Arquivo da categoria: Opinião

Alexandre Pestana e Sérgio Goldbaum analisam Panorama 2025

Se os números de 2024 em geral não foram bons, ao menos foram melhores do que em 2023: ano passado, tivemos redução de 5,6% no faturamento e de 0,5% na quantidade vendida; já no ano anterior, a baixa foi de 9,7% e de 3%, respectivamente. É possível dizer que estamos estancando a queda dos últimos períodos?
Alexandre Pestana – Acho que essa é a conclusão. Vamos lembrar que essa base comparativa inclui a pandemia, quando tivemos uma intensidade muito grande de reformas, com a construção civil numa dinâmica acelerada. Com a base comparativa de 2019, ano anterior ao período pandêmico, o setor está trabalhando com uma taxa um pouco superior em volume, principalmente no temperado e laminado. A preocupação é que, de 2019 a agora, a gente adicionou muita capacidade. Várias empresas fizeram investimentos, acrescentando disponibilidade de vidro, e isso não acompanhou o volume total vendido, não é? Então, um problema do setor é essa sobreoferta expressiva.

Sérgio Goldbaum – É importante comparar isso, para qualificar essa sensação de frustração relativa, com a evolução dos demais setores que consomem vidro plano processado, porque quase todos apresentaram um resultado bastante razoável em 2024 – não de crescimento expressivo, mas de boa recuperação. Então, segmentos como o automotivo e o de construção civil tiveram performance razoavelmente boa – e nossa expectativa era de que acompanhássemos isso.

AP – Tem um produto muito típico de obras novas que é o laminado. E esse teve um crescimento expressivo. O dado de 2024 é superior, inclusive, ao do período da pandemia. O temperado segue como o maior produto da nossa cadeia produtiva não automotiva, apesar de com um desempenho pior do que o laminado. Esse é um ponto de preocupação, mas acho que o laminado exemplifica essa questão comentada: o crescimento do PIB da construção civil foi na faixa de 4% e esse produto reflete isso. O laminado é um produto típico de envoltória. E o aumento no seu uso mostra uma maior sofisticação das especificações de vidro no Brasil, com vidros de maior valor agregado substituindo vidros de baixo desempenho.

 

“O laminado é um produto típico de envoltória. E o aumento no seu uso mostra uma maior sofisticação das especificações de vidro no Brasil.” Alexandre Pestana
“O laminado é um produto típico de envoltória. E o aumento no seu uso mostra uma maior sofisticação das especificações de vidro no Brasil.”
Alexandre Pestana

 

Já que citaram o laminado, não podemos deixar de comentar as importações. Em 2024, tivemos 27 mil t importadas desse material entrando no Brasil, um crescimento de 35% em relação a 2023. Como analisar o impacto das importações de vidros processados?
AP – Há uma única certeza em relação ao comércio internacional atualmente: nenhuma. A dúvida impera. A gente vê uma reconfiguração do comércio internacional. Todas as regras e parâmetros que, nas últimas décadas, nortearam os negócios, foram quebradas. E há uma preocupação real no nosso setor, pois o Brasil sempre foi importador de matérias-primas, sejam float ou impresso. O crescimento desse indicador para processados é algo novo. Ano passado nós fechamos com 27 mil t de importação do laminado – em 2025, com quatro meses fechados, estamos com quase 15 mil t. Então, se a gente projetar esse volume para o ano todo, serão 45 mil t, quase o dobro do que tivemos no ano passado, que já foi recorde histórico. Isso é um sintoma dessa reconfiguração global, em que os produtores asiáticos estão canalizando seus excedentes por conta do novo protecionismo que se estabelece mundo afora.

SG – Vejo pelo menos três movimentos dessa nova realidade. Um deles é a destruição do comércio entre China e Estados Unidos. Talvez até seja retomado, mas o estrago está feito. O segundo é a deflexão de comércio: os produtos que chineses vendiam para os americanos serão defletidos para outros destinos. Então, se estamos preocupados com a balança comercial de 2024 para os laminados, receio dizer: aguardemos a de 2025… Se o governo não tomar medidas de acerto, pode vir uma enxurrada de produtos chineses em vários setores. E, por fim, tem ainda o desvio do comércio. Ou seja, os Estados Unidos vão desviar as importações da China para outras origens, incluindo o Brasil. Acho que a indústria de vidro deve estar muito preocupada com a evolução do comércio mundial.

AP – Sim, a indústria inteira de transformação no Brasil está preocupada. Mais da metade do vidro produzido no mundo é da China. Mesmo que os Estados Unidos voltem atrás, a reconfiguração é inevitável. E o Brasil, certamente, está na lista prioritária – disso eu não tenho dúvidas.

 

“Houve um aumento importante da participação das empresas no Panorama 2025, o que a gente recebe com imensa alegria.” Sérgio Goldbaum
“Houve um aumento importante da participação das empresas no Panorama 2025, o que a gente recebe com imensa alegria.”
Sérgio Goldbaum

 

 

Outro vidro de destaque no Panorama foi o insulado, que teve um acréscimo em volume de 49,3%. Em valores absolutos, ainda é pouco, pois atingiu pela 1ª vez a marca de 1% do total. Mas se a gente considerar que é um material com potencial imenso, essa é uma ótima notícia em meio a preocupações. Concordam?
SG – Os insulados vêm crescendo há alguns anos. Em relação à expectativa da construção civil para este ano, o Sinduscon-SP [Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo] aponta que o indicador continua positivo. Então, eu entendo que esses vidros vão continuar tendo demanda. É possível ter um otimismo moderado para 2025.

AP – Talvez essa tenha sido a melhor notícia que o Panorama trouxe. Para falar a verdade, é uma frustração da nossa cadeia produtiva o ainda baixo desempenho dos insulados. Existe consumo expressivo dessa solução não só em mercados maduros em consumo de vidro, como na Europa, mas aqui também na América do Sul, como no Chile, Argentina. É uma solução que, tecnicamente, reúne o que há de melhor que a gente tem a oferecer para o usuário, para um sistema de envidraçamento. Acho que estamos iniciando uma nova era do insulado no Brasil, em especial na construção.

Uma questão sobre a qual não podemos deixar de conversar aqui é a ociosidade. Na pesquisa qualitativa do Panorama, 25% das empresas declaram ter ociosidade superior a 40%, enquanto 40% das processadoras afirmam estar entre 20% e 40%. Como podemos analisar esse dado?
AP – A indústria do Brasil, por tradição, tem uma capacidade muito maior do que a demanda efetiva. Existem dois pontos que, passa ano, muda década, são questões de atenção dentro da Abravidro. Um é esse excesso de capacidade de toda a cadeia produtiva do vidro, que começa na usina de base e vai até a indústria de transformação. Claro que isso gera efeitos perversos, um nível de competitividade insano que nós temos aqui. Porém, ao mesmo tempo também coloca as empresas para entregar excelência, pois nada melhor para desenvolver uma empresa do que uma concorrência acirrada. Então, hoje, temos um padrão de serviço mais elevado dentro da cadeia, o que leva a gente a desenvolver outras coisas – e claro que com um custo: a baixa rentabilidade, que se associa sempre a um ambiente com sobreoferta. A Europa, com 400 milhões de habitantes, tem um consumo per capita de vidro mais do que o dobro do que o Brasil, só que com menos indústrias do que o Brasil. Isso reflete muito bem nossa ociosidade.

Se hoje o setor consegue debater números e entender os movimentos do setor, é porque estamos criando uma cultura de dados no mercado, com processadores participando das nossas coletas de informações para os estudos. No mês em que a Abravidro completa 35 anos, podemos considerar essa como uma das grandes conquistas da entidade?
AP – Não há dúvidas. Qualquer segmento que não tenha o mínimo de clareza sobre o que ele representa tende a ser pior do que outros com esse entendimento. Eu não consigo sentar para fazer um planejamento sem ter em mãos os dados que a Abravidro produz. Acho que envolve uma maturidade do empresariado.

Este texto foi originalmente publicado na edição 629 (maio de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: reprodução

Audrey Dias, da Aluparts, participa do VidroCast

O VidroCast recebeu a arquiteta Audrey Dias, diretora e sócia-proprietária da Aluparts, empresa especializada na recuperação e manutenção de sistemas de esquadrias – ela também é professora de pós-graduação de Patologia das Construções (Esquadrias e Vidros) e tem MBA em gestão de negócios. Na conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Audrey falou sobre sua formação e experiência profissional, importância da manutenção preventiva de fachadas e qualificação de mão de obra. Leia a seguir alguns destaques do bate-papo – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.

Você tem o trabalho com esquadrias e vidros no seu DNA: seu pai, o engenheiro Nelson Firmino, foi uma grande referência para esse segmento e dá nome, inclusive, a um prêmio organizado pela Afeal. Quando foi que você percebeu que queria seguir na mesma área?
Audrey Dias – Basicamente, eu nasci na indústria de esquadrias, não tive muita oportunidade de escolha: lembro que, quando fiz quinze anos, no dia seguinte meu pai avisou que a próxima segunda-feira seria meu primeiro dia de trabalho na empresa. Foi assim que começou minha jornada. Eu estudava de manhã, ia à tarde para o escritório, e ele foi meu grande mentor, passou a vida inteira falando sobre esquadrias e vidros. Lembro-me de que ele abria os desenhos dos projetos e mostrava neles o que era um perfil, uma roldana, como a gente representa a esquadria na fachada.

Quando me dei conta, eu estava buscando uma faculdade de arquitetura, o que deu muito certo. O engraçado é que meu pai teve oito filhos, e só eu fui para a parte técnica na área de esquadrias para poder de fato aprender com ele, dando continuidade às atividades da Aluparts.

Quais foram os principais desafios e as principais vitórias em sua jornada no mundo das esquadrias?
AD – Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor o cara que mais entendia sobre esquadrias, um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil – uma verdadeira “enciclopédia” ao meu lado. Isso me abriu muitas portas, trouxe muita bagagem e conhecimento, sendo muito positivo para minha carreira, o que eu sigo até hoje com muito amor por essa área. O desafio, pelo menos para mim, foi que eu comecei a trabalhar muito cedo numa empresa familiar, e com isso eu não tive a oportunidade de trabalhar para outras empresas ou ter um patrão de fato, um chefe que não fosse meu pai. As relações pessoais e familiares sempre estiveram envolvidas no meu dia a dia.

 

“Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil.” Audrey Dias
“Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil.”
Audrey Dias

 

Como você acha que sua formação influenciou na sua trajetória profissional e carreira?
AD – Eu sempre fui muito estudiosa, sempre me cobrei muito para estudar. Lembro que, quando comecei a faculdade de arquitetura, o curso não abordava nada sobre esquadrias – inclusive, esse é um ponto que precisa ser olhado com mais atenção, porque tanto no curso de engenharia como no de arquitetura, não se fala sobre caixilhos, esquadrias, vidros, nada disso.

Na época, tentei uma iniciação científica, falei para o reitor que eu queria fazer um trabalho sobre as esquadrias de alumínio na arquitetura. Fiquei um tempo aguardando o resultado e, quando saiu, apareceu como “tema irrelevante”. Isso me gerou revolta: como esse tema seria irrelevante se não existe edificação sem caixilho, sem esquadria? As esquadrias são os “olhos” de qualquer edificação. A partir disso, decidi que iria realmente estudar o tema e, ao me formar, busquei um MBA nessa parte de gestão de negócios, para incorporar isso aos negócios da família. E deu certo.

Depois, voltei minha carreira para essa parte dos cuidados com as fachadas, porque existem excelentes empresas que pensam em como conceber fachadas, mas quem cuida delas? E eu venho desde então estudando, nessa parte da engenharia diagnóstica, as “doenças” das edificações, para poder levar esse conhecimento e a importância dele para o mercado.

E como funciona esse trabalho de manutenção ou recuperação das fachadas? Em que momento do ciclo de vida de uma fachada vocês costumam ser chamados?
AD – O grande problema é que as fachadas já estão nascendo doentes. Então a manutenção pode ocorrer tanto em um prédio em operação, cuja fachada tem quarenta ou cinquenta anos, como também em um prédio recém-inaugurado, com uma estrutura de seis meses de vida. A gente iniciou recentemente um trabalho em um edifício enorme em Brasília, um prédio recente, e estamos atuando de forma corretiva em problemas de origem endógena, ou seja, que são relacionados à fase de construção, fabricação e instalação.

 

“A falta de mão de obra qualificada está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros.” Audrey Dias
“A falta de mão de obra qualificada está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros.”
Audrey Dias

 

Dos casos em que vocês têm atuado ao longo da trajetória da Aluparts, quais são os erros mais comuns cometidos tanto na hora de projetar como na de instalar uma fachada?
AD – Quando a gente fala de manifestação patológica, o que mais chama atenção basicamente são os erros relacionados à estanqueidade: execução incorreta de vedações, ausência de vedação, especificação errada de componentes de vedação como escovas e gaxetas… O simples fato de você utilizar uma escova com dimensão diferente da necessária pode causar a reprovação da sua esquadria em um teste de desempenho, por exemplo; imagine, então, isso em operação numa fachada. Um fator importante é a questão da infiltração, porque ela incomoda: se está chovendo, a água entra pela sala molhando a marcenaria, molhando o tapete.

Mas hoje a gente tem encontrado também muitos problemas de subdimensionamento de perfis, falhas estruturais, subdimensionamento de componentes. Recentemente, algumas janelas de um grande edifício em São Paulo saíram voando e, quando a gente foi ver, os braços de articulação delas não tinham o tamanho e a resistência necessários, não eram os braços que tinham sido especificados para o projeto.

A Abravidro tem o Educavidro e o De Olho no Boxe. A Afeal tem a Academia Afeal, na qual você é instrutora. Isso tudo envolve esforço para levar informação para a mão de obra – e isso tem também um papel de formação. Como você enxerga esta questão: tem sido fácil ou difícil encontrar mão de obra qualificada para prestação de serviços?
AD – Acho que hoje esse está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros. A construção civil está sofrendo com a falta de mão de obra qualificada, justamente por falta de preparo. Precisamos realmente que as empresas capacitem seus funcionários, tanto os fabricantes de vidros como os de perfis, e que também os grandes players do nosso mercado colaborem com a formação desses profissionais, não tentem buscar gente pronta no mercado. As empresas têm de focar na qualificação, montar uma escolinha no chão de fábrica.

Este texto foi originalmente publicado na edição 628 (abril de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

VidroCast entrevista Glória Cardoso, da Blindex

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, ao longo de março, o VidroCast recebeu e conversou com mulheres que fazem a diferença no nosso mercado. A primeira delas foi Glória Cardoso, gerente-geral da Divisão de Vidros para Arquitetura do Grupo NSG, detentor da marca Blindex. A conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, abordou diversos assuntos, incluindo a trajetória na empresa, a busca por equidade de gênero no segmento vidreiro e como surgiu o Fórum Transparência com Elas. Leia alguns destaques a seguir – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.

Você entrou como estagiária na Pilkington e desenvolveu sua carreira na empresa. Quais foram os grandes desafios e vitórias nessa jornada?
Glória Cardoso – Eu sempre falo que o grande desafio é a gente se manter diariamente motivado, querendo entregar o melhor trabalho possível independentemente do nível de carreira em que a gente se encontra. As coisas, quando são consistentes e sólidas, não acontecem com grandes saltos. Comecei na Pilkington, na Blindex, há catorze anos, como estagiária de Marketing e, até chegar à função em que estou hoje, passei pelos cargos de assistente de Marketing, analista de Marketing, coordenadora, gerente de Vendas, gerente de Marketing e, finalmente, gerente-geral. Então, se entregarmos sempre o melhor resultado que temos para entregar no dia a dia, é possível construir algo realmente sustentável.

O marketing é uma área com muitas mulheres, mas quando a gente olha para o mercado do vidro, ainda é um setor muito masculino. Você entende que o segmento tem caminhado em que ritmo em relação à equidade de gênero?
GC – Eu entendo que está todo mundo preocupado com isso, muito pelas questões de ESG, pelas certificações e pela imagem corporativa que se quer transmitir – mas, para trazer isso como um benefício para o ambiente de trabalho, e para que a equidade realmente aconteça, é muito nossa responsabilidade também. Antes de trabalhar a equidade de fora para dentro, eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá. Nós temos de nos colocar primeiro como equânimes do ponto de vista de competência, de possibilidades, anseios de carreira. Então, acho importante trabalhar isso em nós mesmas primeiro, para depois estimular as outras pessoas a fazer igual.

 

“Eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, tenha que se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá.” Glória Cardoso
“Eu acredito muito que a gente tenha de trabalhar a equidade de dentro para fora, tenha que se ver como uma profissional à altura de todos os outros que estão lá.”
Glória Cardoso

 

Você é a primeira gerente-geral da Blindex nos mais de setenta anos de história da marca. Passado algum tempo após assumir essa posição, qual o balanço do que você viveu até agora na nova função?
GC – Meu balanço é muito positivo. Em 2023, quando eu assumi, a Blindex estava passando por um momento de reconfiguração do modelo de negócio da marca. O sistema de franquia se consolidou de 2003 a 2023, mas qual era o próximo passo, como fazer esse sistema continuar sendo relevante? Foi aí que a gente percebeu que unir duas têmperas, para ganhar eficiência logística, velocidade na produção e uma padronização no atendimento, faria muito mais diferença do que montar uma fábrica em São Paulo. Então, abrimos a primeira joint-venture entre dois temperadores com a Visatta, em São Paulo, olhando para os desafios do mercado, especialmente nesse Estado que é o grande polo econômico do Brasil, para o que exatamente as vidraçarias e o consumidor final precisam.

Essa é a principal característica da nossa marca: não “sentamos em cima” do sucesso da Blindex, não nos acomodamos e continuamos trabalhando do mesmo jeito de sempre. O meu papel hoje é trabalhar para o fortalecimento, a perenidade e a sustentabilidade da marca.

A Blindex tem realizado o Fórum Transparência com Elas. O evento chegou à sua 4ª edição no ano passado, reunindo mulheres para debater a presença feminina no empreendedorismo. Como surgiu essa ideia e qual o balanço que você faz das edições passadas?
GC – A ideia surgiu muito pequena: eu ainda estava no departamento de marketing e começamos a perceber que, dentro do nosso sistema Blindex de franquias, com os temperadores que levam a nossa marca para o mercado nacional, as lideranças femininas estavam aparecendo de forma muito proeminente. Hoje, a gente já tem grandes têmperas que são lideradas por mulheres. Além das têmperas, a gente tem também as vidraçarias, que são a linha de frente do mercado. E deu pra perceber que muitas vidraçarias também eram lideradas por mulheres. Só que, muitas vezes, dentro do nosso próprio setor, as pessoas nem sabem que as mulheres têm essa representatividade toda. E aí começamos a pensar em como mostrar essas histórias.

 

“Se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele ‘levar gato por lebre’.” Glória Cardoso
“Se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele ‘levar gato por lebre’.”
Glória Cardoso

 

O Transparências com Elas surgiu no momento em que eu estava voltando da licença-maternidade e essa questão feminina estava à flor da pele. Como nesse momento a gente fica com incertezas, comecei a refletir muito sobre isso, sobre por que eu estava tão insegura. E as outras mulheres, que estão voltando de licença também? E quais são os outros desafios que deixam as mulheres inseguras? Então, a gente começou a coletar as histórias de profissionais, sendo proprietária da empresa ou uma funcionária, e vimos que aquilo teve uma repercussão muito grande: as mulheres começaram a trocar experiências entre si e a se apoiarem muito mais. Quando se conhece a história da outra pessoa, existem alguns pontos de similaridade com a nossa história que acabam nos confortando. Os desafios são semelhantes e as coisas que nos assustam também.

Vimos que isso ajudou muitas pessoas: começamos a receber feedbacks muito positivos, de mulheres falando que o fórum mudou seu ano e as perspectivas do que elas podem fazer dentro das suas carreiras e possibilidades. Em 2024 houve muitos eventos e o fórum não coube na agenda, mas em 2025 será retomado com certeza.

A Blindex é uma marca forte, com mais de setenta anos de mercado, e se transformou em sinônimo de vidro temperado para o consumidor final – ao invés de falar que um vidro é temperado, ele diz que é um “Blindex”. Qual a responsabilidade de gerar uma marca que carrega esse simbolismo?
GC – É muito grande. É claro que é um orgulho, não é qualquer marca que consegue consolidar esse reconhecimento, mas é uma responsabilidade no sentido de que a gente precisa educar o consumidor a identificar o que é um vidro temperado da marca Blindex, para conscientizar as pessoas e para resguardar a marca. Quando as pessoas chamam um produto pelo nosso nome, se acontece algum problema, o nosso nome também acaba vinculado a esse problema: no nosso SAC, recebemos frequentemente reclamações de quebra de vidro e, quando perguntamos se o vidro está com a gravação na superfície, a pessoa responde que não tem marca nenhuma, mas diz que o vidraceiro garantiu que era Blindex – então, se a gente não ensinar o consumidor a identificar um produto original Blindex, é muito fácil ele “levar gato por lebre”.

Este texto foi originalmente publicado na edição 627 (março de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

Edison Claro de Moraes participa do VidroCast

A temporada 2025 do VidroCast começou: na retomada das atividades do podcast da Abravidro, Iara Bentes, superintendente da entidade e editora de O Vidroplano, conversou com Edison Claro de Moraes, diretor da Atenua Som e idealizador do VidroSom, evento que há anos discute o potencial de conforto acústico de janelas e portas.

Além de falar sobre o vidro e a esquadria como soluções para o conforto acústico, Moraes comentou a experiência da sucessão familiar na Atenua Som com sua filha Nicole Fischer, diretora operacional da empresa e vice-presidente de Economia e Estatística da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), e ainda a chegada ao Brasil do evento Inter-Noise, um dos principais desse segmento no mundo. Leia a seguir alguns destaques da conversa – a íntegra do podcast pode ser conferida no canal da Abravidro no YouTube e nas plataformas Spotify, Deezer e SoundCloud.

O insulado é um vidro que atende muito bem tanto o conforto acústico como o térmico, mas é pouquíssimo utilizado no Brasil. Qual a importância de os arquitetos e engenheiros conhecerem mais sobre essa solução e se preocuparem mais com ela ao tratar com o cliente?
Edison Claro de Moraes – O consumo nacional de insulado é uma vergonha para nosso segmento, e nós estamos perdendo um tempo enorme em relação a outros mercados. O Brasil vai ferver, a temperatura está aumentando em todo o País, o aumento do ar-condicionado já é uma realidade, e o uso do insulado na construção civil nesse sentido é fundamental. O Fernando Westphal tem um estudo maravilhoso que mostra que, se você colocar insulado nas obras do Minha Casa, Minha Vida numa região quente, por exemplo, a economia com ar-condicionado paga esse investimento em quatro a cinco anos.

Infelizmente, nosso setor foi por um caminho que coloca um tipo de vidro brigando com o outro, quando na realidade eles se complementam: se você usar um laminado dentro do conjunto do insulado, você tem ganhos ainda maiores de desempenho, e não faz nem cosquinha no custo total de uma obra.

Quando falamos de acústica, o vidro insulado é sempre a melhor solução?
EM – Olha, já quase arrumei cada briga… Eu digo que sim, e não tenho medo de errar; pode chamar o pessoal do vidro, os consultores, quem for. As vantagens do insulado são tantas: na comparação, o laminado tem ganho na baixa frequência, mas na alta frequência o insulado acaba tendo uma certa vantagem. Se você pensar que o sistema insulado preenche melhor o perfil do que uma chapa de vidro só, pela sua espessura maior, você tem um ganho na hora em que faz as vedações no próprio perfil – e depois tem ainda a questão térmica e de combinação de vidros, trazendo uma série de vantagens. Então, eu não pensaria duas vezes se tivesse que escolher.

 

“Infelizmente, nosso setor foi por um caminho que coloca um tipo de vidro brigando com o outro, quando na realidade eles se complementam.” Edison Claro de Moraes
“Infelizmente, nosso setor foi por um caminho que coloca um tipo de vidro brigando com o outro, quando na realidade eles se complementam.”
Edison Claro de Moraes

 

Em agosto do ano passado, você estava de malas prontas para participar de um evento no exterior sobre acústica e disse que voltaria com novidades. Que evento foi esse e quais as novidades que você trouxe?
EM – Entre os eventos que participei no ano passado, o mais importante foi em Nantes [na França], o InterNoise. Trata-se do maior evento de acústica arquitetônica do mundo: em 2024, participaram pessoas de 62 países (mais que uma Copa do Mundo), com um total de 1.800 participantes. Nos quatro dias de InterNoise, discutiu-se tudo sobre desempenho – para se ter uma ideia, um dos dias da programação foi só para o vidro –, e foi possível ver tecnologias, pesquisas.

Este ano, o InterNoise será realizado aqui no Brasil, em agosto: depois de 21 anos, conseguimos trazer o evento.

Por favor, fale um pouco sobre a programação desse evento.
EM – Ele vai reunir as maiores expertises sobre acústica. O Brasil forma muitos excelentes profissionais e PhDs nesse tema, mas infelizmente costumamos perdê-los. Em Nantes ano passado, devo ter visto no mínimo uns cinquenta brasileiros que estão trabalhando no exterior, alguns deles com soluções e tecnologias incríveis, e esse povo todo vai vir para cá. Será uma boa oportunidade para trocar informações, aprender e expor sua marca, tanto para o Brasil como para o exterior.

 

“Ter um negócio nesse segmento não é fácil, então a pessoa que tiver o privilégio de ter um sucessor não deve atrapalhá-lo.” Edison Claro de Moraes
“Ter um negócio nesse segmento não é fácil, então a pessoa que tiver o privilégio de ter um sucessor não deve atrapalhá-lo.”
Edison Claro de Moraes

 

Em relação à sucessão familiar, que é um assunto recorrente tanto no setor de vidro como no de esquadria, sua filha Nicole tem uma atuação muito forte no segmento. Foi você o responsável por colocá-la para atuar nesse mercado?
EM – Há alguns anos, ela tinha acabado de voltar de um intercâmbio na Suécia. Sentei com ela e perguntei: “Você está aqui na empresa por mim ou por você?”. Ela respondeu: “50% por mim e 50% por você”. Isso doeu em mim. Depois de uma semana, falei que ela podia ir embora, que estava tudo bem, eu contrataria outra pessoa, mas pedi para dar uma pensada antes, porque eu não queria atrapalhar sua vida. Passou um tempo, e ela ficou.

Acho que hoje estou no negócio por causa dela, e não o contrário – não é minha filha que trabalha para mim; sou eu que trabalho para ela [risos]. E digo mais: ter um negócio nesse segmento não é fácil, então a pessoa que tiver o privilégio de ter um sucessor não deve atrapalhá-lo. É complicado falar dos próprios filhos, mas eu tenho muito orgulho dela, ela trabalha pra caramba, então espero que toque esse negócio e faça a diferença na vida das pessoas.

Você quer deixar algum recado para quem acompanhou nosso papo?
EM – Eu tenho uma paixão grande pelo segmento, e gostaria que ele fosse melhor, que saísse da mesmice. Acho que está faltando um pouco mais de coragem e de amor, de não ficar pensando só em números e cifrões. O vidro é um dos materiais mais nobres da construção civil. Por que a gente vai pendurar qualquer coisa em volta dele?

Este texto foi originalmente publicado na edição 626 (fevereiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: reprodução

Claudio Mansur comenta o atendimento das vidraçarias a arquitetos

A Casa Mansur, antiga Mansur Vidros, destaca-se no mercado por ter se especializado em atender o mercado de alto padrão. Essa mudança, é claro, não veio de uma hora para outra – exigiu planejamento e qualificação: Claudio Mansur, diretor da empresa e membro da segunda geração da família que administra o negócio, explicou no VidroCast, o podcast da Abravidro, as nuances desse segmento e comentou a experiência adquirida trabalhando com seu pai, falecido em 2021. Leia alguns destaques da entrevista.

Conte um pouco da trajetória da Mansur no segmento do vidro.
Claudio Mansur – A Mansur está no mercado há mais de 65 anos. Sempre tivemos foco na construção civil. Participamos das obras de prédios icônicos em São Paulo, como o Banco Safra, na Avenida Paulista, e, há cerca de 22 anos, entramos também no setor do consumidor final.

Esse mercado de B2C [venda direta para o consumidor final] é praticamente outro mundo em comparação ao mercado B2B [empresa para empresa]: mexe muito com a emoção, com você ter um posicionamento, um produto, mas principalmente ter uma forma de lidar completamente diferente que a do B2B. Estamos entrando no lar do consumidor final. Houve uma remodelação muito grande da empresa para isso.

Muita gente, inclusive, pergunta sobre a diferença entre a Casa Mansur e a Mansur Vidros. Na verdade elas são a mesma coisa, com uma roupagem diferente – como nós nos comunicamos com os arquitetos e com os consumidores finais, identificamos que o nome “Casa Mansur” seria mais aceitável, já que estamos falando justamente da casa da pessoa. Sempre levamos um diferencial para o mercado, um algo a mais de que o cliente precisa.

Como funciona o trabalho com esse público?
CM – Nós criamos uma referência em atendimento que nos destacou no mercado de arquitetura, com um showroom bem posicionado na principal avenida de arquitetura em São Paulo, nos Jardins, onde estão as marcas mais importantes voltadas para esse segmento, e com uma forma diferente de atender. Estamos há bastante tempo desenvolvendo uma expertise ligada a esse atendimento tanto do arquiteto como do consumidor final – são duas linhas diferentes.

Eu sou arquiteto de formação, e nossa equipe é formada basicamente por arquitetos e engenheiros. A Casa Mansur se especializou muito em colocar profissionais para atender, de igual para igual, os especificadores que a gente recebe. É difícil falar a mesma linguagem se você não tem uma expertise daquele mercado. Nossa equipe é formada por profissionais altamente competentes, voltados para esse que é um público exigente.

Isso começa na especialização dos gestores. Eu me formei muito depois, quando já estava no mercado, justamente para atender essa necessidade que é iminente. Na área comercial, tive o melhor mestre possível, que foi meu pai. Então, não tinha como eu não ser um bom vendedor, e essa veia me trouxe para outras áreas.

 

“A Casa Mansur se especializou muito em colocar profissionais altamente competentes para atender, de igual para igual, os especificadores.” Claudio Mansur
“A Casa Mansur se especializou muito em colocar profissionais altamente competentes para atender, de igual para igual, os especificadores.”
Claudio Mansur

 

Como arquiteto, o que pode dizer sobre os ganhos do vidro em um projeto?
CM – Temos sempre de mensurar um detalhe: quão importante é aquele projeto, não só para o cliente, mas para a vida dele. Quando especificamos uma obra ou ajudamos o arquiteto nesse trabalho – afinal, teoricamente, a especificação é do arquiteto –, cabe uma responsabilidade de oferecer aquilo que serve para ele; pelo menos essa é minha conduta.

Por exemplo, tem gente que pede um vidro extra clear numa situação em que essa solução não é necessária. Assim, buscamos direcionar a venda para o lado certo, não para vender mais caro ou o que não precisa. Quando você vende o que não precisa, não é uma venda saudável. A gente pode até ganhar mais, mas será que isso é saudável para o cliente e para a sua empresa? Considerando a relação que você pode gerar com esse consumidor ao fornecer o produto adequado a ele, isso não seria mais valioso a longo prazo?

Levamos muito isso em consideração. Vemos muitos pedidos por guarda-corpos com vidros temperados, por exemplo, e explicamos que, por mais que o sistema esteja especificado daquela forma, não podemos fornecer essa solução fora das normas. São esses auxílios que ganham a confiança do mercado e fazem a empresa ir adiante.

Fale um pouco mais sobre o legado que seu pai deixou.
CM – Meu pai é muito conhecido no ramo do vidro, e já comecei herdando o próprio nome dele, Claudio – por isso, muita gente ainda me conhece como “Claudinho” na Mansur. E ele sempre foi uma pessoa muito querida: deixou muitos amigos, muitos aprendizados e um legado do qual meus irmãos e eu nos orgulhamos de levar adiante. Tive a honra de trabalhar lado a lado com meu pai por 23 anos, e me orgulho em dizer que foi a melhor relação que eu poderia ter com qualquer parceiro de trabalho; nunca tive uma discussão com ele.

 

“A liderança saudável não é a imposta, mas, sim, aquela pela qual você convence os seus colaboradores a olhar para o mesmo lugar.” Claudio Mansur
“A liderança saudável não é a imposta, mas, sim, aquela pela qual você convence os seus colaboradores a olhar para o mesmo lugar.”
Claudio Mansur

 

Ele é uma pessoa que sempre escutou muito antes de falar; ele nunca teve de impor uma opinião, e isso é um grande aprendizado para nós: quando você precisa impor a sua condição de chefe, isso significa que sua liderança está falha. A liderança saudável não é a imposta, mas, sim, aquela pela qual você convence os seus colaboradores a olhar para o mesmo lugar.

Esse foi um aprendizado muito importante que tive com ele, entre vários outros. Meu pai foi o melhor amigo, o melhor sócio e o melhor chefe que eu tive em toda a vida.

Há doze anos a Mansur tem a maior empresa de envidraçamento de sacada no Chile, a Vista Libre. Quais diferenças você observa no mercado chileno em relação ao mercado brasileiro?
CM – Eu sempre meço a arquitetura do Chile e a do Brasil: o Chile é um país sísmico, que sofre constantemente com terremotos e que tem uma preocupação muito grande com a parte estrutural, porque os edifícios precisam ter pilares, sustentações, amortecedores para aguentar os tremores – e vejo que eles não abrem mão da estética. Sinto falta disso um pouco no Brasil: nós nos preocupamos muito com a parte da segurança, mas abrimos mão da parte estética; nós não vamos tão além, não somos tão arrojados como poderíamos ser, porque aqui temos condições climáticas muito boas, não temos abalos sísmicos, então poderíamos ousar mais.

Este texto foi originalmente publicado na edição 625 (janeiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Ed Silva explica o processo de certificação do vidro temperado

Estima-se que o mercado brasileiro tenha hoje quase seiscentas processadoras. Mesmo assim, apenas oitenta delas têm seus vidros temperados certificados. Buscando conscientizar o setor sobre a importância de obter a chancela concedida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), o VidroCast recebeu Edweiss Silva – mais conhecido como Ed –, consultor de certificação da Abravidro, para um bate-papo informativo com Iara Bentes, superintendente da associação e editora de O Vidroplano. Leia a seguir alguns pontos abordados na conversa e assista ao episódio na íntegra no canal da Abravidro no YouTube.

Ed, o que é a certificação do vidro temperado?
Ed Silva – É bem simples: é a autorização do Inmetro para que as empresas possam ostentar seu selo de qualidade, o reconhecimento máximo do organismo no Brasil para atestar a qualidade dos produtos.

Esse direito de ostentar a marca do Inmetro é resultado de um processo por parte da empresa que busca essa certificação. Como é esse processo?
ES – Em resumo, a empresa precisa, primeiro, instalar um sistema de gestão da qualidade para que o processo produtivo e administrativo siga alguns requisitos mínimos. Na sequência, o produto fabricado – no caso, o vidro temperado – deve ser testado por laboratórios acreditados pelo Inmetro. Se tanto a gestão da empresa como o resultado dos ensaios do produto forem aprovados, ela recebe a concessão para utilização do selo.

No caso do temperado, quais são as vantagens que a certificação traz para a processadora certificada?
ES – São várias vantagens. Uma delas é poder mostrar para o seu consumidor que aquele vidro foi testado e tem qualidade reconhecida, o que já traz uma visibilidade diferente. Outro ponto importante é que, com esse sistema de gestão da qualidade, a empresa passa a ter melhor controle sobre os seus processos e consegue, com isso, obter melhores resultados no dia a dia. Vale destacar também a segurança jurídica lá na frente: caso aconteça algum problema, a empresa terá mais facilidade para comprovar que atende as normas técnicas.

 

“A empresa que passa pela certificação tem melhor controle sobre os seus processos e consegue melhores resultados no dia a dia” Ed Silva
“A empresa que passa pela certificação tem melhor controle sobre os seus processos e consegue melhores resultados no dia a dia”
Ed Silva

 

E para o consumidor final, que vai comprar um boxe de vidro certificado, por exemplo, qual é a vantagem para ele?
ES – Para o consumidor, a vantagem é a confiabilidade de que está colocando um produto na casa dele para a segurança dos seus familiares, um produto com mais credibilidade que os demais, pelo fato de ter sido testado, aprovado e monitorado. A gente até brinca que certificar é fácil, o difícil é a empresa manter a certificação, porque ela precisa passar periodicamente por auditorias para que o processo e a gestão de qualidade do produto sejam mantidos.

Qual a diferença entre a certificação do vidro temperado e a certificação ISO?
ES – A ISO 9001 é uma certificação de sistema de gestão; é um processo mais abrangente na empresa e acompanha todos os processos principais e secundários. O Inmetro estabeleceu que, para certificar o temperado, a processadora precisa ter um sistema de gestão, mas não precisa atender todos os requisitos da ISO. São apenas onze os critérios da ISO obrigatórios para a certificação do temperado.

Quais etapas uma processadora que ainda não é certificada precisa cumprir para buscar a certificação?
ES – Primeiro, precisa se preparar e instalar um sistema de gestão da qualidade, cujos requisitos partem da ISO 9001. Depois da implementação, ela contrata um organismo – isto é, uma empresa acreditada pelo Inmetro para executar esse trabalho de certificação – e faz, então, o agendamento de auditoria, para que o representante desse organismo vá até a empresa para verificar se todo aquele sistema de gestão foi implementado corretamente.

Depois da aprovação dessa etapa, o próximo passo é acompanhar o processo de têmpera das amostras que serão enviadas para um laboratório – esse também precisa ser acreditado pelo Inmetro. As amostras no laboratório passam, então, por todos os ensaios determinados na norma. Se forem aprovadas, o organismo reúne o relatório do auditor com a recomendação de certificação, e também o relatório do laboratório com os resultados, e emite o certificado.

Para facilitar todo esse processo, a Abravidro tem um programa de consultoria disponível para seus associados por um preço diferenciado. Não é necessário se associar para buscar a certificação, mas o acesso à nossa consultoria é um facilitador: pelo conhecimento que nós temos ao longo de vários anos, sabemos bem o que o auditor quer ver e também como atender cada requisito.

 

“A Abravidro tem um programa de consultoria disponível para seus associados, o que é um facilitador: sabemos bem o que o auditor quer ver e também como atender cada requisito” Ed Silva
“A Abravidro tem um programa de consultoria disponível para seus associados, o que é um facilitador: sabemos bem o que o auditor quer ver e também como atender cada requisito”
Ed Silva

 

Como é feito o acompanhamento das processadoras na consultoria da Abravidro para essa jornada da certificação?
ES – Nosso trabalho começa antes da contratação do organismo acreditado para a certificação. Primeiro, a gente faz um diagnóstico da empresa e verifica que pontos no processo produtivo já atendem os requisitos do Inmetro; em seguida, montamos um plano de trabalho para a empresa fazer os ajustes necessários, de maneira que os demais requisitos também sejam atendidos. De acordo com esse diagnóstico, agendamos uma, duas ou três visitas – que podem ser in loco ou até remotamente – para acompanhar e ajudar a processadora a se preparar para a próxima etapa, a contratação do organismo certificador; a gente inclusive auxilia as empresas a escolher qual organismo buscar para essa etapa, avaliando a condição de pagamento de cada um e definindo qual delas melhor se encaixa no orçamento da processadora.

O processo de certificação do temperado leva quanto tempo?
ES – Leva de dois a quatro meses. Esse é o tempo médio em que a gente consegue preparar a empresa, planejar a auditoria, realizar a auditoria, realizar os ensaios de laboratório e ter o certificado emitido. Claro que esse processo pode ser mais rápido ou demorar mais: tudo depende da prioridade dada pela empresa e dos acontecimentos que podem surgir no meio do caminho. E a certificação precisa ser renovada a cada doze meses, a fim de mostrar que você passou esse período trabalhando de acordo com seus procedimentos e com as exigências da norma.

Este texto foi originalmente publicado na edição 624 (dezembro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

AGC participa de entrevista no VidroCast

No começo de outubro, o VidroCastpodcast da Abravidro – recebeu Isidoro Lopes, presidente da AGC no Brasil, e Marcelo Botrel, anunciado em agosto como novo gerente-executivo Comercial e de Marketing da divisão de Vidros Arquitetônicos para a América do Sul. Os dois executivos conversaram com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano: o bate-papo abordou do retorno de Botrel ao setor vidreiro e os objetivos da empresa no Brasil, até um balanço dos resultados em 2024 e as perspectivas para o Simpovidro. A seguir, confira alguns destaques da entrevista.

Botrel, antes de tudo, bem-vindo de volta! Você já atuou no setor em outra usina de base e deixou o mercado em 2014. O que você tem observado de diferente nesse primeiro mês de atividades, após dez anos?
Marcelo Botrel – Ainda é muito cedo para falar, mas para mim foi muito bom, pois estou revendo muitos amigos de longa data, com várias empresas que evoluíram muito. Isso é ótimo porque significa que elas se organizaram e cresceram.

Na nota em que a AGC anunciou a vinda do Botrel, vocês informaram que dois dos principais objetivos da empresa são contribuir para o fortalecimento da marca e colaborar com o planejamento estratégico da AGC aqui na região. Como esperam obter sucesso nesse desafio?
Isidoro Lopes – Obviamente, ao trazer um executivo do nível do Marcelo, com a experiência que ele tem, nós queremos não só vender vidro: queremos parcerias duradouras com os nossos clientes, buscar modelos de negócios e parceiros para outras atividades e ajudar os clientes no desenvolvimento dos seus negócios, para que seja uma relação de ganhos para todos os parceiros que estão com a AGC.

Vocês dois conhecem bastante o nosso setor e a cadeia de processamento. Estreitar o relacionamento com esse público é um desafio para a AGC?
MB – Sim, é um desafio. Se você me uma pequena observação que eu faço desses últimos tempos em que fiquei fora do setor, essa relação era mais cultivada no passado. Então, acho que é uma oportunidade; o relacionamento com a cadeia de processamento sempre é um componente importante nessa indústria. Não significa que esse distanciamento tenha acontecido por parte de todas as indústrias: vejo que na AGC, por exemplo, há um cuidado muito grande na relação com esses clientes, tanto na confecção de produtos como na atenção com o atendimento.

 

“Na área de vidros arquitetônicos do nosso país, ainda há muitas oportunidades de crescimento dentro da construção civil” (Isidoro Lopes)
“Na área de vidros arquitetônicos do nosso país, ainda há muitas oportunidades de crescimento dentro da construção civil”
(Isidoro Lopes)

 

Isidoro, numa conversa recente, você comentou um movimento que foi feito pela AGC na Europa, o “from volume to value” (do volume para o valor). O Brasil tem condições de fazer esse movimento também, considerando as adversidades que o nosso mercado vem enfrentando com a entrada de grandes volumes de vidro importado no País?
IL – Acho que toda a cadeia do vidro no Brasil busca isso. Obviamente, o Brasil ainda busca volume; todos ainda têm uma necessidade de volume para manter o negócio competitivo. Mas você pode observar que produtos de valor agregado estão sendo lançados a todo momento, como vidros refletivos, laminados de temperados, serigrafados… É uma tendência natural do segmento buscar mais valor agregado. Na área de vidros arquitetônicos do nosso país, ainda dá para trabalhar muito em termos de volume; há muitas oportunidades de crescimento dentro da construção civil, e a gente também pode agregar valor a esse volume – dá para fazer os dois: “volume and value”.

Vocês lançaram recentemente o vidro de controle solar Sunlux Champanhe. Como o mercado recebeu essa novidade?
MB – O mercado recebeu muito bem: já temos vários clientes interessados e recebemos vários pedidos. Esse é um produto com foco tanto para a construção civil como para a indústria moveleira; é muito versátil, muito bonito e tem um bom nível de controle térmico – só traz vantagens.

Já estamos fechando o terceiro trimestre e entrando na reta final do ano. Qual o balanço que a AGC faz da performance do setor em 2024?
IL – De forma resumida, devemos fechar este ano um pouco acima de 2023 – algo em torno de 3%. Nós esperávamos um cenário um pouco pior, mais nebuloso; estamos vendo uma inflação mais controlada, o PIB já chegando perto dos 3%, o índice de confiança da construção civil vem subindo… estamos mais otimistas. E, para 2025, esperamos mais um pequeno crescimento.

 

“Vejo que, na AGC, há um cuidado muito grande na relação com os clientes, tanto na confecção de produtos como na atenção com o atendimento” (Marcelo Botrel)
“Vejo que, na AGC, há um cuidado muito grande na relação com os clientes, tanto na confecção de produtos como na atenção com o atendimento”
(Marcelo Botrel)

 

Quais são as grandes diferenças em termos de demanda por produto no Brasil, na comparação com outros países?
IL – O mix de vidro incolor na Europa, por exemplo, é muito baixo, acho que menor que 5%; há um grande uso lá de vidros insulados e refletivos, entre outros – ou seja, esses produtos que, no Brasil, são chamados de especiais, para eles já são uma demanda normal.

Quais vocês acham que seriam os caminhos para a gente conseguir desenvolver o mercado brasileiro nos níveis da Europa e dos Estados Unidos?
MB – Acho que esse desenvolvimento passa pelo investimento em tecnologia – mas, para investir mais do que já está sendo feito, é preciso tornar sua empresa rentável. Todo mundo tem que estar ganhando: o cliente também, o processador também; se a indústria caminhar nesse sentido, pode-se buscar mais tecnologia, mais equipamentos, mais profissionais. As parcerias com as associações são fundamentais para transmitir o conhecimento para esse desenvolvimento. E é preciso que o País dê as condições para que a população tenha mais acesso à informação e a recursos financeiros, para que ela possa então buscar e consumir produtos de qualidade mais alta.

Por último, quais são as suas expectativas para o Simpovidro?
MB – Eu estou ansioso para reencontrar muita gente; a AGC estará em peso lá com a nossa equipe comercial. É um encontro que promove a integração. Quando você conecta o fabricante, o cliente final e até o vidraceiro, isso é muito bom para a cadeia do vidro: todos devem estar na mesma página, e o Simpovidro é um ambiente propício para isso.

IL – A AGC enxerga o Simpovidro como uma união do segmento; é uma ocasião extremamente importante para manter essa ligação entre os vários elos da nossa cadeia e para discutir temas importantes para o setor vidreiro como um todo, com o adicional de ser um ambiente mais descontraído, com todos se conhecendo também como pessoas, não só como profissionais.

Este texto foi originalmente publicado na edição 622 (outubro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

VidroCast traz episódio sobre gestão e finanças

Cuidar da gestão e das finanças de uma empresa não é uma tarefa simples: é preciso acompanhar atentamente tanto os indicadores internos como o cenário externo para a tomada de decisões – e todo esse cuidado se torna ainda mais importante em um mercado tão concorrido como o vidreiro. Para ajudar os gestores do nosso setor nesse trabalho, o VidroCast recebeu dois convidados especiais: Flávio Málaga, mestre e PhD em finanças, confirmado como um dos palestrantes do 16º Simpovidro (veja mais clicando aqui); e Victor Villas Casaca, presidente do Sinbevidros-SP e vice-presidente da Abravidro.

Málaga e Casaca conversaram com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, abordando tópicos como fluxo de caixa, o perigo de entrar em “guerra de preços” e as particularidades de empresas de gestão familiar. A seguir, confira alguns destaques do episódio – e assista à entrevista completa no YouTube.

Antes de entrar na parte complexa da nossa conversa, gostaria de começar com uma provocação: qual o objetivo de uma empresa?
Flávio Málaga – Essa é uma pergunta cuja resposta varia de acordo com quem responde. De forma geral, independentemente do perfil da empresa, o objetivo deveria ser sempre o mesmo: os gestores-executivos entenderem o que se passa financeiramente, se é algo sustentável e, a partir daí, tomar decisões sobre o que fazer com ela, se mexe ou não na política de preços, avaliando a produtividade e a eficiência e tomando decisões com base nesses dados para manter o negócio sustentável.

Victor Casaca – Olhando para o nosso mercado, quando um investidor aporta capital, ele quer remunerar esse capital da forma mais eficiente possível – e, se estiver assumindo algum risco, ele vai querer um retorno acima do que o mercado daria para ele. Acho que o vidro, uns quarenta anos atrás, passou por uma “época de ouro”, com poucos players e margens mais atrativas, em que o controle não era tão necessário. Como todo mercado, o setor cresceu, as margens foram ficando mais apertadas e, por isso, o desenvolvimento do controle do negócio se faz essencial.

 

“Quando você tem a família se sustentando pelo negócio, com pessoas não preparadas para a função, isso tende a levar a conflitos societários” (Flávio Málaga)
“Quando você tem a família se sustentando pelo negócio, com pessoas não preparadas para a função, isso tende a levar a conflitos societários”
(Flávio Málaga)

 

Qual a importância do fluxo de caixa em uma empresa, em especial no caso do perfil geral das empresas vidreiras, em que o investidor é o próprio dono?
FM – Como o fluxo de caixa é uma dinâmica consolidada de três atividades, é importante saber pegar essa métrica e abri-la nestas três vertentes: operacional, de investimento e de financiamento – lembrando que o fluxo de caixa da operação é o grande lastro da empresa, então é muito importante conhecer não só o fluxo consolidado, mas também as métricas separadas.

VC – As pessoas muitas vezes não entendem a variação de caixa, ou seja, por que o lucro não vira caixa, e esse é um problema muito sério em diversas empresas: “Por que o meu caixa diminuiu se o meu lucro aumentou?”. Os gestores acham que o simples aumento de vendas vai gerar caixa de alguma forma, e não é bem por aí.

Então, qual a relação entre lucratividade e política de preço?
FM – A política de preço é direcionadora das receitas e da capacidade de agregar valor ao custo que você tem para fornecer um produto ou serviço. Nem todos os clientes são iguais: alguns toleram precificações maiores – alguns serviços permitem diferenciar um cliente do outro. O importante é poder calibrar a estratégia de precificação de acordo com o perfil do seu cliente, mas você também precisa conhecer seus custos. O grande problema é quando a empresa trabalha com capacidades ociosas, e isso leva a uma briga de preços no mercado: gera o vício do cliente e compromete a sustentabilidade do negócio.

VC – Essa política comercial tem reflexos péssimos para o setor como um todo. Algo que seria pontual acaba se tornando recorrente e a gente entra numa espiral negativa sem fim. E acredito que muito dessa espiral aconteça por falta de conhecimento financeiro, por querer acompanhar o concorrente até o último gole, sem entender que aquilo já virou um prejuízo. É o ego, a emoção, falando acima da razão.

O preço não deveria ser um diferencial no mercado vidreiro, considerando que as condições para as empresas são muito parecidas, mas na prática é ele que define quem ganha a venda. Como a gente faz para reverter esse cenário?
FM – Não há uma resposta simples; em todo caso, você tem que olhar para dentro: onde trabalhar o seu ciclo operacional e financeiro, saber lidar com estratégias de preços pontuais para clientes específicos e extrair o máximo da eficiência da sua gestão. E, nessas horas, se tomar suas decisões às cegas, sem algo que dê algum embasamento, a chance do seu negócio ter um colapso é grande.

 

“Os gestores acham que o simples aumento de vendas vai gerar caixa de alguma forma, e não é bem por aí” (Victor Casaca)
“Os gestores acham que o simples aumento de vendas vai gerar caixa de alguma forma, e não é bem por aí”
(Victor Casaca)

 

A Abravidro tem uma contribuição importante nesse sentido de criar uma cultura de dados para o nosso setor no Brasil com os nossos dois levantamentos, o Panorama Abravidro e o Termômetro Abravidro, ambas fornecendo informações a se somar para a tomada de decisão do gestor. Mas vemos que nem todas as empresas contribuem para essas pesquisas ou consomem esses dados.
VC – Sim, e isso é uma pena, porque são materiais muito ricos. O próprio Termômetro nos dá uma visão de curtíssimo prazo do que está acontecendo e permite ao gestor da empresa compará-la aos seus pares para identificar se ela está sendo eficiente ou não. A base para qualquer planejamento é entender o cenário em que seu negócio está inserido.

Quais são as principais diferenças entre as empresas com gestão familiar e as com gestão executiva?
FM – Eu prefiro não rotular que a gestão executiva seja melhor que a familiar. Conheço muitas famílias que conseguiram tornar suas empresas uma potência. Minha recomendação para as empresas familiares é que elas tenham uma gestão cada vez mais profissionalizada, mesmo que seja feita pela própria família. Se você tem familiares que são absolutamente competentes, por que não? A questão é quando você tem a família se sustentando pelo negócio sem entender o que a operação pode gerar, com pessoas que recebem mais do que o mercado pagaria e que não estão preparadas para a função. Isso tende a levar a conflitos societários entre pais, filhos e irmãos que não se falam, e a empresa vira uma gestão pessoal de conflitos. É preciso ter em mente que o que importa é a sustentabilidade do negócio, porque é ele que sustenta a família. O segredo não é binário – entre uma gestão totalmente profissionalizada e outra totalmente familiar, há vários cenários intermediários.

Este texto foi originalmente publicado na edição 621 (setembro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: reprodução

Renato Poty, da Guardian, participa do VidroCast

O VidroCast segue recebendo convidados especiais para falar sobre o mercado vidreiro. Em julho, Renato Poty, diretor-executivo da Guardian, esteve no estúdio do podcast, em São Paulo, e conversou com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano.

O bate-papo passou por diversos assuntos, incluindo a manutenção realizada pela empresa este ano no forno da cidade de Tatuí (SP), o desempenho negativo do setor nacional em 2023 e as perspectivas para a segunda metade de 2024. Confira parte dessa conversa a seguir – e assista à entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube ou ouça nos principais tocadores de áudio.

 

A Guardian realizou recentemente uma manutenção programada no forno de Tatuí. Essa manutenção ocorreu conforme o esperado?
Renato Poty – Esse investimento foi bastante importante. Fizemos um grande planejamento para essa manutenção nos últimos doze a quinze meses, por se tratar de uma parada muito grande, delicada, que exigia atenção especial com a segurança e procedimentos que precisariam ser seguidos. O forno parou por volta do final de abril e ficou assim ao longo do mês de maio. Foram praticamente trinta dias de reparo. A produção foi então retomada no final de maio, durante junho ficamos no processo de estabilização e ainda estamos fazendo alguns ajustes. Mas o saldo do reparo foi bastante positivo: não deixamos de atender nossos clientes e nem precisamos trazer vidro de fora do País.

A última edição do Panorama Abravidro mostrou queda no faturamento da cadeia de processamento e também na produção em 2023. Como a gente pode superar esses desafios e voltar aos bons índices do período da pandemia?
RP – Quando a Guardian olha para 2023, não vemos nenhuma surpresa com base no que já esperávamos. Após a elevação da demanda durante a pandemia, começou uma desaceleração no final de 2022 e começo de 2023 já de certa forma esperada, embora talvez tenha sido um pouco abrupta no primeiro momento. Em seguida, veio esse período de acomodação do mercado. Lógico que 2023 não foi um ano bom: tínhamos muito mais capacidade do que demanda. Isso exige bastante disciplina de cada um de nós, nas usinas, para entender essa demanda e não produzir em excesso, porque isso gera um desbalanço e o nosso produto acaba perdendo o valor.

Outra questão que se somou ao excesso de oferta nesse período foi um aumento considerável no volume de importações de vidro plano. De que forma isso prejudica a indústria nacional?
RP – O vidro importado funciona em ciclos, dependendo do que acontece globalmente. Quando há um desbalanço em países com produção maior que a nossa, eles buscam outros mercados para colocar esse volume excedente. Isso, obviamente, causa um dano, porque temos uma demanda hoje no Brasil que ainda não chegou aos níveis de antes da pandemia. O Brasil tem capacidade para atender as diversas aplicações dos clientes e do mercado, mas quando se traz essa variável do vidro importado, ocorre um desbalanço muito grande num nível de competitividade muito diferente do da nossa realidade. Quando você olha para países como os Estados Unidos e vários outros da Europa, eles têm proteções – não para impedir que o vidro importado entre, mas sim para que ele não entre de forma oportunista.

 

“É preciso agir para proteger o nosso mercado, não para impedir a entrada do vidro importado, mas sim para que haja uma competição de forma justa” (Renato Poty)
“É preciso agir para proteger o nosso mercado, não para impedir a entrada do vidro importado, mas sim para que haja uma competição de forma justa”
(Renato Poty)

 

Diante desse volume tão grande de importados, a Abividro protocolou um pedido de um novo antidumping para três novas origens, e também um pedido de aumento da tarifa de importação de vidros planos. A Guardian é favorável a essas medidas?
RP – Estamos abertos à competitividade. Esse é um mercado aberto, mas ele precisa funcionar dentro das regras e de forma justa. Quando você tem um movimento que acaba infringindo uma regulação, uma lei ou um modelo de operar num país, é preciso agir para proteger o nosso mercado, não para impedir a entrada do vidro importado, mas sim para que haja uma competição de forma justa.

Falando agora de oportunidades: como a gente pode desenvolver o mercado de vidro plano para alcançar em algum momento os patamares de consumo de vidro da Europa e dos Estados Unidos?
RP – O vidro plano tem um potencial muito grande. Quando a gente olha outros países, a gente vê um uso muito maior do que temos no Brasil. Quando a gente coloca os produtos de valor agregado, então, o consumo é muito maior. Mais ou menos 70% do que é vendido no nosso país é vidro comum, o mais simples. Então, eu acho que treinar e qualificar o nosso setor nos ajudam a dar mais valor para o produto, trazendo esse conhecimento para o setor, e isso vai ajudar não só a aumentar o consumo, mas a aumentar com qualidade. A partir do momento em que conseguirmos que cada elo da cadeia passe a ver o vidro de valor agregado não como um custo, mas sim como investimento, ele passará a ser mais valorizado e mais bem aplicado, com soluções mais tecnológicas, melhor desempenho e mais conforto.

 

“Treinar e qualificar o nosso setor nos ajudam a dar mais valor para o produto de valor agregado” (Renato Poty)
“Treinar e qualificar o nosso setor nos ajudam a dar mais valor para o produto de valor agregado”
(Renato Poty)

 

Como a Guardian vê o papel do vidro no futuro das cidades e também no futuro da indústria?
RP – O vidro tem uma série de benefícios que ele pode trazer futuro para cidades mais modernas. Ele amplia o ambiente, traz mais iluminação natural, economiza energia, traz mais conforto; enfim, tem um papel super importante. Acho que qualificar a cadeia vidreira é um trabalho cada vez mais essencial para o vidro ser mais reconhecido por tudo que ele pode oferecer – dessa forma, teremos uma evolução no mercado e veremos cada vez mais vidro aplicado nas obras e trazendo benefícios para cada elo do nosso setor.

Quais são as perspectivas da Guardian para o segundo semestre?
RP – Historicamente, o segundo semestre é melhor; a gente imagina que ele trará uma demanda maior que na primeira metade do ano. Obviamente, há preocupações em relação ao valor da nossa moeda frente ao dólar e à taxa de juros, que ainda é bastante elevada no Brasil. Mas, dentro da dinâmica do cenário, a gente imagina que o segundo semestre ainda assim será positivo, o que poderia nos levar para um ano de 2025 melhor que 2024.

Este texto foi originalmente publicado na edição 620 (agosto de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Ivan Pagliarani

Henrique Lisboa fala sobre os dez anos da Vivix

Em maio, a Vivix completou dez anos de existência. Entre as ações da usina para celebrar essa ocasião, registrou-se seu retorno como expositora da Glass South America 2024. Na Glass, Henrique Lisboa, presidente da Vivix, passou pelo estúdio do VidroCast, o podcast da Abravidro, para um bate-papo com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano. Entre os assuntos, Henrique avaliou como o surgimento da Vivix impactou o setor vidreiro nacional, comentou o aumento das importações de vidros planos no Brasil e falou sobre os passos que a empresa pretende tomar para a próxima década. Leia os melhores momentos da entrevista a seguir – e confira o conteúdo na íntegra no canal da Abravidro no YouTube (na versão em vídeo) ou ouça nos tocadores de podcast (em áudio).

Quais as principais conquistas da Vivix nessa primeira década de vida?
Henrique Lisboa – A Vivix marca esse período sendo a primeira empresa nacional dentro do mercado brasileiro de vidros planos – todas as outras fabricantes instaladas aqui são multinacionais. Acredito que isso faz com que a gente compreenda melhor a cultura do País e a forma como o empreendedor nacional atua e pensa. Então, temos a possibilidade de atuar de uma forma mais, digamos, brasileira.

Em 2014, o mercado brasileiro de vidro plano era diferente, não só porque não tinha a Vivix, mas porque a configuração era outra. O que mudou nesses dez anos e qual a contribuição da Vivix para essa mudança?
HL – Acho que a entrada da Vivix foi muito boa para o mercado, não só pelo fato de que a gente começou a ofertar uma produção que não existia e que era necessária – durante quase três anos seguidos antes da nossa entrada, a produção de vidro plano não atendia a demanda no Brasil –, mas também porque isso permitiu que os clientes tivessem mais opções de escolha para efetuar suas compras.

Há cerca de dois anos, na edição de 2022 da Glass South America, a Vivix anunciou a construção do segundo forno. A construção desse forno vem sendo adiada desde então. O que você pode comentar sobre isso?
HL – Veja, quando anunciamos essa obra, ainda era necessário fazer os projetos, buscar as tecnologias, tirar as licenças, e essas etapas levam entre um ano a um ano e meio. Mas, de fato, a Vivix acabou adiando o início dessa construção porque nesse período a demanda por vidro plano caiu, o mercado ficou mais difícil e nós consideramos que não seria responsável iniciar essa construção nesse momento. Hoje, já estamos com tudo pronto para iniciar a obra, mas estamos aguardando o tempo adequado para isso. Ela terá início assim que sentirmos que o mercado está tendo uma retomada sólida da demanda.

 

“A obra do segundo forno terá início assim que sentirmos que o mercado está tendo uma retomada sólida da demanda” (Henrique Lisboa)
“A obra do segundo forno terá início assim que sentirmos que o mercado está tendo uma retomada sólida da demanda”
(Henrique Lisboa)

 

Uma mudança bastante importante que houve no mercado desde o anúncio do segundo forno foi o grande aumento no volume de importações de vidro plano, especialmente no ano de 2023. Como você vê esse movimento e qual o impacto disso para o mercado doméstico?
HL – Antes de a Vivix entrar no mercado, em 2014, as importações aconteceram continuamente por uns dois ou três anos. De lá para cá, nós tivemos mais dois ciclos de aumento na importação: um por volta do final de 2018 e início de 2019, e esse de agora. Considero que esses ciclos são finitos, não contínuos; esse aumento foi muito prejudicial, sim, mas não creio que ele continuará por muito tempo, quando as fabricantes brasileiras têm capacidade de produção interna suficiente para atender o nosso mercado. Em algum momento, as importações vão cair, porque essas circunstâncias que eu comentei vão cessar e o mercado vai retomar o seu curso normal.

Ainda assim, há medidas por parte da Abividro no sentido de tentar coibir ou minimizar o impacto dessas importações: há um pedido recente de antidumping para três origens, e também um de aumento de alíquota de importação para esses vidros planos. Você acredita que essas medidas serão aprovadas e que elas irão ajudar a segurar um pouco esse impacto das importações?
HL – Eu acredito que elas serão aprovadas, sim, e acho que elas são até certo ponto normais. Se você observar outros países do mundo, elas existem lá; por aqui, isso deve minimizar esse impacto da importação, mesmo considerando essa questão da sazonalidade.

Isso é também uma questão relacionada à competitividade. Como podemos tornar o Brasil um país mais competitivo para a indústria?
HL – Bem, aí tem um grande trabalho a ser feito. Temos a questão tributária, que é muito importante e que impacta nos custos de todas as empresas. Há também a questão da geração de energia, do fornecimento de gás natural, que é muito relevante para todo o setor vidreiro. O custo desse insumo no Brasil é um dos mais caros do mundo, o que tira a competitividade do nosso negócio frente às empresas internacionais.

 

“O nosso desafio será a busca por um crescimento sólido, responsável, que faça a demanda do mercado crescer junto conosco” (Henrique Lisboa)
“O nosso desafio será a busca por um crescimento sólido, responsável, que faça a demanda do mercado crescer junto conosco”
(Henrique Lisboa)

 

A Vivix recentemente fez um grande investimento em energias renováveis. Você pode falar um pouco a respeito?
HL – A Vivix, juntamente com a Atiaia – outra empresa do Grupo Cornélio Brennand, que trabalha na área de geração de energia, tendo hidrelétricas e trabalhando também com geração de energia solar –, decidiu construir uma usina de geração solar próxima à nossa planta. Esse investimento foi perto de R$ 200 milhões, mas hoje atende 100% da nossa demanda de energia elétrica, o que é importante não só do ponto de vista de custo, mas também de ESG.

No pacote de comemoração de dez anos da Vivix, tivemos a volta da empresa como expositora na Glass South America 2024. O que você está achando dessa nova edição da feira?
HL – Nós estamos felizes de estar aqui; nunca pensamos em ficar definitivamente fora da Glass, e acho que esse foi o momento certo para voltarmos, celebrando um marco importante. Fizemos um estande diferente dos anteriores, mais voltado para a arquitetura, parecendo um ambiente de Casa Cor, para tentar mostrar algo diferente e chamar especialmente a atenção dos arquitetos, e estamos tendo uma excelente receptividade dessa ideia.

Quais são os grandes desafios para os próximos dez anos da Vivix?
HL – O objetivo da Vivix é continuar crescendo; não falar somente em duas plantas, mas talvez ter mais unidades ao longo desta próxima década, e se consolidar cada vez mais aqui como um player importante no mercado, que tenha uma marca diferente, um pensamento de cultura e de empreendedorismo brasileiros, de estar próxima do cliente, cada vez mais tentando entendê-lo. O nosso desafio, enfim, será a busca por um crescimento sólido, responsável, contribuindo com a cadeia, sem que ele cause perturbações excessivas na cadeia, mas sim que faça a demanda do mercado crescer junto conosco.

Este texto foi originalmente publicado na edição 619 (julho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Diretores-executivos da Cebrace celebram 50 anos da empresa

Meio século de existência: essa marca foi alcançada pela Cebrace em 2024. A efeméride foi um dos assuntos discutidos pelos diretores-executivos da empresa, Lucas Malfetano e Manuel Corrêa, ao participarem do VidroCast, o podcast da Abravidro, gravado durante a Glass South America 2024.

Durante a conversa conduzida por Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Malfetano e Corrêa falaram sobre a evolução do mercado vidreiro nos últimos cinquenta anos e as contribuições da Cebrace para o setor. A entrevista completa está no canal da Abravidro no YouTube (na versão em vídeo) e também nos tocadores de podcast (em áudio). A seguir, confira os destaques do bate-papo.

Qual o sentimento de chegar aos cinquenta anos, com a Cebrace completando meio século de existência no Brasil?
Lucas Malfetano – A primeira palavra que vem para nós é felicidade. São poucas as empresas que conseguem se manter na liderança do mercado durante esse tempo. Aliás, aproveito para deixar aqui o nosso sincero agradecimento a todos os nossos clientes, e também a todos os nossos colaboradores ao longo desses anos.
Manuel Corrêa – Esse aniversário nos possibilitou revisitar a nossa história, nossos marcos históricos e, principalmente, celebrar com as pessoas. Também é sempre um momento de agradecimento para o time, porque ninguém faz nada sozinho, há sempre uma união de esforços.

Como vocês enxergam a evolução do segmento vidreiro ao longo desses cinquenta anos?
LM – Eu acho que o segmento no Brasil teve um desenvolvimento fantástico quando comparado ao de outros países. A evolução do vidro temperado, dos vidros de segurança no Brasil – não vou falar que é um caso único em todo o mundo, mas dos países que eu conheço, certamente é o mais avançado. Então, acho que produzir float no Brasil possibilitou ter uma matéria-prima de qualidade, acompanhando e dando confiança para os nossos clientes fazerem sua parte – e eles têm tido um papel extraordinário para desenvolver esse mercado.

Qual vocês acham que é a principal contribuição da Cebrace para o mercado brasileiro de vidros planos?
LM – A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro. Depois disso, tivemos outras inovações no caminho: espelhos, laminados, vidros de controle solar. Houve também inovações na logística, iniciativas comerciais, como o programa Habitat, e ações nos últimos tempos em relação à sustentabilidade, como as melhorias nos nossos processos para o caminho da descarbonização das nossas operações.
MC – A sustentabilidade é um tema apaixonante. A Cebrace tem hoje uma parceria com a Massfix, que é a maior recicladora de vidros do Brasil. O vidro é um material 100% reciclável, infinitas vezes. Então, nós estamos trabalhando junto com a cadeia para aumentar o índice de reciclagem dele, que permite reduzir o consumo de energia nos fornos e a emissão de CO2. Entendemos que o vidro, como produto, também contribui para a sustentabilidade, como as peças de controle solar, que trazem uma redução efetiva do consumo de energia. Para uma construção, isso representa a economia de muitos milhares de reais e evita a emissão de muitas toneladas de CO2 ao longo da vida útil do edifício.

 

“A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro” (Lucas Malfetano)
“A Cebrace foi a primeira usina a trazer o float ao Brasil, e sempre saiu na frente para trazer o melhor do mundo para o mercado brasileiro”
(Lucas Malfetano)

 

Esse aniversário foi marcado também pela vitória na 1ª edição do Prêmio Abravidro Glass South America: a Cebrace foi eleita a melhor fabricante de vidro plano do Brasil. Como vocês receberam essa notícia?
MC – A gente agradece bastante aos clientes que votaram e à banca que avaliou e fez o julgamento. É uma honra e também um desafio para nós. Estamos orgulhosos, mas, ao mesmo tempo, temos muita humildade para entender que o mercado evolui, que as coisas mudam, e é parte do nosso espírito estar sempre nos desafiando e procurando as melhorias que nós possamos fazer em qualquer parte da operação.
LM – Essa vitória é uma alegria para nós. Eu gostaria de parabenizar a Abravidro pela iniciativa, acho que será um marco para todas as empresas continuarem avançando. E foi muito boa a ideia de colocar as obras na premiação. No fundo, tudo que a gente faz é para a construção, onde o vidro será instalado e terá um papel fundamental.

No ano de 2023, vimos um incremento importante no volume de importações do float incolor, apesar do antidumping que já se encontra vigente, e temos visto que em 2024 essa média continua alta. Como vocês estão vendo esse movimento e o que podem falar a respeito?
LM – A presença da importação em si não é um problema; nosso mercado é bastante competitivo, temos quatro fabricantes no País, com muita capacidade para fabricar vidros com máxima qualidade em nível mundial. Nossa preocupação é porque a gente observa que está havendo uma concorrência desleal.
MC – O Brasil talvez seja o único país do mundo que protege mais o produto importado do que o produto nacional. Dando um exemplo: São Paulo é o maior mercado do Brasil, nós vendemos as nossas linhas em São Paulo, e se paga um ICMS de 18%; enquanto isso, o produto importado entra por Estados periféricos a São Paulo e, quando são transferidos para cá, pagam um ICMS de 4%. Ou seja, há uma diferença tributária incompreensível para quem opera no País. A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia, e isso infelizmente a gente ainda não vê. O Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida.

 

“A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia; o Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida” (Manuel Correa)
“A gente quer um mercado livre, mas que funcione dentro das regras, que tenha isonomia; o Brasil não pode deixar a indústria nacional desprotegida”
(Manuel Correa)

 

A Abividro protocolou no primeiro trimestre deste ano um pedido de antidumping; estamos no prazo de avaliação pelo governo federal se vai abrir a investigação ou não. Vocês podem comentar as expectativas para esse processo?
MC – É um trabalho essencialmente técnico: o Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no seu Departamento de Defesa Comercial, vai analisar, vai fazer as pesquisas, olhar os países de origem, qual o preço praticado no mercado interno, e deve concluir, como a gente já prevê, que trata-se de um dumping evidente. Espero que o governo conduza o estudo com bastante disciplina e profundidade, mas a gente tem uma boa expectativa porque realmente está configurado que essas exportações são feitas com preços muito abaixo dos de seus mercados nacionais.

Estamos aqui na Glass South America, a principal feira do nosso segmento. Qual o balanço do evento para vocês?
LM – É muito positivo. Dá para ver um número extremamente expressivo de pessoas. A gente já viu na pandemia a falta que a Glass South America fazia, e eu acho que a gente precisa valorizar as ocasiões como essa feira, como um espaço para informar e permitir que as pessoas conheçam novos produtos e tecnologias, e também para socializar: somos seres humanos, precisamos do contato uns com os outros, e eu acho que a Glass é um exemplo disso.
MC – Estamos muito contentes com a feira; participamos sempre e vemos muito valor nela. É um espaço em que a gente se atualiza sobre o que está acontecendo do ponto de vista da tecnologia, lançamento de produtos. E como o Lucas falou, também é um momento de interação intensa com os nossos clientes e parceiros, e aqui a gente acaba sentindo o pulso do mercado e renovando nossas energias para seguir em frente e entender que estamos em um ecossistema que precisa sempre se realimentar para a gente aprender e caminhar juntos.

Este texto foi originalmente publicado na edição 619 (julho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Fotos: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Fernando Westphal lança livro sobre vidro em edificações

Figurinha carimbada em diversas reportagens de O Vidroplano, Fernando Simon Westphal, consultor, engenheiro, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, acaba de lançar o livro Vidro plano para edificações. A publicação pretende levar informações técnicas sobre nosso material em um formato de fácil acesso a profissionais do setor vidreiro e da construção civil e também a estudantes de engenharia e arquitetura.

Para conhecer o conteúdo do livro e saber como surgiu a ideia pra escrevê-lo, a equipe de O Vidroplano entrevistou Westphal. A conversa você confere a seguir.

Professor, este é seu primeiro livro?
Fernando Westphal — Como pesquisador e professor já escrevi muito artigos técnicos voltados a eventos científicos, revistas, periódicos. Mas tentar agrupar toda a informação desenvolvida ao longo de anos de carreira, em uma produção no formato de livro, é a primeira vez. E acho que é o sonho de muitos pesquisadores.

Espero que seja de fato um material de referência para um ponto inicial de estudo sobre o uso do vidro nas edificações e na arquitetura. Ele é voltado para o contexto brasileiro, citando produtos nacionais e as configurações de beneficiamento que a gente costuma utilizar no Brasil. A ideia é “tropicalizar” esses assuntos e assim ganhar notoriedade para os produtos com mais informação técnica para o mercado.

De onde surgiu seu interesse pelo vidro?
FW — Foi de uma necessidade. Terminei meu doutorado em 2007, no programa de engenharia civil, com especialidade em eficiência energética de edificações. Com isso, migrei para o mercado da construção. Saí de Florianópolis e fui morar em São Paulo, trabalhando com consultoria para certificação Leed [Leadership in Energy and Environmental Design] de grandes empreendimentos – e esses prédios comerciais são todos com fachadas envidraçadas.

Então, foi um grande choque participar de projetos com pele de vidro para climas quentes como o nosso. Pra mim, era uma novidade e eu até era crítico. Quando comecei as análises para os prédios que buscavam a certificação, nossa equipe concluía, por meio de números, que não havia um aumento expressivo no consumo de energia por conta do vidro. E comecei a estudar o porquê.

Esses empreendimentos buscam uma melhor qualidade de vida interna, e com maior área envidraçada você tem mais contato com o exterior, o que gera, inclusive, benefícios de saúde. O empreendedor, os futuros locatários e ocupantes estão dispostos a pagar por uma tecnologia a mais na fachada – no caso, um vidro de controle solar.

E depois disso, começaram a me chamar para palestras, pois passei a ser um defensor do produto. Fiquei impressionado com sua eficiência – e defendê-lo é simplesmente uma constatação.

54f7711b-03df-4e85-b5b7-78dc5801632f

E como apareceu a chance de preparar um livro sobre o tema?

FW — Em 2009, fui contratado para fazer um estudo sobre o impacto do vidro no consumo de energia das edificações para a Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro). E, a partir daí, passei a prestar assessoria técnica para a entidade. Quando já atuava mais fortemente no mercado vidreiro, eu comentava que a gente não tinha uma referência de literatura nacional, até porque a informação vinha apenas das fabricantes. Em 2016 me prontifiquei a escrever um material e ele foi lançado como ebook com o nome Manual técnico do vidro plano. Algum tempo depois surgiu o interesse de publicar no formato de livro, o que acho que dá muito mais credibilidade para o material. Então, fizemos contato com a editora Oficina de Textos, e a Abividro patrocinou a produção.

Qual o conteúdo do livro?
FW — Os primeiros capítulos fazem uma introdução ao contexto histórico, o processo de fabricação do vidro, e depois entramos na questão de engenharia e arquitetura. O foco principal eu puxei mais para a minha área de atuação, chamando a atenção para os desempenhos térmico, lumínico e acústico. E não tem como a gente falar do produto sem comentar segurança. Então, há menção a uma série de normas técnicas relacionadas ao setor.

Eu tentei utilizar uma linguagem mais técnica, trazer equações, gráficos comparativos, algo que sentia falta no mercado, pois não se encontram tais referências na literatura. Essa é a principal diferença entre o livro e o ebook, cujo material era mais lúdico, com linguagem voltada ao público leigo.

Montei também um capítulo sobre como especificar, buscando ajudar do estudante de arquitetura ao profissional que deseja estudar o assunto. Resumi por conta própria algumas diretrizes: como você escolheria o vidro em termos de aspecto estético, coloração, nível de escurecimento e de espelhamento, trazendo as propriedades ópticas do material – uma coisa que eu sempre bato na tecla durante as palestras. Alguns colegas da área até me criticam por isso, por ser técnico demais. Porém, insisto que a gente tem de treinar o mercado em relação a esse tipo de conhecimento.

Em relação às normas técnicas, elas estão em constante renovação para atender as mudanças de nosso mercado. Como o senhor informou ao leitor de seu livro que é necessário ficar atento às novas versões desses documentos?
FW — Tem esse destaque no livro. Achei importante fazer a listagem das principais normas, as mais comuns e necessárias para o dia a dia, com a ideia de alertar o leitor justamente para essa quantidade de documentos, para que ele busque em cada aplicação a norma relacionada àquele assunto.

O vidraceiro tem no seu livro uma boa fonte?
FW — Com certeza! Espero também atingir esse mercado, para que o vidraceiro possa se inteirar um pouco mais sobre os diferentes níveis de desempenho. É claro que entender alguns pontos vai exigir um certo conhecimento a mais de engenharia. Porém, como todo material técnico, a gente pode pular algumas partes e ir direto ao que interessa. É um livro que se pode ler num final de semana? Sim! Mas espero que seja um material de consulta para a busca de informações específicas. O vidraceiro pode estudar um capítulo e entender o que significa fator solar, ganho de calor, ver estudos comparativos, e depois indicar um vidro especial ao cliente.

Sobrou conteúdo para uma continuação?
FW — Bastante coisa. Claro, temos de manter os pés no chão, verificar se será bem aceito pelo mercado e se de fato vai se transformar em uma referência técnica. A partir do lançamento, a gente começa a fazer um trabalho junto às universidades, para os meus colegas mostrarem aos professores que existe esse material. Mas, sim, fiquei com muitas ideias armazenadas.

Professor, para finalizar nossa entrevista, onde é possível adquirir o livro?
FW — O site oficial da editora Oficina de Textos faz a venda direta, mas também já o encontrei em grandes varejistas como a Amazon. Em outros pontos de venda, você o encontra fazendo a busca pelo título ou pelo nome do autor.

Este texto foi originalmente publicado na edição 607 (julho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito das fotos: Reprodução

Rafael Ribeiro concede entrevista para O Vidroplano

Desde o dia 1º deste mês, a Abravidro está sob nova direção: Rafael Ribeiro assumiu oficialmente a presidência da entidade no lugar de José Domingos Seixas. Diretor da processadora gaúcha Vidrobox e atual presidente do Sindividros-RS, o novo dirigente vem de uma família com imensa tradição no associativismo vidreiro (seu pai, Gilberto Ribeiro, foi presidente da Abravidro de 1999 a 2002).

Poucos dias após começar a tarefa de liderar a entidade, Rafael foi entrevistado pela editora de O Vidroplano, Iara Bentes. Na conversa, ele detalha a responsabilidade do cargo, revela como enxerga a atual composição do mercado e reflete a respeito dos desafios que encontrará em sua gestão.

Qual o sentimento de assumir a presidência da Abravidro?
Rafael Ribeiro — O primeiro sentimento, realmente, é o de responsabilidade. No período de atuação do meu pai na Abravidro, ele sempre dividiu comigo suas opiniões relativas à política empresarial. Como acompanhei isso desde sempre, é natural seguir esse caminho que ele já trilhou.

E qual o tamanho da responsabilidade de gerir uma entidade do porte da Abravidro, uma associação nacional com mais de trinta anos de história?
RR — É enorme, do tamanho da entidade, pois representa um país inteiro. É a entidade com maior representatividade em nosso segmento, principalmente após a gestão vencedora do presidente [José] Domingos [Seixas]. Então, realmente é uma responsabilidade enorme — e vou me esforçar ao máximo para dar sequência ao trabalho que veio sendo realizado pelos presidentes anteriores.

Levando em conta que você já está há alguns anos à frente também do Sindividros-RS, como enxerga o associativismo no setor vidreiro nacional?
RR — Sim, presido o Sindividros-RS há três gestões, sete anos, e nas gestões anteriores já participei da composição da diretoria. Entendo que o associativismo é um processo indispensável. E a porta de entrada para uma participação associativa são as entidades regionais, sejam sindicatos ou associações. É nesse espaço que se discutem as diretrizes e o futuro do setor, pois você está debatendo com pessoas diretamente interessadas no desenvolvimento do seu mercado.

Mas ainda vejo como pequena essa participação. Existem alguns Estados mais expoentes, como o Paraná, mas há regiões como o Nordeste e Norte quase sem representatividade. Por isso, temos de evoluir muito nesse sentido.

 

Cópia de CAB_4560

O setor vem de tempos um tanto complicados. Tivemos a pandemia que, apesar da tragédia humana, trouxe resultados positivos para a construção civil, embora o bom momento já tenha passado. E os resultados do Panorama Abravidro referentes ao ano passado mostram uma performance fraca, com queda em todos os indicadores – produtividade, produção, faturamento. Como você vê o mercado vidreiro neste momento?
RR — Eu fico um pouco preocupado porque vejo os elos da nossa cadeia atuando de forma independente, no “salve-se quem puder”. Não enxergo um trabalho direcionado, e acho que isso não é saudável. Temos no Brasil, iniciando pela indústria de base, grandes multinacionais com investimentos altíssimos aqui e na América do Sul, mas o nosso país é o local de maior foco desses grupos em razão de seu tamanho e desenvolvimento. Isso é uma responsabilidade para nós, pois eles estão apostando no País e, de certa forma, não podemos deixar que percam esse interesse, até porque a nossa cadeia já está vinculada ao fornecimento desses entes.

Então, vejo que não há essa coordenação, essa ligação mais próxima entre os elos: usina, distribuidor, processador e revendedor. Tenho essa preocupação e entendo que deveríamos ter uma maior aproximação.

Você acha que a aproximação dos elos é um dos principais desafios da sua gestão?
RR — Com certeza. O primeiro seria essa instabilidade pós-pandemia. Como você apontou, num primeiro momento a pandemia trouxe bons frutos para o segmento, principalmente vinculados à arquitetura e construção, com grandes investimentos residenciais em 2020, 2021 e, de certo modo, em 2022. Mas do segundo semestre do ano passado para cá, a gente vem enfrentando uma ressaca que fragilizou bastante o segmento vidreiro, principalmente no primeiro semestre de 2023. Em razão disso, a aproximação dos elos da cadeia precisará de muita atenção da Abravidro, buscando sempre o desenvolvimento do setor vidreiro e o aumento do consumo do produto.

Quais outros desafios você imagina que haverá nesse período?
RR — Eu vejo a necessidade de um debate tributário em nosso setor, em que pese a definição tributária ser de competência dos entes formalmente constituídos para isso. Podemos realmente tentar interferir nesse processo com a experiência que nós temos. Com a mudança de governo, a gente vê aí uma certa janela. Acredito que atuação nesse sentido será indispensável para tentarmos equilibrar um pouquinho mais o mercado.

Você já tem em mente projetos que gostaria de realizar ao longo de sua gestão?
RR — O primeiro realmente seria o debate tributário. Isso eu venho trazendo já há algum tempo, avaliar se é possível avançarmos no sentido de ter uma tributação mais equilibrada. O segundo seria aproximar mais a Abravidro do mercado. Buscar um aumento no número de associados e promover o associativismo também no Nordeste do País.

Você tem alguma preocupação em relação a como a cadeia vidreira se organiza atualmente?
RR — Eu vejo surgirem operações de distribuição entre os elos. Como pode passar a existir um distribuidor em uma operação na qual a venda direta já estava com margens espremidas? Só a “flexibilidade tributária” permite tal situação. Essa é a minha grande preocupação nesse sentido, da organização da cadeia – e um debate sobre a questão tributária é indispensável nessa questão.

A divulgação de conteúdo técnico, principalmente relacionado às normas técnicas vidreiras, é uma das maiores bandeiras da Abravidro. Temos a conformidade técnica como um norte, afinal a entidade é sede do ABNT/CB-37 e atua fortemente na divulgação, atualização e desenvolvimento das normas. Isso vai continuar sendo um dos focos na sua gestão?
RR — Com certeza. A Abravidro tem protagonismo nesse processo, entendo que o segmento não pode perder o domínio na definição do direcionamento das normas de acordo com seus interesses. Temos as próprias usinas de base que trazem as experiências de fora do País, com seu pessoal técnico que contribui bastante para o processo. A Abravidro não pode perder esse protagonismo.

 

Cópia de CAB_4564

Outro desafio trilhado ao longo dos anos é a importância de estabelecer uma cultura de dados no setor vidreiro. A Abravidro tem duas contribuições importantes nesse sentido: o Panorama Abravidro, estudo com mais de uma década de existência, trazendo um retrato anual da performance do setor, e o Termômetro Abravidro, esse com periodicidade mensal e com o objetivo de medir a temperatura do mercado. Qual a importância desse tipo de dado para a gestão das empresas, para as entidades e para o setor como um todo?
RR — Qualquer administrador sabe que a gestão de dados é indispensável para o direcionamento estratégico do negócio. Penso que devemos continuar o trabalho realizado para a divulgação dos dois estudos, e entendo que as entidades regionais têm um papel fundamental no processo. A aproximação da Abravidro com o mercado pode vir a trazer bons benefícios nesse sentido. À medida que o mercado todo entender a importância dessas informações e a seriedade com a qual a Abravidro trata esses projetos, de forma sigilosa, acredito que os empresários irão participar cada vez mais, trazendo números mais robustos e seguros para a avaliação de como está indo o segmento vidreiro em nível nacional.

Você tem alguma mensagem para seus colegas do setor vidreiro?
RR — Em primeiro lugar, prudência é a palavra da vez. Estamos passando por um momento delicado de redução de consumo, então é preciso que o empresário tenha prudência tanto nas questões financeiras, de investimentos e de gastos, como nas tributárias. Em segundo lugar, gostaria de deixar uma mensagem de otimismo. O consumo do vidro sempre foi cíclico, teve seus altos e baixos em diversos momentos da história, mas nunca parou! É um material que, pelo menos até a época atual, jamais foi substituído. Portanto, devemos manter o otimismo em nossa atuação, pois em algum momento o mercado vai virar, a roda vai voltar a girar rápido novamente e precisamos “estar vivos” nos negócios para seguir produzindo e, se possível, crescendo.

Este texto foi originalmente publicado na edição 606 (junho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Créditos das fotos: Marcos Santos

O Vidroplano entrevista José Domingos Seixas

Após seis anos à frente da Abravidro, José Domingos Seixas deixa este mês o posto de presidente da associação. Esse período foi marcado por uma série de conquistas – como o lançamento do Termômetro Abravidro e o público recorde recebido na edição 2022 da Glass South America –, mas também de desafios – como a pandemia da Covid-19 e seus impactos no nosso setor.

Alguns dias antes de deixar oficialmente a liderança da maior entidade vidreira brasileira, José Domingos Seixas concedeu uma entrevista para Iara Bentes, editora de O Vidroplano, na qual reforçou a importância do associativismo para o desenvolvimento da cadeia vidreira nacional, destacou a relevância estratégica de levantamentos como o Termômetro e o Panorama Abravidro para o planejamento das empresas, além de expressar seu orgulho pela equipe da Abravidro. “Esses seis anos me mostraram o que é comprometimento e o que é profissionalismo. Trabalhei lado a lado com os melhores profissionais para desenvolver projetos e resolver os problemas que surgem no nosso segmento”.

Quais foram as principais conquistas da Abravidro para o setor vidreiro nesses seis anos?
José Domingos Seixas – Nós conquistamos muita coisa nesses dois mandatos. Em particular, eu diria que o Código de Conduta Ética da Abravidro foi um avanço importante para a atuação da entidade e que pode gerar impactos positivos para todo o setor. Outra conquista relevante foi a equalização das alíquotas do IPI, medida cujo objetivo foi diminuir a evasão fiscal. Cito ainda a criação do Termômetro Abravidro, outro grande feito que trouxemos para o mercado vidreiro. E não posso deixar de destacar também a realização de duas edições da Glass South America, em 2018 e 2022, a segunda realizada em um período bastante complicado e difícil, mas com sucesso total – isso sem falar nas três edições do Simpovidro.

Você fala sempre sobre a importância do associativismo para o mercado. Como você acha que o associativismo se desenvolveu ao longo desse tempo?
JDS – Eu gostaria que o número de associados tivesse crescido mais – e muito. Hoje nós estamos com número recorde, com 207 associados, mas temos mais de quinhentos processadores. Então poderíamos ter crescido muito mais. Considero que o associativismo ainda é a ferramenta para conquistarmos muita coisa no mercado vidreiro.

Quais foram os momentos mais desafiadores da sua gestão?
JDS – Acho que foi durante a pandemia: os primeiros meses foram de muita incerteza, os fornos das usinas entraram em recirculação, não sabíamos como ia ficar o abastecimento de matérias-primas. Além disso, a pandemia interrompeu o planejamento que tínhamos feito de viajar pelo Brasil, visitando as sedes das entidades regionais afiliadas à Abravidro.

IMG_4077

Uma grande bandeira da Abravidro é fazer com que a cadeia tenha dados e informações para compreender os movimentos do mercado. No seu mandato, foi criado o Termômetro Abravidro, nosso segundo estudo econômico, com periodicidade mensal, que acaba indicando – como o próprio nome diz – a temperatura do mercado. É difícil convencer as empresas da relevância estratégica desses monitoramentos de dados?
JDS – Sim, infelizmente ainda é muito complicado mobilizar as empresas para participar das pesquisas. A gente tem visto um número cada vez maior de pessoas utilizando os dados dos nossos estudos, mas o número de empresas que contribui ainda é pequeno.

Qual você acha que é a importância dos estudos econômicos da Abravidro para o mercado vidreiro nacional?
JDS – A importância é enorme. O Termômetro, por exemplo, apresenta as informações mais recentes, do mês anterior, permitindo que os processadores possam prever algumas dificuldades que suas empresas possam vir a ter imediatamente. Precisamos difundir a cultura de dados no nosso setor, para que as empresas contem com mais essa ferramenta no dia a dia e no momento da tomada de decisão.

Como você enxerga o futuro do mercado vidreiro no Brasil?
JDS – Na atual conjuntura, considero bastante incerto. Não temos nada muito sólido quanto aos volumes de produção e de consumo, à abertura de importações… Por isso, creio em mudanças no mercado.

E que futuro você enxerga para a Abravidro?
JDS – Eu considero que o futuro do mercado vidreiro depende da Abravidro. Esses seis anos me mostraram o que é comprometimento, o que é profissionalismo, trabalhando lado a lado com os melhores profissionais, com pessoas com capacidade não só para desenvolver projetos, mas também para resolver os problemas que surgem no nosso segmento. É por meio da Abravidro que nós temos o desenvolvimento do mercado e as informações precisas para que isso seja possível.

Você tem algum recado para os outros elos da cadeia vidreira nacional?
JDS – Não tenho um recado, apenas uma opinião de que cada elo precisa desempenhar seu papel. Ninguém tem de atropelar ninguém.

Para terminar, deixe uma mensagem final para o segmento vidreiro.
JDS – Associem-se, pois só o associativismo é capaz de conquistar. Digo isso como um representante da terceira geração da minha empresa, sendo que as gerações anteriores não acreditavam no associativismo. Eu acho que nunca vi tanta força numa associação como na Abravidro. Por meio do trabalho dela, nós já conquistamos muitas coisas, incluindo algumas que muita gente não acreditava de que seríamos capazes.

Com relação à minha gestão na Abravidro, considero que me dediquei e mostrei de fato quem era o Domingos e o que ele poderia oferecer para a associação. Saio com a sensação de dever cumprido, de que me dediquei da melhor forma possível e lutei pela melhoria de nosso mercado vidreiro.

Este texto foi originalmente publicado na edição 605 (maio de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Créditos das fotos: Amorim Leite

O Vidroplano entrevista idealizadora do Ano Internacional do Vidro

2022 foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional do Vidro. Ao longo desse período, centenas de atividades relacionadas ao nosso material foram realizadas ao redor do mundo – e você conferiu algumas delas aqui na O Vidroplano. Iara Bentes, editora da revista, conversou com Alicia Durán, professora e pesquisadora do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC) na Espanha e uma das idealizadoras da data. Alicia contou como surgiu a ideia para a celebração de nosso material, fez um balanço sobre as atividades realizadas ao longo dos últimos doze meses e apontou caminhos para o futuro do setor.

Como foi o processo para a organização do Ano Internacional do Vidro?
Alicia Durán – Creio que podemos dizer que tudo começou em 2014, quando a fabricante Corning sugeriu que estávamos entrando na “Era do Vidro”, apontando que diversas aplicações do material vêm afetando a evolução da humanidade com tanta intensidade que esse seria um período comparável à Era do Bronze ou à Era do Ferro.

Essa ideia foi crescendo, com diferentes publicações justificando-a e a reforçando, até que, em 2018, período em que fui presidente da International Commission of Glass [ICG – Comissão Internacional do Vidro], aceitei o desafio de buscar que a ONU nomeasse 2022 como o Ano Internacional do Vidro.

Começamos então a procurar por apoiadores e copatrocinadores. A Community of Glass Associations [CGA – Comunidade de Associações Vidreiras] e o International Committee for Museums and Collections of Glass [ICOM-Glass – Comitê Internacional de Museus e Coleções de Vidro] juntaram-se a nós para fazer essa proposta e organizar uma campanha internacional de apoio, que reuniu mais de 2.500 instituições de 96 países, incluindo 450 museus, mostrando que a iniciativa teve grande aceitação por todos os campos do vidro e por todas as partes do mundo.

Nós preparamos todos os documentos necessários, incluindo um principal com cerca de 30 especialistas justificando as diferentes aplicações do vidro e como ele contribui para 11 das 17 metas de sustentabilidade da Agenda 2030 da ONU. Nossa intenção era conseguir a aprovação da resolução antes de fevereiro de 2020 – então veio a pandemia e mudou todos os planos, pois a sede das Nações Unidas ficou totalmente fechada por três meses. Além disso, era preciso que a proposta fosse aprovada por unanimidade em votação.

Foi um longo processo, mas finalmente conseguimos unanimidade na Assembleia-Geral em 18 de maio de 2021. A partir daí, organizamos 18 comitês regionais formados geograficamente e por linguagem – por exemplo, o Brasil teve um comitê regional próprio, porque tem um grande campo de vidro com uma linguagem, enquanto outro comitê foi formado pela Argentina, Bolívia, Chile, Peru e Uruguai.

O vidro está em toda parte, seja na construção civil, na tecnologia ou mesmo nas artes. Você considera que o Ano Internacional do Vidro contribuiu para conscientizar a sociedade que não trabalha no setor sobre o nosso material e seus benefícios – isto é, a levar esse conhecimento para além da comunidade vidreira?
AD – Esse foi um dos nossos principais objetivos: a ideia era “tornar visível o invisível”. As pessoas percebem os recipientes de vidro, os envidraçamentos nas edificações e os para-brisas em automóveis, mas há outras aplicações muito importantes que nem sempre são reconhecidas, como o uso de vidros planos em painéis para geração de energia fotovoltaica ou o papel das fibras ópticas. Basta imaginar como teria sido o período da pandemia sem acesso à Internet, por exemplo, que permitiu que professores e alunos continuassem com as aulas e que pudéssemos nos manter em contato a distância com nossas equipes de trabalho, amigos e famílias.

Nesse sentido, acho que nós conseguimos ultrapassar os limites dos campos do vidro e fazer muitas pessoas ao redor do mundo perceberem suas inúmeras aplicações e o potencial dele para aumentar a sustentabilidade. O número de eventos foi impressionante: congressos, conferências, livros publicados, webinars… Para se ter uma ideia, um dos comitês regionais registrou 150 atividades apenas no segmento da arte.

Penso que a meta mais importante que alcançamos foi a criação de uma rede de networking com cerca de 2.500 instituições, de mais de 90 países, de campos que vão da ciência e tecnologia à construção civil, arte, educação e tantos outros, todos unidos e trabalhando juntos nessas atividades. Esse é um capital que não podemos perder, temos de pensar agora em como fortalecer essa rede.

A sustentabilidade é hoje uma grande preocupação mundial, e sabemos que a nossa indústria tem dedicado esforços para ser cada vez mais sustentável. De que maneira podemos garantir um melhor uso do nosso material para auxiliar a agenda da sustentabilidade?
AD – Nosso último pedido feito à ONU foi o apoio da comunidade vidreira na área da sustentabilidade. Nós temos como avançar ainda mais nessa área, mas é preciso que haja legislações dando suporte a isso. O vidro pode ser reciclado infinitamente, sem nunca se tornar um resíduo. Temos de aproveitar isso e assegurar que o vidro nunca vá parar no lixo, lembrando que o uso dele reciclado contribui para a redução nas emissões de CO2 e na economia com energia, mas essa reciclagem precisa ser organizada e realizada no mundo inteiro, não apenas em alguns países.

Vamos escrever e produzir um relatório sobre esse assunto com as conclusões. A ideia é pedir para todas as organizações regionais adotarem a mesma padronização nos seus relatórios, para que todos possam ser compilados e combinados, sendo possível assim olhar a extensão total dos resultados. A partir daí, é obter as ferramentas para convencer a ONU a converter essas recomendações em leis, com o compromisso e a participação de governos locais, nacionais e internacionais.

Quais são as principais ferramentas, na sua opinião, para que as pessoas conheçam mais sobre o vidro e usem mais esse material em diferentes áreas?
AD – A educação é uma das principais: temos de incluir tópicos sobre o vidro desde o começo da formação. As crianças são as pessoas mais importantes para que haja essa integração da ideia de sustentabilidade, e temos exemplos muito bons de atividades feitas em países como a Índia e Filipinas para apresentar diferentes contextos aos alunos, como o uso do vidro para segurança.

Você observou alguma tendência para o futuro do nosso material durante essa agenda intensa de atividades do Ano Internacional do Vidro?
AD – Sim: há o avanço na área de biovidros na medicina, por exemplo, que podem contribuir para a regeneração de ossos ou no tratamento do câncer. Em relação ao vidro plano, vejo que precisamos pensar em substituir os combustíveis fósseis usados na sua fabricação por outras alternativas. Há um projeto para o forno do futuro, no qual as maiores empresas vidreiras estão participando, a fi m de tentar substituir o gás natural por hidrogênio verde, e também para funcionar com energia elétrica a partir de fontes renováveis, como fotovoltaica ou eólica. É o primeiro grande projeto em que todas as grandes fabricantes de vidro plano estão juntas, porque é algo em que todas saem ganhando.

Outra tendência é o aumento do uso de vidros reciclados nos fornos para a fabricação de novas peças. O resultado mais importante nesse segmento em 2022 foi da Saint-Gobain, que relatou que em maio, pela primeira vez, produziu 2 mil t de float sem emissão de CO2 e com 100% de uso de vidro reciclado.

Há ainda o potencial no retrofit de envidraçamentos, trocando peças simples por produtos de controle solar e/ou insulados: em cidades como São Paulo ou Sevilha, essa substituição pode reduzir o consumo de energia nas edificações em mais de 90%. Pensando nisso, seria importante haver uma legislação que incentive ou obrigue as construtoras a adotar essas novas soluções em suas obras.

O que podemos esperar daqui para a frente em nosso setor?
AD – Nós chegamos ao final do Ano Internacional do Vidro, mas ainda temos um legado a manter, muitos projetos para dar continuidade, mantendo o vidro como um protagonista nas áreas de sustentabilidade e bem-estar. Esse é o nosso compromisso e, para isso, esperamos que a grande rede formada em 2022 continue viva e ativa para que todos continuemos trabalhando juntos, alcançando ainda mais objetivos do que os já alcançados nos últimos doze meses.

Este texto foi originalmente publicado na edição 601 (janeiro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Divulgação

O Vidroplano entrevista Leopoldo Castiella

No começo de abril, a Cebrace informou ao mercado que o argentino Leopoldo Castiella deixava a diretoria-executiva da usina após 13 anos. Ele tinha assumido o posto de head of Architectural Glass (chefe de Vidro Arquitetônico) SBU Global e senior executive officer (diretor-executivo sênior) do grupo NSG. Presente no Brasil durante a Glass South America, Castiella conversou com exclusividade com O Vidroplano sobre sua jornada no vidro brasileiro. Confira a seguir.

O que apontaria como destaque em sua longa trajetória no setor vidreiro nacional?
Leopoldo Castiella — Foram anos bem-positivos, de muito aprendizado, realizações e projetos levados para a frente. Eu dividiria essa trajetória em alguns períodos. O primeiro é quando cheguei ao Brasil, em 2001. A gente tinha a operação da Blindex, que ainda fazia temperado para arquitetura, e aí decidimos transformar essa operação no sistema de franquias Blindex. Depois, passei a ser responsável pela área comercial da Cebrace. Naquela época, existiam dois agentes comerciais e eu era responsável tanto pelo mercado doméstico como pelo marketing de exportação, do lado da NSG. A gente fez toda a preparação para a introdução do C4. Naquele momento me lembro que, como a participação da empresa no Sul do País era muito baixa, a gente definiu toda uma estratégia para que, quando o forno chegasse, já tivesse uma base na região para consumir esse vidro.

O C4 é de 2004, certo?
LC — Sim, julho de 2004, e logo na sequência veio uma crise – para variar. Sempre que se acende um forno de float aparece uma crise (risos). Em 2005, nós exportamos mais de 200 mil t, mais do que o C4 fabricava. Foi um ano recorde de exportação, chegando a vender automotivo para China, África do Sul, países da América do Sul e até da Europa. Realmente foi algo superinteressante. Consegui aprender muito sobre o mercado internacional. E depois isso me serviu em todos os pleitos no trabalho de defesa comercial do setor.

A terceira etapa é com a Cebrace completamente unificada, com uma única área comercial, todo mundo em Jacareí [interior de São Paulo]. A empresa conseguiu criar outra dinâmica, fizemos mudanças na governança interna que ajudaram a acelerar e a consolidar o projeto. Nessa época, construímos o C5, o reparo e o aumento da capacidade do C1, o coater de Jacareí, a linha jumbo de Caçapava [interior de São Paulo], o centro de distribuição na Bahia e Fortaleza e a linha de laminado em Fortaleza também.

E tive ainda a oportunidade de conduzir a Abividro, como presidente e participando da diretoria. Então, foi toda uma etapa de realizações. Saio satisfeito.

Como é para um latino estar numa posição alta na hierarquia da NSG, uma empresa japonesa com poucos nomes estrangeiros na liderança?
LC — Te confesso que minha adaptação não está sendo muito difícil, pois conheço há muito tempo várias pessoas com quem trabalho hoje. Por outro lado, estou aqui no Brasil fazendo conferência às 2, 3 horas da manhã, coisas que fogem do meu controle. Em muitas dessas reuniões participam pessoas de regiões diferentes, e é muito difícil amarrar todos os fusos horários. Mas está sendo uma experiência bem positiva e desafiadora. Espero contribuir para o grupo como contribuí aqui na América do Sul.

2022 é o Ano Internacional do Vidro. Como essa data pode marcar uma nova relação entre o consumidor e o material?
LC — A gente tem de aproveitar esse momento pra colocar no topo da agenda o tema da sustentabilidade. Qualquer que seja a aplicação, o vidro tem a vantagem de ser totalmente reciclado. Existem objetivos concretos no Grupo NSG para reduções de CO2 até 2030, chegando em 2050 à neutralidade de carbono. Há ainda desafios tecnológicos: usar mais eletricidade nos fornos para consumir menos gás, usar fontes renováveis etc. Em relação a isso, deverão entrar outros combustíveis – e nesse sentido a NSG foi pioneira com testes com hidrogênio recentemente.

Gostaria de deixar um último recado ao setor?
LC — Apenas agradecer a acolhida aqui no Brasil, um lugar que sempre será meu lar.

Este texto foi originalmente publicado na edição 595 (julho de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Fabio Oliveira concede entrevista exclusiva a O Vidroplano

Fabio Oliveira, diretor-presidente e diretor-geral de Finanças e de Suporte ao Negócio para América do Sul da AGC, aposentou-se em abril, após 11 anos na empresa (leia mais clicando aqui). O Vidroplano conversou com Oliveira sobre sua trajetória nesse período, sua visão do mercado e planos para o futuro. Confira!

Como você avalia sua passagem pela AGC ao longo desses 11 anos?
Fabio Oliveira — Foram anos de desafios, todos apaixonantes. Tenho a honra e orgulho de ter carregado o crachá de número 5 por esse longo período, cujo início se deu em um pequeno escritório que tínhamos em São Paulo. Em poucos meses, montamos nossa base para início das obras em Guaratinguetá (SP). Com muita luta, empenho e paixão, transformamos um terreno de 756 mil m² que um dia havia sido pasto de uma grande fazenda em um complexo industrial de alta tecnologia que hoje hospeda dois fornos de float, um coater, uma linha de espelhos, duas linhas de laminado e uma de temperados para a indústria automotiva.

Consegue apontar os momentos mais marcantes de sua trajetória dentro da AGC?
FO — Foram muitos! Um deles é a parceria firmada com o Instituto Ayrton Senna, visando à melhoria das condições de ensino na rede pública de Guaratinguetá, a qual perdurou por diversos anos. Posso destacar também a convivência com colegas de trabalho de 13 nacionalidades diferentes, o início do processo de aquecimento do forno 1 e a representação do time brasileiro em diversas solenidades internas, como no CEO Awards em 2019 (prêmio máximo oferecido pela corporação). Por último, após dois anos de pandemia, um momento de surpresa absoluta foi a homenagem que recebi de meus colegas e da nossa família, a Família AGC. Não tenho palavras para expressar esse momento!

2022 é o Ano Internacional do Vidro. Como a data pode marcar uma nova relação entre o consumidor e nosso material?
FO — É a grande oportunidade que temos para reforçar o quanto o vidro é precioso e está presente em nossas vidas mais do que possamos perceber, de forma sustentável e com muita tecnologia.

Como enxerga o futuro do mercado a longo prazo, especialmente no Brasil?
FO — Vamos continuar crescendo, sem qualquer dúvida. Não podemos nos esquecer de que o consumo de vidro em nosso país ainda está abaixo do dos mercados mais desenvolvidos, além de questões ligadas à sustentabilidade que certamente irão trazer novas oportunidades para o nosso setor.

Quais são os planos para a nova etapa de sua vida?
FO — Continuarei por mais algum tempo ajudando a AGC de forma mais branda, dedicando, agora, muito mais tempo à minha esposa, filhos, nora, genro e à frota de netos (quatro, indo para o quinto). Poder curtir a família com mais intensidade é o melhor payback pelos 42 anos, 5 meses e 28 dias de trabalho duro e com paixão.

Que mensagem gostaria de deixar para o setor vidreiro nacional?
FO — Somos um setor forte, resiliente, de grande potencial e, acima de tudo, de grande respeito com a sociedade. Não desanimem, pois brilhamos em todas as situações.

Crédito das imagens: Divulgação AGC do Brasil

Este texto foi originalmente publicado na edição 593 (maio de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Diretoria da Cebrace comenta a parada do C2

Na última semana de fevereiro, a editora de O Vidroplano, Iara Bentes, conversou com a diretoria da Cebrace sobre a reforma do forno C2, de Caçapava (SP), a ser iniciada em março. Participaram do bate-papo os diretores-executivos Leopoldo Castiella e Manuel Corrêa e também o diretor-comercial Flávio Vanderlei. Além dos preparativos para a parada da planta, a pauta incluiu a atual situação dos principais mercados consumidores de vidro, os investimentos em sustentabilidade nas fábricas do grupo e as expectativas para o Ano Internacional do Vidro.

A reforma do C2 está marcada para março. Essa data está mantida ou é possível ter algum adiamento?
Leopoldo Castiella — Está mantida. Em teoria, começa dia 8. A única preocupação, para ser sincero, é que depois do carnaval acabe tendo outro pico da Covid-19. E isso poderia trazer algum ruído para o início. Mas seria pouca coisa, algo de dias. Tudo está encaminhado. [Nota da redação: de fato, não houve imprevistos e a reforma foi iniciada no início de março.]

E quando o forno voltará a operar?
LC — São 90 dias de parada.

O que podemos esperar de impacto no abastecimento do mercado interno nesse período? Tivemos uma experiência traumática em 2017 com uma reforma parecida em outro player, o que causou desarranjo no setor.
LC — A gente se organizou para aumentar os estoques. Inclusive, dada a situação do mercado, o estoque está um pouco mais alto do que gostaríamos. Mas temos vidro para fazer frente a essa parada. E também estamos trabalhando para o início das operações do segundo forno da Vasa, na Argentina, em maio. Então, se tiver uma emergência mais para frente, a Vasa também pode ajudar. Estamos bem preparados.

Manuel Corrêa — Essa preparação é feita a muitas mãos. Inclui a área de logística, cadeia de suprimentos e direção industrial e comercial. A gente tem reuniões regulares e, desde novembro, é preparada essa transição. Temos cinco linhas, vamos parar uma e, com os estoques devidamente planejados desde o final do ano, não esperamos ter impacto em nossos clientes.

Flávio Vanderlei — Esse trabalho alinha toda a estrutura da empresa para que se possa passar por ele da melhor forma possível. Lógico que também tem fatores externos — e as movimentações do mercado nesse ponto podem ajudar ou atrapalhar. O mês de janeiro foi bem de acordo com o que tínhamos planejado, já fevereiro ficou aquém. Infelizmente, foi uma situação bastante crítica, com quedas muito robustas de 40% a 50%. Como existe aquela ideia de que o Brasil só começa o ano depois do carnaval, a gente espera que a partir da outra semana possamos ter uma situação de mercado mais equilibrada.

LC — Quando você tem uma queda rápida e inesperada do mercado, a primeira alternativa é baixar o preço, mas isso dura, aproximadamente, cinco minutos (risos), pois o concorrente reage e acabou. Agora, as verdadeiras soluções são dolorosas nesses casos. Conferir as exportações, reduzir as cargas, começar um planejamento diferente, recuperar o mix de produtos em itens que não estamos fabricando… E, como líder de mercado, a Cebrace tem responsabilidade. Seguimos trabalhando com essas alternativas. Lembrando que a Cebrace não exporta apenas para a Argentina. Independentemente do forno da Vasa, temos um caminho para seguir nos outros países da América do Sul.

FV — Tivemos várias discussões sobre o momento da parada, se dava para postergar novamente, antecipar. Depois desse histórico todo, o melhor momento é mesmo agora.

Com o novo forno da Vasa pronto, veremos uma redução do volume exportado para a Argentina?
LC — Nas três primeiras semanas de janeiro, a situação da Covid-19 na Argentina foi um desastre. Um impacto gigantesco, times de fornecedores ficaram sem 50% de seu pessoal por conta de infecções. A partir daí, traçamos um plano detalhado com os três fornecedores mais importantes dessa obra e voltamos a empurrar a data de entrega pra frente. Mas agora, por exemplo, os profissionais colocando os tijolos refratários nas chaminés estão trabalhando praticamente 24 horas.

Com a reforma, a capacidade do forno será aumentada?
LC — Esse forno tem capacidade nominal de 750 t. Mas como é um forno especializado para automotivo, trabalha numa carga inferior, pelo fato de fazer espessuras menores. Então, não vai ter aumento da capacidade.

MC — Tem ainda a questão de a planta ser preparada para reduzir as emissões de poluentes. Ou seja, estamos fazendo um esforço grande para transformar esse forno no estado da arte em termos desse assunto.

A Cebrace vai assumir algum compromisso de redução de emissões, como tem sido feito em outras plantas da Saint-Gobain pelo mundo, por exemplo?
MC — Tanto a Saint-Gobain como a NSG têm declarado seus compromissos com a redução de poluentes. Estamos dentro dessa agenda global. E isso a gente vê que é um bom negócio. Vamos aproveitar a reforma para investir nisso.

LC — Esse conceito também estará no C6 quando ele for construído. Mas não podemos revelar números de redução, por questão de confidencialidade.

E em termos de investimento para a reforma do C2, quais os valores envolvidos?
LC — A reforma custará, aproximadamente, US$ 45 milhões. São valores que incluem o reparo do forno e toda a adaptação da fábrica em relação à diminuição de emissões.

Já que o assunto foi mencionado anteriormente, alguma novidade sobre o C6?
LC — A gente está trabalhando no projeto, tendo discussões entre acionistas sobre o perfil da planta. Estamos avançando. Em relação a quando faremos o anúncio, neste momento é impossível precisar, ainda mais com as incertezas que podem aparecer no horizonte.

A indústria automotiva vem apresentando resultados ruins. Como a Cebrace vê a recuperação desse mercado para os próximos anos, ainda mais levando em consideração que o C2 atende esse segmento?
MC — O automotivo é um mercado cíclico. E este momento ruim do ciclo nem é tanto causado pela demanda, pois ela existe, tem filas enormes de gente querendo comprar automóveis. É mais uma questão de ajuste da cadeia de suprimentos, muito afetada pela pandemia – notadamente, a questão dos chips, mas não só isso. Conta também a grande crise da Covid-19 em janeiro, um mês brutal no pico de casos nas empresas automotivas. Mas acredito que seja mais uma situação de curto prazo, todo mundo está trabalhando para voltar a produzir como no passado. Sou otimista nesse sentido.

Quando vocês acreditam que se dará a retomada de crescimento do automotivo?
MC — Muito difícil dizer ainda. Inclusive no próprio planejamento para a reforma do C2 estavam essas discussões. Não vejo nada acontecendo no curtíssimo prazo. Ainda serão dois ou três meses num nível não tão baixo como em janeiro, mas nada explosivo.

E quais são as expectativas para os demais segmentos consumidores de vidro?
FV — Começando pelos mais difíceis primeiro, o varejo tem sido afetado pela queda do poder de compra, e isso atinge diretamente o setor de linha branca e moveleiro. A previsão do segmento de eletrodomésticos é de -12%, segundo o IBGE.

Em relação à construção civil, nosso maior consumidor, representando cerca de 80% de nossas vendas, começamos com uma expectativa maior para este ano. O PIB dela tinha estimativa de 4%, agora está em 2%. Em 2022, acho que não teremos o efeito positivo das pequenas reformas, como aconteceu nos anos passado e retrasado. Mas com os investimentos em construções novas, pela quantidade de dinheiro captada para a construção, a gente deve ter algum incremento na atividade já este ano e talvez nos próximos.

LC — Vale a pena acrescentar que, em relação à queda do moveleiro e linha branca, o que a gente observa nos últimos meses é algo brutal, mais de 50% de baixa.

FV — A gente vê vários clientes desses dois setores dando férias coletivas nesta época de carnaval. A distribuição desse desempenho ruim não é linear. Algumas regiões do País mostram baixa maior do que em outras regiões, mas o resultado médio é de queda importante.

Não se pode achar de forma intempestiva que tudo vai se resolver com o preço, pois o momento é bastante complicado. O volume caiu. E se o preço cair só vai agravar mais a situação.

MC — A questão é manter o equilíbrio comercial, evitar uma guerra de preços. O mercado é o mercado, a gente não consegue agir sobre ele.

FV — E os custos estão aí. Energia, commodities aumentando de valor. Não dá pra brincar com isso. É preciso muita resiliência neste momento para que possamos todos passar bem pela situação.

A Cebrace já tem ideia de quando fará movimentações em outras plantas?
MC — Temos uma parada a quente na linha de Jacareí (SP), mas é uma parada rápida, de duas a três a semanas. E o planejamento para a parada de Barra Velha (RJ), no forno C4, que será uma reforma a frio, já começou há tempos.

Há alguma data para isso?
LC — Vai ser no primeiro semestre do ano que vem, mas não temos a data definitiva.

2022 ainda é um período especial para nosso setor, por conta do Ano Internacional do Vidro. O que a Cebrace tem a comentar sobre a data?
LC — Acho que o tema mais importante sobre o Ano Internacional do Vidro é o que o Manuel comentou antes: a Cebrace tem a sustentabilidade como prioridade em nossa agenda. A mensagem para o consumidor final e para o público em geral é que o vidro, seja plano ou oco, é um material 100% reciclável. É preciso potencializar essa mensagem o máximo possível.

Uma das ações é tentar aumentar o uso de cacos nas nossas fábricas. Nesse sentido, estamos investindo em nossas plantas. Essa campanha começa primeiro com investimentos internos. Depois, a responsabilidade vai para o nosso time comercial engajar e educar os clientes para que isso se torne uma realidade. Existe pouca consciência de como deve ser feita a destinação dos resíduos, o que pode ser reciclado e como separá-los. Há ainda a contaminação disso.

Outra coisa que estamos pesquisando: encontrar uma destinação para a borra de vidro no processo de lapidação. É um pó contaminado com óleo de refrigeração, água e tudo mais. Temos uma parceria com especialistas em materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), para encontrar uma solução para isso.

Crédito da imagem de abertura: Reprodução

Este texto foi originalmente publicado na edição 591 (março de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

O Vidroplano entrevista executivos da Cebrace

A Cebrace anunciou diversas movimentações em seus negócios recentemente. Uma delas envolve sua diretoria-executiva: Manuel Corrêa assumiu o cargo ocupado há sete anos por Reinaldo Valu, que deixou a empresa para novos desafios dentro do Grupo Saint-Gobain. Corrêa agora representa a usina vidreira ao lado de Leopoldo Castiella. A outra mudança altera de forma significativa o setor de vidros impressos: a marca Saint-Gobain Glass, única fabricante do material em nosso país, deixa de ser usada e os produtos passam a integrar o portfólio da Cebrace.

Para entender esses movimentos, O Vidroplano entrevistou com exclusividade Corrêa e Castiella. Ambos comentam a situação de futuros investimentos, como a construção do forno C6, e a situação do mercado em meio à pandemia.

Conte-nos sobre sua jornada dentro do Grupo Saint-Gobain até chegar ao atual cargo na Cebrace.

Manuel Corrêa — Vou completar 37 anos de carreira profissional e já fiz diversas coisas no grupo. Comecei na divisão de refratários, assumindo a gerência do negócio aqui na América do Sul muito jovem. O início foi na área comercial — essa área e a de produto sempre me acompanharam. Migrei para a divisão de abrasivos e, posteriormente, para o setor de negócios e manufatura, onde comecei a ter proximidade com produção e desenvolvimento de produtos. Depois, fui para a China tomar conta de uma unidade de negócios para a Ásia, uma joint-venture que ficava no Japão. Estava com certa frequência nessa empresa e isso vai me ajudar bastante na relação com o sócio japonês, a NSG. Fiquei no continente por três anos e meio e aí retornei ao Brasil para liderar a Sekurit, divisão de vidros automotivos da Saint-Gobain. Então, eu já tive uma visão de cliente da Cebrace, do entendimento do mercado, sei no que a gente pode avançar, quais os desafios presentes e futuros. Estive também em outra jornada dentro do grupo, como líder da Telhanorte Tumelero. Um negócio completamente diferente de tudo que eu tinha feito na vida, saindo de atividades industriais para uma experiência de varejo e lidando, sobretudo, com o consumidor final, vendedores em lojas, entrega em domicílio. Tudo bastante intenso. Em 2018, fui para os Estados Unidos liderar a divisão de abrasivos e reorganizar as operações na América do Norte. Completei três anos lá no final de junho e aí recebi esse convite para a Cebrace. Conheço a região, sou natural do Vale do Paraíba [região em que a Cebrace está instalada em São Paulo]. Assim, para mim é uma volta para casa dupla – não somente do ponto de vista profissional, mas pessoal. A Cebrace é uma empresa de administração excelente, tem-se aqui um nível de gestão exemplar. E um dos meus desafios é procurar melhorar algo que já é muito bom, usando o que eu aprendi no Japão, o conceito de kaizen, de melhoria contínua, com muita humildade e respeito.

Em 2016, a Cebrace tinha se tornado distribuidora exclusiva dos vidros impressos da Saint-Gobain Glass para os Estados do Sul e de São Paulo. Agora, todos esses produtos passam a fazer parte do portfólio da Cebrace de forma definitiva. Quais foram os motivos para essa grande reestruturação que culminou com o término do uso da marca da SGG no Brasil?

Corrêa — A razão é bastante simples. A gente vê o vidro impresso – ou o vidro texturizado, que é a nossa nova forma de comunicação para esse produto – como um material que preenche muitos espaços também destinados ao float. Comercialmente, o canal é o mesmo, com algumas exceções. A maioria dos clientes é comum e os preços são mais ou menos relativos. A empresa viu no passado essa oportunidade de buscar sinergia entre as áreas comerciais, de unificar isso. Por isso, hoje, a unidade comercial do vidro texturizado é da Cebrace. Todos os produtos são vendidos por ela. Isso nos pareceu uma estratégia vencedora, uma vez que você ganha integração. Estamos muito satisfeitos e os resultados têm evoluído.

Então, não devemos fazer uma leitura desse movimento como redução do mercado de texturizado?

Leopoldo Castiella — Sobre isso eu queria pontuar algumas coisas. Primeiro, o maior uso do float em aplicações que seriam de texturizados é um caminho mundial. Por esse motivo, quando se olha para o mundo inteiro, muitas operações desse produto não tiveram continuidade nos últimos cinco anos, fundamentalmente por essa migração para aplicações mais sofisticadas com o float, que requerem outro tipo de processamento, acabamento. Outro ponto é a otimização dos processos. Nós vimos durante a pandemia que temos uma estrutura de custo competitivo. Então, a combinação do forno da SGG, em São Vicente [SP], fabricando com a Cebrace comercializando otimiza o processo todo.

Estamos em um momento cheio de desafios para a realização de novos investimentos. Por isso mesmo, poderiam comentar qual o andamento do projeto para a construção do forno C6? Em 2019, foram conseguidas as licenças ambientais para a obra em Caçapava (SP). Alguma novidade de lá para cá?

Castiella — A situação é a mesma. A pandemia atrasou um pouco todas as coisas, como o timing de recuperação do mercado e a possibilidade física de dar andamento aos projetos. A gente precisa completar o forno da Vasa, na Argentina, reparar o C2, fazer uma reparação a quente também aqui em Jacareí [SP]… Temos uma quantidade de projetos que se afunilaram e agora a gente precisa andar com eles. Para isso, existem desafios desde trazer os técnicos do exterior, levando em conta as várias restrições dos países em relação à pandemia, e até muitos dos materiais, os quais vêm da Ásia, da China. O C6 está na pauta, sim, dentro de nossas prioridades, e vai ser feito. Mas pra isso precisamos fazer andar a fila e desafogar o resto.

Em relação ao forno da Vasa, a planta continua prevista para ser inaugurada em abril de 2022? E a reforma do C2 segue com a data de janeiro?

Castiella — Sobre a Vasa, estamos trabalhando pra isso. Hoje, há 250 operários trabalhando no canteiro de obra na Argentina e todos os fornecedores são locais, com alguma exceção de pessoas que levamos pra lá. Agora, o timing definitivo só vamos saber quando chegar a hora, dependendo da velocidade com que consigamos mobilizar os times do exterior e o abastecimento de materiais. E sobre a reforma do C2, por enquanto, segue na data. Se em algum momento tiver alguma modificação, a gente vai comunicar.

No ano passado, por conta dos impactos da pandemia, tivemos alguma indisponibilidade no abastecimento de float no segundo semestre. Este ano a situação melhorou, mas a oferta ainda não está plena, não é? Como a Cebrace está se preparando para a parada do C2?

Castiella — Eu diria que não temos, pois não estamos fabricando permanentemente toda a linha de produtos. Para dar um exemplo concreto: eu já esqueci quando foi a última campanha de vidro bronze. Para ter abundância ainda faltam alguns passos a mais. Mas existem várias frentes que não estão 100% claras e que não são fáceis de serem previstas. A indústria automotiva, o principal cliente do forno de Caçapava, ainda está com muita dificuldade pela extensão dessa parada, por causa da falta de semicondutores. Isso, por um lado ajuda, pois facilita na constituição dos nossos estoques; mas, por outro, a gente deixa de vender. Precisa ir acompanhando no dia a dia, semana a semana, o que acontece. Mas já estávamos organizados para passar por esse reparo no forno e vamos começar a constituir os estoques um pouco mais perto do final do ano.

Como vocês veem o atual momento de outros setores clientes do vidro, como o moveleiro e o de linha branca? Como está a demanda?

Corrêa — A origem dessa crise foi muito diferente. Não foi um problema econômico, mas de saúde, que teve impacto enorme na vida das pessoas. Isso forçou todo mundo a apertar o cinto — e na Cebrace não foi diferente. Aconteceu uma coisa impensável numa atividade como a nossa, fato único na história da companhia: paramos todas as linhas de produção, assim como nossos clientes fizeram. Todo mundo acabou preservando caixa e deixou o estoque num nível muito baixo. Essa demanda dos últimos meses, uma parte dela, foi naturalmente para a recomposição desses estoques. Acho que agora, com a vacinação e a melhoria das condições sanitárias, a demanda vai crescer. E a indústria da construção viveu esse boom no segundo semestre do ano passado também por causa das pequenas reformas. Toda a pandemia impactou o jeito com que as pessoas se relacionam com sua casa. Querem um espaço maior para trabalhar, lidar com o estresse do home office, brincar com filho, cachorro… e isso nos favorece. É uma coisa meio que permanente, ninguém imagina voltar tudo como era antes. Aprendemos coisas novas nesse período.

Castiella — Cada setor está em uma realidade diferente, com sazonalidades e situações distintas. A falta de componentes complica alguns ramos, talvez a construção civil em menor escala. Porém, quando vamos para a refrigeração industrial, para alguns casos de eletrodomésticos, e até na indústria moveleira, no caso do MDF e algumas peças de plástico, isso tem impacto. Mesmo dentro do vidro a gente conta com um ciclo sazonal. Nossa visão é de que, a partir da segunda quinzena de agosto, a coisa começa a andar de novo; e setembro, outubro e novembro serão meses acelerados. A visão é ter um fechamento de ano positivo. Agora, por exemplo, se faltar MDF vai ser um problema para todos, pois não vai dar para completar os móveis e o vidro acaba afetado.

Sobre a questão da sazonalidade, apesar do bom segundo semestre de 2020 para a construção, a linha branca não teve a mesma sorte e acabou sofrendo no período.

Castiella — Sim, mas com considerações. Está tendo uma acumulação de preço nas cadeias. Hoje existe uma briga de repasse no valor das matérias-primas. Os clientes da linha branca, por exemplo, antes dos consumidores finais, são os grandes magazines, as lojas. E entre a indústria e os lojistas ocorre uma discussão sobre o repasse de parte desses custos. Essas pequenas brigas acabam influenciando, mas todo mundo sabe que no fim do ano as coisas melhoram. Acho que tem, sim, um efeito estacionado de consumo; junho e julho geralmente são meses mais fracos, pessoal em férias. Isso é uma realidade. Mas, por outro lado, tem esse efeito inflacionário que eu comentei. E os aumentos de custo vão chegar ao consumidor final de alguma maneira, podendo impactar um pouco a demanda, inclusive na construção civil. Algumas obras começaram com uma estrutura de custos e agora isso precisa ser mudado.

Corrêa — Nos meus últimos meses nos Estados Unidos, via-se uma inflação enorme em dólar atingindo insumos como aço e derivados do petróleo. No Brasil, isso se amplifica pela desvalorização do real. Há um efeito cascata do câmbio somado à alta das commodities em nível mundial.

Uma demanda que parece crescer é a da indústria de módulos de painéis solares. Recentemente, fomos surpreendidos com um pedido da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) para isenção da tarifa de importação de vidros temperados destinados a esses módulos (veja mais clicando aqui). O pleito original era zerar o imposto para 140 mil t do nosso material, mas a Abravidro, em conjunto com a Abividro, conseguiu reduzir essa quantidade à metade. Ao mesmo tempo, a NSG inaugurou uma planta na América do Norte voltada para esse mercado. Há algum movimento para o setor vidreiro nacional conseguir atender um volume grande de vidro para painéis fotovoltaicos? Além disso, a Cebrace teria condições de produzir hoje o vidro para esse uso?

Castiella — Ocorre uma mudança importante na composição desses painéis, fundamentalmente na China. O substrato desses produtos era um vidro texturizado baixo emissivo e temperado. Várias dessas aplicações estão usando float, um motivo pelo qual o mercado chinês está com grande demanda de vidro. O resultado é que o preço da tonelada na China está acima dos US$ 450. E essa é uma mudança estrutural do mercado mundial, pois esse país sempre foi referência do piso do valor do vidro, e por muito tempo ficou em US$ 200/220 por t. Então, eu sinto essa mudança estrutural na nação que detém mais de 50% da capacidade instalada de fabricação de float no planeta. Voltando para o Brasil, a gente consegue atingir o nível óptico do float necessário, mas o problema é que muitas das fábricas de painéis estão trazendo o produto acabado. Então, a estrutura de custos do conjunto todo precisa ser competitiva. Um melhor cenário depende da avaliação dessas empresas em relação ao custo da mão de obra para montar aqui, para trazer os componentes separados. Inclusive, isso foi uma coisa que durante um período avançou, pois tivemos duas montadoras trabalhando aqui em São Paulo com bastante dedicação. Mas, depois, os leilões do governo foram interrompidos, elas perderam a continuidade e decidiram ir pelo caminho de importação. Concordo que o volume inicial do pleito estava completamente fora da realidade, e isso também não dá nenhuma chance para que a gente possa dar um passo e avançar. Eu diria que não existe um problema no float brasileiro, mas nesse processo como um todo.

O Panorama Abravidro 2021 mostrou crescimento no faturamento e produção das empresas vidreiras no ano passado, mesmo com a pandemia. Porém, uma questão ainda aflige as processadoras: a ociosidade no elo de processamento. Como a Cebrace encara a questão?

Castiella — Aproveito a deixa para comentar que os números do Panorama este ano mostram um crescimento um pouco acima do que a Cebrace enxerga. De qualquer maneira, a ociosidade existe, é histórica e não está diminuindo. É uma preocupação, pois a consequência principal da ociosidade é vista nos preços. O aumento do uso de vidros de segurança, apoiado pelas normas, em cada vez mais áreas na construção vai permitir que a ociosidade comece a reduzir. E se a gente tiver uma reforma tributária séria, colocando todos no mesmo patamar de competição, isso pode ajudar também a ordenar um pouco o mercado. Somado a isso, vale a pena destacar o tema da energia elétrica. No segundo semestre deste ano e no primeiro do ano que vem os custos vão crescer. E se tiver racionamento como já aconteceu em 2001, aí a situação será supercrítica. A gente precisa acompanhar isso de perto, pois energia elétrica é um insumo fundamental na equação dos custos.

Como estão as atividades dos colaboradores da Cebrace após um ano e meio de pandemia? Uma parte da empresa ainda atua em home office?

Corrêa — Esse é um assunto mundial nas nossas organizações. Todos tentando encontrar a melhor solução. Somos bastante cautelosos, não podemos baixar a guarda. Do ponto de vista do retorno ao escritório, nós estamos acompanhando quase que semana a semana a situação. Agora em agosto, por exemplo, no Estado de São Paulo, onde estão duas de nossas unidades produtivas mais a nossa sede, começa o retorno às aulas. Monitoramos também o número de vacinados em cada uma de nossas plantas, tentando incentivar a vacinação ao doar uma cesta básica para entidades de amparo a pessoas carentes a cada funcionário que nos mostra o certificado de vacinação. Então, é uma campanha para sensibilizar, estimular e motivar as pessoas a se vacinar. Estamos funcionando relativamente bem com ferramentas virtuais – claro que não é a mesma coisa do presencial, principalmente na cultura das organizações. Ao mesmo tempo, temos o desafio de preservar a saúde de nossas equipes, o que é sem sombra de dúvida a prioridade número um da gestão.

Para finalizar, gostariam de deixar uma mensagem ao mercado?

Castiella — A expectativa para o resto do ano é boa. Eu pediria a todos um pouco de sabedoria e paciência para passarmos essa última etapa dos meses de baixa sazonalidade. A gente tem de levar assim até o final de agosto e depois tentar surfar a onda do final do ano, que sempre tem sido positiva.

Corrêa — Nós acreditamos muito no Brasil e vamos continuar investindo no País. As dificuldades são passageiras — e acho que somos maiores que as dificuldades enfrentadas. Esse é o nosso caminho e continuaremos nessa jornada de crescimento, melhoria, novos produtos e sustentabilidade.

Este texto foi originalmente publicado na edição 584 (agosto de 2021) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Glass South America 2021 tem nova data

A maior feira vidreira da América Latina tem nova data: 1º a 4 de setembro de 2021, no São Paulo Expo, capital paulista. A mudança veio após a organizadora do evento, a Nürn- bergMesse Brasil, conversar com as empresas expositoras e parceiros da mostra, incluindo a Abravidro, sobre a piora da situação da pandemia no Brasil e as promissoras notícias referentes à vacinação contra a Covid-19.

Esse é o terceiro adiamento: a Glass seria realizada originalmente em junho deste ano; depois, passou para novembro e, na sequência, para março do ano que vem. “A Abravidro avalia a escolha como a medida mais sensata para o momento”, afirma José Domingos Seixas, presidente da Abravidro. “A feira é uma importante plataforma do setor e não podemos colocá-la em risco, diante de tantas incertezas.”

Para entender a situação, O Vidroplano conversou com João Paulo Picolo, CEO da NürnbergMesse Brasil. Veja como se deu o processo de decisão e a negociação de manter a feira no São Paulo Expo.

Como foi tomada a decisão de outro remanejamento na data da feira?
João Paulo Picolo — Não foi algo fácil, mas acredito que tenha sido uma decisão madura, pautada com muita responsabilidade e junto com o mercado. Nós tivemos algumas reuniões nos dias anteriores ao anúncio e mostramos de forma bem objetiva e clara para nossos parceiros o momento em que vivemos, as dificuldades e os riscos envolvidos de se manter uma feira em março. Existe uma expectativa muito grande para que nós façamos um evento belíssimo, como sempre fizemos, e prezamos muito pela qualidade e segurança de todos os envolvidos – tanto dos nossos expositores, nossos clientes diretos, como do mercado de uma forma geral, incluindo parceiros e visitantes. Essa é uma movimentação difícil de ser feita, porque envolve uma série de aspectos e situações paralelas. Porém, conseguimos uma vitória importante que é essa opção em setembro. Acho que o adiamento veio para beneficiar o mercado de forma geral.

Como os expositores receberam a notícia?
JP — Foi unânime, todos concordaram com essa movimentação para setembro. Eu confesso que não me surpreendeu, porque temos uma relação muito forte com a indústria, são anos e anos organizando a Glass South America. E faz parte do DNA da NürnbergMesse Brasil: toda e qualquer decisão é tomada em conjunto. Afinal, nós somos parceiros de negócios, não é uma relação mais simples entre fornecedores. E todos sabem que o momento é sensível. Dar mais tempo para que as coisas se acalmem mostra a sabedoria dos envolvidos.

A feira mantém sua realização no São Paulo Expo, local que hoje pode ser considerado um dos principais centros de exposições do País. Como foi a negociação para a Glass continuar lá?
JP — Não foi fácil, eu confesso. Por ser um dos principais espaços para exposições no Brasil, quem sabe até de toda a América Latina, há uma briga constante por datas, disponibilidades. E a situação atual só piorou isso porque teve muita empresa querendo mudar seus eventos de um semestre para o outro, de um ano para o outro, mas a gente conseguiu com muita força e habilidade. Hoje, a NürnbergMesse Brasil é um dos principais clientes da GL Events, grupo francês que administra o São Paulo Expo. Então, pela relação que temos, conseguimos juntos encontrar essa solução.

opinião-2

 

Você acredita que em setembro já viveremos uma situação de pós-pandemia? Ou ainda serão necessários cuidados em relação à saúde e segurança dos participantes?
JP — Os indicadores são positivos. A vacinação no Reino Unido começa agora em dezembro, as autoridades já estão dizendo que no início do ano isso começa aqui no Brasil também. Por isso, sentimos que setembro é um período positivo para um evento do porte da Glass ser realizado com segurança. Somos uma empresa séria, parte de uma multinacional alemã com muita história no País — aqui já há mais de 10 anos — e pautamos nossas decisões com responsabilidade. Acredito que será tranquilo fazer o evento, pois setembro está distante e tem bastante coisa acontecendo. Para evitar qualquer tipo de desconforto, fomos atrás de cuidados ainda maiores para a realização da feira, no caso o Hospital Israelita Albert Einstein, que nos ajudou a criar protocolos de saúde que serão aplicados em nossos eventos.

A feira é bienal e essa tradição foi quebrada agora, por conta da pandemia. Até 2018, era realizada em anos pares. A partir de agora, seguirá um novo padrão, sendo montada em anos ímpares?
JP — Sim. Na verdade, antes mesmo da pandemia, já existia um estudo feito junto ao mercado para mudar o ciclo do evento para anos ímpares. Isso se deve basicamente ao calendário mundial: encontros importantes como a Glasstec, na Alemanha, acontecem tradicionalmente em anos pares. A atual situação ajudou indiretamente a mudança. Pontualmente, em 2021, a gente faz a Glass em setembro, mas em 2023 ela volta para março, que é um período do ano importante para o setor de construção.

Como a NürnbergMesse Brasil acredita que estará o mercado em setembro?
JP — Novamente, os dados são positivos. Além da economia, a gente acredita que haverá uma recuperação interessante gerada pelas reformas administrativa e tributária, ambas sendo discutidas pelo governo. Mas, mais do que isso, as pessoas ficaram bastante tempo em suas casas, restritas em relação aos contatos físicos com clientes, parceiros, fornecedores. Todo mundo não aguenta mais ficar dentro de seus ambientes. Momentos nos quais você poderá se encontrar fisicamente com as pessoas vão ganhar ainda mais força. Esse será o pano de fundo da próxima Glass. Estou confiante em relação a fazermos uma edição muito forte, por tudo que viemos enfrentando, e acho que pode até bater recordes de visitação e de geração de negócios.

Recentemente, vocês iniciaram a série de lives Conexão Glass. A iniciativa ia até março, data anterior da feira. Agora o cronograma de conteúdo vai seguir até setembro?
JP — Sim, está nos planos. É uma plataforma importante para manter o setor atualizado. Gostamos da iniciativa, todos estão elogiando muito. E isso será mantido.

Gostaria de deixar algum recado final para o setor?
JP — Estamos juntos, cada vez mais fortes. A gente se verá de 1º a 4 de setembro em um evento recheado de inovações e soluções para atender todos do mercado. Estamos trabalhando arduamente para preparar para todos um evento belíssimo, um sucesso como sempre foi.

Este texto foi originalmente publicado na edição 576 (dezembro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Economia: confira a entrevista com a especialista

Após vários setores apresentarem quedas históricas durante a pandemia, conforme mostramos na edição passada de O Vidroplano, a grande pergunta que fica é: a economia nacional pode se recuperar rapidamente? Para entender a conjuntura pela qual passamos, conversamos com Ana Maria Castelo. Mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getúlio Vargas/Instituto Brasileiro de Economia (FGV/Ibre), Ana, nesta entrevista, analisa a situação da construção civil e da indústria e indica possíveis caminhos para a retomada. O bate-papo na íntegra você pode escutar na edição especial do podcast da Abravidro, o VidroCast, de setembro. A entrevista foi feita no começo de setembro.

 

Levando em conta nossas particularidades, a economia nacional comportou-se de forma semelhante à de outros países durante a pandemia?
Ana Maria Castelo — O Brasil está entre os que sofreram bastante. Mas isso é generalizado, as economias como um todo passaram por isso. Algumas um pouco menos, outras um pouco mais. O que nos diferencia negativamente é o fato de não ter havido uma coordenação, um plano federal em relação à doença, o que acabou levando a um resultado ainda mais negativo. Seja como for, do ponto de vista de políticas que foram adotadas — a questão ao auxílio emergencial, a mudança na legislação do emprego, a qual permitiu a redução da carga de trabalho e dos salários —, tudo acabou mitigando um pouco os efeitos. Quando a gente fala da construção civil, principalmente, o auxílio vem tendo um efeito muito forte, além do que a gente projetava no início. Então, respondendo objetivamente: os impactos estão sendo muito significativos, nossa resposta não foi imediata, mas, no final das contas, as políticas que vieram estão dando alguma resposta. Mesmo assim, os números mostraram um resultado fortemente negativo: queda de 9,7% do PIB trimestral, sem precedentes nos indicadores do IBGE.

 

Quais setores mais sofreram com o impacto da pandemia?
AMC — Com certeza, o de serviços. Principalmente os prestados às famílias, até pelas próprias características da crise e da necessidade de isolamento, que foi mais forte nos primeiros meses. Mas mesmo com a progressiva abertura, ainda assim você tem regras e protocolos que continuam afetando o segmento intensamente: restaurantes, bares e a área cultural como um todo estão sendo muito afetados e isso já está se registrando no PIB. Vamos lembrar que o setor de serviços é o que tem o maior peso na atividade econômica.

 

Algumas edições do Boletim Focus, estudo semanal do Banco Central, tinham revisto a previsão para o PIB nacional, atenuando a queda prevista, apesar de ter voltado a cair no meio de setembro. O que tem impulsionado essa revisão?
AMC — É preciso contextualizar a questão, lembrando que a crise veio de uma natureza completamente inesperada e diversa de tudo que a gente tinha visto antes. Os modelos de projeção não deram conta dessa crise. Aí veio o auxílio emergencial, que se mostrou mais efetivo do que se esperava, atingindo um contingente muito grande de pessoas e apresentando pra muitas delas um aumento de renda. O FMI chegou a prever uma queda de 9% do PIB, e hoje estamos na faixa dos 5,4% negativos. Essa revisão está se dando justamente em cima dos indicadores que começaram a sair, refletindo um impacto atenuado.

 

Existe algum setor que já pode ser considerado em processo de retomada?
AMC — Na hora em que a gente olha pra alguns indicadores já divulgados pelo IBGE e vê a Sondagem da Construção, da FGV/Ibre, percebemos que quase todos os segmentos têm um movimento de melhora ou, eu diria, “despiora”. Em alguns, isso é mais significativo e em outros, mais lento, como no de serviços — apesar da redução do isolamento social, o protocolo ainda exige que a capacidade de atendimento seja menor, e existe o próprio receio da população de voltar plenamente às atividades. Na indústria, a gente vê a construção recuperar-se. Dentro dela, é importante lembrar que se trata de duas partes: uma, a voltada para pequenas reformas, autogestão; e outra, a formal, realizada pelas construtoras. A formal, considerada atividade essencial, em poucos lugares ficou paralisada completamente. De maneira geral, aconteceu uma redução do ritmo das obras para atender os protocolos dentro dos canteiros. Com isso, a atividade foi atingida, mas de forma diferente dos restaurantes, por exemplo, que tiveram de fechar completamente. O que foi afetado dentro da construção: as vendas de imóveis, pois os estandes de vendas tiveram de fechar. Os lançamentos foram adiados, e as empresas precisaram se reinventar, passando a estimular os canais digitais de vendas e, com isso, reagiram relativamente bem. No caso da autoconstrução, essa foi a grande surpresa, vide que parte do auxílio emergencial claramente está sendo direcionada para essas pequenas obras, sem falar que, mesmo pessoas de média e alta renda aproveitaram o momento pra realizar reformas. Com isso, a demanda por materiais de construção está fortemente aquecida.

“A gente tem de lembrar que ainda estamos num contexto de muita incerteza”

O setor de vidros planos tem como principal consumidor justamente a construção civil. O que esperar para esse setor até o fim do ano?
AMC — Como o ciclo da construção foi atingido, só agora muita coisa começa a ser recuperada, e as empresas começam a retomar planos de lançamentos. Quando se olha a Sondagem, é bastante interessante ver que o segmento que recuperou completamente o nível pré-pandemia foi o de preparação de terrenos, aquele que inicia a obra. A parte de acabamento ainda está num patamar mais distante e, certamente, a retomada desses setores está adiada. Hoje, o que a indústria de vidros pode sentir é o resultado das reformas, mas cuja participação é menor.

 

Em relação ao ramo de automóveis, outro consumidor de nosso material, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) acredita que apenas em 2025 o setor retomará níveis de 2019. É uma perspectiva pessimista ou realista? Outros setores podem se preparar para uma recuperação em longo prazo?
AMC — A gente tem de lembrar que ainda estamos num contexto de muita incerteza. Essa é uma questão muito importante no sentido de determinar o ritmo da retomada. Existe uma aparente recuperação agora, mas isso não quer dizer que vai se manter, porque fomos muito para o fundo do poço. No caso dos automóveis então, a retração foi muito significativa, até por questões de impossibilidade de comprar um carro fisicamente, de acessar as lojas. Aí, num segundo momento, tem a demanda reprimida, de consumidores que tinham condições de comprar e apenas adiaram. Mas isso não significa que essa será a toada. Uma coisa importante: tudo caiu muito, tanto que, mesmo com essa retomada, o resultado consolidado do ano será fortemente negativo. Tudo isso justifica essas projeções, com as quais eu concordo, de que o ritmo de retomada será lento.

 

Uma das grandes questões da indústria nacional é sua histórica baixa produtividade. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), entre dezoito nações, o País só fica na frente da Argentina em nível de competitividade. A retomada seria mais rápida se estivéssemos em outro patamar nesse quesito?
AMC — A competitividade é essencial, sem dúvida, para a recuperação. Antes da pandemia, a gente já estava brigando com um ritmo baixo de crescimento, e a baixa produtividade e outros diversos fatores interferem nisso, assim como a qualificação da mão da obra, o ambiente de negócios e, claro, a questão tributária.

“Existe uma aparente recuperação agora, mas isso não quer dizer que vai se manter”

“A grande questão está na sustentabilidade do crescimento.”

Há uma discussão econômica — e ela parece existir, inclusive, dentro do governo — que confronta as políticas voltadas ao desenvolvimentismo e à responsabilidade fiscal. Qual o caminho mais adequado para a retomada do crescimento?
AMC — Talvez a fórmula seja um equilíbrio, no sentido de que efetivamente a questão fiscal é importante, representa uma sinalização inclusive para os investidores. O mundo todo está ciente de que o Estado deve responder com estímulos e suporte para sua população. Por conta disso, há a aceitação de indicadores fiscais que antes não se admitiam, como dívida pública e déficit público. Mas é preciso também uma sinalização de como o governo vai lidar com a questão no médio prazo. Por outro lado, trabalhar isso passa necessariamente pelo crescimento do País. Então, é um equilíbrio em que a ação do Estado é importante, mas não pode ser uma ação desconectada da preocupação com suas dificuldades.

 

É possível para a construção recuperar o bom momento vivido de 2009 a 2013?
AMC — Pra gente conseguir dar um boom, vai precisar do capital externo. E aí entra a lição de casa, seja com um arcabouço regulatório, que traga segurança jurídica para os investidores, mas também com outras questões, como a ambiental. A sustentabilidade ganhou uma importância muito grande para os investidores. Eles estão sendo pressionados internamente por essa necessidade de se olhar para esses requisitos, e nisso nós temos problemas. Instabilidade política e política ambiental podem ser empecilhos.

 

Como o empresário do setor vidreiro, tendo como cliente essa construção civil que acabamos de analisar, pode enxergar o futuro de seus negócios?
AMC — O setor foi afetado por toda a pandemia, e o ciclo de retomada que vinha se desenhando antes certamente foi postergado por conta dos negócios que deixaram de ser realizados. Então, em curto prazo, a perspectiva é menos positiva. Em médio e longo prazos, à medida que vemos o mercado imobiliário respondendo bem e as vendas retomando uma velocidade superior, temos maior perspectiva. A questão é que a efetivação da demanda do mercado imobiliário depende desse contexto macroeconômico, do crescimento do mercado de trabalho, da renda, do crédito. A grande questão está na sustentabilidade do crescimento.

Este texto foi originalmente publicado na edição 573 (setembro de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Diretora da Glasstec explica decisão de adiar evento para 2021

Em abril, a Messe Düsseldorf, organizadora da Glasstec, tinha confirmado a realização da edição 2020 da feira para outubro, conforme cronograma original do evento. No entanto, com os cenários de pandemia cada vez mais imprecisos em diversos países pelo mundo, um comunicado, emitido em 26 de maio, anunciou o adiamento da feira para 15 a 18 junho de 2021. Para entender como essa decisão foi tomada, O Vidroplano conversou com Birgit Horn, diretora da Glasstec. Confira a seguir a entrevista.

A Glasstec foi um dos últimos eventos de porte mundial do setor vidreiro a anunciar seu adiamento. O que foi definitivo para vocês tomarem essa decisão?
Birgit Horn — Com certeza, não foi fácil para nós adiarmos a Glasstec, o principal ponto de encontro para todos os players da indústria do vidro. Por conta da atual situação do setor, juntamente com as incertezas a respeito das regulamentações de quarentena e deslocamentos nos mercados-alvos, decidimos, com respaldo de nosso conselho consultivo e dos parceiros envolvidos, adiá-la para junho de 2021. A Glasstec vive deste fator internacional: em 2018, 72% do público veio de fora da Alemanha, sendo 50% da Europa e 22% de outros continentes. Por isso mesmo, quisemos oferecer aos participantes a melhor situação possível para planejarem a visita com segurança.

glasstec2

 

Como as empresas reagiram a esse anúncio?
BH — Os efeitos econômicos da pandemia do coronavírus, claro, também atingiram a indústria vidreira. Muitas companhias viram-se forçadas a reduzir seus investimentos, incluindo participações em feiras. Como resultado, houve alguns cancelamentos por parte de expositores já confirmados, mas também sinais positivos de outros. No entanto, após intensas discussões com essas empresas, tanto alemãs como estrangeiras, uma boa decisão foi tomada.

Voltando à questão multinacional e multicultural da Glasstec, cuja audiência é global: pode haver algum impacto nessa característica da feira na próxima edição?
BH — A Glasstec é a mais importante feira de nosso mercado. Ainda mais em tempos de crise, é especialmente importante oferecer às empresas uma plataforma para inovações e tendências. Assim, esperamos um alto nível de participação internacional por parte dos líderes dessa indústria. Ao mesmo tempo, estamos desenvolvendo diversos novos formatos digitais de interação para facilitar a troca de experiências entre profissionais, algo importante para o evento.

Quais serão as medidas de saúde a serem tomadas para garantir a segurança de todos os participantes e profissionais durante a feira?
BH — Para fazer expositores, visitantes e imprensa sentirem-se completamente em casa, a Messe Düsseldorf preparou protocolos de higiene coordenados para todos os participantes (veja no quadro no final da reportagem).

Outra grande característica do evento são as mostras paralelas, bastante aguardadas pelos visitantes. Podemos citar como exemplo a Glass Technology Live (a qual revela em primeira mão tecnologias que podem se tornar padrão da indústria no futuro) e a Glass Art (com obras de arte envidraçadas), entre outras. Essa programação será mantida?
BH — Estamos em contato próximo com nossos parceiros, trabalhando intensamente para criar um programa e cronograma para essas mostras.

Espera-se a mesma quantidade de participantes e expositores em comparação ao que teriam este ano em um quadro de “normalidade”?
BH — Esperamos uma diferença pequena no ano que vem, mas ainda assim uma participação maior em relação ao que teria sido possível este ano. Como mencionado anteriormente, em tempos de crise as empresas precisam de um espaço para apresentar inovações, e já recebemos retornos positivos de companhias que anunciaram participação em 2021. Mas, claro, cada uma deve decidir por si própria se quer fazer parte da próxima edição ou só em 2022. Fazemos cordialmente o convite a todos para se juntarem a nós na Glasstec 2021.

Então teremos uma nova edição já em 2022, mantendo a tradição de ser realizada em anos pares?
BH — Sim, a feira mantém seu espaço no portfólio da Messe Düsseldorf para 2022, voltando ao ciclo bienal.

De que forma o mercado de eventos e feiras será afetado no pós-pandemia?
BH — Os adiamentos têm impacto nesse setor, assim como em todos os outros economicamente ligados a ele. Isso inclui, entre outros, o setor de construção dos espaços e dos estandes, gastronômico, hoteleiro, de varejo e de transporte. A Messe Düsseldorf, da mesma forma que muitas outras empresas, terá de revisar a previsão financeira de 2020 para baixo.

O uso do vidro pode aumentar quando essa crise passar, até pelas características de nosso material, como sua facilidade de limpeza?
BH — Sim, acredito. Muitas instalações médicas, lojas de varejo e espaços públicos serão mais equipados com vidros por questão de segurança. Assim, consigo imaginar que a indústria vidreira possa ter aumento no volume de negócios.

 

Saúde em primeiro lugar
Em julho, a Messe Düsseldorf anunciou protocolos de saúde a serem seguidos nas feiras que organiza. Conheça alguns deles, pois também estarão em vigor na Glasstec 2021.

– A capacidade de certas áreas será ajustada para receber quantidade limitada de pessoas, incluindo marcas de distanciamento no chão;

– Totens com álcool em gel estarão localizados em diversos locais, como nas entradas, corredores e banheiros;

– Superfícies em espaços com grande movimentação de pessoas serão desinfetadas regularmente;

– Áreas de palestras e apresentações contarão com assentos distantes uns dos outros;

– Ingressos diários serão vendidos apenas online, não mais em bilheterias do pavilhão de exposições;

– Estandes deverão ter mais espaço para circulação e salas de reunião deverão ser construídas sem teto, para facilitar a circulação de ar;

– Os tradicionais coquetéis em estandes de expositoras estão proibidos.

Dicas para visitantes também foram divulgadas:
– Evitar contato físico com outras pessoas, como apertos de mão;

– Usar máscaras cobrindo nariz e boca dentro da feira;

– Manter distanciamento de cerca de 1,5 m de outros participantes;

– Usar o braço para cobrir o rosto quando espirrar ou tossir.

Este texto foi originalmente publicado na edição 572 (agosto de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Presidente da Abravidro conta os desafios para novo mandato

Quando José Domingos Seixas assumiu a presidência da Abravidro, em 2017, o Brasil e o mundo eram bastante diferentes. De lá para cá, nosso setor foi influenciado por diversos momentos de tensão, incluindo uma das piores crises econômicas e políticas da história nacional, desabastecimento de vidro, greve de caminhoneiros, eleições, fechamento de usina vidreira (a União Brasileira de Vidros – UBV) e até uma pandemia global.

Em conversa com O Vidroplano, o presidente reeleito para mais três anos comenta que não é incomum o mercado vidreiro enfrentar complicações vindas de fora. “Nosso segmento é maduro e resiliente, já atravessamos muitas situações conturbadas, muitos planos econômicos e vários períodos de recessão”, explica. Uma receita para superar esses momentos, segundo ele, está justamente no associativismo. Na entrevista conduzida por Iara Bentes, editora da revista e superintendente da Abravidro, Domingos analisa, entre outros assuntos, a importância da união dos elos da cadeia e os desafios para o mandato que se inicia.

Qual é o balanço de seu primeiro mandato, marcado por situações bem singulares?
Jose Domingos Seixas — Realmente, esses últimos três anos foram bastante intensos, um período de muito aprendizado e desafios. A Abravidro manteve seu papel de liderança forte e atuante no mercado, sempre focada em seu principal objetivo, o desenvolvimento do setor vidreiro nacional.

O desabastecimento foi uma questão pontual, de desorganização do mercado. A Abravidro atuou de forma firme junto às usinas para que o problema fosse resolvido e, principalmente, para que não venha a se repetir. A greve dos caminhoneiros também causou dificuldades ao mercado e as eleições deixaram o ambiente político instável, mas ainda assim 2018 foi um ano de bons resultados para a indústria de processamento de vidros. Porém, o fechamento da UBV mostrou que as usinas de base também têm suas fragilidades.

Mas o nosso segmento é maduro e resiliente, já atravessamos muitas situações conturbadas, muitos planos econômicos e vários períodos de recessão. As empresas reagem de diferentes maneiras, cada uma dentro de suas possibilidades, mas há, inclusive, quem se torne mais forte. É um clichê, mas toda crise é também uma oportunidade.

Com frequência o ouvimos reforçar a importância do associativismo e união de todos os elos da cadeia. Em momentos de turbulência, manter a unidade é sempre um desafio. Durante esses três anos, o segmento conseguiu evoluir nesse aspecto?
JDS — O associativismo é a arma mais forte para o desenvolvimento setorial. É quando as empresas deixam de olhar apenas para suas necessidades e realidades e passam a olhar para o coletivo, para o que é comum. Precisamos de todos, de empresários dinâmicos, ativos e que participem e colaborem com suas ideias e objetivos. E não há dúvidas: um setor organizado, forte, produtivo e profissionalizado é melhor para todos.

A união dos elos da cadeia também é muito importante, em especial no que diz respeito aos interesses comuns. Mas também é fundamental para que haja respeito nos momentos de interesses conflitantes, como quando cobramos das usinas de base.

Uma das mudanças anunciadas no começo de sua gestão era que ela seria colaborativa e compartilhada, com ainda mais participação dos membros da diretoria. Como tem sido essa experiência?
JDS — Tenho o privilégio de contar com uma diretoria e conselho deliberativo, composto pelos presidentes das entidades regionais afiliadas, de grande representatividade e com muita disposição para os assuntos da associação. Temos bons debates em nossas assembleias, sempre na busca dos melhores caminhos para contribuir com o nosso setor.

Além disso, os vice-presidentes acompanham e participam ativamente de nosso dia a dia, trazendo olhares e experiências complementares que agregam muito à nossa gestão.

A hora é propícia para falar não apenas do seu primeiro mandato, mas de toda a história da Abravidro. Sua família tem mais de noventa anos no segmento e, por isso, conhece muito bem o setor. Qual é a sua avaliação da trajetória da entidade até aqui?
JDS — A Abravidro completou 30 anos de uma bela trajetória de representação e defesa da indústria de processamento no Brasil. Tem uma história importante de contribuições para o setor, com desenvolvimento de normas que regulamentam nossa atuação e nossos produtos, qualificação de mão de obra, popularização da certificação do vidro temperado, defesa dos nossos interesses e realização de eventos que são referências para o mercado vidreiro.

Curiosamente, a Cyberglass foi uma das primeiras associadas da Abravidro, pois acreditávamos na importância de uma associação atuando pelo setor. Na empresa, nós fizemos uso de muitos dos benefícios e serviços oferecidos aos associados, como a especialização técnica para qualificar a nossa equipe. Mas a proximidade com o dia a dia da entidade é mais recente, ocorreu na última década, depois da minha atuação no Sincavesp-SP, entidade regional afiliada à Abravidro.

Quais os principais desafios para a Abravidro e o setor vidreiro nos próximos anos?
JDS — Nós vamos continuar atuando em diversas frentes para fortalecer ainda mais o nosso segmento. Temos o desafio de retomar o crescimento de nossa indústria, que teve retração em 2019, como mostra o novo Panorama Abravidro [encartado nesta edição de O Vidroplano]. Teremos ainda um 2020 desafiador por conta dos impactos da pandemia na economia global.

Além disso, temos uma pauta permanente que é qualificar o consumo do vidro no Brasil, aumentando a participação dos produtos de valor agregado no volume total do produto consumido no mercado brasileiro.

Qual é a sua mensagem ao setor e também aos diretores que dividirão o trabalho em sua gestão até 2023?
JDS — Minha mensagem é um convite a todos os colegas processadores e associados para que se aproximem da entidade. A Abravidro está aqui para atuar incansavelmente em prol do mercado vidreiro nacional. Participem ativamente, tragam suas necessidades, sugestões, ideias e nos ajudem a ser cada vez mais atuantes. Estamos abertos a ouvir e a atender a todos os nossos afiliados e associados em qualquer esfera.

Aos meus colegas de diretoria, agradeço pela confiança e pela disposição de estarem conosco para mais um período de trabalho árduo e intenso. Espero que tenhamos a clareza e sabedoria necessárias para seguirmos sempre com o melhor para o setor.

Este texto foi originalmente publicado na edição 570 (junho de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Glass South America tem nova data

No nosso planejamento de pautas feito no início do ano, esta edição de O Vidroplano teria conteúdo de “aquecimento” para a edição 2020 da Glass South America, a maior feira vidreira da América Latina, prevista para ser realizada em junho. No entanto, surgiu uma pandemia no meio do caminho, e a mostra foi adiada para novembro. Mas a situação do País no combate ao coronavírus segue complicada, sem previsão de melhora. Por isso, a NürnbergMesse Brasil, organizadora do evento em parceria com a Abravidro, decidiu por um novo adiamento: a feira agora está marcada para 24 a 27 de março de 2021. Para entender os motivos, a revista conversou com João Paulo Picolo, CEO da organizadora.

joão-paulo-picolo

O que levou a esse novo adiamento?
João Paulo Picolo — Assim que começou a pandemia do novo coronavírus, vimos que a feira não poderia ser realizada em junho, por uma questão de saúde e responsabilidade com nossos clientes, parceiros e fornecedores. Por isso, negociamos data para novembro com o São Paulo Expo. A agenda dos pavilhões está muito complicada e lotada, uma vez que todos os eventos do primeiro semestre foram adiados e buscavam um espaço no calendário. Graças ao nosso relacionamento, conseguimos segurar essa data em novembro, a única possível para a realização da Glass ainda em 2020. Ao comunicar ao mercado, montamos um comitê com as indústrias do setor para discutirmos o melhor caminho para todos, pois prezamos muito pela transparência e relacionamento com clientes. Com o avanço da quarentena, o mercado nos pediu para que mudássemos novamente a data, pois a economia do setor foi muito afetada. Assim, começamos a renegociar com os pavilhões e buscamos uma solução que foi muito bem aceita. Agora a mostra ocorrerá de 24 a 27 de março de 2021, momento oportuno e junto de outro grande evento nosso do setor de construção, a Expo Revestir, o que proporciona maiores oportunidades de negócios. Nosso objetivo é sempre prestar o melhor serviço e encontrar uma solução para os expositores.

Há chance de a data ser alterada novamente?
JPP — A nova data está confirmada e não há espaço para mudanças. Após negociarmos com o pavilhão, nos reunimos com o comitê representante do mercado e validamos se era uma solução viável. Para nossa felicidade, todos aceitaram muito bem a realização em março de 2021 e ficaram muito empolgados com o período escolhido.

Com essa mudança, a feira passará a ser realizada sempre em anos ímpares?
JPP — Isso mesmo. De agora em diante, o evento será realizado nos anos ímpares, o que é muito bom para o mercado vidreiro brasileiro e latino-americano. Conseguimos um distanciamento e um espaço melhor no calendário internacional do setor. Fizemos uma pesquisa com nossos expositores e clientes e, inclusive, eles preferem a realização em anos ímpares. Então, deu tudo certo.

A programação da feira (incluindo os eventos simultâneos, como o Glass Performance Days South America) será alterada por conta do adiamento?
JPP — Todas as atrações e eventos paralelos serão mantidos. Nós conversamos com os parceiros e eles também aceitaram a nova data de realização. Vamos continuar trabalhando muito para trazer ainda mais conteúdo e experiências para os visitantes.

A feira vai ocorrer paralelamente a outros eventos do segmento da construção, como a já mencionada Expo Revestir. Isso é positivo para expositores e visitantes?
JPP — Isso é muito positivo. A Expo Revestir, também organizada por nós, reúne os maiores arquitetos e varejistas do País. Vamos colocar transporte entre os eventos e criar uma agenda conjunta para que os visitantes consigam aproveitar todas as atrações. Isso vai gerar mais movimento em ambos e também novos contatos e prospectos para os expositores. Como os arquitetos são um dos principais públicos da Glass South America, junto com grandes varejistas, a nova data é muito oportuna — e tenho certeza de que vai ajudar as empresas a se reerguerem com maiores oportunidades de negócios.

glass-south-america

 

A NürnbergMesse Brasil pertence a um grupo internacional. Como a questão dos eventos tem sido tratada lá fora? Em 2021, eles ocorrerão dentro de uma “normalidade” ou ainda serão necessários cuidados como distanciamento mínimo entre visitantes, distribuição de álcool-gel, medição da temperatura corporal etc.?
JPP — A prioridade da NürnbergMesse, no Brasil e no mundo, é a segurança de nossos clientes, parceiros, visitantes e colaboradores. Por isso, voltamos todos os nossos esforços para reformular o calendário da melhor forma possível para nossos mercados de atuação. Tudo vai depender do andamento da doença por aqui e no mundo. Caso não tenham novos casos e encontrem a vacina para a Covid-19 em breve, o próximo ano tende a voltar a essa normalidade. Entretanto, podemos garantir que seguiremos todas as medidas de saúde para oferecer um evento de qualidade e seguro.

O mercado de eventos, em especial de feiras, será impactado no pós-pandemia? Como o grupo está projetando a perspectiva de público para as mostras?
JPP — O cenário é de muitas dúvidas e incertezas, pois ainda não sabemos como será a evolução da doença. Com a quarentena, as empresas ficaram fechadas e tiveram seu faturamento reduzido. A crise afeta não somente o mercado de feiras e eventos, mas todos os setores da economia. Não há como prever prejuízos ou consequências, mas também sabemos que não há como evitar um impacto no mercado. Nossa única certeza é que os eventos são fundamentais na recuperação da economia das indústrias, uma vez que todo o mercado se reúne em um só lugar e é possível buscar por novos produtos e melhores preços. E isso não é um posicionamento somente da subsidiária brasileira: todos os outros países do grupo possuem a mesma diretriz. A força das feiras será muito importante para ajudar a retomada, pois são uma plataforma internacional de marketing e vendas.

Este texto foi originalmente publicado na edição 569 (maio de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Entrevista com Paulo Drummond e Henrique Lisboa

No final de janeiro, o mercado vidreiro recebeu a notícia de que o então presidente da Vivix, Paulo Drummond, deixaria a empresa. À frente da companhia desde o início do processo de sua fundação, em 2010, Paulo Drummond optou pelo desligamento para se dedicar a projetos pessoais. Em seu lugar, assumiu, no dia 2 de março, Henrique Lisboa, ex-diretor Comercial e de Marketing da empresa. Para entender o que representam essas mudanças na única usina vidreira de capital 100% nacional, conversamos com ambos, por e-mail. A conversa você encontra a seguir.

paulo-drummond

 

Paulo, você liderou o projeto do grupo Cornélio Brennand no setor de vidros planos desde o início. Dez anos depois, qual o saldo da empreitada?

Paulo Drummond: Estar à frente da Vivix desde a sua concepção foi um privilégio e sem dúvida uma etapa de extrema relevância em minha trajetória profissional. Foram muitos os aprendizados e conquistas que ficarão em minha memória para sempre. Construímos uma das mais modernas fábricas de vidros planos do mundo, expandimos o nosso portfólio de produtos e melhoramos processos e serviços. Conquistamos o respeito do mercado cumprindo os acordos assumidos e buscamos estar próximos dos nossos clientes, conhecendo as suas particularidades e apoiando-os no desenvolvimento dos seus negócios. Acreditamos que este é um dos principais caminhos para a ampliação da base de consumo do vidro plano no País, além de outras realizações e desafios superados. Enfim, acredito que demos a nossa contribuição para a evolução do mercado e sem dúvida o saldo foi muito positivo e gratificante.

 

Na primeira entrevista que concedeu a O Vidroplano, em abril de 2010, você comentou que o setor vidreiro no Nordeste precisava de desenvolvimento e investimentos, e que a então CBVP vinha para ajudar nisso. Esse desenvolvimento do mercado ocorreu como o esperado ao longo dos anos?
PD: Apesar da maior e mais longa crise econômica que abalou o País, e sobretudo o setor da construção civil no qual estamos inseridos, o mercado como um todo evoluiu. Pudemos contribuir para um maior e melhor abastecimento do setor. Investimos na qualificação da cadeia a fim de compreendermos suas necessidades e assim realizarmos ações personalizadas, visando ao crescimento individual de cada empresa.

 

Todas as demais usinas de base nacionais passaram por mudanças no time de executivos nos últimos anos. Agora, acontece na Vivix também. O que você pode comentar sobre o processo de passagem de bastão para uma nova geração de executivos?
PD: A mudança faz parte de um processo natural de sucessão, seguindo as diretrizes gerais da empresa e os objetivos estratégicos para os próximos anos. Esta foi uma decisão planejada, sempre visando uma transição adequada. A partir de agora, assume a liderança do negócio Henrique Lisboa, executivo experiente que esteve ao meu lado desde a concepção da empresa e dará continuidade à trajetória de crescimento da Vivix.

 

Apesar da maior crise econômica que abalou o País, o mercado como um todo evoluiu”
Paulo Drummond

 

Henrique, você faz parte do grupo Cornélio Brennand há vinte anos. Como é ser indicado para se tornar presidente do braço do setor vidreiro?
Henrique Lisboa: O convite para assumir o comando da Vivix me deixa honrado e também desafiado a dar continuidade ao processo evolutivo da empresa. Faço parte da Vivix desde a sua concepção e visualizo claramente as oportunidades existentes para o setor e para a empresa. Tenho orgulho de pertencer a um grupo empresarial com mais de cem anos de existência, sinônimo de confiança e respeito aos acordos.

 

O processo de sucessão será marcado pela continuidade dos projetos já em andamento?
HL: Sim. Como já demonstramos ao longo desses últimos anos, seguiremos honrando os nossos compromissos assumidos com o mercado e clientes, criando permanentemente possibilidades que visam à evolução do nosso segmento e o fortalecimento da nossa cadeia.

 

Quais serão os desafios que você espera encontrar como presidente da usina?
HL: Precisaremos estar atentos às oportunidades que certamente virão com a retomada do crescimento econômico do País e buscar permanentemente soluções inovadoras, de olho na diferenciação e no desenvolvimento do mercado e dos clientes.

 

A Vivix apostou em modernizar seu parque fabril com tecnologia 4.0 nos últimos tempos. Como isso pode impactar positivamente nos negócios da empresa a partir de agora?
HL: A empresa investe constantemente em automação, tecnologia da informação e digitalização dos seus processos. A partir disso, criamos plataformas inteligentes que fazem com que a Vivix ganhe mais eficiência, velocidade, produtividade e segurança em todas as etapas. Tudo isso visando a uma evolução constante da empresa, a fim de oferecer sempre os melhores produtos e serviços ao mercado.

 

Sempre houve uma expectativa sobre o segundo forno da usina, muito por causa de declarações da própria empresa. Há algum planejamento quanto ao assunto?
HL: Sim. Desde o início do nosso projeto está previsto um segundo forno. Estamos acompanhando a evolução da economia para seguirmos com esse plano.

henrique-lisboa

 

Como se deu a escolha de José Henrique Ribeiro para o cargo de diretor Comercial e de Marketing?
HL: O José Henrique é formado em engenharia mecânica, com MBA em Administração de Negócios no Insper (SP). Ele é um profissional experiente, com forte histórico de atuação profissional dentro da área comercial/marketing, construído em empresas de ponta que atuam com foco no mercado. Será alguém que certamente trará grandes contribuições para o setor.

 

Quais desafios o setor vidreiro deve encontrar nos próximos anos? Vocês acham que nossas empresas estarão preparadas?
PD: Continuamos visualizando uma avenida de oportunidades para o mercado de vidros planos no País. Basta verificarmos o baixíssimo consumo per capita do material em comparação com alguns países da Europa e Estados Unidos. Acredito que a recuperação será moderada a cada ano e que iniciativas voltadas para a qualificação da cadeia e para a divulgação das diversas possibilidades de aplicação do vidro plano, inclusive com produtos de maior valor agregado, serão fundamentais para a evolução do mercado. Tudo isso, associado à recuperação da economia por meio de um novo modelo econômico, com taxas de juros mais baixas e maior incentivo ao crédito, impulsionará os financiamentos de imóveis e consequentemente o setor da construção civil.

 

“Precisamos focar esforços para elevar o nível de serviço dos profissionais em contato com o consumidor”
Henrique Lisboa

 

HL: O maior desafio é estar preparado para as novas oportunidades que virão, e um dos maiores gargalos que identificamos é a baixa qualificação da cadeia. O setor precisa focar esforços no sentido de elevar o nível de serviço dos profissionais que estão em contato direto com o consumidor final. Com uma maior qualificação e conhecimento do produto, surgirão novas possibilidades de aplicação, uma maior confiança na especificação e instalação do material, e consequentemente uma opinião maior valorização e consumo de vidros de maior valor agregado.
Paulo, do que mais sentirá falta em relação ao nosso setor?
PD: Sem dúvida, sentirei muita falta do convívio com as pessoas da empresa e do mercado. Fiz bons amigos.

 

Gostariam de deixar uma mensagem final ao setor e aos clientes?
PD
: Agradeço ao mercado pela confiança na Vivix e pelas relações construídas. Compartilho o meu mantra que é: “Seja simples, sonhe alto, seja grato e sorria muito!”.

 

HL: Reafirmamos o nosso compromisso com o desenvolvimento do nosso setor. Nosso objetivo é estar cada vez mais próximos dos consumidores, ofertando produtos e serviços que tragam valor para nossa cadeia. A evolução da Vivix somente será possível como consequência natural do crescimento e desenvolvimento dos nossos clientes.

 

Este texto foi originalmente publicado na edição 567 (março de 2020) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.