No quinto mês de pandemia no Brasil, vimos que a construção civil segue num ritmo diferente e mais positivo do que diversos outros setores da economia. Isso se reflete na demanda por nossos produtos, nas contratações do setor e até mesmo no horizonte de nossas cidades, que veem obras subindo dia a dia.
Pesquisas de diferentes órgãos e entidades mostram que o índice de confiança dos empresários industriais sobe mês a mês. Essa onda de otimismo em meio ao caos é importante para nos manter firmes e fortes em meio às incertezas do momento.
Enquanto a construção civil se destaca no cenário adverso em que vivemos, a recuperação ainda não chegou forte a outros setores que também consomem vidro. Falta confiança ao consumidor, pois ele sente o baque dos impactos na economia, especialmente na renda e no emprego.
Em tempos conturbados, a responsabilidade das empresas no exercício de suas atividades é fundamental. Cada elo da cadeia precisa entender o seu papel e agir de forma ética e responsável para que possamos enfrentar os desafios sem colocar em risco os negócios.
Reforma tributária para este ano?
Levantamento da XP Investimentos com 146 deputados federais de 25 partidos políticos mostra que, entre uma série de matérias com discussão prevista até o fim do ano, a reforma tributária é a que os congressistas avaliam ter maior chance de aprovação. A amostra respeitou a proporcionalidade das bancadas na Câmara dos Deputados e as entrevistas foram realizadas de 20 a 31 de julho.
Visão da indústria
Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que o setor industrial apoia uma reforma tributária que seja ampla — incluindo impostos federais, estaduais e municipais —, beneficiando todo o País e não apenas alguns setores. A CNI defende a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 45, em discussão na Câmara dos Deputados. De acordo com o dirigente, hoje a carga tributária é elevada, mas os dividendos não são tributados, o que gera desigualdades e injustiças na arrecadação. “Os setores que pagam menos e ganham mais devem pagar mais impostos”, reivindica.
Corte de mais de R$ 28 bi
A primeira etapa da reforma tributária do governo prevê cortar R$ 28,2 bilhões (34%) dos benefícios fiscais do PIS e Cofins concedidos a vários setores da economia. Segundo o governo, o fim dessa parcela foi considerado no cálculo ao fixar em 12% a alíquota do novo tributo, o CBS, sem perder arrecadação. O valor é questionado por especialistas, por aumentar a carga tributária, e o Ministério da Economia já admite uma revisão.
Seis semanas de otimismo
Até o fechamento desta edição de O Vidroplano, o Boletim Focus, pesquisa do Banco Central sobre as perspectivas dos agentes do mercado sobre os principais dados econômicos do País, registrava seis semanas seguidas de melhoria da previsão do resultado do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020: da queda de 6,51% em meados de julho, a previsão já está em -5,62%.
Câmbio e inflação
A estimativa da taxa de câmbio segue a mesma há oito semanas, com expectativa da moeda americana valer R$ 5,20 no fim do ano. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação, deve fechar em 1,65%, avaliam os consultados.
Home office
A opção de exercer a atividade profissional de casa durante a pandemia da Covid-19 permite que muitas empresas continuem funcionando e amortece o aumento do desemprego no mundo todo. Segundo estudo do Fundo Monetário Internacional, em 2020, o aumento da taxa de desemprego em ocupações adaptáveis ao trabalho remoto é cerca de metade do das demais ocupações. Nos países desenvolvidos, como Suíça (45%) e Reino Unido (44%), a adaptação é melhor, já que a maioria das funções são administrativas. Nações emergentes, como o Brasil (26%), sofrem mais pelo fato de muitas atividades precisarem ser executadas pessoalmente.
Crédito para reformas residenciais
E por falar em home office, a preocupação dos trabalhadores com o bem-estar durante o período de isolamento social cresceu. De acordo com um levantamento da fintech Paketá Crédito, realizado entre março e junho, a manutenção residencial foi o motivo que mais elevou os pedidos de empréstimo da modalidade de consignado privado. Antes da pandemia, o investimento em reformas e em melhorias nas moradias representava 10% do total dos pedidos. Na quarentena, as solicitações para esse fim saltaram para 37%, um aumento de 270%.
FIQUE POR DENTRO
Os impactos da Covid-19 no mercado vidreiro global
Considerado um dos maiores estudiosos do mercado vidreiro mundial e palestrante disputado nas edições do congresso Glass Performance Days (GPD), o consultor Bernard Jean Savaëte, da BJS DIfferénces, falou no fim de julho na NGA Glass Conference, evento online organizado pela National Glass Association — entidade vidreira norte-americana. Na pauta, a visão do chamado “guru do vidro” das consequências da Covid-19 sobre a indústria de vidros mundial.
“O impacto é severo nas operações. Boa parte dos 48 fornos de vidro da Europa teve de interromper a produção. Dezenas de milhares de trabalhadores perderam seus empregos. Estima-se que a produção de vidro na Europa ficará cerca de 20% abaixo do que foi no ano passado”, analisou Savaëte.
Alguns impactos listados pelo consultor, referentes a usinas com operações no Brasil, de acordo com o portal de notícias vidreiro Glass Magazine;
– A Guardian anunciou paralisação nas instalações de Dudelange, em Luxemburgo;
– A AGC reduziu seu quadro de funcionários na Europa em 15%;
– O Grupo NSG parou a operação de dois fornos float na Ásia: um no Japão e outro na Malásia, além de investimentos na Argentina (leia mais clicando aqui);
– A Saint-Gobain irá encerrar as atividades das instalações em Mannheim, na Alemanha, em 2021.
“A Covid-19 está acelerando algumas decisões dos fabricantes, pois a pandemia aumentou as dificuldades já existentes”, reforçou Savaëte. “Várias empresas ou operações já enfrentavam turbulências antes da crise.”
RETROVISOR
Cartilha sobre a ST
Em uma época em que se discute a reforma tributária, vale lembrar que, há dez anos, anunciávamos na edição de agosto de 2010 de O Vidroplano a disponibilidade da cartilha sobre o regime de substituição tributária (ST) no site da Abravidro. Auxiliando vidreiros de todo o País, o material existe até hoje (clique aqui) e é atualizado sempre que há alguma alteração.
Agostinho Alves de Andrade Filho, fundador da Agmaq, fabricante de maquinários para processamento, faleceu no dia 18 de julho em decorrência da Covid-19. Ele trabalhou no setor vidreiro nacional por mais de 30 anos, desde 1988, quando iniciou as atividades de sua empresa em Ribeirão Preto (SP).
É ótimo perceber quando uma edição de O Vidroplano dialoga com outra: isso revela como, muitas vezes, vários assuntos de nosso setor estão interligados. Mês passado, falamos sobre as tendências da arquitetura pós-pandemia — e de como o vidro se encaixa nelas. Agora, a matéria de capa deste mês (veja clicando aqui) de certa forma dá continuidade a esse tema, falando a respeito das esquadrias minimalistas.
Esses produtos permitem mais áreas envidraçadas, aumentando assim a interação entre ambientes internos e externos — exatamente o que arquitetos e designers apostam como sendo uma das ondas em que a construção civil vai surfar quando nos livrarmos do coronavírus.
Ainda sobre o uso de nosso material em projetos arquitetônicos, temos a estreia da seção “Retrofit”, espaço em que vamos publicar obras que passaram por um processo de modernização e revitalização. Pra começar, listamos algumas dicas para uma boa execução desse serviço.
Outro destaque é um panorama de como a indústria nacional tenta se recuperar das quedas históricas na produção medidas nos últimos meses. Leia também a entrevista com a diretora da Glasstec, a principal feira vidreira do mundo, realizada na Alemanha: ela comenta o adiamento da edição deste ano para 2021.
A 23ª Feira Internacional da Construção (Construsul) foi adiada para 3 a 6 de agosto de 2021 — o local em que será montada permanece sendo a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), em Porto Alegre. Segundo os organizadores, o motivo foi a apreensão de clientes, entidades apoiadoras (entre elas, o Sindividros-RS), compradores e colaboradores quanto à realização ainda em 2020, frente à proliferação do coronavírus no Brasil. A decisão foi amparada pelas orientações dos órgãos governamentais, buscando assim preservar a saúde de todos e resguardar o investimento das empresas participantes.
Somente saber que o mundo empresarial está competitivo, e que a inovação tecnológica tem feito cada vez mais parte do dia a dia, já não basta: o empresário precisa ter as informações sobre o que de fato acontece em seu negócio de forma precisa, eficaz e o mais rápido possível. O mercado vidreiro tem suas particularidades, mas não se pode renunciar a uma boa gestão financeira. Por isso, destaco a seguir alguns tópicos para um bom planejamento nessa questão.
– Conheça exatamente os custos fixos e variáveis de sua empresa para a fabricação de produtos e/ou fornecimento de serviços, para, assim, elaborar de forma correta o preço de venda;
– Tenha um controle do fluxo de caixa semanal/mensal que demonstre com fidelidade suas previsões de entradas e saídas, evitando ruptura nos saldos;
– Elabore um demonstrativo de resultado mensal gerencial para ajudar na análise de seu negócio — isso fará você saber se é lucrativo ou não;
– Faça um fundo de reserva para cobrir custos extras não planejados (como rescisões, crises, desastres, manutenções emergenciais etc.);
– Tenha um controle de estoque eficaz com inventário físico mensal, buscando minimizar os dias de estocagem de materiais pouco utilizados para evitar perdas de recursos;
– Caso caiba no orçamento, busque conhecimentos de especialistas que possam auxiliar na realização de uma boa gestão financeira.
O assunto não é simples: é uma atividade multidisciplinar que exige conhecimentos e informações em diversos aspectos — financeiro, contábil, mercadológico, marketing, compras e recursos humanos, entre outros. Por isso, buscar conhecimentos, inovar e analisar como funciona o setor são fatores importantes que o empresário deve sempre ter em mente.
Ricardo Amosé proprietário da Somamos Consult (www.somamosconsult.com.br), consultoria empresarial especializada em gestão de resultados.
A Saint-Gobain Sekurit, divisão do Grupo Saint-Gobain, anunciou em julho que suspendeu, temporariamente, a produção para o segmento de vidros automotivos na Argentina. Parte de suas operações de produção foi transferida para o Brasil. Segundo a empresa, seus ativos industriais no país foram mantidos, na expectativa de uma possível retomada do mercado. Essa medida foi necessária para garantir a sustentabilidade da operação. Por enquanto, ela segue atendendo o mercado de reposição.
Por sua vez, a nova fábrica da Vidriería Argentina S.A. (Vasa), subsidiária da NSG/Pilkington, está com o prédio externo finalizado e com as áreas internas bastante avançadas (foto). Conforme explicado na série Abravidro Entrevista por Leopoldo Castiella e Reinaldo Valu, diretores-executivos da Cebrace, os trabalhos serão retomados assim que o governo argentino flexibilizar a retomada das atividades no país por conta da pandemia. No entanto, isso ainda não tem prazo para ocorrer.
O Gorilla Glass Victus, novo vidro para celulares lançado pela Corning, teve sua resistência a quedas e riscos significativamente aprimorada: segundo a empresa, o produto é capaz de suportar tombos de até 2 m de altura, sem aumento na sua espessura em relação à versão anterior (Gorilla Glass 6). A Corning afirma que as fabricantes de smartphones poderão entregar aparelhos equipados com o Gorilla Glass Victus já no segundo semestre de 2020 — espera-se que o primeiro seja o Samsung Galaxy Note 20 Ultra.
A arquitetura moderna busca, principalmente nos últimos anos, a integração entre o ambiente interno e o espaço externo das obras — basta ver várias reportagens de O Vidroplano ao longo dos últimos anos mostrando edificações ao redor do mundo que seguem essa tendência (nesta edição, por exemplo, confira um spa nos alpes austríacos com esse conceito clicando aqui). Boa parte dessas construções tem algo em comum: o uso de esquadrias minimalistas, cuja função é aumentar a área de transparência, fazendo com que os benefícios oferecidos pelo vidro sejam maximizados.
Confira nas próximas páginas os detalhes sobre o desenvolvimento desses produtos, o que deve ser levado em conta para sua especificação e os cuidados no manuseio e instalação.
Quanto pesa?
Projetadas para chapas de vidro jumbo (ou de tamanhos maiores que o usual), as esquadrias têm como prioridade suportar o peso de nosso material. “O desafio é que queremos perfis mais finos que atendam grandes vãos”, afirma Marcos César Prediger, diretor-comercial da Unibox. “Os componentes precisam ser reinventados para se adaptar a espaços menores e suportar grandes pesos.” Mesmo porque o termo “minimalista” vem do fato de os perfis ficarem escondidos: “O caixilho pode ser até 100% embutido na parede ou no chão, garantindo, frontalmente, maior exposição dos vidros”, explica Michael Lochner, gerente de Marketing da Weiku do Brasil.
Esses sistemas são de alumínio, embora os de PVC já comecem a ser comercializados, conforme veremos mais à frente nesta reportagem. Segundo a multinacional alemã Schüco, o tempo de desenvolvimento dos produtos é, em média, de três anos. “Após análises de tendências e de mercado, um gerente de Produto em conjunto com uma equipe de engenheiros estuda os perfis a serem fabricados, assim como todos os seus acessórios, garantindo encaixe e funcionamento de ponta”, revela Tiago Costa, diretor-comercial e de Marketing América do Sul da empresa. Ou seja, itens como roldanas e dobradiças também são preparados para receber uma grande sobrecarga.
Com o produto pronto, são realizados diversos testes, como os de resistência e acústica, utilizando diferentes configurações de espessuras das chapas. Os componentes passam pelas provas de durabilidade e exposição a raios UV e a ambientes salinos, entre outras. Já os sistemas como um todo são submetidos a ensaios de resistência ao vento, permeabilidade a água e ar, assim como aos de longevidade — nos quais robôs abrem e fecham as esquadrias para garantir ciclos de vida útil acima das 10 mil aberturas das folhas (podendo chegar, dependendo do item, até a 1 milhão de aberturas).
Procedência global
Algumas das fabricantes de esquadrias consultadas por O Vidroplano importam os produtos de suas matrizes internacionais. No entanto, todas as fontes desta reportagem utilizam vidros nacionais. Isso abre possibilidades interessantes para as processadoras brasileiras que precisam ser exploradas, até pelo fato de os perfis suportarem chapas de 20 a 52 mm, dependendo do modelo, incluindo peças de valor agregado como laminados e insulados. A escolha do vidro, geralmente, é de responsabilidade do cliente, arquiteto ou serralheiro. Cabe à fornecedora das esquadrias validar os pesos aplicados por folha e as espessuras.
Os perfis de alumínio da Schüco vêm de fora do País, assim como os acessórios usados neles. No entanto, alguns já são extrudados localmente, incluindo os produtos mais comercializados no Brasil. A versão de PVC, feita pela divisão Schüco Polymer, é a primeira minimalista do mundo fabricada com essa matéria-prima, segundo a companhia. Foi lançada este ano em março num evento online (a feira na qual o item seria mostrado em primeira mão foi cancelada por conta da pandemia). No momento, é produzida apenas na Alemanha, na fábrica da cidade de Weissenfels.
A Unibox e a Weiku, por sua vez, são companhias totalmente nacionais. Além de empregar vidros brasileiros, suas linhas minimalistas também são totalmente produzidas por aqui.
Escondidos: os trilhos por onde correm as esquadrias ficam embutidos no assoalho.
Como projetar
A especificação precisa levar em conta diversos fatores específicos para esse tipo de estrutura. Priscila Andrade, agente comercial da Schüco Polymer para Brasil, Argentina e Uruguai, explica alguns pontos:
– Esse é um “projeto de prancheta”. Ou seja, deve ser pensado ainda nas primeiras fases do desenvolvimento da obra em que será instalado;
– Isso se deve à necessidade de a instalação dos drenos e marcos embutidos (e até de elementos de automação, caso existam) estar prevista;
– A captação de água, nesse sentido, é fundamental: como a esquadria não forma um degrau para bloquear a entrada de água, o sistema precisa estar pronto para captá-la e enviá-la por meio de drenos para o sistema de captação pluvial.
Para aguentar o peso das grandes chapas de vidro, esses produtos são feitos de alumínio – no entanto, já existem versões de perfis de PVC no mercado.
Vale prestar atenção aos tamanhos máximos dos perfis e do peso total que cada modelo suporta, pois isso vai interferir no tipo de vidro a ser aplicado. Além disso, importante reforçar: esquadrias comuns jamais podem ser adaptadas para receber chapas de grandes dimensões.
Manuseio e instalação
Não é simples instalar chapas de vidro que podem pesar mais de 300 kg. Como afirma Prediger, da Unibox, toda esquadria já exige cuidados especiais. E essas têm um grau de complexidade e cuidado bem maiores. Vidros corretamente calçados e fixados garantem vida útil maior ao sistema, podendo chegar a décadas de uso — desde que o manuseio das peças seja feito de maneira correta.
“A maior dificuldade é o acesso à obra, pois essas esquadrias só devem ser transportadas por caminhões munck”, analisa Michael Lochner, da Weiku. Na hora da instalação, os profissionais nunca devem carregar as chapas sem ajuda de meios de elevação mecânica (até porque nem conseguiriam levantá-las). Pequenos guinchos com ventosas são usualmente utilizados no auxílio da carga e descarga dos materiais. “Equipes altamente qualificadas e treinadas para efetuar o processo de maneira precisa também fazem a diferença”, destaca Lochner.
Vidros corretamente calçados e fixados garantem vida útil maior ao sistema, podendo chegar a décadas de uso.
Tendência transparente
Como O Vidroplano mostrou em reportagem da edição de julho, o vidro será um elemento chave da arquitetura e design no período pós-pandemia, já que permite a integração de espaços ao mesmo tempo que os separa, além de ser limpo com facilidade. Esquadrias minimalistas encaixam-se perfeitamente nessa tendência. “Com o aumento da demanda, mais empresas têm oferecido esse tipo de produto, aumentando a concorrência”, comenta Marcos César Prediger, da Unibox.
Segundo Priscila Andrade, da Schüco Polymer, a evolução das esquadrias vem de muito tempo. “Acredito que, desde que se abandonou a massa de vidro e começou a se pensar em sistemas integrados, essa evolução não parou”, pondera. “Já faz tempo que se pede mais vidro em obras residenciais. Porém, nos últimos três anos, arquitetos querem sistemas que ofereçam não só grandes áreas transparentes, mas também conforto de abertura, segurança e estanqueidade térmica e acústica.”
O arquiteto de interiores Roberto Migotto é um exemplo dessa tendência. Já em 2018, na edição daquele ano da Casa Cor São Paulo, o profissional apostou em grandes áreas envidraçadas. Um sistema de correr (com laminados neutros incolores 10 mm) funcionava como parede da cozinha de seu espaço, chamado Le Riad Bontempo, permitindo a interação entre interior e exterior. “Dessa forma, os panos de vidros passam a integrar o ambiente, deixando-o bem moderno”, explica Migotto. “Gosto de usar esquadrias do piso ao teto. Isso deixa o local mais iluminado.”
Em abril, a Messe Düsseldorf, organizadora da Glasstec, tinha confirmado a realização da edição 2020 da feira para outubro, conforme cronograma original do evento. No entanto, com os cenários de pandemia cada vez mais imprecisos em diversos países pelo mundo, um comunicado, emitido em 26 de maio, anunciou o adiamento da feira para 15 a 18 junho de 2021. Para entender como essa decisão foi tomada, O Vidroplano conversou com Birgit Horn, diretora da Glasstec. Confira a seguir a entrevista.
A Glasstec foi um dos últimos eventos de porte mundial do setor vidreiro a anunciar seu adiamento. O que foi definitivo para vocês tomarem essa decisão? Birgit Horn — Com certeza, não foi fácil para nós adiarmos a Glasstec, o principal ponto de encontro para todos os players da indústria do vidro. Por conta da atual situação do setor, juntamente com as incertezas a respeito das regulamentações de quarentena e deslocamentos nos mercados-alvos, decidimos, com respaldo de nosso conselho consultivo e dos parceiros envolvidos, adiá-la para junho de 2021. A Glasstec vive deste fator internacional: em 2018, 72% do público veio de fora da Alemanha, sendo 50% da Europa e 22% de outros continentes. Por isso mesmo, quisemos oferecer aos participantes a melhor situação possível para planejarem a visita com segurança.
Como as empresas reagiram a esse anúncio? BH — Os efeitos econômicos da pandemia do coronavírus, claro, também atingiram a indústria vidreira. Muitas companhias viram-se forçadas a reduzir seus investimentos, incluindo participações em feiras. Como resultado, houve alguns cancelamentos por parte de expositores já confirmados, mas também sinais positivos de outros. No entanto, após intensas discussões com essas empresas, tanto alemãs como estrangeiras, uma boa decisão foi tomada.
Voltando à questão multinacional e multicultural da Glasstec, cuja audiência é global: pode haver algum impacto nessa característica da feira na próxima edição? BH — A Glasstec é a mais importante feira de nosso mercado. Ainda mais em tempos de crise, é especialmente importante oferecer às empresas uma plataforma para inovações e tendências. Assim, esperamos um alto nível de participação internacional por parte dos líderes dessa indústria. Ao mesmo tempo, estamos desenvolvendo diversos novos formatos digitais de interação para facilitar a troca de experiências entre profissionais, algo importante para o evento.
Quais serão as medidas de saúde a serem tomadas para garantir a segurança de todos os participantes e profissionais durante a feira? BH — Para fazer expositores, visitantes e imprensa sentirem-se completamente em casa, a Messe Düsseldorf preparou protocolos de higiene coordenados para todos os participantes (veja no quadro no final da reportagem).
Outra grande característica do evento são as mostras paralelas, bastante aguardadas pelos visitantes. Podemos citar como exemplo a Glass Technology Live (a qual revela em primeira mão tecnologias que podem se tornar padrão da indústria no futuro) e a Glass Art (com obras de arte envidraçadas), entre outras. Essa programação será mantida? BH — Estamos em contato próximo com nossos parceiros, trabalhando intensamente para criar um programa e cronograma para essas mostras.
Espera-se a mesma quantidade de participantes e expositores em comparação ao que teriam este ano em um quadro de “normalidade”? BH — Esperamos uma diferença pequena no ano que vem, mas ainda assim uma participação maior em relação ao que teria sido possível este ano. Como mencionado anteriormente, em tempos de crise as empresas precisam de um espaço para apresentar inovações, e já recebemos retornos positivos de companhias que anunciaram participação em 2021. Mas, claro, cada uma deve decidir por si própria se quer fazer parte da próxima edição ou só em 2022. Fazemos cordialmente o convite a todos para se juntarem a nós na Glasstec 2021.
Então teremos uma nova edição já em 2022, mantendo a tradição de ser realizada em anos pares? BH — Sim, a feira mantém seu espaço no portfólio da Messe Düsseldorf para 2022, voltando ao ciclo bienal.
De que forma o mercado de eventos e feiras será afetado no pós-pandemia? BH — Os adiamentos têm impacto nesse setor, assim como em todos os outros economicamente ligados a ele. Isso inclui, entre outros, o setor de construção dos espaços e dos estandes, gastronômico, hoteleiro, de varejo e de transporte. A Messe Düsseldorf, da mesma forma que muitas outras empresas, terá de revisar a previsão financeira de 2020 para baixo.
O uso do vidro pode aumentar quando essa crise passar, até pelas características de nosso material, como sua facilidade de limpeza? BH — Sim, acredito. Muitas instalações médicas, lojas de varejo e espaços públicos serão mais equipados com vidros por questão de segurança. Assim, consigo imaginar que a indústria vidreira possa ter aumento no volume de negócios.
Saúde em primeiro lugar
Em julho, a Messe Düsseldorf anunciou protocolos de saúde a serem seguidos nas feiras que organiza. Conheça alguns deles, pois também estarão em vigor na Glasstec 2021.
– A capacidade de certas áreas será ajustada para receber quantidade limitada de pessoas, incluindo marcas de distanciamento no chão;
– Totens com álcool em gel estarão localizados em diversos locais, como nas entradas, corredores e banheiros;
– Superfícies em espaços com grande movimentação de pessoas serão desinfetadas regularmente;
– Áreas de palestras e apresentações contarão com assentos distantes uns dos outros;
– Ingressos diários serão vendidos apenas online, não mais em bilheterias do pavilhão de exposições;
– Estandes deverão ter mais espaço para circulação e salas de reunião deverão ser construídas sem teto, para facilitar a circulação de ar;
– Os tradicionais coquetéis em estandes de expositoras estão proibidos.
Dicas para visitantes também foram divulgadas:
– Evitar contato físico com outras pessoas, como apertos de mão;
– Usar máscaras cobrindo nariz e boca dentro da feira;
– Manter distanciamento de cerca de 1,5 m de outros participantes;
– Usar o braço para cobrir o rosto quando espirrar ou tossir.
A Associação Italiana de Fornecedores de Máquinas, Acessórios e Produtos Especiais para o Processamento de Vidro (Gimav) elegeu, no dia 23 de junho, os membros do seu conselho para o próximo biênio: Michele Gusti foi reeleito presidente da entidade. Durante a reunião que definiu a nova diretoria, foram apresentadas duas novas logomarcas, uma para a Gimav e outra para a feira Vitrum. Segundo a associação, o novo aspecto visual revisita os laços entre ela e o evento.
Por falar em Itália, a Ucimu – Sistemi Per Produrre (uma associação de fabricantes de máquinas, ferramentas, robôs e sistemas de automação do país) divulgou em julho um estudo apontando queda de 39,1% nos pedidos recebidos pelo segmento durante o segundo trimestre de 2020 em relação ao mesmo período em 2019. Isso deverá impactar os números deste ano do mercado vidreiro por lá. Contudo, é ressaltado que o período considerado inclui o mês de abril, no qual as empresas italianas estiveram completamente fechadas devido ao lockdown, o que distorce parcialmente a leitura dos números apurados.
Imagine relaxar em um spa luxuoso e, ainda por cima, ter a vista da montanha Zugspitze, com cerca de 3 mil m de altura, na fronteira entre Áustria e Alemanha. Pois é isso que os visitantes do Mohr Life Resort encontram: desde o fim de 2018, o hotel conta com espaço para relaxamento que usa o vidro, além do concreto, com o objetivo de dialogar com o ambiente externo.
Ficha técnica Autor do projeto: Noa – Network of Architecture Local: Lermoos, Áustria Conclusão: outubro de 2018
Integração total O Mohr Life Resort está localizado no vale Ehrwalder Becken, região do Tirol, uma das mais belas da Europa central, reconhecida por suas montanhas, lagos e pequenas fazendas que mais parecem saídas de quadros do século 19. E o escritório ítalo-alemão de arquitetura Noa – Network of Architecture apostou exatamente na interação com a natureza na hora de construir o spa do empreendimento.
A obra foi pensada considerando a inclinação do terreno. Por isso mesmo, divide-se em duas partes distintas: uma mais elevada (compreendendo as salas individuais, saunas e outros espaços a serem usados pelos clientes) e a inferior (formada pela área da piscina que se abre para o exterior). “A Zugspitze sempre foi nossa inspiração para o projeto. Nós o concebemos como uma arquibancada, um local ideal para admirar a beleza da montanha”, explica o arquiteto Christian Rottensteiner, um dos responsáveis pelo projeto. “Nosso desafio frequente é criar estruturas que expandam e intensifiquem a percepção dos espaços, transformando as emoções dos usuários.”
Casamento perfeito Segundo o Noa, os dois principais elementos da estrutura estão em constante diálogo com o ambiente: o cimento oferece contornos ao prédio e pode ser imediatamente reconhecido na fachada, na parte destinada à piscina e nos elementos ao ar livre (como os jardins e caminhos para pedestres). Já o vidro atua com sua transparência e característica espelhada para criar uma conexão entre o edifício e seus arredores.
Essa ligação se dá por conta de um efeito único e encantador, somente atingido com nosso material. Ao refletir as diferentes formas existentes no vale Ehrwalder Becken, ele faz com que o prédio se transforme numa espécie de pintura gigante em constante movimento — fato reforçado também pelas águas da piscina. Numa olhada rápida, o prédio até pode ser confundido com uma estrutura natural.
Este mês, a seção “Retrofit” estreia nas páginas de O Vidroplano. O objetivo das reportagens publicadas aqui é apresentar obras que passaram por um trabalho de retrofit, seja em suas fachadas ou nos seus interiores. Nesta primeira reportagem, confira algumas dicas para uma boa execução desse serviço e conheça dois projetos de sucesso já realizados no Brasil.
O que é O processo de retrofit consiste na modernização e revitalização de edificações antigas que estejam ultrapassadas ou fora de norma. Com ele, é possível aumentar a vida útil delas, utilizando materiais com qualidade mais avançada — como vidros de valor agregado, por exemplo —, para conferir benefícios que vão da estética externa ao conforto térmico e acústico no interior do ambiente.
Há quatro tipos mais comuns desse trabalho:
• Recuperação: indicada para prédios de valor histórico ou quando a fachada apresenta elementos com defeito. Nesse caso, alguns ajustes simples são suficientes para manter o que foi originalmente utilizado;
• Rearranjo: vai além da recuperação. Nele é preciso substituir alguns materiais por outros diferentes, alterando parcialmente o visual;
• Reforma: trata-se de uma intervenção maior, com a troca de elementos originais, como vidros antigos por novos de maior valor agregado;
• Renovação: muda completamente o layout da obra, elevando bastante os benefícios dela aos usuários e ao meio ambiente.
Hotel Nacional
Cidade: Rio de Janeiro Ano de construção: 1972 Ano do retrofit: 2016 Empresa responsável: QMD Consultoria
O que mudou:
• Os vidros antigos da fachada foram trocados por laminados de peças de controle solar, proporcionando a redução do calor em 63% e transmissão luminosa de 25%;
• Embora modernizado, o edifício manteve visualmente as características originais do projeto de Oscar Niemeyer;
• Um dos bares do hotel, o Roof Top Bar, é cercado por vidros que desempenham a função de isolamento acústico;
• Nosso material também foi aplicado na academia, no spa e em guarda-corpos.
Sem receita básica
Cada caso é um caso quando uma obra passa por retrofit. A revitalização é feita sob medida e de acordo com as características de cada empreendimento. Por isso, é essencial que um especialista avalie as condições da fachada da obra antes de elaborar esse projeto.
Apesar disso, há alguns pontos que podem ser levados em consideração:
• Uso de vidros de valor agregado: esses produtos contribuem para a modernização do edifício, especialmente aqueles que permitem eficiência energética, como os de controle solar, ou conforto acústico e os insulados;
• Atenção com as esquadrias: como os perfis se desgastam com o passar dos anos, pode aparecer infiltração de ar e água. Checá-los é essencial para garantir o bom desempenho da modernização aplicada.
Palácio Iguaçu Cidade: Curitiba Ano de construção: 1954 Ano do retrofit: 2010 Empresa responsável: Hedron Engenharia O que mudou:
• A nova fachada tem a tonalidade verde — originalmente pretendida para o prédio quando foi construído — com a instalação de laminados verdes-claros de 10 mm;
• Apesar do novo tom da edificação, a reforma manteve a estética original da obra, conforme pretendido;
• O envidraçamento aplicado no retrofit teve ainda um aumento no seu desempenho, com atenuação sonora de até 35 dB e transmissão luminosa de 70%;
• Também foram utilizados vidros em guarda-corpos e pisos no interior do edifício.
Sua empresa tem algum trabalho de retrofit?
Envie fotos e informações de obras interessantes para o e-mailovidroplano@abravidro.org.br – nossa equipe de reportagem irá avaliar o material.
Este mês, o Brasil ultrapassou a marca dos 3 milhões de infectados e dos 100 mil mortos pela Covid-19. Isso mostra que, pelo menos por aqui, a pandemia do coronavírus está longe de terminar, ao contrário do que poderíamos esperar. Da mesma forma, uma rápida recuperação da economia também não aconteceu. Para ajudar a entender a situação atual, O Vidroplano mostra a seguir como é o momento vivido pela indústria nacional, assim como por variados setores que consomem o nosso material.
Queda jamais vista
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial brasileira (ver gráfico 1) teve uma redução sem precedentes desde o início da medição desse indicador:
Em março, a queda foi de 9,1% em relação a fevereiro; Em abril, mais queda, agora de 19,2% em relação a março.
A indústria de transformação (ver gráfico 2) também sofreu bastante no período, com redução ainda maior: abril marcou -23,2% em comparação com março, mês que já teve queda considerável.
Os últimos dois meses do semestre (maio e junho) viram um crescimento importante, mas não a ponto de recuperar
toda a produção perdida. Como serão os próximos meses? Difícil fazer uma análise precisa — até por não se saber como se dará a recuperação da renda e da confiança do consumidor de forma a garantir a retomada do consumo.
Canteiros de obras Os números da construção civil, o segmento que mais consome vidro, podem ser considerados animadores. Em junho, enquanto o País como um todo fechou quase 11 mil vagas com carteira assinada, esse setor criou mais de 17 mil novos empregos, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério da Economia. As admissões aumentaram 29,29% em comparação a maio, enquanto as demissões caíram 11,60%. “Isso vem se somar a uma série de outros indicadores que têm mostrado a recuperação e a força do setor para puxar a retomada econômica”, afirma José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “Simplesmente nos deram condições e prazo para pagar e mantiveram nossos contratos. Nós respondemos de forma positiva.”
Mais dados positivos vieram da pesquisa Covid-19: impactos e desafios para o mercado imobiliário, realizada pela consultoria Brain Inteligência Corporativa em parceria com a CBIC. O resultado mostrou que o setor aqueceu-se ao longo da pandemia. Das pessoas entrevistadas que pensavam em comprar um imóvel, 22% efetivaram a aquisição em junho, um aumento de 6% em relação a março e 3% em relação a abril.
Linha branca e moveleiro O ramo de eletrônicos (que inclui os de linha branca) também viu aumento no consumo. Levantamento da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) mostra crescimento de 46,25% nas vendas do varejo em abril e maio. No entanto, na comparação direta com maio de 2019, a diferença ainda é considerável: queda de 27,3% na produção.
Os números da indústria moveleira, por outro lado, são ruins. De janeiro a maio, houve queda acumulada de 22% na produção, segundo informações da Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário (Abimóvel). “A avaliação e projeção dos indicadores do setor estimam queda de 6,5% no número de peças comercializadas no acumulado do ano, contra redução de 9,45% na produção industrial”, revela a presidente da entidade, Maristela Cusin Longhi.
De olho nos automóveis O setor automotivo, outro entre os principais consumidores de nosso material, puxou a recuperação industrial medida pelo IBGE: seu crescimento foi de 70% em junho na comparação com maio, mês já com recuperação enorme (250%).
Mesmo assim, os efeitos da pandemia foram imensos. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de 729,5 mil veículos no primeiro semestre representou queda de 50,5% se comparado ao mesmo período de 2019.
A entidade projeta a fabricação de 1,6 milhão de automóveis (incluindo comerciais leves, caminhões e ônibus) em 2020, número 45% menor do que o de 2019.
“Trata-se de uma estimativa dramática, mas muito realista”, afirma Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, em comunicado da associação. “A situação geral da indústria automotiva nacional é de uma crise maior que as enfrentadas nos anos 1980 e 1990. Um recuo dessa magnitude no ano terá impactos duradouros, infelizmente. Nossa expectativa é de que apenas em 2025 o setor retorne aos níveis de 2019.”
O que esperar? Alguns dados são positivos, outros seguem negativos. O que esperar, então? Os empresários brasileiros parecem acreditar em melhora. Em julho, o Índice de Confiança do Empresário Industrial, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), cresceu pelo 3º mês seguido, chegando a 47,6 pontos. O estudo afirma ainda que “as expectativas com relação aos próximos seis meses já são otimistas”. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) também notou esse otimismo: seu Índice de Confiança da Indústria aumentou 12,2 pontos em julho em comparação a junho, alcançando 89,8 pontos.
A comissão de estudos do Comitê Brasileiro de Vidros Planos (ABNT/CB-37) já finalizou o texto do projeto de norma sobre a fabricação de vidros termoendurecidos: nos próximos dias, o documento deve entrar em consulta nacional no site da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Para participar, assim que ela for colocada no ar, basta cadastrar-se no site da ABNT, fazer login na página e enviar suas considerações.
Atendendo o mercado
A demanda por uma norma específica para termoendurecidos — produto que, embora não seja considerado um vidro de segurança, apresenta resistência mecânica superior à do float — partiu do próprio mercado nacional. “Observamos que seu uso é bastante comum em países da Europa e nos Estados Unidos”, conta Luiz Barbosa, coordenador da comissão de estudos. “No Brasil, também já há algumas obras utilizando o material, mas não existia nenhuma normalização para fabricação.”
Segundo Barbosa, o trabalho foi feito com base em textos internacionais, mas buscando adequar as tolerâncias e requisitos à realidade brasileira. “Esse projeto é fruto de um trabalho envolvendo grandes profissionais que participam da comissão de estudos do ABNT/CB37, o que permitiu chegar a uma norma bastante moderna e completa em relação ao tratamento térmico do termoendurecido”, explica. Clélia Bassetto, analista de Normalização da Abravidro, acrescenta que sua elaboração contou com a participação de processadores de diversos Estados e regiões do Brasil.
Conteúdo da norma
Entre os requisitos abordados pelo projeto, estão as tolerâncias para os aspectos visuais e físicos da peça, avaliando pontos como empenamento total e a presença de ondas de rolete em sua superfície, além da elevação de borda e eventual deformação causada por marca de pinça durante o processamento. A resistência térmica e a tensão máxima admissível também são apresentadas.
O documento trará ainda o padrão de fragmentação para esse tipo de vidro, bem como o método de avaliação para todos os requisitos. Na avaliação de Barbosa, essa é uma forma de proteger o consumidor final e também os processadores, os quais passarão a usar padrões definidos para ofertar esse produto com segurança e qualidade”.
É importante reforçar que a consulta nacional permitirá à comissão de estudos saber se o texto precisa de adequações antes de sua publicação, de maneira a garantir que a norma seja a mais clara e completa possível. Por isso, o ABNT/CB-37 conta com a participação de todos.
Com a pandemia causada pelo coronavírus, as entidades vidreiras regionais vêm trocando as atividades presenciais por eventos a distância, realizados no formato de lives, palestras e cursos online, de forma a dar continuidade à capacitação do setor. Veja alguns deles a seguir.
Novo projeto em Santa Catarina A Ascevi deu início, em junho, ao Live Glass, uma série de lives com conteúdos relevantes para o mercado durante a pandemia, permitindo que a entidade mantenha-se em contato com seu público. As cinco primeiras edições, realizadas no perfil da associação catarinense no Instagram, abordaram assuntos como normas técnicas da ABNT relacionadas ao uso do vidro, importância das esquadrias e ferragens, papel da tecnologia para as vidraçarias e processadoras, orientações na contratação de mão de obra e possibilidades de aplicação dos vidros acidados. A partir da edição de 22 de julho, o Live Glass passou a ser transmitido pelo canal da Ascevi no YouTube. Nesse dia, a equipe de construção civil e laboratório do Grupo Falcão Bauer apresentou conteúdo sobre segurança nas instalações, além de ensaios de ventos – assunto muito discutido devido aos estragos causados pelo “ciclone bomba” em Santa Catarina. Já no dia 29, representantes da Kuraray foram convidados para discutir a importância dos interlayers nos laminados.
Fortalecendo os executivos no Paraná No dia 29 de julho, a Adivipar promoveu a palestra Fortalecer a mente, alimentar o espírito e seguir em frente, realizada online por Marcos Sousa, diretor da Superação Treinamentos e Consultoria. Os empresários vidreiros associados à entidade paranaense foram o público-alvo. A apresentação destacou a importância de iniciativas como essa para trocar experiências e encontrar juntos soluções para sair de momentos desafiadores como o vivido atualmente. Segundo o palestrante, o que afunda um navio não é a água ao redor dele, mas sim a quantidade do líquido que entra na embarcação. Da mesma forma, o empresário não pode deixar a negatividade e pessimismo do mundo o derrubar. Assim, recomendou aos espectadores que cuidem da mente, escolhendo sempre muito bem as sementes que plantam nelas.
Adaptando-se aos consumidores O curso online “Como inovar sob a perspectiva do cliente”, organizado pela Amvid e pelo Sinvidro-MG e realizado no dia 1º de agosto, foi ministrado pela consultora Ronara Adorno, sócia-diretora da Ambiens Consultoria e Serviços Empresariais. Entre os tópicos abordados no treinamento, transmitido em tempo real, estiveram o conceito e os tipos de inovação e dicas de como construir a jornada do cliente, além de pesquisas e feedbacks. Também foram apresentadas técnicas ágeis para ajudar a identificar as necessidades do consumidor.
Alguma vez sua vidraçaria já recebeu a ligação de um cliente queixando-se de que uma peça laminada que sua equipe instalou estava trincada? Embora esse problema pareça ter aparecido “do nada”, há uma série de fatores que podem levar a ele, seja por erros na instalação, seja por falhas cometidas muito antes de os vidros chegarem à obra.
A boa notícia é que é possível identificar essas causas bem cedo e, assim, evitar o uso de vidros comprometidos. Especialistas de diferentes áreas do nosso setor explicam a seguir as principais falhas que levam ao surgimento de trincas em laminados comuns (isto é, feitos com vidros recozidos — float ou impressos) na especificação, beneficiamento ou aplicação final.
Na fase do projeto
O ponto mais frágil dos vidros é sempre a borda — e os laminados não são exceção. Segundo o engenheiro civil Crescêncio Petrucci Júnior, diretor técnico da Crescêncio Petrucci Consultoria, um pequeno impacto nessa região pode ocasionar danos, como trincas e lascas, o que acaba potencializando a possibilidade de quebra — mesmo que não ocorra imediatamente. “É sempre muito importante ter conhecimento de tudo que pode interferir no vidro na hora de desenvolver o projeto, desde a fabricação até logística envolvida no transporte, armazenagem e, principalmente, na instalação”, explica.
Tatiana Domingues, sócia-proprietária da Paulo Duarte Consultores, acrescenta que a especificação deve levar em consideração o tipo de sistema em que o laminado será aplicado e as cargas atuantes a que ele estará sujeito. “Muitas vezes a falha começa aí, porque nem sempre a equipe que especifica o material é a mesma responsável pela compra. O caixilho e o vidro são trabalhados com medidas pouco flexíveis, as quais exigem precisão milimétrica”, diz ela. “Então, se a especificação pede uma peça de 12 mm, por exemplo, um comprador leigo pode adquirir uma de 10, crendo que essa diferença de 2 mm parece insignificante, mas os materiais necessitam dessa precisão para que tenham o desempenho correto.” Leandro Gonçalves Pedroso, gerente de Projetos da Divinal Vidros, concorda: “O mau dimensionamento dos vidros irá comprometer a performance do produto. A correta especificação de dimensões e espessura depende de ampla análise e gestão de riscos intrínsecos ao projeto”.
Há casos especiais, como o de vidros de grande dimensão, que precisam de cuidados e equipamentos especiais para o transporte e instalação. Crescêncio ressalta que, ainda durante o desenvolvimento do projeto, é preciso evitar levar essas chapas a locais de difícil acesso e circulação. Segundo ele, é muito comum, durante a fase de obras, montar uma estrutura complexa para viabilizar o uso desse tipo de vidro. “Porém, como depois poderá ser necessária alguma manutenção, ou até mesmo a substituição da peça, essa operação se tornará impossível.”
Ana De Lion, gerente de Desenvolvimento de Mercado da AGC Brasil, recomenda que a especificação sempre seja acompanhada por um profissional técnico, arquiteto ou engenheiro. “Além disso, esse trabalho deve levar em consideração a atenção à construção do edifício e orientação solar, assim como detalhes dos caixilhos, cores e materiais dos perfis das esquadrias, o tamanho da área envidraçada e a existência ou não de sombras estáticas, entre outros fatores”, acrescenta.
Vidro cortado no canteiro de obras com serra circular, processo que resulta na formação de microtrincas: corte e lapidação das peças devem ser feitos somente na processadora.
Preciso na lapidação
Uma etapa essencial no beneficiamento dos laminados é o tratamento de suas bordas por meio da lapidação. Durante o corte do material, são geradas tensões inerentes ao processo, principalmente na etapa de destaque, as quais provocam o surgimento de microtrincas e fissuras nessas bordas. “O correto processamento elimina as irregularidades que podem se transformar em trincas”, explica Wender Cotrim, gerente-industrial da Vitral Vidros Planos.
Luiz Cláudio Rezende, consultor técnico da Viminas, indica os principais cuidados que o processador deve tomar:
Trinca partindo da extremidade do vidro instalado: bordas precisam ser verificadas antes da fixação, para garantir que não tenham lascas ou fissuras.
• No corte
> Eliminar áreas de tensão e destaque das peças;
> Verificar o sobrematerial indicado para cada espessura;
> Prestar atenção ao dimensionamento final, evitando, principalmente, a distorção na diagonal.
• Na lapidação
> Identificar tipo, granulometria e qualidade do rebolo de corte;
> Manter uma boa refrigeração, com água ou líquido refrigerante;
> Verificar a velocidade periférica dos rebolos na lapidadora;
> Observar a pressão de desbaste, velocidade de avanço e desgaste do rebolo;
> Identificar a hora de retificar o perfil ou efetuar a troca do rebolo.
O corte e a lapidação são complementares e muito importantes para evitar trincas posteriores, afirma Rezende. Para ele, é essencial que os processadores passem por um treinamento adequado antes de começar a realizar essas atividades.
Deve-se também tomar cuidado no armazenamento, transporte e estocagem no local de instalação: “99% das quebras ocorridas após a instalação, quando processado adequadamente, são de origem mecânica, causadas por batidas de bordas no manuseio do material”, frisa Renato Santana, responsável pelos Processos de Qualidade e Lean Manufacturing da GlassecViracon.
Fixação
Segundo Fábio Persio, supervisor de Vendas & Obras da PKO do Brasil, há duas maneiras mais frequentemente usadas para a fixação:
• Encaixilhados: nesse caso, os vidros são presos dentro de um quadro de alumínio apoiado por borrachas (gaxetas) em todo o perímetro do caixilho;
• Colados: os laminados são aplicados diretamente na estrutura com uso de adesivo estrutural (silicone ou fita dupla face), devidamente dimensionados para a espessura e peso de cada painel.
Seja qual for o método escolhido, como reforça Tatiana Domingues, da Paulo Duarte Consultores, as folgas do sistema precisam ser bem dimensionadas para que, quando o vidro encaixilhado estiver exposto ao calor e ao frio, ele possa fazer o movimento de dilatação e de retração sem ter contato direto com outra chapa ou com o caixilho. Também se deve verificar todas as bordas antes do encaixilhamento ou da colagem. “Com frequência, uma lasquinha milimétrica na borda é ignorada na hora de encaixilhar. O profissional pensa que ela vai ficar dentro do caixilho e ninguém vai vê-la. Acontece que, com a dilatação térmica, aquela lasca corre pela placa e leva à formação de trincas”, observa.
Renato Santana, da GlassecViracon, ressalta: “Não se recomenda a fixação de laminados comuns em aplicações estruturais com furos e recortes. Nesse caso, o vidro deve ser laminado feito de temperados”.
Hora da instalação
Essa é a etapa da jornada do vidro em que o vidraceiro está diretamente envolvido. A atenção começa já na chegada das peças. “Durante o recebimento dos laminados, suas bordas devem ser inspecionadas e, caso seja verificada a presença de microtrincas e fissuras, os vidros devem ser rejeitados e devolvidos à processadora”, orienta Luiz Barbosa, gerente técnico de Vendas da Vivix. “Em hipótese alguma o produto deve ser instalado nessas condições.”
Trinca causada pelo contato direto do vidro com o parafuso: calços e guarnições devem ser especificados e aplicados para garantir a proteção do laminado.
Barbosa lista alguns dos erros mais comuns de instalação que levam ao surgimento de trincas:
• Ajuste das dimensões das peças do vidro no canteiro de obras: às vezes, por diversos fatores (erros de projeto, erros de medições etc.), as peças de vidro apresentam dimensões maiores do que o necessário, impossibilitando a sua instalação. É muito comum, nesses casos, que o instalador decida cortar a peça de vidro com serras e depois lixar as bordas — porém, esse processo resulta na formação de muitas microtrincas e fissuras nelas, as quais não são totalmente retiradas apenas lixando-as;
• Instalação das peças de vidro em caixilhos sem a presença de calços de bordas ou com calços de bordas inapropriados: a norma NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações determina que o vidro não pode ter contato direto com materiais mais duros do que ele e descreve como os calços de borda devem ser especificados, a fim de garantir que as bordas da peça jamais entrem em contato com o caixilho ou com elementos que o integrem. Também devem ser aplicadas guarnições (elementos de vedação que são colocados sob pressão, lateralmente, entre os vidros e os caixilhos) para evitar o contato da peça de vidro com as laterais dos caixilhos;
• Peças de vidro muito justas nos caixilhos: ainda por erros de projetos e de medições, o vidro pode estar maior do que deveria para os caixilhos, ficando muito apertado nas esquadrias — com isso, quando o sistema tem dilatação térmica, as bordas ficam sujeitas a tensões que podem trincar o painel;
• Espessura do vidro em desacordo com as tensões às quais ele será submetido: um vidro mais fino do que o necessário, por exemplo, apresenta baixa resistência mecânica para as pressões de vento às quais ele será submetido, o que pode levar a trincas e até a quebras;
• Choque mecânico após a instalação: mesmo já aplicada no sistema, a placa pode sofrer alguma batida ou impacto que inicia uma trinca que evolui com o tempo.
A arquiteta Audrey Dias, consultora de Esquadrias e Vidros do Grupo Aluparts, chama atenção também para o risco do contato dos laminados com outros componentes do sistema. “Situações em que a quebra do vidro foi originada principalmente pelo contato direto com os parafusos responsáveis pelas fixações dos perfis de alumínio, em razão de calços deficientes ou até mesmo inexistentes, infelizmente, são frequentes”, comenta.
Parafusos salientes devem ser evitados, recomenta Audrey. Por sua vez, os calços devem ser de materiais como polietileno ou PVC; já os de madeira, segundo a arquiteta, não devem ser utilizados, pois apodrecem.
Estresse térmico
O estresse térmico ocorre quando, em uma folha de vidro, a variação de temperatura é alta. “Com o aumento da temperatura em uma seção específica, o vidro se expande, e a tensão de tração resultante dessa expansão na borda ocasiona sua quebra”, explica Jonas Sales, coordenador da Engenharia de Aplicação da Cebrace.
Para evitar esse problema, Sales considera ser importante avaliar:
• O ambiente externo em torno da obra: sombras estáticas, temperatura média ao longo do dia, radiação e emissão de raios ultravioleta etc.;
• O projeto e a aplicação pretendida do vidro: posicionamento na fachada, cor da esquadria e da persiana, climatização interna (ar-condicionado e aquecedores), entre outros fatores;
• As características do produto escolhido: absorção energética, coeficiente de sombreamento, emissividade etc.
Para Fábio Reis, gerente técnico comercial da Guardian, o ideal é sempre consultar um técnico que fará as recomendações adequadas para o tratamento térmico do vidro caso seja necessário, podendo ser temperado ou termoendurecido. “A análise e o gerenciamento do estresse térmico devem ser feitos ainda durante a fase de especificação, pois, caso ele seja apontado no resultado do estudo, será preciso realizar o tratamento térmico do vidro.”
Normas recomendadas para evitar trincas nos laminados
Há uma série de textos técnicos com orientações para a especificação, produção e instalação dos laminados de forma a atender os requisitos de desempenho na obra. Consultar esses documentos é essencial para evitar erros que podem levar ao surgimento de trincas:
• NBR 6123 — Forças devidas ao vento em edificações
• NBR 7199 — Vidros na construção civil – Projeto, execução e aplicações
• NBR 10821 — Esquadrias para edificações
• NBR 14697 — Vidro laminado
• NBR 14718 — Guarda-corpos para edificação
• NBR 16259 – Sistemas de envidraçamento de sacadas
No final de junho e começo de julho, um ciclone bomba atingiu em cheio o Sul do Brasil, especialmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Ventos chegaram a 100 km por hora, causando estragos em imóveis, queda de árvores e até mesmo mortes. O fenômeno deixou uma pergunta no ar: esquadrias, guarda-corpos e fechamentos de sacada com nosso material conseguem suportar uma carga desse porte? Sim, desde que se sigam os requisitos das normas técnicas e boas práticas de especificação, instalação, manuseio e manutenção. Confira mais detalhes.
Explosivo
Os ciclones se formam a partir da movimentação do ar em uma área de baixa pressão atmosférica (ou seja, uma área com pressão menor que nos arredores). Existem ciclones tropicais, subtropicais e extratropicais — estes últimos são causados pelo choque entre duas massas de ar com temperaturas distintas (uma frente fria e uma quente), podendo se originar tanto na superfície terrestre como no mar. E existe ainda um tipo especial, o ciclone bomba — aquele no qual a queda de pressão é muito mais rápida que o comum.
Devemos ficar preocupados com esse fenômeno? Segundo o professor Acir Loredo-Souza, PhD em Engenharia do Vento e diretor do Laboratório de Aerodinâmica das Construções da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o ciclone bomba não tem nada de raro. “Em uma pesquisa desenvolvida por um grupo de Santa Catarina, são examinados 144 eventos desse tipo no período de janeiro de 1957 a dezembro de 2010”, esclarece o professor. “Ou seja, há algo em torno de duas a três ocorrências por ano. Portanto, são menos frequentes dos que os convencionais, mas devem voltar a ocorrer diversas vezes.” Por conta da localização, as regiões Sul e Sudeste são as mais propensas a recebê-los.
Para evitar a quebra de vidros como a vista em algumas edificações no Sul do País durante a passagem do ciclone bomba (acima), a obra precisa seguir os requisitos das normas técnicas e boas práticas de manuseio e instalação.
Ventos controlados
Uma norma técnica da ABNT, atualmente em revisão, trata desse tema. É a NBR 6123 — Forças devidas ao vento em edificações. “As velocidades máximas dos ventos usualmente gerados por esses fenômenos estão contempladas no documento, tanto na versão atual como na futura versão”, afirma Loredo-Souza, coordenador da comissão que o revisa. “Claro que sempre é possível a ocorrência de velocidades superiores, mas, na imensa maioria dos casos, elas estão consideradas.”
Um dos principais pontos levantados pela norma é a velocidade básica do vento especificada para o local da obra — isso pode ser consultado no mapa existente no texto ou obtido por meio de estudos especiais, ajustados pelos parâmetros de correção indicados. Outros fatores fundamentais somados — coeficientes de pressão externa e interna para a edificação — permitirão se chegar às pressões finais que irão incidir sobre a obra.
O que considerar no projeto
Os vidros podem suportar grandes cargas de vento — mas, para isso, precisam estar dentro das normas. O diretor técnico da Crescêncio Petrucci Consultoria, Crescêncio Petrucci Júnior, aponta o que cada parte envolvida em um projeto precisa levar em conta quando falamos em ventos:
– Projetistas, engenheiros e arquitetos
Em primeiro lugar, claro, vem o respeito às normas. “É sempre importante considerar todas as condições que podem amplificar o efeito das pressões de vento, tais como os efeitos de vizinhança. Para isso, deve-se estudar com muito critério o entorno, considerando a inclinação do terreno, a altura dos obstáculos naturais e artificiais, bem como os prédios ao redor”. Além disso, é preciso atenção especial ao dimensionamento correto do vidro, no caso de estruturas com o material, de forma a sempre considerar as condições às quais ele estará submetido;
– Fornecedores de sistemas (esquadrias, guarda-corpos e envidraçamento de sacadas, entre outros)
Segundo Petrucci, essas empresas precisam sempre indicar de forma clara as limitações de aplicação do produto, assim como as condições ideais para sua instalação. “Sem essas informações, é possível que ocorram problemas e risco à segurança das pessoas devido a um possível uso inadequado”;
– Instaladores
As orientações de montagem dos sistemas têm de ser seguidas à risca. É importante ainda que esses serviços sejam executados por profissionais treinados, com conhecimento do que estão fazendo e conscientes das consequências em caso de as recomendações não serem cumpridas;
– Usuários finais
Para esses, não há segredo: respeitar as orientações de uso e de manutenção das esquadrias para evitar desgaste prematuro ou possíveis danos que possam comprometer o desempenho e a segurança dos produtos. “Nunca devem fazer adaptações, complementos ou retirar partes dos sistemas sem a orientação e acompanhamento de um profissional capacitado e experiente”, orienta Petrucci.
Tema em discussão
No dia 21 de julho, a Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio (Afeal) reuniu especialistas em uma transmissão online para debater as causas e consequências dos acidentes causados pelo ciclone bomba. O professor Acir Loredo-Souza era um dos participantes. O evento contou ainda com o presidente da entidade, Alberto Cordeiro, o consultor em esquadrias Antônio B. Cardoso, a engenheira civil Maria Angélica Covelo e o presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luís Antônio França.
“O papel dos arquitetos é muito importante nesse contexto”, explicou Loredo-Souza na ocasião. “Edifícios são apanhadores de vento. Existem mecanismos complexos na aerodinâmica das edificações que interagem. Pressões e torções possibilitam arrancamentos e danos que podem prejudicar a saúde das pessoas”, explicou.