por outro lado, as exportações cresceram bastante: 40,6% no trimestre na comparação com o mesmo período de 2024. Foi o melhor primeiro trimestre desde 2018 para o indicador.
O mercado nacional
A AGC e a Cebrace (por meio da Saint-Gobain Sekurit) são as usinas que fabricam vidros automotivos no Brasil. A demanda para nosso produto se divide em dois braços distintos: o fornecimento para as montadoras de automóveis (peças instaladas em veículos durante a produção deles) e o mercado de reposição.
Dentro dessas divisões, existem diversos nichos a serem alimentados. As duas processadoras gaúchas consultadas para esta reportagem (Grupo Tecnovidro, de Farroupilha; e Vidroforte, de Caxias de Sul) atendem alguns deles. Para o segmento de encarroçadores de ônibus, por exemplo, são produzidos itens dos mais diversos, incluindo para-brisas, tetos solares, janelas laterais, portas, vidros da cabine do motorista, espelhos e divisórias. Máquinas agrícolas e equipamentos pesados (tratores, escavadeiras) também representam um mercado importante, assim como o de vans escolares.
Ônibus com vidros do Grupo Tecnovidro: nesse tipo de veículo, ocorre redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos (foto: Divulgação Tecnovidro)
Investindo no mercado
No ano passado, a AGC anunciou a expansão da capacidade produtiva de sua divisão de vidros automotivos, localizada no complexo industrial da usina em Guaratinguetá (SP). A decisão vai ao encontro das expectativas de crescimento do mercado automotivo nacional para os próximos anos e foca na atualização tecnológica do processo produtivo, de forma a atender e acompanhar a evolução desse segmento – incluindo o uso de heads-up display (HUDs) nos vidros: esse tipo de projeção de informação sobre a superfície dos para-brisas promete tornar-se padrão da indústria mundial num futuro próximo (saiba mais no quadro no final da reportagem).
O presidente da AGC no Brasil, Isidoro Lopes, comentou no fim do ano passado, em episódio do VidroCast, o podcast da Abravidro, que a operação da linha renovada deverá começar em julho deste ano – uma segunda linha está nos planos, a depender de outras tecnologias a serem aplicadas nos vidros pelo setor automotivo nacional. “Estamos muito felizes com esse mercado no Brasil ao longo dos últimos dois, três anos”, afirmou.
O projeto conta com investimento de parceiros do mercado financeiro e contemplará requisitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG), gerando cerca de 150 novas contratações diretas e 600 indiretas na região até 2030.
Automotivo x construção: as diferenças entre os vidros
O vidro plano destinado à construção é a base do vidro automotivo. Sérgio Massera, diretor-comercial e de Gestão de Novos Programas da AGC, indica que os processos pelos quais nosso material passa incluem a adição de esmalte cerâmico e a curvatura das peças, sejam temperadas ou laminadas, antes da adição dos componentes específicos para a montagem veicular. “Além disso, o nível de exigências quanto às características ópticas é maior no mercado automotivo”, aponta Jesuino D’Avila, diretor-geral da Sekurit América do Sul.
Mais vidro: aumento na área envidraçada em automóveis, incluindo maior presença de modelos com teto solar, é uma das principais tendências modernas no uso de nosso material em veículos (foto: UnPinky/stock.adobe.com)
Evolução do trabalho
Há mais de duas décadas fornecendo vidros para automóveis, tanto o Grupo Tecnovidro como a Vidroforte notaram mudanças ao longo dos anos na forma de atuar com nosso material nesse mercado. “Temos percebido uma evolução significativa no design dos produtos. Os vidros deixaram de ser meramente funcionais para se tornar elementos estéticos fundamentais, com geometrias cada vez mais arrojadas e complexas. Essa tendência exige processos produtivos mais tecnológicos e precisos por parte dos fabricantes”, comenta Fabrício Flach, gerente-comercial do Grupo Tecnovidro.
“Em todos os segmentos, e especialmente na linha de ônibus, vemos a redução da espessura dos vidros para diminuir o peso dos veículos. Marquinhas ou pequenos riscos no vidro, que antes eram tolerados, hoje não são mais aceitos”, conta José Maurício Toledo, CEO da Vidroforte. “A área envidraçada dos ônibus está cada vez maior, com mais detalhes, peças recortadas e curvaturas diferenciadas. Antigamente, o vidro era apenas um fechamento. Hoje, complementa o visual dos ônibus.”
De acordo com Toledo, a padronização das peças se dá em volumes pequenos. “Por exemplo, frotistas que compram cinquenta, cem, duzentos ônibus podem seguir um padrão. Mas outros clientes personalizam seus modelos. É difícil ter produção seriada com grandes volumes de um mesmo tipo de carro”, relata. “Quando uma encarroçadora lança um novo modelo, os clientes o personalizam, especialmente os vidros laterais. O para-brisa até costuma manter o padrão, mas os demais mudam bastante. O desafio da fábrica é operacionalizar isso com agilidade.”
Janela produzida pela Vidroforte: personalização dos projetos é uma constante no setor automotivo, dada a variedade de modelos de automóveis existentes (foto: Divulgação Vidroforte)
O contato com as empresas automotivas
Como se dá a relação com fabricantes de veículos? Quem define especificações? Cada modelo de automóvel ganha um vidro diferente? “As especificações dos vidros são estabelecidas em parceria com nossos clientes. Eles apresentam o escopo inicial do projeto, e nosso time técnico colabora para a adequação e validação das soluções, sempre considerando requisitos normativos de segurança e de performance”, explica Fabrício Flach, do Grupo Tecnovidro. “Mantemos relações profissionais de alto nível com nossos clientes, reguladas por contratos de fornecimento que estabelecem com clareza todas as diretrizes técnicas, comerciais e de qualidade. Esses acordos garantem a excelência no atendimento e a continuidade das parcerias.”
No mercado de reposição, os itens já vêm especificados – e a variedade é enorme, explica Toledo, da Vidroforte. “Algumas empresas utilizam vidros mais finos, curvos e recortados; outras usam peças de 5 a 6 mm, curvos ou planos. No ramo agrícola, cada cliente tem sua particularidade: chapas de 5, 6 ou 8 mm, com dupla curvatura e recortes complexos.” A processadora conta ainda com uma linha de janelas com tecnologia própria (incluindo sistema de vedação, de correr e de trava, assim como o design dos vidros).
Cada uma dessas parcerias mencionadas segue um modelo diferente. “Há empresas que recebem kits completos por ônibus, prontos para a linha de montagem. Outras trabalham com estoque ou sob demanda. Na linha agrícola, os pedidos costumam ter previsibilidade de três a seis meses, facilitando o planejamento. Já nas encarroçadoras, os pedidos podem ser para sete dias, com o veículo já vendido e em produção. Nesses casos, desenvolvemos o produto, fabricamos e entregamos diretamente para a linha de montagem dentro do prazo exigido”, afirma Toledo.
Algumas tendências modernas
Vidros se tornaram importantes elementos estéticos nos projetos, passando a compor o conceito e o design do veículo. Um exemplo são as linhas de ônibus com forte uso de formas curvilíneas;
Com a maior entrada de ônibus urbanos elétricos na malha rodoviária, exigem-se vidros cada vez mais finos, com tecnologia de controle solar, para otimizar o uso das baterias e diminuir a potência do ar-condicionado. Com isso, reduz-se a temperatura interna e melhora-se a autonomia do veículo;
Vidros de controle solar podem substituir a instalação de películas para conforto térmico;
Na linha de janelas de vans, há uma crescente exigência por menor ruído, vedação eficiente e, novamente, menor espessura.
Foto: Gorodenkoff/stock.adobe.com
Tecnologias de última geração
Não é só na construção civil que nosso seor precisa explorar o conceito de valor agregado – afinal, o vidro também pode oferecer diversos benefícios aos automóveis. Passar essa mensagem ao usuário é fundamental para fazer com que sua relação com nosso material seja mais próxima. “A tendência para os automóveis dos próximos anos indica que o vidro estará cada vez mais presente, contribuindo com o conforto acústico e térmico, bem como agregando novas funções que estão em desenvolvimento”, opina D’Avila, da Sekurit.
Conforto acústico
Laminados com PVBs acústicos, desenvolvidos especialmente para controlar o nível de ruído no interior do veículo, podem filtrar altas e baixas frequências de som, reduzindo o barulho em até 10 dB – como é o caso do dBControl, produto da Saint-Gobain Sekurit.
Conforto térmico
Por que investir em conforto térmico apenas nas edificações, sendo que as pessoas passam horas dentro de seus carros, especialmente em dias de trânsito parado? Em períodos de clima cada vez mais extremo, vidros de controle solar ajudarão a diminuir a transmissão direta de energia solar para dentro do carro, mesmo quando estacionado ao Sol. “O conforto térmico é muito explorado em regiões com mercado automotivo mais maduro, como América do Norte, Europa e Ásia, especialmente China e Japão”, afirma Sérgio Massera, da AGC. “Embora as montadoras estejam analisando as possibilidades e soluções alternativas, essas ainda não estão em um nível econômico viável para o mercado regional atual. Acredito ser somente uma questão de tempo para que a legislação local venha a requerer tal tecnologia aplicada nacionalmente.”
Proteção contra raios UV
Os vidros de controle solar também oferecem proteção contra os efeitos dos raios ultravioleta, que são extremamente prejudiciais à saúde humana (causando de queimaduras a aumento do risco de câncer de pele) e aos materiais usados na construção dos automóveis (desbotando estofamentos e painéis).
HUDs e realidade aumentada
A exibição de informações na superfície do vidro deverá ser a próxima grande revolução no uso de nosso material na indústria automotiva, quando se tornar reproduzível em larga escala. A experiência de condução ficará mais interativa e informativa: essas tecnologias utilizam combinação de sensores, câmaras e projeções para exibir dados nos para-brisas, em tempo real, sobre o veículo e o ambiente ao redor. Assim, motoristas poderão consultar tais informações sem precisar olhar para mostradores no painel ou aplicativos de rotas em celulares. Em tese, a condução deve se tornar mais segura. “Em um passado recente, as montadoras chinesas começaram a introduzir uma tecnologia de vidros panorâmicos e para-brisas com HUD, influenciando a tendência do mercado regional”, aponta Sérgio Massera. “A tecnologia ADAS (Advanced Driver Assistance System, ou Sistema Avançado de Assistência ao Motorista) já se encontrava em evolução na região, requerendo cada vez mais precisão na distorção óptica da área de medição dos sensores de presença alocados no para-brisa.”
Interação com a luminosidade
Os vidros termocrômicos, que contam com películas especiais, alteram sua cor devido à mudança de luminosidade. Quanto mais intensa e direta a incidência da luz (ou seja, quanto mais ensolarado o dia), mais escura ela se torna – ajudando a reduzir, por exemplo, o ofuscamento, fator importante quando se está dirigindo.
Entre os gastos de qualquer processadora, está a atualização dos seus recursos: a compra de novos maquinários, seja para aumentar a produtividade ou evitar problemas que a máquina antiga vem apresentando, pode representar um custo significativo. Em muitos casos, é possível poupar tempo – e dinheiro – reaproveitando seus equipamentos por meio de upgrades ou reformas. O Vidroplano mostra, nesta reportagem, em que momento essa solução pode virar uma possibilidade, os benefícios que ela traz e onde pode ser encontrada.
Como é feito
Segundo Moreno Magon, diretor de Vendas e Marketing da Latamglass, e Eloi Bottura, diretor-industrial e de Serviços da empresa, qualquer maquinário pode ser reformado e/ou atualizado, desde que seja de ótima qualidade, com estrutura metálica robusta e um projeto modular que possa receber esses upgrades.
Braz do Carmo Andrioli Júnior, engenheiro mecânico da Sglass, explica que o processo de reforma é personalizado de acordo com as necessidades e disponibilidade de cada cliente. Dessa forma, as etapas podem variar conforme o grau da intervenção pretendida, mas geralmente seguem o seguinte fluxo:
Entendimento das necessidades do cliente e do que ele espera ao final do serviço prestado;
Análise in loco do estado geral do equipamento e identificação das partes a serem substituídas ou atualizadas;
Alinhamento com o cliente sobre as possibilidades de reforma, upgrade e trabalho a ser desenvolvido;
Geração de um orçamento detalhado do serviço a ser realizado;
Projeto e fabricação das peças e conjuntos necessários para a reforma;
Execução da reforma com os testes finais;
Entrega técnica do equipamento reformado.
Softwares e sistemas operacionais são os elementos de um maquinário que mais demandam upgrades (foto: KamranAydinov – Freepik.com)
Estendendo a vida útil
A Lisec projeta seus produtos de forma que os sistemas possam ser usados por muitos anos. Luiz Garcia, diretor da Lisec Sudamerica, explica: “Há máquinas Lisec de vinte anos ou mais que, mecanicamente, estão em excelentes condições”, afirma. No entanto, tanto nelas como naquelas fabricadas por outras empresas, alguns componentes podem se tornar obsoletos durante esse período – os sistemas operacionais e softwares, em particular, têm um ciclo de vida significativamente mais curto do que a parte física, podendo causar grandes inconvenientes na produção – e até mesmo a parada do equipamento.
Nesse sentido, Andrioli Júnior, da Sglass, aponta que as reformas e upgrades permitem minimizar a ocorrência de falhas na máquina e otimizar a gestão dos recursos econômicos, garantindo a máxima confiabilidade do equipamento. “Além disso, podem ajudar a aumentar a satisfação e a lealdade dos nossos clientes.”
Vale destacar também que, atualmente, o Brasil passa por um momento no qual o câmbio do dólar está alto (chegou a passar dos R$ 6 reais no início do mês), o que dificulta a compra de novos maquinários. “Com esse cenário de alta do câmbio e aumento dos custos de aquisição de novas máquinas, optar por upgrades nos equipamentos existentes pode ser uma solução viável e estratégica para aprimorar a produtividade e resolver problemas”, observa Eloi Bottura, da Latamglass. Ele lista alguns benefícios desses serviços:
Custo-benefício: permitem que a empresa utilize o orçamento de maneira mais eficiente em tempos de alta do dólar;
Aumento de eficiência: melhorias na tecnologia e na automação podem aumentar a eficiência dos equipamentos existentes, resultando em maior produtividade sem necessidade de aquisição de novos maquinários;
Tempo de inatividade reduzido: geralmente exigem menos tempo de inatividade em comparação com a instalação de novos equipamentos, permitindo que a operação continue funcionando enquanto as melhorias são implementadas;
Personalização: quando uma processadora já tem equipamentos que foram adaptados especificamente para suas necessidades, realizar upgrades pode permitir a preservação dessas customizações, ao mesmo tempo que moderniza o desempenho;
Sustentabilidade: melhorar as máquinas existentes contribui para reduzir o desperdício associado ao descarte de equipamentos antigos.
Para receber atualizações, maquinário deve contar com estrutura metálica robusta e projeto modular que aceite upgrades (foto: Sodel Vladyslav/stock.adobe.com)
Quando fazer?
Nem sempre o upgrade ou reforma do maquinário são a melhor solução. “Esse trabalho demanda uma análise de tempo, disponibilidade de datas dos técnicos, produção e envio de peças para troca e a necessidade de parar a máquina – ou seja, parar a produção”, observa Sandro Eduardo Henriques, diretor da Sglass. Por isso, a empresa sempre conversa com seus clientes para definir em conjunto o caminho a ser tomado.
Apesar disso, recomenda-se sempre avaliar essa possibilidade antes de decidir pela compra de uma máquina nova. Eloi Bottura e Moreno Magon, da Latamglass, indicam alguns pontos que devem ser considerados:
Se a máquina apresentar sinais de desgaste, mas ainda funciona adequadamente, uma reforma pode prolongar sua vida útil a um custo menor do que a compra de uma nova;
Se a demanda por produtos aumentou, vale a pena avaliar se um upgrade pode ser uma solução mais econômica para aumentar a capacidade produtiva;
Se a equipe da empresa já estiver treinada para operar a máquina atual, o custo e o tempo necessários para treiná-la em novos equipamentos podem justificar um upgrade em vez de uma nova compra;
Se o espaço de produção for limitado ou se a infraestrutura precisa ser adaptada para uma nova máquina, considerar um upgrade pode ser uma solução mais prática;
Se uma análise financeira mostrar que o retorno sobre investimento (ROI) de um upgrade ou reforma é superior ao da compra de um novo equipamento, essa pode ser a melhor opção;
Embora o upgrade envolva a parada do maquinário, caso ele possa ser feito com interrupções mínimas na produção, a solução pode ser preferível em relação à compra de um equipamento novo, que pode exigir um tempo de inatividade maior.
Iniciativas no mercado
A Lisec conta com o projeto Longlife, apresentado e oferecido a seus clientes durante o pós-vendas. “No Longlife, trocamos o computador das máquinas para uma versão moderna, com o software já atualizado e com todos os dados já transferidos para ele”, explica Luiz Garcia. O diretor da Lisec Sudamerica acrescenta que, caso a reforma necessária inclua também a parte mecânica, a empresa orienta o agendamento de uma visita de seus técnicos especialistas, que fazem uma avaliação do maquinário e, na sequência, definem uma lista de peças a serem trocadas – as quais podem ser adquiridas diretamente com a Lisec.
A Latamglass oferece o LTG Upgrade, um conjunto de soluções para melhorar, modernizar, capacitar e aumentar a eficiência e a eficácia dos fornos de têmpera. “O projeto da Latamglass é todo modular, o que proporciona atualizações fáceis e rápidas quando o cliente enxerga essas oportunidades. Cada upgrade atende uma necessidade específica – por exemplo, capacitar o forno para trabalhar com uma espessura de vidro diferente ou com um vidro novo que acaba de ser introduzido no mercado, produzindo novos produtos que até então não seria possível com o equipamento original”, explica Eloi Bottura. Entre os upgrades fornecidos pela empresa, estão sistemas de convecção, inversores de frequência para os ventiladores, termocâmara para registro térmico de todas as peças produzidas e a ferramenta Glaston i-Look, para monitorar aspectos da qualidade dos vidros temperados, como ondulação e elevação de borda.
A Sglass também realiza serviços de manutenção e upgrade para suas máquinas, os quais incluem fornos de têmpera e de laminação com EVA e a Alpha Jet, máquina para recorte e furação com jato d’água. Algumas das soluções oferecidas são a troca de controlador lógico programável (CLP) e de painel elétrico, atualização de software, instalação de módulos adicionais, pré-aquecimento e pós-resfriamento e câmera térmica.
A empresa japonesa Hario, com mais de sessenta anos de tradição, é especialista em produzir itens envidraçados usando vidro fundido – especialmente utensílios domésticos de cozinha, como coadores, canecas, moedores de café e jarras para chá. Graças à habilidade de seus profissionais no manuseio de nosso material, um desafio se abriu à companhia no início dos anos 2000: fabricar instrumentos musicais.
No mês passado, essa tradição acabou recompensada, pois a Hario foi reconhecida pelo Guinness World Records (o livro dos recordes) por ter confeccionado o primeiro violino de vidro totalmente funcional do mundo. Duas unidades do produto foram fabricadas originalmente em 2003, usando técnica de sopro – o que representou um feito e tanto, já que tal técnica é aplicada a objetos de formas simples. O nível de precisão e trabalho para alcançar esse objetivo, portanto, foi enorme. E isso se traduziu no preço pelo qual um dos violinos foi vendido em um leilão: 5,5 milhões de ienes, o equivalente a cerca de R$ 230 mil.
Lembro que, no início dos anos 2000, a palavra “globalização” era a expressão da moda, utilizada para explicar as mudanças nas relações econômicas mundiais e seus efeitos.
Pois atualmente estamos experimentando os resultados da mais pura aplicação dessa palavra. Em razão das barreiras comerciais impostas inicialmente pelos Estados Unidos e, posteriormente, acompanhadas por outros países, observamos atentos aos eventuais efeitos causados ao mercado brasileiro: oportunidades e ameaças.
Muitas oportunidades estão surgindo, por exemplo, para o setor do agro, com a possibilidade de aumento de exportação de produtos para as nações em disputa comercial. Isso se torna muito positivo para nosso país, principalmente se as colheitas anuais obtiverem bom desempenho. Vamos torcer para que isso aconteça.
Da mesma maneira, muitas ameaças surgem para setores como o do vidro plano. Sabemos que os países asiáticos, entre outros, possuem enorme capacidade de produção de vidro float e vidros beneficiados, contando ainda com um custo interno minimizado, além de eventuais subsídios de fabricação à exportação. Se países consumidores de produtos dessa procedência “fecharem as portas” à importação, o Brasil se tornará um destino foco desses fabricantes devido às suas dimensões continentais e grande população.
As condições acima, somadas ao baixo consumo que estamos enfrentando nesse momento e às medidas de defesa comercial focadas apenas em nossa matéria-prima (antidumping e aumento na tarifa de importação do float), podem formar o pior cenário para o mercado vidreiro, e em especial para os vidros processados: concorrência desleal dos importados, excedente de produtos e ociosidade em nossas empresas.
Mais uma vez, torna-se indispensável o olhar para dentro do negócio, identificando custos dispensáveis, aumento de produtividade e cautela. Ninguém consegue atender o mercado sozinho. Então, somente baixar preços não vai trazer negócios para dentro de sua empresa, pois os concorrentes sempre reagem.
Aqui na Abravidro estamos monitorando diariamente os indicadores do segmento e debatendo eventuais medidas de proteção ao mercado brasileiro com nossos pares associativos. Se a entrada excessiva de vidro float já era ruim, a importação de vidros processados é catastrófica.
Há cerca de um ano, o setor vidreiro nacional foi impactado pelas imagens da unidade fabril da processadora Lajeadense, na cidade de Lajeado, totalmente destruída, tomada pelas águas das enchentes históricas que ocorreram no Rio Grande do Sul em abril e maio do ano passado. Apesar das dificuldades, a empresa apostou na resiliência e conseguiu se reerguer – hoje, a obra para sua nova sede, em outra região da cidade, está a todo vapor, com previsão para as primeiras máquinas operarem até o meio do ano.
Rotina de perdas
Na tragédia do ano passado, o Rio Taquari, que passa pela cidade de Lajeado, subiu dos seus habituais 13 m para impressionantes 32 m – em dois dias, choveu a quantidade prevista para seis meses na região. Em imagens aéreas, era possível ver apenas o telhado da Lajeadense cercado pela água revolta e enlameada que descia desgovernada o Vale do Taquari.
Mas essa enchente não foi a primeira enfrentada pela empresa de mais de 65 anos de história. “Eu me lembro desde a minha infância de ter enchente. Era algo comum na nossa cidade, na nossa região”, conta Roberta Lopes Arenhart, sócia-administrativa e filha de Renato Arenhart, dirigente do negócio. No entanto, tais fenômenos se tornaram mais violentos nos últimos anos. Em 2020, após chuvas torrenciais, cerca de 20 cm de água entraram na empresa, estragando móveis e cabos de máquinas – mas isso não foi nada perto do que viria a acontecer a partir de 2023.
Da destruição ao recomeço: sede da empresa praticamente submersa no ano passado e nova fábrica que em breve começará a operar
Em setembro daquele ano, o Taquari subiu 29 m. Com isso, o 1º andar inteiro da empresa foi destruído. “Como a gente tinha uma noção de onde a água podia chegar, na noite anterior nós fomos com o pessoal para a empresa para levantar algumas coisas, botar equipamentos em cima das mesas – o que sempre fazíamos quando chovia bastante. Lembro que até mandei mensagem no grupo dos colaboradores dizendo para todos irem com uma roupa mais simples no dia seguinte para ajudar na limpeza, caso sujasse algo”, recorda Roberta. “Só que aí, quando voltamos de manhã, não tinha mais nada.” Naqueles dias, seu pai, Renato, estava na Itália visitando a Vitrum, tradicional feira de nosso setor. O irmão de Roberta, Regis, e um primo, Tomás, tentaram salvar mais coisas, mas a enchente subiu tão rapidamente que tiveram de abortar a missão e se refugiar no 2º andar da empresa – lugar no qual ficaram por dois dias, até a água baixar.
Dois meses depois, em novembro, ainda se recuperando do baque, a Lajeadense teve de encarar outra cheia. “Essa não foi tão ruim na questão do volume de água, mas a gente estava há pouco tempo trabalhando na recuperação de maquinário, com equipamentos operando de novo, as coisas fluindo. E estragou tudo de novo. Tudo que a gente tinha investido financeiramente para recuperar foi pro lixo”, comenta a sócia-administrativa.
Família Arenhart: Regis, Renato e Roberta, responsáveis por comandar o negócio da processadora
Negócio destruído
Estima-se que o prejuízo da enchente de 2024 gire em torno dos R$ 70 milhões. “É até difícil de precisar um número, porque foram tantas enchentes, e ainda tem a questão de não só o que a gente perdeu, mas o que deixou de faturar nesses meses”, explica Roberta. Só de matéria-prima, foram mais de 200 t de vidro inutilizadas. E o impacto poderia ser ainda maior: após a enchente de novembro, a empresa alugou um espaço na cidade vizinha Estrela, instalando ali parte da produção e o PCP – em Lajeado, ficaram três máquinas e todo o administrativo-comercial.
“A gente fez a manutenção dos maquinários estragados nas enchentes anteriores e eles voltaram a operar. O que foi bem-danificado foi o vidro temperado, pois ficamos sem o forno. Mas fomos até outras empresas ali da região da Serra para temperar. Esses parceiros nos ajudaram muito, abriram as portas para nós”, recorda Roberta.
Em outubro do ano passado, primeira viga da nova fábrica foi erguida, representando o renascimento da empresa após as enchentes
Reconstrução
Em outubro, começou a reconstrução da empresa, agora não mais junto ao Taquari. “Hoje nós estamos com mais da metade do piso colocada na nova sede. Nos próximos dois meses, a gente vai estar com máquina ali. Depois, ainda tem a finalização do refeitório, a parte administrativa, comercial, escritórios. Mas a partir de junho ou julho já estaremos com a operação funcionando”, afirma Roberta. Para levantar os investimentos necessários, a Lajeadense recorreu a bancos parceiros de longa data. “Tivemos de fazer vários financiamentos para comprar o terreno, investir no prédio. Não temos uma conta fechada de tudo, e ainda vamos precisar de mais recursos para finalizar, mas está dando certo.”
A fábrica em construção será uma evolução da antiga: de 7 mil, passará a ter 12 mil m² em linha – o que significa maior otimização e eficiência, tanto no layout como nos processos, sem cantos mortos. Segundo a diretoria da processadora, o projeto foi pensado para o bem-estar do colaborador, com telhas térmicas para suportar o verão quente do Rio Grande do Sul, espaço para crianças e até quadra de esportes. “É um sentimento curioso, pois, se a gente não tivesse passado pelo que passou, não teria a oportunidade de recomeçar a empresa. Provavelmente, teríamos continuado ali sempre no mesmo lugar, fazendo puxadinhos para ampliar. E, agora, temos a chance de fazer uma empresa do zero, planejada para mais sessenta anos.
Conheça a Lajeadense
Fundada em 1958, como vidraçaria
Em 2002, passa a atuar como processadora
Conta com 100 funcionários atualmente
Nova sede terá 12 mil m² de área
Produção tem foco em vidros para projetos especiais – um dos carros-chefes são os insulados, comercializados com a marca Duoglass
Foto: Pedro Amorim
“Foi a equipe que fez a gente não desistir da Lajeadense”
Roberta Lopes Arenhart comenta a importância de criar uma rede de apoio aos colaboradores afetados na vida pessoal pela tragédia de 2024
Em que momento vocês tiveram a dimensão da gravidade do que estava acontecendo no ano passado? Roberta Lopes Arenhart – Foi um dia muito louco, parecia fim de mundo. Era o centro da cidade trancado, cada um correndo para um lado. A gente ficou em um lugar mais alto, em que conseguia acompanhar como estava a empresa. No meio da tarde, um amigo nosso de Lajeado, que tem jet ski, nos deu ajuda e levou meu irmão para pegar alguns documentos que ele achava importantes, do comercial, do administrativo. Fizeram duas viagens de jet ski e foi o que deu, por conta da correnteza. A gente salvou o que deu até certo momento; chega uma hora que não tem como botar nossa vida em risco.
O que chamou a atenção do setor foi a resiliência de vocês. Passado o momento mais crítico, a gente viu o engajamento de vocês para a recuperação do espaço físico, a ajuda aos colaboradores afetados. Como isso se deu? RLA – Tudo na vida é experiência, né? Como a gente tinha sofrido com enchentes antes, isso fez com que tivesse mais força para lidar com a situação, mesmo com uma proporção muito maior. Quando baixou a água, vimos que a situação era catastrófica. E o que mais estava nos assustando era em relação aos colaboradores. A gente não tinha mais contato com todo mundo, pois ficamos sem sinal de celular em Lajeado.
Como a tragédia tomou essa proporção de nível nacional, empresas vidreiras de todo o Brasil começaram a nos chamar pelo Instagram e WhatsApp para ajudar de alguma forma. A gente falava para mandar mantimentos, roupas, cobertores, mas todo mundo queria enviar dinheiro. Então, pensamos em focar nos colaboradores que perderam a casa, perderam tudo. Por isso, abri um PIX, fizemos vídeo divulgando nas redes sociais e conseguimos arrecadar um valor muito legal, que foi dividido entre os funcionários. E como foi inacreditável a quantidade de valor doado, dividimos também entre os pais, sogros e irmãos de cada funcionário. No total, a gente conseguiu ajudar 35 famílias afetadas.
Você comentou sobre rede social, e a Lajeadense realmente tem um trabalho muito forte de comunicação pela Internet. Qual é a importância de ter esse contato mais próximo com o mercado? RLA – Nós iniciamos esse trabalho mais forte a partir de 2021. Depois das enchentes, ganhamos bastantes seguidores e visibilidade nas redes sociais. E é muito legal ver o respaldo dos clientes e dos fornecedores acompanhando o que fazemos. A gente sabe que o nosso cliente final não está ali todo dia no Instagram, mas eu entendo muito essa questão de plantar para colher no futuro. Lá na frente, nosso cliente vai ser quem está hoje acompanhando as redes sociais. Por isso eu incentivo muito a questão da mão de obra, divulgar os projetos, o produto final.
Vocês estão otimistas com o ano de 2025 para o mercado vidreiro? RLA – Eu tenho um pouco de dúvidas. Até agora não foi um ano tão positivo assim, mas acho que tem bastante coisa para acontecer, e talvez a gente consiga sair com algo positivo.
E como você imagina o futuro da Lajeadense, após a reconstrução pela qual estão passando? RLA – Desde que eu entrei na empresa, sempre me imaginava indo para o mesmo local de trabalho, com as mesmas pessoas, tendo uma rotina padrão. E depois de tudo que aconteceu, a gente vê que a vida nos dá vários sustos, mas no final as coisas dão certo. Tenho certeza que a Lajeadense ainda tem muito a prosperar, principalmente com a equipe que a gente tem – pois é isso que faz a diferença no nosso dia a dia. Foi a equipe que não fez a gente desistir da Lajeadense. Olhar todo mundo ali engajado, querendo fazer acontecer, é isso que faz a diferença na nossa vida. Tenho certeza que vai dar certo.
Qual seria o seu conselho para empresas que estão passando por dificuldades? RLA – Acho que o segredo foi ser uma empresa familiar com todo mundo um ao lado do outro. Às vezes era bem difícil, porque todo mundo ficava mal junto. Mas eu acho que isso faz a diferença, especialmente com uma equipe muito diferenciada como a nossa. A gente tem uma cultura muito forte, pois, além da nossa família lá dentro, nós temos uma relação de família com todo mundo. Então, talvez o segredo para conseguir passar por qualquer dificuldade seja ter uma equipe engajada que acredita no teu negócio e em quem tu confias.
No dia 15 de março, faleceu Tarcísio Pestana da Silva, fundador da Pestana Vidros, processadora associada à Abravidro localizada em Belo Horizonte. Tarcísio, pai de Alexandre Pestana, presidente da Abravidro de 2011 a 2017, fundou a Vidraçaria Pestana, que se tornaria processadora, na década de 1960.
A Abravidro e o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) assinaram um acordo de cooperação técnica. O objetivo é promover o intercâmbio de informações entre a indústria vidreira e profissionais de arquitetura e urbanismo. A parceria foi firmada no dia 27 de fevereiro, durante a 14ª Reunião Plenária Ordinária do CAU/SP, em São Paulo, com a presença da superintendente da Abravidro, Iara Bentes, e da presidente do CAU/SP, Camila Moreno de Camargo. A iniciativa deve contribuir para a qualificação e capacitação dos profissionais e empresas de arquitetura e urbanismo do Estado de São Paulo, por meio da montagem de uma programação de treinamentos sobre a especificação de forma consciente de nosso material, seguindo as normas técnicas. Há ainda a meta de elaborar e divulgar uma agenda comum de eventos e atividades.
Também assinaram acordos com o CAU/SP a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), a Associação Brasileira da Construção Metálica (Abcem) e a Associação Brasileira da Construção Leve e Sustentável (ABCLS). A duração das parcerias é de 24 meses, de março deste ano até 2027. Na reunião, Iara manifestou a satisfação da Abravidro pela oportunidade de promover a aproximação entre o vidro e os profissionais da arquitetura. “Os arquitetos têm papel fundamental na disseminação das diferentes soluções que o vidro apresenta e em sua correta aplicação. O acordo vai ao encontro da missão que temos na Abravidro de incentivar a conformidade técnica na aplicação do material”, destacou a superintendente da Abravidro, frisando ainda que a entidade vidreira dispõe de bastante conteúdo técnico e informativo sobre nosso material para essa iniciativa.
A Circula Vidro, entidade responsável por gerir a logística reversa de embalagens de vidro no Brasil, informou ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) que a indústria nacional de produtos comercializados em embalagens de vidro bateu a meta de 25% de reciclagem em 2024. Das 877 mil t de vidros consumidos, 221 mil retornaram para a indústria.
MONITORAMENTO MENSAL DO DESEMPENHO DA INDÚSTRIA DE PROCESSAMENTO DE VIDROS BRASILEIRA Desempenho – Fevereiro 2025
A percepção sobre o desempenho da indústria nacional de processamento de vidros foi de queda moderada nas vendas faturadas em m² em fevereiro de 2025 em relação a janeiro.
O indicador de desempenho da indústria de processamento de vidros registrou baixa de 9,5% no volume de vendas faturadas de vidros processados no mês, na comparação com janeiro, considerando ajustes sazonais.
Metodologia
A coleta de dados foi realizada nos primeiros dias úteis deste mês, por meio de formulário online. O estudo pode ser respondido por processadoras de todo o Brasil (87 participaram desta edição).