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PKO do Brasil aposta na profissionalização da gestão familiar

Com sede na cidade de Mogi das Cruzes (SP), a 66 km da capital paulista, a PKO do Brasil é uma empresa familiar, como tantas outras empresas de nosso segmento. No entanto, a visão pragmática de seus administradores a destaca no concorrido cenário do mercado vidreiro: para a família Ang, de origem indonésia, profissionalismo é a palavra-chave quando se fala em sucessão.

Jovem liderança feminina
A PKO é liderada hoje por Myrian Ang, sua diretora-executiva e filha de Yao Ang, fundador da companhia nos anos 1990. Ela representa a segunda geração de gestores de sua família – inclusive, faz parte do comitê de empresas familiares do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). O processo para que Myrian assumisse os negócios contou com ajuda externa. “Por volta de 2010, a gente trabalhou com algumas consultorias, mas não funcionou muito bem, porque acho que a empresa não estava tão madura para isso. Mas há quatro anos, contratamos um consultor que nos auxiliou – e hoje ele é o nosso conselheiro externo.”

Esse profissional, inclusive, faz parte do conselho da processadora, órgão responsável pelas tomadas de decisão do negócio. O conselho da PKO é formado ainda por Yao e seu irmão Walter (sócio-investidor do empreendimento, ele mora fora do País e não está envolvido diretamente no dia a dia das atividades industriais). Myrian tem o papel de reportar a esse órgão o andamento da operação. “Os nossos números, o orçamento, o planejamento estratégico para os próximos cinco anos, tudo é aprovado dentro do conselho, juntamente com esse conselheiro consultivo. A gente faz essa prestação de contas porque a decisão tem de sair de lá”, revela Myrian.

Sem pressa para subir degraus
Depois de estagiar em empresas de outros segmentos, Myrian começou sua trajetória na PKO também como estagiária, de forma a entender os processos sem atropelar etapas – assim, ela estaria apta para tocar os negócios quando o momento para isso chegasse. A executiva destaca que o pensamento sempre foi “vamos começar de baixo”. Este, segundo ela, é um ponto muito crucial para a governança: “Ter papéis claros não só para a família, mas para os profissionais em volta. É um pré-requisito e todos têm ciência disso”.

Seu primeiro papel de liderança veio após anos acompanhando a rotina da empresa. Sempre ficava muito próxima aos gerentes. Em termos de aprendizado, fazia alguns relatórios para tentar entender todos os números. “Não tenho vergonha de perguntar como é que faz. A gente sempre vai avançando com os conhecimentos de todo mundo.”

Conheça a PKO

  • Instalada em Mogi das Cruzes (SP)
  • Planta com 20 mil m² de área
  • Mais de 300 funcionários
  • A processadora não revela a sua capacidade produtiva
  • Atende a diferentes segmentos da construção, incluindo indústrias de esquadrias, construtoras e decoração
  • Foco em vidros especiais, como laminados em suas diversas especificações (multilaminado, colorido, acústico etc.), privativos e plumbífero, entre outros – inclusive, a empresa acabou de investir em uma nova linha de laminados, com tecnologia da Benteler

História: de início curioso a processadora de grande porte
O nome PKO vem de palm kernel oil, termo em inglês para definir o óleo da semente de dendê. A empresa, fundada por Yao Ang, surgiu como importadora e distribuidora do produto para grandes indústrias químicas nacionais, como Colgate-Palmolive e Oxiteno. Em 1998, após a fabricante da qual a PKO comprava o insumo mudar sua estratégia de exportação, dificultando a aquisição do insumo, o vidro apareceu na vida de Ang: ele teve a ideia de importar chapas de float da Indonésia, seu país natal.

A partir de 2002, ocorre a mudança definitiva nessa trajetória: a companhia adquire os primeiros maquinários para o processamento de vidro – caminho esse trilhado desde então.

 

Foto: Ivan Pagliarani
Foto: Ivan Pagliarani

 

“Nunca quis ser a ‘filha do dono’; queria a minha trajetória”

Myrian Ang, diretora-executiva da PKO, explica o processo de sucessão familiar da empresa

Você sempre teve certeza de que queria atuar na empresa de sua família ou tinha outras perspectivas?
Myrian Ang – Eu sou formada em administração com ênfase em marketing, pela ESPM [Escola Superior de Propaganda e Marketing]. Então, sabia que gostava de administrar empresas – e, na minha cabeça, não necessariamente a PKO. Trabalhei como estagiária fazendo todos os relatórios financeiros de uma multinacional, respondendo diretamente para uma diretoria. E isso me foi dando um pouco mais de informação.

Na PKO, comecei de baixo mesmo, como estagiária do marketing, implementando sites, tentando entender o produto, a precificação. E, ao mesmo tempo, como adorava números, também fazia relatórios, tentava entender como o negócio funcionava. E assim fui galgando, acrescentando novas funções. Acho que o principal foi que eu nunca quis ser a “filha do dono”; queria a minha trajetória. Então, fiquei muito tempo até como estagiária, aprendendo mesmo. Nunca tive vergonha de perguntar “como faz isso? Por que isso acontece?”.

Eu só assumi um papel de liderança depois de uns quatro, cinco anos, na gerência administrativo-financeira. Fui absorvendo conhecimento de outras áreas, de outras lideranças e montando um time. Então, acabou sendo algo muito gradual e tranquilo.

De acordo com sua experiência, quais são os pontos críticos que merecem mais atenção no processo de sucessão e também na profissionalização da gestão?
MA – O primeiro ponto são os papéis claros de cada um em relação a cargos e salários. Eu não recebo um salário de filha, recebo um salário de diretora-executiva. O meu irmão recebe um salário de diretor-comercial, e vai desempenhar o papel de comercial.

São essas situações que fazem a diferença. Pois isso passa segurança aos profissionais que estão na empresa, já que conseguem enxergar com muita clareza os papéis deles na organização.

O segundo ponto é ter transparência nos números. A gente conta com auditoria externa há mais de dez anos, até para justificar os números apresentados aos outros sócios. Essa rotina de prestação de conta é essencial, não? Por exemplo, meu tio tem três filhos: e se eles resolverem entrar na empresa, como vai funcionar? Hoje, eles moram fora do País. Se voltarem para o Brasil, como será a inserção no negócio? E como prestar conta disso para o sócio? Então, tudo isso precisa ser muito bem desenhado, para que não haja dúvida sobre a clareza de todos esses processos.

Qual o conselho que você daria para empresas familiares do setor que estejam caminhando para um momento de sucessão?
MA – Eu fui muito abençoada, tive muita sorte de meu pai permitir que eu errasse, acertasse, de a gente fazer essa troca de conhecimento. É preciso saber quem será o sucessor e fazer com que a pessoa tenha respeito pelo passado, não pensar algo como “o jeito que o meu pai faz está errado, vou fazer tudo diferente”. É preciso ter muita paciência nessa jornada. Os envolvidos precisam respeitar-se e entender que a empresa vive momentos diferentes. O ideal é entender os papéis, como vai funcionar o papel do sucessor e de quem vai ser sucedido, ir fazendo isso de uma forma muito clara e sem rompimentos. Meu pai fala que ele não me deu o bastão: ele me passou o bastão e estamos caminhando juntos com esse bastão.

O setor vidreiro conta com uma atuação majoritariamente masculina, como bem sabemos. Você entende que caminhamos em que ritmo para atingir a equidade de gênero?
MA – Acho que a gente tem bastante coisa para evoluir, mas encontramos muitas mulheres incríveis na gestão. De certa forma, eu tive muita sorte: tenho um irmão mais velho, um irmão mais novo, sou de uma família oriental. Tinha tudo para o meu pai passar o bastão para um dos homens, e acabou que eu assumi esse papel. Então, a questão do gênero não pesou. Quando se olha realmente o desempenho, o que precisa entregar, quais os papéis que as pessoas precisam cumprir, não precisa olhar o gênero, se é homem ou mulher. Acho que isso é o principal que precisa acontecer.

Já que estamos falando de mão de obra, esse tema tem sido um desafio para toda a indústria nacional, não só a indústria vidreira, tanto do ponto de vista da qualificação como da disponibilidade de profissionais querendo atuar nesse ramo. Existe uma questão geracional e muitas outras envolvidas. Vocês também têm encontrado dificuldades nesse assunto?
MA – É um desafio geral, mesmo. O que a gente tem feito é mostrar com clareza a empresa em que o profissional está entrando. Eu estava até explicando para algumas pessoas o quanto a gente tem um time que desenvolve a carreira deles, por meio de treinamentos. Temos cada vez mais nos aprofundado em RH, eu diria, para trazer benefícios visando a mudar esse cenário, de forma que as pessoas queiram vir trabalhar com a gente. Mas o desafio continua bastante intenso.

Este texto foi originalmente publicado na edição 627 (março de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Divulgação PKO do Brasil

Modelo Vidros completa trinta anos com nova planta

Imagine celebrar um aniversário importante de sua empresa com uma sede novinha em folha? Foi isso que aconteceu com a Modelo Vidros em 2024: a beneficiadora gaúcha completou três décadas de atividades e inaugurou, em dezembro, sua planta renovada na região da Serra Gaúcha, após quatro anos de obras e investimento de R$ 80 milhões.

Tecnologia de ponta
A nova sede da Modelo Vidros conta com área total construída de 35 mil m² – espaço três vezes maior que o antigo. Com isso, a empresa triplica sua capacidade produtiva de processamento de nosso material, chegando a 1.500 t por mês. O financiamento da unidade teve apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão público voltado ao fomento à inovação nas indústrias.

 

Foto: Verso/Divulgação
Foto: Verso/Divulgação

 

A sustentabilidade é um dos focos do projeto. A fábrica ganhou um sistema de reaproveitamento de água que garante 0% de desperdício desse insumo utilizado em diversas áreas, como lapidação e lavagem. “Investimos em processos e soluções que minimizem nosso impacto ambiental. Nossa fábrica foi projetada para ser mais eficiente com o uso de energias renováveis, sistemas de reuso de água e materiais que respeitam os padrões atualizados de sustentabilidade”, afirma Neiva Nicaretta, fundadora e diretora da empresa.

“A ideia é que a nova fábrica da Modelo Vidros seja um ponto de referência. Aqui temos máquinas altamente tecnológicas, equipamentos de última geração e processos reconhecidos no mundo todo operados por profissionais de altíssima capacidade”, explica o diretor Leonir Nicaretta, também fundador da companhia.

Cerimônia
A inauguração oficial da planta ocorreu no dia 6 de dezembro, com a presença de autoridades, parceiros e imprensa, incluindo o prefeito de Garibaldi, Sérgio Chesini, e o presidente da Abravidro, Rafael Ribeiro, que discursou durante a cerimônia: “O Rio Grande do Sul tem um dos melhores parques industriais do mundo e essa nova sede é um exemplo disso. Estamos vendo hoje uma das fábricas mais modernas do País”.

 

Conheça mais sobre a Modelo Vidros

  • Fundada em 1994
  • Tem equipe com mais de 200 colaboradores
  • Foco na produção de vidros para a construção civil, mas também fornecendo para a indústria de móveis de alto padrão (outra empresa do grupo produz ainda tampas de vidro para panelas)
  • Atende mais de mil clientes ativos, entre construtoras, indústrias de esquadrias e vidraçarias, do Rio Grande do Sul e parte de Santa Catarina
  • Com o aumento da capacidade produtiva, a ideia é ampliar o mercado, chegando a outras regiões do Brasil

 

Foto: Vagão Filmes/Divulgação
Foto: Vagão Filmes/Divulgação

 

“Estamos prontos para enfrentar os desafios do setor”
O Vidroplano conversou com Leonir Nicaretta, diretor e fundador da Modelo Vidros, sobre o futuro da empresa após o investimento na nova sede

A Modelo Vidros completou trinta anos de trabalho atuando em um segmento marcado pela competitividade. Qual o segredo para a longevidade da empresa dentro do setor vidreiro?
Leonir Nicaretta – Sempre investimos em inovação e tecnologia, garantindo que nossos produtos se mantenham atualizados com as tendências do setor. Além da diversificação que o mercado sempre exigiu, buscamos trabalhar com práticas sustentáveis e com grandes parceiros para manter a reputação da marca.

Houve um alto investimento na construção da nova sede e também na divulgação dessa conquista. É um recado para o mercado de que os objetivos da Modelo Vidros são grandes?
LN – A nova fábrica não é apenas um recado ao mercado, mas, sim, um forte indicativo de que estamos prontos para enfrentar os desafios do setor. Com a modernização das nossas instalações, estamos implementando automação e mantendo um alto padrão de qualidade, características que se tornam essenciais no mercado atual. Além disso, a nova sede nos permite operar com a agilidade que os clientes buscam, garantindo que possamos atender suas necessidades de forma rápida e eficiente. Essa combinação de inovação, qualidade e rapidez posiciona a Modelo Vidros como uma empresa preparada para um mercado competitivo.

Além de aumentar a capacidade produtiva, o que a nova fábrica agrega em termos de portfólio de produtos?
LN – Com a chegada de novos equipamentos, como a linha de laminados, hoje conseguimos processar vidros com desbaste de borda (como os low-e) e principalmente vidros insulados de grandes dimensões. Além da linha de laminado com autoclave, todo o nosso estoque é automatizado e integrado ao ERP – desde o corte até o processo final do produto. Estamos implementando ainda junto ao nosso ERP o endereçamento das peças de todo o processo fabril. Com isso, vamos ganhar agilidade e qualidade.

O setor vidreiro tem enfrentado dificuldades nos últimos anos, especialmente com relação à demanda por vidros. Por que, mesmo com essas notícias não tão boas, vocês seguem investindo no segmento?
LN – Porque acreditamos no potencial de crescimento a longo prazo. O mercado de vidros está em constante evolução, com novas aplicações e tecnologias emergindo constantemente. E nosso compromisso com o cliente é atender suas necessidades, mantendo o foco na diversificação e nos diferentes nichos, mesmo em tempos desafiadores. A adaptação e a visão futurista são essenciais para garantir nossa posição no mercado e contribuir para o desenvolvimento do setor como um todo.

 

Leonir apresenta a nova sede da Modelo Vidros aos convidados presentes na inauguração da planta (Foto: Vagão Filmes/Divulgação)
Leonir apresenta a nova sede da Modelo Vidros aos convidados presentes na inauguração da planta (Foto: Vagão Filmes/Divulgação)

 

No vídeo sobre a sede postado nas redes sociais da empresa, há depoimentos de diversos profissionais com muito tempo de casa. Ao mesmo tempo, nota-se que a mão de obra qualificada é um gargalo na indústria brasileira como um todo – e também em nossa cadeia. Como vocês têm feito para enfrentar essa situação?
LN – Para enfrentar o desafio da escassez de mão de obra qualificada, temos investido fortemente em programas de capacitação e treinamento contínuo para nossos colaboradores. Reconhecemos que o conhecimento e a experiência de nossa equipe são fundamentais para garantir a qualidade e a inovação nos produtos. Criamos um ambiente de trabalho que valoriza o desenvolvimento pessoal e profissional, promovendo a troca de experiências entre colaboradores mais experientes e os novos integrantes da equipe. Essa sinergia é essencial para continuar a oferecer soluções de alta qualidade aos clientes. Acreditamos que investir em capital humano é um passo crucial para o sucesso sustentável da empresa e do segmento. E temos de aproveitar o que está disponível para agregar conhecimento à área em que atuamos. Um exemplo disso está no incentivo ao uso da plataforma Educavidro, que é completa e educativa, além de ser a única disponível no segmento. [Nota da redação: a Modelo Vidros foi uma das dez empresas cujos funcionários mais utilizaram o Educavidro no primeiro ano da plataforma.]

Qual o recado da Modelo para o mercado?
LN – É um recado de otimismo e compromisso. Em tempos de desafios, reforçamos nossa determinação em continuar inovando e oferecendo produtos de qualidade que atendam as demandas do setor. Acreditamos no potencial do mercado vidreiro e estamos empenhados em contribuir para um futuro mais sustentável e eficiente. Estamos aqui para apoiar nossos parceiros e clientes, ouvindo suas necessidades e oferecendo soluções personalizadas que agreguem valor. Juntos, podemos superar obstáculos e construir um segmento mais forte e resiliente.

Este texto foi originalmente publicado na edição 625 (janeiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Verso/Divulgação