O VidroCast recebeu a arquiteta Audrey Dias, diretora e sócia-proprietária da Aluparts, empresa especializada na recuperação e manutenção de sistemas de esquadrias – ela também é professora de pós-graduação de Patologia das Construções (Esquadrias e Vidros) e tem MBA em gestão de negócios. Na conversa com Iara Bentes, superintendente da Abravidro e editora de O Vidroplano, Audrey falou sobre sua formação e experiência profissional, importância da manutenção preventiva de fachadas e qualificação de mão de obra. Leia a seguir alguns destaques do bate-papo – e confira a entrevista completa no canal da Abravidro no YouTube.
Você tem o trabalho com esquadrias e vidros no seu DNA: seu pai, o engenheiro Nelson Firmino, foi uma grande referência para esse segmento e dá nome, inclusive, a um prêmio organizado pela Afeal. Quando foi que você percebeu que queria seguir na mesma área?
Audrey Dias – Basicamente, eu nasci na indústria de esquadrias, não tive muita oportunidade de escolha: lembro que, quando fiz quinze anos, no dia seguinte meu pai avisou que a próxima segunda-feira seria meu primeiro dia de trabalho na empresa. Foi assim que começou minha jornada. Eu estudava de manhã, ia à tarde para o escritório, e ele foi meu grande mentor, passou a vida inteira falando sobre esquadrias e vidros. Lembro-me de que ele abria os desenhos dos projetos e mostrava neles o que era um perfil, uma roldana, como a gente representa a esquadria na fachada.
Quando me dei conta, eu estava buscando uma faculdade de arquitetura, o que deu muito certo. O engraçado é que meu pai teve oito filhos, e só eu fui para a parte técnica na área de esquadrias para poder de fato aprender com ele, dando continuidade às atividades da Aluparts.
Quais foram os principais desafios e as principais vitórias em sua jornada no mundo das esquadrias?
AD – Ser treinada pelo Nelson Firmino, para mim, foi um grande presente, porque eu tive como tutor o cara que mais entendia sobre esquadrias, um dos precursores do uso do alumínio como esquadrias no Brasil – uma verdadeira “enciclopédia” ao meu lado. Isso me abriu muitas portas, trouxe muita bagagem e conhecimento, sendo muito positivo para minha carreira, o que eu sigo até hoje com muito amor por essa área. O desafio, pelo menos para mim, foi que eu comecei a trabalhar muito cedo numa empresa familiar, e com isso eu não tive a oportunidade de trabalhar para outras empresas ou ter um patrão de fato, um chefe que não fosse meu pai. As relações pessoais e familiares sempre estiveram envolvidas no meu dia a dia.

Audrey Dias
Como você acha que sua formação influenciou na sua trajetória profissional e carreira?
AD – Eu sempre fui muito estudiosa, sempre me cobrei muito para estudar. Lembro que, quando comecei a faculdade de arquitetura, o curso não abordava nada sobre esquadrias – inclusive, esse é um ponto que precisa ser olhado com mais atenção, porque tanto no curso de engenharia como no de arquitetura, não se fala sobre caixilhos, esquadrias, vidros, nada disso.
Na época, tentei uma iniciação científica, falei para o reitor que eu queria fazer um trabalho sobre as esquadrias de alumínio na arquitetura. Fiquei um tempo aguardando o resultado e, quando saiu, apareceu como “tema irrelevante”. Isso me gerou revolta: como esse tema seria irrelevante se não existe edificação sem caixilho, sem esquadria? As esquadrias são os “olhos” de qualquer edificação. A partir disso, decidi que iria realmente estudar o tema e, ao me formar, busquei um MBA nessa parte de gestão de negócios, para incorporar isso aos negócios da família. E deu certo.
Depois, voltei minha carreira para essa parte dos cuidados com as fachadas, porque existem excelentes empresas que pensam em como conceber fachadas, mas quem cuida delas? E eu venho desde então estudando, nessa parte da engenharia diagnóstica, as “doenças” das edificações, para poder levar esse conhecimento e a importância dele para o mercado.
E como funciona esse trabalho de manutenção ou recuperação das fachadas? Em que momento do ciclo de vida de uma fachada vocês costumam ser chamados?
AD – O grande problema é que as fachadas já estão nascendo doentes. Então a manutenção pode ocorrer tanto em um prédio em operação, cuja fachada tem quarenta ou cinquenta anos, como também em um prédio recém-inaugurado, com uma estrutura de seis meses de vida. A gente iniciou recentemente um trabalho em um edifício enorme em Brasília, um prédio recente, e estamos atuando de forma corretiva em problemas de origem endógena, ou seja, que são relacionados à fase de construção, fabricação e instalação.

Audrey Dias
Dos casos em que vocês têm atuado ao longo da trajetória da Aluparts, quais são os erros mais comuns cometidos tanto na hora de projetar como na de instalar uma fachada?
AD – Quando a gente fala de manifestação patológica, o que mais chama atenção basicamente são os erros relacionados à estanqueidade: execução incorreta de vedações, ausência de vedação, especificação errada de componentes de vedação como escovas e gaxetas… O simples fato de você utilizar uma escova com dimensão diferente da necessária pode causar a reprovação da sua esquadria em um teste de desempenho, por exemplo; imagine, então, isso em operação numa fachada. Um fator importante é a questão da infiltração, porque ela incomoda: se está chovendo, a água entra pela sala molhando a marcenaria, molhando o tapete.
Mas hoje a gente tem encontrado também muitos problemas de subdimensionamento de perfis, falhas estruturais, subdimensionamento de componentes. Recentemente, algumas janelas de um grande edifício em São Paulo saíram voando e, quando a gente foi ver, os braços de articulação delas não tinham o tamanho e a resistência necessários, não eram os braços que tinham sido especificados para o projeto.
A Abravidro tem o Educavidro e o De Olho no Boxe. A Afeal tem a Academia Afeal, na qual você é instrutora. Isso tudo envolve esforço para levar informação para a mão de obra – e isso tem também um papel de formação. Como você enxerga esta questão: tem sido fácil ou difícil encontrar mão de obra qualificada para prestação de serviços?
AD – Acho que hoje esse está sendo o grande gargalo da construção civil como um todo, não só na indústria de esquadrias e dos vidros. A construção civil está sofrendo com a falta de mão de obra qualificada, justamente por falta de preparo. Precisamos realmente que as empresas capacitem seus funcionários, tanto os fabricantes de vidros como os de perfis, e que também os grandes players do nosso mercado colaborem com a formação desses profissionais, não tentem buscar gente pronta no mercado. As empresas têm de focar na qualificação, montar uma escolinha no chão de fábrica.
Fotos: Ivan Pagliarani