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Programas para desenvolvimento industrial tentam retomar crescimento do setor

No dia 25 de maio, comemora-se o Dia da Indústria. Historicamente protagonista da economia brasileira, esse setor perdeu fôlego ao longo das últimas décadas. Parques fabris diminuíram, capacidade de investimento despencou, número de trabalhadores caiu – e isso em um momento em que indústrias estrangeiras se fortaleceram, como a chinesa, tornando-se mais produtivas.

Já que o segmento vidreiro está inserido nesse contexto, O Vidroplano traz um resumo da desindustrialização vivida pelo País, mostrando de que forma isso pode ser combatido. Confira detalhes de programas para o desenvolvimento industrial disponíveis atualmente – soluções que podem fazer nossa indústria retomar a glória de outros tempos.

O maior inimigo da indústria
Reverter a desindustrialização (que é exatamente esse processo de perda de competitividade do segmento) é crucial para o Brasil crescer de forma sustentável. De acordo com a CNI, a cada R$ 1 produzido na indústria, são gerados R$ 2,44 na economia como um todo – como comparação, na agricultura é gerado R$ 1,74 e nos setores de comércio e serviços, R$ 1,52. Fica claro, então, que o segmento tem capacidade para alavancar os demais setores produtivos.

“Precisamos nos unir e defender uma estratégia de política industrial de longo prazo, perene, para o Brasil. Nós, da indústria, devemos seguir o exemplo do agro e trabalhar, unidos, para que a nova política de desenvolvimento industrial tenha as mesmas condições e alcance o êxito do Plano Safra”, comentou o presidente da CNI, Ricardo Alban, em evento no fim do ano passado, fazendo referência ao programa do governo federal para impulsionar a agricultura nacional. E já que investimento é fundamental, programas envolvendo parcerias entre Estado e iniciativa privada, com o objetivo de fortalecer a cadeia, foram criados nos últimos tempos, oferecendo empréstimos a condições especiais.

Um passeio pela história recente da indústria nacional
Nas últimas quatro décadas, a participação da indústria de transformação brasileira no PIB também caiu bastante:
33% => 15%

Participação da indústria no PIB (em %)

Fontes: Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Fontes: Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

 

Ocupação na indústria de transformação (em % do total de empregos)

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego
Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego

Participação da indústria de transformação no PIB (em %)
Até a Argentina, país com uma economia bem menor que a nossa, conta com uma indústria proporcionalmente mais importante do que a brasileira.

Fonte: KoreaStat, Deutsche Bundesbank, Birô Nacional de Estatísticas da China, Instituto Nacional de Estadística e Censos
Fonte: KoreaStat, Deutsche Bundesbank, Birô Nacional de Estatísticas da China, Instituto Nacional de Estadística e Censos

 

Causas para a situação

  • Juros altos
  • Incertezas macroeconômicas
  • Infraestrutura deficiente
  • Sistema tributário complexo e oneroso
  • Falta de integração entre empresas e governo
  • Pouco investimento em pesquisa e desenvolvimento: indicador representa somente 1,2% do PIB brasileiro, contra 2% nos países da OCDE

Exportação de produtos industrializados com alta tecnologia

  • Brasil: 9%
  • México: 19%
  • Média da OCDE*: 16%

* A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reúne algumas das economias mais avançadas do mundo

 

“No caso do Brasil, o que se nota é um avanço do setor do agronegócio, principalmente exportador, e do setor de serviços, principalmente de serviços financeiros, em detrimento do setor industrial. Nações ricas da Europa e os Estados Unidos também se moveram em direção aos serviços, mas sem abrir mão de avançar nas indústrias de alto valor agregado, que são puxadoras do restante da economia.”
João Carlos Ferraz, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em entrevista à Folha de S.Paulo

 

Instrumentos para as empresas
Atualmente, a principal política de desenvolvimento da indústria vem do governo federal. Lançado no início de 2024, o programa de financiamento Nova Indústria Brasil (NIB) completou um ano de existência tendo viabilizado investimentos de R$ 3,4 trilhões em áreas estratégicas, incluindo produtividade, transformação digital das empresas e modernização do parque industrial brasileiro.

Com o objetivo de impulsionar a indústria nacional até 2033, o NIB usa, para estimular setores da economia, instrumentos tradicionais de políticas públicas, como subsídios, empréstimos com juros reduzidos e ampliação de investimentos federais, e também incentivos tributários e fundos especiais. A maior parte dos recursos virá de financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Do total investido até o momento, R$ 1,2 trilhão vieram do governo federal e R$ 2,2 trilhões do setor privado (desse último valor, R$ 1,06 trilhão foram destinados à construção civil).

Entre as missões do programa estão:

  • Digitalizar 90% das indústrias brasileiras;
  • Triplicar a participação da produção nacional no segmento de novas tecnologias;
  • Cortar em 30% a emissão de gás carbônico por valor adicionado do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria;
  • Aumentar o uso tecnológico e sustentável da biodiversidade pela indústria em 1% ao ano.

E a efetividade da ação parece ter-se confirmado, como apontou o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços: “A indústria geral apresentou um crescimento de 3,1% em 2024. Apenas a de transformação cresceu 3,7%, o dobro do da média mundial. A indústria tem sido essencial para a criação de emprego e renda para o nosso país”. Os dados foram mencionados durante coletiva de imprensa em fevereiro, na qual se fez um balanço do primeiro ano do NIB.

 

Foco na produção
De acordo com o BNDES, empresas de todos os portes podem acessar os recursos disponíveis por meio de linhas de financiamento reembolsáveis ou não reembolsáveis e instrumentos do mercado de capitais. A mais importante divisão do NIB é o Plano Mais Produção, que conta com quatro eixos de atuação:

Indústria Mais Produtiva

  • Expansão da capacidade e modernização do parque industrial
  • Financiamentos com juros reduzidos para digitalização e financiamentos não reembolsáveis para até 90 mil pequenas e microempresas

Indústria Mais Inovadora e Digital

  • Juros reduzidos para apoio à inovação e digitalização via BNDES e Finep
  • Criação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Industrial e Tecnológico (FNDIT)

Indústria Mais Exportadora

  • Criação do BNDES Exim Bank, versão do BNDES voltada para apoio à exportação

Indústria Mais Verde

  • Criação do Novo Fundo Clima: projetos de descarbonização da indústria com juros a partir de 6,15% ao ano

 

Conheça outros programas de financiamento relevantes

  • Brasil Mais Produtivo
    Coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), tem como foco o fomento às pequenas, médias e microempresas dos segmentos da indústria, comércio e serviços. Foi integrado ao NIB no que diz respeito à incorporação de tecnologias digitais, especialmente as desenvolvidas e produzidas no País, para aumento da produtividade, redução dos custos operacionais e impulsionamento do faturamento.
  • Programa de Depreciação Acelerada
    Segundo pesquisa da CNI de 2023, o maquinário do parque industrial brasileiro tem, em média, catorze anos de uso, sendo que 38% das máquinas estão próximas ou já ultrapassaram a idade prevista pelo fabricante como ciclo de vida ideal. Para tentar solucionar a questão, o MDIC, em parceria com o Ministério da Fazenda, criou o Programa de Depreciação Acelerada visando a impulsionar a compra de novas máquinas e equipamentos. Após adquirir um bem de capital, a empresa poderá antecipar nos dois anos seguintes o abatimento de impostos nas declarações do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – antes do programa, eram quinze anos para o abatimento. Isso ajudará o fluxo de caixa da empresa enquanto ela se recupera dos investimentos feitos para a aquisição.
  • BNDES Finame
    Voltado para produção e aquisição de máquinas, equipamentos e bens de informática e automação, de fabricação nacional e credenciados pelo BNDES. São cinco linhas de financiamento disponíveis a empresas sediadas no País; fundações, associações e cooperativas; e ainda entidades e órgãos públicos.
  • Finep Inovacred
    Tem o objetivo de apoiar empresas no desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços – ou no aprimoramento dos já existentes, visando a ampliar a competitividade dos negócios no âmbito regional ou nacional.

 

Como conseguir financiamento
Não existem restrições quanto ao tipo e ao porte da indústria que pode se candidatar ao financiamento do NIB. Basta estar alinhada às missões da ação e atender as condições da linha de crédito da instituição financeira que realizar o financiamento.

A seguir, confira respostas para algumas dúvidas que podem surgir sobre o tema:

  • Onde conseguir o financiamento?
    Diversas instituições financeiras são parceiras do NIB, oferecendo os produtos ligados ao programa, incluindo Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste. Confira se seu banco faz parte da ação.
  • Quais os valores financiados?
    Dependem da forma de contratação da operação, da linha de financiamento escolhida e das regras do agente financeiro. Exemplo: em operações contratadas via agentes financeiros credenciados no BNDES, não há valor mínimo – e o valor máximo é de R$ 20 milhões para o subprograma Difusão Tecnológica, por exemplo. Já em operações centralizadas, contratadas diretamente via Finep, como a linha Finep Mais Inovação, o valor mínimo é de R$ 15 milhões para empresas com receita operacional bruta acima de R$ 90 milhões.
  • Quanto tempo leva para aprovar financiamentos e liberar recursos?
    De novo, depende da linha de financiamento do agente financeiro, podendo levar de 15 a 75 dias para a análise e contratação, com liberação em até 2 semanas após a assinatura do contrato. Quando as empresas estão com a documentação em ordem, esse prazo pode diminuir consideravelmente.
  • É preciso prestar contas dos investimentos?
    Para a aquisição de máquinas, não – basta a nota fiscal do bem em posteriores declarações. No entanto, para alguns projetos de inovação, a prestação de contas precisa seguir um cronograma, incluindo metas, atividades e indicadores do projeto.

Este texto foi originalmente publicado na edição 629 (maio de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: jirsak/stock.adobe.com

Governo analisa aumento de importações de para-brisas da Malásia

A Circular Secex nº 27/2025, publicada em 24 de abril, dá início ao processo de revisão anticircunvenção para averiguar a existência de práticas comerciais elisivas nas importações de para-brisas da Malásia (NCMs 7007.21.00, 7007.29.00 e 8708.29.99). Tais importações teriam como objetivo frustrar a eficácia do direito antidumping aplicado sobre vidros automotivos da China. A revisão foi iniciada a pedido da Abividro. A partir de uma análise inicial, o Departamento de Defesa Comercial (Decom) entendeu haver indícios dessa tentativa, tendo em vista que:

  • Houve aumento relevante do volume importado de para-brisas originários da Malásia, com início após a aplicação do antidumping, o que se intensificou após sua renovação;
  • Há evidências de que os preços dos para-brisas malaios são inferiores aos praticados nas importações chinesas;
  • As exportações de para-brisas são relevantes em relação às vendas totais do produto na Malásia;
  • Há evidências de que mais de 60% das partes, peças ou componentes utilizados na fabricação do produto malaio vieram da China.

Próximos passos e histórico
As partes interessadas (exportadores da Malásia, importadores que adquiriram produto desse país e qualquer outra que justifique interesse no tema) poderão participar do processo, a fim de comprovar se houve ou não a circunvenção. De acordo com o cronograma publicado na circular, o parecer final deve ser publicado até outubro deste ano.

Esta é a segunda revisão anticircunvenção aberta para apurar práticas elisivas nas importações de para-brisas. Em março de 2024, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) estendeu o direito antidumping originalmente aplicado às importações brasileiras de para-brisas automotivos originárias da China, às importações brasileiras de vidros recurvados, biselados, gravados, brocados, esmaltados ou trabalhados de outro modo para posterior utilização na fabricação de vidros laminados automotivos. O PVB estava incluso nos produtos investigados, mas ficou de fora da lista final.

Este texto foi originalmente publicado na edição 628 (abril de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto: eakarat/stock.adobe.com

Setor carece de mão de obra qualificada e interessada

Não é de hoje que, em conversas entre profissionais vidreiros, revela-se a dificuldade em encontrar mão de obra qualificada e interessada para nossas empresas. E esse cenário é muito mais abrangente do que aparenta: a indústria nacional como um todo, além de outros setores, como o de varejo e o de serviços, também sofre com a questão. Mas por quê?

Achar uma resposta pode ser uma tarefa complexa, já que o assunto envolve diversos tópicos distintos – da mudança de percepção da geração Z, formada por nascidos a partir da segunda metade dos anos 1990, sobre como encarar o trabalho à queda da atratividade do regime da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), passando ainda pelo crescimento da noção de empreendedorismo individual, entre outros aspectos.

Números do mercado
De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ibre), 58,7% das empresas do País relatam dificuldades para conseguir novos funcionários ou reter trabalhadores antigos – e, entre as que enfrentam tal adversidade, quase 80% apontam a contratação como o maior desafio quando se fala em gestão de mão de obra. O estudo, realizado em outubro, consultou 3.707 companhias de variados setores (indústria, comércio, serviços e construção civil).

Para o economista Rodolpho Tobler, coordenador das sondagens empresariais do FGV Ibre, é justamente a construção civil a cadeia mais afetada pela questão: a oferta de mão de obra não cresce na mesma proporção que a demanda, especialmente após projetos do governo federal para o fomento da atividade, como a expansão do programa Minha Casa, Minha Vida. Mais de 20% das empresas desse segmento estão atrasando entregas e 18% chegam ao ponto de rejeitar novos contratos – para comparação, a média percentual de todos os setores juntos é de 8,4%.

“O crescimento potencial do Brasil poderia ser maior se tivéssemos mão de obra qualificada que conseguisse atender toda essa demanda. Enquanto não temos, isso reforça nossos problemas estruturais”, comenta Tobler em uma reportagem do jornal O Globo, publicada em novembro, após a divulgação do estudo. “Apesar do aumento da escolaridade, muitas vezes essa qualificação não é direcionada para as demandas do mercado, o que compromete os ganhos de produtividade.”

No ano passado, a falta ou o alto custo de trabalhadores qualificados foram a preocupação que mais cresceu entre os industriais no terceiro trimestre, segundo a pesquisa Sondagem Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em relação à medição anterior, o crescimento foi de quase cinco pontos percentuais, passando de 18,6% para 23%, fazendo o problema pular do 6º para o 3º lugar na lista de preocupações. “Isso tem a ver com questões ligadas ao mercado de trabalho aquecido e ao próprio aumento da produção. É uma questão que preocupa, pois pressiona custos das empresas. Consequentemente, pode prejudicar a avaliação da situação financeira e a recuperação da indústria a médio prazo”, aponta o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo.

O mais curioso é a situação ocorrer em meio ao menor nível de desemprego do País desde 2012 (6,2%).

  • Como indicou reportagem da Veja publicada em fevereiro, o número de pessoas ocupadas cresceu 9% entre dezembro de 2019 e dezembro de 2024;
  • No mesmo período, o contingente de desocupados caiu 43%;
  • E o número de pessoas em idade para trabalhar subiu 4,6%;
  • Isso tudo indica um grande contingente de pessoas disponíveis para trabalho. No entanto, somente 63% dessas pessoas estavam inseridas no mercado no fim do ano passado.

Parte disso pode ser explicada por transformações naturais ocorridas nos negócios ao longo dos anos, incluindo o surgimento de diferentes formas de consumo e o avanço da tecnologia. O setor varejista, por conta do aumento significativo do comércio online, viu diminuir a demanda por vendedores em lojas físicas e aumentar a procura por profissionais voltados para as áreas de tecnologia e logística. Mas questões geracionais e mudanças na forma de encarar o trabalho também contribuem para a questão.

Um novo tipo de trabalhador
Conceitos como trabalho remoto ou híbrido e flexibilidade de horários se tornaram parte da vida de diversos trabalhadores por conta da pandemia. E isso fez com que tais atributos passassem a ser mais valorizados por quem procura emprego.

Estudo do economista Bruno Imaizumi, da LCA 4intelligence, com base em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), revela que 37,9% dos desligamentos em janeiro de 2025 foram a pedido do trabalhador – a taxa vem subindo desde 2020.

“Entram na conta qualidade de vida e tempo de deslocamento. E ainda, como ficou muito mais fácil abrir empresa, há crescimento de microempreendedores individuais (MEIs). Empregos que exigem presença física, como indústria e construção civil, perdem. Tem a questão do e-commerce e da digitalização. Com a taxa de desemprego baixa, com esses níveis de demissão em patamares elevados, as empresas terão de se adequar às novas relações de trabalho, repensar bastante como manter esses funcionários”, comenta Imaizumi em matéria de O Globo.

Nessa mesma reportagem, o professor do Departamento de Sociologia e do Núcleo de Estudos de Trabalho e Sociedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Tiago Magaldi, afirma que uma das grandes mudanças no mercado de trabalho é a derrocada da CLT: “Não em sua perspectiva objetiva, de proteção ao trabalhador, mas na expectativa de inclusão, de futuro. Ele ganha mais em troca de aceitar não ter vínculo trabalhista, fazem uma leitura pragmática da situação”.

Isso pode ajudar a explicar a alta taxa de rotatividade: mais de um terço dos trabalhadores com carteira assinada mudaram de emprego nos últimos 12 meses, segundo o estudo da LCA. Em fevereiro, por volta de 40% dos profissionais com até 29 anos haviam trocado de ocupação ao longo do último ano. O conceito da “uberização” do trabalho, no qual a pessoa pode ser a “chefe” de si mesma, trabalhando para plataformas como Uber e iFood, também entra nessa conta complexa.

Um levantamento produzido pelo Instituto Ideia mostra que 30% dos jovens sonham ter o próprio negócio. Ter carteira assinada, portanto, é algo considerado “ultrapassado” para as gerações mais novas. E isso tudo acaba se provando na prática. “Vemos cada vez mais pessoas procurando por um emprego, mas poucas realmente dispostas a trabalhar, especialmente quando a função exige esforço, dedicação ou envolvimento mais intenso. Existe uma percepção de que qualquer trabalho que demande mais energia já não vale a pena, o que cria um desalinhamento entre as oportunidades oferecidas e a disposição real de parte dos candidatos”, relata a diretora de Suprimentos da processadora Cyberglass, Gláucia Guerrero. “Além disso, a alta rotatividade e a mudança no perfil dos profissionais, que agora valorizam mais propósito e flexibilidade, tornam a retenção um desafio. Tudo isso reforça a necessidade de processos seletivos cada vez mais estratégicos e assertivos”, comenta o CEO da empresa, José Domingos Seixas.

Os principais motivos para pedidos de demissão em janeiro de 2025

  • Novas vagas em vista
  • Salários baixos
  • Saúde mental
  • Problemas éticos nas empresas
  • Falta de flexibilidade na carga horária

Fonte: LCA 4intelligence, com base em dados do Caged

 

Fonte: Professor Dado Schneider, especialista em colaboração intergeracional, em entrevista à Pequenas Empresas, Grandes Negócios (foto: lithiumphoto/stock.adobe.com)
Fonte: Professor Dado Schneider, especialista em colaboração intergeracional, em entrevista à Pequenas Empresas, Grandes Negócios (foto: lithiumphoto/stock.adobe.com)

 

O que fazer sendo empresário?
Seis em cada dez empregadores pelo mundo já demitiram profissionais da Geração Z recém-formados. As motivações para as demissões incluem falta de motivação ou iniciativa (50%), habilidade de comunicação precária (39%) e falta de profissionalismo (46%). Os dados são da plataforma internacional de educação Intelligent.com.

Mas a demissão de quem representa parte do presente e o futuro da mão de obra não pode ser normalizada. A pesquisa do FGV Ibre citada anteriormente revela ações tomadas pelos empresários para reverter a escassez de mão de obra: 44% investem na capacitação interna, desenvolvendo meios para qualificar o funcionário uma vez que ele está dentro da organização – considerando apenas a indústria, mais da metade das empresas vem adotando essa prática. Aumentar benefícios é a escolha de 32% dos entrevistados.

No setor vidreiro, a PKO é um exemplo da aposta em treinamentos. “O que a gente tenta é mostrar com clareza a empresa na qual a pessoa está entrando. Então, cada vez mais temos nos aprofundado em recursos humanos, para que mudemos um pouco esse cenário e as pessoas queiram vir trabalhar conosco”, explica Myrian Ang, diretora-executiva da companhia.

Pensando nisso, a processadora criou o programa Universidade PKO, que possui trilhas de conhecimento para desenvolver habilidades dos funcionários – em áreas como as de liderança, atendimento e excelência técnica, entre outras. “A gente acredita nesse projeto como um dos pilares para a retenção. Mas não basta só qualificar: é preciso ter um programa claro de cargos e salários, estimular o autodesenvolvimento para que as pessoas olhem para a carreira que querem seguir dentro da empresa”, comenta Myrian. “São diversas ações que fazem com que quem está aqui permaneça – aliadas ainda a uma cultura colaborativa, que busca criar um ambiente bom, de troca.”

Mas a qualificação ajuda a resolver apenas um ponto do assunto. Como agir diante da diferença de valores e visões de mercado entre diferentes gerações? “É essencial reconhecer as habilidades e experiências únicas que cada grupo traz para a mesa”, orienta a especialista em gestão de pessoas Manu Pelleteiro em depoimento para a CNN Brasil. Para quebrar barreiras e contornar estereótipos, ela sugere “mentorias reversas”, com jovens ensinando habilidades tecnológicas enquanto os mais velhos compartilham vivências práticas. “O estigma de que as pessoas mais velhas são inflexíveis pode dificultar a comunicação e a colaboração intergeracional. No entanto, é importante não generalizar, pois muitos profissionais mais velhos também podem ser adaptáveis e abertos a novas ideias, além de a experiência ser um fator que pode colaborar muito ao enfrentar novos desafios”, explica.

E além do papel do contratante, as pessoas contratadas também precisam tentar se adaptar às realidades do mercado de trabalho. “A nova geração muitas vezes não foi preparada para lidar com responsabilidade e resiliência. Sem uma mudança de cultura dentro das famílias, incentivando disciplina, dedicação e compromisso desde cedo, vai ser muito difícil mudar esse cenário só com ações das empresas”, afirma o diretor de Operações da Cyberglass, Rodrigo Guerrero.

Relações mais saudáveis
Em relação aos jovens da geração Z, especialistas em recursos humanos indicam ações que gestores de pessoas podem tomar para estreitar os laços na empresa (afinal, relações profissionais devem ser vias de mão dupla):

  • Evitar conflitos: não incentive um clima de “nós” (quem já está na empresa) contra “eles” (os novatos). É possível ensinar aprendendo. Novas gerações podem ter ideias disruptivas sobre o futuro de um negócio, por exemplo;
  • Estar aberto para novas possibilidades: jovens valorizam ambientes com os quais têm a oportunidade de contribuir de forma menos fria e mais pessoal;
  • Olhar para si mesmo: se a empresa tem muitos problemas com funcionários jovens, um movimento interessante, ao invés de somente culpá-los, é analisar a cultura de trabalho da fábrica. Talvez as cobranças e oportunidades oferecidas não sejam as ideias para se criar um ambiente saudável – e ajustes precisarão ser feitos.

 

Foto: goodluz/stock.adobe.com
Foto: goodluz/stock.adobe.com

 

Assistencialismo social x falta de mão de obra: qual a relação?
Com a ampliação do programa Bolsa Família durante a pandemia, surge a dúvida em parte dos setores econômicos se o assistencialismo social não contribuiria para a falta de mão de obra – pois os contemplados poderiam ter receio de perder o benefício no caso de conseguirem empregos, evitando se candidatar a vagas disponíveis.

Na verdade, dados mostram uma situação inversa. Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), no ano passado, 75,5% das vagas no mercado de trabalho foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família.

Já existe, inclusive, um dispositivo para evitar essa situação: o governo federal criou em 2023 a Regra de Proteção, garantindo que parte do benefício continue sendo recebida por um período de até dois anos após a conquista de um emprego. Com isso, a pessoa terá maior segurança enquanto se estabilizar financeiramente.

Estudo de Gabriel Mariante, pesquisador de doutorado na London School of Economics (LSE), mostra que mulheres beneficiárias do Bolsa Família têm uma probabilidade 7,4% maior de se inserir no mercado formal de trabalho do que mulheres não beneficiárias.

Este texto foi originalmente publicado na edição 628 (abril de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Governo federal decide não aplicar direito antidumping provisório

Iniciada em julho do ano passado, a investigação sobre dumping nas importações de vidros float incolores (NCM 7005.29.00), com espessuras de 1,8 mm a 20 mm, oriundas de Malásia, Paquistão e Turquia, chegou a uma determinação preliminar: a de que houve dano à indústria vidreira nacional. No entanto, optou-se por não aplicar o direito antidumping provisório. Isso foi o que informou o Departamento de Defesa Comercial (Decom), da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), parte do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), na Circular Nº 12, publicada em 19 de fevereiro no Diário Oficial da União.

Passo a passo
O processo atende um pleito da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), protocolado em março do ano passado. A entidade reuniu dados para provar a existência de dumping, de dano à indústria e também de nexo causal (a relação entre o dumping e o dano observado) nos vidros importados dessas origens. O governo federal, então, abriu investigação sobre o assunto, enviando questionários para as fabricantes dos países investigados e para os importadores brasileiros dessas empresas.

Cumpridas tais etapas, foi feita a análise das informações disponíveis, e os órgãos responsáveis entenderam que, sim, há sinais de dumping. Porém, não há necessidade de aplicar o direito antidumping provisório – a decisão de aumento para 25% na taxa de importação do float incolor, anunciada em dezembro, pesou para essa determinação, já que, naturalmente, o imposto mais alto deve frear as importações.

Em alta
A investigação ocorre em meio a uma alta importante das importações de vidro. De acordo com as estatísticas oficiais de comércio exterior no Brasil, em 2024 tivemos a maior marca de importação de nosso material desde 2014: importamos 140 mil toneladas apenas de vidros float. Além disso, o volume de importação de processados também cresceu, especialmente a de laminados, com alta de 34% no ano passado na comparação com 2023 (é o número mais alto da última década).

O que vem a seguir
No dia 20 de fevereiro, realizou-se audiência com representantes das usinas de base brasileiras e representantes das empresas dos três países para dar continuidade à investigação. A decisão final é esperada para o fim de 2025 ou começo de 2026.

O que é dumping
É uma prática comercial que consiste em uma ou mais empresas de um país vender seus produtos, mercadorias ou serviços por preços extraordinariamente abaixo de seu valor justo para outro país, com o intuito de prejudicar e eliminar os fabricantes de itens similares concorrentes no local. Quando tal prática é comprovada, medidas antidumping são adotadas para neutralizar os efeitos danosos à indústria nacional.

Este texto foi originalmente publicado na edição 626 (fevereiro de 2025) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Wirestock/stock.adobe.com

Governo aumenta tarifa para importação do float incolor

Em reunião realizada no dia 11 de novembro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) optou por elevar de 9% para 25% a tarifa do Imposto de importação do vidro float incolor para o território brasileiro – o produto está classificado com a Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM) 7005.29.00. A decisão foi validada pela Resolução Gecex nº 675, publicada no Diário Oficial da União no dia 6 deste mês. A medida entrou em vigor no dia 10. Importante: ela valerá somente no Brasil, para produtos de qualquer origem, inclusive de países membros do Mercosul, e terá validade de doze meses.

Importação sem controle
A decisão atende um pleito da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) e está amparada no mecanismo de Desequilíbrios Comerciais Conjunturais (DCC), criado pelo Mercosul para barrar os impactos às indústrias dos países membros do bloco por conta de flutuações transitórias no comércio de produtos, causadas, por exemplo, pelo aumento repentino nas importações ou queda anormal de preços dos produtos importados.

O volume de float incolor importado pelo Brasil disparou em 2023, chegando a 123 mil t, maior nível desde o início do direito antidumping, em 2014. Este ano, o acumulado até outubro beirava as 122 mil t. O DCC permite que os países membros elevem as alíquotas de importação acima da Tarifa Externa Comum (TEC) de forma temporária, a fim de proteger seus mercados e economias. O governo brasileiro aderiu ao mecanismo alegando o incentivo à produção local e à criação de empregos.

 

Foto: Aleksei/stock.adobe.com
Foto: Aleksei/stock.adobe.com

 

Outros setores produtivos também recorreram à Camex por meio do DCC e tiveram seus pleitos atendidos. Houve, recentemente, aumento da alíquota da importação de pneus de veículos de passeio e manufaturas de ferro e aço e também de diversos produtos químicos.

E importante lembrar: em julho, o Departamento de Defesa Comercial (Decom), da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), aprovou o início de investigação para averiguar a existência de dumping nas exportações de vidros float incolores (NCM 7005.29.00), com espessuras de 1,8 mm a 20 mm, oriundas de Malásia, Paquistão e Turquia. O processo vai conferir ainda a existência de possível dano à indústria nacional decorrente dessa prática.

Float colorido
A Camex ainda avalia outra solicitação da Abividro referente aos vidros float coloridos. O tema foi analisado em reunião no dia 10 deste mês, e seguirá em deliberação no próximo encontro do órgão, a ser realizado nos primeiros meses de 2025. A Abravidro, por meio da Nasser Advogados, escritório que presta consultoria sobre defesa comercial para a entidade, acompanha o caso para manter seus associados e o mercado informados.

Este texto foi originalmente publicado na edição 624 (dezembro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Yellow Boat/stock.adobe.com

Governo inicia investigação de dumping

No dia 29 de julho, o Diário Oficial da União publicou a Circular nº 36, informando que o Departamento de Defesa Comercial (Decom), órgão da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio e Serviços (MDIC), aprovou o início de investigação para averiguar a existência de dumping nas importações de float incolores (NCM 7005.29.00), com espessuras de 1,8 mm a 20 mm, oriundas de Malásia, Paquistão e Turquia. O processo vai conferir também a existência de possível dano à indústria nacional decorrente dessa prática.

Processo
A análise dos elementos de prova de dumping vai considerar o período de janeiro a dezembro de 2023 – já o período de análise de dano à indústria analisa o período de janeiro de 2019 a dezembro de 2023. O processo atende uma petição da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), protocolada em março deste ano. “É importante entender a tecnicidade de um processo como esse. Não é uma coisa qualquer. Segue regras internacionais e existe em vários outros países”, comenta o presidente-executivo da Abividro, Lucien Belmonte. “A competição justa é válida para todo mundo. Porém, no momento em que essa competição é destrutiva e se utiliza de subterfúgios, obviamente nós temos de reagir. Se não nos protegermos, podemos acabar deixando destruírem nosso mercado.”

Belmonte participou de um episódio do VidroCast, o podcast da Abravidro, para debater a importância do antidumping para o setor vidreiro nacional. O advogado e consultor jurídico da Abravidro, Rabih Nasser, também participou da conversa, conduzida pela editora de O Vidroplano, Iara Bentes. “É importante fazer a distinção entre as medidas relacionadas ao comércio exterior. Existem as de proteção, que incluem a elevação do imposto de importação, garantindo que determinada indústria se desenvolva melhor por conta da produção local de um produto”, explica Nasser. “Já as de defesa comercial visam a lidar com práticas desleais, como o dumping.”

Afinal, o que é dumping?
Sempre que o governo brasileiro recebe uma petição para a aplicação de medidas antidumping e a acata, inicia-se uma investigação na qual todas as partes interessadas (produtores/exportadores estrangeiros e importadores brasileiros do produto investigado, bem como os representantes dos governos dos países citados) têm ampla oportunidade de participação. Como revela Rabih Nasser, a investigação (que pode durar de 10 a 18 meses) tem por objetivo verificar a existência de três pontos:

  1. Prática de dumping por parte das empresas exportadoras: “Muita gente acredita que o dumping significa vender abaixo do preço de custo, mas não é isso: é vender abaixo do preço que a empresa vende no seu mercado de origem. E muitas vezes isso é feito com o objetivo de ganhar mercado em outro país, tirando participação daquela indústria doméstica”;
  2. Dano causado à indústria nacional: “É preciso comprovar que as indústrias atingidas estão sofrendo dano conferindo os indicadores de performance durante um período. São quatorze indicadores analisados – e olhando para o conjunto deles, deve se identificar uma deterioração da situação da indústria doméstica”;
  3. Nexo de causalidade: “É a ligação entre os outros dois fatores: é preciso demonstrar que o dano foi causado pelas importações a preço de dumping e não por outros fatores, como concorrência interna ou importações de outras origens”.

Caso a investigação comprove a prática de dumping, dano e nexo causal, o governo pode aplicar medidas antidumping. Essa decisão é aplicada pelo prazo de cinco anos, havendo a possibilidade de pedido de revisão visando à prorrogação da medida.

De olho no assunto
Importante ressaltar que já existe um direito antidumping para float em vigor: a medida, inicialmente implementada em 2014, foi renovada em 2021 por um prazo de cinco anos e é aplicada às importações brasileiras de floats incolores, com espessuras de 2 a 19 mm (NCM 7005.29.00) originárias da China, Egito e Emirados Árabes Unidos. Vidros do México originalmente estavam inclusos na medida, mas houve a imediata suspensão de sua aplicação, em razão da existência de dúvidas quanto à provável evolução futura das importações originárias do país.

A Abravidro acompanha a nova investigação com atenção, sendo habilitada como parte interessada do caso. Por isso, não deixe de acompanhar os desdobramentos ao longo dos meses por meio de nossos canais, até a decisão final do governo brasileiro sobre o assunto.

Este texto foi originalmente publicado na edição 620 (agosto de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto: Kalyakan/stock.adobe.com

Números do Panorama Abravidro são assunto no VidroCast

No último mês de maio, a Abravidro publicou a edição de 2024 do Panorama Abravidro, o principal estudo econômico e produtivo do setor vidreiro nacional. E durante a Glass South America, os dados revelados pelo Panorama 2024 foram tema de um bate-papo entre Alexandre Pestana, ex-presidente e diretor da Abravidro, e Sergio Goldbaum, economista da GPM Consultoria (empresa responsável pelo estudo). A conversa, um dos episódios do VidroCast, o podcast da entidade, rendeu ótimas reflexões sobre o desempenho do mercado em 2023. Por isso, retomamos o assunto para complementar a análise da atual situação de nosso segmento. Confira a seguir os principais pontos dessa entrevista.

Boom desperdiçado?
Com a queda de 1,8% da produção em 2023, o acumulado dos últimos três anos nesse indicador soma 12% de redução – o que leva nosso mercado de volta ao patamar da crise de 2016, momento que encerrou o ciclo de crescimento local do segmento de vidros planos. O faturamento das empresas também teve baixa (-9,7%), somando 20% de queda em dois anos, resultado do processo de deflação e acomodação do setor no pós-pandemia.

É importante recordar que, em 2020, primeiro ano de pandemia, o setor marcou alta de dois dígitos em ambos os quesitos: 14,4% na produção e 12% no faturamento. O que aconteceu para não aproveitarmos o bom momento vivido pouco tempo atrás? Para Pestana, a explicação é simples. “O vidro tem dois momentos muito específicos na construção civil: as obras novas, que vão bem desde o período da pandemia, e as reformas. E aí está a diferença, pois esse consumo ‘formiguinha’ não seguiu com a mesma tração.”

Goldbaum concorda: “É possível que, na pandemia, os consumidores de forma geral tenham antecipado as decisões de reforma. E, após um período de alta, é normal ocorrer uma ressaca. Mas em pouco tempo isso deve se recuperar”.

 

Alta nas importações de vidro float – e também do processado – dificulta ainda mais o balanço da cadeia vidreira nacional (foto: Kalyakan/stock.adobe.com)
Alta nas importações de vidro float – e
também do processado – dificulta ainda
mais o balanço da cadeia vidreira nacional (foto: Kalyakan/stock.adobe.com)

 

Aumento nas importações
Outro assunto delicado é o aumento das importações de vidro – cresceram mais de três vezes em relação a 2022. No caso do float, a matéria-prima básica do setor de transformação, voltou-se ao volume encontrado em 2014, ano que marcou o início da vigência do direito antidumping no Brasil. E o problema se dá também nos vidros processados: o volume de laminado importado, por exemplo, foi o maior desde o ano 2000.

Este ano, os números referentes à importação seguem altos – no entanto, a alta recente nos custos do frete internacional e do dólar pode mudar o cenário. “Para um setor com capacidade doméstica plena, como o nosso, a importação é algo indesejável, uma vez que temos capacidade produtiva, tecnologia e produtos de qualidade sendo feitos pela indústria de base e de transformação”, alerta Pestana. “A importação vem para dificultar mais ainda o balanço da cadeia.”

Mercado internacional
Existe ainda uma preocupação extra: o excedente da produção da Ásia, em especial o da China. Mais de 50% do vidro fabricado no mundo vem desse país, e esse montante tem como consumidor o próprio mercado doméstico da construção civil, que apresenta sinais de forte desaceleração. Isso pode trazer ainda mais instabilidade na questão da balança comercial do vidro brasileira – e de várias outras nações.

“Muitos países estão adotando saídas protecionistas em vários segmentos. À medida que grandes consumidores desses produtos aprovam tais ações, sobram produtos no mercado internacional, fazendo com que o preço deles caia. Então, o setor deve olhar com muita atenção para esse ambiente externo”, comenta Goldbaum.

Números como ferramenta de gestão
Uma dúvida comum que pode surgir nos empresários vidreiros é como aproveitar os dados tanto do Panorama como do Termômetro Abravidro no dia a dia das empresas. De acordo com Pestana, a primeira dica é comparar o seu resultado com o do mercado: “Faça isso mensalmente, pois assim você consegue avaliar o desempenho de sua empresa. Depois vem o segundo passo, talvez o mais importante: toda indústria precisa pensar a médio e longo prazos. Você ter disponíveis para análise indicadores de tanta qualidade, com uma série histórica tão longa, contribui de forma decisiva para a tomada de decisões, de investimentos e de rumos que você pode dar ao seu negócio”. Vale lembrar que não apenas as processadoras usam essas informações para se planejar: outros players do setor, como fabricantes de insumos e maquinários, também procuram os estudos da Abravidro de olho em como anda o mercado.

Para Goldbaum, um setor industrial como o vidreiro sempre fica à mercê das questões macroeconômicas nacionais. “Por isso, o que podemos fazer é analisar as informações e se preparar não só para os momentos ruins, mas também para os bons.”

 

mercado3-jul2024

 

Combatendo a baixa produtividade
De acordo com o Panorama 2024, a produtividade das processadoras foi de 149,3 m² de vidro processados por funcionário ao mês. O número é o pior desempenho da série histórica: desde 2021, o indicador apresenta viés de queda. Nos últimos dez anos, só houve crescimento nesse quesito em 2015 e 2020.

Esse dado vai na contramão do visto na indústria nacional como um todo, que está em processo de avanço na digitalização das operações, deixando seus processos mais produtivos. De acordo com o Índice de Produtividade Tecnológica (IPT) da Manufatura, estudo realizado pela empresa de tecnologia TOTVS em parceria com a companhia de pesquisa h2r insights e trends, as empresas de manufatura brasileiras evoluíram no ganho de produtividade tecnológica nos últimos cinco anos: subindo da média de 0,52 ponto, registrada em 2019, para 0,71 ponto.

O IPT tem como objetivo avaliar o uso, internalização e ganho de performance a partir da adoção de sistemas de gestão e tecnologias complementares. O comparativo de cinco anos mostra que, embora a indústria seja tradicionalmente vista como menos suscetível à disrupção digital rápida, a transformação digital está em curso e impactando várias áreas desse setor, da produção à logística e interação com o cliente.

Mas há esperança de melhora nos números vidreiros: 19% das empresas respondentes do Panorama afirmam que desejam realizar grandes investimentos em 2024, contra 15,5% no ano passado, o que pode contribuir para a modernização e ganho de produtividade das indústrias de transformação vidreiras.

Este texto foi originalmente publicado na edição 619 (julho de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte

O Vidroplano traz guia completo sobre temperados

Boxes de banheiro, portas, fechamento de sacadas, vitrines: alguns dos itens com vidro mais populares em nosso país contam com um elemento em comum – o temperado. Popular em todas as regiões brasileiras, esse tipo de vidro oferece diversas possibilidades para quem trabalha no setor, do processador ao vidraceiro. Pensando nisso, O Vidroplano preparou um guia completo sobre o produto. Aproveite!

O que é
O temperado é um vidro que recebe tratamento térmico, passando por um processo de aquecimento e rápido resfriamento. Essa mudança brusca de temperatura aumenta a tensão interna do material, fazendo-o ganhar mais resistência mecânica e a choques térmicos. Na comparação com o vidro float comum, o temperado pode ser até cinco vezes mais resistente. Por isso, assim como o laminado, é considerado um vidro de segurança. Em caso de quebra, fragmenta-se em pequenos pedaços sem lascas cortantes (ao contrário do que se vê em um vidro comum), diminuindo o risco de ferimentos.

Histórico
A primeira tentativa de patente de um processo para deixar o vidro mais resistente data de 1874, pelo francês Francois Royer de la Bastie: envolvia banhar vidro semiderretido com óleo ou graxa aquecida. Em 1877, o alemão Friedrich Siemens desenvolveu uma ideia diferente, pressionando o vidro em moldes frios. Mas é com o processo do químico austríaco Rudolph A. Seiden que o temperado como o conhecemos começa a nascer. A partir dos anos 1930, inicia-se a produção em massa desse material nos Estados Unidos, França e Japão, sendo popularizado pelo mundo na década de 1970.

Produção
A fabricação desse tipo de vidro ocorre no forno de têmpera (horizontal ou vertical). Depois de temperado, ele não pode ser beneficiado, ou seja, cortado, lapidado ou furado, porque irá provocar a sua quebra. Por isso, qualquer processo de transformação tem de ser feito antes da têmpera.

Aplicações

  • Boxes de banheiro;
  • Envidraçamento de sacadas;
  • Portas, divisórias, vitrines e muros;
  • Fachadas verticais e janelas deslizantes (permitido no pavimento térreo; nos demais pavimentos, pode ser aplicado desde que esteja acima da cota de 1,10 m em relação ao piso);
  • Janelas projetantes (quando estiverem acima do 1º pavimento, precisam ser totalmente encaixilhadas e com a projeção máxima de 250 mm da face da fachada ou da aba de proteção).

 

Foto: noprati/stock.adobe.com
Foto: noprati/stock.adobe.com

 

Mercado
De longe, o temperado é o vidro processado mais consumido no Brasil. Como bem mostra o Panorama Abravidro 2024 – cujos dados completos você encontra na matéria da página 34 –, no ano passado, o temperado representou 59,3% da produção de vidros transformados em nosso país. Existe alguma resposta para isso?

Para Cláudio Lúcio da Silva, instrutor técnico da Abravidro, as características históricas e vicissitudes do mercado vidreiro nacional levam a esse cenário. Para ele, o nível de acesso e o entendimento da tecnologia de têmpera são maiores que nos de outros tipos de vidro, fazendo com que esse produto esteja no topo da lista para atender as necessidades do mercado de construção civil/arquitetura. No entanto, segundo Cláudio, outros vidros de valor agregado, principalmente o laminado, deveriam ser mais usados, já que podem oferecer vários benefícios.

Na visão de Raphael Gallegos, diretor de Produção da Reflex Tempervidros, as processadoras enfrentam atualmente desafios significativos para equilibrar qualidade, prazo e variedade de vidros a serem temperados. “A qualidade das chapas fornecidas pelas usinas tem diminuído ao longo dos anos, exigindo inspeções mais rigorosas em várias etapas do processo para evitar que cheguem ao cliente problemas como manchas, fissuras internas e outras imperfeições que possam comprometer a qualidade final do produto”, afirma.

Apostar no maior uso de vidros de valor agregado pode ajudar a processadora a se diferenciar da concorrência, elevando o nível de qualidade de sua produção, explica o gerente-geral da Sulglass, Gillie Follador: “Esses materiais auxiliam na diversificação da gama de produtos oferecida e servem como vantagem competitiva, permitindo-nos alcançar um nicho específico de clientes”.

Por isso mesmo, é fundamental orientar arquitetos e consumidores finais sobre as possibilidades em termos de execução, proporcionando uma compreensão clara dos produtos mais adequados para cada ambiente, alerta Gallegos. “Dessa forma, será evitado o uso inadequado de produtos que, embora tecnicamente corretos, não oferecem benefícios reais.”

A importância dos fornos
O forno de têmpera é o equipamento mais robusto e tecnológico encontrado no processamento desse tipo de vidro. A vida útil de uma máquina como essa pode passar de duas décadas caso seja bem-cuidada. No entanto, a questão está diretamente relacionada à eficácia da instalação e também da aplicação de um plano de manutenção. Vale frisar ainda que a gestão de boas práticas operacionais, incluindo a atualização de componentes digitais e físicos, tem impacto direto nos custos, na capacidade de obtenção de receita e no lucro líquido da empresa.

Nos últimos tempos, o sistema de convecção foi uma das principais inovações para aumentar a qualidade do processo, sendo usado por processadoras pelo mundo todo. Com ele, o vidro é aquecido por meio de rajadas de ar, o que deixa a temperatura em toda sua massa mais uniforme – essa tecnologia, inclusive, é indicada para o processamento de chapas com revestimento, como o low-e.

Os fornos mais modernos atualmente contam ainda com outras tecnologias, como:

  • Sistema de colchão de ar, fazendo com que a superfície do vidro não tenha contato com os rolos;
  • Conjunto de duplo aquecimento e resfriamento;
  • Sistema de correção automatizada dos parâmetros técnicos de processo;
  • Alta eficiência energética, o que garante maior economia de eletricidade.

Instalações autoportantes
Uma das principais características técnicas do temperado é a possibilidade de se suportar de forma independente, dispensando o auxílio de outras estruturas. Isso permite que o material seja instalado de forma autoportante – em divisórias, por exemplo –, devido à sua resistência mecânica superior.

Mas, atenção: a especificação deve ter cuidados redobrados em relação ao dimensionamento das peças, posicionamento de furos e recortes e à própria instalação da estrutura. Além disso, deve-se levar em conta o ambiente, o tipo característico do público que vai acessar o espaço e ainda a frequência de trânsito das pessoas.

 

Foto: noprati/stock.adobe.com
Foto: noprati/stock.adobe.com

 

Mão de obra especializada
Para administrar toda essa potência tecnológica, a qualificação da mão de obra é essencial para uma processadora. “Sem treinamento e conhecimento técnico adequados, o resultado são lacunas no processo, gerando diversas dificuldades, como maiores custos e riscos para a reputação da empresa”, explica Cláudio Lúcio. “Tem-se ainda um comprometimento da imagem da indústria vidreira como um todo frente a administradoras, investidores, construtoras e cliente final. A cada erro provocado pela falta de qualificação, haverá mais ocorrências de problemas relacionados à especificação, beneficiamento e aplicação, gerando impeditivos para o aumento de consumo per capita de nosso produto.”

Pensando na questão, a Abravidro criou, em 2011, a Especialização Técnica Abravidro. O programa conta com um módulo sobre têmpera e aborda temas como a física envolvida nesse processo, a condução do forno, a qualidade e a relação entre o número de fragmentos x tensão. O módulo inclui ainda ensinamentos sobre como avaliar a condição do equipamento, a rotina para resolução de problemas e muito mais.

Certificação
Outra forma de garantir a segurança da fabricação é obter a certificação voluntária para vidros temperados, concedida por Organismos de Certificação de Produto (OCP) que são acreditados pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro.

Para ser aprovada, a empresa precisa passar por três avaliações:

  • Processo de fabricação: deve estar adequado para produzir itens de qualidade, seguindo os requisitos da portaria do Inmetro que regulamenta a certificação;
  • Sistema de gestão da qualidade: é obrigado a atender determinados requisitos da norma mundial ISO 9001;
  • Ensaios: os vidros precisam ser aprovados nos ensaios estabelecidos pela norma técnica ABNT NBR 14698 — Vidro temperado.

Todo o processo é mais simples do que parece – e a Abravidro oferece uma consultoria para auxiliar as processadoras interessadas na chancela. “Os empresários ficam surpreendidos logo na visita inicial, pois conseguimos verificar o quanto a empresa já está adequada para atender boa parte dos requisitos necessários”, explica Edweiss Silva, consultor da entidade para Certificação Inmetro. Após a elaboração de um cronograma de atividades, é possível determinar quando a empresa estará pronta para receber a visita do auditor (um representante do OCP) – o prazo costuma ser de dois a quatro meses.

Entre as vantagens para a empresa certificada estão:

  • Implementação de melhorias no processo produtivo, resultando em maior controle dos procedimentos e menor desperdício e retrabalho;
  • Permissão para colocar o selo com as logomarcas do Inmetro e do OCP nos produtos certificados;
  • Proteção jurídica contra reclamações, já que a certificação é um atestado de que a empresa atende os requisitos normativos e regulamentações legais;
  • Possibilidade de atender mercados que exigem padrão de segurança atestado, como o de grandes construtoras.

Para saber mais detalhes sobre a consultoria, entre em contato com Edweiss Silva pelo e-mail esilva@abravidro.org.br ou telefone (11) 3873-9908. É associado Abravidro? Então, aproveite valores e condições exclusivas para a contratação.

Normas
A ABNT NBR 14698 — Vidro temperado, norma técnica focada no produto, está passando por um processo de revisão e atualização. O trabalho, coordenado pelo Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37), com sede na Abravidro, inclui mudanças na estrutura da norma, com o objetivo de organizar melhor as informações, além da atualização de pontos como os requisitos de tolerâncias dimensional, de esquadro e de empenamento, e o aprofundamento de temas como distorção óptica, furos e recortes. Está sendo discutida também a inclusão de um texto adicional sobre a esmaltação do vidro (aplicação de esmalte sobre sua superfície) durante a têmpera, uma vez que o consumo de temperados esmaltados vem aumentando ano após ano no Brasil. É possível participar das reuniões remotas online: basta confirmar presença enviando e-mail para cb37@abnt.org.br.

Temperado é a mesma coisa que termoendurecido?
Não, são produtos diferentes. Ambos são produzidos no forno de têmpera, mas a diferença está na curva de resfriamento durante o tratamento térmico. E, vale reforçar, temperado é um vidro de segurança; já o termoendurecido, não. Mesmo tendo resistência mecânica superior à do float (dependendo da espessura, pode ser até duas vezes e meia mais forte), ele se fragmenta em pedaços um pouco maiores quando partido. É normalmente utilizado na composição de laminados ou insulados.

Este texto foi originalmente publicado na edição 617 (maio de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Amorim Leite

O Vidroplano celebra a força de trabalho feminina em nosso setor

Segundo estudo do Observatório Nacional da Indústria, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as mulheres respondem por um quarto da força de trabalho na indústria brasileira. Em relação a cargos de gestão, a participação é maior – mais de um terço. Apesar de o número ser inferior a outros setores, nos quais elas ocupam quase a metade das funções de liderança, o crescimento desse indicador na indústria foi três vezes maior (considerando o período de 2008 a 2021).

É uma representação pequena, mas o aumento constante da presença feminina num ramo considerado “masculino” mostra que, felizmente, a retrógrada ideia de certos trabalhos “não serem para mulher” vem perdendo espaço na sociedade. E o setor vidreiro é um exemplo claro disso, como pode ser visto a seguir.

Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, O Vidroplano dá voz a diversas profissionais de vários elos da cadeia. Elas contam sua trajetória no vidro, mostrando que capacidade e qualificação não se medem a partir do gênero de uma pessoa, e comentam sobre o preconceito ainda existente no mercado.

 

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Camille da Silva Jacinto
Diretora-geral da Temperlândia

  • Trajetória no setor
    “Meu pai fundou o grupo empresarial PR Jacinto há mais de cinquenta anos. Então costumo dizer que nasci no vidro. No entanto, antes de trabalhar no meio, estive em outros setores, como consultoria empresarial e dando aulas no Senac [Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial]. A minha vinda para nosso ramo se deu por uma necessidade interna familiar e, por mais que eu não atuasse, o vidro sempre foi minha paixão.”
  • Preconceito
    “Posso dizer que o preconceito é tão institucionalizado e enraizado que eu mesma cometia e me cobrava, não só por ser mulher, como pela idade e também pelo fato de querer romper o paradigma de herdeira. Ainda hoje me vejo explicando a normalidade de uma mulher dentro da produção, conversando com uma maioria esmagadora de homens e me sentindo confortável ao discutir assuntos dominados majoritariamente por eles há muito tempo. Creio que o esforço maior seja quebrar nossos próprios paradigmas.”
  • A importância das oportunidades
    “Assim como em outros mercados, o setor vidreiro tem passado por atualizações e mudanças que incluem maior participação feminina, inclusive em cargos de gestão. Além de uma visão mais detalhista, as mulheres têm trazido condições trabalhistas mais favoráveis, mais aproximação familiar e melhores práticas ambientais.”

 

 

 

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Glória Cardoso
Gerente-geral de Arquitetura Pilkington e Blindex

  • Trajetória no setor
    “Iniciei minha carreira na Pilkington/Blindex há treze anos, como estagiária de marketing, e passei pelas funções de assistente, analista e gerente de Marketing. Atualmente respondo sobre o sistema Blindex de franquias e licenciamento, linhas de vidros e sistemas especiais para grandes obras e vidros para linha branca. O que eu buscava lá no início era uma oportunidade em uma grande empresa, preferencialmente uma indústria. Foi o que encontrei na Pilkington, onde se deu meu primeiro contato com o mercado vidreiro, o que rapidamente despertou meu interesse por conta de sua grandeza, versatilidade e inúmeras possibilidades de crescimento.”
  • Preconceito
    “Não sofri preconceito por ser mulher. Sempre me posicionei como profissional, palavra sem gênero, que serve tanto para homens como para mulheres e, desde que iniciei minha carreira, me esforço para fazer com que os resultados do meu trabalho me credenciem para os próximos passos.”
  • Desigualdade
    “Eu acredito em meritocracia. Mas não podemos negar: para além da dedicação profissional, a jornada de uma mulher na sociedade é, sim, muito mais extensa. Considere uma profissional que chega às 8 horas para trabalhar e já cumpriu uma jornada doméstica antes de começar o expediente – e ainda cumprirá outra quando retornar ao lar no fim do dia. Essa jornada em casa consome parte importante da energia disponível ao trabalho na empresa, de modo que, para entregar resultados excelentes, essa mulher precisará de ‘estoques adicionais’ de energia física, mental e emocional. E tudo isso, se não reposto na mesma proporção, pode representar risco não só à carreira, mas à saúde dela.”
  • Visibilidade
    “É uma alegria imensa e uma grande responsabilidade ocupar uma posição de liderança em uma empresa que está inserida em um mercado predominantemente masculino. Em 2024, vamos para o 5ª Transparência com Elas, que cresce a cada ano e já faz parte do calendário anual de eventos da empresa, sendo palco para palestras e discussões sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, na indústria e na sociedade. Vale lembrar também que, em 2022, a companhia recebeu o Selo Paulista de Diversidade, do governo do Estado de São Paulo, que certifica boas práticas empresariais como a preocupação e inclusão das temáticas relacionadas às questões étnicas, raciais, de gênero, idade, orientação sexual etc.”
  • A importância das oportunidades
    “Com certeza o setor tem se atualizado. Ainda somos minoria, ainda temos muito território a conquistar, mas é preciso reconhecer que o número de mulheres atuantes tem crescido ano após ano, também em posições de destaque. Acredito que isso se deva, primeiro, à competência das profissionais e à necessidade, reforçada por demandas sociais e legais, que as empresas hoje têm de trabalhar em prol da equidade.”

 

 

 

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Denise Fonseca
Diretora-comercial da Glasspeças

  • Trajetória no setor
    “Completo dezenove anos no setor em julho. Estava me desligando de uma instituição financeira e, a convite de uma grande amiga, iniciei minha jornada em uma metalúrgica. Não tinha conhecimento nenhum do mercado vidreiro ou de ferragens, mas sempre fui curiosa e procurava entender qual a finalidade de cada item que vendíamos – não somente a ferragem, mas sua aplicação no vidro. Assim, pouco a pouco, fui absorvendo conteúdo, técnicas e a vasta possibilidade do material. Me encantei e sou vidrada até hoje por nosso segmento.”
  • Preconceito
    “Sofro até hoje, por parte de instaladores e vidraceiros que não confiam nas informações técnicas que me solicitam. É comum eu esclarecer uma questão para alguém e, na sequência, ouvir o telefone do nosso técnico tocar – é a mesma pessoa com a mesma dúvida. Eu sorrio e me preparo para auxiliar o próximo que me chamar.”
  • A importância das oportunidades
    “Assim como em outros mercados, o setor vidreiro tem passado por atualizações e mudanças que incluem maior participação feminina, inclusive em cargos de gestão. Além de uma visão mais detalhista, as mulheres têm trazido condições trabalhistas mais favoráveis, mais aproximação familiar e melhores práticas ambientais.”
  • Visibilidade
    “Criei no mês passado uma página no Instagram, a Divas do Vidro (@divasdovidro). Senti o desejo justamente por poder unir a força feminina e dar voz e destaque a ela. No segmento temos muitas mulheres capazes que se desdobram para dar conta de suas multitarefas de mães, esposas, filhas, amigas e profissionais qualificadas. Desejo ter o apoio do segmento para promover eventos e ações voltados à força feminina do setor.”

 

 

 

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Jaqueline Fazolim
Gerente de Projetos e Relacionamento da Fazolim Vidros

  • Trajetória no setor
    “Meu pai teve grande influência em minha decisão de trabalhar com vidro. Ele abriu a nossa empresa em 1990, um ano antes de eu nascer. Tenho muitas lembranças da infância em fábricas de vidro, com meu pai visitando clientes. Em 2009, comecei a atuar no departamento comercial e fui crescendo dentro da empresa até alcançar a posição atual. Pude fazer diversos cursos, participei de feiras nacionais e internacionais, tive o privilégio de trabalhar para um cliente em Nova York. Operar com vidros sempre foi muito dinâmico, e isso sempre me trouxe um sentimento gostoso e anseios por crescimento.”
  • Preconceito
    “Lido com homens o tempo todo, desde o instalador, engenheiro ou investidor das obras, e, quando eles veem uma mulher falando tecnicamente sobre algo relacionado a vidros, é normal receber ‘olhares tortos’ ou perceber que mudam de assunto. Aprendi a não deixar isso me abater. Às vezes levo um homem comigo na equipe só por estratégia, e acabo tocando os assuntos técnicos mais levemente. Mas o mais engraçado é que, às vezes, esse homem não tem conhecimento algum sobre vidro – é só um colega de outro setor ou mesmo meu marido, que não atua no mercado. A figura masculina ainda faz diferença no nosso setor. Já com fornecedores e colaboradores a situação é diferente: existe um respeito muito bacana comigo e com toda a minha equipe técnica, formada por mais de 90% de mulheres.”
  • A importância das oportunidades
    “Isso existe, é real e cansativo, mas tenho visto muitos profissionais homens sem experiência ou falhos, que não se aprofundam nas normas, processos e cometendo muitos erros. Isso abre um campo de trabalho muito grande para nós mulheres, pois já somos mais organizadas e atentas a detalhes por natureza, com um senso de responsabilidade muito grande. Temos tantas mulheres que são a prova viva de que existe espaço para nós. E ainda ouso dizer que, em breve, haverá disputa no mercado vidreiro por profissionais capacitadas para gestão, projetos e tantas outras vagas essenciais.”

 

 

 

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Rosemari Bremm
Diretora-administrativa-financeira da MaryArt

  • Trajetória no setor
    “Meus pais eram vidraceiros e colocaram em mim a paixão pelo vidro. O segmento ser historicamente dominado pelos homens é algo que sempre ouvimos, mas que me coloca dúvidas, afinal todas as histórias de empresas do setor sempre têm uma mulher junto – o que sou hoje eu aprendi muito mais com minha mãe, um exemplo de gestora. Atuo no mercado há 28 anos. No início, fiz de tudo: vendia, emitia notas, controlava estoque, otimizava, recebia e pagava. O primeiro ano foi difícil, pois trabalhei até o último dia da minha gravidez e retornei ao trabalho dez dias depois. Isso me tornou uma mulher forte e determinada.”
  • Preconceito
    “É algo que está no outro e não em mim. Nunca senti nenhum tipo de discriminação por ser mulher. Penso que isso está em nosso posicionamento: acredito que eu soube me posicionar de uma forma que me fez ser respeitada mesmo sendo a única mulher entre muitos homens em diversas situações. Existem ainda, infelizmente, alguns homens que não perceberam a força da mulher, principalmente no associativismo. Por outro lado, o próprio associativismo identificou muitas mulheres que atuam nas empresas como gestoras e que estão com a caneta na mão.”
  • Desigualdade
    “A desigualdade salarial ainda é uma triste realidade. Porém, isso está mudando. Hoje já temos mulheres ganhando mais que os homens. Nosso setor, por exemplo, na sua grande parte conta com gestão financeira feita por mulheres. Acredito que no ritmo em que estamos em breve a mulher não vai ter de provar mais nada com relação à sua competência.”
  • A importância das oportunidades
    “É uma questão de necessidade, pois acredito que a mulher tem uma visão mais conciliadora, mais sensitiva, e isso abre um leque de possibilidades na busca do desenvolvimento de nosso setor. Fui a primeira mulher a assumir um cargo de presidência de entidade regional e, mesmo na Abravidro, como diretora, eu era a única mulher durante muitos anos. O fato de ter sido precursora incentivou outras mulheres, e essas outras incentivam as próximas. Quem participou do Encontro de Mulheres Vidreiras conseguiu identificar o que nós somos capazes de fazer. As entidades se tornam um trampolim para essas mudanças.”

 

 

 

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Neide Torres Gusmão
Diretora-administrativa-financeira da GR Gusmão

  • Trajetória no setor
    “Quando concluí minha carreira profissional na Telefônica, onde atuei por 22 anos, o Yveraldo Gusmão, meu esposo, me convidou para atuar na empresa. E deu muito certo. Na verdade, o setor vidreiro me capturou. Estou efetivamente na Gusmão há catorze anos, tendo acompanhado todas as edições do Simpovidro e da Glass South America, visitado feiras na China, Alemanha, Itália e participado de diversos outros eventos.”
  • Preconceito
    “Acredito que o nosso setor seja particularmente especial, pois é um espaço acolhedor, no qual fiz grandes amigos ao longo dos anos. Sem preconceitos para relatar.”
  • A importância das oportunidades
    “As mulheres estão mundialmente ganhando cada vez mais espaço na questão profissional – e isso inclui o setor vidreiro. Temos várias mulheres à frente de empresas de sucesso. Felizmente, essa é uma tendência que não vai mudar.”

 

 

 

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Myrian Ang
Diretora-executiva da PKO Vidros

  • Trajetória no setor
    “Estou há quinze anos trabalhando no setor. Comecei no departamento de marketing, que é a área da minha formação. Após isso, assumi o departamento comercial e controladoria (financeiro/contabilidade/recursos humanos/tecnologia da informação). A partir de 2020, a empresa passou por um processo de sucessão e governança e, desde então, ocupo o cargo de diretora-executiva.”
  • Preconceito
    “Percebo que, em função do cargo que ocupo, as pessoas que ainda não me conhecem estranham no primeiro contato. Acredito que isso esteja associado ao fato de o setor ser majoritariamente ocupado por profissionais homens. No entanto, nunca fui desrespeitada, pois acredito que colhemos o que plantamos. Eu sou uma pessoa cordial, trabalhadora, respeitosa e esse meu comportamento permite muita conversa e trocas agregadoras acerca de qualquer tema.”
  • A importância das oportunidades
    “Entendo que mulheres enfrentaram e enfrentam muitos desafios para assumir cargos maiores, pois temos não só a responsabilidade da empresa, mas também a da casa e filhos. Isso faz com que o nosso esforço seja maior, embora nos torne mais eficientes e prontas para os desafios. Na PKO, 43% das mulheres estão no papel de gestoras. Temos excelentes profissionais mulheres no setor. Torço para que elas assumam cada vez mais cargos de lideranças, ajudando o mercado a se profissionalizar e se desenvolver.”

 

 

 

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Esabel Szeuczuk
Sócia-administradora do Grupo Metalkit Alumínio

  • Trajetória no setor
    “Estou no setor há mais de 35 anos. Iniciei minha carreira na MaryArt, lugar fundamental para minha carreira, pois lá permaneci durante quinze anos. Nesse período, percebi a necessidade de uma empresa que oferecesse produtos de alumínio de qualidade com atendimento diferenciado. Era hora de colocar a ideia em prática: em abril de 2006 nasceu a Metalkit Alumínio pelas minhas mãos e do meu marido Alex. Atualmente sou responsável pelas áreas de RH, financeira e administrativa.”
  • A importância das oportunidades
    “Sou movida a desafios, gosto de romper barreiras. Sou apaixonada pelo vidro e seus benefícios. O alumínio também entra nessa conta, com leveza e sofisticação, sendo a oportunidade perfeita para empreender, gerando oportunidades para outras mulheres se realizarem nesse segmento.”
  • Visibilidade
    “Vencemos preconceitos, enfrentamos barreiras e inovamos em processos. Hoje a mulher tem espaço garantido no mercado de trabalho. Porém, é preciso continuar se dedicando e gerando mais oportunidades a todas. A mulher pode ser o que ela quiser, basta se preparar e trabalhar duro que o sucesso acontece.”

 

 

 

Mais vagas, mas e o salário?
Apesar de as mulheres estarem mais presentes em segmentos aos quais tinham pouco acesso tempos atrás, existe um tema que ainda se mostra um desafio: a paridade salarial. O levantamento Mulheres no Mercado de Trabalho, da CNI, tenta entender melhor essa e outras questões. Usando como base os microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADc), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estudo revela que, nos últimos dez anos, as mulheres brasileiras estão chegando mais perto de serem remuneradas com o nível de salários recebidos por homens. No período, a paridade salarial cresceu 6,7 pontos, alcançando a marca de 78,7 no ano passado – quanto mais próximo de cem, maior a equidade entre mulheres e homens.

Essa mudança de consciência parte das próprias empresas, as quais, finalmente, parecem entender a falta de lógica em pagar menos a uma mulher para exercer o mesmo cargo de um homem – apenas pelo fato de a profissional ser mulher. Ainda de acordo com a pesquisa, seis em cada dez indústrias contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero. Entre as ações mais usadas, estão políticas que proíbem a discriminação em função de gênero, programas de qualificação voltados para mulheres e licença-maternidade ampliada.

Este texto foi originalmente publicado na edição 615 (março de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: auremar/stock.adobe.com

PIB da indústria de transformação teve queda em 2023

Em meio ao bom resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional de 2023 (crescimento de 2,9%, conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, no começo deste mês), um número chamou a atenção: a indústria de transformação marcou queda de 1,3%, mesmo com a alta de 1,6% da indústria geral. Esse é justamente o segmento em que as processadoras vidreiras atuam – o que acende um sinal de preocupação em relação ao desempenho do ano passado, que será medido na edição deste ano do Panorama Abravidro, a ser publicada em maio.

Nas páginas a seguir, O Vidroplano tenta entender o que esse dado significa para nossas empresas, analisando os gargalos encontrados na indústria vidreira, e qual a forma de superá-los.

O que o PIB mostra
Segundo o IBGE, entre os destaques positivos da indústria estão o segmento extrativo, com crescimento de 8,7%, causado pela alta na extração de petróleo, gás natural e minério de ferro, graças à alta nos preços internacionais dessas commodities. Também foram relevantes para o desempenho as operações de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (+6,5%), influenciadas pela melhora nas condições hídricas na comparação com 2022 e pelo aumento da temperatura associado ao fenômeno natural El Niño.

Já o desempenho da indústria de transformação sofreu com a baixa na fabricação de produtos químicos, máquinas e equipamentos, metalurgia e indústria automotiva (este último é um mercado importante no consumo de vidro). O PIB da construção civil também caiu (0,5%), resultado influenciado pelo recuo na produção de insumos típicos e na ocupação.

Para ficar de olho
De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a situação da indústria de transformação é delicada e precisa ser observada de perto: nos últimos dez anos, esse segmento fechou em queda sete vezes. “É uma economia puxada pelo agro e pela indústria extrativa, que são setores primários. Ambos são muito importantes, mas uma cadeira não fica em pé só com uma perna”, analisou o economista-chefe da federação, Igor Rocha, em entrevista ao jornal Valor Econômico. “Quando pensamos em crescimento sustentável, de longo prazo, para sair da média e virar país de renda alta, a composição do PIB é muito preocupante.”

Para a entidade, a carga tributária sobre o ramo é maior que na comparação com outros setores, o que pode dificultar a definição de novas alíquotas dentro da reforma tributária. “É uma pena, sobretudo no momento em que a indústria de transformação está no holofote global. Poderíamos estar aproveitando o ritmo da transformação ecológica e energética, mas vemos um enfraquecimento relevante quando deveria ser fortalecida”, comentou Rocha durante a mesma entrevista.

Para este ano, a Fiesp aposta em crescimento de 1% na indústria de transformação – o que poderia até representar um alívio, não fossem os problemas enfrentados atualmente.

E o nosso setor?
Como explica Sérgio Goldbaum, economista da GPM Consultoria (empresa responsável pela análise do Panorama Abravidro e Termômetro), 2023 foi um período relativamente difícil para o segmento, com desaquecimento da demanda e aumento da competição com grande volume de vidros importados entrando no País: “Mesmo assim, o desempenho do setor ao longo do ano indicou relativa estabilidade, ainda que em nível inferior a 2022. Para o setor voltar a crescer, a demanda precisa ser reativada”.

O atual ciclo de redução da taxa de juros e o anúncio de medidas de uma política industrial mais ativa, realizada no começo deste ano, podem sinalizar alguma esperança. “Novos investimentos privados em alguns setores consumidores da indústria vidreira, como o automotivo, parecem reforçar essa possibilidade”, afirma Goldbaum.

Por falar em esperança, vale olhar para os dados do Termômetro deste início de ano. “Na comparação com os últimos dois anos, 2024 inicia com uma redução de consumo sazonal não tão expressiva. Em janeiro, tivemos um resultado positivo maior que em 2022 e 2023”, analisa Rafael Ribeiro, presidente da Abravidro. “Já em fevereiro, apesar do número negativo, a queda foi menor do que os números do mesmo período nos anos de 2022 e 2023”.

Será um vislumbre do início de tração do setor para 2024? “É um pouco cedo para sinalizar uma retomada”, reflete Goldbaum. “A Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela CNI em janeiro, aponta que as expectativas para os próximos meses recuaram, mas seguem positivas. Ao mesmo tempo, a principal manchete da publicação informa que a atividade e emprego apresentaram comportamento acima do esperado. Então, o estudo sinaliza ceticismo em relação ao futuro e surpresa com o resultado presente.”

Panorama Abravidro: processador, participe do estudo!
Existe uma forma de medir o desempenho da indústria de transformação vidreira: o Panorama Abravidro. Criado em 2012, o principal estudo econômico do mercado de vidros no Brasil é uma publicação anual que contém dados atualizados sobre diversos aspectos do setor, incluindo faturamento da cadeia de processamento, volume produzido, itens processados mais fabricados e produtividade média das empresas, entre outros.

Diversos elos da cadeia se beneficiam com o Panorama. Para as processadoras, por exemplo, o estudo oferece a possibilidade de comparar resultados individuais com a média do setor, avaliando eventuais pontos de melhoria e correções de rota necessárias. Para fornecedores de equipamentos, insumos e acessórios, os dados ajudam a entender o atual cenário de negócios, além de trazer qual o humor para o ano vigente na parte qualitativa da pesquisa.

Este texto foi originalmente publicado na edição 615 (março de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: romul014/stock.adobe.com

Abravidro argumenta e PVB é excluído da extensão do antidumping de vidros automotivos chineses

O Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) se reuniu no começo deste mês e decidiu pela extensão do direito antidumping definitivo para vidros automotivos chineses, aplicado por meio da Resolução Gecex nº 05/2017, e prorrogado por meio da Resolução Gecex nº 450/2023. A medida, vigente até 17 de fevereiro de 2028, será aplicada às importações brasileiras de vidros recurvados, biselados, gravados, brocados, esmaltados ou trabalhados de outro modo, classificados na NCM 7006.0000, originários ou procedentes da China, que venham a ser utilizados na fabricação de vidros de segurança laminados empregados no setor automotivo. A decisão consta na Resolução Gecex Nº 556, publicada no Diário Oficial da União, no dia 20 de fevereiro.

Histórico
A decisão encerra a revisão aberta em maio de 2023, realizada com o objetivo de apurar se houve circunvenção – ou seja, uma prática para frustrar a eficácia do antidumping em vigor desde 2017, e renovado em 2023, para os laminados automotivos. A princípio, a investigação incluiu, além dos vidros classificados na NCM 7006.0000, o PVB, insumo utilizado na fabricação desses produtos.

A Abravidro credenciou-se como parte interessada no processo, reunindo-se com a equipe técnica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), e se manifestou também nos autos, apontando para os riscos da inclusão do PVB na eventual extensão do direito antidumping. Esse tipo de interlayer é o mais utilizado na fabricação de laminados de segurança – não apenas os automotivos, mas também os utilizados na arquitetura – e não é fabricado no Brasil. “A decisão se torna uma vitória para o setor vidreiro, pois a inclusão dos PVBs poderia interromper a trajetória de aumento da participação de mercado do vidro laminado”, explica o presidente da Abravidro, Rafael Ribeiro.

 

Vidros voltados para o setor automotivo são afetados pela medida (Foto: romaset/stock.adobe.com)
Vidros voltados para o setor automotivo são afetados pela medida (Foto: romaset/stock.adobe.com)

 

Exclusão importante
Ao final da revisão, o Departamento de Defesa Comercial (Decom) concluiu que houve a prática de circunvenção nas importações de vidros e PVB de origem chinesa durante o período investigado. Mas, uma vez que não existe produção doméstica de PVB e, se a medida fosse ampliada, poderia haver grande prejuízo, tanto para a administração pública como para os importadores, o órgão acolheu os argumentos da Abravidro e o PVB foi excluído da decisão final sobre a extensão do antidumping.

Consequências para as empresas
A resolução estende o antidumping e aplica alíquotas que variam de 115,7% a 145% aos importadores dos produtos impactados pela medida. “De acordo com o previsto na legislação, importadores que não tenham feito importações durante o período investigado na revisão poderão solicitar sua exclusão da medida, se comprovarem certos requisitos”, explica Rabih Nasser, assessor jurídico da Abravidro.

Este texto foi originalmente publicado na edição 614 (fevereiro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Kalyakan/stock.adobe.com

O que esperar para o setor de energia em 2024

Sem energia, nosso segmento simplesmente não tem como trabalhar: são inúmeros os processos, passando por usina, processador e vidraceiro, que necessitam desse insumo em grandes quantidades. Sabendo disso, O Vidroplano dá sequência à matéria especial de janeiro, sobre as expectativas de nossas empresas para 2024, e agora analisa o que esperar em relação aos valores do gás natural e da energia elétrica para o resto do ano e se podemos ter problemas referentes ao abastecimento.

 

Gás natural
Esse combustível, usado pelas usinas para aquecer os fornos, tem enorme influência na flutuação de preços do float. Segundo a Comerc Energia, empresa especializada em serviços de energia e soluções renováveis dentro desse segmento, o custo médio do gás natural no Brasil em 2024 será relativamente menor que o observado no ano passado. “Isso se deve ao início da vigência de novos contratos de suprimento energético para diversas distribuidoras no País, já sem o reflexo dos elevados preços de 2022, diversificando os portfólios após a entrada e crescimento da participação de outros supridores nesse mercado”, analisa Marcelo Ávila, vice-presidente de Soluções em Energia da companhia.

De fato, há várias movimentações nesse sentido. Em 1º de janeiro, por exemplo, entraram em vigor contratos assinados pela Petrobras com a Equinor Energy do Brasil, para que esta faça o escoamento de gás oriundo do campo de Roncador, na Bacia de Campos (RJ). Em artigo online da Epbr, agência de notícias focada em transição energética, João Carlos de Oliveira Mello, CEO da Thymos Energia, cita que a parceria deverá proporcionar uma capacidade diária adicional de 50 milhões de m³ de escoamento de gás nos próximos anos.

 

Foto: Photocreo Bednarek/stock.adobe.com
Foto: Photocreo Bednarek/stock.adobe.com

 

A crise do insumo na Europa, por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, levou ao impulsionamento de investimentos privados e governamentais no ano passado. “Nesse sentido, vimos muitas discussões sobre a ampliação da oferta de gás e a criação de políticas de precificação, em um esforço para garantir segurança energética, competitividade e melhores condições para a indústria nacional e o mercado como um todo”, comenta Ávila. Apesar disso, explica, o gás nacional ainda carece de mais regulamentações e atenção de modo geral, para que seja possível buscar a autossuficiência no assunto.

Uma solução para alinhar produção, demanda e abastecimento, “democratizando” o combustível, seria o avanço da criação de um mercado livre de gás, como já existe em relação à energia elétrica. “Esse tema pouco evoluiu ao longo dos últimos anos, e assim deve seguir em 2024”, avisa Ávila. “Acredito que, com diversas conversas a respeito do tema caminhando lentamente, o cenário deva seguir similar, com avanços pontuais por meio dessas iniciativas governamentais e privadas.”

Sobre o custo do gás ao longo do ano, não são esperadas grandes volatilidades, a não ser que se tenha alguma guinada nas relações do Brasil com os países de quem importa – ou mesmo mudanças globais em torno dos principais produtores.

 

Energia elétrica
A cadeia de transformação de vidro usa energia elétrica para as diferentes etapas de processamento. O problema é que as atuais questões climáticas, incluindo o aquecimento global e os maiores períodos de estiagem, fazem os valores do insumo aumentar – e muito. “Não termos controle sobre a variável chuva é sempre um ponto de pressão. Atualmente, os reservatórios estão com níveis maiores e, salvo alguma mudança brusca, não veremos impactos no mercado de energia para 2024. Porém, tivemos pouca chuva em dezembro e janeiro, e isso já impactou o setor em anos passados”, explica Marcelo Ávila.

Para 2024, existem previsões preocupantes, como a da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia (Abrace), que espera um aumento médio de 6,58% nos valores, com potencial para chegar a 10,41%. “Essas estimativas estão alinhadas com as nossas expectativas e projeções; porém, é importante considerar que temos ainda discussões a respeito da renovação de concessões das distribuidoras, e esse fato pode mudar o panorama”, afirma o profissional da Comerc.

 

Foto: Артур Ничипоренко/stock.adobe.com
Foto: Артур Ничипоренко/stock.adobe.com

 

E o mercado livre?
Grande parte das processadoras vidreiras está presente no mercado livre de energia, ambiente em que os clientes podem negociar as condições comerciais da energia elétrica a ser contratada diretamente com o fornecedor. Essa, portanto, é uma boa solução para sofrer menos com a volatilidade de preços, sendo possível experimentar economias maiores.

Desde janeiro, a Portaria 50/2022, do Ministério de Minas e Energia, ampliou o direito de escolher o fornecedor de energia elétrica para os chamados “consumidores do Grupo A”, composto por aqueles que são atendidos em média e até alta tensão, incluindo, por exemplo, pequenas e médias empresas. Isso abre margem para mais empresas de nosso segmento ingressarem nesse modelo, mas surgem também desafios aos envolvidos. “As comercializadoras deverão demonstrar agilidade para incorporar a função de varejista entre suas funções, em uma escala bastante ampliada. A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), por sua vez, terá de lidar com uma pulverização do mercado, ampliando o desafio de administrar e garantir a segurança das operações”, opina João Mello, da Thymos Energia, em seu artigo para a Epbr.

Para Marcelo Ávila, o mercado livre de energia é uma oportunidade valiosa não apenas para as indústrias terem controle sobre os gastos com energia, mas ainda para promover confiabilidade e incentivar o crescimento de fontes de energia limpas. “É preciso ter cuidado na escolha do agente responsável por definir a estratégia de contratação para garantir um parceiro com expertise, que conduza uma transição suave e eficaz, proporcionando solidez às empresas”, alerta Mello.

A busca por outras matrizes de energia também é uma tendência a ser analisada pelas companhias de nosso setor. Com o boom da energia solar fotovoltaica, e até da eólica, a dinâmica de mercado passa por mudanças, aumentando a oferta ao consumidor e impulsionando as geradoras e fornecedoras a buscar atrativos para manter os clientes.

Este texto foi originalmente publicado na edição 614 (fevereiro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: sergofan2015/stock.adobe.com

Alíquotas do ICMS são alteradas em onze Estados

O ano mal começou e com ele vieram novas alíquotas gerais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em onze Estados do Brasil. Algumas delas já estão em vigor desde o primeiro dia de 2024, enquanto outras terão início entre fevereiro e abril. Confira a seguir onde se darão as mudanças e quais são elas.

Novos cálculos
Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Tocantins foram os primeiros Estados nos quais os novos valores passaram a vigorar: seus efeitos tiveram início já em 1º de janeiro. Roberto de Campos, diretor da Keysystems e consultor da Abravidro, destaca que, entre eles, o Rio Grande do Norte foi o único que diminuiu sua porcentagem, conforme a Lei 11.314, de 2022. “Essa lei comunica que a alíquota de 20% seria válida somente para o ano de 2023 e que, a partir de 2024, ela seria reduzida para 18%”, explica.

Abaixo, confira as Unidades Federativas que já confirmaram suas novas alíquotas do ICMS, bem como seus valores e a data de início de validade para cada uma:

 

tabelaicms-jan2024

 

De acordo com Roberto de Campos, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo têm estudos em andamento para alteração de suas porcentagens do ICMS – contudo, os novos números precisariam ter sido publicados em seus respectivos diários oficiais até 31 de dezembro de 2023 para que pudessem valer para este ano. Como isso não aconteceu, suas alíquotas gerais para 2024 permanecem as que já estavam em vigor no ano anterior.

Efeito da Reforma Tributária
Em dezembro, o Congresso Nacional promulgou a Emenda Constitucional (EC) 132, que institui a Reforma Tributária. Com isso, surgiram dúvidas sobre o impacto que essa medida teria sobre a cobrança do ICMS, especialmente no que diz respeito ao Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), criado pela reforma com o objetivo de simplificar o sistema tributário brasileiro.

Halim José Abud Neto, advogado e assessor-jurídico da Abravidro, avalia que o aumento das alíquotas modais do ICMS anunciado por alguns Estados, em regra geral, foi justificado diante do texto aprovado da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45/2019, agora transformada na EC 132.

Em contraponto, no que diz respeito ao novo imposto, Halim ressalta: “A Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária do Ministério da Fazenda publicou uma nota esclarecendo que a criação do IBS não contribui para a elevação das atuais alíquotas do ICMS”.

Impacto no setor vidreiro
É importante destacar que as alterações nas alíquotas do ICMS afetam diretamente a substituição tributária aplicada ao segmento de vidros planos. Dessa forma, Roberto de Campos recomenda que os contribuintes fiquem atentos em relação aos produtos que têm alguma redução de alíquota para saber de que forma ficarão a partir do próximo exercício.

Para ajudar nessa tarefa, a cartilha A substituição tributária aplicada ao vidro plano, disponível gratuitamente no portal da Abravidro, já está atualizada com as alterações referentes a janeiro de 2024. A nova versão da publicação encontra-se no ar desde dezembro, para que os associados pudessem se antecipar às mudanças. “No caso do Distrito Federal, por exemplo, as alíquotas reduzidas de 12% foram mantidas na cartilha para os itens do vidro plano com as NCMs 7003 [vidro impresso], 7005 [float], 7007.19 [vidro temperado] e 7007.29 [vidro laminado], até surgir uma nova definição”, avisa o consultor.

Este texto foi originalmente publicado na edição 613 (janeiro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: stefamerpik – Freepik

Brasil ganha primeira joint-venture da cadeia de processamento

A expressão em inglês joint-venture faz referência a uma associação econômica entre duas ou mais empresas. O maior exemplo desse modelo no setor vidreiro nacional é a mais antiga usina do País, a Cebrace, resultado de uma joint-venture entre dois gigantes globais: NSG/Pilkington e Saint-Gobain. Agora, esse termo será ainda mais comum para nosso mercado, pois surge mais uma empresa nesse padrão: a Visatta, criada a partir da parceria entre a paranaense Cristal Sete e a mineira Pestana Vidros. A seguir, descubra mais sobre a nova player do segmento.

Novos caminhos a seguir
Em 2023, a estrutura do sistema de franquias da Blindex passou por alterações – confira mais no quadro abaixo. A partir disso, movimentações de mercado fizeram a Cristal Sete e a Pestana Vidros se aproximarem, de olho na possibilidade de atender a Região Metropolitana de São Paulo, composta por quase 50 municípios e mais de 20 milhões de habitantes. A solução para isso foi a criação da Visatta.

“Essa parceria traz robustez operacional, eficiência logística e atendimento personalizado, características marcantes das duas empresas”, explicam Marcus e Felipe Pezotti, diretores da Cristal Sete. “A união formou uma sólida operação composta por unidades em São Paulo, Paraná e Minas Gerais que produziram no ano passado mais de 1 milhão de m² de vidros de segurança”, informam Albert e Alexandre Pestana, diretores da Pestana Vidros.

Objetivos
A sede da Visatta está localizada em Santo André, no ABC Paulista. De acordo com os quatro sócios-operadores da nova processadora, o espaço conta com estrutura operacional e logística capaz de atender, independentemente do volume, todo o mercado da capital e arredores. “Nossa meta é construir uma substancial rede de revendedores dos produtos Blindex, baseada na experiência de oferecer os melhores produtos e serviços”, afirmam os dirigentes. “A empresa não irá produzir localmente. Os vidros serão processados nas unidades fabris do Paraná e Minas Gerais. Foco no serviço e logística é a essência da Visatta.”

A Cristal Sete mantém seu atendimento ao Paraná e interior do Estado de São Paulo; já a Pestana Vidros segue atuando em Minas Gerais e no Vale do Paraíba e em Campinas (SP).

Futuro do modelo
Ano passado, algumas empresas saíram do sistema de franquias da Blindex, enquanto outras entraram – como é o caso da própria Visatta e da Planalto Vidros, focada em vidros especiais e de segurança que agora atende a região de Brasília e Goiás. Para Glória Cardoso, gerente-geral da Blindex, o modelo precisava de renovação. “Há vinte anos, o formato de franquia industrial era uma hipótese arrojada, mas, ao mesmo tempo, eficiente para manter o fornecimento do vidro Blindex por todo o País”, explica. “Após duas décadas de construção desse sistema, a marca se renova com uma estratégia mais ampla para fortalecer nossa presença em diferentes regiões do País, alinhando-se às demandas específicas de cada localidade.”

Segundo Glória, existem planos ambiciosos para a expansão contínua do modelo. “Esse sistema está em constante movimento. A criação da Visatta como joint-venture reflete o compromisso em ir além ao explorar oportunidades de crescimento, novos mercados e formatos de trabalho.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 613 (janeiro de 2024) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Foto de abertura: Divulgação Blindex

Conheça o PotencializEE e saiba como se inscrever

A sustentabilidade já se tornou um assunto inescapável para nosso setor – e, no que diz respeito às atividades industriais, é impossível falar do tema sem citar eficiência energética. Uma iniciativa que vem ao encontro dessa busca é o Programa de Investimentos Transformadores de Eficiência Energética na Indústria (PotencializEE), cujo objetivo é impulsionar a competitividade de pequenas e médias indústrias no Estado de São Paulo por meio da redução de custos e de emissões de dióxido de carbono (CO₂).

A seguir, conheça um pouco mais sobre o PotencializEE, a parceria firmada com a Abravidro e como ela pode contribuir para as beneficiadoras de vidros planos paulistas.

Importância para a indústria
De acordo com o Balanço Energético Nacional 2022, publicado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a indústria brasileira responde por 32% do consumo de energia, 41% da eletricidade consumida e 18,13% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) da matriz energética do País. Por sua vez, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que a idade média das máquinas industriais no Brasil é de catorze anos, representando um custo anual energético de R$ 95 bilhões, valor que inclui gastos com eletricidade e outros combustíveis.

Estudos realizados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) apontam que as medidas de eficiência energética podem gerar uma economia de 34% (em média) para pequenas e médias empresas (PMEs) no custo com energia.

Potencializando a eficiência
O PotencializEE é o primeiro programa de eficiência energética do Brasil voltado para PMEs industriais do Estado de São Paulo. A iniciativa é liderada pelo Ministério de Minas e Energia (MME), coordenada em parceria com a GIZ Brasil e executada em colaboração com o Senai-SP.

Desde seu início, em 2021, o programa já registrou mais de 1.100 inscrições. “O número reflete o alcance e a demanda por melhoria energética no setor industrial”, aponta Marco Schiewe, diretor do PotencializEE. “Até o momento, o programa realizou 123 diagnósticos energéticos, fornecendo às empresas estudos de viabilidade para a economia de energia, redução de emissões de GEE, eficiência operacional e ganho de competitividade, entre outros benefícios esperados por meio de tecnologias de alto desempenho energético.”

Schiewe informa que 25 indústrias do segmento de cerâmica, vidro e produtos não metálicos estão em fase de pré-diagnóstico e diagnóstico no PotencializEE. Segundo ele, a meta é ampliar a adesão de empresas desses setores, pois possuem grande potencial para a eficiência energética.

 

Site do programa: empresas interessadas devem se cadastrar por ali (crédito: Reprodução)
Site do programa: empresas interessadas devem se cadastrar por ali (crédito: Reprodução)

 

Por um setor vidreiro eficiente
“A indústria de vidros planos tem grande potencial de redução de consumo de energia. Por isso, é um dos setores prioritários do PotencializEE”, afirma Schiewe. Para o profissional, com mais eficiência energética, as empresas vidreiras economizarão na conta de energia, tornando-se mais competitivas não só no mercado nacional, mas também no exterior. Além disso, PMEs industriais mais sustentáveis, com operações mais limpas, ganham preferência para fazer parte da cadeia de suprimentos de grandes indústrias, as quais precisam reduzir a pegada de carbono dos seus produtos e das operações dos seus fornecedores.

Nesse sentido, o diretor do programa destaca que a parceria com a Abravidro abre um leque de oportunidades para os associados da entidade – por enquanto, apenas as empresas no Estado de São Paulo terão acesso a esses benefícios –, incluindo apoio técnico e financeiro para a implementação de projetos de eficiência energética. Ele explica as etapas para as empresas interessadas participarem:

1. O primeiro passo para a pequena e média indústria do setor de vidros planos é a inscrição – ela é gratuita e pode ser feita pelo site do PotencializEE;

2. A visita de um profissional do Senai-SP especializado em eficiência energética é agendada. Ele realiza, então, um pré-diagnóstico, que também é gratuito, o qual indicará oportunidades básicas de eficiência energética e ganhos de economia para a empresa;

3. Uma vez entendido o potencial de ganho, é apresentada uma proposta para contratar um diagnóstico completo e detalhado, que também será realizado por um especialista do Senai-SP por um período aproximado de quatro meses. Esse diagnóstico tem um custo, mas a empresa participante do programa conta com subsídio que cobre 60% do valor, podendo parcelar o pagamento em doze vezes de R$ 924,13. Esse estudo será a base do projeto de eficiência energética a ser implementado posteriormente também com o apoio do PotencializEE;

4. Para viabilizar financeiramente os projetos, o PotencializEE dá suporte e facilita o acesso a linhas de créditos com exigências e juros reduzidos. Por meio do Desenvolve SP, por exemplo, é possível financiar 80% do projeto. O payback desses projetos gira em torno de três a quatro anos.

De SP para outras partes do Brasil
Durante o fechamento desta edição de O Vidroplano, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou, no dia último dia 21, a expansão do PotencializEE: a proposta de ampliação consiste na inclusão de Estados adicionais a partir de 2024, selecionados com o apoio das federações industriais de cada Estado. Para isso, a iniciativa receberá recursos do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), gerenciados pelo MME.

“Com estas ações conjuntas e o apoio do governo federal, o PotencializEE contribuirá significativamente com a reindustrialização verde e com as metas de descarbonização do País”, afirmou no comunicado o secretário Executivo Adjunto do MME, Fernando Colli.

Este texto foi originalmente publicado na edição 611 (novembro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

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Empresas vidreiras avaliam primeiro semestre do ano

O ano de 2023 anda tão instável para o setor vidreiro que O Vidroplano resolveu voltar ao tema da tradicional reportagem sobre as expectativas do segmento para os negócios, publicada no início de cada ano. Com o primeiro semestre quase fechado, está na hora de fazer balanços, avaliações e se preparar para a sequência dos meses.

Conversamos com economistas e diretores de companhias vidreiras para entender quais foram os movimentos do mercado até aqui e como a atual situação pode afetar os próximos passos de nossa cadeia.

Construção em baixa…
A construção civil, principal consumidora de vidros do País, não vive um bom momento. Como se vê na seção “Caleidoscópio” (clique aqui), o PIB desse segmento caiu 0,8% no primeiro trimestre quando comparado com os três últimos meses do ano passado. Segundo o estudo Indicadores Imobiliários Nacionais, organizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em parceria com o Senai, houve queda de 44,4% no lançamento de unidades residenciais em janeiro, fevereiro e março em relação ao último trimestre de 2022. Na comparação com o início do ano passado, a baixa ficou em 30,2%.

Esses dados se refletem na indústria da construção: a edição mais recente dos Indicadores Industriais, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revela que a parte dessa cadeia voltada para a transformação está perdendo dinamismo. Após seis meses sem registrar variação negativa, o faturamento real recuou 1,3% em abril, na comparação com março. E, embora o emprego e a utilização da capacidade instalada tenham permanecido estáveis, houve baixa nas horas trabalhadas na produção.

…mas com perspectivas de alta
Apesar do cenário, não há pessimismo. O Índice de Confiança do Empresário Industrial, outro estudo da CNI, avançou 1,2 ponto este mês, subindo de 49,2 para 50,4. Esse resultado demonstra otimismo por parte do setor, quebrando uma sequência de três meses abaixo dos 50 pontos (o que representa falta de confiança). O Índice de Expectativas, medindo o otimismo para o segundo semestre, também aumentou, chegando a 53,5 pontos.

A sensação de que as coisas podem melhorar vem de algumas movimentações do governo federal, como o reestabelecimento do programa Minha Casa, Minha Vida. “É mais um passo para elevarmos os investimentos na construção civil e a consequente geração de emprego e renda”, comenta o presidente da CBIC, José Carlos Martins. Além disso, o corte da taxa básica de juros da economia nacional, a taxa Selic, pelo Banco Central é muito aguardado: isso deve aumentar o poder de compra da população, ajudando na realização de pequenas reformas, e incentivar investimentos.

Automotivo com grandes esperanças
Dos segmentos consumidores de vidro, esse é um que não pode reclamar de 2023 até agora. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), maio teve produção 27% maior que em abril, alcançando 228 mil novos automóveis – e as vendas também aumentaram 13%. No consolidado dos cinco primeiros meses do ano, ambos os indicadores estão maiores na comparação com 2022. É importante citar também o programa federal para reduzir impostos e baratear o valor de automóveis no Brasil, o qual deve entrar em vigor em breve. Com ele, a expectativa de crescimento para o restante do ano deve aumentar consideravelmente – tanto que nove montadoras de carros, dez de caminhões e nove de ônibus aderiram ao projeto, colocando à disposição 233 versões de 31 modelos, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Materiais de construção no aguardo
A pesquisa mais recente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) indica queda de 3,7% em abril no faturamento do segmento. No total, os quatro primeiros meses do ano tiveram queda de 6,9%.

Mesmo assim, a entidade prevê crescimento de 2% para 2023. “Continuamos acreditando no crescimento sustentável do setor, com o devido foco dado pelo poder público, como a retomada de obras paradas e de infraestrutura”, explica o presidente da Abramat, Rodrigo Navarro.

Se virá mesmo uma melhora para esses setores, só o tempo dirá. Pelo menos, todos enxergam uma luz no fim do túnel.

E o que o vidro pode esperar?
Agora que vimos um panorama geral sobre outros segmentos, chegou a hora de entender o nosso setor. O Vidroplano pediu a opinião do economista Sergio Goldbaum, da GPM Consultoria, responsável pela apuração e sistematização dos dados do Panorama e pelo Termômetro Abravidro, a respeito dos resultados do primeiro semestre e das possibilidades para o segundo.

O Termômetro mostra um 2023 bastante instável, com recordes negativos e positivos na série histórica, e abaixo da média de 2022 no volume de vendas faturadas de vidros processados. O que é possível analisar desses números?
O primeiro semestre parece confirmar o ciclo de desaquecimento que já se anunciava no final de 2022. Tivemos abril com o pior resultado da série, certamente influenciado pela sequência de feriados naquele mês. Ainda que maio apresentasse o melhor resultado da série, não foi capaz de compensar os resultados negativos de novembro de 2022 e de fevereiro e abril deste ano.

Em relação aos segmentos que consomem vidro, qual a análise a ser feita?
Eles ainda se ressentem do longo ciclo de alta da taxa de juros. Os indicadores de produção do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] para materiais de construção, automóveis, móveis e eletrodomésticos até abril (o dado mais recente) estão todos andando de lado ou caindo.

Quais as expectativas para o segundo semestre, tanto na questão macroeconômica como para o segmento vidreiro especificamente?
O ciclo de alta da taxa de juros certamente começará a ser revertido em breve. A inflação oficial está convergindo para dentro da meta e a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) apresenta forte queda, influenciada pela valorização cambial das últimas semanas. Com isso, a atividade econômica começará a se recuperar, talvez lentamente no princípio. À medida que alguns programas de incentivo começam a sair do papel, a recuperação deve se acelerar.

 

A opinião de nossas empresas
Consultamos novamente as empresas ouvidas para a reportagem de janeiro sobre as expectativas para o ano. As perspectivas delas mudaram seis meses depois? A seguir, confira a opinião de quatro companhias de diversos elos da cadeia e, na sequência, a das usinas.

Daniel Domingos
Eastman
“O primeiro semestre está em linha com o que prevíamos, já que, ao final de 2022, certos desafios em relação ao consumo começavam a surgir, demandando cuidado com o planejamento para o ano que se iniciava. Dessa forma, nosso planejamento foi cauteloso em relação ao cenário macro que se apresentava, o que, de certa forma, acabou se confirmando. Historicamente para nós, o segundo semestre sempre se apresenta com maior demanda, e é com essa perspectiva que estamos trabalhando, principalmente com os produtos de maior valor agregado, como o PVB acústico e o PVB estrutural.”

 

Ricardo Costa
GlassParts
“Tivemos um primeiro semestre de bons negócios, apesar de menores em relação ao mesmo período de 2022. Mas não criamos muitas expectativas por sabermos que iria ser um período de muitas mudanças políticas, o que ocasionaria instabilidade. Já para o segundo semestre estamos otimistas, pois já se sinaliza uma melhora no mercado. Estamos sentindo uma retomada gradual dos investimentos, com maior número de consultas, inclusive por equipamentos de maior porte e também por equipamentos periféricos que agregam uma maior oferta de produtos aos clientes dos beneficiadores.”

 

Yveraldo Gusmão
GR Gusmão
“O primeiro semestre ocorreu sem grandes expectativas, com governo novo, muitas mudanças, insegurança, clientes apreensivos, administrando com cautela. Diria que nosso mercado está sofrendo com estas variações e indefinições. Para o segundo semestre, diante do quadro atual, tenho uma esperança de que possamos reagir. O mercado da construção tem negócios que caminharam no ano passado, antes das eleições, e deve dar continuidade a eles, pois os investidores não podem continuar segurando os projetos, isso é muito prejudicial. O mercado mundial como um todo está muito incerto, mas acredito que o governo vai se mexer para liberar investimentos, baixar juros. A máquina pública depende de faturamento para gerar arrecadação; se o comércio continua sem faturar, não há arrecadação.”

 

Sandro Eduardo Henriques
Sglass
“Obtivemos 40% a mais de vendas que o esperado nesse primeiro semestre, superando e muito nossas expectativas. Apesar da queda da venda de vidro, muitos empresários vêm acreditando e investindo em novos equipamentos com tecnologias mais avançadas. Acreditamos que nossas vendas deverão manter ou mesmo superar o primeiro semestre ao longo do restante do ano, tendo em vista a melhoria de nossos processos internos, com diminuição de custos e consequentemente melhores preços para os clientes. Além disso, historicamente o segundo semestre é sempre mais aquecido economicamente no ramo vidreiro.”

 

Isidoro Lopes
AGC
“Podemos definir o primeiro semestre como bastante desafiador. Com isso, aumenta a necessidade de sempre termos a melhor leitura a respeito das necessidades dos nossos clientes. Devido ao atual cenário um pouco mais conservador do que esperávamos, temos alguns resultados que não estão exatamente em linha com as expectativas projetadas, mas seguimos trabalhando para mitigar esses desalinhamentos e transformar os desafios em oportunidades.

Por enquanto, a performance no Brasil é um reflexo do que está ocorrendo nas outras regiões do mundo, assim como na América do Sul, com preços sendo pressionados e volumes com retração. Acreditamos que as maiores dificuldades para o setor hoje estejam relacionadas à insegurança político-econômica de um novo governo e à polarização que dificulta o diálogo, atrasando as mudanças necessárias para o desenvolvimento. Os desafios econômicos ao redor do mundo, assim como os juros altos, estão prejudicando a demanda na ponta. Além disso, o aumento da entrada de vidros importados na região deixa a situação ainda mais complexa. Os países asiáticos tentam encontrar mercado para sua enorme capacidade produtiva, e isso impacta todo o mercado vidreiro mundial.

Em linhas gerais, todos os setores consumidores de vidro apresentaram queda no consumo de nosso material, com exceção do mercado automotivo, que aumentou o consumo em relação a 2022 devido ao nosso posicionamento nesse segmento.

Acreditamos que o mercado vai reagir positivamente com a diminuição da insegurança e uma acomodação natural do novo governo, que deve conseguir articular as questões político-econômicas, o que vai gerar confiança, motivando o consumo de vidro e a retomada dos investimentos pelos empresários e investidores estrangeiros.”

 

Lucas Malfetano e Manuel Corrêa
Cebrace
“Chegamos ao fim do semestre com muita preocupação, porque havia uma expectativa de o mercado andar ‘de lado’, mas percebemos piora, com volumes abaixo do previsto e o preço em um patamar ainda mais baixo. A preocupação maior neste momento é com o volume de importados no País, pois contam com uma vantagem tributária advinda da histórica guerra fiscal, impactando de forma significativa nosso mercado.

Em geral, o semestre trouxe uma situação bem preocupante para a construção civil. Não só no vidro, mas também em outros materiais, observamos esse movimento que afeta o varejo e traz consequências para toda a cadeia vidreira. A América do Sul, como um todo, enfrenta os mesmos problemas, como vemos na Colômbia e em outros países (com exceção da Argentina, onde a construção civil parece ser um porto seguro contra a inflação).

Ao acompanhar o Termômetro Abravidro, fica evidente a queda na tendência dos volumes e uma consequente degradação das margens dos transformadores, o que, infelizmente, pode estimular descaminhos fiscais. Ainda assim, acreditamos que o pior já passou. A expectativa é de um segundo semestre melhor, conforme acompanhamos a sazonalidade do segmento. Lembrando que os vidros de valor agregado encontram oportunidades para conquistar mais espaço no mercado – e isso depende de nosso empenho e compromisso em disseminar informações e capacitar o setor a respeito do vidro certo.

Nosso planejamento, inclusive, antecipando essas oscilações, calhou de ser realizado no momento ideal em relação às paradas para reforma, a exemplo do que está sendo realizado no forno C4, em Barra Velha. Essa unidade terá no segundo semestre um novo forno totalmente preparado para produzir com redução das emissões de CO2. Isso servirá tanto para a capacidade produtiva do incolor, como para a produção da nova linha de texturizados. Por isso, é preciso manter os investimentos e pensar a longo prazo, enxergando que não podemos abandonar o que precisa e vem sendo feito para manter nosso compromisso com a excelência do nível de serviço e disponibilidade, independentemente das intempéries de mercado.”

 

Renato Poty
Guardian
“No começo do ano, o mercado enfrentou diversas incertezas tanto no âmbito macroeconômico como no político, com impacto significativo na decisão dos clientes de aumentar seus volumes. Como já esperávamos, a construção civil sofreu uma desaceleração nas atividades, devido à redução do poder de compra dos consumidores e ao aumento das taxas de juros, condições que resultaram ainda no adiamento dos lançamentos imobiliários.

Tivemos de continuar trabalhando estrategicamente o equilíbrio da produção e dos estoques para atender de forma responsável as demandas de mercado, sem destruição de valor para nossos clientes e parceiros de negócio. Nós imaginávamos um ano desafiador. Porém, por outro lado, tínhamos a expectativa de que a economia apresentasse algum crescimento, o que não se confirmou. De toda forma, sabemos que, tradicionalmente, o segundo semestre reserva números mais positivos para o setor.

Não temos visto grandes diferenças no desempenho no Brasil em relação ao restante da América do Sul, pois o mercado da região também está impactado por demanda retraída e juros altos. Esse é um contexto global. O que temos visto de maneira mais acentuada em nosso país é um impacto maior na entrada de vidros importados, o que gera desequilíbrio na oferta para uma demanda baixa. É fundamental que sigamos focados na criação de valor no longo prazo para atender a cadeia e manter a busca por competitividade de custos e soluções, de forma responsável e sustentável.

A Guardian tem uma expectativa positiva para o segundo semestre. Felizmente, vemos uma recente retomada de alguns indicadores econômicos que, somada a uma possível queda dos juros, deverão ajudar a alavancar importantes setores da economia que impactam nosso segmento.”

 

Henrique Lisboa
Vivix
“As decisões de longo prazo, como a compra de um imóvel ou até mesmo o início de uma reforma, necessitam de um ambiente em que o consumidor se sinta seguro, o que não vimos acontecer dentro da primeira metade do ano. Juros ainda em patamares elevados e a desaceleração da indústria já no último trimestre do ano passado, bem como incertezas no campo econômico, têm adiado a retomada da construção.

Em relação ao vidro, o primeiro semestre se comportou diferentemente de nossas projeções. Janeiro foi um mês no qual a retomada foi mais lenta que em anos anteriores, e o que vimos de fevereiro em diante foi um mercado em compasso de espera. O baixo nível de atividade da construção impacta todos os segmentos do mercado, não se restringindo apenas ao vidro plano: tintas, cerâmicos e vendas do varejo apresentaram resultados aquém do esperado. Como comparação, a indústria brasileira como um todo apresentou retração de 0,1% no primeiro trimestre, após uma retração de 0,3% no último trimestre de 2022. O mercado de vidro plano também se retraiu nesse período.

Por outro lado, o avanço no Congresso das votações sobre o novo teto de gastos deve estimular os agentes econômicos na retomada de investimentos, além de abrir espaço para uma gradual redução nos juros. Com uma nova perspectiva sobre investimentos, emprego e renda, acreditamos que o mercado da construção e o setor vidreiro possam experimentar um novo ciclo de recuperação.

Os desafios para o segundo semestre continuam relacionados a questões de confiança do consumidor, juros e grau de endividamento das famílias. Não obstante, acreditamos que, com as sinalizações do governo, teremos o ambiente necessário para a retomada. No segundo semestre, inclusive, iniciaremos a terraplenagem para nossa segunda planta.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 606 (junho de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

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Conheça mais sobre a vitrocerâmica

“Vitrocerâmica”: você certamente já leu essa palavra ao acompanhar as coberturas feitas por O Vidroplano em eventos como a Expo Revestir (veja como foi a edição deste ano clicando aqui), a Feicon e até mesmo a Casa Cor São Paulo – mas você sabe que material é esse? E, apesar do nome, ele tem realmente ligação com o segmento vidreiro? A seguir, algumas empresas que trabalham com esse produto respondem essas e outras perguntas.

A vitrocerâmica é um vidro?
Não há um consenso em relação à resposta à pergunta. De acordo com a Schott, fabricante desse produto, a resposta seria “sim”. “Trata-se de um vidro com funções e técnicas especiais. Ele é resistente a alta temperatura [de acordo com a empresa, é capaz de suportar até 760 °C] e choque térmico, mas exige os mesmos cuidados de manuseio de qualquer outro vidro, como o temperado, principalmente em relação às bordas, que são os pontos de impacto mais frágeis”, explica Fernanda Roveri, gerente de Vendas da empresa no Brasil.

Mas, segundo Edgar Dutra Zanotto, professor-titular-sênior da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a vitrocerâmica não se classifica como tal: “Ela é obtida por meio da cristalização controlada de um vidro, deixando de sê-lo e tornando-se um material policristalino”.

Segundo a Schott, os vitrocerâmicos têm um processo de fabricação característico e um conjunto único de propriedades, combinando os melhores aspectos do vidro e da cerâmica.

Como é fabricada?
A primeira parte do processo é a mistura das matérias-primas em um processo de fusão a 1.600 °C. Vale destacar que não há uma “receita” única para essa etapa. “Diferentemente dos vidros sodo-cálcicos, há centenas de vitrocerâmicas diferentes, cada uma com suas próprias matérias-primas”, explica o professor Zanotto.

“Depois, a massa aquecida é processada a quente em rolos na espessura desejada [semelhante à forma como a espessura é definida na fabricação de vidros texturizados, sem passar pelo banho de estanho como o float]”, destaca Fernanda Roveri. “A etapa seguinte é o resfriamento gradual de 900 °C para 100 °C e a retirada de tensão residual.” Depois, o material é cortado em chapas, as bordas são preparadas com acabamento tipo C, e pode ser feito também o trabalho de decoração de acordo com os projetos específicos de cada cliente, com tinta cerâmica resistente a altas temperaturas – a gerente de Vendas da Schott no Brasil observa que, no caso de vitrocerâmicas incolores, essa pintura não é aplicada nas superfícies mas a decoração pode ser feita nas bordas por meio de outro processo.

A segunda fase da fabricação da vitrocerâmica é a ceramização: nela, o material é novamente aquecido e, então, a tinta usada na decoração se funde à sua massa, não sendo mais possível removê-la, dando ao produto sua cor escura característica. Segundo Fernanda, o processo é diferente do da serigrafia em vidros por envolver temperaturas muito mais altas. Além disso, como as vitrocerâmicas não são temperadas nesse processo, ela aponta que é possível cortá-las após a ceramização.

Se a fabricação desse produto se diferencia em muitos momentos em relação à do float, o beneficiamento de ambos mostra algumas semelhanças. “O processamento da vitrocerâmica é feito em várias etapas — corte, lapidação, usinagem e furação, entre outros processos —, dependendo da aplicação e precisão necessárias para atender o projeto para o qual ela será destinada”, aponta Ricardo Sales, diretor-operacional da Vidrak, empresa que atua no Brasil como processadora e distribuidora das vitrocerâmicas da Schott.

Principais usos no mercado
Há uma ampla gama de aplicações para peças vitrocerâmicas, desde cooktops e lareiras até visores, vidros resistentes ao fogo para construção civil e aplicações para uso espacial como, por exemplo, em telescópios.

“Nossos principais produtos são as vitrocerâmicas incolores, para aplicação em sistemas de aquecimento como lareiras e calefatores, e a vitrocerâmica preta, para instalação em chapas de fogões a lenha e chapas aquecedoras, também conhecidas como bifeteiras”, lista Sales, da Vidrak.

Outra empresa que faz uso desse material no Brasil é a Tramontina. “Essas peças são direcionadas à produção dos nossos cooktops por indução – tanto nos modelos de embutir como nos portáteis – e dos cooktops por resistência elétrica”, informa Felipe Lazzari, diretor da empresa.

Vantagens do vitrocerâmico
Lazzari considera que a principal vantagem desse material está ligada à sua alta resistência a choques térmicos e impactos. “Além disso, por ter uma superfície lisa, facilita a limpeza se comparado a outros materiais; também tem boa resistência contra agentes de limpeza e é compatível com alimentos. E há ainda o fator estético, oferecendo design minimalista aos produtos Tramontina.”

Por sua vez, Sales, da Vidrak, destaca o coeficiente de expansão do produto: “Entre as propriedades únicas do vitrocerâmico estão sua expansão quase zero em uma ampla faixa de temperaturas de aplicação, além da excelente irradiação térmica”.

A Schott alinha outros diferenciais aos vitrocerâmicos:

  • Alta resistência química a ácidos, bases e outras influências químicas;
  • Podem ser usados em condições extremas, sendo capazes de resistir a ambientes adversos, seja na Terra ou no espaço, em condições secas ou úmidas, sob pressão ou no vácuo;
  • Alta homogeneidade;
  • Propriedades ópticas sob medida (transparência, translucidez, opacidade);
  • Possibilidades de design.

Mercado: avanços e obstáculos
Ricardo Sales, da Vidrak, observa que, mesmo que a vitrocerâmica tenha uma ampla gama de aplicações, seu consumo ainda é limitado devido ao seu alto custo, sendo utilizados de fato nos casos em que é necessário utilizar um material especial. “Mesmo assim, é possível notar que o consumo de vitrocerâmicos tem crescido nos últimos anos devido ao aumento dos produtos que estão optando pelo seu uso de olho nos seus benefícios: entre os principais, podemos citar a aplicação em chapas para fogões a lenha, substituindo o uso das chapas metálicas; em portas de calefatores a lenha ou pellet; e na produção de cooktops.”

Cooktops, aliás, podem ser as soluções capazes de impulsionar o segmento de vitrocerâmica. “O mercado para cooktops por indução e radiantes ainda é pequeno se comparado ao convencional produto a gás, mas nota-se um crescimento considerável na procura desses cooktops; em 2022, tivemos um crescimento de 25% em comparação a 2021”, relata Lazzari, da Tramontina. “Para as demais aplicações, não sabemos estimar o crescimento, mas notam-se cada vez mais marcas do segmento de eletrodomésticos oferecendo soluções com vitrocerâmicos.”

Sales chama a atenção para o atual cenário global, em que o planeta ainda não se recuperou totalmente da severa pandemia da Covid-19 e encontra-se em meio a uma guerra na Europa que acaba afetando a cadeia de suprimentos mundiais como um todo. “Frente a essa situação, podemos dizer que o desempenho do mercado em 2022 foi de recuperação, retomada de desenvolvimento de novos projetos e leve aquecimento da indústria consumidora de vitrocerâmica.”

Crédito: denisik11/stock.adobe.com
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Perspectivas para o futuro do material
Considerando o cenário observado em 2022, entre crescimentos vividos e dificuldades enfrentadas, como deve ser o mercado de vitrocerâmicos em 2023 e nos próximos anos? Em linhas gerais, as empresas consultadas mostram-se cautelosas mas otimistas.

“Temos boas expectativas de crescimento para esse segmento, pois, além da estética, os vitrocerâmicos são produtos que promovem o desenvolvimento sustentável”, avalia Fernanda Roveri, da Schott. A perspectiva é compartilhada por Felipe Lazzari, da Tramontina, em relação ao consumo de cooktops: “Acreditamos que o mercado continuará crescendo, principalmente para os modelos por indução, que são mais eficientes e que oferecem maior segurança ao usuário; os cooktops radiantes continuam sendo procurados, mas estão sendo substituídos gradualmente pelos produtos com funcionamento por indução”.

“Sabemos que 2023 é um ano desafiador, devido às situações já citadas e ao cenário político no qual sentimos que o mercado está segurando investimentos nesse momento”, comenta Sales, da Vidrak. “Mas temos a expectativa de que, no segundo trimestre, nosso mercado engrene novamente e consigamos atingir níveis de anos anteriores.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

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Summit Abrainc debate futuro do País sob a ótica da construção

A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) realizou, no dia 11 de abril, o Summit Abrainc 2023 – 100 Dias de Governo. O encontro, na Casa Giardini, em São Paulo, reuniu empresários do setor de incorporação imobiliária e da construção, autoridades políticas, executivos do setor financeiro e líderes de entidades da cadeia produtiva, além de formadores de opinião e jornalistas.

A proposta dos organizadores é o seminário ser um importante elo de debate entre o novo governo do Brasil e nomes relevantes da construção. Este ano, a edição trouxe à tona pautas que propuseram a discussão de assuntos como investimentos públicos e privados no setor, políticas de financiamento, retomada dos programas de habitação e o compromisso com a agenda ambiental, social e de governança, entre outras temáticas.

Debate aberto
Para a abertura da solenidade, estiveram presentes diversas personalidades. Os discursos giraram em torno de quais as melhores estratégias para o crescimento do Brasil. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, por exemplo, defendeu a reforma tributária. Já o ministro das Cidades, Jader Filho, destacou a importância do relançamento do Minha Casa, Minha Vida e, em especial, o retorno da Faixa 1 do programa (que contempla famílias com renda mensal de até R$ 2.640) para o combate ao déficit habitacional.

Troca de informações
Durante o painel “Diálogo com o Poder Público para a Habitação”, foram analisados meios para que agentes econômicos, políticos e sociais fortaleçam as relações desse setor a fim de promover mudanças que permitam a entrada de mais investimentos, garantindo assim novas habitações. Participaram desse debate o secretário Nacional da Habitação, Hailton Madureira de Almeida, e o prefeito de Araraquara, Edson Antônio da Silva, para quem é necessária uma política habitacional independente e plural. “A política habitacional tem de ser uma política de Estado, inclusive, com gestão tripartite. As cidades brasileiras são diversas e suas necessidades também. Portanto, é importante pensar em um modelo que respeite a especificidade de cada município”, comentou.

Na sequência, a jornalista Carol Nogueira, mediadora dos painéis, conduziu a conversa sobre “Financiamento e Crédito para a Habitação”, que incluiu Luiz França, presidente da Abrainc, e Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e palestrante do 11º Simpovidro, entre outros. Foram debatidas as linhas de crédito e funding para o setor e os caminhos trilhados pelo mercado para a busca de alternativas em momentos de juros altos. Apesar das atuais preocupações, Gustavo Loyola se mostrou otimista, pois enxerga no horizonte sinais para uma queda da taxa Selic, inclusive com dados favoráveis vindos do exterior: “Temos uma conjuntura internacional desinflacionária e isso já influencia os preços das commodities”.

Meio ambiente em destaque
Para encerrar, foi a vez de Eduardo Fischer, CEO da MRV, e Ubirajara Freitas, CEO da Tegra, além de Luiz França, assumirem a mesa-redonda para tratar sobre “O Compromisso do Setor com a Agenda Social, Ambiental e de Governança”. Eles também partilharam suas visões sobre os meios para minimizar o impacto ambiental. Em relação à importância da mudança de cultura nas organizações, o destaque vai para a fala de França, que aproveitou o momento para ser categórico ao dar um alerta às organizações que seguem desatentas às premissas do ESG: “Só não está alinhado com o ESG quem está fora desse mundo”.

Vale destacar que foi dada ao público a oportunidade de enviar questionamentos aos debatedores, os quais, por sua vez, aproveitaram o momento para compartilhar experiências sobre os mais diferentes assuntos envolvendo a construção e o setor imobiliário.

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Túlio Vidal

Setor de blindagem automotiva retoma as atividades

A decisão tomada no dia 1º de janeiro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com a assinatura do Decreto 11.336/2023, que visava a conter o avanço do armamento da população civil, acabou gerando um imbróglio que resultou na paralisação do mercado de blindagem de veículos em todo o País. A medida fez com que o Exército interrompesse a emissão de autorizações para a produção de automóveis com esse perfil, o que gerou impactos negativos às empresas do setor.

Felizmente, tudo voltou à normalidade. “Assim que soubemos dos riscos, imediatamente fomos a Brasília para falar diretamente com o órgão controlador para mostrar os efeitos no mercado”, afirma Marcelo Silva, presidente da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin). “Apesar do resultado danoso para as blindadoras, o lado bom foi que o Exército e governo perceberam o tamanho e a força desse mercado.”

Por dentro do caso
A blindagem de veículos, bem como a venda de armas de fogo, é monitorada pelo Exército. A lei anterior (Decreto 10.030, de 30 de setembro de 2019) mantinha a blindagem de carros e as munições de uso restrito dentro do mesmo grupo.

O novo decreto era parte do pacote de promessas de Lula, à época candidato à presidência, para aumentar o cerco à expansão desordenada do armamento civil. Porém, as regras das blindagens acabaram sendo derrubadas juntamente com a questão das munições. Para Marcelo Silva, isso se deu por um equívoco do governo, que não fez a avaliação técnica com tempo hábil para entender as implicações que a determinação geraria sobre o setor de segurança privada.

Além disso, o decreto atual também invalidou um item antigo que dispensava a necessidade de registro para uma série de itens constantes em Produtos Controlados pelo Exército (PCE), incluindo “veículos automotores blindados”.

Resolvendo a confusão
A mudança do texto provocou dúvidas entre órgão e empresas do ramo em relação à necessidade desse registro. Diante da situação, as Forças Armadas optaram por consultar seu órgão de assessoria jurídica para saber como proceder. Com isso, paralisou-se a emissão dos documentos para que a blindagem de carros fosse realizada. No entanto, após o comunicado do parecer da Consultoria Jurídica do Exército (Conjur), a situação se resolveu.

“Informamos que o Exército Brasileiro está cumprindo de forma integral o Decreto 11.366”, afirma o Centro de Comunicação Social do Exército. “Isso posto, recebemos a orientação da desnecessidade do registro de pessoas físicas e da obrigatoriedade para os demais casos (pessoas jurídicas e prestação de serviços) no que se refere à blindagem. Assim, a partir de 7 de fevereiro de 2023, o setor de blindagem de veículos voltou à normalidade.”

Segundo a Abrablin, entre 2021 e 2022, a blindagem de veículos no País bateu recorde, passando de 20.024 para 25.916 unidades – crescimento de 30%. Segundo o presidente da associação, o ocorrido não deverá causar impacto muito forte no segmento. As estimativas da entidade para 2023 são de que os números se mantenham estáveis, com destaque para o aumento no volume de blindagem nos veículos policiais.

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

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Cebrace anuncia transferência da produção de texturizados

No final do ano passado, o Grupo Saint-Gobain comunicou a decisão de encerrar as atividades de sua planta de São Vicente (SP), responsável pela fabricação de vidros texturizados no Brasil. Essa produção foi encerrada no início de abril e, segundo a usina, deverá ser retomada até o final de agosto na unidade da Cebrace em Barra Velha (SC).

O Vidroplano conversou com Lucas Malfetano e Manuel Corrêa, diretores-executivos da Cebrace, para entender como essa mudança afetará a oferta desses produtos no mercado nacional.

Abastecimento do mercado
“Houve um preparo criterioso e detalhado para que a Cebrace tenha um estoque adequado e sem impacto no fornecimento aos clientes de todo o Brasil”, afirmam Corrêa e Malfetano. Os diretores-executivos ressaltam que a empresa ainda conta com o apoio da fabricação de vidros texturizados da Vasa, na Argentina, que poderá ser acionada a qualquer momento, de acordo com as necessidades do mercado interno brasileiro até o fim da transição de São Vicente para Barra Velha.

Preparativos para a mudança
Segundo Malfetano e Corrêa, os maquinários e equipamentos mais recentes da fábrica de São Vicente serão reaproveitados: isso inclui a transferência da linha mais nova da planta para a unidade de Barra Velha, devido à sua capacidade de produzir vidro espesso e de maior largura.

Os executivos da Cebrace destacam ainda que essa mudança vem ao encontro da reforma do forno C4, que teve início este mês em Barra Velha. “A reforma seria este ano, conforme manutenção padrão de todas as linhas Cebrace. Portanto, o momento será oportuno para adequar a planta e inserir um canal para alimentação da linha dos vidros Cebrace Texturizados. É um projeto inovador e que irá trazer benefícios em qualidade, segurança, custos e sustentabilidade”, afirmam.

Com relação ao espaço físico da planta de São Vicente, a Saint-Gobain ainda está avaliando a melhor solução para o local.

Produtos ainda melhores
De acordo com a Cebrace, a transferência de produção para Barra Velha vai permitir a fabricação de vidros de melhor qualidade e com uma produção mais sustentável, considerando a redução das emissões de CO2 em virtude de o equipamento ser mais bem preparado para isso. A empresa comunica que, após a reforma do C4, que deve ser concluída até o final de agosto, até 15% da capacidade da unidade poderá ser direcionada para a produção de texturizados.

A marca desses produtos permanecerá com o nome Cebrace Texturizados. Já o nome Saint-Gobain Glass, embora não seja mais usado para se referir a essa linha, será mantido no ativo da companhia.

Este texto foi originalmente publicado na edição 604 (abril de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Marcos Santos e Meryellen Duarte

Setor nacional de esquadrias prevê crescimento para 2023

Em janeiro, como de costume, O Vidroplano trouxe uma reportagem a respeito das expectativas das empresas vidreiras em relação ao novo ano. O desempenho de nosso setor está diretamente ligado ao de outros segmentos – e um dos mais importantes é o das esquadrias.

Quais são as perspectivas do setor de esquadrias para 2023? Conversamos com algumas das principais associações para saber como foram os movimentos desse mercado em 2022 e o que se espera para os próximos meses.

Perspectivas de crescimento
As principais entidades do segmento nacional de esquadrias mostram-se otimistas em relação a este ano. “Vimos que em 2022, segundo dados oficiais, tivemos muitos lançamentos de imóveis de médio/alto padrão e do programa Casa Verde e Amarela (que voltará a se chamar Minha Casa, Minha Vida) num patamar elevado. Isso indica que, para os próximos três anos, o País vai precisar de muitas esquadrias de alumínio”, afirmou Filipe Gattera, presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal), em entrevista para o site da entidade em janeiro. Para O Vidroplano, Gattera explicou que a projeção da associação é que, no cenário mais pessimista, haverá um crescimento de 1,5% em relação a 2022; no mais otimista, o crescimento estimado é de 4,9%. Isso virá acompanhado por um aumento na demanda de vidros aplicados nesses sistemas, com previsões variando de 1,8% (equivalente a 12.970 m² de nosso material) a 5,5% (13.830 m²).

Assim como na área de alumínio, o setor de esquadrias de PVC também se mostra confiante. “Consideramos que nosso mercado deve continuar na linha de crescimento, como vem acontecendo nos últimos anos”, avalia Eduardo Rosa, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Sistemas, Perfis e Componentes para Esquadrias de PVC (Aspec PVC).

Robson Campos de Sousa e Ismael Person, respectivamente gerente técnico e consultor-comercial da Associação Brasileira das Indústrias de Portas e Janelas Padronizadas (Abraesp), contam que a entidade tem a expectativa de que este será um ano positivo para o setor, com perspectivas de crescimento entre 7% a 10% com base em 2022. “Já se percebe um otimismo entre empresários do ramo, além de investimentos sendo projetados para o decorrer deste período”, observa Robson.

Edson Fernandes, presidente da Associação Brasileira de Indústrias de Esquadrias (Abie), conta que a entidade fez uma pesquisa recente com seus associados, parceiros e membros, e a maioria se mostrou otimista para 2023, ainda que com alguma moderação e cautela. “A Abie reforça esse otimismo e espera que haja aumento no volume de vendas no varejo e melhora nas políticas de recursos e taxas de juros para financiamentos imobiliários”, ressalta o dirigente.

Perspectivas na construção civil
Espelhando a cadeia vidreira, a de esquadrias também tem seu desempenho fortemente influenciado pela construção. De acordo com o estudo Produtividade e Oportunidades para a Cadeia da Construção Civil, elaborado pela Deloitte e divulgado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) este mês, os três setores que compõem a cadeia de construção (infraestrutura, infraestrutura de base e construção civil e incorporação imobiliária) devem somar investimentos da ordem de R$ 2,7 trilhões em projetos no Brasil até 2030 – o levantamento prevê que, desse montante, R$ 312,8 bilhões devem vir diretamente das obras de construção e incorporação imobiliária.

Segundo Edson Fernandes, a Abie sugere que as indústrias de esquadrias se mantenham alertas sobre as ações políticas e econômicas em 2023, para assim poderem planejar melhor seus próximos passos e tomar decisões com mais cuidado. De fato, fatores nacionais – e internacionais, também – podem ter um peso considerável nesse segmento.

Com relação a 2022, Robson Campos de Sousa e Ismael Person, da Abraesp, observam que o ano teve início com um forte reflexo negativo para o setor, efeito causado pela pandemia da Covid-19 em 2020 e 2021 – como nesse período houve um aumento sem precedentes das vendas para a construção civil e as indústrias não estavam preparadas para essa demanda, ocorreram faltas de vários produtos e insumos para atender o mercado. “Apesar de todos os fatores negativos, 2022 ficou acima das projeções iniciais, mas, infelizmente, não é possível constatar qual o número de unidades fabricadas. Isso porque o método comumente utilizado – a medição da fabricação pelo consumo de matéria-prima comprada – mostrou-se impreciso em razão da elevada perda de matéria-prima no processo produtivo”, explica Robson.

Foto: Thiradech/stock.adobe.com
Foto: Thiradech/stock.adobe.com

 

Programas populares de moradia
Ações de incentivo das diferentes esferas de governo podem contribuir para o crescimento desse mercado – e do de vidro também. “No passado, é inegável que o programa Minha Casa, Minha Vida teve impacto. Porém, nos últimos anos, tanto ele como sua versão rebatizada da gestão anterior tiveram pouco efeito”, observa Edson Fernandes, da Abie. “Contudo, foi recentemente veiculado que o programa será retomado no segundo semestre deste ano. Iniciativas como essa puxam toda a cadeia produtiva e aquecem o mercado da construção civil, gerando empregos que promovem ganhos sociais significativos para o Brasil”. De fato, o governo federal anunciou em fevereiro que pretende retomar ainda este ano as obras de 37.500 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida que estavam paralisadas – segundo a Agência Brasil, somente no último dia 14 foram entregues 2.700 habitações em nove municípios de seis Estados, de forma simultânea.

De acordo com Eduardo Rosa, da Aspec PVC, os programas de moradia popular implementados pelo governo federal sempre contribuem para a utilização das esquadrias de PVC. “Isso se deve principalmente ao fato de que devem ser usados somente produtos qualificados e homologados no Programa Setorial da Qualidade (PSQ), implementado pelo Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat (PBPQ-H), vinculado à Secretaria Nacional da Habitação”, afirma. Rosa destaca que a entidade, como mantenedora do PSQ de esquadrias de PVC, possui em seu quadro de associados empresas com produtos homologados e qualificados, tornando esses produtos aptos a serem utilizados nos programas de moradia popular, além de propiciar uma melhor ecoeficiência das moradias e bem-estar aos usuários.

Gattera destaca que a Caixa Econômica Federal, principal agente das políticas públicas, continuará financiando a construção com taxas sustentáveis, ainda abaixo de dois dígitos. Em entrevista para o portal da Afeal, ele também comentou que o novo governo vem falando bastante sobre investir em construção e infraestrutura, com a retomada de obras e a ampliação de programas para o setor da construção. “Isso tudo reforça o otimismo da nossa associação”, afirma.

Foto: AlfRibeiro/stock.adobe.com
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Valor agregado em vidros e esquadrias
Será que as perspectivas de crescimento para 2023 virão acompanhadas por mais adoção de sistemas e vidros diferenciados, apresentando melhor qualidade e desempenho? Ou as opções mais baratas e simples continuarão sendo usadas nas obras?

“Não temos esse dado apurado isoladamente”, responde Gattera. “Quando olhamos para os números publicados pela Abrainc, vemos que o alto padrão teve um crescimento maior em 2022 do que o das demais faixas. Apesar disso, esse mercado ainda é pequeno para nós comparado ao que acontece lá fora. A esquadria para padrão econômico ainda é o maior volume de caixilharia no Brasil.”

Então os produtos de valor agregado continuarão em segundo plano? Talvez não. “O consumidor está cada vez mais exigente e informado. Vale destacar que o segmento de esquadrias de alumínio e empresas associadas à Afeal dispõem de soluções que garantem o desempenho de estanquidade, isolamento termoacústico, sombreamento e automação, entre outros atributos”, ressalta Gattera. De fato, dados da associação referentes a 2021 apontam que, embora vidros comuns correspondam a 57,6% das peças usadas nas esquadrias de alumínio em geral, o vidro laminado foi a solução escolhida para 83% dos sistemas voltados especificamente para fachadas.

Assim como no segmento de alumínio, as esquadrias de PVC também contam com opções de alto desempenho. “O crescimento da procura por esquadrias de alto desempenho em estanquidade, segurança e desempenho térmico e acústico faz com que a utilização de vidros especiais e diferenciados seja maior, pois o uso dessas peças com maior valor agregado é fundamental para se obter um melhor desempenho das esquadrias”, avalia Eduardo Rosa. “Na fabricação das esquadrias de PVC, existe sempre a especificação correta do vidro levando em consideração a aplicação do sistema. Devem ser verificados quais são os tipos de vidro de segurança e seus diferenciais de desempenho, para atender as necessidades do usuário final, sempre respeitando as exigências da norma ABNT NBR 7199.”

Segundo Robson Campos de Sousa e Ismael Person, a Abraesp acredita que haverá crescimento na comercialização de esquadrias para os empreendimentos de alto padrão, visando a atender os requisitos de conforto térmico e à eficiência energética das edificações, ambos lastreados pelos trabalhos de normalização que ocorrem no âmbito do Comitê Brasileiro de Construção Civil (ABNT/CB-002), dos quais a associação participa ativamente. Eles acrescentam que os vidros laminados são um elemento de fechamento utilizado em larga escala nas fachadas-cortinas e creem que o aumento de seu consumo será estimulado após a publicação da futura Parte 8 da ABNT NBR 10821 — Esquadrias externas para edificações, que está em desenvolvimento.

Edson Fernandes, da Abie, considera também que, nos últimos dez anos, o mercado de esquadrias mudou bastante, e essas mudanças causaram a reorganização do setor que fortaleceu as empresas qualificadas – o que, segundo ele, pode ser aferido e é explicado pelo advento das NBRs mais recentes, que passaram a exigir mais segurança e melhor desempenho acústico e térmico das esquadrias como um todo e também dos vidros utilizados nelas. “Com isso, o mercado naturalmente tornou-se mais exigente, e as indústrias estão se reorganizando cada vez mais para cumprir com os requisitos de performance e qualidade, que agregam mais valor aos produtos. Na visão da Abie, a continuidade desse processo de padronização e reorganização ao redor da qualidade é irreversível e seguirá contribuindo para o crescimento da demanda por esquadrias de valor agregado e com vidros diferenciados.”

Este texto foi originalmente publicado na edição 602 (fevereiro de 2023) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Crédito da foto de abertura: Vitaliy Hrabar/stock.adobe.com

Conheça mais sobre o ESG na gestão administrativa

Como pode ser visto no especial sobre sustentabilidade presente clicando aqui, o vidro tem papel relevante para que a construção seja menos agressiva ao meio ambiente. E a busca por um mundo com menos poluição recai também sobre as empresas do setor, independentemente do porte delas. Mas de que forma nosso segmento deve encarar a situação? A resposta está em um conceito cada vez mais relevante e popular na gestão moderna, o ESG.

O tema estará presente no 15º Simpovidro, com uma palestra feita por Fabricio Soler, advogado especialista em Direito do Ambiente (veja mais na matéria sobre o evento, clicando aqui). Para chamar a atenção a esse assunto, O Vidroplano explica o que a sigla representa e sua importância para a indústria, incluindo a vidreira.

O que é?
ESG vem da expressão em inglês Environmental, Social and Governance – em português, “Meio ambiente, Social e Governança”. O termo, criado em 2004 pelo economista James Gifford, então líder de um grupo de trabalho ligado à ONU, serve para medir o impacto das ações sustentáveis nos resultados financeiros das empresas.

De acordo com Carlo Pereira, diretor-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, não se deve achar que o ESG substitui as ideias de sustentabilidade debatidas anteriormente. “No Brasil, devido ao aquecimento do tema, muitos falam numa transição de um termo para o outro, como se fossem coisas distintas. Não são! É o mesmo objeto, visto e trabalhado por diferentes atores”, escreve Pereira em um artigo sobre o assunto. “Para os gestores nada mudou em termos de responsabilidade. ESG é o olhar do setor financeiro sobre essas questões.”

A relação meio ambiente e sociedade
Segundo estudo da agência de pesquisa norte-americana Union + Webster, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), 87% dos brasileiros preferem comprar produtos e contratar serviços de empresas sustentáveis. Das pessoas entrevistadas, 70% afirmaram ainda que não se importariam em pagar a mais por isso.

Os números revelam a mentalidade atual de grande parte da sociedade: o meio ambiente se tornou algo ligado ao cotidiano e às relações pessoais, incluindo o modo de se relacionar com marcas e empresas. Dessa forma, as empresas devem fortalecer laços com todos os que, de alguma forma, são impactados por suas atividades – de funcionários e acionistas a fornecedores, clientes e consumidores. Aí entra o ESG.

O que o conceito compreende
A SafeSpace, empresa brasileira especialista em soluções de compliance e recursos humanos, mapeou o que representa cada uma das letras da sigla:

  • E de environmental (meio ambiente)
    Resolução de questões como:
    – Emissão de carbono;
    – Poluição do ar e da água;
    – Biodiversidade;
    – Desmatamento;
    – Eficiência energética;
    – Gestão de resíduos;
    – Escassez de água.
  • S de social (social)
    Ligado ao cotidiano da empresa, incluindo:
    – Satisfação dos clientes;
    – Proteção de dados e privacidade;
    – Diversidade e inclusão da equipe;
    – Engajamento dos funcionários;
    – Relacionamento com a comunidade;
    – Respeito aos direitos humanos e a leis trabalhistas.
  • G de governance (governança)
    Faz referência à administração da empresa, incluindo:
    – Conduta corporativa;
    – Relação com entidades do governo e políticos;
    – Existência de um canal de denúncias.

Como funciona na prática
Em apresentação recente no Seminário de Compras da Autodata (veículo de mídia voltado para o setor automotivo), o palestrante do 15º Simpovidro Fabricio Soler comentou que o principal benefício de se implementar as pautas de ESG é fortalecer as relações da empresa com a cadeia de valores ao seu redor. O ESG, portanto, não se limita a olhar para a ecologia: contribui também para a empresa gerar efeitos positivos na comunidade. “De maneira muito simplista, o que uma empresa precisa fazer é entender, com as partes interessadas, quais são seus impactos negativos e positivos e agir sobre eles”, comenta Carlo Pereira, da Rede Brasil do Pacto Global.

É por isso que se deve entender o propósito da empresa dentro da sociedade. Uma reportagem da revista Exame sobre o tema sugere uma reflexão aos empresários, com uma pergunta para fazerem a si mesmos: “Se meu negócio deixar de existir, que falta faria a quem está envolvido com ele?”. Daí vem a importância das letras S e G na sigla: investir no relacionamento com clientes, fornecedores e comunidade, abrindo canais de diálogo com todos, é investir no próprio empreendimento.

Mas voltemos à letra E, ao meio ambiente. Em reportagem no site da Associação Comercial de São Paulo, Thiago Othero, coordenador de Projetos do Instituto Ekos Brasil (organização voltada à promoção da sustentabilidade), indica quatro pilares para que as empresas tenham controle das emissões em sua cadeia produtiva:

  • Mensurar e divulgar as emissões;
  • Ter um objetivo de redução e adotar um plano transitório para uma economia de baixo carbono. Para isso, deve-se levar em conta todos os tipos de emissão:
    1. Diretas: aquelas liberadas para a atmosfera como resultado da atividade da empresa (por exemplo, a queima de combustíveis de veículos);
    2. Indiretas: surgidas a partir do consumo de energia elétrica;
    3. Indiretas na cadeia de valor: ligadas à aquisição de matérias-primas, viagens de negócios, deslocamento dos funcionários, descartes de resíduos etc.
  • Realizar investimentos financeiros para reduzir, mitigar e, eventualmente, zerar emissões;
  • Influenciar e educar o mercado a seguir os mesmos passos.

Para Fabricio Soler, é preciso atenção em como encarar os desafios propostos pelo ESG: como revelado por ele no Seminário de Compras da Autodata, não adianta uma empresa divulgar a adoção de práticas ambientais sem demonstrar de que forma isso faz a diferença na vida real. Soler mencionou uma reportagem do The Wall Street Journal, na qual se revela que uma empresa alemã teve queda de 12% no valor de suas ações após uma auditoria mostrar que parte das propagandas voltadas para as pautas ESG não poderiam ser comprovadas. Portanto, ao invés de fingir ser o que não é, vale mais abraçar a ideia com comprometimento.

E as empresas de pequeno porte?
Companhias menores dificilmente conseguirão fazer grandes investimentos para transformar seus sistemas produtivos. Mesmo assim, elas têm papel importante no assunto. A Associação Comercial de São Paulo mostra alguns passos simples a serem tomados, mas que farão a diferença na construção de um negócio sustentável.

  • Priorize fornecedores que tenham responsabilidade ambiental nos processos. Dessa forma, o impacto social desses parceiros é ampliado;
  • Organize campanhas de redução de itens descartáveis no ambiente de trabalho. Funcionários podem utilizar copos ou canecas próprias, por exemplo;
  • Crie medidas para reduzir o gasto de insumos e recursos como água e eletricidade.

Este texto foi originalmente publicado na edição 597 (setembro de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: thodonal/stock.adobe.com

Vivix anuncia construção de 2ª planta em Pernambuco

Em evento realizado no dia 27 de junho, no Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, a Vivix anunciou a construção de sua 2ª linha de produção, a ser construída no município de Goiana (PE) ao lado de sua atual planta. Com investimento de R$ 1,3 bilhão, o novo forno da usina terá capacidade de produção de mil t por dia – isso fará dele o maior em operação no Brasil.

São estimados cerca de 4 mil empregos criados durante as obras. Juntas, as duas plantas da Vivix devem gerar cerca de 600 vagas diretas e 2.400 indiretas. A expectativa é de que a nova unidade esteja em plena operação no segundo semestre de 2025.

Momento certo…
Henrique Lisboa, presidente da Vivix, conta que a empresa já planejava o 2º forno desde a inauguração do 1º – por isso mesmo, a área em que a usina está instalada em Goiana já tinha um espaço reservado para a futura construção. O projeto deveria ter começado em 2015/2017. Porém, foi adiado devido a fatores como a crise vivenciada pelo setor da construção civil no País naquele período, o anúncio da construção do forno da AGC e, mais recentemente, a pandemia da Covid-19.

“Essa planta sempre foi o plano da Vivix, mas era preciso esperar o momento certo. Todo esse processo foi muito bem planejado”, destacou Lisboa em entrevista para Iara Bentes, editora de O Vidroplano. O executivo relembra que a empresa faz parte do Grupo Cornélio Brennand, uma companhia que pensa a longo prazo, e isso se reflete na responsabilidade e segurança do planejamento para a nova fábrica.

…no lugar certo
Embora a Vivix já contasse com um espaço reservado em Goiana para a construção de seu segundo forno, havia a expectativa de que a nova unidade da empresa pudesse ser instalada na Região Sudeste – afinal, segundo Lisboa, cerca de metade das vendas da usina vai para fora das regiões Norte e Nordeste.

A escolha por Goiana, de acordo com o dirigente da Vivix, se deu por um conjunto de fatores. “A sinergia entre as duas plantas é muito poderosa, em termos de estrutura, conhecimentos técnicos e reduções que se podem ter em relação a despesas e gastos – não é à toa que na maior parte do mundo se faz esse tipo de investimento conjuntamente”, explica. “O apoio do governo do Estado de Pernambuco também é importante, e há ainda a proximidade de uma mina a cerca de 8 km que fornece parte dos principais minérios para produzir vidro plano, o que acaba sendo uma das vantagens competitivas da Vivix em relação aos nossos concorrentes.”

Assim, considerou-se que a combinação de todos esses fatores torna a presença do novo forno em Pernambuco mais atrativa do que seria no Sudeste. Apesar disso, como espera-se que a maior parte da produção dessa futura unidade será vendida para fora do Nordeste, a Vivix adotará um centro de distribuição permanente, possivelmente em São Paulo, para atender outras regiões do Brasil.

Foto: Felipe Feca
Foto: Felipe Feca

 

Crescimento no mercado brasileiro
Com o novo forno, a Vivix eventualmente ampliará sua capacidade para 1.900 t/dia – embora estime-se que a produção do novo forno será de 850 a 900 t num primeiro momento – e se transformará na 2ª maior fabricante de float do mercado nacional. Para Lisboa, isso consolida o caminho da empresa para ser um player cada vez mais relevante para toda a cadeia vidreira do Brasil. “Nós trabalhamos e nos preparamos para esse crescimento. A estratégia é trabalhar cada vez mais conjuntamente integrados com os demais elos. Para a Vivix ter sucesso, é preciso que processadores e vidraceiros também tenham.”

De olho no fotovoltaico…
Além do float incolor, o novo forno produzirá também chapas extra clear, pois, segundo a usina, a demanda por esse produto deve crescer nos próximos anos. Ainda sobre o extra clear, Lisboa destaca que o novo forno foi projetado para que a qualidade desse vidro atenda os padrões necessários para uso em módulos fotovoltaicos. “Acreditamos que esse é um mercado em desenvolvimento no Brasil pelos próximos anos. As indústrias de energia solar e eólica estão em crescimento na Região Nordeste, e já há empresas pensando em se instalar aqui para a produção de painéis solares. Então, esse é um mercado que vai entrar na mira dos produtores de vidros planos.”

…na sustentabilidade…
Com relação à tendência mundial de redução da emissão de gases de efeito estufa pelas indústrias na atmosfera, rumo ao “carbono zero”, Lisboa afirma que a Vivix planeja adotar energias mais limpas ou renováveis conforme a possibilidade de aplicação delas for avançando. Nesse sentido, o novo forno já está sendo preparado para uso parcial de biogás e hidrogênio. “Acho que todas as empresas, não apenas a nossa, devem evoluir para essas fontes nos próximos anos”, avalia Lisboa.

…e no futuro
O Panorama Abravidro 2022 mostrou que houve pequena queda na produção de float em 2021, embora o faturamento das empresas tenha aumentado. Este ano, as edições mensais do Termômetro Abravidro indicam que o volume de vendas faturadas em m² de vidros processados em 2022 ficou abaixo do nível de dezembro de 2021.

Os números poderiam indicar um momento ruim para o anúncio de uma nova planta – contudo, a Vivix estima um crescimento de 5% a 6% para o setor nos próximos anos. “De fato, este ano de 2022 está menos aquecido do que todos nós esperávamos, mas precisamos olhar para o médio e longo prazos, visando a equilibrar a oferta e a demanda”, justifica Lisboa.

Este texto foi originalmente publicado na edição 595 (julho de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

 

Crédito da foto de abertura: Felipe Feca

Antidumping de espelhos é renovado

O Comitê-Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Camex) renovou o direito antidumping definitivo aplicado às importações de espelhos não emoldurados originárias da China e do México pelo prazo de até cinco anos. A decisão está em vigor desde 17 de fevereiro, quando foi publicada a Resolução Gecex Nº 302 no Diário Oficial da União.

Os espelhos não emoldurados são classificados no subitem 7009.91.00 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Vale observar que esse direito antidumping não se aplica a alguns tipos de espelho, como os bisotados (bisotê), chanfrados, redondos e ovalados, além dos processados e acabados.

Situação do México
Com relação às importações oriundas do México, houve a prorrogação do direito antidumping, porém com imediata suspensão, em razão da existência de dúvidas quanto à provável evolução das importações vindas desse país. Por ora, a cobrança do direito antidumping aplicado ao México ficará suspensa, mas poderá ser retomada caso haja aumento das importações oriundas de lá, em volume que possa levar à retomada do dano à indústria brasileira, explicam Marina Takitani e Leonardo Gioachini de Paula, membros da equipe de comércio internacional do escritório Nasser Advogados.

Entenda o caso
Em março de 2015, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) decidiu iniciar a investigação para apuração da prática de dumping e dano dela decorrente nas exportações para o Brasil de espelhos não emoldurados da China e do México, a pedido da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro).

No dia 17 de julho daquele ano, o MDIC anunciou determinação preliminar de que houve tal prática. Apesar disso, optou-se por não aplicar o direito antidumping provisório até o final das investigações. Em 19 de fevereiro de 2016, o processo foi encerrado, com a conclusão de que houve dumping causador de dano à indústria nacional. Decidiu-se então pela aplicação do direito antidumping definitivo a essas importações. “Graças a isso, a indústria brasileira pôde se estruturar, sem deixar de oferecer produtos de qualidade ao consumidor”, comenta Lucien Belmonte, presidente executivo da Abividro.

Alíquotas
O direito será recolhido sob a forma de uma alíquota específica, nos valores abaixo:

 

*Prorrogação com imediata suspensão, nos termos do art. 109 do Decreto nº 8.058, de 26 de julho de 2013

Vidros automotivos
Foi iniciado também o procedimento de revisão do direito antidumping de vidros automotivos, em vigor desde 2017. O processo de análise vai durar dez meses, com possibilidade de prorrogação para mais dois meses. Durante a revisão, o direito antidumping continua valendo.

O que é dumping?
O dumping é uma prática comercial que consiste na exportação de um produto a um preço inferior àquele que é cobrado no mercado doméstico do exportador, o que pode causar danos à indústria do país importador. Quando há comprovação da prática de dumping e do dano dela decorrente, é possível aplicar medidas antidumping, com o objetivo de neutralizar os efeitos danosos à indústria nacional causados pelas importações.

Crédito da imagem de abertura: phaisarnwong2517/stock.adobe.com

Este texto foi originalmente publicado na edição 591 (março de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.

Decreto traz mudanças no IPI para vidros

No dia 25 de fevereiro, o governo federal publicou o Decreto nº 10.979/2022 determinando a diminuição em 25% das alíquotas vigentes do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a maioria dos produtos da indústria nacional, incluindo vidros e espelhos. Segundo a Secretaria Especial da Receita Federal, a redução das alíquotas, já em vigor, possibilitará o aumento da produtividade industrial e maior eficiência na utilização dos recursos produtivos.

Essa mudança trouxe uma série de dúvidas para o nosso setor. A seguir, O Vidroplano apresenta as principais questões envolvendo o assunto.

Imagem: brianwhittaker/stock.adobe.com
Imagem: brianwhittaker/stock.adobe.com

 

Como ficam as alíquotas do vidro?
De acordo com o advogado Halim José Abud Neto, assessor-jurídico da Abravidro, no caso dos temperados e laminados, a alíquota passa de 10% para 7,5%. Já a do float cai de 5% para 3,75%.

Até quando essa mudança estará em vigor?
A princípio, será válida de 25 de fevereiro até 31 de março. “Essa redução diz respeito à Tabela do IPI (Tipi) atual, com vigência até o fim deste mês. A partir de 1º de abril, uma nova Tipi entrará em vigor em seu lugar”, explica Halim.

Apesar da mudança, sabe-se que a redução será mantida: a Receita Federal já informou, em comunicado no dia 7 de março, que está preparando a minuta de um novo decreto, o qual manterá a redução de 25% para as alíquotas presentes na próxima Tipi.

Como ficam as alíquotas do float e impresso?
Em 23 de dezembro do ano passado, foi publicado o Decreto nº 10.910/2021, que determinava a alteração da alíquota do IPI dos vidros float e impresso de 5% para 10%, a partir do início de abril deste ano.

Imagem: patpitchaya/stock.adobe.com
Imagem: patpitchaya/stock.adobe.com

 

“É importante deixar claro que, hoje, a alíquota desses vidros ainda é de 5%. A nova alíquota de 10% para esses produtos só entrará em vigor em abril. Então, por ora, a aplicação da redução de 25% deve ser feita sobre a alíquota atual, passando a ser de 3,75%, mas isso somente até 31 de março”, orienta Halim. A partir de primeiro de abril, a redução deverá ser aplicada sobre essa nova alíquota de 10% para float e impresso. Com isso, ela passará a ser de 7,5%, assim como no caso dos temperados e laminados.

Por dentro dos decretos
Decreto nº 8.950/2016: define a atual Tipi, com vigência até 31-3-2022;

Decreto nº 10.923/2021: estabelece a revogação da atual Tipi e a criação da nova, com efeitos a partir de 1º-4-2022;

Decreto nº 10.910/2021: equaliza as alíquotas de IPI do setor vidreiro em 10%, com efeitos a partir de 1º-4-2022;

Decreto nº 10.979/2022: reduz as alíquotas da atual Tipi em 25% para a grande maioria dos produtos da indústria nacional, incluindo vidros e espelhos.

O quinto decreto, cuja minuta está sendo preparada pela Receita Federal, deverá estender a redução de 25% para as alíquotas da próxima Tipi que entrará em vigor a partir de 1º-4-2022.

Crédito da imagem de abertura: Elnur/stock.adobe.com

Este texto foi originalmente publicado na edição 591 (março de 2022) da revista O Vidroplano. Leia a versão digital da revista.